22 O desmatamento, a subjugação dos povos, a opressão, a destruição ambiental acabam modificando as relações entre o homem africano e sua natureza, assim como suas relações sociais, políticas e econômicas. As conseqüências do desequilíbrio ambiental, unidas a fatores determinantes, ocasionaram com certeza a liberação de organismos confinados em reinos naturais, desencadeando, assim, a propagação de doenças antes desconhecidas à maior parte da humanidade ou talvez nenhuma. 3.1 CENTROS PANDÊMICOS Com certeza, o continente africano mostra-se, na atualidade, como o epicentro da pandemia da AIDS. Porém, hoje, pode-se destacar que, quase todas as grandes metrópoles do mundo, aparecem como centros da pandemia. Fatores ligados a pobreza, miséria geral das populações, falta de informações, baixa escolaridade, prostituição, promiscuidade, a falsa ilusão de que, com o tratamento do coquetel anti HIV, não há necessidade de prevenir-se são as principais formas de propagação do vírus. Evidentemente, a AIDS convive com o ser humano. Não se pode localizar os centros pandêmicos por seus climas, seus ambientes próprios, suas questões políticas, pois, geográfica, médica e cientificamente, não há determinado local onde o vírus dissemina-se por causa destas variáveis. 23 3.1.1 A AIDS NA ÁFRICA A pobreza, a falta de informação e as guerras produziram uma espécie de bomba de efeito retardado que está dizimando a África. Nas duas últimas décadas, a AIDS matou 17 milhões de pessoas no continente, quase tanto quanto catástrofes históricas, como a gripe espanhola do século passado (20 milhões) e a peste negra, na Idade Média ( 25 milhões). De cada três infectados pela AIDS no planeta, dois vivem na África. Enquanto na Europa, nos Estados Unidos e mesmo no Brasil, as campanhas de prevenção e novas drogas têm conseguido deter a epidemia e prolongar a vida de portadores do HIV, para os africanos contaminados praticamente não há esperanças. A cada minuto, 8 novos doentes surgem no continente. Na África subsaariana, a mais afetada do mundo, o número de pessoas infectadas com HIV, subiu para 25,3 milhões, no ano de 2000, segundo um relatório do Programa das Organizações das Nações Unidas para a AIDS ( UNAIDS). Em conseqüência da doença, a expectativa média de vida de algumas nações recuou em até 17 anos – sobretudo no Sul da África, em países como Zimbabwe que convive com índices de contaminação de 25% da população. Por causa da devastação causada pela doença, nos próximos cinco anos, a expectativa de vida no continente deve retroceder aos níveis dos anos 1960, caindo de 59 para 45 anos, em média. A África do Sul, que marcou a historia da Medicina ao realizar o primeiro transplante de coração, em 1967, tem hoje 4,2 milhões de pessoas infectadas – o país com o maior número de casos de soropositivos no mundo. No país, a incidência de estupros é epidêmica como a própria síndrome, e as duas estão vinculadas. Em certas regiões, cultiva-se a lenda de que um portador 24 do HIV pode curar-se ao violentar uma virgem. Oficialmente, ocorrem 50.000 estupros por ano, a estimativas de que esse número seja superior a 1 milhão. 3.1.2 AIDS NA AMÉRICA DO NORTE A AIDS foi identificada primeiramente, nos Estados Unidos, em 1981. Deste lá os números crescem em proporções astronômicas. O governo norte americano empreende centenas de milhares de dólares em pesquisas anuais, em combate e prevenção ao vírus HIV. A University of Alabama and Birmigham são pontos de referências em pesquisas de descobertas de novas drogas, contra as mutações do vírus. Mesmo assim, os Estados Unidos enfrentam um problema sério, quando trata-se do assunto do HIV, pois muitas pessoas, achandose imunizados pelo coquetel anti HIV, não utilizam-se da prevenção necessária para que não se contraia o vírus (São Francisco, Califórnia, Philadelphia). No quadro abaixo, podemos observar os números dos casos de AIDS nos Estados Unidos, que teve um crescimento significativo desde o início da década de 1990 até o ano de 2000. 2000 920.000 1997 400.000 1994 200.000 1991 1987 720.000 36.000 1984 7.000 1983 3.000 Gráfico 1. AIDS nos EUA. Fonte: Organização Mundial da Saúde. 2000. 25 3.1.3 AIDS NA EUROPA A Europa também conta com centros da pandemia da AIDS, principalmente na França, Noruega, Inglaterra, Áustria. Porém, os números de disseminação do HIV, têm caído consideravelmente nos últimos 5 anos, devido ao “bombardeiro” de campanhas de prevenção e conscientização da população. Acredita-se hoje que a Europa tenha 890.000 portadores do HIV/AIDS e, menos da metade destes, desenvolveram a doença. Pesquisas e estudos concentram-se principalmente entre Itália, França e Inglaterra. Algumas das principais instituições de estudos são o Intitute Pasteur (França) e o Departament of Biology of the University of the Oxford (Inglaterra). Neste continente, existem países que admitem a eutanásia ativa com o suicídio assistido, o que na maioria dos países do mundo não se cogita. 3.1.4 A OCEANIA, A ÁSIA E O ORIENTE MÉDIO A despeito dos outros continentes, a Oceania é quem apresenta o menor número de casos de HIV do Mundo, oficialmente registrados 15.000, onde os portadores recebem de seu governo incentivos para que possam levar vida normal, não sendo a AIDS, uma sombra constante, como ocorre em outras localidades do planisfério. O Oriente Médio também apresenta uma taxa relativamente baixa de número de casos de portadores de HIV, em torno de 350.000 casos registrados. Campanhas de prevenção também são feitas nestes países, porém, muitas vezes questões culturais daqueles povos impeçam um 26 maior esclarecimento. De fato, existem pesquisas importantíssimas que são desenvolvidas nessas regiões. A Ásia Central e do Leste conta com um número oficial de 990.000 mil casos de portadores de HIV/AIDS. Países como a China e a Índia tentam manter um controle de prevenção rigoroso, pelo fato da superpopulação de seus territórios. Porém, as ilhas asiáticas, como Hong Kong , Tailândia e outras, onde o número de casos de prostituição é excepcional, a AIDS acompanha tais números. 3.1.5 AIDS NO BRASIL, AMÉRICA LATINA E CARIBE Conforme verificado, a AIDS surge no Brasil, por volta de 1982-83, assim como nos países da América Latina e Caribe. Desde essa data, os números cresceram rapidamente. Acredita-se, hoje, que a América Latina possua 1,4 milhões de portadores do HIV/AIDS; o Caribe, em torno de 390 mil, e o Brasil, 540 mil casos. Nessas três regiões, têm-se constatado o aumento do número de casos de HIV em indivíduos do sexo feminino e jovens a partir dos 15 anos, pelo fato da vida sexual, tanto masculina quanto feminina, iniciar-se muito cedo. Em nível de prevenção, tanto Brasil, Caribe quanto o restante da América Latina investem taxas percentuais consideráveis de seus PIBs, no controle e combate à AIDS. Outro fator determinante a essas regiões, são as condições de vida de determinados centros urbanos, a baixa escolaridade, ocasionando a falta de informação e o desinteresse pelo quadro; e alguns elementos constantes também na África, como o enfraquecimento do corpo dos indivíduos, causados pela miséria e fome. 27 O Brasil aumentou o número de pacientes que recebem o coquetel anti HIV, em 49%, nos dois últimos anos, segundo dados do Ministério da Saúde do país. Também há pesquisas indicando uma melhora de vida cotidiana aos soropositivos. Vale lembrar que, em 1996, ocorreu o Iº Congresso Brasileiro de Prevenção das DST (doenças sexualmente transmissíveis) e AIDS, em Salvador, no Estado da Bahia, onde começaram, então, uma maior abertura social a questão do HIV, tentando conscientizar as populações do país quanto aos riscos da AIDS. No ano de 2000, ocorreu no Rio de Janeiro, o Iº Fórum e IIª Conferência de Cooperação Técnica Horizontal da América Latina e do Caribe em HIV/AIDS e DST ( a origem deste tratado de cooperação, teve base em 1995, quando países desse bloco assinaram uma cooperação mútua). Mais recentemente, no Brasil foram custeadas pesquisas de novas drogas em combate a AIDS, ocasionando a descoberta da fórmula de determinados medicamentos, já existentes no mercado, porém, com um preço reduzido em mais de 35%. Isto não gerou uma boa visão do Brasil pelos grupos farmacêuticos americanos e europeus, que recorreram a Organização das Nações Unidas, exigindo seus direitos de patente. Todavia, a ONU entendeu o desenvolvimento das drogas como um passo importante na busca da cura do vírus e autorizou o Brasil a comercialização do produto. Com isso, o Brasil assinou em 2001, tratados de cooperação com países africanos, a fim de auxiliá-los no combate à doença: governo “Para desespero das grandes multinacionais farmacêuticas, o brasileiro assinou convênios de cooperação com Angola, 28 Moçambique, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe. A ajuda inclui a transferência de tecnologia para a fabricação de medicamentos, treinamento no controle de qualidade de matérias-primas e orientação para administração correta do tratamento. A guerra de patentes está em vigor na África do Sul. Os grandes laboratórios estão processando o governo, em uma tentativa de impedir a compra de medicamentos genéricos de outros países, como o Brasil e a Índia. As indústrias queixam-se de que o desrespeito às patentes causa prejuízos anuais de milhões de dólares. A África do Sul, Brasil, a Índia e principalmente os portadores do HIV/AIDS conquistaram uma vitória em novembro de 2001, quando o Laboratório Merck (um dos líderes do mercado de medicamentos à AIDS), reduziu os preços dos seus medicamentos” (Zero Hora 12/03/01 - pg. 04/05).