Como ler a bíblia

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Í NDICE
1. Compreenda o que Você Está Lendo ...............................................................................4
Mentes Alertas .................................................................................................................6
Meditação na Palavra .......................................................................................................7
Oração ao Autor da Palavra .............................................................................................8
Usando Meios e Ajudas ...................................................................................................9
2. Procure o Ensino Espiritual ............................................................................................11
3. A Leitura que é Proveitosa .............................................................................................16
Como Ler a Bíblia
C.H. SPURGEON
Não lestes?... Não lestes? Mas, se vós
soubésseis o que significa:...
Mateus 12.3-7
Os escribas e fariseus, líderes religiosos do tempo de Jesus, liam
bastante a Lei. Estudavam continuamente os livros sagrados, meditando
sobre cada palavra e letra. Faziam anotações de assuntos de importância
mínima, tais como: qual o versículo que ficava exatamente no meio do
Antigo Testamento, que versículo estava na metade do meio, e quantas
vezes aparecia determinada palavra, e até mesmo quantas vezes aparecia
determinada letra, qual o tamanho da letra, e qual a sua posição específica.
Eles nos legaram um acúmulo de anotações sobre as palavras das Sagradas
Escrituras. Poderiam ter feito a mesma coisa com qualquer outro livro, e as
informações teriam sido tão sem importância quanto os fatos que tão
laboriosamente colecionaram, no tocante à letra do Antigo Testamento.
Eles eram, no entanto, assíduos leitores da Lei. Arrazoavam com o
Salvador sobre uma questão concernente à Lei, porque a levavam na ponta
da língua, e estavam dispostos a usá-la como uma ave de rapina usa as
garras para rasgar e romper. Os discípulos de nosso Senhor tinham colhido
algumas espigas de trigo e as esfregavam entre as mãos. Segundo a
tradição farisaica, esfregar uma espiga de trigo é uma forma de debulhar e,
sendo muito errado debulhar no sábado, forçosamente deveria ser muito
errado esfregar nas mãos algumas espigas de trigo, mesmo quando se
estivesse com fome, num sábado de manhã. Assim argumentavam, e
levaram esse argumento para o Salvador, juntamente com a versão que
tinham a respeito da lei do sábado. O Salvador geralmente guerreava no
campo em que o inimigo o atacava, e nessa ocasião também agiu assim.
Enfrentou-os no próprio campo deles, e lhes disse: "Não lestes?" — uma
pergunta muito incisiva para os escribas e fariseus, embora não aparentasse
ser cortante. Foi uma pergunta muito razoável e apropriada para fazer-lhes;
mas pense só em fazer essa pergunta a eles! "Não lestes?" "Ler!" poderiam
ter respondido, "ora, lemos o livro inteiro muitíssimas vezes. Sempre o
lemos. Nenhum texto escapa ao nosso olhar crítico". Mesmo assim, o
Senhor passou a postular a pergunta pela segunda vez: "Não lestes?", como
se nada tivessem lido na realidade, apesar de serem os maiores leitores da
Lei naquela época. Deu a entender que eles não tinham lido mesmo, e
ainda lhes deixou saber por que Ele lhes perguntara se tinham lido. Disse:
"Mas, se vós soubésseis o que significa:...", sugerindo o seguinte: "Vocês
não leram, porque não compreenderam. Seus olhos passaram por cima das
palavras, vocês contaram as letras, marcaram a posição de cada versículo e
palavra, e têm dito coisas eruditas a respeito de todos os livros; apesar
disso, vocês nem sequer são leitores do volume sagrado, pois não
adquiriram a verdadeira arte da leitura; não compreendem e, portanto, não
o lêem na realidade. Vocês fazem uma leitura superficial da Palavra,
mediante breves olhadelas; não a leram, porque não a compreenderam".
Esse é o primeiro tópico desta mensagem.
1. Compreenda o que Você Está Lendo
Não deve ser necessário introduzir estas considerações com uma
declaração da necessidade de ler as Escrituras. Você sabe quão necessário
é alimentar-nos da verdade revelada nas Escrituras Sagradas. Preciso
perguntar se você lê a Bíblia, ou não? Lastimo que a presente época é de
leitura de revistas — uma época da leitura de jornais — uma época de ler
publicações periódicas, mas não tanto uma época de leitura bíblica quanto
deveria ser. Nos tempos antigos, as pessoas tinham poucos suprimentos de
outra literatura, mas achavam uma biblioteca suficiente naquele único
Livro, a Bíblia. E como liam a Bíblia!
Há uma grande escassez das Escrituras nos sermões modernos, em
comparação com os daqueles mestres da teologia, os teólogos Puritanos!
Quase todas as frases escritas por eles parecem lançar luzes adicionais
sobre um texto das Escrituras; não somente o texto a respeito do qual
pregavam, mas ainda muitos outros eram enfocados de modo novo, no
desenvolvimento do sermão. Deus ajude os pastores a seguirem mais de
perto o grandioso velho Livro. Seríamos pregadores instrutivos se
fizéssemos assim, mesmo desconhecendo "o pensamento moderno" e sem
estar "à altura da atualidade".
Quanto a você, que não precisa pregar, o seu melhor alimento é a
própria Palavra de Deus. Os sermões e os livros têm seu valor, mas os
ribeiros que percorrem grandes distâncias acima do solo acabam
acumulando, paulatinamente, alguma coisa das terras através das quais
fluem, e perdem a pureza que refrigera e que possuíam quando brotaram da
fonte originária. Sempre é melhor beber do poço do que da caixa d'água.
Você descobrirá que ler pessoalmente a Palavra de Deus, ler a própria
Palavra mais do que notas sobre ela, é o método mais seguro de crescer na
graça. Beba do leite puro da Palavra de Deus, e não do leite desnatado,
nem do leite com água da palavra dos homens.
Nosso argumento é que boa parte daquilo que parece ser leitura
bíblica não é leitura bíblica de modo algum. Os versículos passam pelos
olhos e as frases deslizam pela mente, mas não há uma leitura genuína.
Certo velho pregador dizia: "A Palavra corre livremente entre muitas
pessoas hoje em dia, pois entra por um ouvido e sai pelo outro"; parece que
assim acontece também com certos leitores — conseguem ler muita coisa,
porque nada lêem na realidade. O olho vê a página, mas a mente nunca se
fixa no conteúdo. A alma não pousa na verdade para ficar ali. Esvoaça pela
paisagem assim como fazem os pássaros, mas não constrói ninho nem acha
repouso para seus pés. Ler assim não é realmente ler. Compreender o
significado é a essência da leitura verdadeira. A leitura tem um âmago,
uma noz, ao passo que a mera casca não tem valor.
Na oração, existe o "orar em oração" — um modo de orar que é o
âmago da oração. Assim também no louvor existe o "louvar com cânticos",
o fogo interior de devoção intensa que é a vida do "aleluia". Assim
acontece também com a leitura da Bíblia. Há uma leitura interior, uma
leitura do âmago — uma leitura viva e verdadeira da Palavra. É essa a alma
da leitura e, sem ela, a leitura é um exercício mecânico que de nada
aproveita.
A não ser que compreendamos aquilo que lemos, não o temos lido;
fica ausente o âmago da leitura. É comum criticarmos os católicos romanos
por conservarem o latim dos seus cultos diários; mas, se a congregação não
ouve com entendimento, não faz diferença se é latim ou qualquer outro
idioma. Alguns se consolam com a idéia de que praticaram uma boa ação
ao lerem um capítulo da Bíblia, sem terem penetrado na mínima parte do
significado; mas a própria natureza certamente rejeita tal coisa como mera
superstição. Se você tivesse virado a Bíblia de cabeça para baixo, e
passado algum tempo olhando na direção das letras assim viradas, o
aproveitamento disso seria tanto quanto o aproveitamento recebido ao ler
de maneira normal, porém sem entendimento. Ainda que se tivesse nas
mãos um Novo Testamento grego, seria grego mesmo para muitos entre
vocês, pois olhar sem compreensão para ele seria tão inútil quanto ler o
Novo Testamento em português, sem compreendê-lo no coração.
Não é a letra que salva a alma; em muitos sentidos, a letra mata, e
nunca poderá dar vida. Se você insistir na letra, exclusivamente, poderá ser
tentado a usá-la como arma contra a verdade, assim como os fariseus
faziam na antigüidade, e seu conhecimento da letra pode criar dentro de
você o orgulho, para sua própria destruição. É o espírito, o significado
interior verdadeiro, quando aspirado pela alma, que nos abençoa e nos
santifica. Ficamos totalmente embebidos na Palavra de Deus, como a lã de
Gideão; e isso pode acontecer somente por meio de acolhermos a Palavra
em nossa mente e coração, aceitando-a como a verdade de Deus,
compreendendo-a suficientemente para nos deleitarmos nela. Devemos
compreendê-la, portanto; de outra forma, é sinal que não a lemos
corretamente.
É certo que o benefício da leitura precisa chegar à alma através do
entendimento. Deve haver conhecimento de Deus antes de poder haver
amor a Deus; deve haver conhecimento das coisas divinas, conforme são
reveladas, antes de podermos desfrutar delas. Devemos procurar descobrir,
dentro das limitações das nossas mentes finitas, o que Deus pretende ao
dizer isso, e o que Ele pretende ao dizer aquilo; de outro modo, podemos
chegar a beijar o Livro, sem termos amor ao conteúdo; e a reverenciar a
letra, sem termos a verdadeira devoção ao Senhor que nos fala através
dessas palavras. Você nunca obterá consolo para a alma através daquilo
que não entende, nem achará orientação para sua vida naquilo que você
não compreende; nenhuma lição prática para o seu caráter pode advir
daquilo que não é entendido por você.
Mentes Alertas
Se, portanto, devemos entender aquilo que lemos, sendo que de
outra forma lemos em vão, reconhecemos que quando passamos ao estudo
das Escrituras Sagradas devemos esforçar-nos para ter nossa mente bem
atenta. Parece-me que nem sempre estamos em boas condições para ler a
Bíblia. As vezes, seria bom fazermos uma pausa antes de abrirmos o Livro.
"Tira as sandálias dos pés, porque o lugar em que estás é terra santa." Você
acabou de chegar de seus negócios seculares, com seus cuidados e
ansiedades, e não consegue pegar naquele Livro e imediatamente penetrar
nos seus mistérios celestiais. Assim como você pede a bênção sobre sua
refeição antes de começar a comer, também seria uma boa regra pedir uma
bênção sobre sua leitura da Palavra antes de ingerir sua comida celestial.
Ore para que o Senhor abra os seus olhos espirituais, antes de você ousar
olhar para a luz eterna das Escrituras. A leitura bíblica é a hora de nossa
refeição espiritual. É só tocar a sineta e convidar todas as faculdades
mentais à mesa do próprio Senhor para fartar-se com a comida que agora
está pronta; ou, melhor, que soe como o toque dos sinos da igreja em
convite para a adoração, porque o estudo das Sagradas Escrituras deve ser
uma ação tão solene como nosso ato de adoração na casa do Senhor.
Meditação na Palavra
Se a leitura começar dessa forma, você perceberá imediatamente
que, para compreender aquilo que lê, precisará meditar a respeito. Alguns
trechos bíblicos ficam claros diante dos nossos olhos — baixos abençoados
onde os cordeiros podem chapinhar; existem, no entanto, profundezas onde
nossa mente poderia antes afogar-se do que nadar com prazer, se ela
chegasse até lá sem cautela. Existem textos das Escrituras que foram feitos
e construídos com o propósito de nos levar a pensar. Por esse meio,
inclusive, nosso Pai celestial quer nos educar para o céu — fazendo-nos
penetrar nos mistérios divinos com a nossa mente. Por isso, Ele nos oferece
a sua Palavra de uma forma às vezes complexa, para nos compelir a
meditar sobre ela, antes de chegarmos à sua doçura. Ele poderia ter
explicado tudo de tal maneira que captássemos o pensamento num só
minuto, mas não foi da vontade dEle fazer assim em todos os casos.
Muitos dos véus que são lançados sobre as Escrituras não têm a intenção
de ocultar o significado aos leitores diligentes, mas de compelir a mente a
ser ativa, pois muitas vezes a diligência do coração em procurar saber a
vontade divina faz mais bem ao coração do que a própria sabedoria obtida.
A meditação e o esforço mental cuidadoso servem como exercício e
fortalecimento da alma, que passa a ficar em condições de receber
verdades ainda mais sublimes.
Precisamos meditar. Essas uvas não produzem vinho até serem
pisadas por nós. Essas azeitonas precisam ser colocadas debaixo da roda, e
prensadas repetidas vezes, para que o azeite flua delas. Olhando para um
punhado de nozes, percebemos quais delas já foram comidas, porque há
um buraquinho onde o inseto furou a casca — só um buraquinho, e lá
dentro há uma criatura vivente comendo a noz. Ora, é uma coisa
maravilhosa furar a casca da letra, para então ficar por dentro comendo a
própria noz. Bem que eu gostaria de ser um vermezinho assim, vivendo
dentro da Palavra de Deus, alimentando-me dela, depois de ter aberto
caminho através da casca e ter chegado ao mistério mais interior do
evangelho bendito. A Palavra de Deus sempre é mais preciosa para o
homem que mais se alimenta dela.
No ano passado, sentado debaixo de uma faia nogueira que se
estendia em todas as direções, e admirando aquela árvore tão maravilhosa,
pensei comigo mesmo: Não tenho nem a metade da estima por essa faia do
que o esquilo tem. Vejo-o, pulando de galho em galho, e tenho certeza que
ele dá muito valor àquela velha faia, porque tem seu lar em algum oco
dentro dela, os galhos são o seu abrigo, e aquelas nozes de faia são o seu
alimento. Ele vive da árvore. É seu mundo, seu pátio de recreio, seu
celeiro, seu lar; realmente, é tudo para ele; mas para mim, não, porque
obtenho meu repouso e minhas refeições em outro lugar. No caso da
Palavra de Deus, é bom sermos como esquilos, habitando nela e vivendo
dela. Exercitemos nossa mente, pulando de galho em galho na Palavra;
achemos nela o nosso repouso e façamos dela o nosso tudo. O proveito
será todo nosso, se fizermos dela nosso alimento, nosso remédio, nosso
tesouro, nosso arsenal, nosso repouso, nossa delícia. Que o Espírito Santo
nos leve a fazer assim, tornando a Palavra tão preciosa à nossa alma!
Oração ao Autor da Palavra
Agora, quero fazê-lo lembrar que, para obter proveito da Palavra,
teremos de orar. É uma coisa excelente sermos forçados a pensar, e coisa
mais excelente ainda é ser forçado a orar pelo fato de ter sido levado a
pensar. Não é verdade que estou falando com alguns de vocês que não
lêem a Palavra de Deus, e que estou falando com muitos outros que a lêem,
mas sem nenhuma resolução firme no sentido de entendê-la? Sei que esta é
a realidade. Você quer começar a ser um leitor verdadeiro? Então, precisa
dobrar os joelhos. Você deve orar a Deus, pedindo orientação. Quem
entende melhor um livro? O próprio autor dele.
Se quero verificar o verdadeiro significado de uma frase um pouco
complexa, e o autor mora perto da minha casa e tenho condições de visitálo, vou tocar a campainha da porta dele e dizer-lhe: "O senhor pode ter a
gentileza de me dizer qual o significado original daquela frase? Não tenho
a mínima dúvida de que ela faz muito sentido, mas eu sou inculto demais
para percebê-lo. Não tenho o conhecimento e o domínio do assunto que o
senhor possui, e, portanto, suas alusões e descrições estão além do meu
alcance. Para o senhor, é um lugar-comum, bem dentro do seu alcance,
mas para mim é difícil. O senhor teria a bondade de me explicar o
significado?" Um bom homem teria prazer em ser tratado assim, e não teria
nenhum problema em deslindar o significado a um leitor interessado e
sincero. Assim, eu teria a certeza de obter o significado correto, porque
estaria indo à fonte original ao consultar o próprio autor.
Da mesma maneira o Espírito Santo está conosco, e quando
tomamos na mão o Livro dEle e começamos a lê-lo, e queremos saber o
significado, devemos pedir que o Espírito Santo nos ensine. Ele não
operará um milagre, mas Ele inspirará a nossa mente, e Ele nos sugerirá
pensamentos que nos levarão através da ligação natural entre eles, até
finalmente chegarmos ao cerne e ao âmago de sua instrução divina.
Portanto, procure com muita sinceridade a orientação do Espírito Santo,
porque, se a própria alma da leitura é o entendimento daquilo que lemos,
logicamente devemos invocar o Espírito Santo em oração, pedindo que Ele
desvende os mistérios secretos da Palavra inspirada.
Usando Meios e Ajudas
Se temos pedido assim a orientação do Espírito Santo, segue-se que
estaremos dispostos a usar todos os meios e ajudas para entendermos as
Escrituras. Quando Filipe perguntou ao eunuco etíope se este entendia a
profecia de Isaías, o eunuco respondeu: "Como poderei entender, se
alguém não me explicar?" Em seguida, Filipe subiu à carruagem e abriulhe a Palavra do Senhor.
Alguns, sob o pretexto de estar sendo ensinados pelo Espírito
Santo, se recusam a ser instruídos por livros ou por homens. Essa atitude
não honra ao Espírito de Deus; pelo contrário, desrespeita-O, porque se Ele
dá a alguns dos seus servos mais luz do que dá a outros — e é claro que
Ele dá — esses estão obrigados a transmitir essa luz aos outros, e usá-la
para o bem da igreja. Se, porém, o restante da igreja se recusa a receber
essa luz, com que propósito o Espírito de Deus a deu? Nesse caso, haveria
a sugestão de que há algum erro na dispensação dos dons e das graças, que
é dirigida pelo Espírito Santo. Não pode ser assim. É do beneplácito do
Senhor Jesus Cristo dar mais conhecimento e entendimento da sua Palavra
a alguns dos seus servos do que a outros, e nossa parte é aceitar com
alegria o conhecimento que Ele dá, da maneira que Ele quer dá-lo.
Seria muita iniqüidade nossa dizermos: "Não queremos os tesouros
celestiais que existem em vasos de barro. Se Deus nos der o tesouro
celestial com a sua própria mão, nós o aceitaremos, mas não através de
vasos de barro. Pensamos que somos suficientemente sábios, com
mentalidade celestial, e muito espirituais para dar valor às jóias quando
estão colocadas em vasos de barro. Não queremos ouvir a ninguém, e não
queremos ler algo além da Bíblia, nem queremos aceitar alguma luz a não
ser aquela que passa por uma fenda em nosso próprio telhado. Não
queremos ver com a claridade da vela de outro; preferimos permanecer na
escuridão". Irmãos, não caiamos em semelhante insensatez. Se a luz vier da
parte de Deus, mesmo que seja trazida por uma criança, nós a aceitaremos
com alegria. Se algum dos servos dEle, seja Paulo, ou Apolo, ou Cefas,
tiver recebido luz, eis que "todas as coisas são vossas, e vós, de Cristo, e
Cristo, de Deus"; aceite, portanto, a luz que Deus acendeu, e peça graça
suficiente para focalizar essa luz na Palavra, de modo que, ao lê-la, você
possa entendê-la.
Não quero dizer muito mais a respeito disso, mas gostaria de fazêlo sentir essas verdades. Você tem a Bíblia em casa, eu sei; você não
gostaria de ficar sem a Bíblia; e pensaria que é um pagão, se não a tivesse.
Você tem a Bíblia e talvez ela seja muito bem encadernada, um exemplar
de aparência excelente; as páginas não foram muito viradas nem gastas, e
não correm tal risco, porque apenas saem aos domingos para tomar o ar, e
durante o restante da semana ficam guardadas junto aos lenços perfumados
de alfazema. Você não lê a Palavra, não a perscruta, e como poderá esperar
que receberá a bênção divina? Se não vale a pena escavar para achar o ouro
celestial, não há a probabilidade de descobri-lo. Várias vezes já lhe falei
que escrutinar as Escrituras não é o caminho da salvação. O Senhor tem
dito: "Crê no Senhor Jesus Cristo, e serás salvo". Mesmo assim, a leitura
da Palavra freqüentemente leva, assim como o ouvir da Palavra, à fé, e a fé
traz a salvação; porque a fé vem pelo ouvir, e a leitura é um tipo de ouvir.
Enquanto você procura saber o que é o evangelho, pode ser do agrado de
Deus abençoar a sua alma.
Mas que quantidade inferior de leitura alguns de vocês dedicam às
suas Bíblias! Não quero dizer nada que seja demasiadamente severo por
não ser rigorosamente verdadeiro — que falem suas próprias consciências
— mas não deixo de tomar a liberdade de perguntar: Não é verdade que
muitos de vocês lêem a Bíblia de maneira muito apressada — só um
pouquinho, e saem correndo? Alguns de vocês não se esquecem, pouco
tempo depois, de tudo quanto leram, perdendo até mesmo o pouco efeito
que parecia ter? Quão poucos de vocês estão resolutos no sentido de chegar
até ao âmago da Palavra, ao seu suco, à sua vida, à sua essência, e a beber
do seu significado! Se você não fizer assim, digo-lhe, de novo, que a sua
leitura é leitura miserável, leitura morta, leitura sem proveito; não é leitura
de modo algum, e até o nome de leitura seria impróprio. Que o Espírito
Santo lhe dê arrependimento quanto a este assunto.
2. Procure o Ensino Espiritual
Entendo que isso está no meu texto, pois nosso Senhor diz: "Não
lestes?" e de novo: "Não lestes?" e ainda, em seguida: "Mas, se vós
soubésseis o que significa:..." — e o significado é algo muito espiritual. Ele
citou um texto do profeta Oséias: "Misericórdia quero, e não holocaustos".
Os escribas e os fariseus estavam totalmente a favor da letra, do sacrifício,
da matança do novilho, e assim por diante. Deixaram de perceber o
significado espiritual do texto: "Misericórdia quero, e não holocaustos" —
a saber, que Deus prefere que tenhamos maior preocupação com o próximo
do que com a observância de qualquer cerimonial de sua Lei, que poderia
provocar fome ou sede, e por meio disso a morte de qualquer criatura dEle.
Eles deveriam ter ido além do que é exterior para o âmbito espiritual, e
toda a leitura que fazemos deve seguir esta forma.
Note que assim deve acontecer quando lemos os trechos históricos.
"Não lestes o que fez Davi quando ele e seus companheiros tiveram fome?
Como entrou na casa de Deus, e comeram os pães da proposição, os quais
não lhe era lícito comer, nem a ele nem aos que com ele estavam, mas
exclusivamente aos sacerdotes?" Trata-se de uma narrativa histórica, e
deveriam tê-la lido de tal maneira que recebessem dela a instrução
espiritual.
Já ouvi pessoas muito insensatas dizerem: "Eu não acho
interessante ler as partes históricas das Escrituras". Amigos amados, vocês
não sabem o que dizem quando falam assim. Digo-lhes pela minha própria
experiência que, às vezes, achei maiores profundidades de espiritualidade
nos relatos históricos do que nos Salmos. Você perguntará: "Como pode
ser assim?" Afirmo que quando você chegar ao sentido interior e espiritual
de uma história, muitas vezes ficará atônito com a clareza — com o
impacto realístico — do ensino que é inculcado em sua alma.
Alguns dos mistérios mais maravilhosos da revelação são melhor
compreendidos quando são colocados diante dos nossos olhos, através dos
relatos históricos, do que quando são declarados verbalmente. Quando
temos a declaração do significado de uma ilustração, a ilustração expande e
vivifica a declaração. Quando, por exemplo, o próprio Senhor queria nos
explicar sobre a natureza da fé, Ele nos deu a história da serpente de
bronze; e quem já leu a história da serpente de bronze considera que,
mediante o quadro dos moribundos, mordidos por serpentes, que passam a
olhar para a serpente de bronze e recebem a cura, obteve um conceito
melhor sobre a fé do que de alguma descrição que até mesmo Paulo nos
tenha dado, por mais maravilhosamente que ele a defina e descreva. Nunca
deprecie os trechos históricos da Palavra de Deus; e, quando não conseguir
obter benefício deles, diga: "É culpa da minha mente tola e coração lerdo.
Oh, Senhor! esclareça o meu cérebro e purifique a minha alma". Quando
Ele atender esta oração, você se sentirá convicto de que toda porção da
Palavra de Deus é dada por inspiração, e que forçosamente é de grande
proveito para você. Exclame: "Desvenda os meus olhos, para que eu
contemple as maravilhas da tua lei" (Sl 119.18).
A mesma verdade diz respeito a todos os preceitos cerimoniais,
porque o Salvador diz, em seguida: "Ou não lestes na lei que, aos sábados,
os sacerdotes no templo violam o sábado e ficam sem culpa?" Não há um
preceito na antiga Lei que não tenha um sentido ou um significado interior;
por isso, não deixe de lado o livro de Levítico, nem diga: "Não posso ler os
livros de Êxodo e de Números. Tratam das tribos com suas bandeiras, com
suas peregrinações no deserto, com suas paradas durante a marcha, com o
tabernáculo e seus utensílios, ou das romãs e bacias, e das tábuas com seus
soquetes, das pedras preciosas, e do linho azul, vermelho e branco".
Procure, porém, o significado intrínseco. Faça uma busca diligente; porque
assim como nas jóias da coroa real a mais preciosa é a de mais difícil
acesso, estando guardada a sete chaves, assim também acontece com as
Sagradas Escrituras.
Você já foi à biblioteca do Museu Britânico? Ali, há muitos
volumes de consulta que o leitor tem licença de tirar da prateleira quando
quiser. Há outros livros de consulta para os quais o leitor precisa preencher
um formulário, e não terá acesso a eles sem o formulário; e, ainda, há
outros livros seletos que ninguém verá sem receber autorização superior, e,
então, há portas a serem destrancadas, armários a serem abertos, e há um
vigilante ao lado de quem examinar o volume. Dificilmente temos licença
de fixar o olhar num manuscrito, pela preocupação de se apagar uma única
letra. É um tesouro tão precioso do qual não há outro exemplar, no mundo
inteiro, e não temos fácil acesso a ele. Da mesma maneira, há doutrinas
preciosas, realidades da Palavra de Deus que estão trancadas em caixas de
vidro, tais como Levítico ou Cantares, e não podemos chegar a elas sem
muitas portas serem destrancadas; e o próprio Espírito Santo deve estar ao
nosso lado; de outra forma, nunca chegaremos até o tesouro de valor
inestimável. As verdades mais sublimes são tão cuidadosamente
escondidas como os ornamentos preciosos dos príncipes; por isso, faça
uma busca ao ler. Não se dê por satisfeito com um preceito cerimonial até
chegar ao seu significado espiritual, pois é esta a sua interpretação certa.
Você ainda não leu, a não ser que entenda o espírito da questão.
Assim também acontece com as declarações doutrinárias da
Palavra de Deus. Tenho notado, com tristeza, algumas pessoas que são
muito ortodoxas, e que podem recitar seu credo de modo muito loquaz,
mas o uso principal que fazem da sua ortodoxia é ficar sentado observando
o pregador, com a intenção de preparar acusações contra ele. Ele é julgado
por ter falado uma única frase que tinha uma distância exígua (metade da
largura de um fio de cabelo) abaixo do padrão! "Aquele homem não tem a
sã doutrina. Disse algumas coisas boas, mas tenho certeza de que ele está
podre até ao âmago! Empregou uma expressão que não foi de 1.200
gramas por quilo." Mil gramas por quilo não bastam para os caros irmãos
aos quais me refiro, pois exigem algo a mais do que o siclo oficial do
santuário. O conhecimento deles é usado como microscópio para aumentar
diferenças mínimas. Não hesito em dizer que já encontrei pessoas que
conseguem dividir um fio de cabelo
entre o lado oeste e o noroeste,
nas questões da teologia; nada sabem, porém, a respeito das coisas de Deus
quanto ao seu significado real. Nunca beberam delas até saciar a
profundeza de sua alma, mas apenas as chuparam até encher a boca, a fim
de cuspi-las em cima do seu próximo. Falar sobre a doutrina da eleição é
uma coisa, mas, saber que Deus nos predestinou, e produzir o respectivo
fruto nas boas obras para as quais fomos destinados, isso é coisa bem
diferente. Falar do amor de Cristo, falar do céu que foi preparado para o
seu povo, e de outras tantas coisas — tudo isso é muito bom; mas é
possível falar sobre tudo isso, sem ter experiência pessoal. Nunca,
portanto, se dê por satisfeito somente com uma crença sólida, mas deseje
tê-la gravada nas tábuas do seu coração. As doutrinas da graça são boas,
mas a graça das doutrinas é melhor ainda. Tome o cuidado de possuir essa
graça, e nunca se dê por satisfeito com seu nível de instrução, até que
entenda a doutrina e tenha sentido o seu poder espiritual.
Assim, somos levados a entender que, para chegarmos até esse
ponto, precisaremos sentir Jesus presente conosco sempre que lemos a
Palavra. Note aquele quinto versículo, para o qual quero agora chamar a
sua atenção: "Ou não lestes na lei que, aos sábados, os sacerdotes no
templo violam o sábado e ficam sem culpa? Pois eu vos digo: Aqui está
quem é maior que o templo". Pensavam muito a respeito da letra da
Palavra, mas não sabiam que estava presente Aquele que era Senhor do
sábado — sim, Senhor dos homens, Senhor do sábado, e Senhor de tudo.
Depois de você ter obtido a posse de um credo, de uma Ordenança, ou de
qualquer coisa que é exterior na letra, ore para que o Senhor o leve a sentir
que há algo maior do que a letra impressa, e algo melhor do que a mera
casca do credo. Existe uma Pessoa que é maior do que todas aquelas
coisas, e é a Ele que devemos clamar, pedindo que Ele fique conosco para
sempre. Oh! Cristo vivo, faz com que esta seja uma palavra viva para mim!
A tua palavra é vida, mas não sem o Espírito Santo. Posso conhecer esse
teu Livro do começo ao fim e repeti-lo desde o Gênesis até ao Apocalipse,
e, mesmo assim, ele pode ser para mim um livro morto, e eu posso ser uma
alma morta. Sê presente aqui, Senhor; então, levantarei meus olhos do
Livro e olharei para o Senhor; do preceito para Aquele que o cumpriu; da
Lei para Aquele que a honrou; das ameaças para Quem suportou o castigo
em meu lugar, e da promessa para Quem a cumpriu com "Sim e Amém".
Então, leremos o Livro de modo bem diferente. Ele está aqui comigo, nesse
meu aposento — não posso agir levianamente. Ele está bem perto,
inclinado para colocar seu dedo ao longo das linhas, e posso ver a sua mão
traspassada — lerei sentindo a sua presença. Lerei sabendo que Ele é a
substância da leitura — que Ele é a comprovação desse Livro, além de ser
o escritor dele; Ele é a totalidade do conteúdo das Escrituras, além de ser o
autor delas. É dessa maneira que os estudantes genuínos se tornam mais
sábios! Você consegue alcançar o âmago das Escrituras, quando, enquanto
está lendo, conserva consigo a presença de Jesus.
Você já ouviu um sermão do tipo que, se Jesus tivesse se
aproximado do púlpito enquanto o pregador falava, Ele teria dito: "Desça
daí, saia do púlpito; o que você está fazendo aqui? Mandei você pregar a
Meu respeito, e você prega a respeito de uma dúzia de outras coisas. Vá
para casa e aprenda de Mim, e depois venha falar". O sermão que não
conduz a Cristo, ou do qual Jesus Cristo não é a essência, é o sermão que
faz rir os demônios no inferno, mas que faria os anjos de Deus chorarem,
se pudessem ter tais emoções.
Você se lembra da história do gaulês que ouviu um jovem pregar
um sermão magnífico, grandioso, pretensioso e bombástico; e, depois de
chegar ao fim, perguntou ao gaulês o que achava a respeito. O homem
respondeu que não dava nenhum valor a ele. "E por que não?" "Porque não
havia nele nada de Jesus Cristo." "Ora", disse o pregador, "mas meu texto
não apontava naquela direção". "Não importa", disse o gaulês, "seu sermão
deve seguir naquela direção". "Não vejo o assunto assim", disse o jovem.
"Então", disse o outro, "você ainda não vê como deve pregar. O modo
certo de pregar é o seguinte: De cada aldeia minúscula na Inglaterra — não
importa em que região — sempre sai, com toda a certeza, uma estrada para
Londres. Embora talvez não haja estrada para outros lugares, certamente
haverá uma estrada para Londres. Da mesma forma, de cada texto na
Bíblia há uma estrada que leva a Jesus Cristo, e o modo certo de pregar é,
simplesmente, dizendo: 'Como posso, tomando esse texto como ponto de
partida, chegar até Jesus Cristo?' e, então, ir pregando pela estrada afora".
"Mas", disse o jovem, "suponhamos que descubro um texto que não tem
uma estrada que leva a Jesus Cristo?" "Faz quarenta anos que estou
pregando", disse o velho, "e nunca achei um texto bíblico assim; mas se
chegar a achar um, passarei por sebes e cercas, e chegarei até Ele, porque
nunca termino sem introduzir meu Mestre no sermão".
Talvez você pense que eu também passei um pouco por sebes e
cercas, mas estou convicto de que não, porque é aqui que entra o versículo
6, que, de modo muito doce, introduz o nosso Senhor e O coloca bem à
frente do leitor bíblico, de modo que não possa pensar em ler sem sentir
que está presente Aquele que é Senhor e Mestre de tudo quanto está lendo,
e que tornará essas coisas preciosas para o leitor, se ele O reconhecer nelas.
Se você não descobrir Jesus nas Escrituras, elas terão pouca utilidade para
você, pois o nosso Senhor disse: "Examinais as Escrituras, porque julgais
ter nelas a vida eterna, e são elas mesmas que testificam de mim. Contudo,
não quereis vir a mim para terdes vida" (Jo 5.39-40); e, por isso, suas
buscas não dão em nada; você não acha a vida, e permanece morto nos
seus pecados. Que isto não aconteça conosco!
3. A Leitura que é Proveitosa
Finalmente, é proveitosa a leitura da Bíblia que inclui a
compreensão do significado espiritual, a penetração no sentido bíblico e a
descoberta da Pessoa divina, que é o significado espiritual, pois aqui nosso
Senhor diz: "Mas, se vós soubésseis o que significa: Misericórdia quero, e
não holocaustos, não teríeis condenado a inocentes". Se chegarmos a
entender a Palavra de Deus, seremos impedidos de cometer grande número
de enganos, e, entre outras boas coisas, não condenaremos os inocentes.
Não sobra tempo para descrever melhor esses benefícios, mas direi,
apenas, resumindo tudo, que a leitura diligente da Palavra de Deus
freqüentemente gera vida espiritual. A nova vida é recebida através da
Palavra de Deus; é o instrumento usado por Deus na regeneração. Ame a
sua Bíblia, portanto. Não se afaste dela. Se você está buscando ao Senhor,
seu primeiro dever é crer no Senhor Jesus Cristo; mas quando está abatido
e nas trevas, ame a sua Bíblia, e examine-a... Tenha a Bíblia ao lado de sua
cama, e, ao despertar pela manhã, se for cedo demais para andar pela casa e
acordar a família, aproveite uma meia-hora de leitura, ainda no quarto.
Ore: "Senhor, guia-me até àquele texto que será uma bênção. Ajuda-me a
compreender como eu, um pobre pecador, posso ser reconciliado contigo".
Lembro-me de quando eu, ao buscar o Senhor, recorria à minha Bíblia, e
aos seguintes livros: Convite Para Viver, de Baxter (Editora Fiel), Um
Guia Seguro para o Céu, de Alleine (PES), e Ascensão e Progresso, de
Doddridge, porque dizia a mim mesmo: "Temo estar perdido, mas vou
saber por quê. Temo que nunca acharei a Cristo, mas não será porque não
O procurei". Aquele medo me atormentava, mas falei: "Vou achá-Lo, se
Ele pode ser encontrado. Lerei. Pensarei". Nunca houve uma alma que, ao
buscar sinceramente a Jesus, na Bíblia, não chegasse à verdade preciosa de
que Cristo estava bem perto e acessível; que Ele realmente estava presente,
só que ela, pobre criatura cega, estava tão confusa que simplesmente não
conseguia vê-Lo naquele momento. Apegue-se às Escrituras. Elas não são
Cristo, mas são a estrada que leva até Ele. Siga fielmente a orientação
delas.
Depois de receber a regeneração e a nova vida, continue lendo, pois
será um consolo para você. Você perceberá melhor aquilo que o Senhor
tem feito em seu favor. Você ficará sabendo que está redimido, adotado,
salvo, santificado. Metade dos erros do mundo inteiro surgem porque as
pessoas não lêem as suas Bíblias. Pode alguém pensar que nosso Senhor
deixaria perecer um de seus filhos amados, depois de ter lido um texto tal
como este: "Eu lhes dou [às minhas ovelhas] a vida eterna; jamais
perecerão, eternamente, e ninguém as arrebatará da minha mão"? Quando
leio estas palavras, tenho certeza da perseverança final dos santos. Leia,
portanto, a Palavra, e ela será motivo de grande consolo para você.
Servirá para nutri-lo, também. É seu alimento, além de ser sua vida.
Examine-a, e será fortalecido no Senhor e na força do seu poder.
Ela servirá também de orientação. Tenho certeza que aqueles que
vivem mais corretamente são aqueles que se mantêm mais perto do Livro.
Freqüentemente, quando você não sabe o que fazer, verá um texto, como se
saltasse de dentro do Livro, dizendo: "Siga-me". Às vezes, tenho visto uma
promessa lampejar diante dos meus olhos, assim como uma propaganda
fluorescente brilha no alto de um edifício. Ao abrir a Bíblia, uma frase ou
um princípio se realça de imediato. Já vi um texto bíblico arder assim,
como chama, até penetrar na minha alma; fiquei ciente de que se tratava da
palavra que Deus dirigiu a mim, e prossegui pelo caminho, regozijandome.
Você receberá mil ajudas daquele Livro maravilhoso, se ao menos
o ler; isso porque, ao entender melhor as palavras, você dará mais valor a
ele, e, no decorrer dos anos, o Livro crescerá juntamente com você, e ficará
sendo o manual de devoções do idoso, assim como antes era um livro de
histórias para criança. Sim, sempre será um Livro novo — uma Bíblia tão
nova, como se tivesse sido impressa ontem e como se ninguém tivesse
visto uma só palavra dela até agora; e será tanto mais preciosa por causa de
todas as lembranças que se reunirão ao redor dela. Ao virarmos com prazer
as suas páginas, relembraremos eventos em nossa vida que nunca serão
esquecidos por toda a eternidade, mas subsistirão para sempre,
entrelaçados com promessas graciosas. Que o Senhor nos ensine a ler o seu
Livro de vida, que Ele abriu diante de nós aqui, de modo que possamos ler
claramente nossa participação naquele outro Livro de amor que ainda não
vimos, mas que será aberto naquele último grande dia.
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