1. Introdução Na fase atual de desenvolvimento da rede mundial de computadores, Internet, a World Wide Web está se revelando como uma nova mídia com um grande potencial informativo e comercial que já movimenta variados tipos de trocas em todo o mundo. Além disso, sabe-se que o número de pessoas “plugadas” à rede aumenta em grande escala, daí a importância do estudo deste fenômeno que, por hora, é novo. Diante do amplo universo de temas ligados à Internet este trabalho se limita em realizar um corte temporal de como a linguagem visual para a Web está sendo trabalhada antes que ela tome formas próprias e se torne uma nova linguagem. O estudo do design se faz importante neste momento já que as páginas da Web adquiriram popularidade justamente por serem gráficas. Esta análise parte da hipótese de que estamos em um período de transição em que o design para a Web procura orientação e referência em outras mídias, principalmente no meio impresso. A pesquisa, então, procura identificar alguns dos possíveis motivos para que este fato esteja acontecendo. O estudo fundamenta-se em uma pesquisa bibliográfica mais centrada em autores de artigos publicados via Internet, como jornalistas, colunistas, designers e estudiosos do meio, a fim de que os dados utilizados na monografia sejam os mais atuais e próximos da realidade. Para verificar as referências do meio impresso no design para a Web é necessário, primeiro estabelecer distinções entre os suportes de informação papel e computador. Este é o tema do próximo capítulo, no qual a identificação das propriedades de cada meio contribui para detectar os problemas de design que aparecem com o desenvolvimento da “nova mídia”. A questão tecnológica também é abordada neste ponto introduzindo a segunda hipótese, segundo a qual as limitações tecnológicas da fase atual acabam por restringir o uso de recursos multimídia e promover o uso em peso dos códigos de texto e imagem. Em torno da questão tecnológica também está um problema novo para os designers que é a falta de controle sobre o resultado final do produto. Assim, neste mesmo capítulo, será explicado o porquê do fato de que, na Web, nem sempre o que é programado pelo webmaster é visto da mesma forma pelo usuário. No capítulo seguinte, a análise se fecha um pouco mais sobre o seu objeto de estudo específico que é uma comparação entre o JT Web e o próprio Jornal da Tarde, famoso pela diagramação ousada e inovadora que marcou a década de 70 no Brasil. Teremos, então, descrições genéricas do design e uma descrição mais detalhada de seus códigos visuais. Assim, a 7 análise vai tratar mais de padrões de design, seguidos diariamente pelo site e pelo jornal, do que de itens isolados. Através dos anexos 5 (CD) e 6 (jornal) será possível verificar todos os exemplos apontados durante a análise. A partir deste capítulo será desenvolvida, então, uma comparação entre as versões impressa e online do Jornal da Tarde. Para isso foram analisadas as duas versões do veículo publicadas no dia 31 de outubro de 1999. Esta comparação procura testar uma terceira hipótese: se os códigos principais que compõem o ambiente gráfico da Web coincidem com aqueles do impresso, os princípios básicos de design no papel também servem para o webdesign. O capítulo tem como base os princípios de design descritos por Robin Williams. Outra parte importante desta pesquisa foi a visita à sede do Jornal da Tarde, do Grupo Estado. Durante três dias (31 de outubro, 1 e 2 de novembro) foram realizadas entrevistas com a equipe do JT Web (Lenita Outsuka, editora, Roberto Romano Taddei, assistente de edição e Marcio Annunciato, webdesigner) e também com o Editor de Arte do Jornal da Tarde, Valter Pereira. A visita se deu para que fosse observada a relação entre o jornal e o site e, também, para verificar em que nível existe referência de design ou não de um meio para o outro. As versões integrais das entrevistas também estão anexadas a este trabalho. Já no capítulo 4, o estudo de cada elemento de design (espaço, imagem, texto, cor e tipo) nos diferentes meios vai mostrar em que medida as disparidades entre os dois suportes de informação interferem no tratamento do design em cada meio. Por fim, no último capítulo, será feita uma descrição da pesquisa sobre a equipe e o ambiente de trabalho no JT Web direcionada para a relação que a equipe estabelece com o jornal impresso, buscando compreender as alterações que o meio digital causa nas rotinas de trabalho. 2. Os suportes de Informação Impresso e Digital O papel e o computador, como suportes de informação, apresentam diferenças estridentes de naturezas física e tecnológica que os colocam em patamares distantes, mas não opostos. O papel, objeto portátil e de fácil manuseio, em sua função de mídia suporta apenas informações gráficas, capazes de ser impressas. Já o computador, objeto complexo, parte composto por material rígido, parte por programável, é resultado de uma evolução tecnológica nos campos da eletrônica e informática. Ele armazena e transmite a informação digital, que pode ser interpretada através de diversas interfaces (ver glossário), mais ou menos complexas, 8 mais ou menos amigáveis. Dentre as possíveis interfaces, a gráfica é a que está mais aliada ao conceito de “amigabilidade” porque permite uma proximidade maior entre usuário e máquina. Esta aproximação se dá pelo contato visual e pelas possibilidades de interferência do usuário sobre o meio. Um conceito relacionado com a interatividade é o de amigabilidade da interface para o usuário (userfriendly). O termo amigável significa o quanto o programa promove facilidades para o usuário na sua interação com a máquina. Os construtores de hardware e software têm uma preocupação especial com a relação homemcomputador, já que, implicando o sucesso ou o insucesso de muitas interfaces, envolve cifras bilionárias. (Franco, p.50, 1996) Este tipo de interface foi criado para que as pessoas pudessem utilizar o computador sem a necessidade de entrar em contato com comandos arbitrários. Trata-se da mesma qualidade de interface empregada na WWW, World Wide Web, ou Web, uma das responsáveis pela popularização da Internet (cf. Franco, p.56, 1997). Ela é o segundo motivo pelo qual os usuários mais procuram a Internet, de acordo com Christopher Harper, pesquisador da área. Uma em cada três pessoas tem como razão mais importante de acessar a Internet o uso do correio eletrônico. É a forma mais popular de usar a Internet. Mas aproximadamente metade das pessoas usam a Internet e a WWW para pesquisas. Uma em cada seis pessoas está procurando por notícias ou informações específicas, e uma a cada oito querem informações financeiras ou sobre negócios. Uma em cada doze usam a Internet para passatempos ou divertimento. (Harper, p.2, 1998)¹ É importante lembrar que além da WWW e do e-mail existem outras formas de transmissão de dados via Internet como FTP (File Transffer Protocol), Telnet (comunicação remota), IRC (Internet Relay Chat), ICQ (“I seek you”) e MOO. A estrutura da informação para Web é disponibilizada e organizada na forma chamada home page: "A home page é um lugar em um servidor WWW representado por um endereço, onde a informação é apenas armazenada ou indicada" (Franco, p.57, 1997). A linguagem que mapeia cada home page é chamada HTML (HiperText Markup Language), e se concretiza como gráfica somente no momento em que é interpretada por um programa, navegador ou browser. (cf. Morris, abc_html.html, s/d) 9 As diversas naturezas de suporte geram experiências de interação com o usuário também diferentes, e interferem no design para cada meio, a começar pela possibilidade que o usuário tem de personalizar a apresentação dos sites. Ele pode mudar defaults do seu browser que determinam as fontes, as cores, o background. Além disso, é possível desabilitar o carregamento de imagens e de recursos como Java, Java Script e Cookies, por exemplo. Esta é uma interferência que não acontece nas edições impressas, nas quais o produto chega até o usuário pronto e sem possibilidade de alterações. A dimensão de cada suporte também exerce influência sobre o design. De acordo com Jakob Nielsen, fundador do Nilsen Normam Group, grupo de pesquisas ligado à Apple, e colunista do site Web Usability, há diferentes dimensões para cada suporte: O design de materiais impressos é bidimensional, com destaque para o layout. (...) De uma maneira geral, cada vista é uma unidade de design criada para uma “boneca” de tamanho fixo – geralmente uma “boneca” grande, quando destinada a jornais ou posters. Por outro lado, o design para a Web é simultaneamente unidimensional e n-dimensional. (Nielsen, 990124.html, 1999)² Tamanho e formato também são pontos que se contrastam nos dois suportes e que determinam um tratamento diferenciado do design para cada meio. O tamanho, que para o jornal é fixo, na Web é variável. Esta é uma das principais características do suporte online para Roger Black, webdesigner da Interactive Bureau. Uma das grandes coisas sobre hipertexto é que as principais seções podem ser divididas em páginas separadas de tamanhos diferentes, em lugar de folhas de papel de comprimento fixo. (Black, p.68, 1997) Como o formato interfere na disposição dos elementos, no jornal a informação é organizada verticalmente, em várias e grandes páginas cobertas por textos intercalados com peças publicitárias, fotos, títulos e fios. O jornal online, por sua vez, deve ser lido numa pequena tela de formato horizontal e rolante, conforme descreve Nadine Hutton, jornalista e pesquisadora. Dessa forma, segundo Nielsen, o exercício do olhar e do manuseio se dão de formas diferentes para cada meio: O design de materiais impressos é baseado em deixar os olhos deslizarem livremente sobre a informação, olhar seletivamente as peças informativas e usar justaposições espaciais para 10 fazer com que os elementos da página se destaquem e se expliquem uns aos outros. O design para a Web funciona por meio de se deixar as mãos moverem a informação (por “rolagem”, ou por “cliques”); e a relação entre as informações são expressas provisoriamente como parte da interação e dos movimentos do usuário. (Nielsen, 990124.html, 1999).³ O movimento simples de rastrear uma página com os olhos em segundos, possível em um jornal, é difícil para o leitor da Web. De acordo com Hutton não há como “escanear” uma publicação online com os olhos como se faz freqüentemente com o jornal. O contato visual que o usuário tem em cada suporte gera noções de limite diferentes. No jornal, o leitor tem a percepção do tamanho do papel, é capaz de identificar volume de páginas, cadernos e suplementos. Em um site isso não acontece. Os limites são muito mais abstratos do que no papel. Para que o usuário conheça um site é necessário que ele transite por entre as suas camadas que são ligadas por links. Ainda assim, a rede de ligações faz com que o usuário navegue em profundidade de forma que ele nem sempre tenha a noção dos limites. Segundo Harper, as camadas de um site constróem um caminho lógico, mas também permitem a leitura das páginas digitais em qualquer ordem. Se considerarmos a leitura de um jornal há também a possibilidade de o leitor transitar por entre os cadernos e editorias de forma desordenada de acordo com o seu interesse, porém a lógica de organização impressa é linear, com começo meio e fim, seqüenciados pela paginação e sucessão de editorias. Já para veículos online, a característica hipertextual de como a informação é disposta permite uma tramitação não-linear dentro do site. Para Hutton, já na primeira página é que inicia este movimento não-linear: Ler um livro ou uma revista é, em geral, uma progressão lógica do início ao fim. Mas, na forma online, a primeira tela parece mais uma árvore com ramos se desenvolvendo, enquanto as manchetes são links de hipertextos tornando disponíveis, de forma segura, complementos lógicos aos textos.(Hutton, diff.html, s/d)i Este movimento acrescenta à Web um novo elemento de design que é a navegação. 2.1 Navegação A navegação é a essência da Web, segundo Jakob 11 Nielsen. No material impresso, a navegação consiste, principalmente, de mudanças de páginas, ou seja, uma interface super simples para o usuário, e um dos grandes benefícios deste meio. Tendo em vista que trocar de página é algo tão limitado, geralmente nem é pensado como um elemento de design. Por outro lado, a navegação no hipertexto é o componente mais importante do design para a Web, exigindo decisões como: - aparência dos links - como explicar onde os usuários podem ir e para onde cada link conduz - visualização da localização atual do usuário - arquitetura da informação (Nielsen, 990124.html, 1999)ii Estas decisões listadas por Jakob Nielsen estão ligadas à preocupação de como fazer com que o usuário compreenda sobre o que é apresentado em um site. É necessário que o visitante esteja informado sobre onde está e para onde cada link o leva. Seguindo a mesma linha de pensamento, Black ressalta a necessidade de uma organização clara do site: Esta (organização) é uma parte importante do design ou redesign. E, de certo modo, como as pessoas estão menos familiarizadas com a Web, a clareza da apresentação é ainda mais importante neste caso. E tudo isto depende da navegação. (Black, p.85, 1997) O link é o elo entre as diversas camadas de um site. É a razão de ser do hipertexto e, portanto, ele deve estar claramente disponível para o usuário, pois é a partir dele que o visitante poderá prosseguir a navegação. Porém, o conceito de clareza gera discussões entre estudiosos da área. Na visão de Oscar Cisneros, colunista da Wired Digital, os links devem conservar a aparência sublinhada para tornar a navegação mais simples para novos usuários. Mas, segundo Rick Bruner, jornalista e publicitário, colunista da revista Advertising Age, não se deve subestimar a capacidade de entendimento do usuário diante das pistas de navegação: Somente porque um link não tem bordas com uma linha azul não significa que os usuários não possam deduzir para onde ir a partir de outras pistas, como quando seus cursores se transformam em um dedo. Demonstrações idiotas de navegação custam para você em termos de sofisticação e elegância de design. É um equilíbrio delicado. (Bruner, p.83, 1998) 12 Apesar de o link ser o principal elemento do hipertexto, o uso arbitrário deste recurso pode tornar a navegação confusa e interromper seqüências lógicas de pensamento. Isso acontece principalmente se ele aparece no decorrer de um texto, segundo descreve Jeffrey Veen, diretor de interfaces da Wired Digital. Designers acrescentam links impondo marcas azuis sublinhadas, que retalham os padrões de parágrafos. O resultado ? Uma distração impositiva para o subconsciente do leitor. Repentinamente, este leitor deve decidir: Paro aqui e “clico” na direção do link ? Termino a sentença e volto? Termino o texto e volto até o item de navegação? É uma grande confusão. (Veen, index0a.html, 1998)iii Uma solução para evitar a interrupção da leitura seria, segundo Veen, retirar os links do texto e movê-los para as margens ou para o fim da página. Alguns sites, incluindo o HotWired e o Feed Magazine, fizeram experiências com links e os moveram para a margem, criando um efeito parecido com uma anotação. Uma vantagem desta estratégia é que os links podem ganhar um novo contexto ao serem empurrados para fora do corpo do texto. O New York Times tentou um método diferente, colocando todos os links no final dos textos. (Veen, index0a.html, 1998)iv Para Roger Black, outro ponto contra o bom funcionamento do site é o uso excessivo de hipertextos porque isto pode tornar caótica a navegação do site. Assim, ele prega o uso limitado de links: Um dos segredos de se manter a navegação simples para o usuário é limitar o uso de hipertexto. O uso excessivo de ligações diretas (hot links)lançando pessoas a partir do site em várias direções vai resultar, no mínimo, em uma certa tonteira. É usado em nome da novidade com demasiada freqüência. Apenas coloque hipertexto ou links se isto fizer sentido. (Black, p. 81) Tornar a navegação simples e compreensível implica também em sempre informar o visitante para onde cada link leva. Como os sites da Web são visuais, uma tela por vez, a tarefa de incentivar o visitante a encontrar o que está por trás das camadas, ou até mesmo mostrar que há mais informações está nas mãos de designers (cf. Black, p.15, 1997). Se os 13 projetistas de sites encaram diagramação desta forma, fica mais difícil o visitante perder seu precioso tempo carregando páginas desnecessárias ou distantes de seu interesse. A legibilidade do site também está ligada à sua arquitetura. Organizar a estrutura de uma home page é hierarquizar informações. Através da ordenação de idéias os usuários progridem por camadas dentro de uma árvore lógica de conteúdo. (cf. Bruner, p.84, 1998) Pelo fato de os sites serem constituídos de camadas ligadas por links, uma das tarefas mais importantes para o designer é planejar a arquitetura do site de forma que o visitante não se perca por entre os possíveis caminhos dentro deles. Neste caso, segundo Black, a funcionalidade estaria à frente da forma ou layout. Devemos considerar seriamente a arquitetura do site. Por várias razões, a maneira com que você organiza a informação é a parte mais importante de design do site. De nada vale ter páginas com uma aparência maravilhosa que ninguém pode encontrar. (Black, p.80, 1997) A propriedade hipertextual da Web fez com que emergissem elementos de design como menus, mapas, barras de navegação e instruções de ajuda a fim de solucionar problemas de navegação. Para David Siegel, a apresentação de menus é um recurso que contribui para a organização da informação e se tornou característico de sites de “segunda geração”. Agora, segundo Siegel, já estamos na terceira geração de sites, o que apresenta outras possibilidades de navegação, como o uso de metáforas visuais. (Siegel, p.21, 1997) Mapas são, como Bruner afirma, um recurso válido mais para localizar o usuário e auxiliá-lo na navegação, do que para organizar a informação: Outro auxílio de navegação popular é o mapa do site. Consistindo de um índice completo ou das linhas gerais de todas as subseções do site, estes mapas são particularmente úteis para sites complexos com muitas páginas, onde a amplitude do material não é facilmente representada em apenas alguns botões no lado superior ou inferior da página. (Bruner, p.84, 1998) As barras de navegação são, para Black, outro instrumento de navegação importante porque informam sempre onde usuário está. Elas consistem de uma listagem dos principais links relacionados ao site e aparecem em todas as páginas. Bons exemplos são as barras de navegação das home pages abrigadas no Universo Online e Zaz. 14 De acordo com Black, as barras de navegação servem como um auxílio amigável ao usuário e, para isso, devem sempre apresentar a mesma aparência de forma a serem simples, funcionais e, acima de tudo, consistentes e previsíveis. Já os sites repletos de instruções de ajuda denotam uma má organização do conteúdo e pouco aproveitamento dos recursos de navegação, ainda segundo Black. As piores coisas são sites que têm camadas e camadas de páginas com material e instruções de navegação. Um importante aspecto da navegação é simplificar o site: destilar tudo para o mínimo de páginas possível – com conteúdo em todas elas. O próximo passo é organizar estas páginas da forma mais simples que se possa imaginar. (Black, p.80, 1997) 2.2 HTML e a falta de controle sobre o design Um grande obstáculo para os designers de sites são as diferentes formas pelas quais os browsers interpretam o código HTML. Isto significa que o design de uma mesma página pode ser visto de formas diferentes - nem sempre aquela prevista pelo projeto gráfico - , dependendo de um conjunto de variações tecnológicas de equipamentos, programas e de configurações que o usuário estiver usando. Isto gera uma falta de controle do designer sobre o produto final. O desafio central de um designer é ter o maior controle possível sobre a diagramação dos elementos na página. (...) O uso da HTML não dá aos designers de sites um ambiente para a manipulação direta bidimensional. Em lugar disso, fazer design de um site da Web é como trabalhar com algo disforme. Logo que o passamos a outra pessoa, adota uma outra configuração. O designer não tem como saber as dimensões da tela do visitante, o tamanho ou o estilo de suas fontes, o número de cores que possui, nem a velocidade da conexão. (Siegel, p.65, 1997) Isto acontece porque a linguagem em HTML serve apenas como marcação, segundo explica Charlie Morris, colunista do site Webdevelopers: Um arquivo HTML é apenas um conjunto de instruções para criar uma página numa tela de computador. Assim, os fabricantes de browsers podem fazer seus produtos interpretarem estas instruções da maneira que eles escolherem. Este caos de sistemas operacionais diferentes, versões 15 de browsers diferentes e tipos de código HTML diferentes significa que o design para a Web é uma ciência muito menos exata do que o design para as mídias mais tradicionais. Como um criador para a Web você nunca pode ter certeza de como o seu material vai aparecer nos diversos sistemas por aí afora. (Morris, abc_html.html, s/d)v Diante desta limitação imposta aos designers, o desafio é encontrar soluções que burlem as propriedades do HTML e tornem o design das home pages mais próximos do ideal. Em função disto, David Siegel publicou o livro Criando Sites Arrasadores na Web a fim de levar, até os designers, técnicas que pudessem enganar o código HTML. Os sites que sobrevivem a essas limitações ele chama de “sites de terceira geração”. “Um site de terceira geração é forjado pelo design, não pela competência tecnológica”, diz. As técnicas publicadas pelo autor são verdadeiros truques para compensar a ausência de comandos em HTML que permitam o controle sobre o aproveitamento do espaço, a disposição exata de elementos e para tornar o site legível da mesma forma em diversos browsers. Mesmo com as diversas variações de códigos para confeccionar home pages como DHTML, SCML e XML, que são também códigos de marcação como o HTML, a preocupação com o controle do designer sobre o resultado final do site continua sendo um tema relevante, pois, por mais avanços que o código tenha sofrido até hoje, ele ainda está sujeito às variadas interpretações dos browsers. Outras ferramentas usadas para criar páginas mais interativas e independentes do código de marcação são VRML e Flash. Porém estes recursos são ainda usados de forma muito restrita pelo fato de exigirem não só a instalação de plug-ins específicos na máquina do usuário, como um tempo de espera maior para o carregamento e, ainda, por não funcionarem em qualquer computador. A linguagem HTML vem sofrendo evoluções de forma que a Web pode hoje, potencialmente, disponibilizar toda a sorte de recursos multimídia via Internet, e trabalhar com os mais variados tipos de código. Porém, na atual fase de desenvolvimento da Internet, estes recursos ainda não são usados amplamente. Segundo Jakob Nielsen, isso acontece porque é necessária uma tecnologia fora do padrão usado pela maioria dos usuários para que estes recursos cheguem até eles. Os designs atuais para a Web são pouco interativos e fazem um uso extremamente pobre da multimídia. É raro ver uma animação para a Web 16 que tenha qualquer outro objetivo além de chatear o usuário. (...) Informações gráficas altamente interativas exigem um usuário de tecnologia fora do padrão e, portanto, não são atualmente recomendadas para páginas importantes da Web. (Nielsen, 990124.html, 1999)vi Jared Spool, orientador de um grupo de pesquisa sobre Web, acredita que o mais importante dentro de um site é a informação. De acordo com esta pesquisa, gráficos e fotos, muitas vezes, não fazem diferença para o usuário. A atividade número um da Web é a recuperação de informações. (...) Nosso trabalho surpreendeu um grande número de designers gráficos. Por meio de pesquisas, o grupo de Spool descobriu que grafismos nem atrapalham nem ajudam o usuário a ter sucesso na busca de informação. Na realidade, a maioria das peças gráficas estudadas fizeram pouca ou nenhuma diferença, incluindo aí seu número total, tamanho e cor dos grafismos, além da cor do fundo. (Brown, spooltut.html, 1998)vii Spool prega, contudo, que fotos contribuem para o conteúdo do site, já que, em certos casos elas são a própria informação. Consequentemente, os principais códigos hoje usados para Webdesign ainda são o texto e a imagem. Nielsen define o design atual como pouco ambicioso, com gráficos pequenos e em número reduzido, textos curtos e uso de pequena variedade de fontes e, ainda, prediz que o design permanecerá desta forma por pelo menos dez anos, quando a tecnologia ampliar as possibilidades de design para Web: Nós, eventualmente, poderemos ter: - uma largura de banda que seja rápida o suficiente para descarregar uma página da Web de forma tão veloz quanto o ato de virar uma página de jornal. - resolução de tela nítida o suficiente para fazer os tipos tão legíveis que a velocidade de leitura na tela chegue àquela do papel. - telas enormes do tamanho de um jornal aberto – na realidade, penso que telas do tamanho de jornais estão próximas do limite no qual não fará muito sentido fazer telas maiores. (Nielsen 990124.html, 1999)viii Para ele, a imprensa ainda é imensamente superior à Web em questão de velocidade, qualidade tipográfica e de imagens, e em tamanho visível do espaço. Mas segundo ele, essas diferenças não são fundamentais já que certas limitações 17 poderão ser eliminadas com a evolução tecnológica. Se existe uma tendência à repetição de elementos gráficos vindos da mídia impressa, o designer Mario Garcia, consultor e designer de jornais e sites, crê que este sintoma esteja mais relacionado à “síndrome da velha mídia” do que às limitações técnicas impostas ao meio. Este não é um fenômeno novo. Nos seus primórdios, a TV consistia basicamente de pessoas com experiência de rádio lendo em frente à uma câmera em vez de um microfone. Demorou vários anos antes que a TV quebrasse a velha maneira (radio) de fazer as coisas, e a programação que começou então a ser criada fosse apropriada para o novo meio e não para o antigo. (Outing, st062298.html, 1998)ix 3. Princípios Básicos de Design Tanto a diagramação de materiais para o suporte impresso quanto para o online está submetida a princípios básicos de design. A questão é saber em que grau os princípios válidos para papel estão sendo aproveitados também na Web. A designer Robin Williams destaca quatro destes princípios que regem o design gráfico de páginas em geral. São eles: proximidade, alinhamento, repetição e contraste. 3.1 Proximidade O princípio da proximidade é baseado no agrupamento de itens que têm relação entre si. Itens relacionados entre si devem ser agrupados e aproximados uns dos outros, para que sejam vistos como um conjunto coeso e não como um emaranhado de partes sem ligação. Itens ou conjuntos de informações que não estão relacionados entre si não deveriam estar próximos; isto oferece ao leitor uma pista visual imediata da organização e do conteúdo da página. (Williams, p.15, 1995) Projetando este princípio para jornais temos que, na divisão da edição como um todo, o conteúdo é agrupado em editorias, cadernos, suplementos e seções. O Jornal da Tarde, desde a última reforma gráfica realizada por Murilo Felizberto e Fernando Mitre, em 1998, tem as seguintes editorias: Política, Economia, Internacional, Geral, Esportes e Variedades. Os suplementos que circulam, cada um, uma vez por semana são: Seu Dinheiro, Informática, Jornal do Carro, Turismo, Sábado e Domingo. O jornal apresenta ainda as 18 seções: Artigos, Editorial, São Paulo Pergunta e Advogado de Defesa. Dentro de cada editoria há ainda a seção Dia-a-Dia. A home page do JT acompanha a mesma divisão de editorias, suplementos e seções. Assim, a arquitetura do site é muito ligada ao princípio da proximidade, já que este é um princípio que caminha junto com a hierarquização de informações. Numa observação mais fechada, vemos que, dentro de cada página, os elementos são relacionados também por proximidade de sentido, tanto no jornal quanto no site. Um dos exemplos mais visíveis deste princípio no suporte impresso é quando matéria, retrancas, boxes, gráficos e fotos correlacionados ocupam a mesma página ou páginas sucessivas. Esta lógica permite o aprofundamento do assunto e a visão de diversas faces da questão abordada. É possível dizer que este é um padrão seguido no Jornal da Tarde como um todo, mas a título de ilustração, observemos a edição do Jornal da Tarde de domingo, dia 31 de outubro de 1999 (ver anexo). Na página 7A, da editoria de Política, duas matérias sobre o crime organizado no Maranhão compõem juntas a mesma página com suas respectivas fotos. A de maior destaque, “MA: políticos e polícia comandam o crime organizado”, vem acompanhada da retranca: “Dinheiro sujo financia campanhas”. Casos de repercussão maior como o da rebelião na Febem, tiveram duas páginas desta mesma edição (10A e 11A) ocupadas com matérias ligadas ao fato. A proximidade aparece também na home page, mas em outro nível. Ao invés de as retrancas ocuparem a mesma página que a matéria principal, há links que levam até elas. Na edição do site correspondente à do jornal, a organização da página interna acontece da seguinte forma: a matéria correspondente à manchete do dia “Em dia ‘tranquilo’, 20 tentam fugir da Febem e 2 conseguem”, que é a mesma do jornal, vem distribuída como o único corpo de texto da página (ver cd anexo). Este é o texto integral da edição impressa. A diferença é que o texto das retrancas não estão disponíveis na mesma página, como no jornal. A proximidade se dá, neste caso, pelo agrupamento dos links das retrancas: “Rapaz que matou menor diz que quis ser ladrão”; “Moradores são contra presídio na Zona Leste”; “Imigrantes: transferência final à noite”; “Cidade que não aceitar menores pode perder recursos” e “Sindicato refuta suspeita da polícia”. Estes links são separados do corpo do texto por um fio, e compõem uma coluna na extremidade esquerda da tela. Este é um padrão que é seguido pelo site ao apresentar suas matérias. O caminho para se chegar em cada matéria é, basicamente, sempre o mesmo: na página de abertura do site há links para todas as editorias. Ao clicar em qualquer uma delas, o visitante chega numa página de transição com uma foto central 19 sobre a chamada principal da editoria. Os outros links, que vão para as demais matérias, cercam esta foto central. A partir desta página de transição, o leitor chega até os textos integrais da edição impressa, bastando apenas clicar nos títulos dos textos, ou na foto central. O princípio da proximidade também é obedecido na composição da página de abertura do site nas referências para as editorias do jornal. Pequenos logotipos coloridos das seis editorias estão agrupados e alinhados num mesmo setor da página e trazem links para as suas principais chamadas. Ainda há um recurso de Java Script, que está no canto superior da página, onde o princípio de proximidade também se faz valer. O efeito permite que, quando o cursor estiver sobre as palavras Notícias, Suplementos ou Opinião (que estão na parte azul da barra de navegação), pequenas janelas se abram mostrando links relacionados a cada palavra, separadamente. É importante ressaltar que se o usuário tiver desabilitado seu browser para a leitura do recurso Java Script, ou estiver usando uma versão de navegador antiga (de 3.0 a inferiores) não será possível chegar até as zonas dos Suplemento e Opinião, já que o único caminho para estas páginas é através do efeito. De acordo com o webmaster, Márcio Annunciato, isto ocorre porque se acredita que a maioria dos usuários tenha um browser compatível com o efeito. Em Notícias temos links para cada editoria, Suplemento, para cada suplemento, e Opinião para as seções: Artigos, Editoriais, São Paulo Pergunta, Advogado de Defesa, Seu Dinheiro e E-mail. É a proximidade de sentido que rege a lógica do uso de um recurso como esse. 3.2 Alinhamento O princípio do alinhamento é, segundo Williams, uma forma de conexão visual entre os elementos de um material gráfico, e, portanto, nada deve ser colocado arbitrariamente em uma página. Quando os itens são alinhados na página, há uma unidade coesa, mais forte. Mesmo quando os elementos estiverem fisicamente separados uns dos outros, se estiverem alinhados, haverá uma linha invisível conectando-os, tanto em relação aos seus olhos quanto a sua mente. (...) é o princípio do alinhamento que avisará ao leitor que, mesmo não estando próximos, os itens fazem parte do mesmo material. (Williams, p. 27, 1995) Um claro exemplo de como o alinhamento exerce uma correlação entre os elementos gráficos está na página 1C do caderno SP Variedades da edição de domingo, dia 31 de outubro de 1999. A página traz quatro fotos de pessoas ligadas à 20 culinária. Através do alinhamento das mesmas, é possível perceber, mesmo sem ler as legendas, ou a matéria, que existe uma relação entre elas. Este princípio também pode ser observado na home page em diversos níveis, como na barra de navegação ou na abertura do site, onde o alinhamento das chamadas para as editorias dão mais consistência ao conteúdo. O mesmo exemplo usado para mostrar o princípio de proximidade no site cabe aqui: quando nas páginas internas do site temos texto corrido e links para as retrancas concentrados à esquerda da tela, destacados do texto principal através de um fio cinza, temos também a aplicação do princípio do alinhamento. Este é um padrão que se repete em toda a home page, mas como ilustração podemos ver também novamente na edição de 31 de outubro, domingo, que na seção Dia-a-Dia, da editoria de Economia, há links para todas notas agrupados no canto esquerdo da página, numa subseção entitulada “Leia mais”, que também é separada do corpo do texto da página por um fio cinza. Os links são: “Imóveis: mercado está se aquecendo”; “Crescem vendas de brindes e champanhe”; “Autogestão: empresas devem ter lei própria”; “Trabalho: GM reduz jornada de trabalho em novembro”; “Aposentados: INSS: apoio a 5 mil jovens carentes”. Estes links levam o leitor até regiões mapeadas da mesma página, já que todas as notas estão agrupadas em uma página só, apenas separadas por um fio entre elas. A forma eleita pelo JT Web para apresentar suas retrancas ao leitor não interrompe o fluxo de leitura, já que assuntos correlacionados estão destacados do texto principal. Segundo vimos no capítulo anterior, links durante o texto podem atrapalhar a navegação, pois deixam o leitor em dúvida de qual caminho seguir durante a leitura de um texto. Muitos sites adotam links no canto da página, assim como o JT Web. A solução de The New York Times foi agrupar os links no final da página. Siegel também segue esta linha, pois acredita que links em meio a um texto podem quebrar o fluxo central de conteúdo: Coloco hiperlinks em coisas que não sejam pertinentes ao fluxo da menagem. Em um mundo não linear, posso explorar todas as possibilidades, mas também procuro guiar as pessoas pelo centro do fluxo. Se elas quiserem visitar os fluxos laterais, não há problema, mas procuro fazer com que retornem à história principal. (Siegel, p.68, 1997) 3.3 Repetição 21 A repetição é o princípio que prega que algum aspecto do design deve repetir-se no material inteiro, conforme diz Williams. Este aspecto pode ser qualquer elemento que o leitor reconheça visualmente. O elemento repetitivo pode ser uma fonte em bold (negrito), um fio (linha) grosso, algum sinal de tópico, um elemento do design, algum formato específico, relações espaciais etc. (Williams, p. 43, 1995) A repetição acontece por todo o Jornal da Tarde. Exemplos são o logotipo, os cabeçalhos de cada caderno, de cada editoria e de cada página que sempre obedecem ao mesmo critério de apresentação de elementos. O tipos dos textos e títulos, numeração de páginas, largura de fios, apresentação de selos sempre acontecem da mesma forma, obedecendo ao projeto gráfico do jornal. Um exemplo de elemento forte de repetição que surgiu depois da última reforma gráfica que aconteceu em 1998, é a seção Dia-a-Dia. Ela foi a forma encontrada para que se reunissem pequenas notas do dia em um mesmo espaço, sem atrapalhar a fluência das notícias nas colunas principais de cada página. Esta seção aparece em todas as editorias do jornal. A seção Dia-a-Dia também existe na home page mas, desta vez, não como um elemento forte de repetição, mas como uma forma de agrupar pequenas notas em uma mesma página. A repetição contribui, ainda, para que sejam estabelecidos padrões que identificam o material gráfico. Ao olhar para um newsletter (jornal) de oito páginas, é justamente a repetição de alguns elementos – sua consistência – que faz com que cada uma dessas oito páginas pareça pertencer ao mesmo newsletter. (...)A repetição ajuda a organizar as informações. Ela ajuda a guiar o leitor pelas páginas e a unificar partes distintas do design (da diagramação) do material. (Ibidem, p.49) Pela propriedade de promover uma unidade do material como um todo, o princípio da repetição é importante para que os designers tornem mais fácil para o leitor se localizar tanto dentro de um jornal quanto de um site. Mas, nesse último caso, a repetição serve também como uma forma de guiar o visitante para que ele não se perca em meio aos conteúdos dispostos na estrutura de hipertexto. As barras de navegação são um bom exemplo de elemento repetitivo que guia o visitante dentro de uma home page. 22 A barra de navegação deve aparecer sempre como um auxílio amigável para o usuário. Deve sempre ter a mesma aparência – simples, funcional, e acima de tudo, consistente. Sem surpresas. (Black, p.81, 1997) No JT Web, a barra de navegação no alto da página é sempre a mesma, e se repete em todas as páginas do site. Ela contém links para Últimas Notícias, Divirta-se, Serviços, Pesquise, Notícias, Suplementos e Opinião. Esta barra se mantém até mesmo quando o link para Últimas Notícias leva o visitante até outro produto online do Grupo Estado, no caso, a Agência Estado. 3.4 Contraste Contraste é o princípio que funciona como um atrativo visual e cria uma hierarquia organizacional. Williams define o contraste como algo que realmente faz com que uma pessoa queira olhar para um determinado produto gráfico. ... para o contraste ser realmente eficaz, ele deve ser forte. (...) Cria-se o contraste quando dois elementos são diferentes. Se eles diferirem um pouco mas não muito, não acontecerá contraste e sim um conflito. (Williams, p.53, 1995) Segundo Williams, o segredo do princípio do contraste é diferenciar completamente dois itens se eles não forem exatamente os mesmos. Há contraste de todo o gênero como cor, tamanho, peso, e tipos. Porém limitemo-nos a observar o contraste de tipos, que se dá de forma diferenciada nos dois meios. O contraste de tipos da versão impressa do Jornal da Tarde se dá pelo uso de uma fonte sem serifa para títulos e uma fonte serifada de estilo antigo para o corpo de texto, em geral. O mesmo não acontece no site. No JT Web tanto os títulos quanto o corpo do texto são compostos por tipos sem serifa. O contraste entre os tipos do texto e dos títulos, neste caso, acontece apenas em relação ao tamanho das fontes. Outra diferença é que o recomendável para grandes extensões de textos corridos, segundo Williams, são as famílias de tipos de estilo antigo, mas o ideal para as propriedades da tela de um computador, são fontes mais claras como as sem serifa. Há estudos que mostram que a leitura no papel com uma fonte serifada é melhor do que na Internet. Na Internet fica bem mais clara uma fonte sem serifa, uma fonte limpa. (Annunciato, entrevista) 23 4. O tratamento de elementos de design em cada suporte de informação Apesar de a interface gráfica ser comum tanto para o suporte impresso quanto para o online, e de alguns princípios de design servirem para os dois suportes, suas diferenças físicas e tecnológicas geram um tratamento diferenciado dos elementos gráficos que são utilizados em suas respectivas produções. Como elementos de design principais trataremos do espaço, da imagem, dos tipos, das cores e do texto. 4.1 O espaço A base do design impresso é o espaço. Segundo Valter de Souza, Editor de Arte do Jornal da Tarde, o espaço é determinante durante o processo de escolha do que entra ou não no jornal. Ele explica que, no início do dia, chegam até a Editoria de Arte diagramas que marcam o espaço onde as peças publicitárias vão ocupar em cada página. Em seguida, todo o espaço restante do jornal é distribuído por editorias. Novos diagramas são desenhados, desta vez, para demarcar espaço para as matérias, levando em consideração a editoria à qual elas pertencem. Na segunda reunião do dia, que acontece às 15h, são selecionadas quais matérias serão incluídas na edição. Segundo ele, é neste momento que o espaço se torna um elemento definidor na escolha da quantidade de matérias que serão publicadas. Já para o veículo online, de certa forma, o espaço é um limite vencido. Segundo Lenita Outsuka, editora do JT Web, o espaço online além de ser muito maior é mais barato. O que não cabe na edição impressa, como cadernos especiais de IPVA, resultados de vestibulares ou íntegras de discursos, vai para o JT Web, sem o menor problema. Este exemplo prático está de acordo com a afirmação de Jakob Nielsen de que uma face dimensional da Web é infinita. (Nielsen, 990124.html, 1998) Outra característica do espaço, como elemento de design, é o seu poder hierarquizador, já que o espaço em branco é um recurso usado também para promover a clareza na distinção e organização das informações. O espaço em branco – o espaço entre os elementos visuais – é parte integrante da mensagem. As revistas dividem os parágrafos em grupos com subtítulos; os romances usam parágrafos sucessivos com divisões apenas em capítulos ou subcapítulos. (...) o espaço em branco nos informa onde termina uma seção e começa outra. Em um site de terceira geração, o uso sistemático do espaço branco pode melhorar imensamente a 24 apresentação do texto para uma leitura mais fácil e uma melhor compreensão. (Siegel. p.65, 1997) Em um jornal, a forma mais notável de organizar o espaço é a distribuição dos elementos gráficos em colunas. Isto pode limitar em muito o design, mas tornou-se um padrão aceito para que a informação pudesse ser hierarquizada de forma legível. Collaro sugere a variação da largura das colunas para uma diagramação mais leve em jornais: O projetista gráfico está sempre preso às formas rígidas com que a colunas se apresentam, limitando sua criatividade. Para fugir desta rigidez e dinamizar a diagramação da página, um dos recursos utilizados é a variação da largura das colunas. (Collaro, p.86, 1996) Na Web, percebe-se que o uso de colunas é muito menos rígido. Cada página tem uma fluência de textos e elementos de design diferente. Observando a primeira página do JT Web temos a impressão de que há uma sutil divisão em colunas para a organização do conteúdo, mas estas não têm tamanho fixo. No interior do site há também o uso de colunas. Elas aparecem de forma solta e contribuem para a distribuição dos elementos gráficos. De acordo com Marcio Annunciato, as colunas têm uma função mais imaginária de organizar o design do que concreta: Nesta página (apontando para a primeira página do site) nós também imaginamos colunas como no jornal. Nas páginas internas também há esta divisão. O conceito de colunas também é válido para a web, mas neste caso eu não acho que seja mais por questão de espaço, mas por uma questão de layout e design. (Annunciato, entrevista) Nas páginas de transição do site temos duas colunas laterais estreitas cercando uma foto central, que também fica em uma coluna, só que mais larga. Nas páginas internas temos geralmente duas colunas: uma estreita à esquerda, que sempre traz links, e outra que contém a massa de texto distribuída em uma largura maior. Outro padrão muito comum em jornais é o uso de fios para separar assuntos ou destacar conteúdos específicos. Na Web houve uma tendência de se usar linhas horizontais, desta vez, para separar os parágrafos, já que o código em HTML não permite uma determinação precisa do espaço em branco. Segundo Siegel, as linhas horizontais vieram suprir a necessidade da demarcação de um espaço em branco, mas não é a forma ideal. Linhas horizontais – linha ao longo das páginas – são usadas como separadores em milhões de páginas na Web. As réguas horizontais tornaram-se um 25 elemento aceito na cultura da Web porque as pessoas desejavam maior espaço em branco em suas páginas. Quando se digitava uma cadeia de tags <P> em seguida, não se conseguia mais espaço vertical – todos os tags se fundiam em uma única linha em branco. Para obter mais espaço, tinham de colocar algo entre os tags <P>, e assim digitavam <HR> e- puxa! – conseguiam mais espaço! (Siegel, p.69, 1997) De acordo com Siegel, esta prática interrompe a fluidez da leitura e, além de tudo, ocupa um espaço desnecessário em bites na rede. Como separadores, as réguas horizontais são um lixo visual flutuando no ciberespaço. Elas destroem o caminho visual do leitor através da página. Observe os livros com bom design; eles não possuem réguas horizontais. Sites com bom design também não. (Siegel, p.69, 1997) No JT Web não foi observado o uso de linhas horizontais como separadoras de parágrafo, apenas como separadoras de textos de conteúdos diferentes. Exemplo é a seção Dia-a-Dia, onde várias notas são dispostas numa única página do site. Para dividi-las, a solução encontrada foi o uso de fios horizontais entre elas. A falta de controle do espaço é um dos grandes problemas que o código HTML impõe para os designers de Web. Siegel encontra soluções de design enganando o código. Um dos “truques” que ele ensina é o chamado “truque do GIF de um único pixel”. Ele consiste no uso de uma imagem GIF para criar um espaço e afastar os elementos. Como o código HTML permite a determinação de altura e largura de uma figura, antes mesmo que ela se carregue, é possível inserir uma imagem leve (um único pixel é o necessário) e especificar a largura e altura no código fonte, de acordo com o espaço que o designer desejar. No momento em que a página carregar, o espaço da imagem aparecerá vazio. Outro desafio para webdesigners é posicionar os elementos gráficos num lugar exato, já que o código em HTML permite apenas três alinhamentos (esquerda, centro e direita). Simplesmente inserir figuras e texto lado a lado no código HTML pode criar uma verdadeira confusão na página. Siegel, então, sugere a combinação de tabelas sem bordas para organizar o conteúdo da página como se fossem guias. 26 4.2 A Imagem Em um jornal as imagens podem vir em qualquer tamanho e com a melhor qualidade possível. A granulação da imagem em retículas representa um dos maiores avanços já conseguidos para promover a qualidade de imagem para o meio impresso. Graças a isso, uma imagem pode ser publicada tranqüilamente ocupando a página inteira de um jornal, sem perda de qualidade e resolução. Os grandes avanços tecnológicos obtidos no meio gráfico foram sempre destinados à obtenção de melhor reprodução da imagem, tanto no que diz respeito à ilustração, como do texto, esse que hoje, através da informática é lido como imagem. A leitura perfeita na tradução da granulação fotográfica aconteceu justamente para que as imagens pudessem ter melhor definição, já que tanto na publicidade quanto nas produções das pinturas havia necessidade de se obter uma imagem parecida com o original... (Azevedo, p. 105, 1996) A realidade do uso de imagens para a Web é diferente. As imagens são arquivos que podem demorar para carregar, dependendo de sua resolução, qualidade e tamanho. Para que o carregamento seja mais rápido, a imagem deve ser tratada de forma a se tornar mais leve. Este tratamento pode variar desde a redução do número de cores, a diminuição de resolução, até a compressão de arquivo até chegar ao tamanho ideal. A compressão é a chave para se reduzir o tamanho do arquivo e portanto o tempo de carregamento. (...) Arquivos de tamanhos menores são uma questão de se reduzir a imagem ao menor número possível de cores necessárias, mas deixando-a o mais possível compressível. (Siegel, p.49, 1997) O cuidado e, de certa forma, a restrição que se têm em relação ao uso de imagens, principalmente em movimento, na Web, ainda hoje, se dá devido à insuficiente largura de banda disponível para transmissão via Internet. No Brasil, as transmissões via rede ainda acontecem majoritariamente através das bandas estreitas, mas há investimentos no setor para implantação de banda larga. No período atual, final de 1999, a banda larga está em fase de experimentação em cidades do interior de São Paulo. A corrida do ouro prometido pela Internet deve se expandir ainda na primeira quinzena deste mês, quando as operadoras começam a oferecer o acesso 27 bidirecional à Internet por banda larga (cabo, microondas e satélite). (...) A “nova” Internet, digamos assim, que virá com banda larga poderá ser tão atraente quanto a televisão. Se antes se gastavam até sete horas para capturar um clipe musical pela rede, agora será quase como ligar a TV. Pelo sistema pode-se atingir velocidade até 32 vezes superiores ao máximo permitido pelo sistema convencional via telefone. (Junior, p.1, dez.1999) Porém, conforme diz o presidente da Abranet (Associação Brasileira de Provedores de Internet) em entrevista à Gazeta Mercantil, a banda é larga na capacidade, mas atinge um universo de pessoas restrito. Com exceção de algumas experiências do Universo Online, desde novembro, ainda não existem provedores de conteúdo específico para banda larga no país. Tavares acredita que os primeiros resultados só aparecerão em um ano, no mínimo. Sendo assim, por enquanto, o webdesign ainda está submetido às limitações da banda estreita. Assim, o uso de imagens pelo JT Web é nitidamente menor do que no jornal. No site as fotos apenas aparecem nas páginas de abertura de cada editoria, ou então, na seção Divirta-se, onde o design é mais solto do que no restante do site. Um outro fator que limita o uso de imagens pelo site, segundo a editora, é a fase de renegociação dos contratos com as agências de notícias, que não previam o uso de fotos e informações via Internet. O JT já tem permissão para utilizar o que é produzido pela AP (Associated Press), mas a Reuters e a France Press ainda estão aguardando o fim das renegociações. As artes publicadas no jornal também aparecem no site, com menor freqüência. Segundo o webmaster, as artes utilizadas no site antes eram refeitas em formato de tabela via código HTML, mas agora vêm direto da editoria de Arte e são disponibilizadas no site através do recurso Flash. 4.3 As Fontes As fontes são outros elementos que recebem um tratamento especial para a Web. Se o designer simplesmente utilizar o código de marcação HTML para especificar as fontes a serem apresentadas no site, correrá o risco de o usuário não ler os textos com esta mesma fonte. Isto acontece porque o código de marcação, quando interpretado pelo browser, gera uma ordem de procura nos arquivos de fontes instalados nas máquinas de cada usuário. Se este usuário não tiver o arquivo de fonte requisitado pelo site, este será substituído por um 28 outro equivalente à fonte default do navegador. É válido lembrar que o usuário tem a liberdade de especificar todos os defaults de seu browser, desde fontes até cores e carregamento de recursos específicos. Para solucionar este problema, Siegel sugere a representação dos tipos através do uso de arquivos de imagem, o que ele chama de “método da força bruta”: Embora todos nós procuremos a solução dos tipos perfeitos, continuamos a usar imagens GIF de tipos, deixamos os arquivos o menor possível e os prendemos nos sites usando o tag <IMG>. (...) Pode não ser elegante, mas funciona em todos os navegadores gráficos. Designers de terceira geração em geral criam títulos com texto GIF. Isto nos permite selecionar uma família de tipos que a maioria das pessoas não teria em seus sistemas e integrar as letras no tema geral ou na metáfora do site. Os títulos são usualmente parte da marca e da identificação do site. (Siegel, p.66, 1997) Desta forma, o browser deixa de procurar os tipos nos arquivos de fonte, e interpreta o elemento como imagem. Este é um recurso amplamente usado para títulos, mas não para textos inteiros, já que ficaria inviável disponibilizar toda uma grande área de texto em imagem. Contudo, no JT Web, todas as fontes são determinadas via código HTML, até mesmo as dos títulos. Não há uso de arquivo de imagem para compor palavras no site, a não ser aquelas inseridas na barra de navegação do site e da seção Divirtase, ou na imagem/foto/gráfico apresentada nas páginas de transição de cada editoria. Porém no JT Web isto não causa o mesmo problema de interpretação do código HTML, já que a fonte principal do JT Web é a Arial, uma fonte padrão amplamente difundida. Quando um sistema operacional, como o Windows, é instalado em um computador esta fonte é sempre instalada junto com as fontes padrão. 4.4 As cores As cores, que na impressão são apenas três (ciano, magenta e amarelo) e juntas formam uma infinidade de tons, na Web podem ser milhões. O obstáculo em se usar tantas cores está, mais uma vez, na capacidade de interpretação do material impresso pelo browser e pela máquina do usuário. Nem todos têm uma placa de vídeo de 24 bits como aquela que você usou ao preparar seus grafismos na Web. Assim, o que acontece quando um visitante 29 com um monitor de 8 bits pra 256 cores visita a sua página e esbarra com aquelas imagens JPEG com milhões de cores? O sistema de seu visitante cria uma paleta de cores que ele pode exibir, provavelmente descartando muitos dos matizes de suas imagens cuidadosamente construídas (...) Os visitantes reclamam de mudanças bizarras de cores, manchas e outros efeitos estranhos que nunca tinham se manifestado quando você viu suas páginas (...) A solução: converta para imagens que não precisem de nada além do formato de 8 bits para 256 cores (Bush, iworld.com, 1997)x Desta forma, o recomendável é o designer trabalhar apenas com um número limitado de cores, sem contar que, quando uma imagem tem milhões de cores, o tamanho de seu arquivo fica maior do que uma imagem com apenas 256 cores e, portanto, leva mais tempo para ser carregado. As cores exercem também a função de promover a identidade visual de um material gráfico. Para isso, segundo o colunista do site Webdeveloper, Heather Champ, o ideal é usar apenas algumas “... só porque existem 216 cores não significa que todas elas devem ser usadas. Escolhendo duas ou três cores é possível criar uma forte identidade do material online”. O Jornal da Tarde, por exemplo, limita-se a usar o branco (fundo), preto (texto), azul marinho (títulos e barra de navegação), cinza (fios), azul petróleo (cabeçalho interno das editorias) e vermelho (destaques e logotipo) no conteúdo geral do site. Na página principal, um número maior de cores é usado em banners, em um boxe chamando para a seção Divirtase e também para promover uma identificação visual das editorias, pois cada uma é apresentada com uma cor diferente. Isto acontece também no efeito Java Script, que fica no canto superior direito da página. Nota-se, porém, que no interior do site, as cores de cada editoria apontadas na página principal não se mantêm dentro do site, onde todas obedecem ao mesmo padrão de apresentação de cor. O jornal impresso também limita as suas cores e usa basicamente as mesmas do site. De acordo com Black, o uso do branco como fundo e preto como texto, a mesma que verificamos no JT Web, compõe a combinação ideal para sites: Na impressão, o branco é a ausência de todas as cores, embora em vídeo seja todas as cores acionadas em força total. É a cor mais brilhante; deveria ser usada muito mais em design. E é ainda mais importante na Web. O branco é a melhor cor de fundo. 30 O preto apresenta o maior contraste com o branco e portanto é a primeira escolha para a definição do tipo sobre um fundo branco.(Black, p.33, 1997) O vermelho é, para Black, a terceira cor principal, já que é legível tanto sobre branco, quanto sobre preto e ainda gera uma resposta visual instintiva: “O vermelho é a cor da natureza para o perigo e é uma maneira excelente de se adicionar um destaque a uma página em preto e branco”. (Ibidem, p.36) 4.5 O Texto O texto, como um dos principais elementos de design, também recebe tratamento diferenciado nos dois suportes. Esta diferença de tratamento não está somente ligada às capacidades tecnológicas dos equipamentos dos leitores, mas também à relação do homem com a máquina. De acordo com Steve Outing, colunista do site Mediainfo, os textos para a Web devem ser menores em função da dificuldade de se ler em uma tela de computador: Como bem documentam os estudos de facilidade de uso da Web, os leitores da Internet tendem a olhar os sites meio por cima, em lugar de lê-los com atenção. (Isso se deve parte à baixa resolução das telas de computadores atuais; é difícil para a vista ler durante muito tempo em um monitor de computador, e a velocidade de leitura em uma tela é em média 25% menor do que em um página impressa). Isso significa que tudo que você escreve precisa ser o mais resumido possível. (Outing, par180699.htm, 1999)xi Assim, Outing recomenda que se coloque o máximo de significado nos textos em um espaço curto, de forma que os leitores possam assimilar a mensagem no menor tempo possível. Esta é uma regra que funciona também para impresso, mas a diferença está no contexto. O espaço é o valor mais marcante para as produções impressas, já que é caro dispor grandes volumes de informação em um jornal ou revista. Para sites, a preocupação se dá em torno da velocidade e da disponibilidade de tempo que os usuários têm para acessar o conteúdo. Nielsen constatou em suas pesquisas que as pessoas não têm o costume de ler todo o conteúdo textual de uma página. Elas apenas rastreiam os elementos dispostos nela: As pessoas raramente lêem as páginas da Web palavra por palavra; ao contrário, elas “escaneiam” as páginas pescando palavras e 31 sentenças soltas. Em um estudo recente, John Morkes e eu descobrimos que 79% de nossos usuários de teste sempre “escaneiam” cada página que eles encontram; somente 16% lêem palavra por palavra. (Nielsen, 9710a.html, 1997)xii Black reforça esta idéia quando recomenda a inserção de conteúdo em todas as páginas, de forma a não permitir que o leitor escape do site por falta de informação: Ninguém lê nada. Pelo menos não tudo (...) Em revistas ou em sites da Web, as pessoas passam os olhos e folheiam. Se rapidamente não apresentarmos nada a elas, as pessoas não absorverão nada. Portanto temos que assegurar que haja algum conteúdo em todas as páginas” (Black, p.30, 1997) Nielsen enumera uma série de medidas para viabilizar a leitura nos sites. Segundo ele, as páginas da Web devem apresentar textos “rastreáveis”. Para isso elas devem sempre: conter palavras-chave “linkáveis”; apresentar subtítulos compreensíveis e com forte significado; mostrar listas de itens. Os textos devem ter sempre uma idéia por parágrafo, sendo viável o uso da pirâmide invertida, apresentando sempre a conclusão no início do texto e, finalmente, os textos devem ser menores dos que os convencionais (a metade ou menos). (cf. Nielsen, 9710a.html, 1997) No caso do JT Web estas propriedades não são encontradas, já que os textos das edições online correspondem aos mesmos textos publicados na versão impressa. Com exceção da seção Divirta-se e do site Defenda-se, que apresentam atualizações independentes do jornal, todo o restante do conteúdo do site reproduz o do jornal impresso. 32 4.6 Padrões e metáforas Padrões estão presentes no design do jornal e do site o tempo todo. Eles são o conjunto de pequenas regras, ou regularidades, que contribuem para promover a consistência e identidade do material determinadas pelo projeto gráfico. Muitas vezes estes padrões coincidem em ambos os suportes, como já foi visto no capítulo anterior, principalmente no que se refere à organização, hierarquia de informações e aos princípios de proximidade e repetição. Temos como exemplos o uso de uma mesma fonte nas massas de texto de cada um dos dois produtos (Arial, no suporte online, e uma de Estilo Antigo, no suporte impresso); uso das mesmas cores principais em ambos os suportes (azul, branco, preto, vermelho); a apresentação da seção Dia-a-Dia em todas as editorias do site e do jornal; a presença do logotipo do jornal também no JT Web. Estabelecer padrões de design garante uma coerência lógica dentro do site, ou de qualquer material gráfico, e permite que os leitores percebam com maior clareza a proposta do produto, segundo Nielsen. (Nielsen, 990822.html, 1999) Por isso, dentro de um site o uso de padrões é essencial, já que nem todos os usuários estão familiarizados com a estrutura da nova mídia, muito mais complexa que a impressa. O uso de padrões também deve se espelhar em convenções ligadas ao cotidiano e, assim, estabelecer uma aproximação com o visitante. O resultado pode implicar em uma maior simplicidade dos mecanismos do site, o que geraria também uma maior clareza, de acordo com a webdesigner, escritora e colunista do site Webreview, Jennifer Fleming. Compare o sistema e o mundo real. O sistema deve falar a linguagem dos usuários com as palavras, frases e conceitos familiares a eles, em vez de termos orientados para o próprio sistema. Siga as convenções do mundo real fazendo as informações surgirem de uma forma natural e lógica. (Fleming, 1998 webnav3.html)xiii Se estes padrões também devem estar ligados ao “mundo real”, o uso do jornal como parâmetro de design seria uma prática natural e, de acordo com Harper, até mesmo instintiva, até que não se crie uma linguagem própria do meio. Eu acredito que os instintos que nós seguimos são os instintos que aprendemos com os jornais. Eu acredito que estamos muito próximos de seguir estes padrões que são testados e verdadeiros e conduzem a um todo coerente e a uma boa exposição 33 dos fatos. Mas está claro para mim que no medida em que crescemos como isso, temos que ampliar o modelo porque estamos lidando com algo muito maior. Esta é somente a infância deste meio. Neste momento, estamos usando a velha fórmula de como fazer isto em jornais, como fazer isto no rádio e de como fazer isto na TV.(Harper p.4, 1998)xiv Dois padrões amplamente utilizados na WWW, que também podem ter tido sua origem no “mundo real”, são os menus e as barras de navegação, já que podem ser comparados a um índice. Estes, quando aliados ao princípio da repetição, se tornam elementos fortes de listagem e localização de conteúdo, visto que, em muitos sites, as barras e os menus aparecem em todas as páginas. No caso do JT Web é a barra de navegação que executa o papel de índice. Segundo a editora do site, isso facilita a navegação para o usuário: Temos sempre que facilitar a navegação, não se pode deixar que a pessoa perca o interesse ou se perca no meio daquele monte de informações, porque além do conteúdo impresso nós temos conteúdos nossos, do JT Web (...) E as pessoas têm que achar essas coisas sem se perder pelo meio, então nós partimos para essa barra de navegação com várias seções que existem dentro do site. A parte de noticiário nós dividimos em três itens: Notícias, Suplementos e Opinião. (Outsuka, entrevista) Outro sistema também bastante usado em sites é o de chamadas para outros conteúdos. Este padrão é encontrado no projeto gráfico do JT Web e reflete a lógica da primeira página de um jornal. A diferença é que nos jornais as chamadas servem como indicações para as páginas internas, e no site isto é disposto em forma de links. Nota-se também que, no site do JT, estes links não vêm com um breve texto referente ao assunto como nos jornais, apenas é apresentado o título da matéria interna. Tanto a barra de navegação como o uso de chamadas em primeira página são recursos gráficos observados em grandes sites de jornais como em O Globo (www.oglobo.com.br), Folha de São Paulo (www.uol.com.br/fsp/) , Folha Online (www.uol.com.br/fol/), O Estado de São Paulo (www.estadao.com.br), Jornal do Brasil (www.jb.com.br), entre outros. Até mesmo os chamados portais da Internet adotam esses padrões, como no UOL (www.uol.com.br), ZAZ (www.zaz.com.br), Starmedia (www.starmedia.com.br), e Zipnet (www.zip.net). De acordo com Nielsen, o uso de convenções 34 também empregadas em outros sites pode contribuir para uma navegação mais óbvia. Os usuários gastam a maioria do seu tempo em outros sites. Daí, tudo que é uma convenção e que esteja sendo usado na maioria dos outros sites será marcado na mente dos usuários e você só poderá desviar-se disto à custa de graves problemas na funcionalidade do site. (Nielsen, 990822.html, 1999) O design do JT Web foi criado com a intenção de se distanciar o máximo possível do que é feito em um jornal, criando uma diagramação mais adaptada a uma “nova linguagem” gráfica. De acordo com Romero, jornalista deste setor, é preciso esquivar-se das referências para que o usuário se adapte ao novo meio: Nós tentamos evitar as referências porque a Internet é um meio novo e você tem que acostumar o leitor e ensiná-lo a navegar na Internet. Não adianta apresentar para ele algo que seja parecido com um jornal, se não ele nunca vai aprender a navegar na Internet. Essa foi sempre a briga do Jornal da Tarde: eliminar ao máximo a referência gráfica a um jornal impresso. Existem sites que colocam o desenho da página do jornal, daí você clica e vai para a próxima página do jornal. Estas são as referências gráficas tradicionais e nós evitamos usar todas elas. (Taddei, entrevista) Contudo, o jornal ainda é a grande metáfora do site, já que o conteúdo do JT Web é uma reprodução fiel do que é publicado no impresso. De acordo com a editora de Web, Lenita Outsuka, isso acontece para manter a coerência com o produto impresso: Principalmente na área de notícias, os sites acabam sendo um reflexo do produto impresso, porque a gente tem que manter uma certa coerência com o produto impresso. Na verdade, no nosso caso, se você for ver detalhes a gente não tem muita coisa em comum, a não ser o conteúdo. O conteúdo é exatamente o mesmo. (Lenita, entrevista) Assim, embora a apresentação deste conteúdo no JT Web esteja nos moldes da nova mídia, aproveitando certas peculiaridades que ela oferece (como, os já citados, links, barras de navegação e uso de recurso em Java Script), o conteúdo e o design acabam se mantendo intimamente ligados 35 devido à organização da informação. O conteúdo guia as relações de proximidade e, por conseqüência, influencia também na arquitetura do site e na sua diagramação. Como no JT Web os textos são exatamente os mesmos do Jornal da Tarde, toda a arquitetura do site acompanha as associações estabelecidas pela diagramação do jornal. Como exemplo temos que as divisões por Suplementos, Editorias e seções do JT Web, assim como a organização das páginas internas, como já foi visto, obedecem à mesma lógica do jornal. Marcio Annunciato, webmaster do JT Web, foi questionado em entrevista sobre se esta organização do conteúdo do site repete a estabelecida pelo jornal intencionalmente. Ele responde: Sim, nós repetimos. Nós usamos a anotação de retranca principal, sub-retranca e procuramos colocar na mesma página links para todas as sub-retrancas, afim de facilitar a navegação. (Annunciato, entrevista) David Siegel propõe o uso de metáforas como base para a composição do ambiente de um site. Segundo ele, os atuais “sites de terceira geração” (cf. Siegel, p.21, 1997) se aproveitam de temas, e criam interfaces consistentes, que conduzem os usuários. Para isso o uso de imagens é essencial, levando-se sempre em conta as limitações tecnológicas de hardware, software (browser) e velocidade de conexão do usuário. Uma forte metáfora pode guiar um visitante e integrar um site. As metáforas devem ser familiares, consitentes e apropriadas para as velocidades de modem na Web. AS metáforas atraem visitantes, fazendo com que sintam-se em casa enquanto lhes apresentam atrações para explorar. (Ibidem, p.21) Siegel acrescenta que as metáforas funcionam como veículos de exploração. Se o JT Web assumisse o jornal como metáfora do site, sem se esquivar de suas referências, talvez, a partir daí, teriam sido criados elementos visuais capazes de reforçar a consistência do site e de promover uma aproximação mais forte com o visitante. 5. A Equipe A equipe do JT Web está instalada no mesmo prédio das demais empresas do Grupo Estado. No período da visita (entre 31 de outubro e 2 de novembro) ela era uma parte da redação do Jornal da Tarde, ocupando um espaço da redação equivalente ao de uma editoria. A redação do Jornal da Tarde é uma grande 36 sala sem divisões físicas entre cada uma das editorias que, na verdade, estão separadas por setores. A equipe do JT Web ocupava o setor próximo ao da Editoria de Arte e, assim, os profissionais podiam acompanhar tudo o que acontecia durante a edição do jornal. Hoje, devido a um novo projeto desenvolvido pelo Grupo Estado de unir todos os sites da “casa” em um único “portal”, a equipe foi destacada para o setor da Agência Estado. A equipe do JT Web é composta apenas pelo pessoal estritamente necessário para manter o site em funcionamento. Lenita Outsuka, jornalista, é a editora do JT Web; Roberto Romano Taddei, jornalista, é editor-assistente; Marcelo Tomaz e Mirella Stivani, estudantes de comunicação, são assistentes de redação. A parte técnica do site é responsabilidade do webmaster Márcio Annunciato e do programador Renato Fernandes Martins. Desta forma, a equipe é composta por quatro profissionais da área de jornalismo, de onde surgem as principais decisões, e dois de informática. De acordo com Roger Black, equipes pequenas são ideais para criar e administrar um site e elas funcionam melhor do que as grandes porque eliminam o fator “intermediação”: Quando os chips de computador são menores, os elétrons têm de percorrer uma distância menor e chegam mais rápido ao destino. O chip fica mais veloz. E funciona melhor. Acontece o mesmo com os seres humanos; um grande número de pessoas não funciona. (...) O que a editoração eletrônica nos deu foi a capacidade de cortar intermediários, de modo que a pessoa que tem a idéia realmente produz a página. (...) A equipe pequena é perfeita para a Net. (Black, p.153, 1997) Apesar de a equipe mesclar profissionais de áreas distintas, pode-se dizer que todos os membros têm noções gerais das demais áreas. Assim, a equipe do JT Web é multidisciplinar, já que cada um dos integrantes, cada um com sua formação específica, tem contato com o processo como um todo. Eles obedecem a um perfil de equipe em que cada membro transita entre diversos estágios do que é produzido e tem consciência das possibilidades e limitações do meio. Estar familiarizado com mais de uma disciplina é a chave para fazer um site funcionar. Pessoas que têm experiência em vários campos são valiosas. Não precisamos de mais designers que estejam preocupados somente em fazer as páginas bonitas. Todos precisam ser tão bons editores quanto são bons designers. Estar atento a tudo que entra em um site é extremamente importante. (Black, p. 160) Como o JT Web aproveita o conteúdo a ser publicado no jornal, as tarefas dos jornalistas estão bem próximas 37 daquelas área de produção do site e de atualização, gerando uma troca entre os dois setores. O trabalho da equipe se inicia por volta das 15h quando os estagiários começam a montar as páginas do material que estiver pronto para ser impresso como, por exemplo, os suplementos que, geralmente, são fechados com antecedência. É importante lembrar que todo este material fica preparado para ir ao ar, mas apenas são atualizados no momento em que o jornal estiver fechado e impresso. Esta é uma forma de garantir que o site não fure o jornal. Diz Márcio Annunciato: Nós começamos a atualização fazendo algumas “coisinhas” antes do jornal fechar. Por exemplo, tratar aquelas fotos as quais já sabemos que serão usadas. Nós sabemos antes o que vai entrar no jornal porque as páginas ficam todas disponíveis pelo sistema Hermes enquanto ficam prontas. A partir daí nós começamos a adiantar algumas coisas. Por exemplo, nós atualizamos outras coisas como suplementos, bancos de dados do Defenda-se, e os roteiros culturais. Depois nós esperamos o fechamento da edição da capital do jornal para preparar o resto e, só então, jogar no ar. (Annunciato, entrevista) Ao contrário dos conteúdos noticiosos e dos cadernos semanais, o setor do site Divirta-se é atualizado no decorrer do dia. Como já foi verificado, esta é a única área fixa do site que traz um volume de conteúdo maior do que o do jornal. O conteúdo restante é editado no formato online na medida em que o jornal do dia seguinte vai ficando pronto, mas o trabalho de edição é maior depois do último fechamento do jornal, às 21h30min. Se o dead-line para o produto impresso é rígido, para o site é um pouco mais flexível. O site pode ter todo o seu conteúdo atualizado entre 1h e 3h do dia seguinte. A principal exigência em relação a um horário limite refere-se ao conteúdo enviado para o portal da Microsoft, com o qual o JT Web mantém um convênio para o envio de matérias. Neste caso o horário de fechamento é até 2h, segundo a editora. A equipe do JT Web não produz notícias de última hora. O visitante que “clicar” na barra de navegação em busca de informações constantemente atualizadas cairá em um frame da Agência Estado. Dessa forma, o ritmo de atualização do site ainda é semelhante ao do jornal, principalmente porque o conteúdo principal do site está totalmente ligado ao que é publicado no meio impresso. Assim, segundo Márcio Annunciato, os esquemas de atualização do site e do jornal seguem os mesmos critérios: Assim como no jornal, há no site as editorias que são atualizadas diariamente e semanalmente. A diferença do jornal e do site é que você pode acessar o Jornal do Carro, que sai 38 nas quartas feiras, também na quinta, na sexta... Já quando você compra o jornal só recebe o suplemento do dia. (Annunciato, entrevista) Em questão de conteúdo noticioso nada há no site independente do jornal, porém existem seções paralelas à notícia onde há publicação de dados que não cabem no jornal, mas que têm espaço na rede. Divirta-se, que trata de informações sobre a vida cultural na cidade de São Paulo, é um exemplo. Ao buscar informações sobre determinado evento, o visitante também poderá ter acesso a mapas das ruas de São Paulo, saber sobre o que mais a região pesquisada oferece de opções culturais, e, ainda, pode deixar o seu comentário sobre filmes e peças em cartaz. De acordo com a editora, essas novas possibilidades que a rede proporciona estão relacionadas à questão do espaço: Existem coisas que nós desenvolvemos para a Internet, por exemplo, o Divirta-se, que é um suplemento do jornal. Aqui na Internet ele é muito mais completo, por um motivo simples: a Internet não tem limite de espaço. No jornal impresso falta papel. Então nós temos roteiros completos, mapas das regiões onde estão teatros, cinemas e o que tem em volta em termos de restaurantes. (Outsuka, entrevista) Outro produto que publica conteúdo além do que está no jornal é o site Defenda-se. Ele, na verdade é um produto independente do jornal, mas também é produzido pela equipe do JT Web. Defenda-se é um site novo que se propõe a exercer a função de serviço para a cidade de São Paulo, trazendo esclarecimentos para as dúvidas mais comuns do cidadão paulistano e indicando mecanismos de defesa para o consumidor em geral. 6. Conclusão Tendo em vista a fase atual de desenvolvimento tecnológico da rede, foi possível observar que os recursos amplamente utilizados no design para a WWW são ainda limitados diante do que a Internet pode potencialmente prover. A Web ainda não está, de fato, aproveitando os recursos multimídia que são próprios do meio. Isso se dá porque, apesar de os designers possuírem ferramentas tecnológicas para dispor tais recursos, o limite está na tecnologia de transmissão de dados e também na tecnologia doméstica - aquela que depende das máquinas dos usuários para que a mensagem a ser transmitida chegue até o receptor. Assim, verifica-se, hoje, que os principais códigos usados 39 para construir as mensagens da Web continuam sendo o texto e a imagem estática (os mesmos do papel). Sendo os principais elementos de webdesign os mesmos de um produto impresso, que também constituem um ambiente gráfico, temos que alguns padrões de design servem tanto para um meio quanto para outro, como, por exemplo, aqueles descritos por Williams na obra Design para quem não é designer: Proximidade, Alinhamento, Repetição e Contraste. A prática destes quatro princípios, em ambos os meios, foi testada nesta pesquisa através da amostra do site JT Web. Dentre eles constatou-se que todos encontram aplicação tanto no produto online quanto no impresso, mas especialmente os princípios de Proximidade e Repetição estão mais ligados ao estabelecimento de padrões de um projeto gráfico, já que tratam da organização da informação e da criação de uma identidade para o produto. Neste sentido, percebemos que, no JT Web, a arquitetura (planejamento da estrutura do site de acordo com uma hierarquia de informações) repete aquela organização já elaborada para o jornal. Já alguns outros recursos gráficos do jornal, como o uso de colunas, agrupamento de matérias em uma mesma página e cabeçalhos (para promover a identidade do material) têm pouca correspondência no site. Este distanciamento gráfico entre os produtos online e impresso pode ser considerado proposital por parte da equipe do JT Web, já que o jornalista Romano Taddei deixa bem clara a intenção da equipe de adequar o design do produto online ao seu suporte de informação e até mesmo fugir das referências vindas do jornal impresso. Porém, ao mesmo tempo, com exceção do Divirta-se, o conteúdo do site é exatamente o mesmo que o veiculado pela versão impressa, como foi verificado na observação dos produtos e pela entrevista. Sendo assim, por mais que a aparência do site não tenha vínculos explícitos com o jornal, toda a estruturação do design e arquitetura do site não só estão ligados ao que aparece no impresso, como repetem a lógica de distribuição de elementos por editorias, suplementos, seções e páginas do jornal. Percebe-se, ainda, que, da mesma forma que o jornal, o site usa padrões e convenções que se repetem diariamente, tornando seu design consistente e previsível. Se para o jornal o uso de padrões cria uma unidade do produto, para um site, além de tudo, a utilização de pequenas regras repetitivas ao longo do material auxiliam a navegação por promover a identificação do espaço. Além disso, tornam a navegação mais simples para o leitor que, assim, é guiado intuitivamente de forma a não se perder durante sua visita. Apesar de os princípios básicos de design serem válidos também para o veículo online, alguns problemas surgem com o novo meio, como o da navegação, por exemplo, e geram a 40 necessidade de se criarem novas soluções (barras de navegação, menus, mapas) e, também, a falta de controle sobre o design. Ao mesmo tempo em que a pesquisa pôde mostrar aproximações em relação ao uso dos princípios de design, foi possível notar que as diferenças básicas entre os dois suportes de informação, papel e computador, impõem formas diferenciadas de lidar com cada elemento de design. Basta observar as diferenças entre o acesso, contato visual e manuseio entre os dois meios. A leitura no papel independe das condições tecnológicas e pode ser feita no momento em que o leitor tem o produto nas mãos; já o computador geralmente está em um lugar fixo, e é preciso executar uma série de tarefas antes de se acessar uma home page. O jornal pode ser folheado; as páginas da Web são vistas uma por vez e a leitura em uma tela de computador se dá de forma bem mais vagarosa e cansativa do que no papel, como foi visto no capítulo 4. Em um jornal o leitor tem uma noção de limite maior do que quando entra em contato com o produto online. Por essas divergências, os principais elementos de design descritos nesta pesquisa (espaço, tipos, imagem, cor e texto) são tratados de forma especial em cada suporte de informação. Isso acontece porque o designer para o impresso trabalha com a manipulação direta dos elementos, ou seja, tanto utilizando a técnica do paste up, quanto lançando mão de programas de computador para executar a editoração, e, assim, tem pleno controle do que será impresso. A forma como a “boneca” ou o diagrama foi composto será a mesma do resultado final do produto. Como foi verificado através deste trabalho, o mesmo não é possível para o webdesign, já que o seu instrumento de design é o código HTML que funciona apenas como marcação, dando brecha à diferentes interpretações dos browsers. Dessa forma, a diagramação para a Web demanda um tratamento mais atento às propriedades do meio. Os sites nem sempre são vistos pelo visitante da mesma maneira como foram desenhados. É por isso que o tratamento do espaço como elemento gráfico para a Web é submetido a uma série de truques e transformações no código fonte, como Siegel explica, até se chegar a um ponto em que seja mais ou menos garantido que o usuário veja cada página uniformemente. Como vimos, dentre estes truques desenvolvidos por Siegel está o uso do GIF de um único pixel, o uso das tags “heigh” e “width” para dominar o espaçamento horizontal e vertical e o uso de tabelas como guias de posicionamento dos elementos. Outro fator que interfere no tratamento é, mais uma vez, a tecnologia. A velocidade de transmissão limitada pelas bandas estreitas exigem a construção de seites “enxutos”. Assim, as imagens devem ter tamanhos reduzidos, os recursos devem ser leves, de forma que o conjunto de elementos 41 gráficos de uma página somem um tempo médio de carregamento relativamente pequeno. Imagens leves implicam em imagens de pequeno tamanho, redução de cores e resolução. Apesar de hoje os softwares que tratam imagens permitirem uma redução de tamanho de arquivo sem tanta perda na qualidade de imagem, os sites ainda não podem cometer as mesmas extravagâncias que um jornal ao publicar uma foto em uma página inteira, como o próprio Jornal da Tarde já fez em algumas de suas capas históricas. Apesar disso, o JT Web apresenta mais aproximações com o jornal do que disparidades em seu design. Se existe uma referência mais forte do meio impresso sobre o online, podese dizer, no caso do JT Web, que um dos fatores está ligado à formação dos profissionais. A maioria da equipe vem do meio impresso, o que amplifica a ligação entre estes dois meios. Temos que considerar, ainda, que o site é a versão online de um jornal e que depende do que é fornecido pelo veículo para se manter, já que não há produção de notícias exclusivas do site. Desta forma, por mais que se procure adaptar os recursos de design ao novo meio, haverá ainda um vínculo mais forte ao objeto que é o Jornal da Tarde, influenciando o design. Diante do que foi pesquisado e detectado durante o trabalho é possível concluir, por fim, que a fase atual de desenvolvimento da “nova mídia” reflete no design a ausência de uma linguagem totalmente própria, já que há ainda uma série de restrições tecnológicas para o seu pleno desenvolvimento, como, por exemplo, o uso dos recursos multimídia. Dessa forma, os designers acabam por recorrer a recursos gráficos semelhantes ao do impresso. Assim, as referências mais fortes trazidas do papel para a Web, que verificamos hoje, são próprias da fase de surgimento de uma mídia que mescla propriedades das anteriores até ela mesma estabelecer sua própria linguagem. 7. Notas 1) The most important reason for one in three people who use the Internet is to send electronic mail. It is the most popular form of using Internet. But nearly as many use the Internet and the Word Wide Web for research. One in six is looking for specific news and information, One in eight wants business and financial information. One in 12 goes to the internet for hobbies and entertainment. 2) Print design is 2-dimensional, with much attention paid to layout (...) Typically, each view is a design unit created 42 for a fixed size canvas - often a big canvas when designing newspapers or posters. In contrast, Web design is simultaneously 1-dimensional and N-dimensional. 3) Print design is based on letting the eyes walk over the information, selectively looking at information objects and using spatial juxtaposition to make page elements enhance and explain each other. Web design functions by letting the hands move the information (by scrolling or clicking); information relationship are expressed temporally as part of an interaction and user movement. 4) Reading a book or magazines is generally a logical progression from start to finish. But online the first screen is much like a tree with branches leading out, headlines are hypertext links hopefully providing logical parts to stories. 5) In print, navigation mainly consists of page turning: an ultra-simple user interface which is one of the printed medium's great benefits. Because page turning is so limited, it is often not even thought of as a design element. In contrast, hypertext navigation is a major component of Web design, requiring decisions like: - appearance of links - how explain where users can go and where each link will lead - visualization of the user's current location - information architecture 6) Designers add links by overbearing hash blue underlined scars into the patterns of the paragraphs. The result? An overbearing distraction to the reader’s subconscious. Suddenly that reader must decide: Do I stop here and click on to this link? Do I finish the sentence and come back? Do I finish the story and scroll back to the navigation element? It’s a headachy mess. 7) Some sites, including HotWired and Feed Magazine, experimented with links and moved them to the margin, which creates an annotation-like effect. A benefit to this strategy is that links can be given further context by pulling them away from body copy. The New York Times tried a different method – placing all links at the end of its stories. 8)(...) An HTML file is just a set of instructions for creating a page on a computer screen. Makers of browsers can have their products interpret these instructions in whatever way they choose. This chaos of different operating 43 systems, different browsers versions and different kinds of HTML code means that designing for the Web is a much less exact science than designing for more traditional media. As a Web publisher, you can never be sure how your material will appear on every system out there. 9) Current Web designs are insufficiently interactive and have extremely poor use of multimedia. It is rare to see a Web animation that has any goal besides annoying the user. (...)Highly interactive information graphics require the user of non-standard technology and are therefore not currently recommended on mainstream Web pages. 10) The number one activity on the Web is information retrieval (...) Our work has upset large numbers of graphic designers. Through research, Spool’s team found that graphics neither impair nor improve users’ success in finding information. In fact, most of the graphics factors studied made little or no difference including: total number of graphics; - Graphic sizes; - Graphic Color; - Background Color. 11) We will eventually get: - bandwidth fast enough to download a Web page as fast as one can turn the page in a newspaper - Screen resolution sharp enough to render type so crisply that reading speed from screens reaches that of paper - huge screens the size of a newspaper spread - in fact, I think that newspaper sized screens are about the limit where it may not make sense to make screens any larger. 12) This is not an unheard phenomenon. Early television consisted primarily of people with radio experience reading in front a camera instead of a microphone. It took several years before TV broke out of the old (radio) way of doing things, and programming began being created that was appropriate for the new medium rather than the old. 13) Not everyone has a 24-bit display card like the one you used when preparing your Web graphics. So, what happens when a visitor with 8-bit, 256-color display visits your page and hits those million-color JPEG images? Your visitor’s system creates a palette of color that it can display, likely jettisoning many of the hues in your carefully crafted images. (...) Visitors complain of bizarre color shifts, funny speckles, and other strange effects that never seem to manifest themselves when you view your 44 pages. (...)Solution: Convert images that com’t need more than 256-colors to 8-bit format. 14) ... just because there are 216 color doesn’t mean that every of them has to be used. Choosing two or three colors can create a very strong online identity. 15) Match between system and the real world. The system should speak the users’ language, with words, phrases, and concepts familiar to the user, rather than systemoriented terms. Follow real-world conventions, making information appear in a natural and logical order. 16) I think the instincts we follow are the instincts we learned at the newspaper. I think we are very close of following those patterns, which are tried and true and lead to a good package and a report. But it’s clear to me that as we grow with this, we’re going to have to stretch tah model because we’re dealing with a lot more. This is just the infancy of this medium. Right now, we’re taking the old formula how do they do it in newspapers, how do they do it in radio, and how do they do it in television. 17) Users spend most of their time on other sites. Thus, anything that is a convention and used on the majority of other sites will be burned into the users’ brains and you can only deviate form it on pain of major usability problems. 45 8. Bibliografia 1) AZEVEDO, Wilton. Global, 1996. Os signos do design. 2.ed. São Paulo: 2) ANDREWS, Whit. One Who Believes The Simple Sites Are Often Best. Tradução da autora. www.internetworld.com/ print/1996/08/19/undercon/webweaver.html, 1996 3) BLACK, Roger. Websites que funcionam. do Brasil, 1997. São Paulo: Quark 4) BREMSER, Wayne. Space: The First Frontier. Tradução da autora. www.internetworld.com/print/ monthly/1997/06/ workshop.html, 1997. 5) BROWN, Kim, DEGENHART, Curt. Web Graphic: It’s Not What You Think. Tradução da autora. http://webreview.com/ pub/web98east/24/spooltut.html, 1998. 6) BRUNER, Rick. Net Results: O Marketing Eficaz na Web. São Paulo:Quark Books, 1998. 7) CAMPOS, Emilene de Oliveira. O Fazer jornalístico na Internet. Juiz de Fora: UFJF; FACOM, 2.sem. 1998, 100 fl mimeo. Projeto Experimental do Curso de Comunicação Social. 8) CHAMP, Heather. A Few Type Issues. 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Browser, navegador: Programas que permitem a navegação na WWW, ele interpreta o código HTML e dispõe os dados em forma gráfica. Cookies: Espécie de script enviado pelas páginas da Web que registra dados do usuário no computador. Default: Configurações padrão de um software que determinam a forma como ele vai executar determinadas ações, estas configurações podem ser alteradas pelo usuário. Por exemplo, em um navegador é possível personalizar tamanho e cores das fontes, background, restringir a ação de determinados recursos. DHTML (Dinamic HiperText Markup Language): é uma variação do código HTML que permite dispor efeitos dinâmicos de animação nas páginas. E-mail, eletronic-mail: É o correio eletronico. Flash: É um programa que usa o formato vetorial para produzir uma arte limpa independente da resolução e baseada em vetores. Ele é usado na criação de animações dimensionáveis e interativas para a Web. É possível construir sites inteiros com o programa. 50 FTP, File Transference Protocol: Espécie de protocolo de transferência de dados através do qual transfere-se arquivos de todo o gênero. HTML (HyperText Markup Language): É o código de linguagem próprio para a veiculação de textos e imagens na World Wide Web. HTTP, HyperText Transfer Protocol: É o protocolo de transferência de dados utilizado pela Web. Ele transmite textos, gráficos e qualquer outro tipo de arquivo (substituindo o FTP) além de permitir a navegação através de hipertexto. IRC (Internet Relay Chat): É uma forma de comunicação via servidor que coloca diversos usuários em contato direto em salas de conversação. Interface: Termo ligado à relação entre homem e máquina. Uma interface amigável é aquela que usa signos familiares ao usuário, uma interface não amigável é aquela que faz uso de comandos arbitrários. Java: Linguagem entre plataformas através de aplicativos que são pequenos programas. Eles são carregados rapidamente e são executados no sistema do cliente. Java Script: Linguagem de script que não tem relação com o Java, a linguagem de programação. É uma linguagem da Netscape para controlar elementos em uma pagina da Web. A versão da Microsoft para o recurso se chama Jscript. Largura de Banda: Indica, em bits por segundo (bps), a que velocidade os dados podem fluir através de um determinado canal de comunicação entre computadores. Quanto maior a largura de banda, mairo a velocidade de comunicação. Link: Hiperligação que permite ao usuário passar de uma página para outra. Online: Ligado, conectado ao meio digital. Plug-in: Acessório que complementa um determinado programa ampliando suas opções de tarefas. No caso dos browsers, há recursos que, para funcionarem, necessitam que um plug-in esteja instalado na máquina do usuário. 51 Script: Programas manipuladores de efeitos para as páginas da Web. Site: Um endereço dentro da Internet que permite acessar os arquivos e documentos mantidos no computador de uma determinada empresa, pessoa, instituição. SCML: Código de marcação antecessor ao HTML. É composto por tags primárias Tags: nome dado aos comandos de HTML. Telnet: Protocolo que permite o logon (conexão) em máquinas remotas de forma que se passa a utilizar a máquina remota para realizar o processamento. VRML (Virtual Reality Modeling Language): É quase tão antigo quanto a Web. E permite o uso de aplicações em 3d. WWW, World Wide Web ou Web: Uma das interfaces gráficas acessíveis pela Internet, que se destacou pelo uso de hipertexto, através do qual é possível navegar por entre as diversas camadas de páginas. XML (Extensible Markup Language): Código de marcação que proporciona uma maneira de criar uma linguagem personalizada que atenda a um tipo particular de documento. 52 Anexo 1: Entrevista com o Editor de Arte do Jornal da Tarde, Valter Pereira de Souza, dia 31 de outubro de 1999. Conte-me como funciona o jornal. A redação do jornal é dividida espacialmente por editorias. 11h da manhã há uma reunião com o Editor Chefe e Chefes de Reportagem sobre os acontecimentos do dia. É quando os chefes levam até o Rufato, Secretário de Produção, as notícias e pautas próprias. Chegam até a Editoria de Arte os diagramas de publicidade, que são o desenho de qual espaço os anúncios vão ocupar em cada página. A partir daí escolhemos qual espaço vai para cada Editoria no dia. Então, distribui-se este espaço desenhando a página antecipadamente e o diagrama final da página é levado até o Editor. Às 15h há uma outra reunião, desta vez, para decidir quais matérias entram no jornal, de acordo com o espaço destinado para cada editoria. As matérias que são eliminadas nesta reunião não são usadas no JT Web. Como você vê a diferença em questão de espaço para os diferentes suportes de informação: Jornal e Internet? O Jornal da Tarde é um resumo dos outros jornais, e por isso tem um tamanho reduzido. Se é possível economizar em número de páginas, nós economizamos. O JT Web, pelo contrário, tem um espaço que não é tão caro quanto o papel. Se o jornal publica um caderno de IPVA, por exemplo, usa um grande espaço em papel. Se há anunciantes o suficiente o jornal pode até publicar, caso não, este conteúdo vai só no JT web e o jornal coloca uma nota indicando para o site. O mesmo acontece, por exemplo, com listas de aprovados em vestibular e íntegra do 53 discurso do presidente, que gastam um grande espaço. O Estado de S. Paulo pode gastar três páginas com a íntegra do discurso, mesmo porque é um jornal mais tradicional que existe há cem anos, nós não temos esse compromisso. E quanto ao horário de fechamento? O horário do fechamento do jornal para cidades há mais de 100 km de distância é 21:30. Dentro da área de 100 km de distância é às 22:30. Este é o material que vai para bancas e assinaturas.O jornal começa a rodar mais ou menos 50 minutos depois do fechamento do jornal Pelo que você acompanha, o site segue a mesma lógica de organização do jornal, de agrupar matérias e retrancas na mesma página? O agrupamento de matérias e retrancas por proximidade de assunto é um princípio editorial que é mantido no site. Conte sobre o projeto gráfico do jornal. O jornal teve o mesmo projeto gráfico nos primeiros 25 anos. Depois da primeira reforma gráfica, o jornal foi se modernizando. Murilo Felisberto, da DPZ, fez um projeto para o JT. No ano passado fez outro com Fernando Mitre. Que tipo de recurso gráfico foi criado nesta fase de modernização? A coluna DIA-A-DIA, por exemplo, que existe em todas as editorias, faz parte do projeto gráfico novo do jornal e evita que pequenas notas fiquem espalhadas pelo conteúdo do jornal. Elas têm um lugar fixo e fora das colunas principais. Você enxerga influências do design para web no desenho do jornal? Neste novo projeto não há influência nenhuma do novo meio em questão de design. É um projeto feito puramente com características de jornal. Se há influência de um meio para o outro, eu posso citar a revista. 54 Anexo 2: Entrevista com o webmaster do JT Web, Márcio Annunciato, dia 31 de outubro de 1999. Os princípios de design para impresso são válidos também on line? Não, não funcionam. Porque? No jornal é papel, na Internet se usa a tela de um computador. A mídia é diferente. Partindo daí certas técnicas de design impresso já não podem ser usadas on line. Por exemplo: fontes serifadas e sem serifa. Há estudos que mostram que a leitura no papel é melhor com fonte serifada, mas na Internet é mais clara a leitura com uma fonte limpa, sem serifa. O tamanho do jornal é diferente, o tratamento das cores é diferente porque os problemas de contraste são diferentes nos dois meios. Tem que se tomar muito cuidado com o número de cores em Internet, apesar de hoje nós conseguirmos fazer imagens com muitas cores com um "peso" de arquivo pequeno. Que fonte vocês usam no site? Arial Quais seriam as diferenças básicas entre as duas mídias? O jornal você precisa esperar o dia seguinte. A Internet é mais imediata. O fator básico que diferencia as duas mídias é o fator tempo. Que tipo de estratégias garantem um bom design? O bom senso é um elemento importante para o design. 55 A diagramação não pode ser muito poluída, a página não pode ser muito grande de forma que exija o uso da barra de rolagem. Há estudos que dizem que a parte superior é a mais vista e depois as inferiores. Vocês realizam algum tipo de pesquisa pra detectar como o site está sendo aceito pelo usuário? É o controle de visitação de páginas que oferece mecanismos para se checar o que é aceito e o que não é aceito e, a partir desses dados temos condições de saber o que mudar. O jornal tem um ritmo de atualização diária e o site? Assim como no jornal, há no site as editorias diárias e semanais. A diferença do jornal e do site é que você pode acessar o Jornal do Carro, que sai nas quartas feiras, também na quinta, na sexta... Sendo que quando você compra o jornal só recebe o suplemento do dia. Apesar de os suplementos ficarem prontos antes, eles só vão ao ar no mesmo dia em que são publicados, para não furar o jornal. Há restrição para o uso de recursos como Java, Java Script, Flash no site, por exemplo ? A restrição para o uso de recursos é você usar uma coisa que o seu público não consegue ver. Nós poderíamos colocar uma animação super complexa em Director ou em Flash, que não adiantaria nada. Só nós conseguiríamos ver. Programação em Java, por exemplo, sobrecarregam muito a máquina do cliente. Qualquer recurso de multimídia que vá tomar muito o processamento da máquina do usuário tem que ser evitado. No canto superior direito da página do JT web há um recurso que leva aos links dos suplementos do jornal, notícias e opinião, qual é esse recurso? Java Script, muito mais leve do que programação em Java, que são coisas diferentes. Se o meu computador não carregar esse recurso, o que acontece? Se o seu computador não carregar o Java Script você não vai conseguir ver os links, vai ter que atualizar o browser para uma versão mais nova. Mas este é um recurso muito simples. Só não conseguiriam ver as pessoas com browsers de pelo menos quatro anos de idade. Acredito que sejam pouquíssimas aquelas que ainda usam esses browsers. Há também como bloquear o carregamento de Java Script, quando se personaliza o navegador. Neste caso também não seria possível ver o recurso. Como você vê a questão do espaço para os dois meios, papel e 56 internet? Uma coisa que se costuma dizer é que papel é caro. Tem determinadas coisas como uma lista de aprovados no vestibular que não seria publicada no jornal por falta de espaço, mas que na Internet cabe. Outro exemplo, se você tem uma íntegra de um discurso do Presidente da República que não seria publicado inteiro, na Internet você pode. O espaço entao seria um problema já superado na Internet? Não acredito que seja tanto o espaço, mas sim o dinheiro. Porque no jornal você pode publicar o quanto você quiser, mas vai gastar muito mais. E o tempo, é outro valor determinante para o design na web? Mais do que o tempo seria a agilidade. Que é, na verdade, o resultado da relação entre espaço e tempo... que é igual à velocidade Exatamente. Para o impresso há a necessidade de se concentrar o maior número de informação em um mínimo de espaço, para economizar espaço. Na Internet, teoricamente, há espaço, mas os valores de objetividade, concisão e clareza se mantém... O problema agora é que, normalmente, quem acessa a Internet quer as informações muito rápido, então é necessário disponibilizar, por exemplo, a íntegra de um discurso e sua versão reduzida. Para que o leitor que tiver interesse em se aprofundar no assunto possa pegar, gravar, imprimir, como achar melhor. Eu acho difícil alguém que acesse o caderno Sábado, por exemplo, onde os textos são mais longos, realmente leia aquilo no computador. Acho que a maioria das pessoas deve imprimir, salvar para ler mais tarde, enquanto não estiver conectado. Porque quando você está conectado você está gastando dinheiro. O jornal, para organizar o conteúdo é dividido em editorias, suas páginas são divididas em colunas para administrar melhor o espaço. Como isso é feito no site? Aqui (mostra a primeira página do site) a gente também imagina colunas como no jornal. Nas páginas internas também há esta divisão. O conceito de colunas também é válido para a web, mas neste caso eu não acho que seja mais por questão de espaço, mas uma questão de layout e design. Há autores que consideram positivo o aproveitamento de padrões já existentes em outros meios como metáforas para facilitar a leitura e entendimento do site... 57 Você quer ver um desses padrões? Letra preta em cima de fundo branco. Isso é um padrão. Se você quiser fazer qualquer outra coisa diferente disso, eu acredito que não fique tão bom. Além de o Jornal da Tarde Web ser feito em cima de um veículo impresso, existem elementos que são inevitáveis de se usar como referência? Tem bastante coisa que nós aproveitamos, e tem outras que não porque aquilo já foi provado que não funciona. Como é feito o tratamento das imagens do JT Web? As imagens têm boa qualidade e nem tanto "peso". Tem softwares que permitem impor um grau de compactação de bytes sem perda de qualidade de foto. Ficam de que tamanho estas fotos? De 30 a 40 kb Qual software vocês usam pra isso? Nós usamos o Photoshop. É um dos melhores programas para edição de imagem. Como vocês trabalham como horário do fechamento do jornal para editar o site? Nós começamos a atualização fazendo algumas “coisinhas” antes do jornal fechar. Por exemplo, tratar aquelas fotos as quais já sabemos que serão usadas. Nós sabemos antes o que vai entrar no jornal porque as páginas ficam todas disponíveis pelo sistema Hermes enquanto ficam prontas. A partir daí nós começamos a adiantar algumas coisas. Por exemplo, nós atualizamos os suplementos, bancos de dados do Defenda-se, roteiros culturais. Depois nós esperamos o fechamento da edição do jornal da capital para preparar o resto e, só então jogar, no ar. Todas as seções do jornal têm correspondentes na versão on line? Têm, mas há coisas que nós não colocamos porque não faz sentido se ter na Internet, como propaganda, classificados. Todas as editorias que saem no jornal nós públicamos. Existe influência da diagramação do jornal no design do site? 58 Sim, por exemplo as colunas. Esta é uma prova clara de que a diagramação de um jornal também funciona na Internet. Vocês usam a repetem a lógica de organização de conteúdo do jornal no site? Sim, nós repetimos. Nós usamos a anotação de retranca principal, sub-retranca e procuramos colocar na mesma página links para todas as sub-retrancas afim de facilitar a navegação. Esta é uma matéria principal onde nós temos cinco sub-retrancas (aponta para o monitor), todas elas sobre a Febem, então nós colocamos todas as matérias ligadas à principal. Como se dá a atualização do site? É diária em todos os setores do site? Tudo continua no site acessível através da busca. Nem sempre vale a pena você ter o fac-símile da edição na Internet. Acho que tendo o fac-símile da capa já é o suficiente, apesar de eu não ver utilidade nenhuma para isso, tanto que nós nem colocamos links nas reproduções da capa. Acho que a Internet não é isso. A Internet não é você ter uma imagem que é uma cópia do que você tem no impresso para a pessoa clicar. A Web é baseada em navegação e hipertexto, palavras-chave que levam a documentos que se relacionam a elas. Partindo por esse princípio não faz sentido você pegar a página de um jornal e montar um mapa “clicável”. Como vcs lidam com a falta de controle do design? Nós imaginamos duas coisas: primeiro que a pessoa vá estar usando um PC com Windows, sem grandes alterações de default. Se ela alterar isso, vai ter problemas para visualizar não só o site do JT como qualquer outro site. Há como forçar a pessoa a visualizar o site exatamente como ele é, por exemplo, nós estamos usando esse recurso no site Defenda-se. Você poderá tanto estar em um PC como em um Mac, usando-o em qualquer resolução, alterar os tamanhos de fontes que será possível visualizar o site certinho. É um recurso que se chama CSS. Nós conseguimos detectar qual browser o usuário está usando, em qual resolução, ambiente que ele está e a partir daí mudamos o tamanho das letras. Assim, tudo se encaixa de novo. Como foi a criação do JT Web? O JT Web tem dois começos. Um quando a gente começou a 59 colocar informação do Jornal da Tarde na Internet, na realidade quem fazia isso era a Agência Estado. Depois temos um outro começo, que foi quando a Lenita assumiu a função de editora, e nós começamos a fazer o site JT Web oficialmente. Como foram escolhidas as cores para cada editoria? Quem idealizou a parte gráfica do JT Web foi Fernando Vilela que tem formação de artista plástico. Foi ele quem elaborou estas especificações de cores, que nós achamos interessante. Vocês mantém o padrão que ele elaborou... Quanto ao logotipo... Na verdade o logotipo é mais antigo do que o site, vem desde a época quando o site era feito pela Agência Estado. Nós acabamos incorporando isso sempre, para não perder a identidade. Você pode mudar o site inteiro, mas você tem que deixar uma coisa para que quando a pessoa volte ela não se perca, que identifique. Na última reforma gráfica que o Jornal da Tarde teve, o logotipo do jornal mudou e nós mudamos também a fonte do cabeçalho, mas o logotipo vermelho continuou. Vocês acompanham então o design do jornal quando há uma reforma gráfica? Sim, porque nós aproveitamos a repercussão que isso toma. Desde quando essa versão oficial do site está no ar? Há uns dois anos, mais ou menos Existe material exclusivo do site? O jornal, por uma questão de espaço, não pode colocar tudo, mas nós acabamos colocando, às vezes, mais coisas do que eles têm. O site Defenda-se, por exemplo, tem pessoas trabalhando exclusivamente, com informações que o jornal impresso não tem. Existe a possibilidade de aquelas matérias que não entraram no jornal por falta de espaço entrarem no site do JT? Eu acho que poder fazer nós podemos. A questão é a necessidade, já que isso ia gerar um problema em relação ao dead-line. 60 O dead-line de vocês é menos rígido? É até as tres horas da manhã. E a gente procura sempre atualizar sempre no mesmo horário para evitar que a pessoa entre à uma da manhã e já tem o site do dia, mas no dia seguinte não. Entra o site todo de uma única vez? A gente coloca tudo de uma vez sim. Os textos entram integralmente no site, sem edição para Web? Não há edição por uma questão talvez de fidelidade. Acredito que quem acesse o site via Internet queira ver o mesmo do que sai no papel. Acho que a pessoa não espera e nem quer ver outra coisa, acho que ela quer pegar e ligar o computador e ver as notícias que saíram no Jornal da Tarde. Existe pesquisa para saber a opinião dos visitantes sobre o site? Não, nós não fizemos ainda nenhuma pesquisa. O retorno que temos é através de e-mails. Se a pessoa vir algo que não gosta ela manda e-mail, se vir algo que gosta, ela manda email também. A arquitetura do site obedece a uma lógica parecida com a organização do jornal, como divisão em editorias, suplementos e seções? Exatamente. É algo que não tem muito o que ser mudado. Se você fizer algo muito diferente disso provavelmente as pessoas se perderiam. Como são selecionados os links de primeira página? Normalmente nós fazemos assim: a manchete é a mesma do jornal, deixamos sempre absolutamente igual. As chamadas das editorias são as chamadas de capa de cada editoria. O que pode acontecer é que, por exemplo, hoje a manchete é da Geral, então, nós escolhemos uma outra notícia para ocupar o espaço do link para a editoria da geral, que julgamos interessante. E o critério é de vocês? O critério é nosso. E quanto ao link para as “Últimas notícias”? 61 Nós chamamos exatamente a página da Agência Estado com o nosso frame em cima. E eles têm como saber se a pessoa chegou até a página deles pelo nosso site ou não. Os anunciantes do jornal não aparecem no site, por quê? Há um lugar no site do Estadão chamado Market place, que é puramente comercial, mas anúncios seriam bem-vindos . As artes que aparecem no site são produzidas por uma equipe especializada do site, ou vocês aproveitam as artes do jornal? Antes nós mesmos fazíamos. Por exemplo, se tinha uma tabela no jornal, nós editávamos em HTML, mas artes mais complexas nós estamos disponibilizando em Flash. Com esse recurso a gente podemos usar exatamente a mesma arte que eles usam. Por que, quando clicamos numa chamada do site, caímos num página de transição ao invés de cairmos direto na matéria? Tem gente que gosta disso, tem gente que não gosta. Nós achamos interessante fazer assim porque, dessa forma, estamos chamando a pessoa para coisas que ela não imaginava que fosse ver. Estamos empurrando conteúdo para ela. Vamos supor que ela tenha clicado na manchete e tivesse ido direto para matéria da Febem. Pode ser que ela não tivesse tido contato com as outras notícias da editoria geral, por exemplo. É uma forma de expor o que temos. Acho que você não demora nem três segundos pra passar de uma página para outra, não é o fim do mundo passar por mais uma página. 62 Anexo 3: Entrevista a editora do JT Web, Lenita Outsuka, dia 01 de novembro de 1999. Existe referência do design impresso no design do JT Web? Principalmente na área de notícias, os sites acabam sendo um reflexo do produto impresso, porque nós temos que manter uma certa coerência com o produto impresso. Na verdade, no nosso caso, se você for ver detalhes, nós não temos muita coisa em comum, a não ser o conteúdo. O conteúdo é exatamente o mesmo. Mas as matérias aqui sofrem um novo processo de edição de layout, nós damos um outro formato, já que não se tem uma página inteira para mostrar as matérias, há, na verdade, várias páginas. Não tem como colocar matéria principal, no alto, e em seguida duas sub-retrancas, porque não tem lugar para colocar as sub-retrancas, você tem que dar link para elas. Mas de uma forma geral, a idéia que o Jornal da Tarde sempre teve de uma diagramação mais aberta e mais leve, nós conseguimos manter no site. Como foi planejada a estrutura do site? Na verdade o site é uma colcha de retalhos, nós saimos pesquisando na Internet. Na Internet nada se cria, tudo se copia e se adapta. Tem muita coisa aqui que nós nos espelhamos em outros sites. O Fernando Vilela saiu procurando 63 referências. Um pedaço ele tirou do The New York Times, outro de outros sites, sites até que nem eram de informação. Depois que se tem a referência, adapta-se. Uma coisa temos em mente que é sempre facilitar a navegação porque você não pode deixar que a pessoa perca o interesse ou se perca no meio daquele monte de informações. Além do conteúdo impresso nós temos alguns conteúdos nossos, do JT Web no Divirta-se e Defenda-se e nós queremos que as pessoas encontrem e vejam esses conteúdos. Elas têm que achar essas coisas sem se perder pelo meio. Então nós partimos para uma barra de navegação com várias seções que existem dentro do site. A parte de noticiário nós dividimos em três itens: Notícias, Suplementos e Opinião. Sendo que Notícias leva até as editorias; o Suplemento mostra a cada dia um diferente, Opinião traz Advogado de Defesa, SP pergunta, entre outras seções. Há também o logo do jornal, que nós demos link para que a pessoa tivesse acesso à primeira página do jornal em si. É a única parte do jornal impresso que vem com o layout exatamente igual. Deste quando existe o JT Web? Há uns dois anos. Antes o que se fazia era pegar a primeira página no jornal e só publicar as matérias que saíam na primeira página. Então, o que acontecia? A Internacional quase nunca aparecia porque é uma editoria muito pequena dentro do jornal. Somente em casos extraordinários. Com a Economia, às vezes, acontecia o mesmo, mas sabemos que Economia no Brasil e no mundo hoje é um tema muito importante para ser excluído. Mas se não houvesse chamada para Economia, não haveria matéria desta editoria no site. Como foi a reformulação do site? Quando eu entrei aqui, eu entrei no meio da reformulação do site. Daí eu lancei a idéia de colocar o jornal todo no ar para a equipe porque acredito que se nós estamos fazendo um site do jornal, temos que colocar o jornal inteiro. Eu aumentei um pouquinho a carga de trabalho do pessoal, mas acho que valeu a pena. Nós ganhamos um pouco mais de espaço na Internet, ficamos mais expostos, mais visíveis. De lá pra cá já mudamos um pouco o desenho do site. Mas com pouca diferença da versão anterior. Houve uma reforma gráfica também no jornal... Houve, mas nesta reforma gráfica, a do site aconteceu antes da reforma do jornal. Um pouco antes. Se fôssemos esperar a reforma gráfica do jornal ia demorar, como ela não saía e a nossa estava pronta, aí nós colocamos a nossa. 64 Todas as seções do jornal têm correspondência dentro do site? Têm sim Quando foi criado o site do jornal da tarde, houve padrões de design do jornal que tiveram que ser mantidos no site? Não, não caberia. O padrão do impresso não cabe para nós, porque não trabalhamos com centímetros por coluna. Nós tivemos bastante liberdade pra criar. Claro que o resultado final foi submetido à diretoria e a diretoria do jornal aprovou. Engraçado que na primeira versão não aparecia o vermelho. Eram apenas tons de azul com branco e um pouco de cor em cada editoria para dar mais leveza e realce, mas era basicamente azul e branco. Esse logotipo foi que ficou do desenho anterior, mas nós queríamos mudar porque não gostávamos dele. Criamos um outro logotipo, mas a diretoria não deixou, a diretoria fez questão de que se mativesse o logotipo anterior, vermelho. Foi a partir daí então que se criou esta barra vermelha, para poder inserir algum outro elemento vermelho. Esta foi a única coisa que a diretoria contestou, o resto foi mantido segundo nós planejamos. Existem seções exclusivas do site? Existem coisas que nós desenvolvemos para a Internet, por exemplo, o Divirta-se, que é um suplemento do jornal, aqui na Internet ele é muito mais completo, por um motivo simples: a Internet não tem limite de espaço. No jornal impresso falta papel. Então nós temos roteiros completos, mapas das regiões onde estão teatros, cinemas e o que tem em volta em termos de restaurantes. Como você vê o uso de recursos multimídia em um site? Você pode notar que no site do JT tem muito pouca coisa de Java, as Gifs animadas, por exemplo, vêm do Market Place, que é outro produto da casa. Mas você pode notar que no nosso site mesmo há muito pouca coisa animada. Por quê? Porque animação pesa. Não se pode dar ao luxo de construir um site muito pesado com as linhas telefônicas que existem hoje no Brasil. O ideal para nós seria chamar a Home do JT em 10 segundos, mas nós ainda não conseguimos isso. Aqui nós carregamos o site rápido porque tem linha dedicada, mas você tem que testar em casa, pedir para as pessoas olharem dizerem quanto tempo demora. Como é selecionado o que vai entrar no site? Não há seleção. Tudo o que é publicado no jornal impresso sai no JT Web. Na verdade quem faz a seleção do noticiário são os 65 editores do produto impresso. O que nós fazemos é recolher esse material todo e colocar na Internet. As matérias que são eliminadas do jornal impresso por falta de espaço teriam chance de ser publicadas online? Matéria mesmo ainda não teve. E eu acho que não é essa a idéia. Se o JT Web fosse uma redação independente, acho que aí sim caberia ter coisas difereciadas do produto impresso mas, como nós fazemos parte da redação, acho que a nossa função é colocar o jornal online. O que geralmente acontece é que o jornal deixa de publicar, por exemplo, lista de aprovados no vestibular, então eles dão uma nota remetendo ao site. Outros exemplos são Cálculo do IPVA. O Estadão parece que deu três páginas para o assunto. Aqui, no nosso site, nós conseguimos montar um esquema em que você colocava o ano e tipo do carro, e era só clicar para enviar que o valor era calculado para você, com desconto e sem desconto. Nós conseguimos disponibilizar um programa que fizesse isso. Geralmente essas coisa que acabam ocupando muito espaço do jornal e não faz sentido serem publicadas porque não vão aumentar a venda, mas são um serviço, são jogadas na Internet. Os textos das matérias do JT Web não sofrem edição para entrar online, mas a Internet, como nova mídia, promete trazer uma nova linguagem... Ainda não. A gente está vivendo a reprodução do impresso. Eu acho que quem está renovando em termos de linguagem para a nova mídia são os sites de agências noticiosas, porque elas trabalham em tempo real. Então o repórter vai pra rua está com celular, na hora que ele consegue a informação, liga pra agência e já passa a informação. Os redatores redigem um texto de quatro a cinco linhas... Neste caso talvez você tenha uma nova linguagem. Não vou dizer se é melhor ou pior. Ela é nova, no sentido que você está dando uma matéria impressa em tempo real. Tem a agilidade e de televisão, só que você não ouve nem vê. O site sofre limitações em relação ao uso de imagens? Eu acredito que as imagens sejam melhores na Internet, em termos de cor, e hoje nós temos softwares que conseguem fazer diminuir o peso delas até uns 25kb. Mas não há como usar imagens na primeira página toda como já foi feito, por exemplo, em algumas capas do JT... Não. Onde hoje nós mais cometemos extravagâncias é na capa das editorias. Hoje a foto é grande, mas era maior no modelo anterior, o site tinha mais fotos, mas nós fomos tirando para que as páginas pudessem ser carregadas mais rápido. 66 Por que quando a pessoa clica numa chamada na página principal a pessoa não cai numa página com a matéria e sim numa página intermediária? Nós optamos por fazer isso porque se a pessoa caísse direto na matéria, ela não teria noção do conteúdo que existe na editoria. Essa foi a solução que nós encontramos para mostrar que existem mais matérias no site além daquela pela qual a pessoa se interessou. A Geral não é uma só matéria, a geral tem um monte de matérias. As fotos que vão para o site também são as mesmas que vão para o jornal? O editor escolhe as fotos e coloca numa “caixinha” que ele tem no sistema junto com os diagramadores, aí o diagramador usa as fotos pré-selecionadas pelo editor. Mas o nosso sistema de busca é outro. Nós usamos poucas fotos, às vezes eles utilizam uma determinada foto por uma questão de diagramação mesmo, porque, por exemplo, para o espaço que eles têm caberia melhor uma foto horizontal. Daí eu vou no nosso sistema e descubro que existe sobre o mesmo assunto uma foto melhor, só que ela é vertical e, portanto não caberia no espaço que o editor tem, mas eu posso usar, então eu uso. E tem aquelas matérias que não têm foto. A Economia é louca pra fazer matéria sem foto. Então, para a capa de Economia, nós usamos muitos mapas e gráficos. A única restrição que temos ao uso de fotos é em relação àquelas vindas de agências internacionais, mas por um problema de contrato, porque os contratos feitos com as agências internacionais não previam a utilização do material via Internet, porque na época não existia a Internet. Agora, estes contratos estão sendo renegociados, e nós estamos tendo permissão para utilizar fotos da agência da AP (Associated Press). Reuters, France Press são agências que ainda estão negociando utilização. Na hora de organizar o conteúdo do site vocês aproveitam a mesma organização que é feita no jornal? Por exemplo, se numa mesma página há matéria principal e sub-retrancas agrupadas, elas virão também agrupadas no site? Sim. Na diagramção de um jornal leva-se em consideração as zonas de atenção do olhar, por exemplo, a primeira zona seria o canto esquerdo superior da página. E no site, como seria a distribuição de elementos de acordo com essas zonas de atenção? 67 No site, acredito que seja no centro. Porque você bate o olho e vai direto sempre no meio. Mas se você pensar na tela como uma meia página de jornal ou um jornal dobrado você tem a mesma coisa. O que está lá em cima chama mais atenção. A tela não tem tantas divisões quanto em uma página de jornal. E, por enquanto, nós procuramos seguir o que o Mario Garcia fala sobre ser normal copiar as idéias do jornal até nós começarmos a desenvolver nossas próprias idéias. Usando o jornal como metáfora... Sim. Existe a preocupação de se utilizar padrões já desenvolvidos pelo jornal no site? Sim, alguma coisa em termos de forma, nem tanto na parte gráfica. Existem algumas palavras que nós usamos mais no Jornal da Tarde do que no Estadão, existem certas formas de grafar palavras que no Estadão é de um jeito, no JT é de outro. Então aqui eu procuro manter essas regras. Por exemplo, se você tem uma sigla de quatro letras que dá leitura, a gente coloca em caixa alta e baixa. No Estadão, não, tudo é colocado em caixa alta. Existem algumas diferenças que eu procuro manter aqui também. Quando eu elaborei a pergunta anterior tive em vista o fato de que prega-se que o uso de padrões de design já utilizados por outros meios pode facilitar a legibilidade dos sites para as pessoas que não estão familiarizadas com esta mídia. Um exemplo seria o uso de letra preta sobre fundo branco... Sim, entrando no mérito de cor por exemplo, temos que os sites que utilizam cores muito fortes têm que mudar freqüentemente as cores porque podem enjoar os visitantes. Usando preto sobre branco há mesmo uma legibilidade melhor, você enxerga melhor. Vocês têm controle de visitação das páginas? Sim, quem controla isso é a Agência Estado. Há como saber a origem do visitante, de que país. Nós temos também o comportamento do usuário no período por dia, por hora e por semana. Por exemplo, no fim de semana, esquece que ninguém entra. Quais setores do site são mais visitados? De editoria é a de esportes, a gente também tem um volume muito grande no Divirta-se. E menos? Economia, mas o que tem menos mesmo, são os colunistas em geral. 68 Vocês levam em consideração, na hora de construir o site, as variações possíveis de máquina do usuário e de browsers? Nós temos que levar em conta sim, inclusive nós testamos as páginas em vários browsers, para vermos se funciona tudo direitinho. Há coisas que funcionam no Netscape que não funcionam no Explorer e vice versa. Então, nós temos que criar uma linha que seja comum a aos browsers para que todas as pessoas possam enxergar o site da mesma forma. É meio complicado, mas eu acho que assim é melhor. Esse é um dos grandes dilemas para os designers de Web, porque ele não tem total controle total sobre o produto que ele constrói... Controle total ainda não dá. Nós costumávamos dizer: faz e entrega pra Deus. E existe restrição para recursos como Flash, Java Script e outros tipos de Plug-ins? Restrição propriamente, não. Nós evitamos utilizar ao máximo porque quanto mais coisa você coloca pendurada na página, mais pesada ela fica, mais difícil é para baixar. Então, na medida do possível nós não usamos. Nós temos usado alguma coisa de Flash, mas só para reproduzir as artes do jornal. Nós temos algumas idéias em animação em Flash, mas ainda não é concreto. Mesmo porque, eu não gosto de coisa piscando na tela, mas isso é uma coisa minha porque eu acredito que se aparecem muitas coisas mexendo na tela, isso pode atrapalhar a leitura. Quanto a horário do fechamento no jornal é por volta das 21:00 até 22:00, e o do site? Nós fixamos o nosso horário de fechamento até 2h para o pessoal da Microsoft, porque o JT entra com algumas matérias no portal da Microsoft. Mas, fora isso, nós começamos a fechar a nossa edição a partir das 21h, porque sabemos que a partir daí pouca coisa vai mudar no jornal. Geralmente, em torno de uma hora da manhã, o site já está no ar. O que JT Web tem de planos para o futuro? Eu não sei como vai ficar daqui para frente porque o Jornal da Tarde vai fazer parte de um portal que vai reunir todos os sites da casa. E a reprodução do produto impresso provavelmente vai ser uma partezinha deste portal, onde vão estar todos os serviços. Nós ainda não temos uma idéia precisa sobre como vai ficar o Jornal da Tarde nesse portal. Imagino que a edição de impresso vá ser automatizada. 69 Anexo 4: Entrevista com o editor assistente do JT Web, Roberto Romano Taddei, dia 2 de novembro de 1999. Na construção do site exitem referências em relação ao produto impresso? Nós tentamos evitar as referências porque a Internet é um meio novo e você tem que acostumar o leitor e ensiná-lo a navegar na Internet. Não adianta apresentar para ele algo que seja parecido com um jornal, se não ele nunca vai aprender a navegar na Internet. Essa foi sempre a briga do Jornal da Tarde: eliminar ao máximo a referência gráfica a um jornal impresso. Existem sites que colocam o desenho da página do jornal, daí você clica e vai para outra página. São as essas referências gráficas tradicionais que e nós evitamos. Em questão de texto vocês usam texto integral? É o texto integral mas eles vêm isolados e tem como fazer uma remissão exata para outro conteúdo, quando a matéria estiver chamando para um outro tema. O jornal tem informações que servem tanto pra jornal quanto pra TV quanto para o rádio a 70 diferença é que na TV e no rádio esse texto é lido, e por isso tem que ser um pouco diferente. A matéria prima é a mesma, mas o empacotamento é diferente. Para isso nós tentamos eliminar as principais referências gráficas ao jornal como, por exemplo, colunas. Mas certas referências não seriam necessárias para promover a identificação do site com o jornal? O nome do jornal tem que estar claro, e o logotipo do jornal, mas isso é uma questão de identidade com o leitor. Não é uma questão de referência ao jornal impresso. Outra diferença entre jornal e Internet é que o jornal você tem que virar página por página, e por isso que você acaba encontrando matérias que nem pensava em ler, mas pode se interessar e acabar lendo. Na Internet não existe isso, não se passa matéria por matéria até se chegar onde quer, na Internet você clica e você lê direto na tela. Um valor foi acrescentado ao design para Internet que é o tempo, ao passo em que o espaço era o valor principal para a diagramação em jornal. Se antes era necessário concentrar o máximo de informação em um mínimo de espaço, seria o tempo o responsável para que hoje isso ainda aconteça? Mas o limite de tempo na Internet não é comparado ao limite de espaço no jornal, porque o limite de espaço no jornal é muito rígido. O limite de tempo na Internet não é rígido. Se você colocar muitas fotos e animação, aí sim você estaria restringindo o acesso, agora só o texto não. Mas, neste caso a Internet tem outro limite que o jornal não sofre que seria a leitura do texto numa tela. Quando você pega um jornal você visualiza a matéria inteira, que é dividida em colunas. Mas na Internet você nunca tem a visão do todo, você tem que rolar a página. Acredito que o limite de tempo hoje pra Internet não restringe o conteúdo, mas as possibilidades que ela mesma criou em relação em imagem, e imagem em movimento. O que o JT Web tem de exclusivo em relação ao impresso questão de conteúdo? O Divirta-se e o Defenda-se Nestes produtos existem critérios diferentes de tratar o texto para web? No texto em si, não. O leitor gosta de ler o padrão clássico de lead e isso não muda. O site acumula conteúdo que o jornal joga fora todo o dia. O site do Defenda-se tem muito a ver com o conteúdo que o jornal joga fora. Todo dia sai matéria com problemas que o cidadão teve com bueiros, enchentes, vazamentos, camelôs, multas e o jornal todos os dias têm que escrever a mesma 71 coisa como: “como recorrer a multas” ou “como se livrar de enchentes” e isto gasta espaço e gasta dinheiro. O Defenda-se tem um grande banco de dados de como resolver problemas dos cidadãos e consumidores. Eu notei que no site do JT Web não há links em palavras no decorrer do texto, há links apenas em títulos. Como foi planejado esse padrão para o site? A palavra tem um problema: quando você se depara com um link no meio de um texto, ou você ignora o link e continua lendo a matéria, ou você clica no link e ignora a matéria. Então é uma estrutura completamente imbecil, porque ou o link é inútil ou a matéria é inútil. Se você sai enchendo o site de link nunca mais o visitante sabe de onde ele veio e pra onde ele vai. Então isso tem que ser padronizado. Os links, numa página, têm que estar sempre no mesmo lugar. Como foi pensada a arquitetura do site? Nós pensamos no seguinte: fazer um sistema de navegação através do qual o leitor pudesse ir para qualquer área do site estando em qualquer página, que isso não fosse pesado e nem que leitores com browsers antigos estivessem impedidos de navegar no site. i ii iii iv v vi vii viii ix x xi xii xiii xiv