Belo Horizonte, 18 de outubro de 2011 Brasil e Paraguai discutem ações contra a aftosa hoje - Portal Agrolink Alinhar as estratégias de sanidade animal no combate à aftosa no Paraguai e Brasil. Esse é o objetivo da reunião que acontece ontem (17) na sede da Sociedade Rural Paraguaia, em Assunção (Paraguai), a partir das 16 horas. Além de autoridades do país vizinho, participam da reunião o presidente da Federação de Agricultura e Pecuária de MS (Famasul), Eduardo Riedel, vice-presidente de Finanças da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Ademar da Silva Junior, coordenador da Câmara Setorial de da Cadeia da Bovinocultura e Bubalinocultura e presidente da Comissão da Pecuária de Corte da Famasul, José Lemos Monteiro, e o presidente da Associação dos Criadores de Mato Grosso do Sul (Acrissul), Francisco Maia. O combate a aftosa também será pauta da reunião da Câmara Setorial de Bovinocultura e Bubalinocultura que acontece nesta terça (18), na sede da Famasul. Na ocasião, a diretora da Agência de Defesa Sanitária Animal e Vegetal (Iagro), Cristina Carrijo, irá apontar as medidas tomadas em Mato Grosso do Sul para impedir que o foco identificado no país vizinho ultrapasse a fronteira brasileira. A reunião terá participação de uma comissão da Sociedade Rural Paraguaia, que irá apresentar as ações adotadas pelo governo daquele País. O Conselho Nacional da Pecuária de Corte estará presente na reunião com a apresentação do trabalho sobre resíduos na carne, divulgado no Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA), na última sexta (14). Também participam do debate a Superintendência Federal de Agricultura (SFA), a Embrapa, a Secretaria Estadual de Produção (Seprotur), além de representantes de frigoríficos do Estado. A reunião da Câmara Setorial da Bovinocultura e Bubalinocultura será realizada dia 18, às 8 horas, na sede da Famasul, localizada a Rua Marcino dos Santos, 401, bairro Cachoeira II, Campo Grande. Gado é abatido na região Norte – Jornal Correio do povo A operação preventiva do governo estadual contra a febre aftosa apreendeu, ontem (17), em Palmitinho, 25 bovinos que foram encaminhados para o abate em Almirante Tamandaré do Sul. Segundo a Secretaria da Agricultura, o trânsito dos animais foi comprovadamente realizado sem Guia de Trânsito Animal (GTA), que é documento sanitário obrigatório em todo o país. Os produtos resultantes do abate sanitário serão desossados e doados para instituições filantrópicas dos municípios de Palmitinho, Almirante Tamandaré do Sul, Palmeira das Missões e Rodeio Bonito. Ministro da Agricultura passa bem e é transferido para quarto – Portal Reuters O ministro da Agricultura, Mendes Ribeiro, apresenta "excelente evolução" nesta segunda-feira após ter sido submetido na manhã de sábado a uma cirurgia para a remoção de um pequeno tumor no cérebro, informou o hospital Sírio-Libanês. Segundo o comunicado, o ministro recebeu alta da Unidade de Terapia Intensiva e foi transferido para um quarto regular do hospital em São Paulo na tarde de domingo. "O paciente evolui sem nenhuma intercorrência... o senhor ministro alimenta-se e caminha normalmente", afirmou o Sírio-Libanês. Mendes Ribeiro se submeteu na semana passada a exames de acompanhamento de um tumor cerebral que havia sido retirado em janeiro de 2007 e nessa avaliação foi detectada uma provável recorrência do tumor, segundo o hospital. "Os médicos aguardam resultado de avaliação anátomo-patológica para definição de condutas subsequentes. O resultado completo da análise histológica e do estudo molecular do tecido estarão concluídos em aproximadamente 10 dias", informou o Sírio Libanês. O Ministério da Agricultura prevê que o ministro fique afastado por 10 dias das atividades da pasta. Jorge Alberto Portanova Mendes Ribeiro Filho, de 56 anos, assumiu a Agricultura em agosto deste ano em substituição a Wagner Rossi, que pediu demissão do cargo em meio a uma série de denúncias de irregularidades na pasta e contra ele. Brasil precisa melhorar divulgação da carne na Europa – Portal DBO Rural O Brasil precisa evoluir na construção e na divulgação de sua imagem na Europa para influenciar positivamente as exportações de carne bovina. Esta é uma das conclusões de pesquisa realizada por Fernanda de Tavares Canto Guina, do Programa de PósGraduação em Administração de Organizações da Faculdade de Economia e Administração (FEA/USP), de Ribeirão Preto, São Paulo. A ex-funcionária da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec), apresentou em agosto sua dissertação de mestrado para mostrar como a imagem do Brasil influencia na decisão de compra do estrangeiro, usando como exemplo a carne bovina brasileira. Durante dois meses, a pesquisadora aplicou 382 questionários para consumidores na França, Inglaterra, Alemanha e Irlanda e entrevistou especialistas do setor e grandes empresas importadoras e exportadoras do produto. “O consumidor europeu não tem opinião formada em relação ao Brasil e seus produtos de forma geral”, afirma. A pesquisa revelou que aspectos diretamente ligados aos produtos brasileiros como comunicação, distribuição e diferenciação, pesam negativamente na atitude de compra, principalmente junto aos clientes mais jovens, com idades entre 18 e 24 anos. Segundo ela, “20% dos entrevistados com menos de 24 anos relacionaram a pecuária brasileira ao desmatamento.” Esta ligação é feita por sites, especialmente na França, como forma de desestimular o consumo do produto brasileiro. Para reverter este quadro, Fernanda sugere que o setor invista na imagem do Brasil moderno, com uma pecuária sustentável e responsável. Outro grande desafio é ampliar o conhecimento dos estrangeiros sobre o parque industrial brasileiro. “Uma medida que pode ser eficiente é a parceria entre a indústria brasileira e os restaurantes e redes varejistas no exterior”, diz a pesquisadora. Fernanda afirma que a medida não é tão simples e requer investimentos da Abiec para viabilizar os acordos. Mas, observa que um dos motivos para que o europeu desconheça as características da carne bovina brasileira é fato de o produto chegar ao mercado europeu em grandes cortes de traseiro e dianteiro, o que dificulta a identificação do país de origem na comercialização de cortes tradicionais. Outro problema citado é o Custo Brasil, "Por causa da burocracia brasileira, os contêineres com carne bovina levam até 45 dias para chegar à Europa. Quando chegam, o produto não é destinado ao consumo direto, mas aproveitado como matériaprima para processados.” Durante o desenvolvimento da dissertação, ao longo de dois anos, a pesquisadora identificou que, entre os aspectos do Brasil que mais podem influenciar positivamente o consumidor estão as artes e a amabilidade do povo brasileiro. Estes fatores, segundo a pesquisa, já têm impacto positivo, principalmente, em pessoas acima de 24 anos. Ataque às pragas – Jornal Folha de São Paulo Insetos, ácaros e fungos são alguns dos pesadelos de agricultores em todo o mundo. Considerados pragas, esses seres atacam as lavouras e, segundo estimativas, destroem cerca de 30% das plantações apenas no Brasil. Para contornar essa situação, produtores rurais recorrem ao uso de inseticidas, entre eles a toxina da bactéria Bacillus thuringiensis (Bt), usada há pelo menos 15 anos em nações que autorizam a produção agrícola de transgênicos. O problema é que, quanto mais se usa um composto tóxico, maior é a probabilidade de as pragas se adaptarem a ele. De olho nessa questão, um estudo publicado recentemente na revista Nature Biotechnology, realizado por pesquisadores da Universidade do Arizona, nos Estados Unidos, e da Universidade Nacional Autônoma do México (Unam), revelou que uma pequena modificação na estrutura da toxina Bt a torna eficiente para combater mesmo os insetos que sofreram mutações genéticas e ficaram resistentes à versão natural do composto. A toxina Bt é amplamente utilizada, especialmente no cultivo de milho, algodão e batata. Dados mostram que, apenas no ano passado, o composto foi usado, em forma de spray ou na alteração genética de vegetais, em mais de 140 milhões de acres de plantação no planeta. A Bt tem ação muito específica, pois só mata os seres que possuem uma enzima chamada receptor de caderina em seu intestino. Quando a toxina é ingerida por insetos que contêm esse receptor, ela é quebrada e entra nas células da parede intestinal do animal. Em seguida, causa a destruição das células e a consequente morte da praga. Um dos autores da pesquisa, Mario Soberón, especialista em biologia molecular e professor da Unam, diz ao Correio que alguns insetos - como a mariposa Plutella xylostella e determinadas espécies de besouros e lagartas, entre outros - criaram um mecanismo de resistência ao composto, ao sofrerem mutações genéticas no receptor de caderina. "Nós, então, modificamos a estrutura da toxina para ela ser absorvida diretamente pelas células dos animais cuja enzima sofreu mutação. Assim, a Bt não ia precisar do receptor de caderina em sua forma intacta para matar as pragas", descreve. O líder do estudo, o professor de entomologia da Universidade do Arizona Bruce Tabshnik, afirma à reportagem que, inicialmente, ele e sua equipe acreditavam que a versão modificada da toxina Bt seria eficiente apenas contra insetos cuja resistência ao composto tinha como base a mutação genética na enzima presente no intestino. "Esse receptor é o que se liga à toxina Bt original nos insetos suscetíveis a ela", explica. Testes em laboratório com as pragas, porém, revelaram que a atuação do composto é ainda mais ampla. "Surpreendentemente, a toxina modificada foi eficaz contra alguns insetos cuja resistência não era causada pela modificação na caderina, além de nem sempre ter combatido as pragas que têm o receptor alterado", comenta o norteamericano. O doutor em microbiologia e entomologia agrícola Ítalo Delalibera Júnior, professor da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, da Universidade de São Paulo (USP), acha interessante que a pesquisa tenha conseguido contrariar a hipótese difundida na comunidade científica de que a toxina Bt modificada geneticamente só seria eficaz contra insetos que fossem resistentes à toxina original. "Os compostos que tiveram a estrutura modificada pelos autores foram muito mais potentes (até 350 vezes) do que os originais contra as populações de insetos resistentes, independentemente da presença ou ausência de mutações nas enzimas do intestino." Vantagens Tabshnik ressalta a importância dessa pesquisa para a comunidade científica: "Com a análise, podemos entender melhor como a toxina mata insetos e como eles se tornam resistentes a ela". Já para a sociedade, a relevância do estudo está no uso potencial de toxinas modificadas para fazer, de maneira ecologicamente sustentável, o controle de pragas. Alejandra Bravo, coautora da pesquisa e professora de biologia molecular da Unam, destaca que plantações transgênicas mais resistentes a insetos têm sido úteis na diminuição do uso de inseticidas químicos e, em alguns casos, no aumento do rendimento dos produtos cultivados. "Portanto, nossa versão modificada da toxina Bt poderia ser uma ferramenta valiosa para combater a presença desses animais no campo, o que pode resultar no uso prolongado dessa importante tecnologia", diz. A empresa de biotecnologia dos Estados Unidos Pioneer analisa atualmente o potencial de comercialização da toxina Bt alterada. O entomologista norte-americano adverte que os animais sempre vão se adaptar a táticas de controle. Tabshnik conta que o próximo passo da pesquisa é determinar se a forma modificada da proteína tóxica a pragas é eficiente no campo, já que os testes foram feitos apenas em laboratório. País perde com guinada protecionista – Jornal Folha de São Paulo (Editorial) O Brasil foi, e ainda é, vítima de movimentos protecionistas, especialmente em relação a produtos agropecuários nos quais tem indiscutível competitividade. Suco de laranja, carnes, etanol e outras mercadorias pagam sobretaxas ao entrar em alguns mercados, ou simplesmente são impedidos por barreiras fitossanitárias, usadas às vezes como mero pretexto para impedir importações oriundas do Brasil. Seja por atendimento a exigências, negociações bilaterais ou recursos à Organização Mundial do Comércio (OMC), o país tem se defendido para viabilizar essas exportações, obtendo êxito em muitos casos. Embora vítima de protecionismo, e após ter colhido bons resultados com uma política de abertura gradual da sua economia, o Brasil parece agora ter entrado em uma trajetória de retrocesso, buscando fechar mercados para produtos de origem asiática, especialmente. O país não deve adotar uma postura ingênua no comércio internacional, pois não se pode ignorar a concorrência desleal e os abusos de poder econômico que visam a destruir exatamente a competição, força motriz do desenvolvimento. Mas, especificamente no caso do mercado automobilístico, o governo brasileiro partiu para um aumento de taxação (30 pontos de IPI) sem que tenha se comprovado um quadro de concorrência desleal. As fábricas aqui instaladas já alcançaram uma escala de produção que lhes permite desafiar a concorrência. Criaram vínculos com o consumidor brasileiro difíceis de serem rompidos facilmente por estreantes ainda desconhecidos no país. No entanto, o governo reagiu como se o setor estivesse completamente vulnerável, sem condições de enfrentar a concorrência externa. É justificável que as empresas com programas de investimento no Brasil, empenhadas em fortalecer uma cadeia de fornecedores que absorva tecnologia e se engaje em processos de inovação, sejam mais bem tratadas por políticas públicas internas. Porém, existe uma grande distância entre políticas que incentivam o investimento e as que levam ao protecionismo. O estímulo ao investimento não é objeto de sanções na OMC; já no segundo caso, o Brasil estará exposto a retaliações comerciais no plano internacional, ao mesmo tempo que cerceará o direito de escolha dos consumidores domésticos. Reclamações formais já começaram a chegar à organização do comércio. O benefício da união aduaneira (percentual mínimo de conteúdo nacional para os veículos se beneficiarem da isenção de impostos de importação) é uma regra conhecida do Mercosul que foi reapresentada como uma novidade. Já estavam em andamento negociações para a ampliação de indústrias e instalação de novas fábricas no país antes do anúncio da sobretaxação de automóveis importados. Não é o protecionismo que as traz ao Brasil. O que de fato ganharemos com essa guinada protecionista que compense o desgaste de imagem, a redução da competição e o risco de retaliações comerciais se a OMC considerar abusivas as recentes iniciativas do governo brasileiro na área automotiva? Países Asiáticos: o futuro do consumo do agronegócio – Portal Suíno.com Todos os brasileiros deveriam ter a oportunidade para conhecer outros países por este mundo afora. A reclusão em nossa paróquia, geralmente nos leva a concluir que o mundo é somente o que gira ao nosso redor. Se não sairmos do nosso reduto, dificilmente teremos condições de avaliar e compararmos o que estamos fazendo. Essa viagem que os dirigentes cooperativistas fizeram pelos países da Ásia, no outro lado do mundo, ofereceu inúmeras oportunidades para compararmos o sistema de vida e o desenvolvimento de outras importantes regiões do mundo. Um país como o Japão, com sérios problemas naturais, com terremotos, tsunamis e áreas aproveitáveis imensamente reduzidas, com enfrentamento de guerras que destruíram quase tudo, conseguiu se recuperar e se transformar na segunda economia mundial. Qual o segredo disso? trabalho, perseverança, disciplina, honestidade e patriotismo do seu povo. E a Coréia do Sul? Um país com problemas ainda piores do que o Japão, enfrentando estado de tensão permanente, com risco de guerras com o vizinho dissidente, a Coréia do Norte, que por sua vez vive num regime fechado e contando com apoio da força militar de potências como a China e a Rússia, mesmo assim, consegue se desenvolver a passos largos, onde apesar da sua reduzida extensão territorial está preste a conquistar a terceira economia do mundo. Como consegue isso? Trabalho, perseverança, disciplina, honestidade e patriotismo. Esses dois exemplos de países da Ásia, vistos pelos catarinenses, por si só valeu a viagem para que possamos cada vez mais valorizar os recursos naturais que temos, e trabalharmos com mais afinco e responsabilidade, esperando que os governos não atrapalhem. Muitos outros exemplos na área agropecuária e cooperativista, também foram constatados, como o caso do Museu de Agricultura de Seul, que resgatou os costumes de 5 mil anos de exploração agrícola, demonstrados em dois pavimentos de um prédio exposto no centro da capital da Coréia do Sul. Foram exemplos práticos que precisam ser reconhecidos por todos nós, e que nos preocupemos em socializá-los aos nossos liderados e assim contribuirmos para a valorização dos nossos setores. Pense nisso. Estratégias para o futuro – Jornal Correio Braziliense Promover a saúde por meio da melhoria dos indicadores sociais poderá virar obrigação internacional, e o primeiro passo para isso será dado amanhã, no Rio de Janeiro. A capital fluminense vai sediar, até sexta-feira, a Conferência Mundial sobre Determinantes Sociais da Saúde, com a presença de chefes de Estado e representantes de mais de 80 países. A expectativa do Brasil é que, no encontro, seja formulado o esboço de um tratado, ou seja, um texto que, se aprovado, obrigue judicialmente os países signatários a cumprir as metas estabelecidas. Esse documento pode ser discutido na próxima Assembleia Geral das Nações Unidas, em maio. O momento é definido como histórico por Paulo Buss, ex-presidente da Fiocruz e atual diretor do Centro de Relações Internacionais em Saúde da fundação. "No Rio de Janeiro, teremos uma declaração, um documento político, que significará um pacto em nome do desenvolvimento ético e sustentável", diz (leia entrevista). "Não queremos que o documento vire letra morta. A ideia é chegar à assembleia de maio já com ações que levem à elaboração de um tratado internacional." Segundo Buss, é possível que o acordo vinculante saia em um futuro próximo - ele aposta em seis anos. O conceito de determinantes sociais foi lançado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) em 2005, quando o órgão das Nações Unidas criou uma comissão para discutir como políticas públicas voltadas à distribuição de renda, à universalização do ensino e ao saneamento básico, entre outras questões, poderiam impactar na saúde da população. Diversas pesquisas comprovam a relação entre indicadores sociais e redução de doenças e índices de mortalidade. Sabe-se, por exemplo, que, quanto maior a escolaridade materna, menor o risco de a criança morrer antes dos 5 anos de idade. Da mesma forma, países com saneamento básico precário são aqueles com maior incidência de doenças infecciosas. De acordo com Buss, os determinantes sociais partem do princípio de que saúde não é apenas uma questão biológica, mas integra uma cadeia mais complexa do que se possa imaginar. Ele cita, como exemplo, o papel da Organização Mundial do Comércio no bem-estar da população. "Em nome das patentes, muitos remédios se tornam inacessíveis às pessoas. Milhares de mortes desnecessárias ocorrem no mundo todo por causa da hegemonia das patentes", argumenta. Ele cita a questão da água como exemplo dos efeitos negativos dessa postura empresarial excludente. "A água é um comércio. Está na mão de algumas distribuidoras que dizem não cobrar pelo produto, mas pelo transporte. Se não mudarmos a ética das relações humanas, continuando a querer crescer a qualquer custo, jamais vamos melhorar a saúde da população. São questões difíceis de "desembolar", mas que podem ser resolvidas", acredita. Comissão Seguindo o exemplo da OMS, o Brasil foi o primeiro país a criar uma Comissão Nacional sobre Determinantes Sociais, em 2006, presidido, à época, por Buss. A iniciativa foi elogiada pelas Nações Unidas e, apesar de todos os problemas conhecidos da saúde pública brasileira - falta de médicos, hospitais lotados, profissionais mal remunerados e atendimento precário, entre outros -, o país tem sido constantemente citado como exemplo nessa área. Em maio, a prestigiada revista médica britânica The Lancet publicou uma edição totalmente dedicada ao Brasil, na qual especialistas avaliaram o Sistema Único de Saúde, concluindo que alguns progressos, como a redução de doenças infecciosas, foram um avanço "memorável na história da saúde da América do Sul". Os autores destacaram que, depois de décadas de mudanças nas políticas sociais, "incluindo a introdução de um sistema unificado de saúde para todos (o SUS), o Brasil também pode celebrar uma redução na mortalidade por doenças crônicas e imensos avanços em busca da melhoria da saúde materna e da criança". Porém, eles também destacaram alguns desafios. "A Nação ainda encara problemas - incluindo algumas doenças infecciosas, como dengue e leishmaniose, o aumento da obesidade e um grande número de mortes causadas por assassinatos e acidentes de trânsito." Ao avaliar a edição da The Lancet, Ricardo Uauy, professor da Faculdade de Higiene e Medicina Tropical de Londres, afirma que, coletivamente, o país começou a enfrentar o desafio de melhorar a saúde de todos. A questão dos determinantes sociais é destacada por Uauy. "O Brasil mostrou que você precisa investir em capital humano e social para alcançar e sustentar um crescimento econômico." Ritmo saudável A responsabilidade não está apenas na mão de governos. De acordo com Paulo Buss, os determinantes sociais também dependem de pequenas ações comunitárias, com envolvimento da população. Foi o que aconteceu em 50 comunidades carentes do Rio de Janeiro, onde adolescentes passaram de "causadores de problemas" a promotores da saúde, em um projeto batizado de Rap da Saúde. A experiência, idealizada pela médica Viviane Manso Castello Branco, ganhou um prêmio do Ministério da Saúde em junho passado. A ideia de Viviane, coordenadora de políticas e ações intersetoriais da superintendência de promoção da Saúde da Secretaria Municipal de Saúde e Defesa Civil do Rio, era despertar nos jovens o protagonismo. "Às vezes, os jovens se surpreendem com eles mesmos", conta. Capacitados para levar noções de saúde à população, seja em feiras ou nas ruas da comunidade, eles também participam de reuniões e aprendem a negociar. "O projeto leva habilidades para a própria vida. Muitos pais falam como esses adolescentes passaram a ter outra postura, a dar sugestões em casa em relação à alimentação e aos hábitos", comemora a médica. Com 120 inscritos no começo deste ano e planos para abrigar 200 em 2012, o projeto não pretende ficar apenas no Rio de Janeiro. "Sonhamos que, à medida que se perceba a qualidade do serviço desses jovens para a saúde pública, as equipes do Programa Saúde da Família comecem a ter uma dupla de adolescentes promotores do bem-estar." Três perguntas para - Paulo Buss O fato de a conferência da OMS ser realizada no Brasil é um reconhecimento aos avanços do país nessa área? Acho que é o reconhecimento dos progressos nos programas de combate à pobreza e diminuição das desigualdades sociais. O Brasil foi o único país que criou uma Comissão Nacional de Determinantes Sociais, em 2006, formada por pessoas como Zilda Arns, Moacyr Scliar e Adib Jatene, além de organizações não governamentais. Era uma comissão muito eclética. Fizemos um relatório que foi elogiado pela Organização Mundial de Saúde. Acho que a realização da conferência aqui é um reconhecimento a tudo isso. O que o Brasil pode ensinar às delegações internacionais? O Brasil vai ensinar e aprender. Outros países fazem muitas coisas boas também. A coordenação de políticas de educação, saúde, saneamento e distribuição de renda é o grande segredo. Não se resolve a saúde só com os hospitais, mas quando se distribui a riqueza. A saúde não depende só do componente biológico, ela é eminentemente social, são necessários programas integrados para reduzir a grande desigualdade social e é exatamente isso que o Brasil tem feito há 15 anos. O Fernando Henrique Cardoso teve uma iniciativa importante; no alvorecer do século 21, o Lula lançou políticas sociais que mudaram substancialmente o país, e a Dilma está aprofundando isso. O mundo está vendo o que o Brasil está fazendo com muito interesse. Apesar das melhorias, o senhor pode citar os principais desafios que o país ainda enfrenta? Um deles é o acesso aos serviços urbanos de uma maneira geral, pois nos tornamos um país urbano. São problemas como acesso a água, habitação e saneamento. Não há possibilidade de se ter saúde em uma população sem esgoto. Mas o Brasil vem progredindo e esse progresso se repercute na saúde: a mortalidade infantil diminuiu, os índices estão mais próximos aos dos países desenvolvidos do que os de países muito pobres. Temos, agora, que alcançar os bolsões de miséria e fazer políticas universais que garantam a proteção social. (PO) A produção de alimentos está afastada do consumo – Jornal O Globo ENTREVISTA RENATO MALUF O telefone toca durante a entrevista e Renato Maluf dialoga em inglês com a pessoa que está do outro lado da linha. Quando desliga, comenta: "Era alguém de uma rede social querendo fazer contato conosco. O Brasil hoje tem um papel importante no cenário internacional em todas as dimensões envolvidas com a segurança alimentar". Presidente do Conselho de Segurança Alimentar, um órgão criado pelo sociólogo Betinho nos anos 90 e recuperado pelo ex-presidente Lula em 2003, que reúne sociedade civil e representantes do governo, Maluf trabalha numa salinha entulhada de livros e ultimamente anda mais assoberbado do que o habitual. Está à frente da organização da quarta Conferência Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional, que acontecerá mês que vem em Salvador e que, este ano, terá uma relevância ainda maior. É que na abertura do evento a presidente Dilma Roussef assinará o Primeiro Plano Nacional de Segurança Alimentar. Basicamente, o plano tem dez desafios, que se juntam ao enorme desafio mundial de garantir alimento para uma população que já alcançou sete bilhões de pessoas no mês passado, segundo a ONU. O GLOBO:Para alimentar as 7 bilhões de pessoas no mundo é preciso usar agrotóxico? RENATO MALUF: Não. É preciso deixar bem claro duas coisas: eu não estou negando a contribuição que a ciência deu para conseguirmos aumentar a produtividade da agricultura, mas a ciência não é neutra, depende de quem a usa. Ignorar que a chamada revolução verde, dos anos 50 e 60, fez com que o mundo adquirisse uma capacidade de produção é estupidez. Agora, esconder que isso foi feito à custa de uma depredação do meio ambiente jamais vista é maldade. O GLOBO:Então precisamos de uma nova revolução verde ? RENATO MALUF: Esta é a resposta que está sendo dada internacionalmente: precisamos de uma nova revolução verde e que agora seja duplamente verde, sem o tal do agrotóxico. Primeiro porque o pacote sem agrotóxico está difícil porque a monocultura aumenta a incidência de praga. Os grandes agricultores estão começando a reagir, isso é uma sensação que eu tenho. O povo está acordando para isso. O GLOBO: Qual o maior desafio da fome, que hoje atinge 1 bilhão de pessoas no mundo segundo a Food and Agriculture Organization? RENATO MALUF: Está bastante claro nos diagnósticos que o problema da fome no mundo não é um problema de falta de produção, é um problema de acesso. O mundo é capaz de produzir, depende do modelo no qual se está baseando. Mas, se tivermos ideia de alimentar as 7 bilhões de pessoas aumentando o modelo atual, aí é que o planeta não dá conta. Porque é um modelo que superexplora o recurso natural, tem um elevado nível de desperdício, alimentação de má qualidade, uso absurdo de agrotóxico. O GLOBO: Qual seria o modelo ideal? RENATO MALUF: Vai ficando cada vez mais evidente que os modelos baseados na AGRICULTURA FAMILIAR dão conta, desde que se inicie um processo de reversão das grandes tendências, do circuito longo, das grandes corporações. O GLOBO: Como escapar do circuito longo? RENATO MALUF: O sistema alimentar mundial afastou a produção do consumo. Produção especializada, monocultura, só faz sentido se ingressar em redes locais, não levar esses produtos para outra extremidade do país ou do mundo. O circuito local é o inverso: é usar a produção de pequeno porte diversificada e promover uma circulação regional. Essa concepção de abastecimento alimentar descentralizada é fundamental, com base em circuitos curtos. Está formulada no Plano de Segurança Alimentar que a presidente Dilma assinará na abertura da Conferência. O GLOBO: Isso quer dizer que o Brasil está fazendo o dever de casa direito ? RENATO MALUF: Temos um papel crescente no mundo a partir do governo Lula. Mas ao mesmo tempo somos um grande exportador, então temos uma participação mais comercial. Ou seja: colocamos o assunto na prioridade da agenda, levamos para as discussões internacionais, somos reconhecidos por organismos internacionais. E na condição de grande exportador, reproduzimos algumas das mazelas que o sistema alimentar mundial tem. O GLOBO: Quais são essas mazelas? RENATO MALUF: Uma parte de sua produção exportada baseada na monocultura, com elevada quantidade de agrotóxicos (somos o maior consumidor de agrotóxicos da América Latina); um elevado nível de mecanização; comprometimento de biodiversidade; concentração fundiária, que é uma das causas da desigualdade social no Brasil. E temos aqui as grandes corporações internacionais e nacionais que são uma expressão do modelo de consumo de alimentos que está nos levando - e ao mundo todo - a uma condição de graves problemas de saúde associada à alimentação. O GLOBO: Sobretudo por conta do agrotóxico? RENATO MALUF: Sim, mas também pelo padrão alimentar que tem nos elevado a obesidade e sobrepeso em indicadores alarmantes. Já são alarmantes na América do Norte, em alguns países europeus, e na América Latina o México é campeão, mas estamos caminhando rapidamente para ganharmos este lugar. O GLOBO: O que diz o Plano Nacional de Segurança Alimentar que a presidente Dilma vai assinar? RENATO MALUF: O plano é resultado de um decreto assinado em agosto do ano passado pelo presidente Lula determinando que fosse formulado em 12 meses. O governo Dilma cumpriu o prazo. Eu destacaria basicamente os dez desafios iniciais do plano, entre eles: do direito, do hábito de se alimentar, da saúde, para as comunidades específicas. O que o plano faz é propor um conjunto de instrumentos para enfrentar esses dez desafios. Mas é um plano que prevê ações intersetoriais para enfrentar o desafio. O GLOBO:Como assim ? RENATO MALUF: Por exemplo: por sugestão do Consea o governo criou um programa de aquisição de alimentos que une a necessidade de alimento dos mais pobres com a necessidade de mercado da AGRICULTURA FAMILIAR. Ele compra produtos alimentares da AGRICULTURA FAMILIAR e transfere para os programas que dão alimentos ou que promovem acesso à alimentação dos mais pobres. O Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) recém aprovou uma lei para a qual o Consea foi chamado a ajudar a fazer, determinando que 30% da alimentação escolar sejam comprados localmente da AGRICULTURA FAMILIAR. Isso é circuito curto, um instrumento poderoso para enfrentar os desafios da segurança alimentar. O GLOBO: Esses desafios são os mesmos do tempo em que Betinho criou o Consea ou são novos desafios? RENATO MALUF: Uns são mantidos, outros se atualizam. Uma das características mais antigas do Brasil é ser um grande produtor agrícola com base na grande propriedade. Isso vem dos tempos do Brasil colônia. Transformou-se no agronegócio, nos ruralistas, enfim, pode-se ter uma atualização de nomes, mas a grande propriedade fundiária na base da nossa desigualdade social e dos problemas ambientais é tão antigo quanto o país. O GLOBO: As mudanças climáticas vão afetar a segurança alimentar? RENATO MALUF: O que eu falo é de variabilidade climática e eventos climáticos extremos, o que é mais próximo e menos incerto. Há muita especulação, mas o que se sabe é que o desenho da produção vai mudar, o que cria riscos e oportunidades.