EXERCÍCIO DA MEDICINA BASEADA EM EVIDÊNCIA BUSCA ELETRÔNICA-RESUMINDO Paulo R. Margotto –ESCS www.paulomargoto.com.br / [email protected] É importante que se reconheça a necessidade da informação e a coloque em forma de questão clínica respondível Iniciamos a busca sempre pelo MEDLINE (www.pubmed.com); Os termos usados para a pesquisa são todos em inglês. Use o tradutor do www.google.com do português para o inglês). É importante lembrar quando não se encontra a questão nos sumários baseados em evidências: buscar a pesquisa original na literatura médica, identificando o tipo de questão clínica: Terapia ou intervenção, Diagnóstico, Prognóstico e Etiologia/efeitos adversos Os estudos mais apropriados são: Revisão sistemática (o mais alto nível de evidência; quando se aplica estatística, temos uma METANÁLISE), Revisão controlada randomizada e Estudo de coorte/estudo de caso controle. Para isto, clicar em Clinical Queries e Clinical Trials A expressiva maioria dos artigos está em forma de Abstract. Quando estão disponíveis, vem assinalado como Free Article Como conseguir os artigos quando não disponibilizamos de senhas dos sites pagos: -solicitar diretamente ao autor, quando o seu e-mail estiver disponível no Abstract. Use a seguinte Carta padrão: Dear colleague, please send me a copy of your paper -----------------(copiar o Artigo do MEDLINE e colar aqui) Sincerely, Seu nome e poucas referências Exemplo: Paulo R. Margotto ESCS/FEPECS/SES/Brasília, Distrito Federal, Brazil Exemplo: -solicitar a BIREME (www.bireme.br). Faça inicialmente um cadastro (é grátis). Vá ao Acesso a Documentos e clicar em SCAD. O artigo chega online dentro de 2-3 dias, conforme o dia da semana solicitado e posteriormente uma cobrança de 8,00 reais por artigo. Definições importantes: -Revisões sistemáticas: É uma forma de pesquisa na qual são sintetizados um apanhado de relatos sobre uma questão clínica específica, ou seja, avalia e sintetiza as informações da literatura sistematicamente. Há evidência de que são de alta qualidade; -Metanálise: É o método estatístico utilizado na revisão sistemática para integrar os resultados dos estudos incluídos, aumentando a acurácia estatística; faz-se a análise da combinação dos resultados (não combina os dados na forma de um único estudo); utiliza conceitos como: intervalo de confiança, risco relativo, odds ratio e diferença de risco; utiliza o Forest plot como gráfico de visualização dos resultados -Risco Relativo: é a medida da força da associação entre a exposição e o evento (resultado) Quando RR é igual a 1, significa que não há efeito com o tratamento, ou seja, o efeito do tratamento é o mesmo nos dois grupos. Se o RR é < 1, significa que o risco do evento é menor no grupo tratado que no controle. A variabilidade amostral do estudo pode ser avaliada através de testes de significância ou via intervalo de confiança. Para um dado nível de significância (· = 0,05), o intervalo de confiança representa o intervalo onde deve estar o parâmetro, ou seja, o risco relativo verdadeiro. Se o valor 1, que se refere à nulidade da associação, não estiver contido no intervalo, temos uma confiança que na população de onde nossa amostra foi extraída, o RR é diferente de 1, sendo, portanto significativo o achado da amostra. -Intervalo de confiança (IC): Estima magnitude da associação informa a variabilidade da estimativa (através da amplitude dos limites inf. e sup.). A Redução do Risco Relativo (RRR) é 1-RR. Exemplo (avaliação do canal arterial patente em RN com menor ou maior oferta hídrica): RR = 0,40 (IC a 95% 0,26 – 0,63) não contém o 1. Como interpretar: RRR = 1– 0,40 = 0,60 x 100 = 60 %%. A redução do canal arterial patente foi de 60% no grupo exposto a menor oferta hídrica e esta redução variou de 37% – 74%. Vejam assim, que o IC estimou a magnitude da associação (reduziu em 60%) e informou a variabilidade da estimativa (reduziu entre 37% e 74%) É IMPORTANTE LEMBRAR QUE QUANDO NÃO HÁ SIGNIFICÂNCIA, ou seja, o IC contém a unidade: -se o IC for grande: o estudo é pequeno para precisar efeito no tratamento -se o IC for pequeno, é improvável grande efeito benéfico do tratamento Exemplo: RR = 0,90 IC 95%%: 0,80 – 1,02 e RR = 0,50 IC 95%%: 0,24 – 1,06 Observem que ambos RR não são significantes, pois contém no IC a unidade, porem o primeiro, o IC é pequeno (é improvável que aumentando o n, vamos ter efeito benéfico no tratamento). Já no segundo RR, o IC é grande, o que se conclui que o estudo é pequeno para precisar o efeito no tratamento. -Número necessário para tratamento (NNT): número necessário para tratamento (expressa o beneficio do tratamento). Exemplo: Ex: Tratamento A (n=400) RR = 0,80 NNT = 20 B (n=200) 0,80 100 É necessário tratar 100 RN para evitar 1 dano -forest plot: Mostra visualmente os resultados de uma metanálise;faz uma estimativa visual da quantidade de variação entre os resultados. Veja o seguinte exemplo de apresentação dos resultados de riscos relativos na forma de forest plot, apesar de não ser uma metanálise, de um tabela que compara individualmente desfechos de dois grupos de menores idades gestacionais com um terceiro de maior idade gestacional. A tabela mostra os riscos relativos com os respectivos intervalos de confianças e as significâncias (Pimentel M, Rugolo L, Margotto PR, 2011). Vejamos agora esta tabela representada em um forest plot Observem que todos os riscos relativos evidenciam significantemente maior desfecho no grupo de menor idade gestacional (15-27 semanas e 6 dias-pré-termos extremos) em relação aos RN de maior idade gestacional (30-31 semanas 6 dias). Os riscos relativos são significativos, pois não contém a unidade no intervalo de confiança e visualmente vemos que NÃO tocam a linha vertical, que é a linha de nulidade. Observem nesta metanálise sobre o uso de eritropoetina e o desenvolvimento de retinopatia da prematuridade: Vejam (SETA) que esta metanálise mostra que a eritropoetina aumenta significativamente o risco de retinopatia da prematuridade (RR: 1,71; Intervalo de confiança a 95%: 1,25-2,54). A Biblioteca Cochrane (metanálises) integra eficientemente a informação válida, constituindo suas informações importante base para uma tomada racional de decisão A Neonatologia é felizarda em ter as revisões em texto completo disponível na internet www.nichd.nih.gov/cochrane Nota: 1) Regressão logística: A regressão logística vem sendo utilizada em diversas áreas. Este método, tal como as regressões linear e múltipla, estuda a relação entre uma variável resposta e uma ou mais variáveis independentes. A diferença entre estas técnicas de regressão se deve ao fato de que na regressão logística as variáveis dependentes estão dispostas em categorias (sim/não/alto/baixo/bom/ruim), enquanto na regressão linear estas variáveis são contínuas. A resposta na regressão logística é expressa por meio de uma probabilidade de ocorrência, enquanto na regressão simples, obtém-se um valor numérico. Portanto, a regressão logística binária apresenta-se como um método na determinação da probabilidade de ocorrência dos valores preditos de uma variável dicotômica. Portanto, a regressão logística é uma versão da regressão múltipla em que a saída é dicotômica (sim ou não/ alto/baixo; bom/ruim). Exemplo; no nosso estudo sobre Corticosteróide antenatal na Maternidade do HRAS, realizamos uma regressão logística binária; a variável resposta foi a ocorrência de Apgar<= 3 no 5º minuto (sim ou não), caracterizando uma variável binária. As variáveis independentes escolhidas foram aquelas que se associaram individualmente ao Apgar <=3 no 5º minuto: corticóide, hipertensão materna, tipo de parto e pré-natal. Resultado: Interpretação: o corticosteróide antenatal (seta) persistiu no modelo como variável protetora para Apgar <=3 no 5º minuto (OR-odds ratio, que é Exp (B) de 0,42) enquanto a hipertensão materna (seta), um fator de risco (OR de 2,38). O mesmo não ocorre com o tipo de parto e o pré-natal Veja outro exemplo da aplicação da regressão logística: o estudo de Whelan B et al avaliou a o sódio sérico como um fator de risco para a mortalidade intrahospitalar em pacientes grave à admissão. A Odds ratio para a morte dentro de 30 dias da admissão foi de 4,07 (IC a 95%%: 2,95-5,63) quando o paciente apresentava hipernatremia e 3,36 (IC a 95% de 2,59-4,36) quando apresentava hiponatremia. A regressão logística foi usada para calcular a Odds ratio ajustada: fatores que foram incluídos neste ajuste foram o escore de severidade da doença, permanência na UTI, efeito da idade, sexo, transfusão de sangue e sepse. Após o ajuste, para hipernatremia, a Odds ratio (ajustada) para a morte passou para 1,41 (Intervalo de confiança de 0,97-2,07: não alcançou a significância, pois no intervalo de confiança contém a unidade) e a Odds ratio (ajustada) para hiponatremia passou para 2,00 (Intervalo de confiança a 95% de 1,44-2,77, ou seja, foi menor, porém continuou significativa, pois no intervalo de confiança não contém a unidade). Assim, o sódio sérico é um poderoso marcador inicial para a mortalidade, mas a mortalidade no grupo hipernatrêmico é primariamente um fator de severidade da doença. Já para a hiponatremia o aumento da mortalidade é independente de outras variáveis. Portanto, os dados deste estudo nos informam que o sódio sérico na admissão é um importante determinante da mortalidade intrahospitalar em todos os pacientes. O sódio na admissão pode ser usado para estratificar os pacientes que vão necessitar de uma terapia mais agressiva e maior monitorização e em particular a hiponatremia que necessita de tratamento cuidadoso para evitar um excesso de mortalidade que é independentemente associada com anormalidade deste distúrbio. 2) Heterogeneidade: Ao analisar os dados, a exploração de fontes de heterogeneidade (variabilidade dos dados) corresponde a uma das etapas da metanálise. A heterogeneidade pode ser clínica (os estudos diferem quanto às características dos participantes como idade, severidade, intervenção (dose), variável de desfecho, duração ou estatística (variação entre os resultados dos estudos é maior do que a esperada ao acaso). Outra fonte de heterogeneidade pode ser diferenças na qualidade metodológica entre os estudos. As inconsistências entre as estimativas das metanálise foram estimadas através do teste de quiquadrado de heterogeneidade e quantificadas usando o teste I2. O I2 de 0% indica homogeneidade e o I2 maior que 50% indica heterogeneidade substancial Exemplo: veja a figura acima da metanálise da eritropoetina e retinopatia da prematuridade: os estudos são homogêneos, pois o teste I2 é 0%. No entanto, outros autores usam teste Q de Cochran com nível de p<0,05 para aceitar a hipótese de heterogeneidade entre os estudos (p<0,1 quando o número de estudos envolvidos é pequeno). Veja no estudo abaixo comparando ibuprofeno com indometacina (Thomas, 2004): onde está a heterogeneidade? Observem (em vermelho) que houve heterogeneidade nos estudos que avaliam o resultado uso de surfactante quando se compara ibuprofeno (Q=5,97-p=0,05). Os demais outros resultados apresentam Q>0.05. E para finalizar: Devemos lembrar que quando um paciente procura um médico para uma consulta, ele certamente procura algo mais que a resposta cientifica ao seu problema (Bandoher). Ser profissional de saúde exige conhecimento específico, disciplina, responsabilidade, atenção e acima de tudo, grande capacidade de conviver com o stress, o sofrimento, a dor e a vontade de resolver problemas alheios ((Machado MH). O novo paradigma para a prática clínica, ou seja, base para tomar decisões tem que incluir a evidência da pesquisa clínica. Os nossos tratamentos que usamos para os bebês devem ter sempre mais benefícios do que prejuízos. Para isto, devemos adquirir informação através da procura de evidências que isto seja verdadeiro na literatura. Este é o novo paradigma da medicina: um esforço para tentar melhorar a situação do paciente baseado na evidência das pesquisas clínicas. Medicina baseada em evidência é o uso consciencioso da melhor evidência disponível na tomada de decisões no cuidado do paciente. A prática da medicina baseada em evidência significa integrar experiência clínica individual com a melhor evidência clínica disponível de pesquisas sistemáticas. Sem a experiência clínica as práticas correm o risco de ser tiranizadas pela evidência, podendo esta evidência ser inapropriadamente aplicada ou mesmo não aplicada ao paciente. Sem a evidência, as práticas logo tornar-se-ão obsoletas e podem se tornar detrimentais ao paciente. Lembre-se que as “evidências mudam em decorrer do tempo, pois se não validarmos nossas condutas podemos causar mais mal do que bem para o recém-nascido”. Paulo R. Margotto Brasília, 16/5/2012 Bons estudos!