Visualização do documento ( Educacao) - Alberto B Sousa - Problemas De Visao E Atividades Pedagogicas.doc (211 KB) Baixar ALBERTO BARROS DE SOUSA Problemas de visão e atividades pedagógicas Para a sua inclusão na infantil e no 1 º ciclo Título: Problemas de Visão e Atividades Pedagógicas Autor: Alberto Barros de Sousa © INSTITUTO PIAGET, 2011 Av. João Paulo II, lote 544, 2.° - 1900-726 LISBOA • Tel. 21 831 65 00 E-mail: [email protected] Coleção: Horizontes Pedagógicos, sob a direção de António Oliveira Cruz Capa: Dorindo Carvalho Paginação: Óscar Figueiredo Montagem, impressão e acabamento: SIG - Sociedade Industrial Gráfica, Lda. Depósito legal: 324 749/2011 ISBN: 978-989-659-075-8 Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer processo eletrónico, mecânico ou fotográfico, incluindo fotocópias, xerocópias ou gravação, sem autorização prévia e escrita do editor. INTRODUÇÃO Os educadores e professores deparam-se, por vezes, em que têm, no seio da sua classe, alunos com dificuldades de visão. Alguns são completamente invisuais, outros apresentam dificuldades tão severas que só distinguem luzes e sombras. Aparecem também aqueles cujas dificuldades só se notam quando não conseguem ler ou quando se efetua um exame sumário da sua capacidade visual. Aos professores interessará conhecer o que se passa com estes alunos, as suas características, personalidade, desenvolvimento, capacidades, incapacidades, competências e necessidades, para poder organizar a mais adequada estratégia de inclusão pedagógica. Não se trata de saber como se processa o «ensino de cegos» ou de como lhes ensinar Braille — para isso a criança invisual terá as suas sessões individuais com o respetivo professor especializado —, mas da organização das atividades escolares de tal modo que todos 7 os alunos possam igualmente participar, incluindo os cegos. A organização destas atividades passa por vezes por algo tão simples como substituir uma bola de futebol por uma bola grande de praia, com guizos dentro, tendo todos os jogadores os olhos vendados. A criança invisual não só pode participar como é geralmente o melhor jogador, sentindo-se realizada por todos a quererem para as suas equipas. Foi com este propósito que se organizou a estrutura do presente livro, procurando proporcionar algumas informações sobre a criança invisual na escola e alguns conselhos sobre as atividades que o professor poderá desenvolver para que a criança se sinta feliz, satisfeita e bem integrada. 8 CAPÍTULO I A SENSORIALIDADE VISUAL Poderemos considerar o olho como um órgão que se assemelha, no seu funcionamento geral, a uma câmara fotográfica, pois que tal como esta, se destina a fazer a receção de raios luminosos entrados numa câmara escura por um orifício com uma lente que os vai focar numa placa sensível, no fundo da câmara, que os regista. A mais moderna e sofisticada câmara fotográfica, de filmar ou de vídeo ficará, porém, muito além do sofisticadíssimo funcionamento do órgão visual criado pela natureza. Os raios luminosos que incidem sobre os objetos que rodeiam o indivíduo são por estes refletidos em todas as direções. O olho recebe-os através de um sistema que pode ser comparado ao das lentes da máquina fotográfica: a Córnea, situada na parte mais anterior do olho, em contacto com o ar; o Humor Aquoso, 9 líquido existente na câmara anterior, entre a córnea e o cristalino; o Cristalino, que se parece com uma lente biconvexa mas com a particularidade de se poder contrair ou distender, alterando o seu tamanho e a sua convexidade de modo a poder fazer os ajustes focais necessários; o Humor Vítreo, líquido que enche a cavidade maior do globo ocular; e a Retina, a parte negra do fundo do olho. Os diferentes índices de refração de cada um destes elementos, conjugados entre si, permitem efeitos de focagem muito superiores a qualquer sistema de lentes zoom de uma máquina fotográfica, conseguindo com a maior das facilidades passar da focagem nítida de um pormenor de, por exemplo, uma pequena pinta no vidro de uma janela para um carro que vai a passar ou para uma nuvem no horizonte. Esta adaptação conjugada de todos os sistemas do olho atinge um poder de 59 dioptrias. Para controlar a entrada dos raios luminosos, não deixando entrar demasiados quando está muita luz 10 e permitindo a entrada de mais quando há pouca, a máquina fotográfica possui um sistema, o diafragma, que abre e fecha a abertura de entrada consoante a intensidade luminosa existente. No olho, há também um sistema que tem o mesmo objetivo e que funciona do mesmo modo — a íris —, que se situa atrás da córnea e imediatamente antes do cristalino, facilmente identificável pelo seu tom colorido («olhos castanhos», «olhos verdes», «olhos azuis»). O orifício da íris, por onde entram os raios luminosos, tem o nome de Pupila. Segundo Guyton (1974), a quantidade de luz que atravessa a pupila é proporcional à sua área ou ao quadrado do seu diâmetro. Podendo a abertura pupilar variar no ser humano de 1,5 a 8 milímetros, a quantidade de luz que entra pelo olho pode aumentar ou diminuir cerca de 30 vezes, em resultado das variações da sua altura. A parte interna do globo ocular, atrás do cristalino, é revestida por uma película negra — a Retina —, constituída por células de suporte e por neurónios que transformam as estimulações luminosas em impulsos nervosos. Estes neurónios dispõem-se em três camadas, sendo a primeira de fotoneurónios, voltados para a entrada da luz e apresentando dois tipos de especialização: os Cones, neurónios especializados na discriminação das cores específicas e os Bastonetes, que detetam luz de qualquer cor, exceto o vermelho. A segunda camada é constituída por Neurónios Bipolares, que recebem os impulsos nervosos dos cones e bastonetes, para os trans 11 mitirem aos Neurónios Ganglionares que constituem a terceira camada. Os axónios destes últimos estendem-se ao longo da superfície interna da retina para se reunirem num ponto — o Ponto Cego —, medialmente ao centro da retina, para formarem o Nervo Ótico, que transmite ao cérebro a estimulação recebida. 12 CAPÍTULO II A PERCEÇÃO VISUAL A TRANSMISSÃO DOS ESTÍMULOS SONOROS Os nervos óticos, emergindo da parte de trás de cada globo ocular, dirigem-se para a parte posterior da cabeça, fazendo um cruzamento de parte das suas fibras no Quiasma Ótico, que se situa no crânio exatamente antes de entrarem no cérebro. Metade das fibras do nervo ótico de um olho cruzam-se e vão juntar-se a metade das fibras do olho oposto, formando as Vias Óticas que fazem sinapses com o Corpo Geniculado Lateral, donde o Feixe de Radiação Ótica leva finalmente as informações nervosas ao Córtex Visual Primário, situado na parte posterior do cérebro, nos Lóbulos Occipitais. Deste modo, cada hemisfério recebe as informações do olho desse lado e as informações do olho do outro lado, pelo que, havendo uma lesão num dos olhos, os dois hemisférios continuam a receber informação visual. 13 A PERCEÇÃO DA LUMINOSIDADE A Luminosidade de uma imagem visual refere-se ao seu nível de intensidade luminosa, pensando-se que serão as células ganglionares da retina que procedem a esta sensorialidade (Stevens, 1951). Esta perceção da luminosidade permite o envio de mensagens para controlo da abertura da pupila, não deixando entrar um número exagerado de raios luminosos que possam, eventualmente, danificar células retinianas, permite perceber os graus de intensidade luminosa que vão desde a escuridão total à penumbra e à luminosidade mais intensa, como a da luz do Sol e ainda a perceção de contrastes, sobretudo quando ocorrem ao longo de bordas de objetos rígidos (Morgan, 1965). Os raios luminosos (compostos por fotões), ao incidirem sobre os objetos, refletemse, com modulações que geram a perceção das suas formas e cores pelos olhos, que os transformam em impulsos nervosos que são transmitidos às áreas occipitais do cérebro, gerando a Imagem Visual. 14 Ao se reduzir progressivamente a luz, dentro de uma sala, por exemplo, os olhos vão deixando de ver os objetos à medida que vai havendo cada vez menos luminosidade, criando cada vez mais dificuldades na perceção dos objetos. As salas de aula requerem, por isso, que sejam bem iluminadas pela luz natural e que nos dias escuros do inverno exista uma boa iluminação elétrica. Esta iluminação não deve ser demasiado forte nem direta (o Sol a bater nas páginas brancas de um caderno, por exemplo, leva a queixas dos alunos de que «encandeia» e «faz doer» os olhos). A ACOMODAÇÃO Se uma pessoa estiver numa zona com luz e depois se for para uma zona de sombra, com falta de luz, verifica-se que os olhos se vão adaptando progressivamente à penumbra, demorando alguns minutos até que estejam adequadamente acomodados à penumbra. Inversamente, ao sair-se de uma zona escura para se ficar exposto à luz, também são necessários alguns minutos para que se faça a acomodação dos olhos às novas condições. Em qualquer destas situações, deixa inicialmente de se ver os objetos circundantes, começando estes a ficar cada vez mais nítidos em razão do processo de acomodação, até ficarem perfeitamente percetíveis. Este fenómeno é facilmente constatável quando, por exemplo, se entra num cinema às escuras, vindo de um 15 ambiente iluminado, ou quando sucede o inverso, sair do cinema para a luz do Sol. Em ambas as situações a visão fica temporariamente obliterada, até que a acomodação se conclua. Quando há uma ausência total de luz, não há acomodação nem qualquer possibilidade de se ver os objetos, pois que estes apenas são percetíveis visualmente quando há raios de luz que se refletem neles e são captados pelos olhos (Hecht e col., 1937). Segundo Guyton (1974), os limites da acomodação máxima ao escuro e à acomodação máxima ao claro, levam a modificações de sensibilidade da retina de cerca de 500 000 a 1 000 000 de vezes. CAMPOS DE VISÃO A visão obtida pela ação conjunta dos dois olhos permite a perceção de uma área visual circular no centro da qual se situa uma área central — Visão Central —, que permite distinguir os pormenores dos objetos e uma área situada ao redor desta, como uma coroa circular — Visão Periférica —, em que se percebem formas e cores mas não contornos e pormenores. A visão central é obtida pelas células da retina que se encontram diretamente atrás da abertura pupilar, sendo sensíveis a grandes intensidades luminosas e insensíveis a baixas intensidades. Com boa iluminação, permitem a visão diurna, distinguindo pormenores como por exemplo os da escrita. 16 A visão periférica é obtida pelas outras células da retina, mais sensíveis a baixas intensidades luminosas. Se numa noite escura se procurar observar um objeto com a visão central, só se consegue perceber uma mancha esbranquiçada. Se se olhar ao redor desse objeto com a visão periférica, consegue-se distinguir o seu tamanho e contornos. A MOVIMENTAÇÃO VISUAL O globo ocular é mantido por seis músculos, que lhe permitem a mobilidade em todos os sentidos (vertical, horizontal e rotação). É devido a este sistema muscular que o homem possui a capacidade de olhar em várias direções, movendo apenas os olhos, sem necessidade de voltar a cabeça, o que não sucede com os outros animais. Os movimentos mais importantes dos olhos são aqueles que permitem fazer a «fixação» numa dada parte do campo visual, existindo uma fixação voluntária e uma fixação involuntária. A primeira é a fixação 17 de um objeto efetuada intencionalmente pela pessoa (por exemplo, contemplar uma pintura, numa exposição). A segunda, a fixação involuntária, trata-se de um mecanismo involuntário que mantém os olhos sobre um objeto assim que este é encontrado, estando intimamente relacionado com os mecanismos de atenção (tentar perceber quem é a pessoa que vem ao longe). Estas fixações visuais são muito importantes, pois que permitem que a visão permaneça focada, por exemplo, sobre um objeto que se move. Para a manutenção desta focagem, ou seja da fixação, os olhos apresentam três tipos de movimentação, constante e quase impercetível (Guyton, 1974): 1 — Tremor contínuo, com uma frequência de 30 a 80 ciclos por segundo, motivado por contra-ções sucessivas dos músculos oculares. 2 — Desvio lento dos globos oculares, numa ou noutra direção. 3—Movimentos pequenos e bruscos, controlados pelos mecanismos de fixação involuntária. Estas movimentações oculares são muito importantes para a leitura, pois que a perceção desta não é efetuada linearmente, mas como que aos saltos, com pontos de fixação em zonas de maior ou menor facilidade de perceção. Ou seja, a pessoa não lê letra por letra, palavra por palavra, mas focando «flashes» de palavras que lhe comuniquem significado, parando e fixando melhor as palavras de mais difícil perceção vi 18 Sual. Às vezes voltando mesmo atrás quando algo não faz sentido, visual ou cognitivamente. A VISÃO ESPACIAL Embora cada olho faça isoladamente a sua captação de imagens e as envie ao cérebro por nervos diferentes, na realidade a pessoa só se apercebe de uma única imagem e não de duas, porque o cérebro procede à sua fusão. Esta fusão permite, não só, uma melhor pormenorização percetiva como ainda a perceção do relevo e das distâncias. É exatamente devido à conjugação da captação de imagens por dois olhos separados entre si que é possível efetuar-se esta éstereopsia. Segundo Guyton (1974), esta fusão de imagens dos dois olhos resulta dos movimentos conjugados dos olhos, que é hereditário, e do desenvolvimento percetivo dos mecanismos de fixação do objeto de atenção. Quanto mais os dois olhos se moverem jun19 tos, maior será a sua capacidade de fixação e consequentemente o seu grau de fusão. A CINTILAÇÃO E A FUSÃO DE IMAGENS As variações de intensidade de um raio luminoso são percebidas como uma cintilação do mesmo. Uma luz «cintilante» é caracterizada pela rapidez com que a sua intensidade aumenta ou diminui. No entanto, um raio de luz que cintile a uma velocidade elevada não é percebido como cintilante mas como contínuo e uniforme. O limiar deste tipo de perceção da visão humana é de 1/10 a 1/15 de segundo, sendo percetíveis cintilações que variem em frequências inferiores e não percetíveis as possuidoras de frequências superiores. É esta característica percetiva que constitui a base do cinema e da televisão, constituídos pela projeção de imagens sucessivas a uma velocidade de 24 quadros por segundo no cinema e 60 na televisão, produzindo como resultado uma fusão em que não são percebidos os quadros mas um movimento contínuo. Segundo Guyton (1974) há ainda uma relação entre a fusão e a intensidade luminosa: o aumento da intensidade luminosa faz elevar a frequência crítica de fusão, o que tem a ver com a capacidade dos cones retinianos, que operam, sobretudo, com elevados níveis de iluminação, em detetar alterações de iluminação com maior rapidez que os bastonetes, que são recetores importantes de luz suave. 20 A PERCEÇÃO DAS CORES Segundo a teoria de Young-Helmhltz, existem na retina três tipos diferentes de cones, cada um dos quais possuindo uma sensibilidade específica para uma dada cor. Um tipo de cones será estimulado pelo vermelho, outro tipo pelo verde e o terceiro pelo azul. Das relações entre estas sensações, produzidas por estes tipos de cones, resulta a perceção das cores (Guyton, 1974). Colocando-se, por exemplo, um filtro monocromático verde diante do olho esquerdo e um filtro monocromático vermelho à frente do olho direito, o objeto visualizado parece amarelo. Esta associação sensorial não poderia ocorrer na retina, uma vez que uma só recebeu luz verde e a outra luz vermelha. No entanto, parece que em certas circunstâncias algo de semelhante acontece na retina, pelo menos em certo grau, quando duas luzes monocromáticas incidem sobre a mesma retina. DESENVOLVIMENTO DA PERCEÇÃO VISUAL Tal como na fala e na inteligência, as capacidades de perceção visual também possuem a sua linha de desenvolvimento (Greenwald, 1983). Quando nasce, o bebé ainda não possui uma perceção visual como a de um adulto, a de uma criança ou mesmo como a de um bebé com alguns meses. 21 O campo visual de uma criança, logo a seguir ao seu nascimento, aquele em que poderá detetar uma fonte luminosa, forma uma elipse horizontal com uma abertura de 60 graus de arco sobre o eixo horizontal e de 20 graus sobre o eixo vertical (quando num adulto o campo visual é de 190 por 110 graus). Isto significa que o recém-nascido só tem possibilidades de se aperceber de um estímulo luminoso colocado a 50 centímetros dos seus olhos, se este se encontrar a menos de 25 centímetros da sua direita ou da esquerda e a menos de 9 centímetros acima ou abaixo da linha dos seus olhos. Todos os objetos colocados a mais de um metro da criança recém-nascida aparecem--lhe como uma massa confusa e inestruturada (Vur-pillot, 1990). Haith (1987) refere que a criança humana vem ao mundo já com as estratégias inatas de procura de informação visual no meio que a rodeia. Uma primeira estratégia referese à exploração que persiste até que a vista encontre uma fronteira entre duas zonas de intensidade luminosa diferente (uma página branca e uma página negra, por exemplo). Esta estratégia é então em parte inibida por outra, dita de inspeção e análise da fronteira que delimita aquelas duas zonas. A utilização destas duas estratégias motiva um elevado nível de atividade do sistema oculomotor e das células visuais corticais, que favorece a sua maturação e desenvolve as capacidades visuais inatas. A visão binocular está presente desde os primeiros dias, deslocando-se os dois olhos simultaneamente, em conjugação ocular e orientando-se de modo a fixa22 rem-se no mesmo ponto, desde que este se situe a uma distância de 25 a 30 centímetros. A acomodação é possível desde o nascimento, mas é pouco utilizada até meio do segundo mês, o que pode ser atribuído à pouca acuidade visual (que, segundo Harley (1983), será de 20/200). O recém-nascido não distribui igualmente a sua atenção visual sobre o que o rodeia. Certos objetos, pelas suas características físicas, são mais frequentemente olhados e durante mais tempo. Os objetos novos também são mais olhados que os familiares. A capacidade de distinguir entre «forma» e «não forma» está presente e funcional desde o nascimento. Os traços geométricos que parecem ser mais fáceis de distinguir pelo bebé de poucos dias, parecem ser os correspondentes a uma face humana vista de frente (olhos, nariz, boca). Distingue ainda algumas cores. Com 1 mês de idade, consegue já diferenciar um triângulo de uma cruz e um triângulo azul de um vermelho (Vurpillot, 1990), segue visualmente um objeto deslocando-se h... 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