Atividade 1: Gabarito das respostas

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Respostas da Atividade 1
1) Identifique o tipo de iconicidade (formação de palavras, ocorrências de expressões)
nos textos abaixo:
a) Domingo no parque
[...]
Juliana girando – oi girando
Oi na roda gigante – oi girando
Oi na roda gigante – oi girando
O amigo João – oi João
O sorvete é morango – é vermelho
Oi girando e a rosa – é vermelha
Oi girando, girando – é vermelha
Oi girando, girando – olha a faca
Olha o sangue na mão – ê José
Juliana no chão – ê José
Outro corpo caído – ê José
Seu amigo João – ê José
[...]
Resposta: Iconicidade diagramática: arranjo icônico de signos, sem necessária
intersemelhança. O verbo girar é empregado no gerúndio (forma verbal que indica um
processo em andamento) e essa forma se repete várias vezes (girando... girando...
girando) para se criar uma representação linguística do movimento da roda-gigante.
Pode-se entender, também, que esse arranjo linguístico procura criar o efeito do
movimento durante a briga entre João e José.
A interjeição “ê” também tem uma relação icônica com a realidade criada no texto,
pois parece criar um efeito de uma voz que ecoa numa advertência.
b) Poema Brasileiro
No Piauí de cada 100 crianças que nascem
78 morrem antes de completar 8 anos de idade
No Piauí
de cada 100 crianças que nascem
78 morrem antes de completar 8 anos de idade
No Piauí
de cada 100 crianças
que nascem
78 morrem
antes
de completar
8 anos de idade
Antes de completar 8 anos de idade
Antes de completar 8 anos de idade
Antes de completar 8 anos de idade
Antes de completar 8 anos de idade
(Ferreira Gular. Toda poesia, 1993)
Resposta: Iconicidade diagramática: arranjo icônico de signos, sem necessária
intersemelhança. A repetição dos versos constrói a representação de que o fato de
crianças morrerem tão cedo no Piauí vem se repetindo nesse estado brasileiro.
Quanto à fragmentação na configuração do enunciado, pode-se entender que serve
para colocar em destaque cada informação sobre o fato representado, sobretudo o de
que a vida de muitas crianças é, lamentavelmente, interrompida muito cedo (última
estrofe).
c) Na Chapada
Há um chuvisco na chapada
em toda a mata um cochicho em ch
chuá chuá na queda d’água
eu me espicho e fico quieta
nada me falta
[...]
(Tetê Espíndola & Carlos Rennó. Na chapada. In SOS Brasil. LP Som Livre, 1889)
Resposta: Iconicidade imagética: estreita relação entre um item e seu referente
(uma relação de mimetismo). No texto, há ocorrência de onomatopeia: chuá... chuá,
bem com há o som palatal em chuvisco (que nesse contexto evoca o ruído da queda
d’água da chuva ), e em cochicho (relação com sons abafados da mata).
d) Canção do Exílio
Minha terra tem palmeiras da Califórnia
onde cantam gaturamos de Veneza
[...]
A gente não pode dormir
Com os oradores e os pernilongos.
(Murilo Mendes. Poemas. In Poesias, 1959)
Resposta: Iconicidade diagramática: arranjo icônico de signos, sem necessária
intersemelhança. No texto, há ocorrência de um item lexical – pernilongos – , que
dá nome a um inseto que tem como particularidade “pernas longas”, o que motivou
essa denominação. Já uma palavra como “mosquito”, esta não se constituiu por
motivação icônica: há, nesse caso, uma relação inteiramente arbitrária entre o signo
e o referente (inseto) representado.
e)
Os docinhos da festa são olho-de-sogra, casadinho, pé-de-moleque, salva-vida.
Resposta: Iconidade por transferência metafórica (responsável pela iconicidade dos
processos de denominação). Os docinhos recebem essa denominação pela
semelhança que podem sugerir com o formato do olho, com um casal, com um pé
sujo de criança, com uma boia salva-vida.
1) A construção dos enunciados a seguir exemplificam que subprincípio da iconicidade?
f)
[...] Quando uma cobra morre ou foge ou se muda, o rio seca, o rio desaparece.
Muitos caboclos já assistiram à luta de duas mães de rio. A do Arari tinha
brigado, perdera as forças, para conservar o rio.
Marajó, de Dalcídio Jurandir (2008)
Resposta: Subprincípio da integração: conteúdos que estão mais próximos
cognitivamente também estarão mais integrados na expressão linguística (o que está
mentalmente junto se coloca sintaticamente junto). Há uma relação de causa e efeito
(estado de coisas que percebemos como inseparáveis no mundo) expressa no fato de
a cobra ter perdido as forças (efeito) ao brigar (causa); e, na representação
linguística, a ausência da conjunção e (pode ser também a conjunção por isso,
então) aproxima mais as orações, numa forma de integração.
g)
Levanta, sacode a poeira e dá volta por cima.
(letra de canção popular)
Resposta: Subprincípio da ordenação linear: a distribuição das palavras na oração
pode corresponder à sequência cronológica das ações (“Vim, vi e venci”). No
enunciado apresentado em (g), as ações representadas pelos verbos (levantar,
sacudir, dar a volta) estão ordenadas segundo uma sequência cronológica
constituída no mundo.
2) Sobre a noção de isomorfismo, responda: existe uma correlação transparente entre
forma e função (ou seja, a cada forma corresponde uma função)?
Resposta: Entende-se por isomorfismo a relação unívoca entre forma e função. Esse
princípio é contrariado, em parte, pelo fato de que essa relação entre forma e função
pode ser opaca: uma forma pode ter várias funções, ou uma função pode se realizar por
várias formas. Por exemplo, o sufixo –inho pode expressar tamanho diminuto (casinha),
afetividade (Ela minha mãezinha), pejoratividade (Que garotinho perverso!), valor
superlativo (Minha casa fica bem pertinho). Portanto é uma forma com várias funções.
3) Apresente a distinção entre figura e fundo e identifique, no texto abaixo, enunciados
que compõem o plano da figura e os que formam o plano de fundo.
Um asno, vítima da fome e da sede, depois de longa caminhada, encontrou um campo de
viçoso feno ao lado do qual corria um regato de límpidas águas. Consumido pela fome e
pela sede, começou a hesitar, não sabendo se antes comia do feno e depois bebia da água ou
se antes saciava a sede e depois aplacava a fome. Assim, perdido na indecisão, morreu de
fome e de sede. (Fábula de Buridan, filósofo da Idade Média)
Resposta: Entende-se por figura e fundo os dois planos em que o discurso pode se
organizar, distinguindo-se o que é central do que é periférico. A Figura corresponde ao que
central; é a parte constituída pelas informações mais relevantes do ponto de vista de quem
produz o discurso (as orações que constituem esse plano apresentam verbos de ação, no
passado, no pretérito perfeito, sujeito intencional, são afirmativas, tem o verbo no modo
indicativo, sujeito agente, objeto afetado e individuado). Fundo corresponde ao que é
periférico; é a parte que vai emoldurar, contextualizar as informações centrais.
Nas narrativas, o plano da figura está representado por eventos concluídos (verbo no
passado), pontuais (verbo no pretérito perfeito), afirmativos, modo realis (verbos no
indicativo). No texto apresentado, as orações que compõem a figura são: Um asno, vítima
da fome e sede, encontrou um campo de feno; começou a hesitar; morreu de fome. As
orações/construções que compõem o fundo são: depois de longa caminhada (tempo);
consumido pela fome e pela sede (causa da hesitação); não sabendo se antes comia do feno
e depois bebia da água ou se antes saciava a sede e depois aplacava a fome (modo da
hesitação); perdido na indecisão (causa da morte).
4) No estudo da informatividade, Prince (1981, p.235) classifica os referentes (entidades)
do discurso em três categorias de acordo com o conhecimento compartilhado pelo
ouvinte/leitor acerca desses referentes. Apresente essa classificação exemplificando-a.
Resposta: Prince (1981) propõe uma taxionomia quanto ao estatuto das informações,
reconhecendo três grandes categorias de entidades:
1) Informação Nova (introduzida pela primeira vez no discurso). Pode ser uma informação:
- inteiramente nova (nova-em-folha) se é introduzida pela primeira vez no discurso e não está
disponível na mente do leitor/ouvinte. Ex.: Era uma vez um rei que tinha uma linda filha.
- ancorada: pode estar esclarecida por outras informações (aposto, orações adjetivas restritivas,
ou explicativas). Ex.: Um rapaz com que trabalho foi assaltado ontem./ Ana, minha filha, é
psicóloga.
- disponível: aquela que diz respeito a um referente único no mundo, previamente conhecido.
Ex.: O sol está lindo hoje; O Brasil está situado na América do Sul; A FIAT está fazendo
grandes promoções.
2) Informação Evocada ou Velha: aquela que pode ser recuperada textualmente ou
situacionalmente. Ex.: a) Meu marido é médico. Ele trabalha no hospital das Clínicas. / b)Você
poderia me dizer as horas? O referente pode ser textualmente evocado (dêitico textual no
exemplo a), ou situacionalmente evocado (dêitico situacional, no exemplo b).
3)Informação Inferível: aquela identificada por um processo de inferência, a partir de outras
informações dadas no texto.
Ex.: A palestra começou e o público ficou em silêncio.
5) Responda: os verbos auxiliares são um exemplo do processo de gramaticalização?
Resposta: Sim. Verbos auxiliares são, a princípio, verbos plenos (itens lexicais) que passam a
ter também uma função gramatical, a de verbo auxiliar, que é aquele que vai compor uma
construção ao lado de um verbo principal. Portanto, há um processo de gramaticalização quando
um verbo pleno passa a ter também papel de verbo auxiliar (item gramatical). Enquanto, nas
locuções verbais, os verbos principais expressam a informação de mundo, os verbos auxiliares
se flexionam para expressar noções gramaticais de número/pessoa, tempo/modo (Vou sair cedo;
Terei viajado quando ele chegar); além disso, podem indicar a noção de aspecto (Começou a
estudar; Parou de estudar; Voltou a estudar etc.), ou modalização do que está enunciado pelo
verbo principal (Você deve estudar; Não posso ir). Entram também na construção da voz
passiva analítica (A cidade foi invadida por gafanhotos).
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