CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL Comissão Episcopal Pastoral para a Animação Bíblico-Catequética 3ª Semana Brasileira de Catequese Itaici-SP, 6 a 11 de outubro de 2009 CATEQUESE COM INTERLOCUTORES DIVERSOS E SITUAÇÕES DIFERENTES Regina Helena Mantovani CNBB/Regional Sul II Introdução As perspectivas da catequese mudaram bastante. Até então as formulações claras e exatas da fé encontravam apoio cultural num mundo homogêneo. Mudanças sociais e culturais provocaram no Brasil de hoje um deslocamento da religião na sociedade. Vivemos num mundo pluralista que rompeu com os pontos de referência da ação catequética, que até então pertenciam à nossa herança cultural. Não é de se estranhar que grande parte da população, inclusive os cristãos, tem aos domingos e dias santos, chances para passear e um incontável número de entretenimento e lazer. Surge aqui, portanto, a necessidade de descobrir a dimensão religiosa do homem moderno, para que surja uma maior excelência na transmissão da mensagem de Jesus Cristo no contexto de hoje, com uma linguagem nova, atualizando e redefinindo nossos métodos catequéticos. Assim, a catequese tem, com certeza, um caminho novo a percorrer. É preciso ensinar o discernimento para ser “discípulo no seguimento”, criando espaços para que o outro se expresse e faça sua própria caminhada. Também é preciso redefinir a situação dos seus interlocutores a partir se seus próprios contextos culturais. Isto pressupõe pensar e viver a Igreja como uma real comunidade de pertença e uma Cristologia que, acima de tudo, “resgate a humanidade” no meio de uma cultura que apresenta graves sintomas de desumanização. Se a cultura é a maneira peculiar de o homem responder aos desafios de sua existência, a catequese aparece como uma urgência para o próprio homem. (1) De quem, afinal, estamos falando? É possível perceber que a situação e a condição de vida das pessoas determinam os sinais característicos de uma catequese que o educador da fé não pode ignorar. Pode-se dizer que cada um exige um particular tipo de catequese, ou seja, cada interlocutor “estabelece” seu próprio modelo de catequese. Os interlocutores podem ser agrupados conforme algumas características: segundo a idade (crianças, adolescentes, jovens, adultos), segundo a cultura (comunidades indígenas, comunidades afro-descendentes, ...), segundo a situação particular de vida (presos, doentes, comunidades urbanas, comunidades rurais, ...). Sob o ponto de vista cristão, os interlocutores pertencem a grupos distintos de pessoas: a) profundamente cristãs, portanto com uma noção de Jesus, um sopro de fé do ambiente; b) que se dizem cristãs, mas de pouca prática religiosa com alguma noção catequética, porém, acrítica;. c) não-crentes, ou indiferentes e hostis, com nenhuma ou muito pouca educação séria de fé; d) de famílias desestruturadas, por morte, separação dos pais e discórdias e/ou ainda, de famílias onde alguns de seus membros não professam a religião católica, não possuem nenhuma ou pertencem a outras religiões. 1 (2) Influências no processo catequético - Do ambiente: O nível de vida proporciona aos interlocutores de melhor situação econômica a abundância de melhores materiais, meios audiovisuais de aprendizagem e uma variedade de divertimentos, tais como: revistas, cinema, televisão, internet... Todos vistos como vantagens. Por outro lado, a mentalidade que se acentua, de valores de conforto, de prazer e, juntamente, a organização ou desorganização que se cria pela forma com que se usam desses meios trazem desvantagens, sob o plano reconhecido como essencial ao seu desenvolvimento: abertura pessoal ao outro. A moderna civilização submete as pessoas a um bombardeio de imagens e de sons que lutam entre si num excessivo ritmo de velocidade. Isto as torna incapazes de serem sensíveis e assimilarem as experiências de valores mais elevados que lhes são oferecidas. A multiplicação das possibilidades de recreação e férias, a freqüente troca dos objetos de uso corrente por outros que a cada dia são oferecidos como imprescindíveis, impede-os de se familiarizarem com um ambiente físico estável. - Da família: A família sempre deverá ser a primeira educadora da fé. Na realidade, hoje, muitos lares não desempenham este papel e não se apresentam como verdadeiras “igrejas domésticas”. Mas, não se pode deixar de insistir. Daí a necessidade da formação periodica dos adultos onde se possa, com eles: discutir o programa catequético que é oferecido; avaliar a sua caminhada de fé e em que medida “vivem” em família a mesma proposta de fé; oferecer entretenimento e alguns momentos de oração, festa, de troca de idéias; orientar a respeito da ação que poderão desenvolver junto aos casais em crise, aos lares desfeitos, aos sem-família... - Da comunidade: Para a educação da fé é necessário que criemos em torno das pessoas um conjunto de oportunidades, para que sua iniciação não se limite à freqüência da catequese ou à preparação dos sacramentos. É indispensável um ambiente, uma comunidade de adultos que, testemunhando sua fé, dê respaldo e acompanhe o crescimento espiritual dos “menores” na fé. É pouco válida uma experiência religiosa que não venha a encontrar um confronto visível numa comunidade que não se põe a ouvir a Palavra de Deus e a confrontar continuamente com a vida; onde a Palavra de Deus não é vivida na fraternidade, na acolhida, no compromisso comunitário... Aí não existe verdadeira transmissão da mensagem, não há verdadeiro crescimento na fé. (cf. CT 1974/1). (3) Pontos-chaves da missão catequética - A Cultura É uma exigência inculturar o Evangelho, entendido como um processo que conduz “o ensinamento catequético a se encarnar nas diferentes culturas”. É um dos maiores desafios para a plena evangelização. Uma correta inculturação há de considerar a evolução das sociedades onde o Evangelho é pregado, bem como os critérios “de compatibilidade como a mensagem cristã e a comunhão com a Igreja universal”... do contrário ela conduzirá a sincretismos ( EN) 2 - O diálogo Visto como atitude de todos para com todos, o diálogo é definido como uma práxis, ou seja, como uma forma natural de procedimento na comunidade. Deve abranger as confissões cristãs, as religiões tradicionais como a africana, a indígena, a mulçumana e outras, assim como, as pessoas em situações particulares de vida, em relações de acolhida e de mútua confiança. - O princípio de justiça e paz Na linha do desenvolvimento humano integral – do homem todo e de todo homem -, a começar pelos mais pobres e marginalizados, há de se promover a pessoa devolvendo-lhe a dignidade como ser humano, libertando-a das condições infra-humanas de vida contrárias ao Evangelho. A evangelização e, por extensão, a catequese tem um múnus profético que se manifesta, seja na denúncia de tudo o que desumaniza a pessoa humana, seja de ordem espiritual ou material. - Os MCS Deus é comunicação e em Cristo fez-se Palavra decisiva para as pessoas humanas, reatando as relações com Deus e as dos homens entre si. Cabe à catequese continuar a anunciar Jesus Cristo e o projeto do Pai na linguagem de hoje. Os MCS estão a serviço da comunicação como meio necessário. É preciso, de um lado, possuir o estilo dos mesmos e, do outro, preparar os interlocutores para acolher as informações fornecidas por tais meios com discernimento e espírito crítico. Porém, é de suma importância não perder a característica da tradição oral e retirar a obrigação de falar, de pregar, de não querer calar... (4) Catequese e Iniciação Cristã 1- A redescoberta da Iniciação Cristã (CT 37) como caminhada de fé, ajuda a comunidade a tomar consciência de que todos, não só as crianças, mas, também os adultos, se acham em situação de catecumenato permanente e que é um caminho que todos devem percorrer juntos. Neste processo de amadurecimento da fé, a comunidade não entra somente como educadora da fé da criança, mas, como comunidade de fé que cresce, que se redescobre e se converte, num dinamismo que assume as características de catequese permanente. 2- Enfoque centrado na descoberta de Jesus Cristo, em sintonia com a sua experiência, descobrindo Nele o Filho do Pai e recebendo, do Pai e do Filho, o dom do Espírito Santo. Este enfoque permite a experiência de descoberta de si, do outro, do mundo; tendo como objetivo a iniciação à vida cristã, o encontro com Jesus Cristo que é o dínamo propulsor da vida, por ser Ele Filho do Pai, que transforma o mundo na força do Espírito Santo. 3- Organização da Iniciação Cristã centrada em Jesus Cristo a) Tudo é nosso: leva o “eterno” interlocutor a fazer a experiência de si, do outro, da comunidade. b) Nós somos de Cristo: aproximam as experiências significativas de Jesus Cristo, análogas às suas próprias experiências. c) Cristo é do Pai: leva a descobrir a Deus, como Pai de Jesus Cristo. d) O Pai, por seu Filho Jesus, nos dá o Espírito Santo: leva-os a acolher na alegria, na dor, na adoração, no louvor, o dom do Espírito Santo que o Pai propicia por seu filho Jesus. Assim, a catequese deve proporcionar um verdadeiro catecumenato, adaptado nas dimensões da idade de cada um, do grau de educação recebida, da situação em que vive, de sua inserção na comunidade de fé. Como catecumenato, esta catequese segue uma dinâmica gradual, progressiva, segundo metas especiais, das quais depois se ramificam outras metas, com base nas experiências da comunidade eclesial local. 3 É preciso assegurar uma educação permanente da fé, pois a vivência dos sacramentos supõe o início desta fé, não somente válida, visível e compreensível, porém, a fé das pessoas deve ser uma resposta ininterrupta aos contínuos apelos de Deus. (5) Urgências e desafios que interpelam a Igreja Na exigência de uma catequese autêntica e testemunhal: É urgente: - assumir a cultura do povo; superar as divisões que impedem a vivência cristã; estar atenta e cuidar das vocações; refletir sobre os graves problemas políticos, tais como a pobreza, a exclusão ... avaliar a presença dos MCS na vida e na cultura do povo. É desafiante: {formação} Preparar catequistas mediante um sério programa de formação, levando-os a aprofundar a fé e a dar testemunho da mesma com palavras e atos; {inculturação} Agir dentro de um processo de inculturação, que vise construir uma comunidade reconciliada, procurando mudar as leis da força por leis inspiradas no amor. {a família} A família precisa ser evangelizada, recuperando a função do homem e da mulher dentro do núcleo familiar. É preciso reconhecer que sua função vai além da vivência do casal e dos filhos. É a primeira escola do desenvolvimento social. {o testemunho} O testemunho é o elemento central da ação da Igreja feita de conversão diária. Um dos sinais desta conversão é a inculturação da fé pelos valores positivos. Viver em harmonia com a fé cristã, a começar pelas estruturas eclesiais, como forma de tornar credível o anúncio do Evangelho. Devolver a esperança aos jovens, recolocar os deslocados, recuperar a dignidade da mulher... Seguir Cristo, comunicando-o através dos meios tradicionais, bem como através dos MCS. (6) As respostas aos desafios - a graça de Deus, que age no povo em sua totalidade. Este povo precisa ser preparado, motivado e reforçado em sua ação; - a formação de presbíteros, os de vida religiosa e leigos plenamente conscientes de sua ação para atuarem junto ao Povo de Deus. (7) Questão instigadora a uma reflexão: Até que ponto a redescoberta da Iniciação Cristã pode contribuir como facilitadora da experiência de Jesus Cristo, com os diferentes interlocutores e situações na Catequese de hoje? Maringá, setembro de 2009. 4