A REGIÃO NORDESTE Características gerais O Nordeste brasileiro compreende uma área de cerca de 1 560 000 km, o que equivale a 18,27% do território nacional. Podemos considerar Nordeste a área que vai da metade leste do Maranhão até o norte de Minas Gerais, incluindo Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Bahia. O Nordeste é algumas vezes considerado a "região problema" do Brasil. Quando se fala em miséria, pobreza e insuficiência alimentar, pensa-se logo nessa região. Esses problemas sociais são encontrados em todas as regiões brasileiras, mas no Nordeste eles são mais acentuados. Em geral o nível de vida da população nordestina é muito baixo. Existe uma classe dominante - uma pequena minoria da população - que concentra em suas mãos grande parte das riquezas regionais. Isso explica por que, durante muito tempo, milhões de nordestinos migraram para as demais regiões brasileiras em busca de melhores condições de vida. Esse importante movimento migratório caracterizou o Nordeste como o grande fornecedor de mão-de-obra barata para o Centro-Sul e a Amazônia até a década de 1980. Entretanto, o desempenho da economia do Nordeste melhorou muito na década de 1990, graças à continuidade de crescimento e à diversificação dos setores secundário e terciário. Os setores industrial e de prestação de serviços, liderados respectivamente pela construção civil e pela telefonia, são os responsáveis pelo atual dinamismo da economia do Nordeste. Podemos afirmar que a modernização tende a se consolidar na região. Por outro lado, os seus indicadores sociais, a exemplo das taxas de analfabetismo e de mortalidade infantil, continuam sendo os piores do Brasil. O Nordeste não é uma região homogênea. Existem áreas mais industrializadas, outras com agricultura moderna e outras ainda com agropecuária tradicional e pouquíssimo desenvolvimento. Costuma-se dividir o Nordeste brasileiro em quatro principais sub-regiões: Zona da Mata, Sertão, Agreste e Meio-Norte. Zona da Mata É a principal sub-região nordestina, a mais povoada, a mais industrializada e a mais urbanizada. Compreende a área litorânea que vai do Rio Grande do Norte até a Bahia. Na direção leste-oeste a Zona da Mata é uma estreita faixa de terras que vai do litoral oriental até o planalto da Borborema. O clima nessa área é tropical úmido, com temperaturas médias mensais elevadas e chuvas abundantes, concentradas no outono-inverno (de março a junho). A vegetação original era a mata Atlântica, que já foi quase completamente destruída. Durante os primeiros séculos de colonização, essa foi a principal região econômica, a mais densamente povoada do país e a mais valorizada pelos colonizadores. Hoje a maioria da população nordestina encontra-se na Zona da Mata, que apresenta elevadas densidades demográficas. Aí também estão as principais metrópoles do Nordeste: Recife e Salvador. Apesar de ser a mais rica das sub-regiões do Nordeste, a Zona da Mata abriga os maiores problemas sociais da região. Provavelmente, por ser a sub-região mais povoada e com os maiores centros urbanos. Nas grandes cidades são comuns as habitações precárias, como favelas, mocambos, cortiços e moradias antigas e em ruína. É muito grande o número de subempregados e de mendigos nas ruas. No meio rural os salários são baixíssimos,muitas vezes inferiores ao mínimo. Além disso, o trabalho no campo é extremamente cansativo e prolongado. Pode-se dividir a Zona da Mata nordestina em três partes distintas: Zona da Mata açucareira. É a área que vai do Rio Grande do Norte até a parte norte da Bahia.Aí predominam as grandes propriedades agrícolas - os latifúndios -, que normalmente praticam a monocultura açucareira. O cultivo da cana-de-açúcar, voltado para a fabricação do açúcar para exportação, é praticado nessa área desde a época colonial. A monocultura açucareira da Zona da Mata, que atingiu o apogeu do século XVI ao XVIII, entrou em decadência no século XIX. Isso se deve à grande produção de açúcar em outras partes do país, especialmente em São Paulo, e também à grande oferta do produto no mercado internacional. Recôncavo Baiano. Área situada ao redor da cidade de Salvador, que se destaca pela extração do petróleo e pelas indústrias, especialmente as petroquímicas. O Recôncavo Baiano já chegou a produzir cerca de 80% do petróleo nacional. Ocorreu nessa área uma razoável industrialização nos anos 1970 e 1980, com indústrias petroquímicas, mecânicas e químicas. Em 2000 iniciou-se no município de Camaçari a instalação da indústria automobilística. Hoje o Recôncavo é a principal área industrial do Nordeste. Sul da Bahia ou Zona do Cacau. Área com centro nas cidades de Ilhéus e Itabuna. O sul da Bahia é voltado essencialmente para o cultivo do cacau, importante produto de exportação. Essa planta, originária da floresta Amazônica, se desenvolve melhor à sombra de outras árvores maiores. Essa área já foi bem mais rica no passado, mas sofreu um esvaziamento econômico nas últimas décadas devido à queda do preço internacional do cacau. Sertão É a maior das sub-regiões nordestinas, abrangendo mais da metade da área total do Nordeste. Corresponde às terras interioranas, de clima sem i-árido e vegetação de caatinga. As menores densidades demográficas do Nordeste são encontradas no Sertão. Aí também se desenvolvem atividades econômicas tradicionais, como a pecuária extensiva de corte, a principal delas. O que mais caracteriza o sertão nordestino é o clima semi-árido - um clima tropical, com temperaturas médias mensais elevadas e baixos índices pluviométricos: de 300 a 500 mm por ano. As chuvas concentram-se durante dois ou três meses do ano. Há anos em que quase não chove, e às vezes durante anos seguidos chove pouquíssimo. São as periódicas secas, fenômeno climático pelo qual o sertão nordestino é mais conhecido. A vegetação típica dessa sub-região é a caatinga. Ela constitui-se de mata esparsa, adaptada ao regime de semiaridez. É uma vegetação complexa e heterogênea, que consegue sobreviver em solos normalmente rasos e arenosos. Na caatinga predominam as plantas adaptadas à falta de água. As raízes são longas e permitem às plantas buscar água no subsolo. As folhas pequenas, às vezes transformadas em espinhos, evitam grande perda de água por evaporação. De acordo com a estação do ano, a caatinga exibe duas paisagens bem distintas: um aspecto verde e exuberante no curto período de chuvas, e outro acinzentado, com plantas sem folhas e aparentemente mortas na época seca. Existem aí desde árvores, como juazeiro e imbuzeiro, até cactáceas, como xiquexique e mandacaru, além de ervas ou plantas rasteiras, como caroá ou gravatá. Os rios do sertão nordestino são em geral intermitentes, isto é, secam completamente durante alguns meses do ano. A grande exceção é o São Francisco, que corre continuamente, mesmo nos períodos de seca prolongada. A construção de açudes ou represas em alguns rios intermitentes tenta regularizar esses cursos fluviais, tornandoos permanentes. Como exemplo, podemos citar o açude de Orós, o maior do Nordeste, construído no rio Jaguaribe, no Ceará. Mesmo em épocas de seca, as águas do Orós alimentam o Jaguaribe, que nunca deixa de correr. No interior do Sertão encontram-se alguns locais mais úmidos, em encostas de serras ou em vales fluviais. São os chamados brejos, que constituem as principais áreas agrícolas dessa sub-região. Nos brejos cultivam-se milho, feijão e cana-de-açúcar. Em algumas áreas, como no vale do Cariri (Ceará), cultiva-se o algodão de fibra longa, de alta qualidade, chamado seridó. A cidade de Fortaleza, terceira metrópole regional do Nordeste, teve um rápido e recente desenvolvimento, constituindo o centro urbano polarizador de grande parte dessa sub-região. Ela recebe um número enorme de migrantes vindos do Sertão. - As secas As secas constituem provavelmente o fenômeno que mais tem caracterizado o Nordeste em filmes, romances, canções, noticiários de imprensa. É comum ouvir dizer que as secas constituem a principal causa do subdesenvolvimento nordestino, ou ainda que elas são a grande razão da migração de pessoas dessa região para São Paulo ou Rio de Janeiro. Nada disso é verdadeiro. Com ou sem secas o Nordeste continuaria sendo a região mais pobre do país, pois essa pobreza tem causas históricas, e não climáticas ou naturais. Ela se deve à decadência das atividades tradicionais da região, como a agroindústria açucareira e o cultivo de algodão, paralelamente à industrialização do Centro-Sul do país. Além disso, as secas ocorrem somente no Sertão, onde vive uma pequena parcela da população nordestina. Na área mais povoada e onde se situam as principais metrópoles - a Zona da Mata -, não ocorrem secas. Ao contrário, em certas ocasiões, os índices de pluviosidade chegam a ser bastante elevados, com enchentes periódicas em Recife, Maceió e outras importantes cidades da região. A maioria dos nordestinos que sai de sua região para as metrópoles do Centro-Sul não é do Sertão, e sim da Zona da Mata. Portanto, o verdadeiro motivo dessa migração não é a seca, mas a distribuição das terras. Há uma extrema concentração das propriedades agrárias no Nordeste, ou seja, um pequeno número de grandes proprietários possui considerável parcela dos solos bons para a agricultura. É por não terem terras para trabalhar que os nordestinos deixam a sua região. Sendo um fenômeno natural, a seca é uma justificativa bem mais simples e cômoda para a pobreza nordestina do que as razões sociais, como a existência de grandes propriedades ao lado de milhões de agricultores sem terra. A classe dominante local, que evita mostrar a concentração da propriedade e da renda, culpa a seca pela precária condição de vida da maioria dos nordestinos. Com a intensa divulgação dos efeitos dramáticos da seca pelos meios de comunicação, certos grupos dominantes no Nordeste - políticos, fazendeiros e empresários - acabam conseguindo verbas e auxílio do governo. No entanto, eles utilizam esses recursos muito mais para servir a seus interesses particulares do que à população pobre que sofre com a falta de água, os chamados flagelados da seca. Por exemplo, aproveitando-se da seca, muitos empresários nordestinos deixam de pagar suas dívidas bancárias ou contraem novos empréstimos sob condições especiais. Alguns fazendeiros constroem com dinheiro público açudes e estradas em suas terras particulares. São formas de tirar proveito das secas. É o que se chama "indústria da seca", que apenas beneficia os poderosos, sem contribuir para resolver os terríveis problemas da população pobre. - Nem só a natureza produz a seca As secas do Sertão também têm uma razão social. Desde a época colonial existem secas periódicas nessa subregião. Com o tempo elas se tornaram mais freqüentes e passaram a abranger uma área cada vez maior. Isso porque desde a época colonial a ocupação humana destruiu a vegetação. Os grandes desmatamentos nas bordas do Sertão contribuíram para ampliar a área de clima semi-árido. Desde o século XIX o governo brasileiro vem combatendo as secas de forma inadequada. Em lugar de cultivar plantas adaptadas ao clima semi-árido, de aproveitar a experiência prática do sertanejo, o governo usa seus recursos apenas para a construção de açudes. Devido à forte evaporação, a água dos açudes se torna cada vez mais carregada de sais minerais (que não evaporam). Ao passar para os solos, os sais acabam piorando a sua qualidade para a agricultura. Além disso,como os açudes estão nas terras dos grandes proprietários locais, os "coronéis", acabam servindo aos interesses dos donos das terras, que utilizam a água em benefício próprio. Agreste O Agreste é uma faixa de terra bastante estreita na direção leste-oeste e alongada na direção norte-sul, situada entre o Sertão semi-árido (a oeste) e a Zona da Mata úmida (a leste). É uma área de transição entre essas duas subregiões. Seu clima não é tão seco quanto o do Sertão nem tão úmido quanto o da Zona da Mata. Normalmente chove menos na porção oeste do que na leste. Sua vegetação em alguns locais se assemelha à da mata Atlântica; em outros, à da caatinga. Na verdade o Agreste é uma área relativamente alta (500 a 800 m). Corresponde à região do planalto da Borborema, com altitudes mais elevadas que as demais sub-regiões do Nordeste. Constitui uma espécie de barreira para os ventos úmidos que vem do oceano Atlântico e perdem sua umidade nas chuvas freqüentes sobre a Zona da Mata e a porção leste do Agreste. Ao contrário das demais sub-regiões do Nordeste, onde predominam as grandes propriedades agrárias, no Agreste prevalecem as pequenas propriedades, os minifúndios. Aí a atividade econômica mais importante é a agricultura, desenvolvida sob a forma de policultura (cultivo de vários produtos), aliada à pecuária leiteira semi-intensiva. Os principais cultivos do Agreste são: algodão, café e agave (planta da qual se extrai o sisal,fibra utilizada para fabricar tapetes, bolsas, cordas, etc.). Existem no Agreste centros urbanos com um intenso comércio, que constitui sua principal atividade econômica. São as chamadas capitais regionais do Agreste, entre as quais se destacam Campina Grande, na Paraíba; Feira de Santana, na Bahia; Caruaru e Garanhuns, em Pernambuco. Meio-Norte Como o próprio nome diz, constitui uma área de transição entre o Norte (Amazônia) e o Nordeste, especialmente o Sertão. Tradicionalmente todo o Maranhão e todo o Piauí são considerados Meio-Norte ou Nordeste ocidental. Mas na verdade somente uma área que vai da bacia do rio Grajaú, a oeste, até a bacia do rio Parnaíba, a leste, pode de fato ser considerada Meio-Norte ou área de transição entre o Sertão semi-árido e a Amazônia úmida. A parte ocidental do Maranhão é amazônica, com um clima mais úmido e matas equatoriais semelhantes à floresta Amazônica. E a maior parte do Piauí é sertaneja, com clima semi-árido e vegetação de caatingas. Portanto, a área situada entre o Sertão e a Amazônia é tão-somente uma faixa de terra que ocupa alguns vales fluviais: os rios Grajaú, Mearim e Itapecuru, no Maranhão; e o rio Parnaíba, que serve de divisa entre o Maranhão e o Piauí. Nessa faixa de terra encontra-se a mata de Cocais, paisagem típica do Meio-Norte. A zona dos Cocais é uma vegetação de transição entre a caatinga e a floresta Amazônica. É constituída por palmeiras, como a carnaúba e, principalmente, o babaçu. A economia dessa sub-região baseia-se no extrativismo vegetal e na agricultura. Do caule do babaçu se extrai o palmito e de suas sementes um óleo utilizado na fabricação de cosméticos e de aparelhos de alta precisão. Do caule da carnaúba retira-se uma cera e de seu caroço é extraído um óleo. Tanto a cera como o óleo da carnaúba são utilizados na fabricação de ceras, velas, lubrificantes, etc. A principal cidade dessa sub-região é São Luís,capital do Maranhão, com edifícios antigos que simbolizam um passado mais rico. O Meio-Norte teve o seu período de esplendor econômico no século XVIII e parte do século XIX,quando o cultivo e a exportação do algodão lhe renderam vultosos recursos financeiros. Desde os anos 1970, a agricultura tradicional do Meio-Norte, baseada em algodão, cana-de-açúcar e arroz, está se modificando muito. Na década de 1980 a soja se tornou o principal produto cultivado em Balsas, cidade localizada às margens do rio de mesmo nome em uma das "manchas" de cerrado localizadas no sul do Maranhão. A plantação de soja, introduzida nessa região por agricultores que emigraram do sul do Brasil,é mecanizada. Hoje,a maior parte da produção da soja é exportada pelo porto de São Luís.Os lucros proporcionados pela exportação atraíram um contingente ainda maior de emigrantes dos estados meridionais do país para a cidade de Balsas e arredores. ATIVIDADES 1. Explique porque o Nordeste é considerado a “região-problema” do Brasil. 2. Diferencie as quatro sub-regiões nordestinas. 3. Caracterize a Zona da Mata dos pontos de vista natural, humano e econômico. 4. Compare a Zona da Mata açucareira com o Recôncavo Baiano e o Sul da Bahia. 5. Caracterize o clima, a vegetação e a hidrografia do sertão nordestino.