“Toma tua cruz e segue-me” Walter S. Barbosa “Cada um deve colher o fruto de seus atos”. Teria outro significado a frase crística acima? Além de qualquer influência que os homens possam ter exercido ao traduzir ou reeditar os textos sagrados ao longo dos séculos, sobram intocáveis as frases luminosas que indicam sua origem sobre-humana. Essa é a condição crística exemplificada por Jesus e que cada um de nós traz dentro de si, conforme declaração do apóstolo Paulo: “sofro de novo as dores de parto até que Cristo seja formado em vós”. Na palavra de Jesus, a frase “Sede perfeitos como vosso Pai que está nos céus” também não deixa dúvidas. Temos que chegar à perfeição do Pai, o que só é possível pelo trabalho de eras incontáveis, partindo de um ponto em que Deus já se faz presente o nosso coração - pois nada se desenvolve do nada no contexto do plano evolutivo. Uma sementinha, por mais invisível que seja, é sempre o princípio a ser expandido até alcançar a plenitude que ela traz embutida. Essa é uma regra na natureza e daí o fatalismo da evolução. Deus é a garantia da realização de Seu próprio plano. Nessa trajetória, justificando as leis universais e a sede de liberdade no homem, o livre-arbítrio é fundamental, sob ajuste pela Lei do Carma. Contudo, quem de fato dispõe de livre-arbítrio? Apenas os iluminados, os Santos Seres. Tendo superado a cadeia dos vícios, eles têm a vontade livre, limitando-se, porém, a cumprir a vontade do Pai. Por meio do livre-arbítrio entramos em contato com infinitas possibilidades, fazendo como a criança que na fase oral experimenta tudo que encontra: o brinquedo, a chave do carro da família e outros objetos, que vamos tirando de sua frente. É preciso que o façamos. O bebê humano é o mais dependente e insensato de todos porque não tem a retaguarda da “alma-grupo” que protege os animais. Ele é uma alma individual, Deus em plena autodescoberta, a caminho de desenvolver Sua potência. Mas se o bebê engolir a chave do carro, apesar de nossos cuidados, de nada adianta oferecer nosso corpo para retirá-la: o bebê terá que sofrer a cirurgia, por mais dolorosa que seja. Reproduzindo a imaturidade infantil, engolimos energias indigestas por meio de músicas agressivas à psique, vícios e alimentos impuros ou cruéis que detonam o corpo físico, além de pensamentos de inveja, maledicência, luxúria ou vingança que paralisam e deformam o corpo mental. A dor da cirurgia nos ensinará a pensar diferente, purificando tais energias em direção ao “corpo de luz”: único capaz de entrar no Reino dos Céus. Conseqüência é regeneração e percepção das regras da vida. Um dos efeitos de ignorar isso é praticar verdadeiro “furto consciencial” ao retirar desafios da jornada dos filhos, pensando ajudá-los, mas tornando-os crianças grandes e mimadas. A Lei do Carma, porém, não se engana. Deus não mima suas criaturas até porque vive em seu interior. As leis universais não são, como as humanas, sujeitas a caprichos. Seria sensato admitir para Deus menor sabedoria que a de um pai interessado no crescimento do filho, responsabilizando-o pelo fruto de seus atos? Não. Mas na prática, ao invés de aceitar o esforço que leva à perfeição do Pai, preferimos a ilusão dos atalhos. Assim, ao invés de ler no texto bíblico: “Toma tua cruz e segue-me”, lemos: “Dá-me tua cruz que a levarei”. Vemos o que a mente deseja. Ela é a raposa que guarda o galinheiro. Com as hastes vertical e horizontal simbolizando a união do Espírito com a Matéria, a cruz indica o Criador preso na criatura. É o Cristo em trabalho de parto no ser humano. Querendo atuar de maneira consciente nesse trabalho, acelerando-o, devemos saber que nada substitui a revisão e purificação da vida como Jesus ensinou, além de, naturalmente, aceitar o fruto doce ou amargo de nossas escolhas. Carma não é castigo. É a chance de elevação infinita para Deus. É a própria confiança e dignidade do Pai em nós.