Campanha combate transmissão congênita de aids e sífilis Quanto mais cedo é feito o diagnóstico, menor a chance de infecção do feto. Na próxima quarta-feira, comemora-se o Dia Mundial de Luta contra a Aids Desde que haja o diagnóstico precoce, os recursos do Sistema Único de Saúde (SUS) reduzem a quase zero o risco de que gestantes portadoras do vírus da aids (HIV) e da sífilis transmitam essas doenças ao filho durante a gravidez. Para conscientizar gestantes, gestores e profissionais de saúde sobre a importância da prevenção, do diagnóstico precoce e do tratamento, o Ministério da Saúde lançou este mês uma nova campanha de combate à transmissão vertical da sífilis e do HIV. Na próxima quarta-feira (01/12), comemora-se o Dia Mundial de Luta contra a Aids, que este ano tem como tema Mulheres, meninas, HIV e Aids e como slogan Mulheres: sua história é você quem faz. A programação reunirá várias atividades em todo o País. Um momento importante será um show e uma solenidade em Brasília. O evento deve contar com a presença de cerca de 2.500 pessoas e vai homenagear organizações não governamentais (ONG) e outras instituições que se destacaram no combate à aids entre a população feminina. Sobem ao palco, nessa ocasião, as cantoras Sandy, Margareth Menezes, Preta Gil e Elba Ramalho. Também no dia 1º, em Brasília, estudantes adolescentes visitarão o Congresso Nacional e todos os ministérios e tribunais para distribuir materiais informativos sobre a aids. Como parte da programação dos dias que antecedem à data de luta contra a Aids, o Ministério da Saúde divulgou uma pesquisa sobre atitudes e práticas sexuais da população brasileira de 15 a 54 anos. O estudo mostra que 89,5% dos brasileiros nessa faixa etária já tiveram relação sexual. A pesquisa revela que os homens fazem mais sexo do que as mulheres. Os dados apontam que 85,4% dos homens mantiveram relações sexuais em 2003. Entre as mulheres, esse índice cai para 77,7%. O estudo mostra que os homens também começam a vida sexual mais cedo e têm mais parceiros ou parceiras. A pesquisa traz outras informações importantes. Diz que quem vive sozinho tem 3,84 mais chances de usar preservativos do que quem tem companheiro. Alguns índices do estudo despertam o ânimo para o combate à aids. Noventa e quatro por cento da população sabem que o uso da camisinha é uma forma de prevenção. Apenas 1% acredita que a abstinência sexual seja a única maneira de se evitar a transmissão do HIV e 96% sabem que o vírus pode ser transmitido pela relação sexual. Spots – A campanha de prevenção da transmissão vertical da sífilis e do HIV tem custo de R$ 4 milhões, é composta de spots para rádio, um vídeo para televisão, cartazes e fôlderes e acontece até 15 de dezembro. Mas o governo quer que as ações sejam permanentes e que a campanha se renove ao longo dos próximos anos. No filme para a TV, um médico aconselha uma gestante a fazer o teste para saber se tem aids ou sífilis. O profissional de saúde explica à paciente que, em caso de diagnóstico positivo, é possível evitar a transmissão vertical. Nesse tipo de transmissão, a mãe infecta o filho durante a gravidez, pela placenta. No spot de rádio, o personagem é um garoto de 8 anos, identificado como André. Ele conta na peça publicitária que sua mãe foi diagnosticada com aids e sífilis. Graças ao tratamento, ele não contraiu as doenças e cresceu saudável. Tanto no rádio quanto na TV e nos cartazes, as mensagens para as gestantes reforçam o direito da futura mãe de exigir os testes de aids e HIV e, se necessário, o tratamento. A campanha chama a atenção dos profissionais de saúde e dos gestores de saúde (secretários estaduais e municipais de Saúde e coordenadores estaduais e municipais de DST/Aids, de Saúde da Mulher e de Saúde da Criança) para o seu papel no controle da epidemia de aids e sífilis. O profissional de saúde tem como responsabilidade oferecer os exames durante o pré-natal e incentivar as gestantes a buscar os resultados. Todas as peças da campanha reforçam a importância de que as gestantes façam o teste para diagnóstico da sífilis e do vírus HIV. O exame para detecção de aids e sífilis e o tratamento estão disponíveis gratuitamente no SUS. Com a campanha, o Ministério da Saúde espera reduzir a transmissão vertical do HIV a próximo de zero e eliminar a sífilis congênita até 2007. “A transmissão vertical da aids e da sífilis é um problema para a saúde mundial”, afirma o secretário de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, Jarbas Barbosa. “Se o bebê contrai essas doenças, poderá ter graves problemas de saúde”, alerta. Mobilização – O Sistema Único de Saúde atende cerca de 60% das gestantes infectadas pelo HIV. Segundo o diretor do Programa Nacional de DST/Aids do Ministério da Saúde, Pedro Chequer, o sistema dispõe de recursos para tratar 100% das gestantes infectadas. “Isso ainda não acontece porque esses recursos são utilizados inadequadamente”, critica Chequer. Segundo o diretor do Programa de DST/Aids, um dos objetivos da campanha é manter os gestores de saúde mobilizados para que se aumente a cobertura das ações de prevenção, diagnóstico e tratamento. “Um dos diferenciais dessa campanha é que ela não é apenas um projeto com data definida para acabar. Queremos ações continuadas e que se renovem ao longo dos próximos anos”, reforça Pedro Chequer. Nesse cenário, o diretor de DST/Aids considera essencial o papel da população, principalmente das gestantes, que devem exigir o direito de fazer o diagnóstico e de ter acesso ao tratamento. Se constatar que em sua cidade o serviço não está disponível, a gestante pode denunciar a irregularidade ao Ministério da Saúde, por meio do telefone do Disque-Saúde (0800-61-1997). O ministério quer priorizar a campanha nas regiões Norte e Nordeste, onde ainda há maior incidência de transmissão vertical do HIV. Em 1996, quando o SUS incorporou as técnicas para prevenção da transmissão da gestante para o bebê, a taxa de infecção era de 20% no Brasil. Hoje, essa taxa é de 3,7%. Na região Norte, a taxa de transmissão vertical é de 14% e no Nordeste, de 12%. “Precisamos levar as ações para o interior. Na região Norte, as medidas de prevenção, diagnóstico e tratamento concentram-se mais nas capitais”, explica Pedro Chequer. Para realizar essa interiorização, o Ministério da Saúde quer programar parcerias com as Forças Armadas, com o Conselho Nacional dos Secretários de Saúde (Conass) e com o Conselho Nacional dos Secretários Municipais de Saúde (Conasems). Sessenta mil gestantes têm sífilis A sífilis ataca quase quatro vezes mais as gestantes do que a infecção por HIV. As autoridades de saúde estimam que existam no Brasil em torno de 15 mil gestantes infectadas pelo vírus da aids e 60 mil com sífilis. Se a mãe não faz o tratamento contra a sífilis – à base de penicilina –, a doença pode provocar a morte do feto. A sífilis também pode causar parto prematuro. Mesmo que o bebê com sífilis nasça aparentemente saudável, tende a desenvolver no futuro problemas de saúde, como lesões na pele, problemas respiratórios, surdez e deformações ósseas. O tratamento deve envolver o parceiro da gestante, para que ambos se curem completamente. No caso da aids, se a mãe não faz o tratamento com os medicamentos antiretrovirais, o bebê pode nascer infectado pelo vírus. Quando a mãe descobre que é soropositiva, ela não pode amamentar o filho. Um terço das infecções acontecem por causa do aleitamento. O SUS garante gratuitamente a fórmula que substitui o leite materno.