1 CURSOS, DISCIPLINAS E PRIMEIROS FROFESSORES DA FACULDADE CATARINENSE DE FILOSOFIA Celso João Carminati Programa de Pós-Graduação em Educação – UDESC E-mail: [email protected] Palavras-Chave: cursos - professores – formação superior 1. Introdução Apresentamos, neste texto, um breve histórico da constituição da Faculdade Catarinense de Filosofia, dando especial atenção aos primeiros cursos, e às disciplinas oferecidas por seus ilustres professores. Da organização da faculdade às atividades de ensino daremos atenção e destaque aos cursos de Filosofia, História e Geografia, tanto na organização curricular de cada curso, quanto na estrutura e funcionamento dos cursos, uma vez que estes nos possibilitaram compreender e discutir algumas facetas dos que foram seus primeiros mestres. 1 Sem desmerecermos os lugares individuais que cada professor ocupou, demos maior atenção àqueles que de certa forma já tinham privilégios por serem contratados fora do meio local. No entanto, o lugar que a eles dedicamos neste texto se fundamenta nas trajetórias individuais e profissionais, sobretudo decorrentes de produções biobibliográficas sobre seus pensamentos. 2. Normas e estruturas de funcionamento Enquanto organização dos estudos da Faculdade Catarinense de Filosofia, o Regimento Interno da Faculdade Nacional de Filosofia estabelece critérios e referências para a vida acadêmica dos alunos matriculados, tais a realização dos “trabalhos escolares” 1 O decreto nº 36.658, de 24 de dezembro de 1954, autoriza o funcionamento dos cursos da Faculdade Catarinense de Filosofia: “O Presidente da República, usando da atribuição que lhe confere o art. 87, item I, da Constituição, e nos termos do artigo 23 do Decreto-lei n. 421, de 11 de maio de 1938, decreta: Artigo único: É concedida autorização para o funcionamento dos Cursos de Filosofia, Geografia e História, Letras Clássicas, Letras Neolatinas e Letras Anglo-germânicas, da Faculdade Catarinense de Filosofia, com sede em Florianópolis, Estado de Santa Catarina. Rio de Janeiro, em 24 de dezembro de 1954, 133º da Independência e 66º da República. João Café Filho – Cândido Mota Filho” (FONTES, 1960, p. 16). 2 previstos nas disciplinas, tendo no mínimo a “freqüência de pelo menos 2/3 do total das aulas práticas e teóricas dadas em cada disciplina e a média 5 (cinco), no mínimo, como índice de aproveitamento nos trabalhos práticos realizados em cada um dos períodos” (Relatório, volume I, 1957). O relatório exemplifica como trabalhos práticos os da cadeira de Antropologia Cultural, que foram publicados em 1956.2 Chama atenção o fato de a Faculdade utilizar, ainda em decorrência da cultura da época uma denominação lingüística de escola escolar, pois em diversas passagens do relatório, encontramos a referência à esta categoria. Em comunicação ao diretor de Ensino Superior do Ministério da Educação, a direção da Faculdade Catarinense de Filosofia menciona possuir os materiais didáticos especializados requeridos para as cadeiras dos diversos cursos da faculdade. As cadeiras a que se refere a direção, estão agregadas ao Departamento de Geografia e as de Arqueologia e História da Arte. A “biblioteca conta com 5.581 volumes tombados – continua o comunicado -, neles incluídos os de mais de cem páginas, sendo os de menor paginação considerados folhetos, que são relacionados em separado, como o são também as revistas.3 Os folhetos são em número de 240; as revistas, em número de 826” (Ibid.) Além disso, cada cadeira está constituindo biblioteca especializada, que inclui revistas científicas. Já a faculdade tem quase completo e em condições de próximo funcionamento um laboratório de reproduções fotográficas, montado com material e recursos obtidos por doação. Do período de funcionamento no centro da cidade de Florianópolis, sua sede funcionou em espaço cedido pelos padres do Colégio Catarinense e nas imediações, também na rua Esteves Junior, e pelo governo do estado de Santa Catarina. Decorrente das diversas atividades desenvolvidas no Departamento de Geografia, “houve a necessidade de alugar dois prédios que suplementassem as dependências” (FONTES, 1960, p. 43). 3. A organização curricular e a formação inicial Apresentaremos aqui, com base em levantamento documental, a forma de organização disciplinar dos primeiros cursos seriados da Faculdade Catarinense de Filosofia. Essa organização indica um conjunto de disciplinas eleitas à base de um modelo de formação clássica, tanto para o curso de Filosofia, História, Letras, quanto para o de Geografia, mais 2 Lamentamos não ter encontrado os detalhes que pudessem ilustrar tais exemplos. No entanto, esta disciplina era ministrada pelo reconhecido professor Oswaldo Rodrigues Cabral. 2 Em nossas pesquisas, não encontramos registros dos volumes acima mencionados. Seria natural que estivessem na Biblioteca Universitária da Universidade Federal de Santa Catarina. 3 aderente a um tipo de formação mais prática. Representa, portanto, uma visão de mundo calcada na História e nos fundamentos universais da formação humana, caracterizando a visão de uma época e os valores fundamentais de uma visão de currículo expressa nos fundamentos de uma formação voltada ao homem ilustrado, naturalmente, desejoso de distinção pessoal e profissional na sociedade. Foi assim que: [...] grupos seletos [....] se organizaram em diferentes entidades de cultura e de ensino. Pode-se diferenciar, contudo, a orientação filosófica e religiosa dos intelectuais que participaram da criação da faculdade de filosofia e dos que tomaram a frente dos movimentos modernistas, muitos com orientação materialista, inclusive. Os professores, padres e apoiadores do Colégio Catarinense estavam sintonizados com a idéia de educação pela vivência e pelo exemplo de conduta cristã. Foram intelectuais dessa orientação que contribuíram para o projeto vindo de áreas diversas, principalmente o Direito, o que tornou a Faculdade Catarinense de Filosofia um locus para a formação de uma “elite” cultural catarinense específica. É neste contexto que analisamos os distintos aspectos da contribuição de intelectuaisbacharéis para a constituição do Ensino Superior Catarinense, verificando a ratificação do modelo intervencionista do Estado de bem-estar social e as alianças constantemente firmadas entre os grupos católicos e o estado (CARMINATI; FASOLO, 2008, p. 04). É notável a forte influência da formação católica, expressa pelos diversos padres contratados que lecionaram em todos os cursos da faculdade, condição reforçada e decorrente do fato de a sede de formação e funcionamento da FCF ter sido o Colégio Catarinense, pertencente aos padres jesuítas, que ainda continua situada e em funcionamento no centro da cidade de Florianópolis. Se tomarmos por base a matriz de formação acadêmica dos professores, identificaremos que, em sua maioria, foram graduados em Filosofia, Teologia, Direito, Geografia e História, Medicina. Constituem exceção os graduados em Letras, com destaque para as professoras assistentes4 Maria Carolina Gallotti Kehrig e Therezinha Balceiro. Para compreendermos no tempo e podermos discutir os fundamentos que vicejavam, elencaremos, a seguir, todos os cursos, seus professores e respectiva formação, além de seus contratos funcionais. Com relação às formas de contrato e status na carreira, a lei estadual nº 948/1953 autorizava auxílio do governo, com previsão orçamentária para o ano de 1955, para contratação de professores, apesar de se tratar de uma faculdade isolada e privada. Pelo disposto no art. 1º, “Fica o poder executivo autorizado a auxiliar a Faculdade Catarinense de 4 Embora a FCF fosse privada, seus diretores tomavam como referência as legislações federal e estadual. De acordo com o decreto nº 21.321/1946, “A nomeação dos assistentes será feita pelo prazo máximo de três anos, podendo ser reconduzidos, a juízo do professor catedrático e de acordo com as condições que o regimento das unidades universitárias estabelecer” (FÁVERO, 2000, p. 210). 4 Filosofia no contrato de professores especializados, nacionais ou estrangeiros, de provada competência, que satisfaçam as exigências da legislação federal” (Relatório, volume II, 1954, p. 8). Somente desta forma a FCF pôde contratar um grupo de importantes professores fora do meio local para os cursos que se iniciavam. Do regime de trabalho dos professores, Fontes (1960) destaca que os contratados fora do meio local deveriam receber vencimentos, diga-se salários mensais, iguais aos dos catedráticos da Universidade do Brasil e os contratados no meio local, o equivalente à quarta parte de remuneração daqueles professores, valores que eram pagos por verbas repassadas anualmente pelo governo do Estado, de acordo com a lei nº 948/1953. Abaixo, relacionamos na forma de um quadro demonstrativo, as disciplinas dos cursos por série, os/as professores/as, sua formação e a forma de contrato que regiam seus vínculos com a instituição. I - Curso de Filosofia5 1ª série6 DISCIPLINA PROFESSOR/A FORMAÇÃO CONTRATO Introdução à Filosofia Pe. Ernesto Seidl Curso de Filosofia e Teologia Psicologia Lydio Martinho Callado Bacharel em Direito Lógica Pe. Ernesto Seidl Curso de Filosofia e Teologia História da Filosofia Pe. Evaldo Pauli8 Curso de Filosofia e Teologia Catedrático7 de Filosofia – contratado no meio local Catedrático de Psicologia – contratado no meio local Catedrático de Psicologia – contratado no meio local Contratado para substituir o catedrático monsenhor Frederico 5 As tabelas aqui apresentadas foram construídas a partir dos relatórios de verificação para reconhecimento da Faculdade Catarinense de Filosofia, volumes I, II, IV e V. 6 Alunos matriculados no curso de Filosofia em 1955: “Aiga Barreto, Alcides Abreu, Ângelo Ribeiro, Aurora Goulart, Boris Miguel Moreira da Silva, Celeste Mães, Célia Rovere, Célia Vieira Bucchi, Dilma Livramento, Eli Fernandes, Elisabeth Maria Fragoso Gallotti, Fernando Luiz Soares de Carvalho, Francisco José Pereira, Glaycon Pôrto Lucena, Helena Ana de Souza, Hend Miguel, Irene Reckziegel, Izabel Maria Souto, José Brognoli, José Hamilton Martinelli, Luiz Adolfo Olsen da Veiga, Marli Terezinha Ammon, Matolde Vieira, Mário José Caldeira Bastos, Nelza Mafra, Olga Brasil da Luz, Onésia de Oliveira Furtado, Selva Palma Ribeiro, Sylvia Maria Fleming, Telmo Vieira Ribeiro, Therezinha de Jesus Araújo, Walmor Cardoso da Silva e Zanzibar da Silva Fernandes.” (Fontes, 1960, p. 20) 7 “Os professores catedráticos serão nomeados por decreto do presidente da República e escolhidos mediante concurso na forma estabelecida na legislação vigente e no regimento das escolas e faculdade” (FÁVERO, 2000, p. 210). 8 Também foi professor no Departamento de Filosofia da Universidade Federal de Santa Catarina até a década de 1980, quando se se aposentou. É fundador da Fundação Internacional Esperanto e autor de diversos livros sobre Esperanto, tendo editado a Revista “Filozofia Revuo SIMPOZIO”, dedicada à divulgação dessa língua. Dentre os outros livros, destacamos: PAULI, Evaldo. Estética Geral. Florianópolis: Editora Biblioteca Superior de Cultura, 1963 e PAULI, Evaldo. Tratado do Belo. Florianópolis: Editora Biblioteca Superior de Cultura, s/d. 5 Hobold 2ª série DISCIPLINA PROFESSOR FORMAÇÃO CONTRATO Psicologia Lydio Martinho Callado Bacharel em Direito Sociologia Edmundo Accácio Moreira Bacharel em Direito História da Filosofia Pe. Evaldo Pauli Curso de Filosofia e Teologia Catedrático de Psicologia – contratado no meio local Catedrático de Sociologia - contratado no meio local Substituto do monsenhor Frederico Hobold 3ª série DISICIPLINA PROFESSOR FORMAÇÃO CONTRATO Psicologia Lydio Martinho Callado Bacharel em Direito Ética Pe. Ernesto Seidl Curso de Filosofia e Teologia Estética Pe. Francisco de Sales Bianchini9 Filosofia Geral Pe. Francisco de Sales Bianchini Curso de Filologia e Direito Internacional na Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma Curso de Filologia e Direito Internacional na Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma Catedrático de Psicologia – contratado no meio local Catedrático de Psicologia – contratado no meio local Cooperador dos catedráticos de Filosofia e Psicologia Cooperador dos catedráticos de Filosofia e Psicologia II – Curso de Geografia10 Considerados os primeiros cursos de Geografia e História de Santa Catarina, os mesmos, de acordo com a lei nº 2.594/1955, foram desdobrados em cursos independentes. Para seu funcionamento, sobretudo para os cursos de exigiam maior número de recursos financeiros e também de profissionais 9 O Padre Francisco Bianchini foi professor da Faculdade Catarinense de Filosofia e chefe do Departamento de Filosofia desde a fundação da Universidade Federal de Santa Catarina, onde se aposentou no final da década de 1980. Para saber mais, ler: CARMINATI, Celso J.; FASOLO, Camila P.. História e políticas para formação de professores em nível universitário: a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Santa Catarina. Pelotas: UFPEL/ASPHE, 2007. 10 Alunos matriculados no curso de Geografia e História no ano de 1955: “Alba Maria da Silveira, Antenor da Luz, Dinah Fernandes Brognoli, Hélio Abreu, Jairo Lisboa, Joe Puerta Kersten, José Hilário Pereira, José Warken Filho, Maria José Bonatelli, Marly Anna Fortes Bustamante, Moacyr Pereira, Olga Cruz, Oswaldina Cabral Gomes, Oswaldo José Fraga, Walter Fernando Piazza”. (Fontes, 1960, p. 21) 6 com formação acadêmica, a Faculdade Catarinense de Filosofia obteve diversos apoios externos. Um dos mais significativos foi a, Cooperação inestimável [...] do Governo de São Paulo, que, por solicitação do Governo Catarinense, comissionou um douto Professor da sua Universidade, o Sr. Dr. João Dias da Silveira, catedrático e vice-diretor da Faculdade de Filosofia, para em nossa escola fundar, em bases modernas e científicas, o ensino da Geografia. Significamos o nosso alto apreço a tão fraterna cooperação do generoso Estado vanguardeiro, com o encargo, cometido ao ilustre Professor, de nos ministrar a aula inaugural, conferindo-lhe, dest’arte, a primazia entre os nossos docentes. (FONTES, 1960, p. 17)11 1ª série DISCIPLINA PROFESSOR FORMAÇÃO CONTRATO Geografia Física Carlos Augusto de Figueiredo Monteiro Licenciado em Geografia e História Geografia Humana Margarida Ingeborg Heer Licenciada em Geografia e História Complementos de Geologia Francisco Kasuiko Takeda Licenciado em História Natural e com curso de especialização em Ciências Geológicas História Moderna Aujor Ávila da Luz12 Médico Antropologia Física Pe. Alvino Bertholdo Braun Curso de Filosofia e Teologia Catedrático de Geografia Física contratado de acordo com a Lei Estadual nº 948/1953 Catedrática de Geografia Humana, contratada de acordo com a Lei nº 948/1953 Catedrático de Complementos da Geologia e Solos contratado de acordo com a Lei n. 948/1953 Catedrático de História da América - contratado no meio local Catedrático de antropologia física contratado no meio local. 2ª série DISCIPLINA PROFESSOR FORMAÇÃO CONTRATO Geografia Física – Carlos Augusto de Figueiredo Monteiro Licenciado em Geografia e História Geografia Humana Margarida Ingeborg Licenciada em Catedrático de Geografia Física contratado de acordo com a Lei Estadual nº 948/1953 Catedrática de 11 De acordo com (FONTES, 1960), o prof. João Dias da Silveira, catedrático de Geografia Física da Faculdade de Filosofia da Universidade de São Paulo, esteve à disposição do Governo de Santa Catarina e dirigiu o Departamento de Geografia da Faculdade Catarinense de Filosofia. 12 O prof. Aujor Ávila da Luz, catedrático de História da América, regeu interinamente as disciplinas de História Moderna e História Contemporânea. A 3ª série do curso de Geografia começou a funcionar no ano de 1958 . 7 Heer Geografia e História Geografia do Brasil Maria Cecília França História Contemporânea Aujor Ávila da Luz Licenciada em Geografia e História Médico Antropologia Cultural Oswaldo Rodrigues Cabral Doutor em Medicina Geografia Humana, contratada de acordo com a Lei nº 948/1953 Catedrática de Geografia do Brasil Catedrático de História da América - contratado no meio local Catedrático de História da Antiguidade e da Idade Média, depois transferido para a cadeira de Antropologia Cultural - contratado no meio local 3ª série DISICPLINA PROFESSOR FORMAÇÃO CONTRATO Geografia do Brasil Maria Cecília França História Contemporânea Aujor Ávila da Luz Licenciada em Geografia e História Médico História do Brasil Jaldyr Bhering Faustino da Silva Bacharel em Direito História da América Aujor Ávila da Luz Médico Etnografia do Brasil Jaldyr Baering Faustino da Silva13 Bacharel em Direito Catedrática de Geografia do Brasil Catedrático de História da América - contratado no meio local Catedrático de História do Brasil - contratado no meio local Catedrático de História da América - contratado no meio local Catedrático de História do Brasil - contratado no meio local III – Curso de História14 1ª série DISCIPLINA Introdução à História 13 PROFESSOR Eudoro de Sousa 15 FORMAÇÃO CONTRATO Estudos superiores na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e curso de Filosofia no Seminário Maior de St. Sulpice, Paris Catedrático de Língua e Literatura Grega contratado de acordo com a Lei nº 948/1953 O prof. Jaldyr Bhering Faustino da Silva, catedrático de História do Brasil, regeu interinamente a disciplina de História Medieval e auxiliava o catedrático de Antropologia Física, lecionando Etnografia do Brasil, na 3ª série do curso de História. 14 Este curso de História foi o primeiro do Estado de Santa Catarina, sendo mais tarde incorporado à nascente Universidade Federal de Santa Catarina. 15 O prof. Eudoro de Sousa, catedrático de Língua e Literatura Grega, regeu interinamente as cadeiras de Arqueologia e História Antiga (inclusive Introdução à História). 8 Antropologia Cultural Oswaldo Rodrigues Cabral Doutor em Medicina Arqueologia Eudoro de Sousa História Antiga Eudoro de Sousa Estudos superiores na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e curso de Filosofia no Seminário Maior de St. Sulpice, Paris Estudos superiores na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e curso de Filosofia no Seminário Maior de St. Sulpice, Paris Catedrático de História da Antiguidade e da Idade Média, depois transferido para a cadeira de Antropologia Cultural - contratado no meio local Catedrático de Língua e Literatura Grega contratado de acordo com a Lei nº 948/1953 Catedrático de Língua e Literatura Grega contratado de acordo com a Lei nº 948/1953 2ª série DISICPLINA PROFESSOR FORMAÇÃO CONTRATO História Medieval16 Jaldyr Bhering Faustino da Silva Bacharel em Direito Cultura Ibérica Manoelito de Ornellas17 História da América Aujor Ávila da Luz Ex-catedrático interino de Literaturas HispanoAmericanas e excatedrático de História da Arte da Faculdade de Filosofia da Universidade de Rio Grande do Sul Médico Catedrático de História do Brasil - contratado no meio local Contratado para catedrático de Literaturas Hispanoamericanas História do Brasil Jaldyr Bhering Faustino da Silva Bacharel em Direito Geografia Geral Carlos Augusto de Figueiredo Monteiro Licenciado em Geografia e História Catedrático de História da América - contratado no meio local Catedrático de História do Brasil - contratado no meio local Catedrático de Geografia Física contratado de acordo com a Lei Estadual nº 948/1953 3ª série DISCIPLINA 16 17 PROFESSOR FORMAÇÃO CONTRATO O prof. secundário Walter Fernando Piazza foi auxiliar de pesquisas da cadeira de História Medieval. Ministrou também as aulas de Cultura Ibérica. 9 História Moderna Aujor Ávila da Luz Médico Histórica Contemporânea Aujor Ávila da Luz Médico História do Brasil Jaldyr Bhering Faustino da Silva Bacharel em Direito História da Arte João Evangelista de Andrade Filho Jaldyr Bhering Faustino da Silva Bacharel em Direito Etnografia do Brasil Bacharel em Direito Catedrático de História da América - contratado no meio local Catedrático de História da América - contratado no meio local Catedrático de História do Brasil - contratado no meio local Catedrático de História da Arte Catedrático de História do Brasil - contratado no meio local 4. Destaques entre seus professores Pesquisas e estudos realizados nas últimas décadas têm revelado e destacado a importância de alguns professores e intelectuais, tanto por sua atuação política em meios sociais, quanto na produção acadêmica em diversas áreas das Ciências Humanas, particularmente em História, Literatura e Filosofia. Estas três áreas do conhecimento dão o indicativo da importância de pelo menos três professores com significativa cultura universal e produção intelectual. Trata-se de Eudoro de Sousa, com formação em estudos superiores na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e no curso de Filosofia no Seminário Maior de St. Sulpice, Paris, tendo sido professor do curso de História, Letras Clássicas e Filosofia, Osvaldo Rodrigues Cabral, com formação em Medicina e professor do curso de História e Agostinho da Silva, doutor em Letras pela Universidade de Porto, Portugal e professor do curso de Letras Clássicas Neo-Latinas. Estes professores gozaram, ao longo de suas carreiras acadêmicas, de muito prestígio e foram basilares na formação de grupos de intelectuais. Parte importante desta atuação resultou em produções significativas, como foi a de Oswaldo Cabral, que, com “a criação da Faculdade Catarinense de Filosofia, em 1956, [...] inicia a formação de um grupo de pesquisadores universitários, entre os quais se destacam Silvio Coelho dos Santos, Walter F. Piazza, Anamaria Beck, M. Gerusa Duarte, Aboíno Eble”, (SACHET, 1985, p. 272), dentre outros.18 Eudoro de Sousa, lusitano de formação, pós-graduado na Alemanha e França, ao bom estilo socrático, era amante da filosofia grega. Sua carreira acadêmica, porém, se deu no Brasil, tendo sido um dos fundadores do Instituto Brasileiro de Filosofia, com atuação 18 Sugerimos a leitura da Revista PerCursos, v. 4, nº 1, jan./jun. de 2004, do Centro de Ciências da Educação/UDESC, Florianópolis. Este número foi dedicado integralmente à vida e produção acadêmica de Oswaldo Rodrigues Cabral. Sugerimos também a Revista de Ciências Humanas, Florianópolis, EDUFSC, v. 42, nº 1 e 2, abr. e out. de 2008. p. 9 a 60. 10 profissional em universidades paulistas, como UNICAMP, a USP e a PUC, com expressiva produção científica, ainda hoje considerada inovadora no pensamento clássico, com breve passagem por Santa Catarina, onde foi professor da Faculdade Catarinense de Filosofia no período de 1955 a 1962, transferindo-se depois para Brasília, onde foi um de seus fundadores e professor pesquisador em Filosofia Grega e Mitologia até o ano de 1987. Em decorrência de significativa publicação em torno da obra de Oswaldo Cabral, ressaltaremos aqui as contribuições de Eudoro de Sousa e Agostinho da Silva. Por isto, gostaríamos de destacar também a importância do pensamento de Agostinho da Silva. Ilustre cidadão do mundo, com passagens por diversos países, sempre esteve preocupado em difundir a cultura entre os povos e particularmente a literatura portuguesa, da qual era um aficionado, sobretudo de Fernando Pessoa. Pouco se sabe deste professor a respeito de sua breve passagem por estas terras d´além mar. Ilustre lusitano, assim como o professor Eudoro de Sousa, foi contratado sob a vigência da lei nº 948/1953, em razão das exigências do Ministério da Educação para o funcionamento dos cursos pertencentes à Faculdade de Filosofia. Em pesquisas que realizamos em terras lusitanas no ano de 2009, tivemos a grata surpresa de encontrar registros de suas produções por membros de sua família e também de diversos pesquisadores que se tem dedicado a conhecer, documentar e discutir a contribuição da produção acadêmica deste professor. MANSO (2007), em sua dissertação de doutoramento na área de especialização em Filosofia da Educação, realizou profunda pesquisa sobre a filosofia educacional de Agostinho da Silva. O texto, dividido em três capítulos, dá significativa importância ao seu pensamento pedagógico e aos seus fundamentos filosóficos. Não se trata aqui de retomar as discussões realizadas pelo autor, mas, por nossa curiosidade em relação à obra, tão somente indicar alguns aspectos que dizem respeito ao seu trabalho no Brasil, incluindo aqui a passagem pela Faculdade Catarinense de Filosofia, e suas preocupações com a criação de núcleos ou grupos de estudos em torno da literatura e cultura, fosse ela lusitana, africana ou brasileira. As folhinhas continuaram a ser publicadas durante o ano de 1991. Uma folhinha de quando em quando – Janeiro 91 - serviu para nosso autor relembrar a criação da universidade de Santa Catarina e o interesse que os catarinenses manifestaram por Angola, interesse que o levou a propor ao reitor da Universidade de São Salvador da Bahia a criação de um Centro de Estudos Africanos e Orientais, o que veio a acontecer com o apoio, entretanto surgido, da UNESCO (MANSO, 2007, p. 103). Esta breve menção indica a universidade criada com a lei estadual, sucedendo à Faculdade Catarinense de Filosofia, que, em seguida, com a dinâmica de federalização, foi 11 incorporada à nascente Universidade Federal de Santa Catarina. De breve passagem por terras insulares, sua afirmação deu-se nas proposições de estudos na Universidade de Brasília. Em texto publicado em Portugal, discorreu sobre a necessidade de aproximação entre os dois países: Neste escrito, a partir de uma análise do passado comum de ambos os povos, Agostinho apontou soluções, a partir na nova capital do Brasil e da sua universidade, que pudessem corrigir as mútuas desconfianças entre os dois Estados irmãos, cujos políticos, de cada lado, não raras vezes achavam que a cultura portuguesa e brasileira deveriam ser consideradas, entre si, como estrangeiras. O nosso autor quis, ainda, deixar bem vincadas as suas esperanças no futuro ecumênico que os países lusófonos deveriam começar a preparar, atribuindo relevante missão profética a Brasília e à sua Universidade, mais concretamente ao Centro Brasileiro de Estudos Portugueses que ele próprio, Agostinho da silva, tinha criado naquela Universidade (MANSO, 2007, p. 45) Diversas outras passagens ilustram certa visão messiânica de Agostinho, que apostava numa conciliação entre o ideário grego e a fraternidade cristã. De sua relação com os católicos MANSO (2007), deixou registrada, dentre suas diversas contribuições, a colaboração na revista Convivium, principalmente sua admiração pelo filósofo português Vicente Ferreira da Silva, um dos dinamizadores do chamado grupo de São Paulo, do qual participavam também Agostinho da Silva e Eudoro de Sousa, que fundou anos mais tarde o Centro de Estudos Clássicos na Universidade de Brasília. Encontramos no autor citado uma curiosa observação de que Agostinho da Silva “revelou ter sido chefe de escuteiros [sic.] em Santa Catarina”. Isto ocorreu, revela Agostinho, “quando organizava um grupo de escuteiros, no qual estava meu filho. E como não tinham ninguém para chefe, convidaram-me. Eu não me sentia muito capacitado para aquilo, mas insistiram e lá fui...” (Ibid., p. 214). Em suas idéias sobre o papel da Filosofia na universidade, lemos: Na nova Universidade protagonizada por Agostinho era necessário que houvesse uma Faculdade de Filosofia e não apenas qualquer curso de filosofia dependente das Faculdades de Letras. A defesa desta Faculdade e do seu relevante papel, o pedagogo portuense deixou-a suficientemente fundamentada em 1953, quando leu, na Rádio Tabajara da Paraíba, o texto O Valor actual das Faculdades de Filosofia, onde começou a referir ‘...que numa Faculdade de Filosofia se deve dar primacial importância ao aspecto científico, desligado de qualquer espécie de veleidade de aplicação prática ou técnica; científico no seu aspecto geral, entendendo aqui a ciência como método e como atitude, não a vendo apenas como física ou matemática, mas igualmente como história, filosofia ou geografia humana’” (Ibid., p. 194). 12 Não ficam claras as direções deste discurso de Agostinho. Em livre ilação, pode-se descortinar certo descontentamento, talvez em direção ao modelo da própria Faculdade Catarinense de Filosofia, ou mesmo em direção à estrutura predominante em seus currículos. Nno texto mas abaixo, encontramos outra passagem em que explicita melhor sua concepção: Para além do mais, a Faculdade de Filosofia estaria na base de todo o ensino universitário, uma vez que todos os estudantes eram obrigados a freqüentá-la antes de iniciarem os seus cursos, a fim de haurirem aquilo que o nosso autor classificou como a verdadeira formação universitária: ‘...Faculdade de Filosofia, onde [o aluno] receberia a sua formação filosófica, onde receberia o propósito da química ou a propósito do chinês, a sua possibilidade de ser pensante e reflectido’. Após adquirir esta formação de base, o estudante ‘...partiria depois da Faculdade de Filosofia para fazer a sua técnica de medicina, ou fazer a sua técnica de engenharia.’ O tempo haveria de passar e cada aluno terminaria o seu curso específico na área que vinha escolhido. Contudo, no entender do nosso pedagogo, ‘...a formação verdadeiramente universitária, que consiste em considerar o universal das coisas, em descobrir o particular, ele tenha-o adquirido na Faculdade de Filosofia’” (Ibid., p. 195). Agostinho parece expressar certa preocupação com os destinos do modelo da Faculdade de Filosofia, pois, em diversas vezes, diante das reformas do ensino, os modelos de agregação de cursos sempre se faziam presentes, com certeza no curso de Filosofia, que seria parte da futura faculdade de Letras. Por entender que a Filosofia MANSO (2007) devia ter um lugar destacado, sua inclusão nas faculdades de Letras significava retirar-lhe a dimensão universal. Agostinho parecia estar antecipando um problema que as Faculdades de Filosofia viriam a sofrer nas reformas subseqüentes. Nas universidades por onde passou, Agostinho incentivou a criação do Centro Brasileiro de Estudos Ibéricos, do Centro Brasileiro de Estudos do Oriente, do Centro Brasileiros de Estudos Africanos, do Centro de Estudos Portugueses. 5. Considerações finais Foi grande o encantamento pessoal ao elaborar este texto, pois o encontro com documentos considerados primários permitiu apurar a origem e formação dos primeiros cursos de graduação da então Faculdade Catarinense de Filosofia, reconhecidos pelo Ministério da Educação em terras catarinenses. As fontes de pesquisa deram indicativos, tanto em suas vozes, quanto em suas interpretações, das lacunas institucionais e legais, dos esforços e trajetórias de seus idealizadores, organizadores e mestres. 13 As intenções expressas nos documentos apontam uma preocupação enorme para com o cumprimento de preceitos legais, sob os quais se erigiam também as estruturas curriculares, os exames para contratação e as articulações com perspectivas de educação que começam a subverter a ordem ainda vigente, procurando, pela relação entre tradição e inovação, estabelecer uma nova sistematização do currículo. Sob os ditames dos preceitos católicos, percebidos nas transversalidades que compunham os currículos dos cursos e em significativo número de professores provenientes de uma formação com tradição religiosa, sobretudo em cursos de filosofia, a formação esperada da FCF mostrava que aí estariam as futuras sementes daqueles que mais tarde ocupariam importantes postos na vida burocrática estatal e educacional. A forte presença de padres católicos no curso de Filosofia e em diversas disciplinas dos demais cursos da Faculdade Catarinense de Filosofia indica um contexto de época, em que o predomínio desse credo e a inovação do pensamento pedagógico demonstravam certo conflito e disputa por um modelo de educação que havia marcado as décadas anteriores e se aguçava fortemente no período. A inovação no pensamento educacional proposta por Agostinho e patrícios começa a acontecer a partir da década de 1930, sobretudo pela atuação do movimento que elaborou e assinou o manifesto dos pioneiros, reverberando nas décadas seguintes, com tendência a alguma renovação. Esta pôde ser percebida, em parte, nas preocupações legais para a autorização de abertura de cursos de graduação, que, dentre alguns aspectos, impunha às autoridades critérios que permitissem contratar professores fora do meio local com renomada formação intelectual. A renovação no pensamento educacional brasileiro, já sentida nesse período, toma força com a nomeação de uma comissão de trabalho para elaboração da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional no ano de 1947. Dentre seus membros, “estavam Leonel da Franca e Alceu Amoroso Lima, representantes do grupo católico, mas também Anísio Teixeira, Lourenço Filho, Fernando de Azevedo, Almeida Junior, Faria Góis, representantes da pedagogia nova” (SAVIANI, 2004, p. 8). Na Faculdade Catarinense de Filosofia, esta inovação pôde ser percebida na contratação de professores com reconhecida formação, com a vinda de consultores de São Paulo e Rio de Janeiro, além das preocupações com as instalações, sobretudo as laboratoriais para o curso de Geografia. O esforço de constituição de uma “verdadeira Faculdade de Filosofia” teve em Henrique da Silva Fontes, seu fundador e diretor, a principal referência, razão pela qual foi indicado pelo governador de Santa Catarina, Irineu Bornhausen, para presidir os trabalhos de 14 implantação da Universidade de Santa Catarina, na crista dos ventos da federalização que sopravam por todo o País. Advindos de diversos colégios católicos, sobretudo catarinenses, seus primeiros alunos e alunas puderam, a partir de 1955, fazer a tão desejada formação em cursos superiores. Na lista de seus primeiros ingressantes, encontramos diversas mulheres, muitas delas cursando Filosofia, em geral um curso mais voltado aos homens. Aliás, no corpo docente de Filosofia, três eram mulheres. Dentre os professores, encontramos registros da sua significativa importância para a FCF e, posteriormente, em outras universidades, sobretudo dos professores Agostinho da Silva, Eudoro de Souza e Oswaldo Rodrigues Cabral. Referências CARMINATI, Celso J.; FASOLO, Camila P. A Contribuição de Intelectuais-bacharéis na fundação da Faculdade Catarinense de Filosofia. Aracaju: V CBHE, 2008. FONTES, Henrique da Silva. Pensamentos, palavras e obras. Florianópolis: edição do autor, 1960. Lei nº 948, de 23 de setembro de 1953. MANSO, Artur. Filosofia Educacional na Obra de Agostinho da Silva. Portugal: Universidade do Minho, 2007. SACHET, Celestino. A literatura catarinense. Florianópolis: Lunardelli, 1985. Relatório para Verificação de Reconhecimento da FCF. v. I, 1957. Relatório para Verificação de Reconhecimento da FCF. v. II, 1957. Relatório para Verificação de Reconhecimento da FCF. v. IV, 1957. 15 SAVIANI, Dermeval. A Trajetória da Pedagogia Católica no Brasil: da hegemonia à renovação pela mediação da resistência ativa. V Congresso Luso-Brasileiro de História da Educação. Évora – PT, 2004. SITES Fonte: http://www.publico.pt/Cultura/agostinho-da-silva-em-debate-15-anos-apos-a-suamorte_1371814. Acesso em 10 de jun 2010. Fonte: http://www.iel.unicamp.br/cedae/Exposicoes/Expo_JSena/sousa.html Acesso em 10 de jun de 2010. Fonte: http://emprofoswaldocabral.blogspot.com/ Acesso em 10 de jun de 2010.