baú literário: a leitura nas comunidades

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BAÚ LITERÁRIO: LEITURA EM COMUNIDADES
Ana Paula Ribeiro Degani e Braúlio Ribeiro Silva - AÇÃO COMUNITÁRIA DO BRASIL - RJ
LerUERJ – Programa de Leitura da UERJ
Os livros não transformam o mundo.
Os livros transformam as pessoas.
As pessoas transformam o mundo.
Monteiro Lobato
BAÚ LITERÁRIO: LEITURA EM COMUNIDADES
I. INTRODUÇÃO
Esta comunicação pretende apresentar o projeto Baú Literário e o trabalho de leitura que vem
sendo desenvolvido em duas comunidades localizadas no Rio de Janeiro: Vila do João, no Complexo da
Maré e Cidade Alta, em Cordovil, através do qual dinamizadores de leitura da Ação Comunitária do
Brasil - RJ, uma organização não governamental, sob a supervisão e a assessoria pedagógica do
LerUERJ – Programa de Leitura da UERJ, desenvolvem, semanalmente, atividades com as crianças
dessas comunidades e em parceria com instituições como a creche Pedacinho do céu (Vila do João) e as
escolas municipais: Teotônio Vilela (Vila do João), Armando Fajardo e Raul Pederneiras (Cidade Alta)
contribuindo, desta forma, para a formação de leitores críticos que exerçam plenamente a sua cidadania.
Neste presente trabalho, será dado um enfoque especial ao trabalho que vem sendo
desenvolvido em parceria com a Escola Municipal Teotônio Vilella, situada na Vila do João, no Complexo
da Maré. Será descrito todo o processo de adaptação e recepção das crianças envolvidas, na relação
com o ambiente da biblioteca, com os livros, com a leitura e com as atividades propostas. Serão
relatadas algumas experiências de leitura vivenciadas com esse grupo e os seus desdobramentos,
observados nas reações das crianças.
II. DA PARCERIA ENTRE INSTITUIÇÕES: Ação Comunitária do Brasil/RJ e LerUERJ - Programa de
Leitura da Universidade do Estado do Rio de Janeiro
A Ação Comunitária do Brasil/RJ (ACB/RJ) desenvolve projetos sociais há mais de 20 anos em
dois Centros de Educação Comunitária situados em Cidade Alta (Cordovil) e Vila do João (Complexo da
Maré). Nestas comunidades, com histórias de ocupação diferenciadas, os problemas socioeconômicos
se assemelham.
A intenção da ACB é contribuir para a construção de uma sociedade democrática, solidária,
participativa, fundada em valores que possibilitem o exercício da cidadania, reconhecendo a
singularidade das pessoas. Assim, esse desempenho de atuação é fundamentada numa educação
cidadã, empreendendo uma proposta pedagógica orientada na concepção do educando como sujeito
com direitos e deveres, em que a liberdade de saber e se expressar esteja pautada numa perspectiva
que o faça responsável por suas escolhas, tornando-o protagonista de sua própria história.
Todos os trabalhos da instituição são realizados em parceria com a comunidade local e com
demais instituições que desenvolvem trabalhos correlatos, orientados pelo mesmo paradigma dos direitos
sociais. Têm como estratégia comum a Ação-família, de modo que se busca envolver os pais e/ou
familiares, na realização dos mesmos, para que se sintam co-responsáveis pelo seu sucesso
contribuindo para o protagonismo social.
O público alvo que a ACB/RJ atende insere-se num contexto de contradições, com freqüentes
histórias de fracasso e falta de oportunidades (evasão, repetência e baixo desempenho escolar estão
entre os fenômenos mais comuns na realidade brasileira) o que acaba por agravar a situação em que
muitas crianças e jovens, na maioria procedente de famílias de baixa renda, se encontram.
Por este motivo a ACB/RJ vem buscando parceiros, como o LerUERJ, que possam atuar
conjuntamente na implementação de atividades que viabilizem o acesso à conhecimentos, o estímulo à
curiosidade e o desejo de aprender.
O LerUERJ, Programa de extensão do Instituto de Letras, da Universidade do Estado do Rio de
Janeiro, desenvolve ações de incentivo à leitura em instituições diversas (creches, Ongs, hospitais,
maternidades públicas, universidade da terceira idade, etc.).
Com objetivos comuns de incentivar a leitura, de proporcionar educação de qualidade, de
desenvolver o senso crítico e de formar leitores capazes de refletirem, opinarem e decidirem, a ACB e o
LerUERJ firmaram convênio. Convidado para uma consultoria na seleção de livros infantis e juvenis para
o acervo do projeto Baú Literário, o LerUERJ contribuiu, a princípio, na formação das bibliotecas
comunitárias. Com a ampliação desse convênio, o programa de leitura passou, também, a assessorar
pedagogicamente os agentes de leitura que iriam atuar no Baú Literário, capacitando-os, supervisionando
os planejamentos e relatórios confeccionados e orientando o trabalho desenvolvido semanalmente com
as crianças..
III. BAÚ LITERÁRIO: objetivos e proposta pedagógica
A Ação Comunitária do Brasil - RJ, enquanto organização não governamental, desenvolve vários
projetos sociais. Estão inseridos nesses projetos quatro grandes programas: Escola – oficina – cidadã
(qualificação profissional e oficinas produtivas), Corpo São (saúde e qualidade de vida), Arte na Veia
(estética, arte e cultura) e o Programa Ação-Escola (que visa estimular a capacidade crítica investigativa
e o prazer de conhecer e aprender). Dentro do programa Ação-Escola, encontra-se o projeto Baú
Literário, que desenvolve ações de incentivo à leitura em parceria com algumas instituições (como
escolas municipais e creches) e com crianças da comunidade.
O projeto Baú Literário visa promover e dinamizar a leitura, por isso se propõe a ser um espaço
de múltiplas leituras e linguagens possibilitando que o participante se constitua enquanto leitor que
pensa, reflete, opina, registra, cria e se transforma. Por isso, estimula e desenvolve na criança e no
adolescente o prazer pela leitura de forma a possibilitar o contato com um universo mágico, ao mesmo
tempo em que desenvolve uma compreensão mais crítica da realidade.
No entanto, para que isso seja feito, os educadores responsáveis pela dinamização do acervo da
biblioteca têm à disposição diferentes possibilidades de leitura (fábula, conto, lendas, mitos, jornais,
quadrinhos, entre outras), como também diversas linguagens (fotografia, livros de imagens, músicas,
vídeos, etc.), que são disponibilizados através de atividades que valorizam o universo infantil e
contribuem com novos e significativos conhecimentos. Além disso, esse espaço viabiliza que o sujeito
possa estar em contato com variadas formas de expressão, estimulando-o não somente à prática da
leitura, como também para a escrita e a representação.
Com esses materiais disponíveis, é possível desenvolver a capacidade investigativa dessas
crianças a partir do contato com a leitura, apresentando conteúdos novos, estimulando o aprendizado de
forma prazerosa e interativa e, ao mesmo tempo, criando espaços de convivência em que a troca de
saberes fortaleçe a auto-estima, o desejo de conhecer, aprender e interagir, estimulando a criança a
trocar experiências, vivências e conhecimento de mundo.
A proposta pedagógica do Projeto Baú Literário consiste em criar um ambiente agradável e
adequado para que essas crianças, participantes das oficinas, sejam estimuladas enquanto leitores. A
montagem desse espaço só foi possível através do apoio da Fundação Vitae, que viabilizou os materiais
e os suportes necessários para a criação desse espaço.
Com o objetivo de despertar o interesse pela leitura e ampliar o repertório literário dos
participantes, são planejadas e realizadas diferentes práticas leitoras. Todos os educadores envolvidos
nesse projeto, desenvolvem atividades em torno da leitura a partir de um grande tema gerador – O
mundo das histórias, com intuito de introduzir os participantes na aventura de ser leitor, aproximando-os
dos livros e do ambiente da biblioteca.
Para aprimorar as estratégias de promoção da leitura, procura-se dinamizar o acervo das
bibliotecas, destacando alguns títulos, contando histórias, estimulando e aguçando a curiosidade,
mostrando o saber e o sabor de cada leitura e proporcionando espaço para o manuseio e a livre escolha
de livros infantis e juvenis.
Sendo assim, todos os encontros são planejados de modo que as crianças possam estar
participando e atuando diretamente das atividades, trocando experiências, contribuindo com suas
vivências e seu conhecimento de mundo. Para tal, são utilizados elementos da nossa cultura popular,
conhecimento de domínio público, que proporcionam a participação direta dessas crianças. Com isso,
elas têm a possibilidade de estarem participando como leitores ávidos de palavras e do outro,
entendendo-se esse outro como o autor e o grupo com o qual partilham e dinamizam os saberes e os
sabores construídos. A partir de seu acervo pessoal, (re)inventam narrativas, resgatam o valor da
oralidade no diálogo do contar e ouvir histórias.
Atuando como leitores e como espectadores, criando narrativas, ilustrando suas histórias,
trabalhando com algumas vertentes da cultura popular (parlendas, adivinhas, provérbios, superstições,
cantigas de roda e acalantos) e com temas bem próximos da realidade em que elas estão inseridas
(como o tema do medo, sentimento presente no cotidianos dessas crianças), partilhando e desfrutando
do contato prazeroso com o universo maravilhoso dos livros em que as mais diversas histórias habitam,
abordando temas reais de uma forma simbólica e lúdica, é possível estimular e desenvolver na criança o
prazer pela leitura de forma a possibilitar o contato com um universo mágico da literatura e, ao mesmo
tempo, desenvolver uma compreensão mais crítica da realidade, a fim de que essa criança possa
exercer sua cidadania de uma forma plena e consciente.
IV. RELATO DE EXPERIÊNCIA
Após a fase de preparação, compra de acervo e suportes para a montagem das bibliotecas, foi
selecionada uma equipe de agentes de leitura para atuarem no projeto Baú Literário. Bráulio Ribeiro
Silva, professor da ACB, foi indicado para coordenar o trabalho e Ana Paula Ribeiro Degani foi indicada,
pela assessoria pedagógica do LerUERJ (que conhecia o seu trabalho, pois tinha atuado como agente de
leitura no programa por dois anos), para estar atuando como dinamizadora de leitura na comunidade da
Vila do João.
Foi importante participar da construção das bibliotecas, sob a orientação da especialista, prof a Dra.
Nanci Nóbrega, cuidando da ambientação lúdica do espaço. A idéia era adequar o espaço tornando-o
agradável e aconchegante.
V- Depoimento de Ana Paula Ribeiro Degani – agente de leitura:
Depois da sala montada, só faltava entrar em contato com o público diretamente: as crianças da
Escola Municipal Teotônio Vilellla, de faixa etária que oscilava entre 10 a 12 anos. Até esse ponto não
havia nada que fugisse do contexto de trabalhos anteriores que eu tinha realizado, no entanto essas
crianças possuíam um diferencial importante. Eram alunas de turmas de progressão, ou seja, crianças
com dificuldades de aprendizagem. Muitas delas, não sabiam ler nem escrever.
Foram designadas para mim quatro turmas de progressão que eram dispostas em dois dias da
semana e em dois horários diferentes: duas turmas na segunda-feira, uma na parte da manhã e outra na
parte da tarde e outras duas turmas na quarta-feira, seguindo o mesmo horário.
Nossos encontros têm duração de uma hora e meia. Como são 25 crianças em cada turma e
nossa biblioteca não comporta essa quantidade de pessoas, lançamos mão de uma estratégia para
contornar a situação e para oferecer um trabalho de qualidade. Sendo assim, dividimos cada turma em
dois grupos. Um grupo entrava na sala de leitura e o outro, enquanto aguardava a hora da atividade na
biblioteca, participava de atividades recreativas no espaço externo, dependo do horário, como: capoeira,
aula de pintura e psicomotricidade.
Não é tarefa fácil dinamizar a leitura com um público que não sabe ler nem escrever. Foi preciso
desenvolver estratégias para que essas crianças pudessem estar contribuindo e interagindo nas
atividades de maneira que elas se sentissem estimuladas a estarem participando das atividades e
atuando como leitores. Além disso, contávamos com uma barreira que foi preciso ser vencida: a questão
da auto-estima dessas crianças que, em geral, é muito baixa.
Todos os nossos encontros girava em torno de um tema gerador: o mundo das histórias. Sendo
assim, no primeiro mês de atividade, todo o planejamento e a seleção de histórias, foram pautados
visando a adaptação e o conhecimento desse público. As histórias mais usadas nos primeiros encontros
foram os contos populares, histórias que resgatavam a nossa cultura popular.
No decorrer dos encontros, pude perceber que algumas crianças tinham necessidade de dialogar
sobre algumas questões relacionadas ao cotidiano delas. O tema que veio à tona nessa ocasião, foi o
tema do medo e isso se deu pela situação atual de violência urbana que o Rio de Janeiro vem
enfrentando. Esse surto de violência está disseminado em todo o estado do Rio, no entanto há lugares
que ela se encontra com mais intensidade como é o caso do Complexo da Maré.
Inseridas num contexto de grande risco social, moradoras de uma comunidade que vivencia diaa-dia a “guerra civil” que se instalou no Rio de Janeiro entre policiais e o poder paralelo, portadoras de
um sentimento de insegurança e medo que as impedem de, muitas vezes, ir e vir, essas crianças vivem
mergulhadas num constante sentimento de medo e apreensão. Por isso tudo, percebi que era necessário
estar abordando o tema e dialogando sobre esse assunto.
Para tal foram elaborados quatro encontros em que se pudesse estar tratando desse assunto de
uma forma literal, mas ao mesmo tempo simbólica, contribuindo assim para a elaboração da realidade
dessas crianças.
No primeiro encontro foi apresentada às crianças a "caixa dos medos". Nela continha algumas
palavras que representavam medos reais e imaginários, como: medo de briga, de ficar sozinho, de
barata, de bruxa, de gigante, de tiro, de morrer, de ser esquecido, de duende, de aranha, de mula-semcabeça, etc. A partir dessa atividade é que pude introduzir uma conversa com as crianças e saber o que
se passava no universo íntimo de cada uma delas. Os relatos foram os mais surpreendentes possíveis.
Enquanto uns se expressavam através do imaginário e do lúdico, outros depoimentos vinham tão
carregados de realidade que chegavam a indignar: Tenho medo de ficar sozinha em casa principalmente
quando sai tiroteio. Sempre que isso acontece, estou sozinha em casa e como tenho medo, me escondo
debaixo da cama para que ninguém me ache. (Jéssica ); Tenho medo de ser esquecida, pois é muito
ruim não ser lembrada por ninguém. Minha mãe já se esqueceu uma vez de mim, do dia do meu
aniversário. Ninguém lembrou e eu fiquei muito triste com isso, mas já me acostumei, isso sempre
acontece (Liliane).
Segundo Maria Clara Cavalcanti, ouvir que outras pessoas compartilham de nossos sentimentos
nos faz menos sozinhos e o fato do adulto compartilhar o conhecimento da presença do monstro com ela,
aliado ao aconchego e à voz que a embala, dá-lhe a certeza de não estar sozinha e a faz relaxar. 1 Foi
essa a sensação que tive ao tratar desse assunto com essas crianças.
Para amenizar a densidade desses encontros, essas conversas foram intercaladas com contos
de assombração, de encantamento, mitos, lendas e em cada encontro o ambiente era preparado para
que houvesse um clima de suspense. Alguns recursos foram utilizados para tais atividades como os
livros: A Bruxa Salomé de Audrey Wood (Ática), Strega Nona – a avó feiticeira de Tomie de Paola
(Crianças Criativas); o vídeo A mula-sem-cabeça na versão de Roberto Carlos Ramos (ed. Leitura), a
música A noite no castelo do grupo Rumo; a narração de contos de assombração como Maria Angula –
em Contos de assombração (Ática) e o teatro de sombras com o conto popular egípicio: Louliya, entre
outros.
VI – Considerações finais:
Esse "ir mexendo em tudo" que a literatura possibilita, tanto no real quanto no imaginário, é o que
torna mais fácil e acessível a abordagem e a discussão de determinados assuntos com esse público,
dando a possibilidade deles estarem opinando e interagindo, sobre o que está sendo discutido, de acordo
com a sua realidade e experiência de vida .
Um dos resultados desses encontros foi a produção de dois livros confeccionados por essas
crianças. Partindo do trabalho sobre os monstros e os medos que a gente tem, cada criança desenhou
seu medo ou seu monstro e assim o livro foi montado.
1
CAVALCANTI, Maria Clara. Quem tem medo do lobo mau? In: Leituras compartilhadas. Rio de Janeiro: Leia Brasil
(Programa de leitura) – fascículo 6, outubro de 2002, p. 24.
Além disso, as crianças demonstram interesse crescente pelos livros e pela leitura, maior
concentração para ouvir e ler histórias, firmando um vínculo afetivo com o espaço da biblioteca,
participando das atividades com um envolvimento cada vez maior. A literatura infantil tem um certo
encantamento que nos permite driblar alguns obstáculos como a dificuldade de aprendizagem das turmas
de progressão. Crianças que antes resistiam em entrar na biblioteca, hoje, não querem sair. O manuseio
dos livros virou diversão, fato este que, no início das atividades era motivo de confusão. O empenho e a
participação se intensificaram, visto que eles podem interagir com o seu conhecimento de mundo.
Segundo o educador Paulo Freire, a leitura do mundo precede a leitura da palavra. Esta
abordagem não só amplia o conceito de leitura como também fundamenta o nosso trabalho. Partindo
desse princípio, elaboramos algumas atividades que provocaram a reflexão e a fala das crianças. As
histórias facilitam a introdução de temas diversos porque, através delas, podemos falar de sentimentos
(como raiva, ciúme, inveja, medo, aflição, desproteção, solidariedade, egoísmo, amor, amizade,
cumplicidade), de situações reais e imaginárias, de necessidades, de direitos e deveres, e inúmeros
outros assuntos pertinentes. Embora muitas vezes tenhamos que utilizar estratégias lúdicas de
abordagens quando lidamos com crianças, notamos que o alcance do trabalho pode ser profundo, se são
estabelecidas relações de confiança entre o grupo.
A leitura dos livros passa a ter mais sentido se o leitor consegue perceber a relação entre fantasia
e realidade que ela pode proporcionar, cruzando o mundo da literatura com o seu próprio acervo. Foi a
partir dessa constatação que trabalhamos com a questão do medo, escolhendo histórias de suspense
(preferidas entre as crianças) e propondo atividades em que as crianças pudessem falar de suas
angústias particulares.
A partir dessa experiência, é possível concluir que a formação de um leitor crítico necessita
fundamentalmente da tomada de consciência da linguagem, de si, do outro e do mundo. A leitura, nesse
sentido, ajuda na construção de sujeitos sociais, visto que as práticas leitoras são mecanismos de
facilitação para a formação de um leitor crítico.
Desenvolver a capacidade interpretativa do sujeito é uma das prioridades do projeto. O contato
com a leitura exercita e desenvolve esse potencial contribuindo indiretamente na formação escolar.
Há, contudo, uma importante diferença entre saber ler e a prática efetiva da leitura: se a
habilidade de leitura é uma necessidade pragmática, de uso, e permite a realização inclusive de
atividades básicas, como deslocar-se de um ponto a outro, de fazer compras e realizar tarefas cotidianas,
entre outras ações, a prática da leitura é um instrumento determinante para o exercício da cidadania e
para a participação social.
Sendo assim, viabilizar essas práticas leitoras a uma comunidade que é desprovida de quase
tudo, até do mínimo necessário para se viver dignamente, é algo que contribui para que haja a formação
de pessoas capazes de criticar e opinar sobre as questões que envolvem a sua prática como cidadão.
Ao disponibilizar esse tipo de espaço para comunidade, principalmente para crianças e
adolescentes, indivíduos que estão construindo sua individualidade, seu modo de pensar e de agir,
estamos contribuindo para a formação de cidadãos críticos que exerçam plenamente a sua cidadania,
pessoas que atuam diretamente na sociedade e comunidade em que vivem tendo o conhecimento pleno
de seus direitos e seus deveres.
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