Anais do 47º Congresso Brasileiro de Cerâmica Proceedings of the 47th Annual Meeting of the Brazilian Ceramic Society 175 15-18/junho/2003 – João Pessoa - PB - Brasil CARACTERIZAÇÃO POR DIFRAÇÃO DE RAIOS X DE ÓXIDO DE TERRAS RARAS, OBTIDO A PARTIR DO MINERAL XENOTIMA F. Vernilli Jr, D.C. Vernilli, B. Ferreira e G. Silva Polo Urbo Industrial, Gleba AI-6, Caixa Postal: 116, CEP:12600-000, Lorena-SP [email protected] Departamento de Engenharia de Materiais – DEMAR Faculdade de Engenharia Química de Lorena – FAENQUIL RESUMO Xenotima é um ortofosfato de ítrio e terras raras, contendo pequenas quantidades de cério e tório. A separação das terras raras pesadas é um processo extremamente delicado pois é baseado nas pequenas diferenças encontradas nas suas propriedades químicas, como por exemplo, a solubilidade e a estabilidade química. Em algumas aplicações específicas como por exemplo, em cerâmicas refratárias ou estruturais, as terras raras podem ser utilizadas em conjunto e desta forma não há a necessidade de separá-las. Este trabalho tem por finalidade caracterizar por difratometria de raios X o produto obtido por hidrometalurgia a partir do mineral Xenotima e compará-lo com misturas de óxidos puros, estabelecendo desta forma uma correlação entre estes materiais. Palavras-chave: Terras raras, difratometria de raios X, coprecipitação. INTRODUÇÃO Xenotima é um ortofosfato de ítrio e terras raras, contendo pequenas quantidades de cério e tório. Terras raras é a designação dada a um conjunto de 15 elementos químicos, 14 deles constituindo a família dos lantanídeos, mais o ítrio. Os elementos são: lantânio (La), cério (Ce), praseodímio (Pr), neodímio (Nd), samário (Sm), európio (Eu), gadolínio (Gd), térbio (Tb), disprósio (Dy), hólmio (Ho), érbio (Er), túlio (Tm), itérbio (Yb), lutécio (Lu) e ítrio (Y). Os elementos de terras raras são Anais do 47º Congresso Brasileiro de Cerâmica 176 Proceedings of the 47th Annual Meeting of the Brazilian Ceramic Society 15-18/junho/2003 – João Pessoa - PB - Brasil amplamente utilizados na indústria devido às suas propriedades químicas e físicas. Algumas aplicações importantes das terras raras pesadas (Tb, Dy, Ho, Er, Tm, Yb) e ítrio vão desde dispositivos fluorescentes, substâncias magnéticas e superligas metálicas até a supercondutividade (1, 2). A separação das terras raras pesadas é um processo complexo pois é baseado nas pequenas diferenças encontradas nas suas propriedades químicas, como por exemplo, a solubilidade e a estabilidade química. Em algumas aplicações específicas como por exemplo, em cerâmicas refratárias ou estruturais, as terras raras podem ser utilizadas em conjunto e desta forma não há a necessidade de separá-las (3). Vernilli (4) demonstrou que a utilização do óxido obtido por hidrometalurgia a partir do mineral Xenotima (RE 2O3) melhora as propriedades mecânicas de cerâmicas a base de Si3N4 em comparação com o uso de Y2O3 puro como aditivo de sinterização. Ribeiro (5) estudos as propriedades mecânicas e o comportamento a oxidação de cerâmicas a base de Si3N4 aditivadas com RE2O3. Santos (6) comparou os espectros de difração de raios X do RE 2O3 e de misturas físicas dos óxidos de terras raras na mesma composição do RE 2O3 e concluiu tratar-se de uma solução sólida substitucional, pois no espectro do RE 2O3 não foram encontrados picos de difrações individuais, característicos dos óxidos presentes em sua composição química. Esta dedução, entretanto, não esclarece como é formada a solução sólida e também não correlaciona os parâmetros de rede entre os óxidos envolvidos. O objetivo deste trabalho foi caracterizar por difratometria de raios X o produto obtido por hidrometalurgia a partir do mineral Xenotima (RE2O3) e misturas de óxidos puros, correlacionando os parâmetros de rede com a lei de Vigard (7) e desta forma determinando a real estrutura do RE2O3. PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL Os óxidos utilizados neste trabalho foram: Y2O3, Yb2O3, Er2O3 e Dy2O3 da Merck e óxido misto de ítrio e terras raras (RE2O3), sintetizado no Departamento de Engenharia de Materiais (DEMAR) da Faculdade de Engenharia Química de Lorena (FAENQUIL), por coprecipitação em meio oxalico a partir do mineral Xenotima; a composição química deste óxido misto está apresentada na Tabela I. Com os três principais óxidos de terras raras (Yb2O3, Er2O3 e Dy2O3) constituintes do RE2O3, foi preparada uma mistura física, denominada ERO na Anais do 47º Congresso Brasileiro de Cerâmica Proceedings of the 47th Annual Meeting of the Brazilian Ceramic Society 177 15-18/junho/2003 – João Pessoa - PB - Brasil mesma relação mássica do óxido misto de ítrio e terras raras, Tabela II, em moinho de bolas de ágata em meio isopropanol, durante 10 minutos. A mistura foi seca a 60oC e desagregada em peneira com abertura de 100 m. Tabela I – Análise química do pó de RE2O3. Composição Química [% em peso] Y2O3 43,90 Gd2O3 1,73 Yb2O3 17,00 Tb2O3 2,41 Er2O3 13,60 Sm2O3 0,41 Dy2O3 11,00 CeO2 0,18 Ho2O3 3,10 Nd2O3 0,18 Tm2O3 2,50 Eu2O3 0,06 Lu2O3 2,00 La2O3 0,04 Tabela II – Composição mássica da mistura dos óxidos de terras raras (ERO). Óxidos RE2O3 [%] ERO [%] Yb2O3 17,00 40,86 Er2O3 13,60 32,68 Dy2O3 11,00 26,46 Misturas Físicas Foram preparadas três misturas físicas entre Y2O3 e ERO, nas proporções mássicas: 80:20, 60:40 e 40:60, denominadas Y80, Y60 e Y40, respectivamente, em moinho de bolas de ágata em meio isopropanol, durante 10 minutos. Após secagem a 60 oC, as misturas foram desagregadas em peneira com abertura de 100 m. No processo de obtenção do óxido misto de ítrio e terras raras o produto é calcinado a temperaturas próximas a 1000 oC e a fim de determinar se nesta temperatura a ativação térmica promove a formação de solução sólida, as misturas Y80, Y60 e Y40 foram tratadas termicamente a 1000 oC, ao ar durante 60 minutos, obtendo-se as misturas FM80, FM60 e FM40, respectivamente. Após tratamento térmico, as misturas foram analisadas por difratometria de raios X, utilizando Anais do 47º Congresso Brasileiro de Cerâmica 178 Proceedings of the 47th Annual Meeting of the Brazilian Ceramic Society 15-18/junho/2003 – João Pessoa - PB - Brasil radiação CuK (=1,5418 Å), filtrada com níquel, no intervalo angular 2 = 20o a 80o, passo angular de 0,02o e tempo de contagem de 5 segundos. Coprecipitação Inicialmente, as misturas Y80, Y60 e Y40 foram solubilizadas em solução de HCl 5N, com pH de 1,5. Em seguida, com a adição de solução de ácido oxálico foram coprecipitados os oxalatos de terras raras, os quais foram lavados com água, secos e calcinados a 1000 oC ao ar, durante 60 min., afim de se obter os respectivos óxidos: CP80, CP60 e CP40. Os óxidos foram analisados por difratometria de raios X, seguindo o mesmo procedimento realizado para as misturas físicas. Após as analises por difratometria de raios X, utilizou-se o software TRIESTE (8) para determinar os parâmetros de rede dos respectivos óxidos obtidos nesta etapa. RESULTADOS E DISCUSSÕES Devido às propriedades físicas e químicas semelhantes, o óxido de ítrio possui espectro de difratometria muito próximo dos espectros dos óxidos de itérbio, érbio e disprósio, conforme pode ser observado nas Figuras 1 e 2, havendo apenas um pequeno deslocamento dos ângulos de difração, observado mais nitidamente na Figura 2. O mesmo comportamento é observado entre o Y2O3 e a mistura de óxidos obtida pelo processo de coprecipitação (RE2O3), Figura 3. Comparando-se as misturas físicas entre o óxido de ítrio e o ERO (Yb 2O3, Er2O3 e Dy2O3), tratadas termicamente a 1000 oC por 60 minutos (FM80, FM60 e FM 40), com os óxidos Y2O3 e Yb2O3 puros, observa-se reflexões sobrepostas, Figura 4. Este resultado indica a mistura de várias fases, demonstrando que a 1000 oC por 60 min a ativação térmica não é suficiente para formar um composto com espectro semelhante ao apresentado pelo RE2O3, Figura 3. Quando as misturas físicas são solubilizadas em HCl 5N, coprecipitadas em meio oxalato e posteriormente calcinadas a 1000 oC, os espectros de difratometria apresentam difrações semelhantes à do Y2O3 e à do RE2O3, Figura 3, mas com um pequeno deslocamento no ângulo de difração, Figura 5. A partir da difratometria de raios X foi possível calcular os parâmetros de rede dos produtos da coprecipitação utilizando o programa TRIESTE, Figura 6. Anais do 47º Congresso Brasileiro de Cerâmica Proceedings of the 47th Annual Meeting of the Brazilian Ceramic Society 179 15-18/junho/2003 – João Pessoa - PB - Brasil Com os parâmetros de rede dos óxidos puros (9) e com as frações molares dos óxidos em cada mistura, foi possível simular teoricamente os parâmetros de rede também apresentados na Figura 6. O resultado encontrado mostrou uma dependência linear dos parâmetros de rede das misturas coprecipitadas (CP), para ambos os casos (teórica e experimental), em função da concentração molar dos óxidos, o que comprova que estes produtos obtidos por coprecipitação resultam em soluções sólidas e que a Lei de Vigard (7), é plenamente satisfeita. Figura 1 - Difratograma de raios X dos óxidos Y2O3, Yb2O3, Er2O3 e Dy2O3. Anais do 47º Congresso Brasileiro de Cerâmica Proceedings of the 47th Annual Meeting of the Brazilian Ceramic Society 180 15-18/junho/2003 – João Pessoa - PB - Brasil Figura 2 - Difratograma de raios X das reflexões de maior intensidade dos Y2O3, Yb2O3, Er2O3 e Dy2O3. Figura 3 - Difratograma de raios X do óxido de ítrio e da mistura de óxidos (RE2O3) obtida por coprecipitração a partir do mineral Xenotima. Anais do 47º Congresso Brasileiro de Cerâmica Proceedings of the 47th Annual Meeting of the Brazilian Ceramic Society 181 15-18/junho/2003 – João Pessoa - PB - Brasil Figura 4 - Difratograma de raios X das misturas físicas FM80, FM 60 e FM 40 em comparação com os óxidos Y2O3 e Yb2O3 puros. Anais do 47º Congresso Brasileiro de Cerâmica Proceedings of the 47th Annual Meeting of the Brazilian Ceramic Society 182 15-18/junho/2003 – João Pessoa - PB - Brasil Figura 5 - Difratograma de raios X das misturas obtidas após coprecipitação e tratamento térmico a 1000 oC em comparação com os óxidos Y2O3 e Yb2O3 puros. Os valores encontrados para RE2O3, tanto na simulação teórica como a partir dos dados experimentais, utilizando TRIESTE, encontram-se na linearidade dos outros óxidos obtidos por coprecipitação, Figura 6. Apesar dos elementos metálicos que compõem os óxidos possuírem raios iônicos muito próximos, satisfazendo as regras para obtenção de soluções sólidas (diferença ≤ 5%), a ativação térmica (1000 oC/60 min) não é suficiente para gerar difusão afim de rearranjar as posições cristalinas, já na coprecipitação, o sólido se forma a partir de uma solução e os íons podem ocupar qualquer posição na estrutura cristalina, pois possuem características físico-químicas semelhantes, portanto, a mistura de óxidos proveniente do processo Anais do 47º Congresso Brasileiro de Cerâmica Proceedings of the 47th Annual Meeting of the Brazilian Ceramic Society 183 15-18/junho/2003 – João Pessoa - PB - Brasil de coprecipitação a partir Xenotima é na realidade uma solução sólida de óxidos de ítrio e terras raras (RE2O3). Figura 6 - Variação dos parâmetros de rede em função da concentração de ítrio. CONCLUSÕES Utilizando a técnica de difratometria de raios X juntamente com o programa TRIESTE, pode-se concluir que o produto da síntese dos óxidos das terras raras por coprecipitação de oxalatos a partir do mineral Xenotima é uma solução sólida de óxidos de terras raras (RE2O3), tendo como principal componente o óxido de ítrio. REFERÊNCIAS 1. A. H. Martins, Metalurgia & Materiais 48, 411 (1992), p.676-682. 2. Nuclemon/Terrara, Revista de Química Industrial 688, (1992), p.12-14. Anais do 47º Congresso Brasileiro de Cerâmica Proceedings of the 47th Annual Meeting of the Brazilian Ceramic Society 184 15-18/junho/2003 – João Pessoa - PB - Brasil 3. K. J. Brill, L. Federgrün, A. S. Lourenço. Publicação do Instituto de Energia Atômica (IEA), n.116, (1965), p.1-29. 4. F. Vernilli Jr. Lorena: Faculdade de Engenharia Química de Lorena, 1998. 59p. Tese de Mestrado. 5. S. Ribeiro, Lorena: Faculdade de Engenharia Química de Lorena, 1997. 194p. Tese de Doutorado. 6. C. Santos, Lorena: Faculdade de Engenharia Química de Lorena, 2002. 97p. Tese de Mestrado. 7. W. D. Kingery . Introduction to ceramics. John Wiley and Sons. New York. 1976 pp. 131. 8 M. Calligaris, S. Geremia. X-ray powder programmes on IBM compatible PC, International Centre for Theoretical Physics (ICTP), Itália, 1989. 9. P. Bayliss. Mineral Powder diffraction file. JCPDS. Pensilvânia. 1980 CHARACTERIZATION BY X RAY DIFFRACTION OF THE RARE EARTH OXIDE, OBTAINED BY THE XENOTIME MINERAL ABSTRACT Xenotime is an orthophosphate of rare earth elements and yttrium, containing small amounts of cerium and thorium. The separation of the heavy rare earth is an extremely delicate process because it is based on the small differences found in their chemical properties, as the solubility and the chemical stability. In some specific applications as in refractory or structural ceramics the rare earth can be used together and this way no is necessary to separate them. This work has for purpose to characterize by X ray diffractometry the coprecipitation product of the rare earth oxides starting from the Xenotime mineral and to compare it with mixtures of pure oxides, establishing this way a correlation among this materials. Key-words: Rare earth, X-ray diffraction, coprecipitation.