CLASSIFICAÇÕES

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CLASSIFICAÇÕES
Diferentemente do que é a vocação das categorias em sentido técnico, as classificações
dependem diretamente de critérios epistêmicos sem veracidade evidente e são empíricas, no sentido
que damos sempre a este termo; e é também no que respeita à forma perfeita das classificações – as
sistemáticas -, mesmo se estas obedecem a exigências formais mais fortes. Tão-pouco a elas é
possível, por princípio, aplicar aquilo que, segundo Kant, caracteriza as categorias: «as categorias
são os conceitos que prescrevem a priori leis aos fenômenos e, à natureza, enquanto conjunto de
todos os fenômenos» [Crítica da Razão Pura, B 163].
Não obstante, intervêm nas classificações e nas sistemáticas leis de organização, decorrentes
dos pares – categorias no primeiro grau – ano/múltiplo e todo/partes; implicam também estipulações
relativas ao sentido e, repita-se, satisfazem os requisitos das categorizações em geral. Por fim, tal
como qualquer categorização, as classificações são por definição realistas. É uma exigência de toda
a classificação eregir-se sobre algumas «unidades não convencionais» - querendo-se, por essa via,
corrigir o relativismo que lhes advêm do seu empirismo e da sua contingência natas. Trata-se de um
realismo interno à intenção classificadora.
1.
Contornos
As classificações e as sistemáticas ocupam uma posição algo desconcertante na constituição
do conhecimento e na sua relação com ele. Por várias razões e em diferentes sentidos. Em primeiro
lugar, não é imediatamente evidente se, e de que modo, elas são susceptíveis de produzir
conhecimentos. Aparentemente uma classificação limita-se a dispor certos objectos, de determinada
maneira, segundo certos critérios. Por sua vez, na óptica do conhecimento real, as sistemáticas
poderão parecer supérfluas; retomando os termos de Kant, tratar-se ia, aí, mais do «plano» do que
dos «materiais» do conhecimento [cf. Crítica da Razão Pura, A 707,B 735], no âmbito de uma
«metodologia da razão» que, precisamente, compreende uma arquitetórica definida enquanto «arte
dos sistemas» [ibid, A832, B860].
Quer dizer, no caso das classificações, achar-se-íamos num momento anterior ao
conhecimento e, no caso dos sistemas, numa situação a ele posterior. É o que, aliás, é sugerido, quer
pela dependência da noção de classificação para com as classes, quer pela relação entre sistemática e
sistema. A organização dos objetos de investigação em classes representaria uma fase preliminar
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das atividades de conhecimento – e o arranjo não criaria novos conhecimentos, mesmo que
unificasse e consolidasse os conhecimentos existentes [«O todo é portanto um sistema articulado
(articulatio) e não apenas uma acumulação (coacervatio); pode assim crescer a partir do interior
(per intussusceptionem), mas não a partir do exterior (per appositiomen), semelhante ao corpo de
um animal a que o crescimento não junta qualquer membro mas, sem alterar a proporção, torna cada
um dos seus órgãos mais forte e apropriado aos seus fins», ibid, A 833, B 861]. Como, portanto,
caracterizar os efeitos de conhecimento próprios ao pensamento classificador?
É igualmente difícil a posição conceptual das classificações, pois estão no cruzamento de
várias dimensões cognitivas. Baseadas em semelhanças e contrastes, colocam-se entre o unívoco e o
equívoco, reúnem análise e síntese. Como escreve M. Burge [1967, p.75], «a classificação é o meio
mais simples de, simultaneamente, discriminar os elementos de um conjunto e agrupá-los em
subconjuntos – isto é, de analisar e de sintetizar», na base de uma concepção ainda que rudimentar
ou implícita, de natureza do conjunto. Nestes termos, as classificações estariam na intersecção da
representação não interpretada, ou suponho um mínimo de interpretação, de uma fenomenologia –
incluindo as fenomenologias abstratas – e de uma teoria propriamente dita: entre «descrição» e
«explicação» (cf. cap. 3, S10), pensamento empírico e pensamento científico. Mas é preciso ter
ainda em contra outras classificações que exprimem o resultado ou que são o condensado de uma
teoria; nestes casos, as classificações têm também um alcance explicativo e preditivo. Numa
palavra, o seu lugar é mais ou menos acima das colecções e mis ou menos abaixo ou ao lado das
leis.
Por outro lado, e para além do que já foi dito, elas são uma manifestação direta do
pensamento categorial. No sentido mais preciso, as noções de entidade, de qualidade, de relação e de
quantidade intervêm de modo imediato nas classificações – classificam-se populações de objetos,
segundo as suas propriedades e as suas interações com outros objetos. As classificações representam
uma atualização não menos direta do par identidade/diferença, do mesmo e do outro, e estabelecemse sobre uma relação de precedência (de cada nível relativamente ao seguinte), isto é, sobre uma
modalidade do par anterior /posterior... E já Aristóteles recomendava que se classificasse por
opostos. O pensamento classificador encontra-se também, desde sempre, lidado à teoria da essência
e da definição e revela aí a solidariedade do pensamento e da linguagem: no século XVI, o botânico
Gesner exigiu expressamente que os gêneros fossem denotados por substantivos comuns [citado por
Arber 1953, p.166].
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Finalmente, as atividades de classificação estão profundamente enraizadas na filogênese,
construindo uma condição primacial para a sobrevivência. Os animais classificam o seu meio
consoante o que nele é ou não alimento, consoante os seus concorrentes, os seus parceiros sexuais,
os seus inimigos, as suas presas, ect.[cf.Mayr 1969, p.54; J. Monod sublinhou ser indubitável « que
os animais são capazes de classificar objetos e relações segundo categorias abstratas, nomeadamente
geométrica», cf. Monod 1970, p.166].
Classificar constitui uma atividade intelectual primitiva. Lembrando, de novo, a
antropologia, Levi-Strauss, entre tantos outros, pô-lo em evidência, mostrando, por exemplo, como,
para o pensamento totêmico, os animais são «bons» não para comer, mas para pensar, isto é, para
classificar [cf. Levi-Strauss 1962-b, p.128]. por tudo isto, as definições das classificações tendem a
revelar-se tautológicas [cf. Mayr, ibid, ibid.]. Dando dois exemplos, o biólogo G. Simpson chama
classificação zoológica a uma ordenação dos animais em grupos, a partir das relações existentes
entre eles, e define as taxonomias como sendo as classificações dos organismos [citado por Mayr,
ibid, pp. 4 e 2]; e, segundo L. Apostel, uma classificação é um conjunto de divisões completamente
regulado pela relação «preceder» [Apostel 1963, p.159; cf. a seguir, 3].
Assim, o caráter aparentemente intermédio das classificações – a meio caminho entre
conhecimento científico e identificação do dado, empírico e transcendental, fato e essência, uno e
múltiplo, etc. – representa, na realidade, uma omnipresença que deriva da sua posição
cognitivamente dominante. Vamos, de seguida, desenvolver este conjunto de indicações.
2.
Das colecções às classificações
As classificações de animais e os bestiários, os «herbários» e os lapidários da Idade Média
oferecem um material de eleição para ilustrar o modo como se elaboram os critérios que presidem às
classificações. Sem pensar em apurar uma gênese ideal para classificações que determinasse a priori
os seus graus e desse a conhecer a melhor classificação em cada domínio, ou seja, a sua
classificação «absolutamente natural» (cf. a seguir, 3), constata-se no entanto, que a sucessão das
classificações vai no sentido de um enriquecimento em coerência e em complexidade. Mas os
exemplos escolhidos não significam estádios de um mesmo desenvolvimento histórico.
Encontram-se catalogações que não se estabelecem sobre qualquer critério. Testemunham a
seu modo aquilo que J. Bottéro foi descobrir nos antigos Sumérios, «uma tendência indiscutível para
a curiosidade pelas coisas; uma propensão para as analisar e arrumar; uma espécie de racionalidade
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que explica a muito arcaica paixão... pela linguagem, pela classificação, pelos dicionários» [Bottéro
1974, p. 153]. É o espirito que anima as summae, os thesauri, os hortimedievais e as enciclopédias
do Renascimento (um exemplo entre muitos, o lapidário de Marbode, escrito em hexâmetros latinos,
no século XII, e seguidamente traduzido e adaptado em várias línguas, que descreve
desordenadamente 61 pedras). Nestas listas as próprias matérias freqüentemente não representam
homogeneidade, existindo bestiários que contém animais fabulosos como o licorne ou o grifo assim
como plantas e pedras. No início do século XVII, a célebre enciclopédia de Aldrovandi, embora já
temática, arrumará as harpias e os dragões entre os animais de sangue vermelho (os vertebrados).
Semelhante forma de apresentação é ainda típica, em pleno século XVI, das colecções dos
«simples» vegetais, ou seja, os constituintes dos medicamentos, indicando essa designação que,
precisamente, se não pretende discernir relações entre as plantas registadas. E a ordem alfabética, às
vezes utilizada, introduz apenas uma aparência de arrumação, pois não é acompanhada do
apuramento de aproximações e analogias morfológicas ou funcionais; assim, um dos tratados do De
Mineralibus de Alberto o Grande cataloga, de A a Z, 100 «pedras preciosas e seus poderes.».
Contudo, progressivamente, a ordem alfabética começa a dar-se no interior de contextos
organizados e converte-se, então, num meio secundário de ordenação; tal sucede no caso de
Aldrovandi ou em numerosos herbários até ao século XVI, por exemplo, os de W. Turner, Brunfels
ou Fuchs [cf. Arber 1953].
As classificações constituem arranjos definidos graças a critérios. Mas estes podem ser
somente simbólicos, tal como o par Yin e Yang. E, na Idade Média cristã, encontram-se lapidários
identificando as pedras preciosas segundo a sua pertença ao livro do Êxodo e ao Apocalipse, nos
quais as pedras preciosas ocupam um lugar importante [Pannier 1973, pp.210 segs; cf. Êxodo, 28, 17
segs. E Apocalipse, 21, 18 segs.]. Chega-se mesmo a construir listas imaginárias como a «coroa da
Virgem» que associa pedras, flores e estrelas [Pannier, ibid, p.217], derivando a analogia do
«brilho» das três séries de coisas. Mas, evidentemente, nenhum critério interno justifica as escolhas
feitas...
Desde Platão e, sobretudo, desde Aristóteles [cf., por exemplo, De part animal, I, 1-5 e Seg.
Anual, II, 13-14, já referidos, § 2,c] e da Isagoge de Porfírio, que o gênero, a espécie e a diferença
(três das «cinco vozes») orientam as verdadeiras classificações e as diferenças fixam o regime
intencional]; a partir daí, torna-se possível pôr a claro os critérios das classificações, mesmo quando
eles não estão expressamente declarados. Assim, Isidoro (Etymologiae, XII) divide os animais em
(1) gado (pecora) e equídeos, (2) feras, (3) animais pequenos (minuci animates), e os roedores em
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geral mas também, entre outros, as formigas, (4) serpentes, incluindo, entre outros, o dragão e o
basilisco, (5) vermes, (6) peixes, (7) aves e (8) insetos (minuta volatilia). Nesta classificação
intervêm considerações morfológicas (os quadrúpedes (I), (2) e (3) opõem-se a todos os outros),
utilitárias (Isiforo distingue os equídeos, jumenta, que servem para o transporte, dos pecora
destinados à alimentação e à agricultura), a domesticabilidade (as feras, bestiae, a que o grifo
pertence), e estatura [em (3) e (8), o habitat].
Mas estes critérios não se acham unificados, os fundamentos da divisão variam, e não se
descortina qualquer articulação entre classificação em extensão e determinação em compreensão: as
distâncias entre peroca e jumenta, minuti animastes, bestiae, são as mesmas que entre todos eles e as
aves ou os peixes. Tal articulação é o que procurava já, apesar das suas imperfeições, e
classificações zoológica de Aristóteles.
Nesta, os animais distinguem-se em sanguíneos e não sanguíneos, ou seja, em vertebrados e
invertebrados subdividem-se em vivíparos, ovíparos e ovivivíparos, os vivíparos em quadrúpedes,
ápodos e voláteis, os quadrúpedes em polidáctilos, artiodáctilos e perissodáctilos, etc. Tem-se, pois,
uma separação das classes e das subclasses, segundo diferenças bem marcadas e únicas para cada
nível [sangue, geração, meios de locomoção, ungulação; cf. em Vegetti 1979, p.49, uma
reconstrução completa da classificação aristotélica]. A classificação dos vegetais de Alberto o
Grande, inspirando-se em Teofrasto, obedece aos mesmos requisitos. Com efeito, opõe plantas sem
folhas (uma parte das criptogâmicas) às plantas com folhas (as fanerogânicas e uma parte das
criptogâmicas ) e, no interior destas, as plantas corticosas (monocotiledónias) às tunicas
(dicotiledónias), que se subdividem em plantas lenhosas e herbáceas. Então, pois, aqui bem
marcadas as diferenças entre gêneros e espécies [cf. Teofrastro, Investigação sobre as Plantas, I,
3.1] a partir dos caracteres comuns respectivos [Ibid, I, 3,5], que se não confundem [para Alberto,
cf. Arber 1953, pp. 134-54].
Isso é, passou-se de situações em que o pensamento, por assim dizer, adere aos seus objectos,
para encadeamentos hierárquicos regulados. Entre aquelas e estes, os fundamentos das divisões
revelam-se freqüentemente factícios, hesitantes ou extrínsecos; ou originam-se em critérios cujo
cruzamento não é ordenado, como sucede em Isidoro e em muitas das classificações naturais até ao
século XVII. Ora é interessante verificar que num plano completamente diferente, a ontogênese das
classificações, tal como foi estudada por Piaget e pelos seus colaboradores, reproduz em certa
medida o percurso aqui desenhado [cf. Inhelder e Piaget 1959].
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Seguindo Piaget, há três estádios principais na elaboração das classificações. Sem distinguir
o objeto e a classe, a criança constrói primeiro «colecções figurais». Ela é capaz de reconhecer
relações de semelhança, mas só as aplica a objetos que se apresentam sucessivamente ou a partes de
objetos, sem se alçar à relação partes/todo: esta relação institui-se apenas em conjuntos contínuos,
não nos conjuntos descontínuos. Como os primeiros compiladores, a criança está amarrada ao
sensível, «procede gradualmente, esquecendo o que acaba de fazer e não prevendo o que se seguirá:
alinha, por exemplo, o conjunto dos elementos dados, alterando a cada momento o critério que
determina as suas aproximações sucessivas, ou, constrói, então, um objeto coletivo ou complexo
justapondo os elementos, sem plano nem coerência» [Inhelder e Piaget,I I, op.cit., p.285].
À partida, intervém unicamente a assimilação sensório-motora, cujos efeitos em
compreensão não são acompanhadas de uma visão em extensão (o que parece igualmente produzirse na história das classificações, em que os critérios intencionais e obtém mais facilmente do que as
ordenações em extensão). A determinação das classes só se fará pela introdução de procedimentos
simultaneamente «retroativos» e «antecipadores», susceptíveis de operar um regresso ao início da
construção e de introduzir uma coerência entre os começos e a continuação; e o «problema central
das classificações» - aquele mesmo que escapou por inteiro a Isidoro – consistirá então na
coordenação progressiva da extensão e da compreensão [ibid, p. 283]. Em seguida, as colecções
deixam de ser apenas figurais e obtém-se gradualmente a distinção entre «todos», isto é, a noção de
classe.
Mas não se chega de imediato a um escalonamento ordenado das unidades classificadas.
Num segundo estádio, como em muitas classificações medievais ou renascentistas, «as colecções
consistem em pequenos agregados baseados apenas nas semelhanças, que permanecem juntapostos
sem ainda serem incluídos em classes mais gerais» [ibid, p.53]. Além disso, oscilar-se-á durante
muito tempo entre um método «ascendente», reunindo aqueles pequenos agregados em conjuntos
mais vastos, e um método «descendente» que opera por subdivisões mais ou menos ao acaso, ou por
dicotomias no interior do conjunto tomado na sua totalidade. Ora, constata-se de algum modo o
mesmo tipo de incerteza na oposição, quando não é dominada, entre a determinação empírica,
indutiva, ascendente, das classes, a partir dos traços comuns dos objetos, e uma divisão arbitrária e
incaracterística dos conjuntos [foi essa uma das censuras dirigidas por Aristóteles ao método
platônico da diairesis, cf. De partib. Animal., I, 3, 643b 9-644a 12].
Por fim, o terceiro e último estádio atinge-se com a conquista, assaz difícil, da noção de
inclusão e, portanto, de hierarquização. Ao resumir todo o desenvolvimento, Piaget concluirá que,
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sem conhecer as estruturas lógico-matemáticas das classificações, «o sujeito tende por si próprio a
construir formas que lhes são progressivamente isomorfas» [ibid, p.282]. Permitindo-nos só
acrescentar que isso não é surpreendente. Essas estruturas não existem «em si», são o outro nome da
nossa capacidade de categorizar.
3.
Estrutura das classificações
As classificações estabelecem-se sobre os princípios constitutivos e de individuação dos
entes que categorizam (cf. acima § 2g). em contrapartida são, não tomam em conta os atributos que
singularizam cada ente; na linguagem dos Tópicos, não têm aí lugar os «próprios» e os «acidentes»,
ou seja, tudo o que pertence à problemática do indivíduo. Este viável é, no entanto, o de uma
armadura conceptual perfeitamente geral, que permanece a mesma em todos os dispositivos de
identificação da experiência [observe-se que P.F. Strawson, ao distinguir entre atributos «de
espécie» e «característicos», que correspondem aos atributos constitutivos e de individuação, se
reclama expressamente de um «critério categorial», cf. Strawson 1959, pp. 167 segs.]. A estrutura
das classificações exige uma análise mais detalhada e levanta problemas específicos.
Em primeiro lugar, uma classificação deve empregar uma nomenclatura estável, apropriada e
cômoda; em todos os domínios científicos - tanto na biologia como nas matemáticas, na química e
nas ciências da terra -, a história das classificações consiste, antes de qualquer outra coisa, na
elaboração de sistemas de designação que satisfaçam essas exigências. São bem conhecidos os
avanços decisivos realizados, em botânica e em zoologia, pelo sistema binominal de Lineu, onde o
gênero é derrotado por um substantivo e a espécie por um adjetivo, e, em química, pela notação de
Berzelius, mediante a associação de letras e pesos atômicos dos elementos, em que índices
numéricos exprimem as proporções nas combinações destes. Essas nomenclaturas puseram fim a
ambigüidades e a uma desordem terminológica que haviam reinado durante séculos.
Em seguida, uma classificação deve, tanto quanto possível, conformar-se a um certo número
de requisitos, tanto de ordem extensional, como de ordem intencional. Vamos indicar os mais
importantes, bem como os principais problemas que suscitam [cf. a exposição sistemática de
L.Apostel 1963 e também Woodger 1937 e Gregg 1954]. Exatamente, sabemo-lo as divisões de uma
classificação não devam ser vazias nem sobrepor-se no seu conjunto devem exaurir a totalidade do
domínio em questão. Mas é ainda necessário que elas estejam completamente ordenadas por uma
relação de precedência que fixa a hierarquia dos níveis: uma divisão A precede uma divisão B se, e
somente se, A e B dividindo um mesmo domínio fundamental, existe pelo menos um conjunto de B
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que é um subconjunto próprio de A e não existe nenhum conjunto de B que contenha elementos de
conjuntos diferentes de A. Acrescentamos as duas definições seguintes: uma classificação é
estritamente progressiva se não comporta, para qualquer nível subsequente, conjuntos idênticos aos
conjuntos dos níveis antecedentes; e é estritamente progressiva de grau n se, para qualquer divisão,
existem, pelo menos, n classes que diferem das classes das fases precedentes [Apostel, cit, pp. 158
segs.].
A classificação tem, em princípio (cf. não obstante, a seguir, 4), a estrutura de uma árvore
genealógica. Provém de um só ponto de partida (conjunto inicial, inferior ou domínio fundamental),
e é descontínua e regulada pela relação uno/múltiplo em cada ramificação [cf. Gregg, op.cit.,pp.47
segs. E Woodger 1952]. Pode vir a revelar-se infinita, embora qualquer classificação se pretenda
finita e estritamente progressiva. Apostel observa que no domínio fundamental se podem definir
relações de ordem (não-simétricas, não-reflexivas e transitivas), de equivalência (simétricas,
transitivas e reflexivas) e de semelhança (simétricas, reflexivas e não-transitivas), e que a
classificação se procurará adaptar a relações. Por exemplo, a proximidade de duas classes diz que
elas se assemelham mais uma à outra do que a uma terceira classe longínqua dentro da classificação.
Acrescente-se neste contexto que as classificações são elas próprias engendradas graças a relações
desses três tipos, na seguinte seqüência: a partir das semelhanças entre objetos (segundo critérios
morfológicos e estruturais, genéticos, funcionais, pragmáticos, cf. a seguir, 5) definem-se
equivalências (as classes e subclasses do domínio fundamental), para es estabelecer posteriormente
relações hierárquicas de ordem entre essas classes. Descobrimos, assim, atrás das classificações, a
percepção das semelhanças que está também na base da representação, e, vê-lo-emos mais tarde, da
resolução dos problemas.
Apesar das relações de ordem nos encadeamentos hierárquicos dos níveis, de um outro ponto
de vista, contudo, a estrutura lógica das classificações é intransitiva [como observa Gregg, cit.,
p.49]. A relação de precedência fixa ascendentes e uma transitividade entre os níveis hierárquicos.
No entanto, se, por exemplo, se afirma que um gênero comporta um certo número de espécies e que
uma destas espécies comporta um certo número de variedades, isso não nos autoriza a afirmar que
uma destas variedades se segue logicamente daquele gênero. A transitividade e a continuidade dos
níveis institui-se sobre e contra uma intransitividade na estratificação (descontínua) das unidades
classificatórias que compõem a árvore. Nestes termos, as classificações revelam simultaneamente
uma tensão entre a seqüência dos níveis hierárquicos (a precedência, a estrutura de ordem) e a
passagem de um termo para cada um dos termos posteriores (as ramificações, a estrutura de árvore).
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São estes alguns dos aspectos formais das classificações, consideradas em extensão. Nas
classificações reais verifica-se, no entanto, com freqüência, a existência de casas vazias e
intersecções de classes; além disso, a reunião destas pode não coincidir com o conjunto inicial
estrito. Haverá, portanto, «regiões de indeterminação» [Apostel,op.cit.,p.165], cujas causas variarão
conforme os domínios ou consoante os critérios de classificação (cf. a seguir, 5): quer dizer, é-se
permanentemente obrigado a tomar decisões taxonômicas, contingentes por definição [Mayr 1969,
cap.9]. A classificação designa-se, então, como aproximada e procurar-se-á, em relação a cada um
dos problemas indicados, mensurar a aproximação e definir os limites da tolerância quanto à
indeterminação. Cada elemento de uma classificação terá índices positivos e negativos de
determinação, a saber, o número de classes a que pertence e de que exclui, em virtude da sua
pertença a uma classe determinada.
Uma divisão dir-se-á natural se for a mais bem adaptada (aproximadamente) a um domínio; e
absolutamente natural se significar a divisão natural relativamente ao conjunto completo das
divisões cientificamente possíveis de um domínio [Apostel, ibid., p. 169]. Mas é bom observar que
a idéia de uma divisão (simplesmente) natural só é aceitável se se tiver em
conta o caráter
provisório de toda a classificação empírica; e que a noção de divisão absolutamente natural tem um
interesse apenas heurístico, pois nunca se conhecerá o conjunto das participações «cientificamente
possíveis» de um qualquer domínio empírico.
Dito por outras palavras, não só ocorrem indeterminações, de fato, na maior parte das
classificações como é ainda impossível corrigir a dependência destas em relação ao estado dos
conhecimentos (assim como a sua dependência para com as classificações anteriores). O peso das
indeterminações varia conforme os níveis; é claro que, numa classificação biológica, um erro sobre
a variedade de uma espécie será menos importante do que um erro sobre uma família. Em suma, as
considerações extensionais devem ser acompanhadas por uma abordagem em compreensão.
Conforme as designação tradicionais, ela estabelece-se a partir da essência, que define as
classes, e da diferença específica, que distingue as classes; estas duas noções continuam no
fundamento dos mecanismos classificadores. Acentua-se que aquilo a que se chama essência
dependerá sempre de decisões epistêmicas, tomadas dentro da situação de fato dos conhecimentos a
essência não envolve qualquer «essencialismo». Mas isso não significa que as classificações sejam
meramente convencionais (e, por isso, é de conservar o termo essência).
O grau de essencialidade das propriedades varia consoante o ponto de vista que se assume,
em razão da hierarquia dos níveis. As propriedades do limite inferior, embora estendendo-se ao
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conjunto de divisões, tornam-se progressivamente menos essenciais para a definição dos níveis
sucessivos na sua especificidade; em contrapartida em relação à classificação no seu conjunto, as
propriedades mais essenciais continuarão a ser as do limite inferior, descrevendo a partir daí. Quer
dizer, uma classificação deve ser lida simultaneamente de cima para baixo e de baixo para cima.
(Recorde-se que a classificação dos predicáveis nos Tópicos foi já uma tentativa de hierarquização
dos graus da essencialidade e da extensão das propriedades no contexto da proposição.
Em matéria de intenções, é pedido que as propriedades sejam nítidas, que as divisões se
baseiem nas próprias coisas e que o fundamento das divisões se mantenha inalterado para todas as
divisões a um mesmo nível. Além disso, as diferenças em intenção, entre divisões a um mesmo
nível, devem situar-se a distâncias sensivelmente análogas, e, de nível para nível, devem variar de
modo regular. Por fim, desde Aristóteles se sublinham os inconvenientes de definição das classes
por meio de um só caráter [cf. De partib. Animal., I, 3, 643b 26-644a
11]. Retomaremos
seguidamente algumas destas questões.
Como no que se refere à extensão, também as exigências intencionais não são habitualmente
satisfeitas na sua totalidade. Nem os traços distintos são sempre inteiramente unívocos, nem o
fundamento das divisões de mesma ordem se revelam sempre únicos. E, na s próprias coisas, nunca
se saberá decidir a priori que caracteres preferir, mesmo em presença de uma massa considerável de
informação. (Um exemplo entre tantos outros: o fundamento das divisões botânicas foi procurado na
corola, por Tournefort; as proporções e na posição dos estames relativamente ao pistilo, por Lineu;
no desenvolvimento do embrião, por Jussieu; em considerações de simetria, por Candolle, ect.). A
escolha de critérios intencionais é o motor da história das classificações.
Também as distâncias intencionais entre as classes e a variação das diferenças inter-níveis
não são constantes. Diz-se então que a harmonia do sistema é posta em causa. Como no que respeita
aos requisitos extensionais, ser-se-á levado a tomar decisões sobre as margens de tolerância.
4.
Da classificação às sistemáticas
Estas últimas considerações referem-se já sistematicidade das classificações, ou às
classificações tornadas sistemáticas [como escreve ainda Apostel, o sistema é «o produto» da
atividade classificatória, op. cit., p.195] .Seja qual for a sua natureza – árvore ou, como veremos,
tabela -, uma sistemática deixa-se descrever como a realização concreta da dialética dos pares
uno/múltiplo e pares/todo. Eles apresentam afinidades, mas não se confundem.
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A relação uno/múltiplo que não designa agora uma disposição arborescente (como antes, 3),
manifesta-se sob duas formas. Qualquer classificação e qualquer sistemática representam o
rebatimento de uma multiplicidade de dimensões, as facetas dos objetos, sobre uma ordem
classificadora única, cuja complexidade varia segundo os critérios adotados e o seu número
[«entendo por sistema a unidade dos diversos conhecimentos sob uma idéia», Kant, Crítica da
Razão Pura, Arquitetônica da razão, A 832, B860]. Pôde descrever-se uma biblioteca nestes termos
coloridos: «um conjunto de livros ordenados forma um conjunto unidirecional e unidimensional,
susceptível de ser acompanhado pelo olhar e manipulado de um modo seqüencial; mas representa ao
mesmo tempo o contínuo multidimensional do pensamento. Assim, a classificação de uma
biblioteca é equivalente à representação de um continuum multidimensional numa única dimensão»
[S. Ranganathan 1951, p.94]. Para que a classificação seja elucidativa sobre os seus objetos é,
porém, ainda preciso que tal rebatimento conserve as propriedades significativas destes, isto é, a
ordem única deverá enraizar-se na diversidade dos objetos.
O sistema encontra-se, assim, no extremo oposto das colecções desordenadas, que
poderíamos apelidar classificações degeneradas; como a «classificação» se faz aí respeitado todos os
aspectos dos objetos, ele consistirá numa reunião de singularidades. Entre as duas, situar-se-iam as
ordenações não tendo em grande conta as propriedades intrínsecas dos objetos – como os lapidários
simbólicos – ou, na ontogênese das classificações, e o segundo estádio piagetiano (cf. acima, 2).
Os três arranjos correspondem às soluções-tipos do problema da classificação segundo
Apostel, a saber, as classificações que se esforçam por articular a unidade dos critérios com a
pluralidade dos objetos – ou que se fazem todas as dimensões possíveis – ou segundo uma dimensão
qualquer, achando-se todos os eventos fundamentos das divisões em pé de igualdade[cf.Apostel, op.
cit,, p.197]. note-se que só no primeiro caso há uma coordenação de intenção e extensão. As
colecções curam exclusivamente das intenções e um arranjo segundo divisões arbitrárias erige-se, na
realidade, sobre a pura extensionalidade (as classificações da zoologia fantástica de J.L. Borges
seriam deste tipo; voltaremos à questão).
Além disso, a relação uno/múltiplo joga no interior das classificações através dos requisitos
intencionais acima indicados. O «uno» significa agora o equilíbrio entre as divisões, o «múltiplo» o
número destas divisões. À primeira vista pareceria ser só em nome de uma construção harmônica
(em nome do sistema) que se reclama uma ordem na evolução dos níveis e nas diferenças das
classes a um mesmo nível, pois esses requisitos não derivam, aparentemente, duma racionalidade
simplesmente intencional. No fim de contas, porque não aceitar intervalos irregulares entre as
11
Einaudi-classificações.doc
classes e saltos desproporcionados entre os níveis, desde que classes e níveis estejam bem
determinados? Na verdade, os dois pontos de vista, harmônico e simplesmente internacional, vão a
par e isso significará que a sistemática constitui uma exigência própria de qualquer classificação, e
não um fechamento suturante, adicionado por «espírito de sistema» ou tendo em vista finalidades
exteriores, por exemplo e transmissão escolar; a coerência sistemática é mais do que um índice
secundário da coesão de uma classificação.
O par uno/múltiplo examinado sob esse ângulo exprime-se pela relação partes/todo. No
sentido forte, uma sistemática deve exibir a compenetração entre todo e partes que Kant reclama
para um sistema: «A unidade da finalidade a que se referem todas as partes, e, ao mesmo tempo, o
facto de se referirem umas às outras na ideia dessa finalidade, faz com que nenhuma parte possa
faltar sem que a sua ausência seja notada, quando se conhecem as outras; e com que não possa haver
uma adição ocidental ou uma quantidade indeterminada de perfeição, sem limites determinados a
priori», seguindo-se o texto que citamos no início (acima, 1). Lê-se depois que a ciência se deve
fundar «arquitectonicamente, em razão da afinidade das suas partes e da sua derivação de uma única
finalidade suprema e interna, e que o seu esquema deve conter... o esboço (monograma) do todo e
da sua divisão em partes» [A 832-33, B 860-61].
É certo que as sistemáticas não são os sistemas em cuja problemática não nos cabe entrar.
Mas o texto de Kant enuncia os problemas-chave das sistemáticas: as semelhanças e as diferenças
entre as partes (as suas «afinidades»), a sua dependência quanto ao conjunto («aderivação de uma
única finalidade suprema») e a dependência do todo em relação às partes («nenhuma parte pode
faltar sem que a sua ausência seja notada»: ou seja, ela é constitutiva do todo). Todos são igualmente
decisivos – mas o último virá revelar-se como o mis crítico (cf. § 5 d).
Registra-se de passagem que, para Kant, afinidade não é o mesmo que semelhança, mas
aquilo que lhe está subjacente. Voltaremos a esta questão. No Apêndice à Dialética Transcendental,
consagrado, em grande parte, às «forças fundamentais comparativas» [A 649, B677] - «cuja
existência não é, porém, demonstrada, de maneira alguma, pela lógica» (ibid, ibid.) - a finalidade e a
«continuidade das formas» é a lei de organização comandando, ao mesmo tempo, a homogeneidade
e a verdade [a 657-58, B 686-87]. Mas não antecipemos, senão para observar que, entendida sob
este ângulo, a problemática da classificação respeita em última análise ao modo como «a razão
prepara ao entendimento o seu campo» [ibid, A 657, B 686]. Trata-se, efetivamente, de uma força
fundamental [649, B 677, o sublinhado é de Kant]. Voltando aos três problemas de A 832-33, B
860-61]:
12
Einaudi-classificações.doc
Apesar de todas as incertezas de fato, a comparação das partes de uma sistemática encontrase em princípio assegurada pelos critérios de classificação (eles próprios dependendo de uma teoria
que determina as semelhanças e os contrastes a serem considerados). Do mesmo modo, o grau de
autonomia das partes relativamente ao todo é susceptível de uma avaliação fundada em regras
intencionais, a saber, a relação de cada grupo de atributos definidores dos demais níveis – bem como
os seus corolários extensionais, a saber, os índices de determinação e de indeterminação dos
elementos [mencionados em 3; sobre estes problemas, cf. as análises de Husserl na IIIa Investigação
Lógica, 1913 – em contrapartida, o nominalismo de Husserl quanto à existência de todos, cf. ibid,
§§ 21-25, faz com que o terceiro problema não apresente uma importância comparável]. Ora,
embora não seja sempre fácil decidir do grau de independência de uma classe numa classificação, a
dificuldade inversa é mais árdua no seu próprio princípio. Eqüivale a perguntar: como interpretar e
determinar a ausência?
Este problema não é senão o das irregularidades, que, numa sistemática, se descreverão
como lacunas, a um mesmo nível ou no escalonamento dos níveis. A questão é bem conhecida nas
sistemáticas biológicas (os missing links em geral): em que condições um intervalo é «excessivo» e
representa um «buraco»? Nenhuma resposta absoluta é susceptível de ser dada. Em primeiro lugar, a
tolerância em relação às irregularidades depende da estrutura das sistemáticas: assim, as de tipo
genético tenderão a acolhê-las mais facilmente do que as de tipo estrutural (cf. a seguir, 5). Além
disso, não faz avaliar os graus de irregularidade em termos puramente formais, as margens
admitidas estabelecem-se em função da teoria que suporta a classificação: só são significativas as
irregularidades inexplicáveis no seu quadro. Isto em tese geral, pois, a partir de um certo limiar, a
ser decidido caso a caso, as considerações «harmônicas» prevalecerão sobre os critérios
«simplesmente intencionais» e o excesso de irregularidades e de ausências fará nascer suspeitas
quanto às próprias teorias. Há limites para a poda de uma árvore... Existe, portanto, uma
solidariedade dos critérios harmônicos e intencionais: as classificações têm uma vocação
sistemática.
Por outro lado, as classificações deixam-se comparar e, num mesmo grau de naturalidade
(simples, no sentido anteriormente indicado de uma boa adaptação, num certo momento, aos objetos
a classificar), serão preferidas as que apresentem menos lacunas. As regularidades e irregularidades
das classificações serão, assim, como que meios da sua corroboração e da sua falsificação. Decerto,
não os únicos, já que o destino das classificações acompanha, antes de tudo o mais, o das teorias a
13
Einaudi-classificações.doc
que estão associadas; mas representam processos de avaliação específicos das classificações
enquanto tais, suscetíveis de serem aplicados independentemente das teorias.
O mesmo sucede, e de modo redobrado, em relação a um segundo gênero de classificações,
que não tem a forma de uma árvore (ou onde as arborescências, quando existem, são secundárias e
locais), mas de uma tabela que distribui os objetos certas irregularidades [Granger 1960, pp. 132-33,
distingue classificações «lineares» e «combinatória».] A sua melhor ilustração continua a ser a
tabela de Mendeleev, que exibe a ligação da periodicidade dos números atômicos dos elementos e
das suas propriedades físico-químico. Na realidade, as tabelas exprimem teorias acabadas sobre as
propriedades e relações dos objetos classificados; e as lacunas são aí as casas vazias, que podem
revelar-se previsões decorrentes da própria tabela. Assim, a tabela de Mendeleev fazia pressentir a
existência de elementos mais tarde efetivamente descobertos.
As ausência são defeitos, que se procurará reduzir. Ainda no mesmo exemplo, para
salvaguardar a unidade de sua classificação, viu-se obrigado a inverter a ordem de alguns deles (pois
o subsequente apresentava uma massa inferior à do precedente). Mas essas inversões viram-se
justificadas a partir do momento em que se substituíram os números atômicos às massas. E isto levanos a uma última questão.
5.
Classificação e conhecimento
Consideraremos sob este título dois grupos de questões: a justificação objetiva das unidades
de classificação dos critérios da classificação – e a posição das classificações dentro do
conhecimento.
«Entretanto, pretendo fazer ver que a natureza, conferindo, com a ajuda de muito tempo, a
existência a todos animais e a todos os vegetais, formou realmente em cada um desses reinos uma
verdadeira escala (relativamente à composição crescente desses seres vivos), mas que essa escala,
que se trata de reconhecer, ao aproximar os objetos segundo as suas relações naturais, só oferece
graus apreensíveis nas massas principais da série geral e não nas espécies ou sequer nos gêneros; a
razão desta particularidade provém do fato de a extrema diversidade das circunstâncias em que as
diferentes raças de animais e de vegetais se encontram não ter qualquer relação com a crescente
composição da organização entre eles... e do fato de ela fazer surgir nas formas e nos caracteres
exteriores anomalias ou espécies de desvios que a composição crescente da organização não teria
podido por si só ocasionar »[Lamarck 1809, p. 107]. Este texto inscreve-se no longo debate sobre a
existência sobre a existência das espécies animais. Lamarck, como por exemplo, Buffon e como,
14
Einaudi-classificações.doc
posteriormente, Darwin insiste na fluidez das fronteiras, nas variações intermediárias entre as
espécies. A controvérsia não está completamente encerrada [cf. por exemplo, Suppe 1971 e Bernier
1971] e à continuidade evolutiva vêm acrescentar-se outros fatores de incerteza [cf. Mayr 1963, trad.
italiana pp. 25 segs.]. Mas é ainda mais contestável pretender negar a existência das espécies.
Segundo Mayr, os membros de uma espécie formam uma comunidade reprodutora (reconhecem-se
como parceiros sexuais e procuram-se com o objetivo da reprodução), ecológica (interagem com as
outras espécies enquanto unidade) e genética [uma espécie forma «um pool genético protegido»
através de certos «mecanismos de isolamento», Mayr 1969, p.26]. A filogênese evolutiva e a
genética fornecem instrumentos para caracterizar convenientemente as espécies.
Ora, esta preocupação de adequação – e desde o século XVIII que a controvérsia da
classificação se desenvolve em seu nome –denota justamente o espírito realista das classificações. O
trabalho do taxonomista consiste em fundar as suas divisões principais nas próprias coisas e, se se
escolhe o exemplo da zoologia, é por o realismo se revelar aí menos evidente; com efeito, é difícil
imaginar o que poderia significar um «nominalismo» em relação à distribuição dos cristais nos seus
sete sistemas, ou em relação às classificações matemáticas em geral [quanto à disposição dos
elementos químicos, como diz Dagognet 1969, p. 130, ela é «numeral»].
O verdadeiro problema é um outro: saber o que, numa classificação, é objetivo e o que é
arbitrário e qual a parte consentida de artificio. O princípio admitido em zoologia, segundo o qual só
a espécie tem de representar uma entidade real, pode estender-se a todos os domínios. Para uma
classificação ser objetiva é suficiente - conforme correspondem efetivamente aos caracteres dos
indivíduos nela compreendidos. Nestas condições, obtém-se «classificações verdadeiramente
naturais» [Candolle 1813, p. 91]. No interior dessa unidade (em zoologia, as subdivisões da espécie:
variedades, subespécies e eventualmente raças), as flutuações não comprometem a objetividade do
sistema. Como escrevia Aristóteles, que citamos a questão é aí apenas de diferenças de «menos». O
mesmo vale quanto à inclusão da unidade fundamental unidades superiores. Uma vez dito isto, as
regiões de indeterminação e o caráter mais ou menos completo de uma classificação variam
consoante as disciplinas. Em química, por exemplo, a enorme variedade das estruturas atômicas e
moleculares torna problemática uma classificação integral dos elementos químicos; e isômeros e
macromoléculas suscitam, cada um a seu modo, problemas de fronteira muito delicados na fixação
das unidades.
A questão seguinte diz respeito aos caracteres que definem as unidades taxonômicas. Em
abstrato, equivalem-se todos e, se os únicos objetivos de uma classificação fossem a exaustividade e
15
Einaudi-classificações.doc
a perfeita disjunção das classes, satifazer-nos-íamos, no limite, com divisões dicotômicas, marcando
em cada ramificação, por um só caráter, um dos ramos, sem que fosse necessário definir
positivamente o conjunto-complemento... Quais são então os critérios de uma boa classificação? A
questão está relacionada com a multiplicidade dos aspectos dos domínios a classificar.
Formalmente, às três soluções que examinamos – classificações segundo todos os aspetos ou
segundo um aspecto ou que equilibram unidade e multiplicidade – tenderão a corresponder,
respectivamente, classificações que, à partida, não privilegiam nenhum caráter, ou que se elaboram
segundo um único, ou segundo vários caracteres.
As classificações morfológicas e estruturais do primeiro tipo. Através do exame dos objetos
sob uma quantidade de ângulos diferentes e graças à sal comparação com outros sob diferentes
relações, apuram-se homologias e equivalências e uma estrutura de conjunto que forma a malha que
distribuirá estudados. Assim procede a cristalografia, mas também a lingüística e a antropologia
estruturais, segundo um programa admiravelmente pelo botânico. M. Adanson: «É portanto,
necessário considerar as raízes, os caules, as folhas & os frutos, enfim, todas as partes & qualidades
ou propriedades & faculdades das Plantas. É do número, da figura, situação e promoção respectiva
dessas partes, é da sua simetria, é da comparação das suas relações ou semelhanças & das suas
diferenças & da comparação das suas qualidades; é conjunto que nasce a conveniência, essa
afinidade que aproxima as Plantas & as distingue em Classes e Famílias. A verdadeira física das
Plantas é pois a que considera as relações de todas as suas partes & qualidades, sem excetuar uma
só; reúne todas as Plantas em Famílias naturais que deve ser feita do Método natural...» [Adanson
1763, pp. Clvj-clviiij].
Contra ela dirigiu Candolle objeções que valem em princípio para todas as classificações
morfológicas. Elas supõem, escreve Candolle, «que conhecemos não apenas todos os órgãos das
plantas, mas ainda todos os pontos de vista sob que é possível considerá-los»; e supõem ainda
também «que todos os órgãos têm igual importância e, de igual grau de interesse» [A. de Candolle
1813, pp. 70-72]. Porém, deve notar-se que, na prática, em função dos pressupostos teóricos da
classificação, uma seleção dos ângulos de abordagem dos objetos e das melhores correspondências
se acha sempre feita. Por outro lado, as classificações podem desembocar numa verdadeira
geometria. Essa era já a inspiração da idéia de unidade do plano de composição defendida por E.
Geoffroy St. Hilaire e que os trabalhos de D’Arcy Thompson – circunscritos, é certo, às
transformações entre formas afins de uma mesma biológica [cf. D’Arcy Thompson 1961, trad.
italiana p. 295 – começaram a ilustrar.
16
Einaudi-classificações.doc
Desde as críticas de Aristóteles ao método platônico da divisão, já o recordamos, se diz que
as classificações assentando num só caráter correm o risco de reunir manifestamente dispares ou de
separar objetos pertencentes às mesmas espécies naturais [cf. De partib. Animal., I, 3]. No entanto,
um traço distintivo aparentemente único pode, quando analisado, revelar-se complexo
nomeadamente, a seqüência filogenética acompanha-se, segundo de Lamarck, por «uma composição
crescente da organização» e desdobra-se num grande número de características. As classificações
genéticas – a classificação das es estrelas é outro exemplo – são com efeito a principal forma das
classificações com base num só traço distintivo [cf. Apostel cit., p.199; para este autor, as
classificações morfológicas, genéticas e «pragmáticas» representam os três modos possíveis de
reduzir
a
variedade
nos
objetos].
Elas
defrontam-se
com
obstáculos
derivados
da
«multidimensionalidade intrínseca da ordem genética» e das «múltiplas formas que qualquer gênese
pode assumir»[ibid., p. 199]. Daí resultam, como se assinalou em (4), dificuldades quanto à
obtenção de uma disposição que obedeça aos requisitos harmônicos das classificações; é –se, por
isso, levado a buscar classificações mais estruturais, e até, no que respeita à sistemática animal, a
sonhar com «uma espécie de tabela de Mendeleev da biologia» tal como o imagina A Pichot:
«Esta tabela compreenderia um certo número um número finito de grandes casas (as
ramificações), cada uma delas contendo um número finito de casas mais pequenas (as classes), e
assim sucessivamente até às casas mais pequenas, correspondendo cada uma a uma espécie. Esta
classificação agruparia, assim, todas as formas vivas possíveis (presentes, mas também passadas e
futuras) com u substrato físico-químico tendo na base carbono, hidrogênio e azoto. A repartição das
casas fundar-se-ia unicamente ao imperativo de coerência interna.... o preenchimento das casas, ou
seja, a existência real de uma forma em afrontar o meio, bem como o acaso das mutações que faz
aparecer tal ou tal forma... Por fim... como as espécies derivam uma das outras, as casas não são
todas preenchidas ao mesmo tempo»[Piachut 1980, p. 153, cf. pp. 147 segs.]. ter-se-ia, então, dado
remédio à multiplicidade e sobretudo à divergência dos desenvolvimentos filogenéticos, mas, muito
provavelmente, ter-se-ia também deixado escapar a ordem temporal desses desenvolvimentos, salvo
se isso pudesse transparecer em modificações na composição físico-química dos substratos... Há
uma tensão essencial entre classificações genéticas e estruturais, que reproduz a oposição entre as
explicações de um e de outro tipo.
Na realidade, uma boa classificação, seja genética, morfo-estrutural ou funcional, faz-se
segundo «muitas diferenças» [Aristóteles,De Partib.animal.,I, 3, cit., 643b 13] cruzadas, quer dizer,
é do terceiro tipo que indicamos. A variedade dos caracteres constitui uma garantia formal da
17
Einaudi-classificações.doc
adequação da classificação. Mas , sob pena de cair nas dificuldades da abordagem morfológica, será
preciso, como pedia A de Jussieu, pesar e calcular os caracteres, estabelecer relações de
subordinação, entre eles, coordenar extensão e intenção; e, para isso, é indispensável que a
classificação se apoie numa boa teoria.
Dado isto como adquirido, como é que, por sua vez, as classificações contribuem para o
conhecimento? A coberto de uma mesma designação – a classificação, entendida como uma
qualquer arrumação de objetos – consideram-se, de fato, coisas muito diversas, desde uma descrição
muito próxima do empírico, «neutra» por relação às formas mais elaboradas do conhecimento, até
uma teoria complexa. No primeiro sentido, lê-se na secção do artigo, «Método» da Encyclopédia
consagrada à classificação: «Quando se pretende discernir as produções da natureza antes de as
haver conhecido, é preciso, necessariamente, ter-se um método. Na ausência do conhecimento das
coisas, que só se adquire com uma visão freqüente e com uma observação exata, tenta-se uma
instrução por antecipação sem ter visto nem observado: substitui-se a inspeção dos objetos reais
enunciado de algumas das suas qualidades», apuradas pelas diferenças e semelhanças mais
imediatamente aparentes entre eles [Jacourt 1795, p.458].
Não há, porém, oposição entre classificar e conhecer. M.Bunge distingue classificações préteóricas – baseadas sobre semelhanças exteriores e superficiais – e classificações teóricas,
consistindo o progresso na passagem de uma para as outras. Retomando um exemplo clássico, a
semelhança de forma entre cetáceos e peixes ( que outrora os reunia nas classificações) é explicado
à luz da teoria da evolução, como representado um processo análogo de adaptação a um mesmo
meio [Bunge 1967, p. 83]; a sistemática biológica, tanto zoológica como botânica, assenta hoje na
idéia de evolução, que reinterpreta as ordenações anteriores. Do mesmo modo, Lavoisier realizou
uma viragem decisiva (relativamente aos quatro elementos, aos metais – inicialmente sete, e uma
vintena no fim do século XVIII -, às classificações das terras, das pedras, etc), porque foi o primeiro
a unir uma teoria química coerente e rica e uma classificação precisa; e o sistema de Mendeleev
depende inteiramente da teoria atômica.
Na relação entre classificação e teorias, será licito distinguir alguns aspectos e situações.
1) As classificações constituem uma determinação dos objetos do saber; fixando o fato,
reduzem a ambigüidade. Foi essa a principal aportação da sistemática de Lineu («fixista»,
justamente) graças à qual se tornou viável demarcar fronteiras entre as espécies, até então erráticas e
enredadas. A determinação do fato inicia-se pela sua identificação, segundo os critérios acima
apurados. E já a este nível se descobrem analogias ou correlações mais ou menos imediatas [cf. G.
18
Einaudi-classificações.doc
St. Hilaire 1830, p. 182: , «Adquiri os primeiros elementos de história natural dos animais ao
ordenar e classificar as coleções confiadas aos meus cuidados»]. Elas são susceptíveis de vir a
revelar-se falsas, mas terão fornecido uma primeira indicação teórica e o princípio de heurísticas que
orientarão a investigação.
2) As classificações contribuem diretamente para o conhecimento científico, quando
estabelecem conexões que farão parte de uma teoria. Tais conexões são de natureza diversa –
equivalências funcionais, dinâmicas, tábuas de combinação. Por exemplo, o ordenamento das
estrelas segundo a sua grandeza e o seu aspecto (ou segundo parâmetros apenas espectroscópicos)
está na base dos estudos sobre a evolução dos sistemas estelares, e as classificações das formas e
simetrias cristalinas tiveram o papel que se sabe na elaboração da teoria da estrutura dos cristais.
Estas classificações constituirão um aspecto da teoria definitiva e poderão vir a ser nela
parcialmente reformuladas; mas o seu alcance não é agora exclusivamente heurístico.
3) A classificação é o objetivo da teoria – ou esta, na sua forma acabada, exprime-se por uma
classificação. A situação é corrente em matemáticas ou quando as classificações apresentam um
fundamento matemático poderoso, freqüentemente de tipo serial ou combinatório. É o que sucede
em cristalografia: os grupos espaciais, as classes de orientação, as redes de Bravais são estruturais
matemáticas. Nas próprias matemáticas poder-se-ia mencionar, ao acaso, a teoria dos irracionais do
livro x de Euclides, a classificação das secções cônicas, a enumeratio 72 curvas cúbicas, as
classificações e sistemas de equações diferenciais, e a teoria geral dos números, ect.
Aqui a situação é outra. A teoria é indispensável da classificação, e esta significa o próprio
conhecimento. Assim, com a tabela de Mendeleev, , «a ciência química metamorfoseia-se, muda de
estatuto, põe-se a funcionar sozinha, realiza uma espécie de autoprodução. A invenção deixa de
consistir em exumar um ordem íntima, mas é a própria ordem que se muda em invenção, em método
que multiplica o saber» [Dagognet 1969, pp. 97-98]. Na realidade, as classificações, qualquer que
seja o seu grau de formalização, e quer sejam «árvore», quer «tabela», traduzem-se em previsões.
Estas indicações sugerem, pois, que existe uma ligação, em vários planos, entre classificar e
antecipar um conhecimento futuro. Em todas as situações mencionadas, as classificações, ou
formam elas próprias uma teoria completa com todas as suas previsões, ou preparam
aprofundamentos teóricos. Recorde-se a classificação das curvas cúbicas. Newton repartiu-as em
quatro classes, uma das quais contendo cinco espécies, e estabeleceu, além disso, que toda e
qualquer cúbica deveria poder obter-se pela projeção de uma destas cinco espécies; mas o teorema
da projeção, assim como outras proposições, só mais tarde foram demonstradas por outros
19
Einaudi-classificações.doc
investigadores. Quer dizer, a classificação newtoniana prolongou-se em procedimentos de fundação.
Mostrar, classificando, é uma forma embrionária de demonstrar, e as classificações solicitam, por
assim dizer, as teorias que virão a escorá-las completamente. Elas são, portanto, plenamente
constituintes do conhecimento. Provenientes de uma análise dos dados de fato, que é já mais ou
menos teórica, as classificações conduzem a novos conhecimentos.
6.
Em conclusão
Três pontos principais sobressaem das análises precedentes. Antes do mais, a diversidade dos
contextos de relevância, no que se refere à percepção de semelhanças. Eles são estruturais,
morfológicos, dinâmicos, funcionais, sistemáticos, dão-se em todas as etapas da atividade de
classificatória, são mais ou menos abstratos e podem, eventualmente, ser investigados por técnicos
altamente refinadas; é o caso da taxonomia numérica, onde a avaliação das semelhanças e das
diferenças se faz estatisticamente e é geometricamente representável. Trata-se agora de uma
«percepção de semelhanças» inacessível à simples representação de origem sensível.
Viu-se também que as classificações não são só preliminares do conhecimento, mas que
jogam nos diversos estádios da sua construção. A classificação pode mesmo revelar-se a expressão
mais elevada do conhecimento, e, então, ela não arruma o conhecimento, mas produ-lo. Para, além
disso, as classificações possuem valor heurístico e fazem previsões de estados de coisas não
observados, quer dizer, têm, igualmente, estatuto de explicação. É assim, sem dúvida, graças à sua
compenetração com as teorias. No entanto, verificamos também que essas previsões decorrem da
circunstância de ser a teoria a exprimir-se na forma de uma classificação: e à estrutura das
classificações e das sistemáticas que se reportam as irregularidades numa árvore ou as lacunas numa
tabela. A classificação invade a teoria tanto quanto dela depende.
Começamos, por fim, a ver operar os pares categoriais – identidade/diferença,
semelhança/contraste, uno/múltiplo, partes/todo, anterior/posterior (também as classificações do tipo
«tabela» contêm relações de precedência), contínuo/descontínuo (entre «níveis» e taxa, cf. 3). Não
se limitam a modelar a forma das classificações e das sistemáticas – que deles depende diretamente
–mas, ainda, participam no conhecimento, na medida em que aquela forma condiciona por seu turno
a qualidade epistêmica das classificações. É assim que só são boas (isto é, cognitivamente úteis) as
classificações que articulam bem a intenção e a extensão, as partes e o todo. As coleções de
singularidades e as repartições arbitrárias permanecem exteriores ao conhecimento. [F.G.].
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