A sociologia contemporânea caracteriza-se

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A sociologia contemporânea caracteriza-se, sobretudo, por sua tentativa de
superar as dicotomias típicas da sociologia clássica, tais como: indivíduo versus
sociedade; objetivismo versus subjetivismo; explicação versus interpretação; estrutura
versus ação; determinismo versus contingência.
O estrutural-funcionalismo de Parsons e Merton, seguindo uma tradição mais
objetivista em Durkheim, centrada na questão da ordem, opta pelo determinismo
próprio dessa tradição. Embora Parsons evoque Weber na construção de sua teoria geral
da ação, sua ênfase não está nas ações dos indivíduos, como em Weber, mas nas
estruturas que ele concebe de forma sistêmica. A sociedade é composta por sistemas
distintos que atuam para o bom funcionamento do todo. Ainda que privilegie o conceito
de ação, a teoria parsoniana não suplanta as antinomias, já que pende, de forma óbvia,
para as determinações estruturais.
Merton inova ao introduzir a perspectiva do comportamento desviado e da noção
de disfunção. Entretanto, de modo geral, ele também põe sua ênfase sobre as estruturas
em detrimento da liberdade dos indivíduos. O comportamento desviado é produto da
própria organização social, portanto, longe de ameaçar o equilíbrio da estrutura, ele
próprio desempenha uma função, contribuindo para o funcionamento da sociedade.
Contudo, para Merton, quando um sistema ou elementos de sistemas não possuem
plasticidade suficiente para a constante adaptação que o organismo social exige, eles se
tornam disfuncionais, como uma parte do corpo que se encontra doente e ameaça o
desempenho de todo o organismo.
Norbert Elias, com sua proposta de sociologia relacional, avança na
desconstrução da oposição indivíduo e sociedade. Oposição essa que resulta apenas de
construções teóricas, não é factual, já que a sociedade não tem existência independente
dos indivíduos e, estes, por sua vez, são forjados pela sociedade. Apesar de Elias tentar
mostrar a incoerência dessa dicotomia, seus trabalhos revelam uma tendência para as
determinações sociais.
Pierre Bourdieu, também numa proposta de sociologia relacional, procura
sintetizar elementos do conhecimento objetivista e da fenomenologia. Seu esforço para
superar as dicotomias cristaliza-se, especialmente, nos conceitos de campo e habitus.
Assim, o conhecimento praxiológico, defendido pelo autor, propõe que deve se
considerar não somente os sistemas das relações objetivas, como postula o objetivismo,
mas também a relação dialética entre essas estruturas e as disposições estruturadas –
habitus – nas quais elas se atualizam e que tendem a reproduzi-las. Tal relação dialética
seria o duplo processo de interiorização da exterioridade e de exteriorização da
interioridade. Como na teoria Bourdieusiana, o habitus é, primordialmente, reprodução
do que foi internalizado, percebemos, assim, uma tendência de ênfase sobre as
estruturas.
Anthony Giddens, em sua teoria da estruturação, afirma que a estrutura é apenas
uma “ordem virtual”. Assim, os sistemas sociais, que compreendem as atividades dos
agentes humanos, não possuem estruturas, mas propriedades estruturais que, por seu
turno, são o que há de mais estável nas sociedades. As propriedades estruturais mais
profundamente enraizadas, implicadas na reprodução de totalidades sociais, são
chamadas de princípios estruturais.
A dualidade da estrutura -propriedades estruturais dos sistemas e ação - possui
papel central para a construção teórica giddesiana, que não admite oposição. A estrutura
é, concomitantemente, restritiva e facilitadora. Não deve ser entendida como externa aos
indivíduos, no sentido proposto por Durkheim.
O conceito de ação social é fundamental na teoria de Giddens. O autor caracteriza a
ação social por meio de alguns atributos, tais como: racionalidade e reflexividade. A
primeira implica que agir socialmente é agir com certo grau de racionalidade, não
sendo, portanto, simples ato mecânico. A segunda, reflexividade, diz respeito à
capacidade dos indivíduos de serem sujeitos e objetos de sua própria existência. Além
desses atributos, o autor fala de intencionalidade ao discorrer sobre as conseqüências
não premeditadas da ação. Embora a ação seja direcionada por um objetivo, há
elementos da intencionalidade que acontecem de forma indireta ou não premeditada. Na
concepção de Giddens, o agente tem papel de destaque. Ele privilegia a contingência em
detrimento do determinismo. As transformações acontecem por meio da atuação dos
agentes.
A abordagem interacionista e a etnometodologia focam as ações dos indivíduos. O
interacionismo simbólico concentra-se nos significados que os atores conferem às suas
atividades. O mundo social é construído por eles por meio de uma interação constante.
A etnometodologia, por seu turno, com sua tendência à descrição, ressalta a perspectiva
dos sujeitos, procurando evidenciar como as pessoas constroem a realidade social
cotidianamente, elaborando um conhecimento sociológico prático.
Habermas, com sua teoria da ação comunicativa, demonstra um incrível
otimismo acerca da capacidade transformadora dos indivíduos interagentes. Tais
indivíduos têm, segundo ele, a habilidade para coordenar de modo consensual as suas
ações por meio de um entendimento intersubjetivo, que ocorre de forma dialógica,
fundamentada na disposição comum de aceitar os melhores argumentos (razões),
evocados para justificar e legitimar determinados enunciados ou comportamentos.
Diante do que foi posto, vimos que, embora a sociologia contemporânea
empreenda um esforço para a superação das antinomias, esse esforço, ao que parece,
redundou, em grande medida, em ênfase sobre uma ou outra perspectiva. Talvez, porque
tais antinomias sejam insolúveis, já que não temos uma teoria que consiga, de fato, um
equilíbrio total entre os postulados teórico-metodológicos do objetivismo e os
postulados teórico-metodológicos do subjetivismo.
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