semana santa - domingo de ramos – ano a

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SEMANA SANTA – QUINTA-FEIRA SANTA – ANO A, B, C
PROPOSTA DE REFLEXÃO
TENDO AMADO OS SEUS, AMOU-OS ATÉ O FIM!
Iniciamos hoje o tríduo pascal. Jesus celebra a Páscoa com seus discípulos. É a sua última ceia: não há um cordeiro sacrificado, dá um novo
significado para ao pão e ao vinho (torna-se seu corpo e sangue substituindo o cordeiro assado), institui o sacerdócio e lava os pés dos discípulos (cf.
Jo 13, 1-11; Mc 14, 22-25; Lc, 21,14-20). Tudo faz parte de uma unidade que significa amor, entrega, disponibilidade, serviço. Com o rito do “lavapés” cada discípulo de Jesus é chamado a renovar seu compromisso de ser servidor dos outros, sobretudo dos mais pobres, à imagem e semelhança
de Jesus. Através da instituição da Eucaristia Jesus concretiza seu desejo de estar sempre presente entre nós em forma de pão. Quem ama,
alimenta.
1ª. LEITURA: Êxodo 12,1-8.11-14 – A PÁSCOA DOS JUDEUS, MEMORIAL DA LIBERTAÇÃO
O fim da escravidão no Egito foi o maior evento da história do povo judeu. Sensivelmente religiosos, os hebreus reconheceram que um
evento de tal natureza não podia ser fruto do puro atrevimento humano (cf. Ex 14). A derrota da escravidão era uma intervenção divina
(Ex 3,7-9). Para que o povo conservasse em seu coração o senso de gratidão, Javé tomou iniciativa de marcar para o povo um tempo
oportuno para que, todo ano, fosse feita a celebração da memória (recordação) desse acontecimento, de geração em geração (cf. Ex
12,1.14), em sinal de eterna gratidão. Sem memória da páscoa, ou seja, da passagem da escravidão para a libertação, não haveria
gratidão e nem compromisso com o futuro! Tudo poderia ser esquecido! A celebração da Ceia pascal Judaica, tinha algumas
características bem precisas, tais como: a) Era um evento essencialmente comunitário tendo a família como sujeito animador e centro a
ser beneficiada. A gratidão a Deus pela libertação deveria ser celebrada dentro da família, ninguém poderia estar excluído; e para que o
senso comunitário fosse mais evidente, se aconselhava que as famílias com poucas pessoas se juntassem. Aqui a família aparece
como célula alimentadora da fé (cf. Ex 12, 2-3). b) O ritual da celebração da páscoa é rica de elementos simbólicos: o cordeiro (cf. Ex
5,5) sacrificado e assado, devia ser sem defeito e de um ano de idade; o cordeiro era a vítima ofertada a Deus e seu sangue era
aspergido nos portais das casas (cf. Ex. 12,7.13). O cordeiro representava a mais comum e nobre oferta em profunda sintonia com a
cultura pastoril; o sangue significava vida (cf. Gn 9,5; Lv 17,10-14). A crença era simples: o bom sacrifício (sem defeito e maduro),
preserva a vida e sua dignidade. Para os hebreus tirar o sangue de alguém representava atentar contra Deus, o Senhor da Vida; mas
derramar sangue ao pé do altar significava celebrar o regresso da vida a Deus (cf. Ex 29,12; Lv 17,3-14; Ez 39,11-19). Os portais
marcados com o sangue do cordeiro pascal, significava a proteção divina em virtude da comunhão com Deus mantida pela família que
lá habitava; o pão sem fermento era outro elemento simbólico (Ex 12,8) – havia um costume dos povos primitivos de comer pães sem
fermento no início da nova colheita. O fermento representava um elemento conservante da antiga produção. Para os judeus, comer
pães sem fermentos, representava o gesto simbólico de viverem uma nova vida, sem escravidão. Toda a estrutura opressora do
passado deveria desaparecer; as ervas amargas (cf. Ex 12,8), também a serem ingeridas, representavam os sofrimentos padecidos, o
fragelo da escravidão, a angústia da falta de liberdade e a humilhação sentida pelos maus tratos recebidos. Todo esse ritual, muito
concreto, tinha uma intenção: fazer o povo recordar o passado, fortalecer suas convicções no presente e alimentar o futuro de acordo
com a vontade de Deus. c) O modo de comer era outra exigência que merece comentário: a celebração da ceia, que não era um
simples jantar festivo; devia ser celebrada pelos fiéis com uma atitude comprometedora: deviam comer às pressas, com cintos na
cintura, sandálias nos pés e cajado na mão. Isso significava que a celebração que faziam, mais que reunião festiva para comerem e
beberem, representava a retomada de compromisso de estarem sempre numa atitude contínua e vigilante de predisposição para a
libertação. A libertação, na verdade, não é somente algo do passado, mas é um compromisso a ser assumido cotidianamente que
compromete o futuro (cf. Ex 12,11).
Nossa Vida:
Parece ser muito clara e insistente a idéia de que, sem memória não há gratidão. Deus conhece o coração humano. Quando facilmente
esquecemos os benefícios recebidos, em conseqüência, não assumimos uma atitude de gratidão e reconhecimento da bondade que
nos promoveu. Se a memória de dons recebidos gera gratidão, esta por sua vez, promove o compromisso. Para Deus, a verdadeira
gratidão é compromisso (envolvimento) com a sua bondade. Quem recebe um benefício deve convertê-lo em compromisso a ser vivido
com os outros. Quem por Deus foi libertado, liberte os outros; quem foi perdoado, perdoe os outros; quem foi protegido, proteja os
outros; quem foi compreendido, compreenda os outros; e assim por diante. Os elementos simbólicos do ritual da celebração da páscoa,
têm uma função pedagógica seja no sentido de fazer memória do passado como também de comprometer o futuro. Para o fiel judeu,
celebrar a páscoa significava compromisso com a vida comunitária, renovação do pacto com a liberdade responsável e da pronta
obediência a Deus.
SALMO 116: este é um salmo de ação de graças em que o salmista revela sua gratidão a Deus porque ouviu o seu clamor no dia em
que o invocou (Sl 116,1-4.8). Dessa forma Deus manifestou-se como justo, clemente, compassivo, bondoso e protetor dos pobres (cf. Sl
116,5-8). Diante das graças recebidas o salmista medita sobre como retribuir ao Senhor Deus por todas essas graças (cf. Sl 116,12).
Então afirma decidido: oferecer sacrifícios ao Senhor, cumprir suas promessas publicamente no templo e conservar uma consciência de
servo (cf. Sl 116,9-19).
2ª. LEITURA: 1Coríntios 11,23-26 - EUCARISTIA E COERÊNCIA
O breve texto desta primeira leitura é o mais antigo relato sobre a Eucaristia (do ano 56 d.C). O texto é uma resposta ao problema do
esvaziamento do significado da Eucaristia presente na comunidade de Corinto. Essa comunidade vivia sérios problemas internos:
divisão, disputas, exclusão, rixas, embriaguez, etc. (cf. 1Cor 11, 17-19) e, no entanto, celebravam tranquilamente a Eucaristia. Paulo
acusa: celebrar a Eucaristia nesse clima era uma grande incoerência. Lembra-lhes que as palavras de Jesus significam um sério
compromisso de comunhão com Ele, gerar mudança de vida pessoal capaz de nos levar ao senso de fraternidade. Sem compromisso
moral com o presente e nem com o futuro, a comunidade de Corinto corria o risco de transformar a Eucaristia num mero ritual simbólico
do passado. Muito mais que isso, a Eucaristia é celebração da presença viva de Jesus. Fazer memória é torná-lo vivo outra vez e, com
Ele, renovar os compromissos de ser discípulo. A Eucaristia, à diferença da páscoa antiga, é a celebração da Nova Aliança (cf. 1Cor
11,25), isto é, pacto de Amor que renova as relações humanas e gera uma nova humanidade, um novo mundo onde as relações se
baseiam na prática da fraternidade, da partilha, da solidariedade, da comunhão, do perdão, da obediência. Paulo faz ao final, um sério
convite comunitário ao exame de consciência (cf. 1Cor 11,29). Assim como o comer a páscoa (cordeiro assado) representava
responsabilidade futura, também com a Celebração da Nova Páscoa, a Eucaristia, o fiel assume um sério compromisso com o presente
e o futuro: “todas as vezes que vocês comem deste pão e bebem deste cálice, estão anunciando a morte do Senhor, até que ele venha”
(cf. 1Cor 11,26). Anunciar a morte não significa falar do que aconteceu com Jesus, mas estreitar a comunhão consigo, assumir
decididamente ser promotor do Reino de Deus e assumindo, com perseverança, suas consequências.
Nossa Vida:
Muitos católicos reivindicam o direito de entrarem na fila da distribuição da Eucaristia, mas nem sempre compreendem o que significa e,
portanto, não percebem suas exigências. Mas querem, porque querem... porque se sentem excluídos! Todavia, a Eucaristia não é um
simples direito, mas é um Dom; não é um preceito para todo fiel na situação espiritual em que se encontra, mas é o compromisso da
fraternidade já assumida é a meta da comunhão fraterna a ser buscada; não um rito que gera status (privilégio), mas é um dever que se
assume; a Eucaristia não é um momento litúrgico, mas é a espiritualidade de total comunhão com Cristo já abraçada e alimentada; a
Eucaristia é como que uma assinatura espiritual, portanto, um contrato moral pessoal que é assumido pela pessoa. Diante disso, o
gesto de “comer e de beber”, significa comunhão com a pessoa e os ensinamentos de Jesus. Sem essa perspectiva de compromisso,
que é o caso denunciado por Paulo na comunidade de Corinto, corre-se o perigo da promoção do esvaziamento moral desse
sacramento. Ou seja, falta de compromisso. Paulo nos recorda que esse Banquete Sagrado não é ato simbólico e nem um estéril
memorial do passado, mas a atualização do mistério da Páscoa de Jesus no qual renovamos nossa fidelidade de promoção criativa e
dinâmica da Nova Aliança. Sim, somos todos pecadores, mas isso não justifica a hipocrisia que forja uma ilusória harmonia entre amor e
ódio, fé e desonestidade, piedade e violência contra os outros, veneração ao mistério de Deus e prática da corrupção e da injustiça
contra os outros; diálogo com Jesus e negação da palavra ao irmão (estar de mal com o outro!).
EVANGELHO: João 13,1-15 – AMOR E SERVIÇO CAMINHAM JUNTOS
O evangelista João nos relata antes de tudo, a autoconsciência de Jesus: ele a sabia que era chegada a “hora de passar deste mundo
para o Pai” (Jo 13,1); ele era consciente que “tinha amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim” (Jo 13,1); ele sabia que
um de seus discípulos tinha se tornado servo do diabo aceitando sua proposta homicida (cf. Jo 13,2); ele sabia que o Pai tinha colocado
tudo em suas mãos; ele sabia que tinha saído de junto de Deus e que estava voltando para Deus (cf. Jo 13,3). Com essa moldura muito
significativa, que descreve a total autoconsciência de Jesus, o seu gesto e discurso ganham uma força ainda maior, pois é um dos mais
significativos gestos de sua despedida. Jesus tem plena consciência de sua história, das ameaças que sofre, pressente sua morte e
promove nessa reunião fraterna e sincera com seus discípulos; deixa-lhes seu testamento espiritual no qual apresenta aos discípulos
seus sentimentos, suas preocupações e seus conselhos. Sua vida era exemplar para tudo, mas pedagogicamente, Jesus optou por
ainda por mais clareza através de um gesto único no qual evidenciava ser o Mestre, o Senhor e o Servo por excelência lavando os pés
dos seus discípulos (cf. Jo 13,13-14). Assumindo uma atitude de servo e tratando seus discípulos como senhores, ele se levanta da
mesa (os senhores sentados, eram servidos por seus servos); Jesus tira o manto, gesto que significa a necessidade de despojar-se de
regalias e privilégios para poder descer à condição do outro e servi-lo (encarnação - cf. Jo 13,4). Preparando a água para lavar os pés
dos seus discípulos Jesus os acolhe profundamente e ao mesmo tempo assume uma atitude de servo dos mesmos (cf. Jo 13,5). Mas
Pedro, de temperamento primário como era, questiona essa atitude de Jesus e não aceita que Jesus lave seus pés e disse: «Senhor, tu
vais lavar os meus pés?» (Jo 13,6). Jesus o reprova: «Se eu não o lavar, você não terá parte comigo» (Jo 13,8). Com essa magnífica
resposta que fez Pedro mudar completamente seu parecer, Jesus alerta seus discípulos para importância da reciprocidade de serviço:
“você devem lavar os pés uns dos outros” (Jo 13,14). Quem serve, também deve ser suficientemente humildade para ser servido. Jesus
indiretamente nos alerta para o perigo do orgulho de sempre só querermos servir, considerando sempre os outros como os
necessitados. Servir também pode ser um gesto de dominação e orgulho.
Nossa Vida:
Ao centro desse gesto de Jesus está a mensagem sobre o serviço e a humildade. Serve quem é humilde e a humildade promove o verdadeiro senso
de serviço caracterizado pela promoção do outro. A humildade, mais que uma virtude, é aqui apresentada nas entrelinhas como uma condição
necessária para se ter a capacidade de “tirar o próprio manto” e vestir o avental (instrumento de serviço). Se não formos capazes de nos despirmos
de nossos status privilegiados, também não seremos capazes de nos abaixar para ir ao encontro das necessidades alheias. Com esse gesto, tão bem
estruturado, Jesus nos quer dizer que para servir não basta ter boa vontade, é necessário preparar-se. Aquele que não consegue sair do seu
“pedestal” e não consegue sair de si, muitas vezes não o faz por causa da sua ignorância. Não há somente a ignorância cultural, há também, bem
mais profunda e que traz conseqüências mais graves, a ignorância psico-afetiva, ou seja, aquela da indiferença aos outros por que a pessoa não foi
educada, sensibilizada, despertada para a alteridade. O ato de servir, de estender a mão ao outro, é um gesto conseqüente da consciência da
significatividade do outro. Isso só é possível quando aprendemos a fazer o exercício da descentralização do nosso “EU”. Mas como já vimos
brevemente, na atitude de Pedro emerge a dimensão ambígua do servir. É possível servir por orgulho, por desejo de grandeza, por senso de
superioridade, por inconsciente desejo de dominação. Quem assume uma postura desse calibre, está considerando o outro como inferior. Por isso
Jesus colocou o critério da reciprocidade. Quem só serve e nunca deixa ser servido, não está aberto para diálogo do serviço.
MENSAGENS e COMPROMISSOS:
1. Sem memória dos dons (bens) recebidos não há senso de gratidão e nem compromisso.
2. A Eucaristia é a celebração da Nova Aliança; é o Alimento Espiritual para quem está disposto a viver a Caridade.
3. Só consegue vestir o avental de servo, quem aprendeu a tirar o manto de nobre.
Antônio de Assis Ribeiro (Pe. Bira)
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