Criticismo O termo criticismo tem origem na palavra alemã Kritizismus e em filosofia representa o método de pensamento próprio do kantismo, a corrente filosófica criada por Immanuel Kant. Immanuel Kant nasceu em Königsberg no dia 22 de abril de 1724. Foi o quarto dos nove filhos de Johann Georg Kant, um artesão fabricante de correias de carroças, e da mulher Regina. Nascido numa família protestante, teve uma educação austera numa escola religiosa, que frequentou graças à intervenção de um pastor. Em sua juventude foi um estudante não muito espetacular, preferindo o bilhar ao estudo. Dizia que uma pessoa não podia saber o que queria da vida antes dos 39 anos. Até essa idade ele era apenas um metafísico menor numa universidade, quando então teve uma breve crise existencial. Após ter sido professor de geografia, em 1755 começou a lecionar Ciências Naturais na universidade. Em 1770 foi nomeado catedrático da Universidade de Königsberg, donde nunca saiu e onde levou uma vida monotona e dedicada somente aos estudos filosóficos. Realizou numerosos trabalhos sobre ciência, física, matemática, etc. Viveu uma vida extremamente regulada: fazia um passeio às 15:30 todas as tardes e era tão pontual que as domésticas das redondezas podiam acertar os relógios por ele. Kant desenvolveu uma síntese entre o Racionalismo de René Descartes e Gottfried Leibniz, onde impera a forma de raciocínio dedutivo, e a tradição empírica inglesa de David Hume, John Locke, ou George Berkeley, que valoriza a indução. Em 1781 publicou o massivo "Crítica da Razão Pura", um dos livros mais importantes e influentes da moderna filosofia. Na obra citada acima desenvolveu a noção de um argumento transcendental mostrando que, apesar de não podermos saber as verdades sobre o mundo "como ele é em si", estamos forçados a perceber e a pensar o mundo de certas formas tendo certeza somente daquilo que nos aparece. O criticismo, também denominado idealismo transcendental afirma que todos nós trazemos formas e conceitos a priori, ou seja, que não provêm da experiência, são anteriores a ela, os quais seriam de outra forma impossíveis de determinar. Também ficou conhecido pela sua filosofia moral e pela proposta moderna de uma teoria da formação do sistema solar. Nos vinte anos seguintes, até 1804 ano de sua morte, Kant foi incessante em sua produção. Completou sua filosofia crítica com a Crítica da Razão Prática, onde tratava da moralidade de forma similar ao modo como a primeira crítica lidava com o conhecimento; além da Crítica do Julgamento, tratando dos vários usos dos nossos poderes mentais: o julgamento estético (Belo, Sublime) e o julgamento teleológico (Construção de coisas com certos "Fins"). Escreveu também alguns ensaios populares tratando sobre história, política e a aplicação da filosofia à vida. Ao morrer, estava trabalhando numa quarta crítica, pois chegou à conclusão que seu sistema estava incompleto. Esta obra foi publicada como Opus Postumum. Kant faleceu em 12 de fevereiro de 1804 em Königsberg, após prolongada doença que apresentava sintomas semelhantes à Doença de Alzheimer. Já não reconhecia sequer os seus amigos íntimos. Na "Crítica da Razão Pura" Kant trabalhou na junção do racionalismo, do empirismo inglês (David Hume) e da ciência física-matemática de Isaac Newton. O ponto de partida do Kantismo são o conhecimento e a ciência, tal como existe. A ciência se utiliza de juízos analíticos e sintéticos. Nos analíticos (o quadrado tem quatro lados e quatro ângulos internos), fundados no princípio de identidade, o predicado aponta um atributo contido no sujeito. Esses juízos são universais e necessários, independentemente da experiência. Os sintéticos são a posteriori, resultam da experiência e coloca sobre o sujeito um atributo que não está contido nele previamente (o calor dilata os corpos ), sendo por isso incertos. "Só a crítica pode cortar pela raiz o materialismo, o fatalismo, o ateísmo, a incredulidade dos espíritos fortes, o fanatismo e a superstição, que se podem tornar nocivos a todos e, por último, também o idealismo e o cepticismo que são, sobretudo, perigosos para as escolas e dificilmente se propagam no público." Kant, Crítica da razão pura, B XXXIV. O livro mais influente e mais lido de Immanuel Kant é a Crítica da Razão Pura, onde se perguntou: “Como são possíveis juízos sintéticos a priori?” Nesta obra ele mostra que tempo e espaço são formas fundamentais de percepção (formas da sensibilidade) que existem como ferramentas da mente, mas que só podem ser usadas na experiência. Procure pensar alguma coisa que exista fora do tempo e sem extensão no espaço. Impossível a mente humana produzir tal idéia. Absolutamente nada pode ser percebido fora destas formas, não podemos conhecer fora do espaço e do tempo. Há também o entendimento, uma faculdade da razão que nos fornece as categorias com as quais podemos operar as sínteses do diverso da experiência. Então, juízos sintéticos a priori são possíveis porque existe a faculdade da razão chamada entendimento que nos fornece categorias a priori (ex.: causa e efeito) permitindo emitir juízos sobre o mundo. Mas as categorias são próprias da experiência, não podendo ser empregadas fora dela. Daí porque não é possível conhecer a coisa em si, mas somente o que está no campo fenomenológico da experiência. O criticismo descreve este método de procurar as condições da possibilidade do nosso conhecimento do mundo. Este método considera que a análise crítica da possibilidade, da origem, do valor, das leis e dos limites do conhecimento racional é o ponto de partida da reflexão filosófica. As teorias da Antiguidade e da Idade Média não colocavam em dúvida a possibilidade de conhecer a realidade tal qual ela é. O Renascimento levou, a partir do século XVII, ao questionamento desta possibilidade do conhecimento. Kant conclui que o conhecimento só é possível pela conjunção das suas fontes: a sensibilidade e o entendimento. A sensibilidade dá a matéria e o entendimento as formas do conhecimento. O criticismo tinha como objetivo principal a crítica das faculdades racionais do homem, no sentido de conhecermos os seus limites. Kant atingiu seu objetivo concluindo a negação da possibilidade de a razão humana conhecer a essência das coisas (númeno). Então, criticismo é a postura que conduz a investigação dos fundamentos e limites do conhecimento como condição para toda e qualquer reflexão filosófica. Segundo esta posição, a pergunta pelo conhecer deve ter primazia sobre a pergunta acerca do ser, uma vez que, sem aquela, não se pode garantir com segurança sobre que base a questão do ser está a ser afirmada. O criticismo pode ser encarado como negação de toda a verdade de todo conhecimento que não tenha sido, previamente, submetido a uma crítica de seus fundamentos. Em outros termos, o criticismo é empregado para denominar a parte da filosofia kantiana que diz respeito à questão do conhecimento, procurando investigar as formas a priori do entendimento. Seu objetivo é determinar o que o entendimento e a razão podem conhecer quando estão livres de qualquer experiência, além de saber quais são os limites deste conhecimento. Obras Crítica da Razão Pura; Crítica da Razão Prática; Crítica do Julgamento; Doutrina do Direito; Fundamentação da Metafísica dos Costumes; Prolegómenos a Toda a Metafísica Futura; Crítica da Faculdade do Juízo; Dissertação sobre a forma e os princípios do mundo sensível e inteligível (1770); Prolegômenos para toda metafísica futura que se apresente como ciência (1783); Fundamentos da metafísica da moral (1785); Primeiros princípios metafísicos da ciência natural (1786); A Religião dentro dos limites da mera razão (1793); A Metafísica da Moral (1797); Antropologia do ponto de vista pragmático (1798).