Entrevista/Karen Bruck

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Entrevista/Karen Bruck
Coordenadora do Programa Integrado de Ações Afirmativas para Negros
(Brasil Afroatitude) do Ministério da Saúde
Racismo prejudica combate à aids entre população
negra
Mesmo com a estabilização no número de casos de aids no Brasil, nos
últimos anos, a transmissão da doença atingiu com mais intensidade a população
negra. Os dados ainda são insuficientes, mas revelam essa situação. Estatísticas
do Programa Nacional de DST/Aids, do Ministério da Saúde, mostram que entre
2001 e 2004 houve aumento de 25% de notificações de casos de aids entre
mulheres negras. Esse fato pode ter associação com o preconceito racial. A
distinção por raças dificulta o acesso à informação e afasta os negros das
unidades de saúde. Para combater a discriminação racial e estimular ações de
saúde em benefício da população negra, o Ministério da Saúde lança, no dia 16 de
agosto, o Plano Estratégico de Ações Afirmativas Populações Negras e Aids. A
iniciativa faz parte do Programa Integrado de Ações Afirmativas para Negros
(Brasil AfroAtitude), do Ministério da Saúde. O plano será realizado em
parceria com órgãos dos governos federal, estaduais e municipais e com
entidades da sociedade civil como a Associação Cultural de Mulheres Negras
(Asmun) e a Associação Nacional de Pesquisadores Negros (ANPN). A
coordenadora do Brasil Afroatitude, Karen Bruck, fala desse Plano.
Notícias da Saúde – É possível estabelecer uma relação entre o racismo e a
vulnerabilidade ao HIV?
Karen Bruck – Somente a partir de 2001 a variável “raça/cor” foi introduzida nos
instrumentos de registro dos casos de aids e demais agravos de notificação
obrigatória no país. Esses dados ainda são insipientes e não permitem análises
consistentes. É importante salientar, no entanto, que não há nenhuma relação
entre raça e risco biológico de infecção pelo HIV. Não existe comprovação de que
a população negra apresente qualquer especificidade biológica que a torne mais
suscetível à infecção pelo HIV. Por outro lado, as condições sócio-econômicas e o
racismo, seguramente, são os principais fatores que devem ser considerados. Ao
lançar o Programa, o Ministério da Saúde pretende investigar se há e como
ocorrem as diferenças no acesso às informações, às práticas de prevenção e ao
atendimento de saúde prestado, segundo o quesito raça e cor. Pretende-se, ainda,
pesquisar os fatores que interferem na vulnerabilidade ao HIV nessa população,
como as condições sociais, econômicas, culturais e o racismo.
Notícias da Saúde – Em que o Plano Estratégico Ações Afirmativas: População
Negra e Aids contribuirá para ações efetivas contra a doença?
Karen Bruck – O plano estabelece 30 metas para melhorar a qualidade da
assistência na aids para a população negra e promoverá políticas afirmativas nos
setores envolvidos. As ações serão desenvolvidas de forma descentralizada, em
estados e municípios, nos campos da pesquisa, assistência, prevenção e direitos
humanos. Cada uma dessas metas tem prazo para implantação. Elas serão
monitoradas por uma câmara técnica constituída por setores do governo e da
sociedade civil. Espera-se que até o primeiro semestre de 2006 o plano tenha
cumprido todos os seus objetivos. Ele prevê, entre outras metas, a revisão da
literatura sobre as relações entre o HIV/aids e população negra, o combate ao
racismo institucional, a inclusão do tema igualdade racial nas capacitações de aids
e a revisão da qualidade na assistência. Também avaliará a necessidade de
mudanças nas estratégias de comunicação e a revisão da literatura científica
sobre aids e suas conexões com as doenças mais comuns à população negra,
como a anemia falciforme. É importante destacar que esse programa se integra ao
compromisso do Programa Nacional de DST/Aids em combater a discriminação
em todas as suas formas: racial, étnica, de gênero ou por orientação sexual.
Notícias da Saúde – O programa também prevê bolsas para pesquisa de
assuntos relacionados à vulnerabilidade das populações negras à aids e ao
racismo, não é isso?
Karen Bruck – Para gerar informação sobre o tema e identificar dados que
subsidiem ações do governo, executamos várias metas. Lançou-se uma chamada
pública de pesquisa na linha temática População Negra e HIV/aids, que terá
investigações sobre vulnerabilidade, condições de acesso ao diagnóstico e ao
tratamento. A preocupação com o racismo como gerador de vulnerabilidade à aids
é anterior à elaboração do plano. Nas comemorações do Dia Mundial de Luta
Contra a Aids, em 1º de dezembro de 2004, o Ministério da Saúde lançou o
programa Brasil AfroAtitude, fruto de parceria com dez universidades públicas que
adotam políticas de cota para ingresso de estudantes negros. Independente do
curso de graduação, 50 bolsas de estudo estão sendo oferecidas durante um ano
a alunos negros cotistas para trabalharem e pesquisarem temas relativos ao
controle da epidemia de HIV/aids, ações afirmativas e o racismo. Com isso o
Programa Nacional de DST/Aids trabalha em duas frentes: discutir o tema aids
nessas universidades e garantir que alunos negros cotistas possam contar com
uma bolsa durante um ano para discutir a questão. O Brasil AfroAtitude começou a
funcionar efetivamente em março, com a participação de 500 alunos.
Tuberculose: tratamento supervisionado cura 96% dos casos
A Secretaria de Vigilância em Saúde, do Ministério da Saúde, começa o
semestre com a implantação do Programa de Tratamento Supervisionado da
Tuberculose em 50% dos municípios prioritários para o combate da doença. O
índice soma um total de 315 municípios. Essa meta deveria ser alcançada apenas
no final de 2005.
No tratamento supervisionado contra a tuberculose, o paciente faz uso da
medicação com assistência total do profissional de saúde, nos serviços da
rede básica de saúde ou em sua própria casa. Em uma primeira etapa do
tratamento
(dois
meses),
ele
recebe
a
dose
supervisionada
do
medicamento três vezes na semana. Nos quatro meses seguintes, a dose
supervisionada é ministrada uma ou duas vezes por semana.
O tratamento supervisionado solucionou um problema grave no controle da
tuberculose: o abandono do tratamento. O percentual de cura pelo método é de
96%.
Saúde aposta na qualificação para implantes ortopédicos
Os ministérios da Saúde e da Ciência e Tecnologia investirão R$ 7,2
milhões entre 2005 e 2006 para qualificar instituições que vão formar a Rede
Multicêntrica de Avaliação de Implantes Ortopédicos (Remato). As instituições
interessadas em participar podem enviar propostas até o dia 15 de setembro. Os
resultados serão divulgados a partir de 14 de outubro.
A maior parte dos recursos – R$ 6 milhões – servirá para capacitação e
fortalecimento da infra-estrutura dos laboratórios, necessária para a avaliação de
implantes ortopédicos. O restante – R$ 1,2 milhão – deve garantir o
desenvolvimento de metodologias, procedimentos e dispositivos de ensaios de
avaliação desses implantes. Do investimento total, no mínimo 30% terão de ir para
projetos com instituição executora localizada nas regiões Norte, Nordeste ou
Centro-Oeste. A coordenação da Remato ficará a cargo do Instituto Nacional de
Traumato-Ortopedia (Into).
Em 2004, o SUS gastou cerca de R$ 103 milhões com implantes
ortopédicos. Além do impacto financeiro, as próteses que substituem parcial ou
integralmente as articulações contribuem para altas taxas de mortalidade e
agravos, grande número de cirurgias de revisão e dias de internação.
Mais informações no portal do Departamento de Ciência e Tecnologia do
Ministério da Saúde (www.saude.gov.br/sctie/decit).
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