Colonização e Dependência Mirian Cristina Lozano A leitura dos textos “Pele Negra, máscaras brancas”, de Frantz Fanon, de 1963; “Orientalismo: o Oriente como invenção do Ocidente”, de Edward Said, 1990; e “Sociologia Latinoamericana”, de Ruy Marini, fundamentou a discussão do Grupo de Estudos dos Clássicos das Ciências Sociais – GECCS, na questão da Colonização e Dependência, respectivamente, dos povos africanos e afrodescendentes, dos povos do Oriente Médio e de cultura islâmica e os povos colonizados da América Latina. A Invenção do Negro No texto “Pele Negra, máscaras brancas”, do autor Frantz Fanon, de 1963, apesar de discorrido o tempo, ainda tem uma discussão atual sobre o racismo contra negro. Ao criticar o pensamento de Octave Mannoni, psicanalista do século XX, Fanon levantou muitas questões acerca da ciência, permeada de valores da ideologia colonizadora. Ele analisa como o pensamento do psicanalista Mannoni foi influenciado pelo eurocentrismo. Por essa perspectiva, o psicanalista procurou explicar o racismo nos países colonizados por fatores comportamentais do povo africano, como se o complexo de inferioridade fosse um fator pré-existente ao negro colonizado, comparando-o ao negro colonizado pela França, que, segundo ele, era menos inferiorizado. De acordo com essa visão, alguns povos seriam mais dependentes e por sua vez precisariam do comando do colonizador. A Invenção do Oriente Ao passar ao texto de Edward Said, Orientalismo como invenção do Ocidente, que revisa os estudos produzidos no Ocidente, europeu, sobre o Oriente Médio, desloca-se para outra posição geográfica do mapa mundi em que a colonização resultou na invenção de uma Outra cultura colonizada, o Orientalismo . O autor chama de orientalistas os especialistas em Orientalismo que além de fundarem uma tradição acadêmica, difundiram uma doutrina política, numa perspectiva colonizadora e tendenciosa. A visão eurocêntrica, da superioridade européia, influenciou os estudos que fundaram a escola do Orientalismo, o estudo da civilização islâmica e cultura dos povos do Oriente Médio. Na perspectiva do colonizador, essa escola derivou outros estudos que foram cristalizando preconceitos como verdade científica, formando uma tradição acadêmica de orientalistas. Como aquilo que é conhecido por ciência é tido como verdade, Said mostra com muito primor de como a ciência pode ser inventada, repetida e declarada verdadeira, conforme os objetivos de quem a conduz. A Invenção do Incivilizado Ao ler o texto de Ruy Marini, a reflexão sobre colonização e dependência continua, porém o objeto de estudo passa a ser a América Latina, num contexto mais próximo. Nesse estudo o autor analisa a concepção da Sociologia e os reflexos desse pensamento na América Latina. Se a sociologia é a ciência que estuda as sociedades e os fenômenos sociais, a questão que o autor faz é, para qual tipo de sociedade ela foi criada? E com que intenção? Marini faz um resgate histórico-social do surgimento da Sociologia, em que no princípio tratavam –se de idéias de teoria social e economia política clássica, do século XVIII, mais tarde com o fortalecimento do capitalismo e do processo de industrialização, na Europa do século XIX aparece como ciência. Aluna do Curso de Licenciatura de Ciências Sociais EAD, da Universidade Metodista, matrícula: 197827, 6º período. Essa contextualização histórica feita por Ruy Marini desemboca no pensamento social da sociologia trazida à América Latina. A concepção dessa sociologia foi a mesma criada na Europa, pois não houve tempo para se construir idéias próprias, os países latino-americanos estavam sob o jugo da colonização, em que a influência da metrópole não era só econômica, também, cultural, social e ideológica: “Consumiam-se idéias da mesma maneira que tecidos, ferrovias e locomotivas”. (MARINI, texto traduzido por Luci Praun, p. 3), Com a leitura desses textos, foi possível refletir sobre a condição de dependência das sociedades colonizadas, espalhadas pelo mundo, tais como, África, Oriente Médio e América Latina, a nossa sociedade brasileira, compreendendo como se faz para inventar uma ideologia e uma imagem de superioridade, falsa. O que falta é desconstruir esse pensamento etnocêntrico das sociedades, que se esconde em preconceitos, reaparecendo, vez por outra, em discriminação racial, cultural, de gênero. Então, cabe aos cientistas sociais, os pesquisadores dar uma nova interpretação para nossa história, que ainda insiste em idéias velhas de inferioridade cultural que se transfiguram com nova roupagem. Universidade Metodista de São Paulo – Licenciatura em Ciências Sociais Página 2