Quaresma Baptismo e converso ano A

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Reflexão com Catequistas da Vigararia de Gaia
Quaresma 2011
I.
Quaresma e redescoberta do Baptismo
1. Quarenta dias, que é bem preciso!
2. Um tempo com História...
3. A Quaresma, desde o Concílio Vaticano II
1. A preparação para o Baptismo ou a redescoberta da vida baptismal (A)
2. A conversão de vida, pela prática da penitência (C)
3. O aprofundamento do mistério pascal de Cristo. (B)
4. Repercorrer o caminho da iniciação cristã
4.1. Três encontros com Cristo, no caminho para a Páscoa
4.1. 1. Haurir a vida nova nas fontes da salvação! (Jo.4)
- A Samaritana: a pessoa humana, na sua situação de pecado e no seu desejo de
felicidade, na sua necessidade radical de salvação
- Cristo, fonte de água viva, que sacia a sede de felicidade
- 1º Escrutínio: Cara a cara, com Cristo, parta nos deixarmos converter pelo seu olhar
misericordioso, na certeza de que «águas passadas não movem moinhos»! É o
escrutínio da purificação e da conversão.
- O Baptismo, como conversão: de pecadora em apostola!
4.1.2. Viver como filhos da luz (Jo.9)
- O cego de nascença: a dimensão colectiva do pecado
- Cristo, Luz do mundo, que dissipa as minhas trevas
- 2º Escrutínio: olhos nos olhos, com Cristo: Deixar penetrar as obscuridades de todas
as cavidades do coração e da vida de cada um, com a força do olhar de Cristo e a graça
da sua Palavra: Eu sou a Luz do Mundo. (Jo.8,12).
- O Baptismo, sacramento da iluminação
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4.1.3. Morrer com Cristo para ressuscitar com Ele (Jo.11)
- Lázaro e a nossa condição mortal
- Cristo, fonte de vida e de ressurreição
- 3º escrutínio: Encontrar-se com Cristo, assumindo a condição mortal, frente à sua
condição gloriosa do ressuscitado, vencedor do pecado e dador de vida imortal.
- O Baptismo, como regeneração, «sepultados com Cristo e ressuscitados com Ele»
“O Baptismo, portanto, não é um rito do passado, mas o encontro com Cristo que informa
toda a existência do baptizado, doa-lhe a vida divina e chama-o a uma conversão sincera,
iniciada e apoiada pela Graça, que o leve a alcançar a estatura adulta de Cristo” (Bento XVI,
MQ2011, 1).
II.
Quaresma, tempo favorável para a conversão
1. O que é a conversão?
2. Os passos da conversão (Lc.15,11-32)
2.1. Cair em si e voltar para Deus
2.2. Ver tudo sob o olhar de Deus
2.3. Acreditar no evangelho da graça
2.4. Voltar-se para o outro
3. Uma questão de vida e de morte
4. Dimensões da conversão
4.1. Conversão moral: mudar de vida
4.2. Conversão religiosa: mudar de coração
4.3. Conversão mental: mudar a mente
4.4. Conversão mística: transformar a relação com Deus
5. O jejum, a esmola e a oração no caminho da conversão
5.1. O Jejum e a lógica da doação
5.2. A Esmola e a primazia de Deus
5.3. A Oração e a vivência do tempo
5.4. Tempo para rezar
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QUARESMA E REDESCOBERTA DO BAPTISMO
Quaresma: Eis uma palavra antiga e cada vez mais «velha», na linguagem dos mais novos, que
lhe desconhecem quase todo o significado. Longe vão os tempos em que se calavam, nos
campos, as canções, e se proibiam as festas e os bailes e os foguetes. A par da austeridade do
silêncio, da meditação, vinham doses largas de pregação, longas penitências e duras viassacras. Parece que a própria natureza se associava ao parto da Quaresma para a Páscoa, com o
sol recolhido a lembrar o «tempo santo», como lhe chamavam os mais antigos. E é claro, a
«esmola, a oração e o jejum» constituíam a tríade sagrada deste tempo. Mas tudo parece ter
mudado. Já nem os rádios ou as televisões, lá em casa, vêem alterado o volume do som, nem
sequer as sextas-feiras parecem dizer seja o que for a quem quer que seja. Mas é Quaresma
mesmo assim. Vamos, pois, ao encontro deste tempo e descobrir-lhe as motivações mais
profundas. E valia a pena voltar à pergunta: Que é isso de «Quaresma»?
1. Quarenta dias, que é bem preciso!
“Quaresma” é uma palavra que vem do latim «quadragesima dies», o quadragésimo dia antes
de Páscoa. É o tempo de preparação: «Por ele que se sobe ao monte santo da Páscoa»,
(Cerimonial dos Bispos, 249). Começa na Quarta-feira de Cinzas e acaba na Quinta-feira Santa
pela tarde, antes da Missa Vespertina da Ceia do Senhor.
Na hora de dar sentido a este período de iniciação e caminho para a Páscoa, influenciou
certamente o simbolismo bíblico do número quarenta: os episódios dos quarenta dias do
dilúvio antes da aliança com Noé, de Moisés e dos seus quarenta dias no monte, do Povo de
Israel e seus quarenta anos do deserto, de Elias caminhando quarenta dias até ao monte do
encontro com Deus, e sobretudo dos quarenta dias de Jesus no deserto, antes de começar a
sua missão messiânica, têm de comum que este espaço de tempo serve de prova, purificação e
preparação de um acontecimento importante e salvador. «A Igreja une-se todos os anos,
durante os Quarenta dias de Quaresma, no mistério de Jesus no deserto» (Catecismo da Igreja
Católica, 540).
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2. Um tempo com História...
A Quaresma organizou-se a partir do séc. IV. A sua história anterior não está muito clara.
Parece que a causa original foi o jejum pascal de dois dias, a Sexta e Sábado antes do Domingo
da Ressurreição, espaço que, pouco a pouco, se alargou para uma semana, depois a três, e
segundo as diversas regiões, sobretudo as do Oriente, como o Egipto, até às seis semanas ou
quarenta dias. Em Roma já estava constituída a Quaresma entre os anos de 350 e 380.
A sua história longa e desigual no tempo e no espaço, denuncia duas vertentes muito claras:
1. Para os candidatos aos sacramentos da iniciação cristã (Baptismo, Confirmação e Eucaristia),
a celebrar na noite de Páscoa, este era o tempo de retiro, de purificação, de «escrutínio», de
avaliação, de oração, de indagação e esconjuro, em ordem à celebração. Neste contexto a
Quaresma é a última etapa do catecumenado.
2. Para os já baptizados, a Quaresma era um tempo de «voltar à vida nova do Baptismo» pela
Penitência, pela conversão de Vida ao Evangelho. O grupo dos «penitentes» aparecia diante da
comunidade, sinalizado, coberto de «cinza», disposto a mudar de vida e a cumprir a
«penitência» para depois ser reintegrado na vida da comunidade. Aqui se percebe bem a
Penitência, como um “segundo Baptismo”. O cristão, uma vez purificado nas águas do
Baptismo, tendo pecado, deve purificar-se agora, nas lágrimas da penitência (conversão,
esforço, mudança).
3. Restaurada no Concílio Vaticano II, a Quaresma actual movimenta-se em três direcções:
1. A preparação para o Baptismo ou a redescoberta da vida baptismal. Daí, os
evangelhos alusivos à simbologia baptismal, com predominância da água (Samaritana),
da luz (cego) , da Vida (Lázaro)... Esta é a perspectiva dominante do Ano A, que é
precisamente a deste ciclo nesta Quaresma de 2011
2. A conversão de vida, pela prática da penitência. Eis, porque se destacam, nos
evangelhos, as temáticas da conversão, do perdão e da reconciliação, nas parábolas da
figueira, do filho pródigo e da mulher adúltera (Ano C);
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3. O aprofundamento do mistério pascal de Cristo. Tema desenvolvido nos
evangelhos que referem o Templo destruído e reedificado; a morte de Cristo como
elevação, e o grão de trigo lançado à terra para frutificar (Ano B).
4. Repercorrer o caminho da iniciação cristã
Creio que não devíamos desviar-nos, desta tríplice dimensão da quaresma: baptismal,
penitencial e cristológica ou pascal. E, neste Ciclo A (2011), aproveitar a Liturgia para
repercorrer o caminho da iniciação cristã.
Significa, antes de mais, viver a Quaresma, como uma espécie de regresso ao Baptismo. De
certo modo, a Quaresma devia fazer-nos redescobrir as energias do Baptismo, sufocadas pela
rotina, pelo cansaço, pela desistência, pela lógica dos mínimos. Seria assim uma espécie de
despoluição interior, de modo a reviver a frescura da água do Baptismo, a recobrar a
transparência da luz pascal, a provocar a ressuscitação da nossa vida, «escondida com Cristo
em Deus». Não se trataria, portanto, de um tempo de “mortificação”, mas de vivificação. Não
seria um tempo de «desobriga» mas de necessidade de voltar ao princípio, de regressar à
fonte, de ir ao deserto, à procura da água, do primeiro amor... Diz-nos o Papa na sua
Mensagem para a Quaresma de 2011:
“Um vínculo particular liga o Baptismo com a Quaresma como momento favorável
para experimentar a Graça que salva. Os Padres do Concílio Vaticano II convidaram
todos os Pastores da Igreja a utilizar «mais abundantemente os elementos baptismais
próprios da liturgia quaresmal» (SC109). De facto, desde sempre a Igreja associa a
Vigília Pascal à celebração do Baptismo: neste Sacramento realiza-se aquele grande
mistério pelo qual o homem morre para o pecado, é tornado participante da vida nova
em Cristo Ressuscitado e recebe o mesmo Espírito de Deus que ressuscitou Jesus dos
mortos (cf. Rm 8, 11). Este dom gratuito deve ser reavivado sempre em cada um de
nós e a Quaresma oferece-nos um percurso análogo ao catecumenato, que para os
cristãos da Igreja antiga, assim como também para os catecúmenos de hoje, é uma
escola insubstituível de fé e de vida cristã: deveras eles vivem o Baptismo como um
acto decisivo para toda a sua existência” (Bento XVI, MQ2011, 1).
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4.1. Três encontros com Cristo, no caminho para a Páscoa
E isto não é um exercício «teórico». Concretiza-se no acolhimento da Palavra de Deus. Depois
do evangelho das Tentações (no princípio do combate») e da Transfiguração (a antecipar a
vitória) temos, neste ciclo litúrgico (Ano A), três encontros com Cristo, no caminho para a
Páscoa. Podem bem servir-nos de guias, para este encontro, a Samaritana, o cego e Lázaro,
amigo de
Jesus (seguimos aqui J. CASTELLANO, Tres encuentros com Cristo en el caminho hacia la pascua, in Dossiers CPL 45,
24-30 ou STELLA MARIS WIAGGIO, Celebramos a Quaresma e a Páscoa, Paulus, Apelação, 2002, 43-52).
“Para empreender seriamente o caminho rumo à Páscoa e nos prepararmos para
celebrar a Ressurreição do Senhor – a festa mais jubilosa e solene de todo o Ano
litúrgico – o que pode haver de mais adequado do que deixar-nos conduzir pela
Palavra de Deus”? (Bento XVI, MQ2011,2).
O Papa convida-nos a repercorrer as etapas do caminho da iniciação cristã, a partir dos
evangelhos dominicais, tendo em vista novos e decisivos passos no seguimento de Cristo e na
doação total a Ele. Gostaria de destacar três deles (3º, 4º, 5º):
4.1. 1. Haurir a vida nova nas fontes da salvação! (Jo.4)
Na pele da Samaritana, é preciso darmo-nos conta da rotina da nossa existência e da
monotonia da nossa vida, enquanto, nestas idas e vindas, progressos e retrocessos, não
«quebrarmos a asa do cântaro» desse pobre coração desabitado, onde mergulham os nossos
desejos insatisfeitos, perdidos e confusos, de felicidade, de amor e de salvação!
A samaritana representa a pessoa humana, na sua situação de pecado e no seu desejo de
felicidade, na sua necessidade radical de salvação. Todavia ela não tem em si própria a
salvação, nem o remédio para a sua sede secreta de felicidade e de paz e deve abrir-se ao dom
de Deus.
A samaritana desafia-nos a cavar na amargura existencial da nossa vida, essa «fonte de água
viva». No mais íntimo da felicidade passageira, está um desejo de bem-aventurança eterna.
Cristo vem ao nosso encontro. Purifica as águas turvas da nossa História e Ele mesmo se torna,
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em nós, «água viva». Ele é o dom de Deus. É a porta. É o caminho. É a vida, é tudo. Ele é o dom
do Pai, o manancial de água viva.
Diz-nos o Papa:
“O pedido de Jesus à Samaritana: «Dá-Me de beber» (Jo 4, 7) exprime a paixão de
Deus por todos os homens e quer suscitar no nosso coração o desejo do dom da «água
a jorrar para a vida eterna» (v. 14): é o dom do espírito Santo, que faz dos cristãos
«verdadeiros adoradores» capazes de rezar ao Pai «em espírito e verdade» (v. 23). Só
esta água pode extinguir a nossa sede do bem, da verdade e da beleza! Só esta água,
que nos foi doada pelo Filho, irriga os desertos da alma inquieta e insatisfeita,
«enquanto não repousar em Deus», segundo as célebres palavras de Santo Agostinho”
(Bento XVI, MQ2011, n.2).
O simbolismo baptismal do episódio é eloquente: a cena decorre em pleno deserto, num dia
de calor, e à beira de um poço de água. Aqui, no encontro de Jesus com a Samaritana,
podemos perceber o baptismo, como conversão, metanóia: conversão a Cristo e conversão
que Cristo suscita com a sua Palavra, o seu olhar, a sua acção interior em nós. A Samaritana é a
melhor representação dessa cabal conversão: de pecadora é transformada em Apóstola, como
qualquer cristão que se deixa “perscrutar” pelo olhar “transformador de Jesus”.
Este seria o primeiro «escrutínio» da Quaresma: dar de caras com Cristo, deixarmo-nos
converter pelo seu olhar misericordioso, na certeza de que «águas passadas não movem
moinhos»! É o escrutínio da purificação e da conversão. Escrutínio não significa interrogatório,
mas uma oração preparatória para a recepção do Espírito do Baptismo.
Para encontrar o fio de água baptismal, é preciso cavar mais fundo no poço das nossas
misérias. E não o atulhar com o supérfluo das nossas vidas. Nesse sentido, o próprio jejum, ao
despojar do excesso e ao provocar a necessidade, bem pode ser uma medida de higiene
interior, que prepara o espírito e lava a alma.
“Jesus gosta da água. Fez-se baptizar por João Baptista, no Rio Jordão, fez o seu
primeiro milagre em Caná, segundo João, mudando água em vinho; escolhe os seus
apóstolos entre os pescadores, enquanto até então o trabalho sagrado era simbolizado
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pelo pastor. Realiza o milagre de caminhar sobre a água. Anuncia à samaritana,
encontrada junto ao poço, que não terá mais sede quem bebe da água que ele dá.
Jesus ama a água e certamente aprecia o versículo de Isaías que convida: «Ó vós que
tendes sede, vinde à água, e a quem falta dinheiro: vinde, bebei e comei sem dinheiro»
(Is 55,1). É aquela a água do seu anúncio, água para todos, desde sempre abençoada
numa terra ressequida. Jesus ama os versículos de Isaías, do mesmo capítulo 55,
quando Deus afirma que as suas palavras são como chuva e neve, que caem e não
voltam atrás. «Assim será a palavra que saiu da minha boca, não voltará para mim
vazia» (Is 55, 11). As águas, como as palavras, caem e em grande parte se perdem no
mar e na terra. Jesus quer que as suas palavras sejam como águas correntes, ditas e
pensadas para que se espalhem. E sabe-se lá quantas se perderam, escutadas e
esquecidas. Não quis escrever nada, não quis secretários que tomassem apontamentos.
Quem podia, retinha na mente. Não desejava fechar a água numa gaiola. Jesus sabia
que as palavras ditas valem mais do que as escritas, como a música executada, mais do
que a partitura que a fixa. Usava a sua voz impetuosamente como ribeiros inesperados
no deserto do Negev, segundo uma das imagens vivas de Isaías, o maior poeta de Deus.
Através dos evangelhos lemos salpicos de um discurso que foi torrencial. Uma
providência faz assemelhar estes escritos a cisternas de água da chuva, que retêm ao
menos alguma coisa, segundo as suas capacidades. Ignoramos o timbre da sua voz e
não existe sequer o hebraico ou o aramaico, as suas línguas. Contudo, bastaram os
evangelhos para não esquecer as palavras de quem não quis escrever nem deixar
escrito.
Quem não tem fé não mata a sede. Mas quem tem a graça de a ter está ligado a uma
tarefa enorme: dar desta água bebida um testemunho ao longo de toda a sua vida.
Assim fazendo preenche as páginas que os evangelhos tiveram de deixar vazias.
Assim fazendo traz à superfície a água que caiu fora daquelas cisternas” (ERRI DE
LUCA, O caroço de azeitona, Ed. Assírio & Alvim, Lisboa 2009, 65-66).
4.1.2. Viver como filhos da luz (Jo.9)
O cego de nascença é um desvalido total, sem presente e sem futuro. Um mendigo, sem
esperança. Na história do cego de nascença, lavado na piscina de Siloé, vem ao de cima a
dimensão colectiva do pecado: da família, dos vizinhos, do pecado do mundo, dessa cegueira,
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que nos torna incapazes de descortinar os sinais de Deus e de perceber a abundância da graça,
nas desgraças desta vida.
O texto acentua:
* a dimensão colectiva do pecado (família, vizinhos, fariseus) e do «pecado do mundo»;
* o pecado colectivo como fruto de pecados individuais;
* o mistério do mal encarnado no cego que não encontra resposta nos ouvintes;
* a cegueira colectiva que não deixa ver os sinais de Deus;
* a ignorância popular (dos que não vêem) e a ignorância intelectual (dos que não querem
ver):
a) Frente ao milagre, que era por demais evidente, vem ao de cima a cegueira popular. Que
é uma espécie de ignorância inocente, alimentada por uma má informação, sustentada
pelo medo opressor da classe dirigente... manifestamente um saber que não passa do
dito e ouvido. Como não se vê bem, procura-se ver aquilo que se quer! É a cegueira dos
vizinhos que não são capazes de ver que algo de novo possa ter acontecido. É a cegueira
de quem pergunta tudo, mais pela curiosidade de saber do que pelo desejo de conhecer
a verdade. Cegueira popular, de que é vítima este cego, figura do povo condenado a não
sair da «cepa torta», a permanecer nas trevas da ignorância e do desprezo.
b) Mas há outra cegueira. Essa mais refinada. A dos fariseus. Eu diria, uma cegueira
intelectual. Estes perguntam para chegarem sempre às conclusões já sabidas. Interrogam
para confirmar as suas posições e não para as discutir. Viram o bico ao prego, para fazer
preto do branco e manter o seu lugar. Estes não querem ver, nem deixar ver. Os olhos
abertos dos outros representam uma ameaça para eles. Daí o interrogatório inquisidor,
as perguntas inúteis. Atingidos pela luz, ficam eles cegos, para não ver o que não gostam.
E cegam os outros para não deixar vir à luz nem os erros próprios nem as virtudes alheias.
Duas cegueiras na história do cego.
* só o encontro com Cristo liberta da cegueira e do pecado, só Cristo oferece chave de
compreensão para o mistério do mal, só aderindo à luz de Cristo o homem se torna «filho da
Luz» e neutraliza o efeito do pecado do mundo. A iniciativa arranca de Cristo, que viu, ao
passar, um homem, cego de nascença. O cego lava-se em Cristo e ao ser baptizado em Cristo é
iluminado.
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Aqui percebe-se o baptismo como sacramento da iluminação, antigo nome cristão que evoca
a iniciação aos mistérios, a luz que irrompe das trevas, a progressiva ilustração da mente e do
coração, por meio da luz da palavra e da fé, que fazem do cristão um iluminado por Cristo. O
cego progressivamente iluminado e lavado na piscina de Siloé, é imagem da iluminação
baptismal, que afugenta as trevas e abre à luz da verdade, deixando cair as escamas dos olhos,
como no caso de Paulo.
Trata-se agora de nos propor um segundo escrutínio, um segundo encontro com Cristo, que,
com a sua Luz, penetra as obscuridades do nosso coração. Há que deixar penetrar as
obscuridades de todas as cavidades do coração e da vida de cada um, com a força do olhar de
Cristo e a graça da sua Palavra: Eu sou a Luz do Mundo. (Jo.8,12).
Olhos nos olhos, diante de Jesus e da sua Luz, é toda a nossa vida, sem aparência, sem engano,
e sem segredos (Ef.5, 8), que está sob «o juízo» (Jo.9,39) ao mesmo tempo, tremendo e
fascinante, exigente e misericordioso, do Filho de Deus. Diante dos seus olhos, “que são como
uma chama de fogo” (Ap.3,18), são postas a descoberto todas as coisas (Ef.5,13), que há em
nós: as obras das trevas e as obras da Luz!
Cada qual «examine-se cada qual a si próprio» (I Cor.11,28)! Não faltemos a este confronto
dos nossos pensamentos, palavras, obras e omissões, com a Luz do Evangelho de Jesus.
Comecemos por fazer diariamente um exame de consciência, para ver com transparência as
nossas misérias. Isso libertar-nos-á da presunção de quem se julga impecável. Isso manternos-á sempre na verdade, diante de Deus. Isso levar-nos-á a confessar e a suplicar a
misericórdia do Senhor. Assim veremos melhor o caminho que nos espera, e iremos com
alegria ao sacramento da Reconciliação!
Só o encontro com Cristo oferece a chave de leitura das nossas vidas incompreendidas e
incompletas. É altura de contemplar a vida na Luz da Palavra, de ver e rever a nossa História na
luz do Evangelho, de radiografar o coração na luz imensa de Cristo.
Diz-nos o Papa:
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“O Evangelho interpela cada um de nós: «Tu crês no Filho do Homem?». «Creio, Senhor» (Jo 9,
35.38), afirma com alegria o cego de nascença, fazendo-se voz de todos os crentes. O milagre
da cura é o sinal que Cristo, juntamente com a vista, quer abrir o nosso olhar interior, para
que a nossa fé se torne cada vez mais profunda e possamos reconhecer n’Ele o nosso único
Salvador. Ele ilumina todas as obscuridades da vida e leva o homem a viver como «filho da
luz»”(Bento XVI, MQ2011, n.2).
Nesse sentido a Reconciliação já nem seria a «desobriga», mas esse momento de Luz, e de
verdade, em que toda a minha história é vista e revista, sob a luz da graça e da misericórdia de
Deus.
4.1.3. Morrer com Cristo para ressuscitar com Ele (Jo.11)
Lázaro, que jaz morto no sepulcro, há quatro dias, é o personagem mais trágico desta trilogia.
É o amigo de Jesus. Mas é um comum mortal. Em Lázaro, como nos outros personagens, está
retratada a condição mortal da humanidade e a necessidade absoluta de salvação, que Cristo
nos traz, com a sua palavra e a sua pessoa. Entre a figura de Lázaro, o homem condenado à
morte, e a de Marta, que a protesta, está Cristo que chora, partilhando a ânsia de Vida imortal,
que se aloja no coração do Homem, há tanto tempo à procura uma saída.
Aqui percebe-se o carácter radical desta salvação que Cristo nos oferece: salvação que atinge o
corpo e a alma, a vida e a morte, a pessoa na inteireza do seu ser e da sua história. Aqui se
percebe a salvação, como vida que vence a morte.
A ressurreição de Lázaro é um prenúncio da própria ressurreição de Jesus e uma profecia da
nossa ressurreição futura. Aqui Cristo revela-se como Ressurreição e Vida, mas uma vida, ainda
assim e sempre, nascida da morte, fruto amadurecido de semente lançada à terra. Temos a
certeza de que a nossa vida vale e não é enterrada numa qualquer vala comum. Diz-nos o
Papa:
“Quando, no quinto domingo, nos é proclamada a ressurreição de Lázaro, somos
postos diante do último mistério da nossa existência: «Eu sou a ressurreição e a vida...
Crês tu isto?» (Jo 11, 25-26). Para a comunidade cristã é o momento de depor com
sinceridade, juntamente com Marta, toda a esperança em Jesus de Nazaré: «Sim,
Senhor, creio que Tu és o Cristo, o Filho de Deus, que havia de vir ao mundo» (v. 27). A
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comunhão com Cristo nesta vida prepara-nos para superar o limite da morte, para
viver sem fim n’Ele. A fé na ressurreição dos mortos e a esperança da vida eterna
abrem o nosso olhar para o sentido derradeiro da nossa existência: Deus criou o
homem para a ressurreição e para a vida, e esta verdade doa a dimensão autêntica e
definitiva à história dos homens, à sua existência pessoal e ao seu viver social, à cultura,
à política, à economia. Privado da luz da fé todo o universo acaba por se fechar num
sepulcro sem futuro, sem esperança” (Bento XVI, MQ2011, n.2).
À luz deste evangelho, o Baptismo é regeneração, mistério de morte e vida. O cristão desce às
profundidades do sepulcro com Cristo e deixa nele o homem velho. Atira para trás o medo da
morte e aceita esse outro morrer, ressuscitando.
Pelo Baptismo, esta força pascal atingiu-nos certeira e «vitalmente». Enxertados em Cristo,
fomos sepultados com Ele na morte, para ressuscitar para uma vida nova. É esse o dinamismo
de conversão permanente no nosso caminho. É este o terceiro escrutínio: Encontrar-se com
Cristo, assumindo a condição mortal, frente à sua condição gloriosa do ressuscitado, vencedor
do pecado e dador de vida imortal. E pedir a graça de sair do túmulo para a Vida.
“De facto, desde sempre a Igreja associa a Vigília Pascal à celebração do Baptismo:
neste Sacramento realiza-se aquele grande mistério pelo qual o homem morre para o
pecado, é tornado participante da vida nova em Cristo Ressuscitado e recebe o mesmo
Espírito de Deus que ressuscitou Jesus dos mortos (cf. Rm 8, 11). Este dom gratuito
deve ser reavivado sempre em cada um de nós” (Bento XVI, MQ2011, 1).
“O Baptismo, portanto, não é um rito do passado, mas o encontro com Cristo que informa
toda a existência do baptizado, doa-lhe a vida divina e chama-o a uma conversão sincera,
iniciada e apoiada pela Graça, que o leve a alcançar a estatura adulta de Cristo” (Bento XVI,
MQ2011, 1) .
Creio que assim podemos realizar o anseio da Igreja para este tempo, bem expresso na Oração
colecta do primeiro domingo da Quaresma: «Concedei-nos, Deus omnipotente, que, pela
observância quaresmal, alcancemos maior compreensão do mistério de Cristo e a nossa vida
seja um digno testemunho».
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II. QUARESMA, TEMPO FAVORÁVEL À CONVERSÃO
“O Baptismo, portanto, não é um rito do passado, mas o encontro com Cristo que
informa toda a existência do baptizado, doa-lhe a vida divina e chama-o a uma
conversão sincera, iniciada e apoiada pela Graça, que o leve a alcançar a estatura
adulta de Cristo” (Bento XVI, Mensagem para a Quaresma 2011,1).
1. O que é a conversão?
Conversão significa simplesmente «mudança de direcção, de rota, mudança de mentalidade,
de horizontes. Do ponto de vista da fé, a conversão é um acontecimento fundamental para o
ser humano. Cristão é aquele que se converte dos ídolos a Cristo Jesus, revelador do Pai, e vive
a sua existência de um modo novo. Na realidade, não há uma experiência de conversão. Há
tantas, quantos os convertidos. Porque, para cada um, Deus segue um caminho «virgem». E o
nosso caminho para ele é um sulco originalíssimo e pessoal. Além do mais, cada pessoa, passa
por sucessivas conversões, de acordo com as diferentes situações da sua vida. Mas, por mais
variadas que sejam as conversões, todas elas têm rasgos comuns. A eles me vou referir tendo
como pano de fundo a parábola do filho pródigo
(Lc.15,11-32),
cuja leitura vos recomendo
vivamente.
“A palavra conversão refere-se a um facto designado pela bíblia, com dois termos gregos:
“epistrofé” (= voltar, mudar de rumo) e “metanóia” (mudar a mente, o coração); (em hebraico:
teshuvá = regresso)”
(cf. JUAN MARTÍN VELASCO, Orar para vivir, Ed. PPC, Madrid, 2008, 237-242).
Mudança de
rumo de uma vida centrada sobre si e sobre o pecado, para se tornar uma vida aberta a Deus e
ao influxo da sua graça. “Nela o sujeito opera uma transposição radical, não primeiramente
dos seus hábitos ou comportamentos, mas para lá disso, das finalidades últimas que orientam
o conjunto da sua vida e das razões primeiras que a animam e justificam” (Ib.55).
No Novo testamento, a conversão apresenta-se com estas três características: é interior; é
sempre actual, supondo um caminho que nunca acaba e é discreta, não é clamorosa nem
espectacular, porque se vive no silêncio da quotidianidade.
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2. Os passos da conversão
2.1. O primeiro passo, no caminho de mudança, é um momento de reflexão. “Caindo em si,
disse” (Lc.15,17). A ocasião para este “cair em si” pode ser diversa, de pessoa para pessoa:
uma doença, para Francisco de Assis, ou uma convalescença, para Santo Inácio de Loyola. Por
isso, a conversão, em tempo quaresmal, implica ir ao deserto, despojar-se do supérfluo, para
que Deus nos fale ao coração (Os.2,16).
Já no A.T., “Deus leva os hebreus para o deserto porque aquele é o lugar do encontro. Não os
chama numa praça, mas no isolamento inóspito do vento e do pó. No deserto: é este o lugar
físico da oração. O crente cria o vazio à sua volta e desta forma faz acontecer o encontro. Leio
no versículo 54 do Salmo 78 uma dupla deslocação: a do povo, que segue o grande caminho do
deserto e a de Deus, que se desloca também ele para andar. Renunciou a estar em todos os
sítios, para dar lugar á criatura e à criação, e como tal, ele deve alcançar a margem para
encontrar os seus. O silêncio de Deus é a sua escuta; quem reza alcança-O” (cf. Erri de Luca, Caroço de
azeitona,Ed. Assírio & Alvim, Lisboa 2009, 7-8).
Curiosamente, a palavra “deserto” (“midbar”), na língua hebraica, tanto pode significar “lugar
solitário”, como traduzir esta afirmação: “Eu falo”. Nesse sentido, o deserto é, ao mesmo
tempo, o lugar do silêncio e é o lugar da Palavra, que esse silêncio nos guarda! “Para
empreender seriamente o caminho rumo à Páscoa e nos prepararmos para celebrar a
Ressurreição do Senhor, o que pode haver de mais adequado do que deixar-nos conduzir pela
Palavra de Deus” (Mensagem do Papa para a Quaresma, 2011, n.2).
Por isso, em primeiro lugar, a conversão é voltar para Deus. É aproximar-se mais dEle, escutar
atenta e humildemente o Seu apelo, «descalçar as sandálias» (Ex.3,5), contemplá-lo no seu
amor inesgotável (Ex.3,3). E isto é tanto para os que estão «de fora», distraídos pelo ruído da
vida, indiferentes aos apelos de Deus, como para os que estão dentro, porventura convencidos
silenciosamente da sua justiça e indiferentes aos gemidos dos irmãos. O facto de estarmos
aqui... «debaixo da mesma nuvem» (I Cor.10,1), ao abrigo do mesmo tecto, fiéis a uma prática
religiosa... não nos garante que estejamos, de todo, a agradar a Deus... «Pois – como diz São
Paulo, «os nossos antepassados estiveram todos debaixo da mesma nuvem... e a maioria deles
não agradou a Deus» ( I Cor.10,3.5).
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Se a conversão dos que estão lá fora, significará, entre outras coisas, «passar cá para dentro»,
a conversão dos que estão cá dentro, é então não estar aqui como se estivessem lá fora...
Este “cair em si” do filho mais novo da parábola, permite-lhe uma nova visão da vida, num
novo olhar: não o olhar condenatório dos acusadores da mulher adúltera, não um olhar
desesperado sobre si próprio como Judas, mas o olhar de Deus, cuja presença abre a situação
de pecado ao horizonte do perdão possível. A partir do encontro com Deus, tudo o mais se
torna relativo, acessório.
2.2. Entramos no segundo passo: Mas o que tem de se passar na consciência e no coração do
Filho, para que se atreva a voltar como tal? Terá que operar-se uma mudança radical, que
designa a palavra «metanóia». Uma mudança, que não afecta primeiramente os
comportamentos, mas a raiz donde surgem, a mente e o coração, e que dá ao filho uma nova
identidade. Esta mudança não é obra do filho pródigo. Ele regressa como «trabalhador» ou
«servo», (Lc.15,19) para ser recebido como «filho» (Lc.15,24). A conversão é, assim, um novo
nascimento (Jo.3,3) e este depende de Deus Pai. O perdão excessivo do Pai devolve a
dignidade perdida do filho, que dele se separou. Todavia, embora seja obra do «Pai», esta
conversão implica a aceitação do próprio «filho mais novo», que não regressa «à força», mas
entra «na festa». É Deus quem nos converte. “A conversão não é uma realização do próprio
homem e o homem não é o arquitecto da sua própria vida. A conversão consiste
essencialmente nesta decisão o homem deixa de ser o seu próprio criador, mas aceita a sua
dependência do verdadeiro Criador, do amor criativo. Renuncia à auto-realização, pela qual o
homem procura criar-se a si mesmo, numa vida em exclusivo para si e por si” (JOSEPH RATZINGER, O
caminho pascal, Ed. Lucerna, Cascais 2006, 20).
E passa a viver uma vida por Deus e para os outros.
2.3. Conversão implica acreditar na bondade de Deus, na bondade do seu perdão, implica,
enfim, acreditar no «evangelho», na «boa nova» do seu amor por nós. Este seria outro passo,
que se pode resumir na resposta a este apelo de Jesus: “Convertei-vos e acreditai no
evangelho” (Mc.1,15), como ouvimos no rito da imposição das cinzas, com que se inaugura a
Quaresma. Daí que a experiência da conversão resulte da experiência de ser amado e
perdoado por Deus, de ser alcançado pela sua misericórdia, como dirá São Paulo. Tal
conversão redunda num processo permanente, porque não conhecemos «de todo» e de uma
só vez este amor imenso de Deus por nós.
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2.4. Por último, a esta conversão a Deus acabará por se tornar conversão ao próximo. Quando
olhamos para este modo de ser de Deus, clemente e compassivo, para a sua forma de agir,
paciente e cheia de bondade, não nos sentimos tão longe desse ideal, no modo como vemos
Deus e os outros? A loucura com que Deus se perde, pelo que não presta aos olhos do mundo,
os cuidados que Ele tem pelos mais pecadores, a sua predilecção pelos mais fracos, a sua
paciência por nos procurar até encontrar (Lc.15), não me deveriam converter a amar estas
pessoas, a amar os marginais, os mais difíceis, os terríveis, a amá-los mais e melhor, a amá-los
antes mesmo do bem que me proponho fazer-lhes? E se uma pessoa me é difícil de encarar e
de conviver, porque espero apenas a sua conversão, se ainda não fiz nada para me adaptar? E,
se no fundo, ainda não a cheguei a perdoar?!
3. Uma questão de vida de morte
Portanto, isto da “conversão” não é uma conversa de salão! É mesmo uma questão de vida ou
de morte. «Estava morto e voltou à vida». «E vós se não vos converterdes, morrereis todos do
mesmo modo» (Lc.13,3.5)! É a resposta clara de Jesus, a quem se julga “são e salvo”, e não
sabe que o seguro morreu de velho! Jesus desarma os seus interlocutores, de todas essas
falsas seguranças, com um sério aviso de “perigo de morte” dirigido a quem julga estar “de
pedra e cal”. «E vós se não vos converterdes, morrereis todos do mesmo modo!» (Lc.13,3.5).
É, pois, urgente a conversão, para encontrar a vida, a qualidade de vida, a vida em abundância
(Jo.10,10), a vida de Deus. E a verdade, é que “Deus não quer a morte do pecador, mas antes
que ele se converta e viva” (Ez.33,11). E por isso, o momento presente, este e não outro, hoje e
não amanhã, é sempre “o tempo favorável” (II Cor.6,2), que Deus nos concede, para arrepiar
caminho, voltar para Ele, de todo o coração, e encontrar a vida.
Receio bem que, no íntimo dos nossos corações, também nós nos ponhamos de fora, como se
estivéssemos livres deste «perigo» de morte, pensando assim:
«Bom, isto de conversão, não é para mim. Talvez para o Joaquim, que nem à Missa vem». Ou
então, como a idade já pesa, outro poderá dizer: «tenho as minhas obrigações em dia. E não
faço mal a ninguém. Isto da conversão é para o meu irmão, que até se recusa a falar comigo».
A maioria, confortavelmente sentada e segura, dirá: «Eu não mato, nem roubo. E a não ser
umas mentiritas, que não dão prejuízo a ninguém, não vejo que mais possa fazer. Tenho uma
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pessoa que me fez mal, mas eu deito tudo para trás das costas e Deus que lhe perdoe, que eu
também lhe perdoo. Sinceramente não lhe quero mal nenhum»…
4. Dimensões da conversão
Com estas e outras, o que nos acontece é estarmos realmente mortos e a apodrecer e a
corrermos o risco de só acordarmos quando morrer. Neste caso, a primeira conversão é a de
nos convertermos à necessidade de conversão. Porque não há ninguém, que esteja fora do
alcance deste apelo: «Convertei-vos» (Mc.1,14-15). E que significa, para mim esta primeira
palavra da pregação de Jesus? De que tenho eu de me converter? A que me devo converter? A
quem me converterei? Não posso dar uma resposta exacta e definida para cada um. Mas
posso apontar-vos algumas dimensões desta conversão
(seguimos aqui CARLO MARIA MARTINI, Oración y
conversión, Ed. Verbo Divino, Navarra 1994, 245-257):
1) A mais básica conversão ética ou moral é a do meu “mau proceder” (Is.1, 16). Se tenho
um pecado, um vício, um defeito, um mau costume, uma falta aqui ou um excesso acolá,
«converter-me» é «evitar o mal e de procurar o bem» (Am.5,14-15). Garantindo assim aos
outros o mínimo, que justamente podem aspirar e esperar de mim. A conversão ética tem
a ver com a decisão de não servir ídolos antigos ou pagãos ou de ídolos permanentes
como o dinheiro, o prazer, o sucesso ou o poder. A conversão moral é a subordinação do
interesse imediato à justiça. Esta conversão é um dom, não é unicamente fruto do meu
esforço, é dom de Deus, é o Espírito Santo em nós, é Cristo vivendo em nós. A nossa
decisão consiste em aceitar submeter-se à direcção do Espírito Santo, vivendo uma vida
segundo o Espírito.
Veja-se o caso de Santo Inácio de Loyola. Acreditava em Deus, tinha sido educado na fé
cristã, dedicava-se a certas práticas religiosas, mas apreciava as vaidades deste mundo e a
sua vida era desordenada. Ferido numa perna, pôs-se a ler uma Vida de Cristo e algumas
biografias de santos, com quem se viu obrigado a comparar-se. Percebeu então que para
ser digno do amor de Jesus, que morreu para nos salvar, tinha de mudar o estilo da sua
vida e comportamento. Sua conversão é uma conversão moral, inclusive nos aspectos
sociais, porque desemboca no serviço à comunidade eclesial.
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Mas se alguém aqui, porventura, entender que não tem coisas de maior, de que se
converter, deverá passar então às coisas do pormenor. “Sede perfeitos, como o vosso Pai
celeste é perfeito» (Mt.5,48). Há que procurar a perfeição, nas mais pequeninas coisas, no
trato com os outros, no acabamento e remate do meu trabalho, para evoluir sempre e
cada vez mais no seu modo de ser, de dizer, de dar, de fazer. Trata-se aqui não tanto em
passar do «mau» ao «bom», mas do «bom» ao «melhor». Trata-se de ser “mais” e não o
“maior”. E quem algum dia poderá dizer, com verdade, que já atingiu o máximo, que já
chegou, seja no que for, à perfeição? O que falta até aí, é o caminho da conversão.
2) Viro-me agora, em directo, para nós, que aqui estamos, os chamados “praticantes”, para
falar da nossa conversão «religiosa». É a decisão de colocar Deus acima de tudo. Não
significa tornar-se subitamente santo, mas mostra a decisão radical de colocar Deus acima
de tudo e de submeter-se a ele. Trata-se de uma mudança de horizontes fundamental e
importantíssima. A minha vida é dominada pelo primado de Deus e dele dependo no bem
e no mal, na doença e na morte.
Santo Agostinho mostra-nos claramente o passo do não conhecimento do Deus da Bíblia
ao conhecimento do Deus de Jesus Cristo. Ele estava muito confuso a respeito da ideia de
Deus, mas graças ao ler a Carta aos Romanos ele começa a dirigir ao Senhor preces e
súplicas e as suas intenções e desejos são outros. Considera vãs as suas outras
experiências e deseja a sabedoria imortal.
O homem verdadeiramente convertido, religiosa e moralmente, é o homem das bemaventuranças, as oito de Mateus, mais a bem-aventurança da escuta e da prática da
Palavra, e ainda a bem-aventurança da fé e a aquela própria de quem é mais feliz a dar
mais do que a receber (Act.20,35).
3) Mas a mais difícil conversão, queridos amigos, é aquela que tem de se operar na mente e
no coração (conversão mental). Bom exemplo desta conversão é Newman. Através de
uma reflexão séria e profunda, meditando sobre o modo como a Igreja superou o
arianismo e o donatismo, intuiu o princípio da unidade e da centralidade de Roma e
converteu-se à Igreja Católica. Trata-se de uma conversão intelectual, afecta de facto a
inteligência que, depois de ter divagado através de opiniões e pontos de vista, encontra
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finalmente um princípio pelo qual se decide actuar, não sob influência dos outros, mas por
uma iluminação clara e profunda. Em vez de se contentar com o pensamento dominante,
ele aprende a pensar pela própria cabeça, assumindo a razoabilidade da fé, graças a um
caminho laborioso, que o capacita para iluminar os outros.
“Permiti-me começar por recordar que Newman, segundo a sua narração, repercorreu o
caminho de toda a sua vida à luz de uma poderosa experiência de conversão, que teve
quando era jovem. Foi uma experiência imediata da verdade da Palavra de Deus, da
realidade objectiva da revelação cristã, tal como fora transmitida na Igreja. Esta
experiência religiosa e ao mesmo tempo intelectual, teria inspirado a sua vocação para ser
ministro do Evangelho, o seu discernimento da fonte de ensinamento respeitável na Igreja
de Deus e o seu zelo pela renovação da vida eclesial na fidelidade à tradição apostólica. No
final da vida, Newman descreveu o seu trabalho como uma luta contra a tendência
crescente a considerar a religião como um facto meramente privado e subjectivo, uma
questão de opinião pessoal. Eis a primeira lição que podemos aprender da sua vida: nos
nossos dias, quando um relativismo intelectual e moral ameaça enfraquecer os próprios
fundamentos da nossa sociedade, Newman recorda-nos que, como homens e mulheres
criados à imagem e semelhança de Deus, fomos criados para conhecer a verdade, para
encontrar nela a nossa liberdade definitiva e o cumprimento das aspirações humanas mais
profundas. Numa palavra, fomos criados para conhecer Cristo, que é Ele mesmo «o
Caminho, a Verdade e a Vida» (Jo 14, 6)” (Bento XVI).
4) Isso conduzir-nos-ia a uma outra conversão, a mais profunda de todas, a conversão
teologal ou mística, que é a do nosso modo de ver e viver com Deus, do nosso modo de
falar dele e com Ele. Deste tipo de conversão, podíamos ter um bom exemplo em Teresa
de Ávila. Teresa acreditava em Deus, vivia uma vida boa, mas depois de mais de 20 anos de
mediocridade na sua vida religiosa, começa a entrar, por graça, nesse estado de
simplificação, no qual contempla o Senhor presente no meio dela, em cada um dos
membros do seu corpo místico, em cada pessoa, em cada situação, e nele contempla toda
a realidade. A conversão mística é a que nos permite descobrir imediatamente a presença
de Deus em toda a parte.
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Trata-se, no fundo, de nos convertermos “dos ídolos ao Deus vivo e verdadeiro” (Act.14,15;
I Tes.1,9). Vede bem: Apesar de termos diante de nós e ao peito um Deus Crucificado, que
desprezou a importância, a fama, o poder, não andamos enganados, por exemplo, quando
pedimos ou atribuímos o sucesso a Deus, ou quando reclamamos a sorte e o êxito dos
nossos trabalhos, como fruto exclusivo dos nossos méritos pessoais ou dos merecimentos
diante de Deus? Não fazemos de Deus «pau para toda a colher»? Só Lhe falta meter golos,
a troco de Pai-Nossos e promessas de ir a pé! Mesmo se rezo… e até rezo… e quando rezo,
como rezo? É que os pagãos também rezam (Mt.6,7). Distingue-me deles a confiança filial,
a intimidade amorosa, a perseverança audaz e humilde no meu modo de rezar? Quantas
vezes não rezarei, «com receio de olhar para Deus» (Ex.3,6), ou pior ainda, na expectativa
de converter Deus aos meus desejos e não de converter os meus desejos à vontade de
Deus?
Como vedes, ninguém escapa a este apelo. Da nossa resposta, depende a vida ou a morte. Este
tipo de conversão, de que hoje vos falo, não se vê tanto nas obras. Mas manifesta-se
sobretudo pelos frutos. E é por esses frutos, que Deus ainda espera, neste tempo favorável!
«Produzi frutos dignos desta conversão»! (Mt.3,8; Lc.3,8).
A conversão é permanente. Ninguém está feito nem perfeito! Ela é despertada pela graça de
Deus.
5. As práticas do jejum, da esmola e da oração, no caminho da conversão
Na pedagogia da Igreja, seguindo os ensinamentos de Jesus, somos convidados a encetar o
caminho da conversão, através de três práticas: o jejum, a esmola e a oração.
a) Jejum:
“Em todas as grandes experiências religiosas, o jejum ocupa um lugar importante. O Antigo
Testamento enumera o jejum entre os fundamentos da espiritualidade de Israel. «É boa a
oração como o jejum e a esmola, acompanhada pela justiça» (Tb 12,8).
O jejum implica uma atitude de fé, de humildade, de total dependência de Deus. Recorre-se ao
jejum como preparação para o encontro com Deus (cf. Ex 34,28; 1 Re 19,8; Dn 9,3), antes de
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enfrentar uma missão difícil (cf. Jz 20,26; Est 4,16) ou implorar o perdão duma culpa (cf. 1 Re
21,27), para manifestar a dor causada por uma desgraça familiar ou nacional (cf. 1 Sm 7,6; 2
Sm 1,12; Br 1,5); mas o jejum, inseparável da oração e da justiça, visa sobretudo a conversão
do coração, sem a qual, como denunciavam já os profetas (cf. Is 58,2-11; Jr 14,12; Zc 7,5-14),
ele não tem sentido.
Impelido pelo Espírito, Jesus, antes de começar a sua missão pública, jejuou durante quarenta
dias como expressão de confiante abandono ao desígnio salvífico do Pai (cf. Mt 4,1-4); deu
indicações concretas para que a prática do jejum, entre os seus discípulos, não se prestasse a
formas adulteradas de ostentação e de hipocrisia (cf. Mt 6,16-18).
Fiéis à tradição bíblica, os Santos Padres tiveram em grande consideração o jejum. Para eles, a
prática do jejum facilita a abertura do homem a outro alimento: a Palavra de Deus (cf. Mt 4,4)
e o cumprimento da vontade do Pai (cf. Jo 4,34); conexo intimamente com a oração, fortifica a
virtude, suscita a misericórdia, implora o socorro divino, leva à conversão do coração. O jejum
ajuda-me no domínio de mim mesmo, até me fazer chegar ao dom de mim próprio. E desperta
a fome de Deus e da sua justiça”
(cf. DEPARTAMENTO PARA AS CELEBRAÇÕES LITÚRGICAS DO SANTO PADRE,
Indicações litúrgico-pastorais sobre o jejum e a oração pela paz para a preparação do encontro de Assis de 24 de Janeiro de 2002).
b) A esmola (partilha) liberta-me de mim, para me abrir aos outros. A ela se ordena o
jejum e nela se concretiza a oração. Diz um dos prefácios da Quaresma:
Vós nos ensinais pela penitência quaresmal
a dominar os excessos da nossa inclinação para o mal
e a dar alimento aos que têm fome,
imitando a vossa divina bondade”
(Prefácio da Quaresma III)
c) “A oração abre-me a Deus e, a partir dEle, aos irmãos. Em primeiro lugar, seja dito algo
de muito simples, algo que está no início de toda a oração e que, em geral não se
percebe: na oração abrimos a Deus o nosso coração. Para compreender isso, com o
coração e não somente com a razão, devemos considerar duas coisas: os corações
podem ser sufocados ou, pelo contrário, os corações podem abrir-se. Os
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acontecimentos que se patenteiam na vida exterior, claros ou impenetráveis, são,
quando os perscrutamos, muitas vezes apenas sinal e símbolo, uma sombra exterior,
reflectindo as coisas que se passam no coração, talvez desde há muito tempo. Agora,
sem mesmo que o homem o preveja, mostra-se-lhe de repente a realidade exterior do
que estava escondido no íntimo do seu ser. Então, o homem pode, nesse mesmo
acontecimento, reconhecer, como num espelho, o estado de seu coração” (cf. Karl
Rahner in Trevas e luz na Oração, Editora Herder, São Paulo, 1961, pp. 9-11)
Através das práticas tradicionais do jejum, da esmola e da oração, expressões do empenho de
conversão, a Quaresma educa para viver de modo cada vez mais radical o amor de Cristo, que
sendo rico Se fez pobre e que se negou a si próprio, para Se entregar ao Pai por nós.
Vejamos a leitura que o Papa faz destas práticas, que nos ajudam à conversão:
5.1. O Jejum, para superar o egoísmo e viver na lógica da doação
“O Jejum, que pode ter diversas motivações, adquire para o cristão um significado
profundamente religioso: tornando mais pobre a nossa mesa aprendemos a superar o egoísmo
para viver na lógica da doação e do amor; suportando as privações de algumas coisas – e não
só do supérfluo – aprendemos a desviar o olhar do nosso «eu», para descobrir Alguém ao
nosso lado e reconhecer Deus nos rostos de tantos irmãos nossos. Para o cristão o jejum nada
tem de intimista, mas abre em maior medida para Deus e para as necessidades dos homens, e
faz com que o amor a Deus seja também amor ao próximo (cf. Mc 12, 31).
“Pelo jejum quaresmal
Reprimis os vícios e elevais o espírito,
Infundis a fortaleza e dais a recompensa”
(Prefácio da Quaresma IV)
5.2. A Esmola ou capacidade de partilha, para a primazia de Deus
No nosso caminho encontramo-nos perante a tentação do ter, da avidez do dinheiro, que
insidia a primazia de Deus na nossa vida. A cupidez da posse provoca violência, prevaricação e
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morte: por isso a Igreja, especialmente no tempo quaresmal, convida à prática da esmola, ou
seja, à capacidade de partilha. A idolatria dos bens, ao contrário, não só afasta do outro, mas
despoja o homem, torna-o infeliz, engana-o, ilude-o sem realizar aquilo que promete, porque
coloca as coisas materiais no lugar de Deus, única fonte da vida. Como compreender a
bondade paterna de Deus se o coração está cheio de si e dos próprios projectos, com os quais
nos iludimos de poder garantir o futuro? A tentação é a de pensar, como o rico da parábola:
«Alma, tens muitos bens em depósito para muitos anos...». «Insensato! Nesta mesma noite,
pedir-te-ão a tua alma...» (Lc 12, 19-20). A prática da esmola é uma chamada à primazia de
Deus e à atenção para com o próximo, para redescobrir o nosso Pai bom e receber a sua
misericórdia.
5.3. A Oração alimenta o caminho da fé iniciado no Baptismo
Em todo o período quaresmal, a Igreja oferece-nos com particular abundância a Palavra de
Deus. Meditando-a e interiorizando-a para a viver quotidianamente, aprendemos uma forma
preciosa e insubstituível de oração, porque a escuta atenta de Deus, que continua a falar ao
nosso coração, alimenta o caminho de fé que iniciámos no dia do Baptismo.
A oração permite-nos também adquirir uma nova concepção do tempo: de facto, sem a
perspectiva da eternidade e da transcendência, ele cadencia simplesmente os nossos passos
rumo a um horizonte que não tem futuro. Ao contrário, na oração encontramos tempo para
Deus, para conhecer que «as suas palavras não passarão» (cf. Mc 13, 31), para entrar naquela
comunhão íntima com Ele «que ninguém nos poderá tirar» (cf. Jo 16, 22) e que nos abre à
esperança que não desilude, à vida eterna” (Bento XVI, MQ2011,3).
5.3.1. Tempo para rezar
“A dificuldade mais frequente com que nos deparamos a propósito da oração é a da
presumível falta de tempo. Quase sempre isto funciona como álibi, uma má desculpa:
encontramos tempo para outras coisas (televisão, internet). Por outro lado, encontramos
sempre tempo para aquilo que nos interessa. Quem diz que não tem tempo para rezar,
confessa que é um idólatra. Não é ele que, na verdade, domina o seu tempo, que exerce o
domínio sobre ele, que o coordena: é o tempo que o domina. O cristão se quer ser e afirmar-se
realmente como tal, deve opor-se tenazmente à ideologia do trabalho e da produtividade
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alienante, deve esforçar-se por encontrar tempo para Deus e dialogar com Ele. A oração
precisa de tempos fortes, de tempos determinados, que devem ter precedência sobre tudo o
resto. O aspecto da disciplina do tempo não é marginal, mas central para a oração. Sem a
escolha de um ritmo e de um tempo adequados, não é possível rezar. “Não te deves
entristecer pela escassez do tempo disponível para te retirares para o teu quarto; deves antes
assegurar-te de que estás pronto e cheio de desejo de comunicar com Deus: então repararás
que os minutos podem ser como dias”
(Matta el Meskin, monge egípcio do séc. XX, cit. por ENZO BIANCHI, Porque
rezar, como rezar, Ed. Paulus, Apelação 2011, 99-101).
«Os amigos, se querem encontrar-se, devem fazer escolhas e decidir as prioridades na sua
agenda. Se eles permanecem na fase do desejo, nunca se reencontrarão. Com a oração é a
mesma coisa. Se só rezar quando tem vontade, então não reza o suficiente», diz o P. JeanMarie Gueullette, professor de teologia da Universidade Católica de Lyon.
Um conselho: Fixar um tempo de oração realista e mantê-lo. Não colocar a questão de saber
se tem ou não desejo de orar; a oração não parte da pessoa nem dos seus estados de alma,
mas de Deus, na presença de quem se reza.
No que respeita ao lugar – continua – o essencial é encontrar o espaço que, para cada um,
favorece a oração, a contemplação. Mas não se reza apenas nas capelas ou no calor dos
lugares preparados. Deus está connosco em todo o lugar porque Ele habita em nós. Se os
nossos dias incluem um tempo de oração, mesmo curto, torna-se pouco a pouco possível
tomar consciência da presença de Deus no supermercado ou no elevador» (cf. Martine de Sauto In La
Croix Trad.: rm © SNPC (trad.) | 19.11.10).
“Sim, a nossa oração será sempre uma luta para chegar a amar mais e melhor. Por isso, não
nos devemos cansar de pedir ao Senhor «ensina-nos a rezar», até ao dia em que Ele nos
revelar o Seu rosto. Diz Santo Agostinho: «O desejo reza sempre, mesmo se a língua se cala. Se
desejas sempre, rezas sempre. Quando é que a oração dormita? Quando arrefece o desejo”. A
oração é o nosso desejo de amor” (ENZO BIANCHI, Porque rezar, como rezar, Ed. Paulus, Apelação 2011, 114).
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