UNIVERSIDADE ESTADUAL DO RIO GRANDE DO SUL UNIDADE DE MONTENEGRO CURSO DE GRADUAÇÃO EM MÚSICA: LICENCIATURA PROGRAMA INSTITUCIONAL DE BOLSA DE INICIAÇÃO À DOCÊNCIA Mariele Schossler Orientadora Profª Drª Cristina Rolim Wolffenbüttel Experiência pibidiana e pressupostos teóricos da educação musical inseridos no contexto da educação infantil Introdução Este texto tem como objetivo fazer um paralelo entre as observações e as oficinas realizadas na Escola Municipal de Ensino Fundamental Cinco de Maio em Montenegro/RS, onde atuo como bolsista de iniciação à docência, e entre as explicitações a respeito da legislação brasileira sobre a educação infantil realizadas no texto Políticas públicas para educação infantil: construção de um projeto educativo de Rosângela Aparecida Galdi da Silva e Gilza Maria Zauhy Garms. Na escola, em nossa atividade pibidiana, realizo uma oficina de musicalização com a turma da Educação Infantil, em conjunto com minhas colegas bolsistas Adrielle Camila de Oliveira Rezende e Morgana Kremer. A ideia, ao fazer este paralelo do texto com a realidade da escola, é de pensar-se em práticas pedagógicas para a faixa etária de 04 a 06 anos, a partir de um referencial teórico da Educação Musical e da Educação, possíveis de serem realizadas com esta turma de pré-escola, a partir das observações que fizemos da turma e do breve conhecimento que tivemos de cada um dos estudantes, bem como das possibilidades que a escola e a comunidade escolar possuem. Pensando-se então no contexto de periferia no qual a escola se insere e nos recursos limitados que uma escola pública possui, os conceitos que nos levaram a pensar a oficina são: a cultura experiencial de Pérez Gómez (2001), que são a cultura, a vivência e a visão de mundo que cada pessoa possui, baseadas nas experiências de cada pessoa; os estádios de desenvolvimento de Piaget (MARQUES, 2008); os pilares de Swanwick para a educação musical de execução, apreciação e composição musical (DIAS, 2011); a relação entre música e movimento de interação espaço-tempo-energia de Dalcroze (ILARI; MATEIRO, 2012); a utilização das músicas midiáticas em sala de aula de Subtil (2007); a valorização da preferência musical do estudante de Souza (2008); e as possibilidades de aprendizado musical por meio da ludicidade e de brincadeiras compartilhadas por Zagonel (2011). A oficina iniciou no dia 29 de maio de 2015 com a autorização da direção da escola, bem como com o consenso entre a professora da turma, as supervisoras e a coordenadora do Pibid, sem prazo para o final das atividades. Esperamos poder, portanto, realizar atividades em nossa oficina até o final do ano de 2015, podendo assim acompanhar o desenvolvimento em médio prazo desta turma da educação infantil. A turma é formada por cerca de 20 alunos, cujas faixas etárias variam entre 04 e 06 anos. Os alunos que iniciam a pré-escola aos 04 anos podem ficar até dois anos na educação infantil, pois para que possam ser matriculados no 1º ano do ensino fundamental eles precisam ter 06 anos completos no início do ano letivo. Essa defasagem de idades mostra diferentes desenvolvimentos. Tem-se na turma estudantes com o desenvolvimento de linguagem e comunicação mais avançado, assim como se tem estudantes em processo inicial de socialização. Alguns dos alunos tiveram vivência em creches anterior à pré-escola, outros tiveram nos primeiros anos da infância os cuidados dos pais em tempo integral, o que não qualifica exatamente o desenvolvimento de todos os estudantes da turma. Contribuições do texto Políticas públicas para educação infantil: construção de um projeto educativo de Rosângela Aparecida Galdi da Silva e Gilza Maria Zauhy Garms Segundo Silva e Garms (2011), a Educação Infantil e sua legislação sofreram alterações significativas que propiciaram importantes evoluções na forma de pensar-se o estudante: Hoje não concebemos mais a criança como um adulto em miniatura. O discurso proclamado é o da criança como sujeito de direitos, que interage com o mundo através de diferentes linguagens, descobrindo novos conhecimentos e construindo sua identidade (p. 225). Grandes evoluções ocorreram também na forma de se avaliar o desenvolvimento e a construção de conhecimentos de cada uma das crianças. Passou-se a pensar na individualidade de cada estudante, e na forma como cada um interage com o conhecimento. A parte dos procedimentos oficiais de avaliação que nos valerá na oficina para acompanhar o desenvolvimento das crianças são determinados pelo artigo 10 da Resolução CNE/CEB nº 5 (BRASIL, 2009): I – a observação crítica e criativa das atividades, das brincadeiras e interações das crianças no cotidiano; II – utilização de múltiplos registros realizados por adultos e crianças (relatórios, fotografias, desenhos, álbuns, etc.); III – a continuidade dos processos de aprendizagens por meio da criação de estratégias adequadas aos diferentes momentos de transição vividos pela criança (transição casa/instituição de Educação Infantil, transições no interior da instituição, transição creche/pré-escola e transição pré-escola/Ensino Fundamental); Para Silva e Garms (2011), “trata-se de uma concepção diferenciada de avaliação que, longe de reprovar ou aprovar, preocupa-se com a observação, que é registrada e analisada pelos profissionais, tendo em vista a construção do conhecimento pela criança”. O texto escrito por Silva e Garms (2011) também é bastante efusivo no que tange à evolução na formação dos professores que foram encarregados, ao longo do tempo, ao cuidado e ensino nos níveis da educação infantil. A pesquisa aponta que houve uma evolução positiva bastante significativa na formação dos profissionais que atuam a área, que passaram de uma maioria que tinha formação apenas no ensino fundamental para uma maioria atual que possui formação em magistério e em nível superior. Nas últimos décadas, a visão sobre as instituições de educação infantil também tem sido alterada, inclusive pelas necessidades e demandas da própria sociedade aliadas aos novos conhecimentos de diversos áreas como a Psicologia, Antropologia, Sociolinguística e Neurologia (SILVA; GARMS, 2011, p. 225). Ainda segundo o texto supracitado, a educação infantil já foi voltada somente para a educação dos pobres cujas mães tinham necessidade de trabalhar em turno integral, já hoje a educação infantil está evoluindo para um preparo para o ensino fundamental, independente da classe social. Princípios metodológicos e conceitos de embasamento teórico Na primeira aula da oficina tivemos inicialmente uma conversa com os estudantes, de modo que pudéssemos conhecer seus nomes, suas idades, seus gostos musicais e suas expectativas para com a aula de música. Já havíamos feito observações prévias da turma, portanto já conhecíamos algumas particularidades. Seus gostos musicais envolvem músicas de filmes e desenhos musicais infantis, entre outros artistas cuja classificação etária de suas músicas não são infantis, mas que fazem muito sucesso em todas as idades. Subtil (2007) ressalta a necessidade de escolarizar o conteúdo midiático, incluindo nesta escolarização o escopo da preferência musical, constituindo parte do papel da escola auxiliar os alunos a realizar uma leitura crítica destes meios. Atrelada à preferência musical está o que diz Souza (2008) sobre a valorização do gosto musical do estudante. Ela diz que a música faz parte do dia a dia dos alunos, portanto não pode ser separada do contexto escolar. Neste sentido, a música é importante também na formação das identidades. Souza apoia, na aula de música, a utilização das mídias, que podem propiciar diferentes ferramentas que agreguem significado às aulas. Quanto à valorização da identidade, há também o importante conceito de cultura experiencial trazido por Pérez Gómez (2001), que diz que cada pessoa possui um modo diferente de ver o mundo, pois as experiências de cada pessoa são diferentes. Por esta razão, a cultura experiencial de cada pessoa é diferente, e necessita ser valorizada em sala de aula, para que o estudante se sinta inserido na aula como parte insubstituível. Partindo, então, da realidade de uma turma que ainda não é alfabetizada, devemos pensar em formas diferentes de comunicação, que não pela palavra escrita. Podemos pensar que a música é uma forma de linguagem, capaz de transmitir mensagens e sentimentos (TAVARES, 2008). Até mesmo a forma escrita da música, a partitura, é uma linguagem, já que mostra, para alguém já alfabetizado nesta linguagem, formas de se executar determinada composição. Considerando-se a idade dos estudantes, devemos considerar também o estádio de desenvolvimento pelo qual estão passando, que inicia, em média, aos 02 anos e termina aos 07, onde Piaget “conclui que não é a linguagem que dá origem ao pensamento, mas sim a capacidade de pensar que dá origem à linguagem” (MARQUES, 2008, p. 8). Portanto, se pode perceber que o fato da turma não estar alfabetizada, por não estar idade para tanto, no sistema de ensino brasileiro, não é um agente comprometedor para o aprendizado musical, pois para a própria linguagem da música é necessária uma alfabetização para que se possa compreendê-la. Porém para que se possa aprender linguagem escrita da música, é necessário também perceber cada um dos elementos sonoros que a partitura descreve, pois o pensamento do estudante “é marcado pela intuição, ou seja, baseia-se na percepção imediata da realidade” (MARQUES, 2008, p. 8). Sobre o aprendizado dos elementos sonoros musicais, Dalcroze traz um método que relaciona a música e o movimento, utilizando o corpo como instrumento para compreensão dos sons (ILARI; MATEIRO, 2012). É um importante método para o estudo dos parâmetros sonoros de intensidade, duração, altura e timbre do som, pois permite a experiência corporal, bem como se torna a aula divertida e lúdica, propiciando diversas brincadeiras e atividades a partir da ligação entre som e movimento. Já Swanwick possui uma proposição para a educação musical, que não exclui os ideais anteriores, e possibilita melhoramentos. Swanwick propõe que a educação musical seja realizada sobre alguns pilares, e dentre eles estão a apreciação musical, que é a escuta, a percepção de elementos na música que se está ouvindo; a execução musical, ou seja, o cantar e tocar instrumentos realizando canções existentes e de significado para os estudantes; e o terceiro aqui considerado é a composição musical, importante meio para compreensão da construção musical, do papel dos instrumentos, e de diferentes formatos que se pode dar a uma música no momento da composição e da releitura (DIAS, 2011). A partir de todos estes conceitos metodológicos supracitados, Zagonel (2011) propõe, em seu livro Brincando com música na sala de aula, várias brincadeiras que propiciam a construção do conhecimento de diferentes elementos sonoros, calcados na relação entre o movimento corporal e o som, bem como na execução, na apreciação e na composição musical. Considerações finais Para que possamos atingir nossos objetivos nesta oficina, bem como que consigamos superar as expectativas dos estudantes, é necessário o apoio de todas as partes envolvidas. Na escola, estamos tendo a supervisão e o auxílio da professora e das supervisoras, o que facilita o trabalho. Os estudantes da turma estão extremamente animados com a possibilidade de novos aprendizados, animação essa que nos faz querer dar o melhor de nós para que nosso trabalho seja efetivo. Espera-se que a oficina de musicalização tenha a capacidade de desenvolver a musicalidade dos estudantes envolvidos, bem como que desenvolva o trabalho em grupo, a convivência, a desinibição e a socialização de ideias. Espera-se também que possamos desenvolver nossa prática docente, a partir de aprimoramento teórico e prático sobre a educação e educação musical. REFERÊNCIAS BRASIL. Resolução CNE/CEB nº 5, de 17 de dezembro de 2009. Diário Oficial da União, 17 de dezembro de 2009, Seção I, p18. DIAS, Henrique Guedes. Os PCN – Arte, o Modelo C(L)A(S)P e as ideias de Swanwick: Repensando os referenciais para o ensino da música na escola. 2011. Monografia (Licenciatura Plena em Educação Artística – Habilitação em Música) – Instituto Villa-Lobos, Centro de Letras e Artes, Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro. ILARI, Beatriz; MATEIRO, Teresa (Org.). Pedagogias em educação musical. Curitiba: Intersaberes, 2012. MARQUES, Tania Beatriz Iwaszko. Epistemologia Genética. In: SARMENTO, Dirléia Fanfa; RAPOPORT, Andrea e FOSSATTI, Paulo (orgs). Psicologia e educação: perspectivas teóricas e implicações educacionais. Canoas: Salles, 2008. p.17-26 PÉREZ GÓMEZ, A. J. A cultura escolar na sociedade neoliberal. Porto Alegre: ARTMED, 2001. SILVA, Rosângela Aparecida Galdi. GARMS, Gilza Maria Zauhy. Políticas públicas para educação infantil: construção de um projeto educativo. IN: RIBEIRO, Arilda Inês Miranda et al (Org.). Educação contemporânea: caminhos, obstáculos e travessias. São Paulo: Cultura Acadêmica, 2011, p. 219 - 238. SOUZA, Jusamara (Org.). Aprender e ensinar música no cotidiano. Porto Alegre: Sulina, 2008. SUBTIL, Maria José Dozza. Mídias, músicas e escola: a articulação necessária. Revista da ABEM. Porto Alegre, V. 16, 75-82, mar. 2007. TAVARES, Isis Moura. Linguagem da música. Curitiba: Ibpex, 2008. ZAGONEL, B. Brincando com música na sala de aula: jogos de criação musical usando a voz, o corpo e o movimento. Curitiba: Ibpex, 2011