RESUMO (PARA ALÉM DO NIILISMO. JÜNGER VERSUS HEIDEGGER) 1 – Heidegger (1889-1976) é o mais importante filósofo contemporâneo e um dos principais pensadores da história da filosofia. Enquanto representante e expoente máximo do pensamento contemporâneo, Heidegger é um grande crítico do pensamento tradicional (metafísico), autenticando e aprofundando a crítica elaborada por vários outros pensadores, entre eles Marx, Freud, Nietzsche, Sartre, etc. 2 – O eixo do pensamento de Heidegger é a questão do ser (Seinsfrage). O objetivo de Heidegger é repetir a questão do ser, que ficou encoberta pela tradição metafísica. O que é o ser? O ser designa o que as coisas são, designa o modo como compreendemos os entes. Logo, o ser é diferente dos entes. Os entes são as coisas que existem efetivamente, e o ser é o modo como as compreendemos. Exemplo: sempre existiram coisas, entes, mas o modo como as compreendemos muda com o tempo. Na antigüidade, compreendíamos as coisas através das idéias platônicas. Na idade média, compreendíamos as coisas como criação de Deus. Na modernidade, como objeto de conhecimento e atualmente como dispositivo técnico. No entanto, afirma Heidegger, quando a metafísica compreende os entes (existência) de diferentes formas, ela sempre acaba entificando essas formas, isto é, tornando-as entidades superioras metafísicas (essência). Este é o procedimento da metafísica: ela entifica o ser. Mas por quê? Heidegger descobriu a razão fundamental da metafísica com Nietzsche: a metafísica entifica o ser para conhecê-lo, dominá-lo e controlá-lo, porque o sentido fundamental de tudo é a vontade (humana) de poder. Ela projeta um mundo perfeito que serve de norte para a humanidade. Em uma palavra: humanismo. Heidegger propõe repetir a questão do ser para mostrar que o ser não se reduz ao império da razão humana, mas para mostrar que, em última instância, o ser tem sua própria história de des-velamento e o homem apenas corresponde a esta história. O homem precisa deslocar-se de sua suposta condição de senhor de tudo o que existe e perceber que ele apenas está tentando acolher os indícios do ser, do modo como o ser quer que ele o compreenda. Entificar o ser é apenas um expediente artificial que encobre a verdade fundamental: o homem não tem poder sobre nada porque, em última instância, é o próprio ser que se mostra. Platão não criou o mundo das idéias, foi o próprio ser que se mostrou assim para Platão. A idade média não criou o conceito de Deus, foi o ser que se mostrou assim para os filósofos medievais. E assim por diante. 3 – Com esta atitude, a metafísica instalou o processo do niilismo, que significa ausência de sentido, pois o ser, que é o verdadeiro sentido de tudo, permanece encoberto e esquecido 1. Jünger tinha visto no fenômeno da técnica moderna a falência dos valores tradicionais e chamou isso de niilismo. Heidegger pensa diferente. A técnica é a consumação e perfeição do pensamento tradicional; representa o estágio final de um processo que começou com Platão, ao criar o mundo das idéias para possibilitar o conhecimento e controle do mundo. A técnica é o último plano de domínio sobre a realidade. Ambos apresentam uma proposta de superação do niilismo. Jünger propõe que cada um recue e migre para a sua interioridade, o último baluarte de resistência. Heidegger é mais filósofo, propõe aguardar uma nova manifestação do ser, onde os deuses (mistério) possam novamente habitar a terra, uma nova época do ser caracterizada pela harmonia com a natureza, e não pelo domínio de tudo. Mas isso não pode ser feito por um ato de vontade humana, pois aí novamente se estaria exercendo a vontade de poder. O que tem que ser feito então? Há que se entregar, se abandonar no destino do ser, esperar que a era da metafísica e da técnica se esgote por conta própria e inaugure uma nova época. Há que se esperar o ser se mostrar. É um gesto de humildade perante o ser, contra o humanismo. 1 Enfim, no lugar da metafísica compreender o ser como um des-velamento próprio, cabendo à razão humana a atitude serena e humilde de aguardar, ela entifica o ser, cria entidades perfeitas (belas, verdadeiras e boas) para conhecer e dominar a realidade.