¿POR QUÉ HABLAR ESPAÑOL? PERCEPÇÕES ACERCA DE UM PROJETO COM ALUNOS DE UMA ESCOLA PÚBLICA DE CUIABÁ GT 3 – EDUCAÇÃO E DIVERSIDADES CULTURAIS Alinee Silva dos Santos (PPGEL/UFMT) – [email protected] Resumo: Este trabalho tem como objetivo relatar impressões sobre as aulas de espanhol ministradas a alunos de 6º a 9º ano de uma escola municipal da cidade de Cuiabá, Mato Grosso, como parte das atividades do Projeto “Práticas de Letramento(s) – ações de extensão universitária em uma escola pública” do GELL – Grupo de Estudos Linguísticos e de Letramento. Este estudo, que se fundamenta nos pressupostos do letramento crítico (Freire, 1980, New London Group, 2011, entre outros) analisa o progresso no ensino-aprendizagem dos alunos desde o que se refere à assistência e interesse pela língua até a compreensão oral e escrita e expressão oral na língua alvo. Levando em conta o contexto social no qual os alunos estão inseridos, foram levantados alguns questionamentos com a intenção de justificar esse progresso, como: O que leva um aluno voluntariamente à escola no sábado pela manhã para aprender um idioma estrangeiro? Qual a motivação do aluno se notas ou reprovação não entram em questão? As respostas obtidas serviram como base para a elaboração das aulas do projeto e fomentou uma discussão acerca da ressignificação de aulas de língua estrangeira em escolas públicas. Palavras-chave: Língua Espanhola; ensino-aprendizagem de E/LE; Ensino Público. 1 Introdução Há alguns anos, incluiu-se no currículo brasileiro do Ensino Fundamental a língua espanhola como optativa. Essa inclusão decorre da lei 11.161/2005 que estabeleceu que todas as escolas públicas e privadas do Brasil deveriam oferecer, a partir do 6º ano, uma língua estrangeira moderna, sendo que uma dessas línguas poderia ser a língua espanhola, dependendo da escolha da instituição de ensino. Com isso, verificou-se uma preferência das comunidades escolares pela língua inglesa, o que gerou um desconhecimento dos alunos do ensino fundamental II em relação à língua espanhola. Ciente das relações fronteiriças do Brasil com comunidades de fala hispânica, viu-se a necessidade de fornecer um conhecimento básico de língua espanhola para alunos de uma escola pública de uma comunidade periférica de Cuiabá. Por esse motivo, o Grupo de Estudos Linguísticos e de Letramento – GELL, do PPGEL/UFMT, criou o projeto “Práticas de Letramento(s) – ações de extensão universitária em uma escola pública” com o objetivo de possibilitar que os estudantes tivessem acesso a uma língua que é falada na maioria dos países vizinhos ao seu. 2 Estrutura e dinâmica das aulas As aulas foram ministradas de agosto a novembro de 2014 para alunos de 6º a 9º ano da Escola Municipal Professor Ranulpho Paes de Barros, no bairro Jardim Santa Izabel, em Cuiabá, Mato Grosso. Inicialmente, estava prevista a divisão entre duas turmas de 12 alunos cada, porém vinte e oito alunos se inscreveram e 19 concluíram o curso e receberam a certificação. Quatro professoras formadas em Letras/Espanhol pela Universidade Federal de Mato Grosso foram as responsáveis pelos conteúdos dados e as aulas aconteciam todos os sábados, das 08hs às 11hs. No começo, as turmas foram divididas em duas: uma com os alunos que já tinham alguma noção de língua espanhola, nem que esse conhecimento fosse mínimo e adquirido com o ouvir músicas, e outra com alunos que não tinham nenhum conhecimento e nunca tinham tido contato com esse idioma. Faltando aproximadamente um mês para o término das aulas e com a desistência de alguns alunos, as turmas se uniram. O conteúdo das aulas se concentrou nos eixos compreensão oral e escrita e expressão oral, ou seja, os alunos foram capacitados a entender o que liam e ouviam e a expressar-se em espanhol. Conhecimentos como saudações e principais verbos de comunicação foram ensinados e vocabulário como frutas, lugares e objetos foram repassados para os cursistas com a intenção de fornecer a eles o necessário para uma comunicação básica na língua espanhola. Todo esse conhecimento e conteúdos foram passados de forma lúdica e da maneira mais dinâmica possível. Na aula sobre vocabulário de frutas, por exemplo, as professoras levaram para a aula vários tipos frutas e, enquanto mostravam os respectivos nomes em espanhol, os alunos iam preparando uma salada que seria degustada assim que a aula terminasse. Ademais, para fazê-los pensar criticamente no idioma aprendido, músicas com temas polêmicos como homossexualidade, aborto e violência foram ouvidas e discutidas. 3 ¿Por qué hablar español? Sedycias (2005) (SEDYCIAS, 2005, apud PINHEIRO, 2015) afirma que os motivos que mais influenciam os brasileiros ao estudo da língua espanhola são o enriquecimento profissional, o aprimoramento intelectual e pessoal; a importância internacional do idioma; a necessidade para o turismo; a familiaridade com a origem latina do idioma; o contato com a vasta literatura espanhola e hispano-americana; e a beleza e a melodia do idioma. Muitos desses fatores foram observados em conversas com os alunos que participaram do projeto. Já na primeira aula, foi perguntado aos estudantes o que eles esperavam do curso. Muitos disseram que esperavam aprender o básico de espanhol para uma posterior oportunidade de trabalho ou até mesmo para uma viagem de férias. Outras fizeram associações com cantores conhecidos e disseram que gostariam de ouvir as músicas do Rick Martin e da Shakira, por exemplo, sem precisar recorrer a uma ferramenta de tradução para entender as letras das canções. Um dos fatores positivos observados na aula foi o fato de que, com o tempo, os alunos começaram a pedir que as aulas fossem dadas totalmente em espanhol, pois queriam familiarizar-se com a fonética da língua. Essa postura foi uma surpresa para as professoras que constataram que os estudantes estavam realmente dispostos a entrar em contato com uma língua até então desconhecida, e mesmo os alunos mais tímidos, a partir da terceira aula já se mostraram mais desinibidos, fazendo perguntas e se voluntariando para traduzir oralmente textos que lhes foram passados. Alunos e professoras no último dia de aula. 4 Considerações finais e/ou conclusões Com este projeto, buscou-se proporcionar a alunos que não tinham contato frequente com a língua espanhola, ou até mesmo a alunos que ainda não tinham tido nenhuma proximidade com essa língua, um conhecimento básico que impedisse uma limitação muito grande de entendimento quando em um contexto de uso dessa língua estrangeira. A partir disso, percebeu-se que o espanhol, mesmo não sendo a principal língua estrangeira escolhida pela maioria das instituições de ensino, fomenta curiosidade e seu estudo é bem aceito pelos alunos. Inclusive estudantes com dificuldades de aprendizado, com conhecimento limitado das regras gramaticais da língua materna e oriundos de famílias fragilizadas com, até mesmo, parentes ou os próprios pais presos ou mortos como resultado da violência do local onde residem, dispuseram-se a aprender uma língua diferente em um sábado pela manhã e ainda aqueles que não dominavam as regras gramaticais reconheceram que o conhecimento delas facilitaria a aprendizagem da língua alvo. Outro fator positivo observado foi a estabilidade do número de estudantes e a não ocorrência de abandono em massa como havia sido previsto. Pensando nisso, percebe-se a necessidade de um ensino de língua espanhola mais dinâmico por parte dos professores e mais autônomo por parte dos estudantes, uma vez comprovado o sucesso e a aceitação que se tem quando o professor considera o conhecimento prévio do aluno. Além disso, faz com que ele se expresse e exponha seu ponto de vista sobre temas polêmicos, inclusive em um idioma que não domina, de forma não canônica, incluindo o aluno em um contexto de utilização quase real da língua. A partir dessas constatações, espera-se que pesquisas posteriores se proponham a entender e questionar mais profundamente os motivos que levam um aluno voluntariamente à escola no sábado pela manhã para aprender um idioma estrangeiro e qual a motivação dele se notas ou reprovação não entram em questão. Ou até mesmo como o aluno reage a uma proposta de aprendizagem diferente a da que ele está acostumado em sala de aula e qual a posição desse aluno frente a um tema que o faça refletir e não somente aprender regras. Referências MATO GROSSO/SEDUC. Orientações Curriculares para a Educação Básica do Estado de Mato Grosso: Área de Linguagens. Cuiabá: Superintendência de Educação Básica, 2010. PINHEIRO, Michelle Soares. Letramento Crítico: perspectivas do ensino-aprendizagem em língua espanhola pra idosos. INTERLETRAS, ISSN Nº 1807-1597. V. 3, Edição número 20, de Outubro, 2014/Março, 2015.