HISTÓRIA 1 Profª Isabel Cristina Simonato REVOLUÇÃO RUSSA: textos de aprofundamento (1) Na Rússia até 1917, o poder político estava nas mãos do czar. O último czar foi Nicolau II, que governou de 1894 a 1917. Uma grande parte da população russa acreditava que Nicolau II não era responsável pelas grandes dificuldades impostas a ela. Para muitos, o czar ainda poderia ajudá-los a minimizar a fome, a reduzir a falta de habitação e reduzir a opressão do trabalho pelo capital. A maioria do povo não tinha consciência de que Nicolau II era apoiado pela aristocracia rural, pela burocracia, pelo clero e pelo exército imperial. Talvez também não soubessem que, em 1897, por ocasião do censo, Nicolau II respondeu que era “dono da terra russa”, quando foi perguntado sobre a profissão que exercia. No entanto, em 1905, o povo começou a conhecer melhor o czar. Nesta parte, você poderá compreender os motivos pelos quais isto aconteceu. O primeiro documento é uma petição (ato de pedir) dos operários ao czar. Procure perceber como eles confiavam em Nicolau II. O outro documento mostrará o que aconteceu. Na petição dos operários ao czar (texto 1) podemos perceber a confiança que estes depositavam em Nicolau II. Milhares de homens, mulheres e crianças, dirigiram-se até o Palácio de Inverno, em busca de uma solução para os seus problemas. Para eles, o czar era a única pessoa que poderia solucioná-los. A proteção do trabalho pela lei, a igualdade de todos perante a lei, a abolição dos impostos indiretos e um salário normal eram as principais reivindicações dos operários. A manifestação era pacífica e todos confiavam na boa vontade de Nicolau II. Veja no texto 2 a reação do governo à manifestação dos trabalhadores. Texto 1: “Petição dos operários ao czar: 1905 Majestade! Nós operários da cidade de São Petersburgo1, nossas mulheres, nossos filhos e nossos velhos pais inválidos, viemos a V. Majestade procurar justiça e proteção. Caímos na miséria, oprimem-nos, sobrecarregam-nos de trabalho esmagador, insultam-nos; ninguém reconhece em nós o homem. Somos tratados como escravos, que devem aguentar pacientemente seu amargo destino e calar! E aguentamos o destino! Porém somos compelidos (obrigados) cada vez mais para o abismo da miséria, da ausência de direito, da ignorância. O despotismo (poder de dominação) e a arbitrariedade (ação que não respeita as leis e as regras) nos esmagam e estamos nos afogando. Chegamos ao fim de nossas forças, Majestade! O limite da paciência foi ultrapassado, pois chegamos nesse momento terrível em que é preferível morrer a ver prolongarem-se sofrimentos insuportáveis. E então abandonamos o trabalho e declaramos aos nossos patrões que não começaremos a trabalhar antes que tenham satisfeito nossos pedidos. O que nós pedimos é pouca coisa. Só pedimos aquilo sem o qual a vida não é vida, mas prisão de forçados e tortura infinita. Nosso primeiro pedido era que nossos patrões examinassem, junto conosco, as nossas necessidades; mas mesmo isso nos foi recusado, recusaram-nos o direito de falar de nossas necessidades, achando que a lei não nos reconhece este direito. Ilegal também foi considerado nosso pedido de diminuir o número de horas de trabalho até oito horas por dia; de estabelecer o preço do nosso trabalho em conjunto; de melhorar as nossas instalações (oficinas) (...). Segundo os nossos patrões tudo era ilegal, todos os nossos pedidos eram um crime. 1 São Petersburgo era a capital do Império Russo; por ocasião do início da Primeira Guerra, modificou-se o nome da cidade para Petrogrado. Com a vitória da Revolução de Outubro, passou a chamar-se Leningrado. HISTÓRIA 2 Profª Isabel Cristina Simonato Majestade! Somos aqui mais de 300.000, todos homens somente pela aparência, pelo aspecto. (...) Qualquer de nós que se atreve a elevar a voz para a defesa dos interesses da classe operária é encarcerado, mandado para o exílio (...). Majestade! Será que isto é conforme as leis divinas, pela graça das quais V. Majestade reina? Pode-se viver debaixo de tais leis? Não seria preferível morrermos todos, nós trabalhadores de toda a Rússia? Que os capitalistas e os funcionários somente, então, vivam (...). Eis o que está diante de nós, Majestade, e o que nos concentrou junto aos muros de seu palácio. É aqui que estamos procurando nossa última salvação. Não recuse a proteção ao seu povo; tire-o do túmulo do arbitrário, da miséria, da ignorância (...).” Texto 2: “O Domingo Sangrento Nicolau II, o último dos czares, fuzilado pelos bolcheviques em 1917, era um cretino e um irresponsável, tão incapaz quanto Luís XVI, decapitado na Revolução Francesa. Sua estupidez evidenciou-se no evento que deflagra, em 1905, o chamado ‘Domingo Vermelho’ ou ‘Sangrento’. Em janeiro de 1905, cento e cinquenta mil operários de Petrogrado, mulheres e filhos, se dirigiram ao Palácio de Inverno do czar levando uma petição para o ‘papaizinho czar’, como o povo o chamava. Conduzido por um padre ortodoxo, Gapon, a multidão portava imagens de santos, cruzes e grandes retratos do czar e membros da família imperial. Mas não conseguiu chegar a seu destino. Nas proximidades do palácio, a guarda do czar, obedecendo a ordens superiores, abriu fogo contra a multidão produzindo centenas de mortes e outras centenas de feridos.(...) A notícia desse massacre repercutiu em toda a classe operária do Império Russo: uma greve geral explodiu em Moscou, em Varsóvia, na Polônia, e em Tiflis, capital da Geórgia, no Cáucaso. Ao todo, entraram em greve mais de oitocentos mil operários. No campo, milhares de camponeses se rebelam contra seus senhores (...).” (LEMINSKI, Paulo. Leon Trótsky – A paixão segundo a Revolução. 1986.) A 09 de janeiro de 1905 (Calendário Juliano), manifestantes foram “recebidos à bala” quando se dirigiam para o Palácio de Inverno, resultando na morte de centenas de manifestantes e ferimento de outros tantos.