JORGE LUIZ PENNAFORT PALMA ANTROPOLOGIA I. Introdução. Homem". II. A "Ciência do INTRODUÇÃO A antropologia apresenta várias subdisciplinas: a antropologia biológica (ou física), a antropologia social (ou cultural), a arqueologia e a lingüística antropológica. Em cada uma dessas subdivisões desenvolveu-se um conjunto de técnicas e métodos, que apesar de partilhar o mesmo interesse de compreensão do homem, exigem elevado grau de especialização, sendo hoje impossível ao antropólogo conhecer todas as áreas de sua disciplina. O texto a seguir, portanto, circunscreve-se ao domínio de apenas um dos ramos da antropologia: a antropologia social (ou cultural). Mas uma exposição que se desenvolva sem um objetivo definido torna-se geralmente monótona e cansativa. Assim, optamos por apresentar e desenvolver os conceitos mediante uma discussão do relativismo cultural. Poderiam ter sido escolhidos vários outros temas, mas em defesa da minha escolha, diria que o relativismo cultural desenvolve-se quase que espontaneamente a partir do trabalho do antropólogo social e, tal como pretendo mostrar, inscreve-se no próprio âmago da metodologia antropológica. D A "CIÊNCIA DO HOMEM" A antropologia, como a própria etimologia do termo já informa, é uma ciência sobre o próprio ser humano. Certamente, essa primeira caracterização da disciplina é tão genérica que praticamente em nada nos ajuda. A especificação do objeto de interesse da antropologia, em vez de auxiliar na circunscrição de uma área de atuação, abre um leque de possibilidades tão abrangente que se torna difícil distinguir a sua especificidade em relação a outras ciências sociais ou mesmo naturais. O homem não é uma entidade atemporal; portanto, a antropologia ocupase do estudo dos homens em seu percurso temporal, em todas as eras, históricas e pré-históricas. Os homens não estão circunscritos a um habitat específico, mas ao contrário, estão espalhados por praticamente todas as latitudes e longitudes da superfície terrestre; portanto, cabe à antropologia estudar os homens em sua dispersão espacial, desde as grandes concentrações urbanas às tribos mais remotas. Os homens não vivem isolados uns dos outros, mas em sociedade; sendo assim, também é tarefa da antropologia estudar as diversas formas de organização social dos homens, suas instituições políticas, econômicas, religiosas etc. É, portanto, impossível que as investigações antropológicas não tenham afinidades, ou mesmo se identifiquem, em alguns casos, com as investigações elaboradas por outros ramos estabelecidos de conhecimento, tais como a ciência política, a sociologia, a economia, a psicologia, a história, para citar apenas alguns exemplos. Contudo, o que atribui especificidade à antropologia não é tanto o seu objeto, mas a forma de tratar esse objeto. Se a antropologia é a "Ciência do Homem", devemos agora prestar um pouco mais de atenção ao primeiro substantivo dessa expressão. O que diferencia o saber científico de outras formas de aquisição de conhecimento é o seu rigor conceptual e o exame criterioso dos dados observados (os dados empíricos). Sobretudo, é imprescindível a qualquer disciplina que se pretenda científica a adoção de uma metodologia que forneça instruções a respeito de como coletar e obter dados e de como elaborar hipóteses, generalizações e teorias. Sendo assim, quais seriam as principais características do método antropológico? Mais do que qualquer outro cientista social, o antropólogo está preocupado em examinar o seu objeto por meio da observação direta. É quase uma condição necessária à pesquisa .antropológica que essa se inicie por um "trabalho de campo", ou seja, por uma coleta de dados feita diretamente através do convívio com os próprios integrantes do grupo estudado. Outra característica marcante da antropologia é a comparação de sociedades ou culturas. As comparações podem ser entre grupos étnicos que nos pareçam exóticos ou entre um desses grupos e a nossa própria civilização. Em ambos os casos, a antropologia está sempre atenta à percepção das diferenças socioculturais. Tanto no trabalho de campo como nas análises comparativas, a pesquisa antropológica está sempre às voltas com a diversidade cultural: o trabalho de campo é uma forma de garantir que o investigador vivencie a diversidade e não deixe que os aspectos divergentes sejam negligenciados por seus préconceitos e pré-juízos; a análise comparativa, por sua vez, volta-se para a reflexão teórica sobre a diversidade cultural, tentando explicar suas origens e elementos constitutivos.