CÂMARA DOS DEPUTADOS DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO NÚCLEO DE REDAÇÃO FINAL EM COMISSÕES TEXTO COM REDAÇÃO FINAL Versão para registro histórico Não passível de alteração COMISSÃO DE SEGURIDADE SOCIAL E FAMÍLIA EVENTO: Audiência Pública N°: 0339/12 DATA: 17/04/2012 INÍCIO: 14h44min TÉRMINO: 17h30min DURAÇÃO: 02h46min TEMPO DE GRAVAÇÃO: 02h46min PÁGINAS: 54 QUARTOS: 33 DEPOENTE/CONVIDADO - QUALIFICAÇÃO ROBERTO PORTO FONSECA - Presidente da Sociedade Brasileira de Cancerologia. LUIZ ANTONIO SANTINI - Diretor Geral do Instituto Nacional do Câncer – INCA. CLARICE ALEGRE PETRAMALE - Diretora da Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde. SUMÁRIO: Debate sobre as formas de câncer e seus tratamentos. OBSERVAÇÕES Houve exibição de imagens. Há oradores não identificados. Houve intervenção fora do microfone. Ininteligível. CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Seguridade Social e Família Número: 0339/12 COM REDAÇÃO FINAL 17/04/2012 O SR. PRESIDENTE (Deputado Saraiva Felipe) - Nós vamos iniciar a audiência pública. Havendo número regimental, declaro aberta a presente reunião. Informo aos Srs. Parlamentares que esta reunião está sendo transmitida ao vivo pela Internet no site da Câmara. Informo ainda que as imagens e o áudio estarão disponíveis para serem baixados na página desta Comissão logo após o encerramento dos trabalhos e que as fotos do evento serão disponibilizadas no banco de imagens da Agência Câmara na página Câmara. Nós teremos ainda flashes da TV Câmara desta audiência pública. Também informo que as filmagens da TV Câmara poderão ser solicitadas à Secretaria desta Comissão. Esta reunião de audiência pública foi convocada nos termos do requerimento de autoria dos Deputados Saraiva Felipe e Cida Borghetti e aprovado por esta Comissão para discutir as formas de câncer e seus tratamentos. Convido para compor a Mesa o Dr. Roberto Porto Fonseca, meu conterrâneo ilustre e Presidente da Sociedade Brasileira de Cancerologia; o amigo pessoal há mais de 30 anos, Dr. Luiz Antonio Santini, que tive a honra de nomear Diretor-Geral do Instituto Nacional do Câncer — INCA ao tempo em que fui Ministro da Saúde; a Dra. Clarice Alegre Petramale, Diretora da Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde. Comunico aos senhores membros desta Comissão que cada convidado terá o prazo de 15 minutos para fazer sua exposição, prorrogáveis a juízo desta Presidência, não podendo ser aparteados durante a apresentação. Os Deputados inscritos para interpelar os convidados poderão fazê-lo estritamente sobre o assunto da exposição pelo prazo de 3 minutos, tendo o interpelado igual tempo para responder, facultadas a réplica e a tréplica pelo mesmo prazo, não sendo permitido ao orador interpelar quaisquer dos presentes. Dando início aos trabalhos, passo a palavra ao Dr. Roberto Porto Fonseca, Presidente da Sociedade Brasileira de Cancerologia, a quem agradeço a presença e o pronto aceite do convite feito por esta Comissão de Seguridade Social e Família. O SR. ROBERTO PORTO FONSECA - Boa tarde a todos. Na pessoa do meu dileto amigo e conterrâneo, Deputado Saraiva Felipe, eu cumprimento todos os 1 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Seguridade Social e Família Número: 0339/12 COM REDAÇÃO FINAL 17/04/2012 senhores e, na pessoa da Dra. Clarice, todas as senhoras do recinto. Obrigado. Foi uma honra aceitar o convite, Deputado. (Segue-se exibição de imagens.) A questão do câncer, como todos os senhores sabem, é de extrema importância para qualquer sociedade. Aí estão os números sobre o problema do câncer no mundo. A partir de 2005, nós contávamos com 11 milhões de casos. A partir de 2020, nós já vamos ter uma soma altíssima: 16 milhões de casos no mundo, grande parte em nosso País, o Brasil. Infelizmente, 60% dos novos casos acontecem em países pouco desenvolvidos. Em 2005, nós tivemos 7,6 bilhões de mortes. Ou seja, 13% de todas as mortes no mundo se deveram ao câncer. Mais de 70% dessas mortes em países menos desenvolvidos. Hoje, é a segunda causa de morte em países desenvolvidos e em desenvolvimento. O envelhecimento da população — 1990, 2000 até 2005 — é seguramente o principal fator causal do crescimento absurdo da incidência dessa doença em nossa sociedade. Isso significa não somente a incidência de câncer como de gastos também, como vamos ver, em todos os processos crônicos e degenerativos que atingem a sociedade. Um cenário desfavorável. Como nós vimos, além do estilo de vida, o fato de a expectativa de vida se tornar maior tem levado a um aumento, tanto no homem quanto na mulher, da incidência de câncer. Porém, felizmente, concomitantemente, temos visto uma redução da mortalidade pela doença. Quais são as principais causas de redução da mortalidade por câncer, apesar do aumento da incidência? Seguramente, diagnóstico precoce e evidentemente também prevenção primária. Conhecedores que somos das causas que atingem o ser humano, levando ao aparecimento da doença, nós temos, ao combatê-las, uma redução de determinados tipos de tumores, como é o caso, por exemplo, do câncer de pulmão, a partir do momento em que a sociedade se conscientiza que não deve e não pode fumar. Independentemente também do diagnóstico precoce e da prevenção primária, há a inserção de novas tecnologias. Então, essas são as duas principais causas que têm trazido um cenário mais favorável em relação a essa questão grave e séria de aumento brutal da incidência dessa doença na população. 2 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Seguridade Social e Família Número: 0339/12 COM REDAÇÃO FINAL 17/04/2012 Apesar disso, infelizmente, o que se vê, do ponto de vista desfavorável, é o aumento de custo dos tratamentos, não necessariamente com agregação de benefícios para os pacientes. Cenário favorável em nosso País. Do ano de 2000 a 2009, temos investido cada vez mais, do nosso percentual de PIB, na saúde, porém, o nosso querido Brasil ainda está, em termos de investimento per capita, percentual de PIB, muito aquém daquilo que é investido em outros países. Como os senhores vão ver, investimento em saúde tem que ser feito. O Brasil precisa investir mais, porém, não necessariamente investir muito significa investir bem. O país que mais gasta per capita no mundo são os Estados Unidos, gasto muito superior ao que é gasto em outros locais. Desde 2010, Alemanha, Canadá e o Reino Unido têm investido menos. Curiosamente, apesar de investirem menos, a expectativa de vida do americano é inferior à expectativa de vida nesses outros países. Ou seja, o Brasil precisa gastar mais, pois está gastando pouco, mas não gastar tanto que comece a esbanjar como faz o americano, gastando mal. Quando nós dicotomizamos o custo de vida do americano nos últimos 50 anos, nós vemos que ele tem subido seguramente à custa de gasto com saúde. O americano gasta mal, a ponto de o atual Presidente estar sempre tentando promover uma mudança no sistema de saúde que aumente a inclusão. Cinquenta milhões de americanos não têm acesso à saúde adequada. O País mais rico do mundo! Aumenta a estabilidade do sistema, redução do custo, a ponto de dizer publicamente que ele é a favor de limitar pagamento de drogas e procedimentos caros, desde que com isso possa expandir o acesso à toda a população por meio de um sistema de cuidados básicos. É um problema sério em todo o mundo, porque sempre a inflação médica, como os senhores podem ver, é acima do custo do consumidor, ou seja, aumento da expectativa de vida, aumento de custos, inserção de novas tecnologias — algumas, como nós vamos ver, na área de câncer, importantes, e muitas, definitivamente, não trazem qualquer tipo de benefício, só aumento de custo e toxicidade para os pacientes. E o cenário para 2020 é esse: se hoje é a segunda causa de morte em nosso País, já em 2020 o câncer vai ser a principal causa de mortalidade. É um processo. Parabéns à Câmara por discutir um tema tão importante. 3 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Seguridade Social e Família Número: 0339/12 COM REDAÇÃO FINAL 17/04/2012 Rapidamente, vamos trazer para os senhores os resultados e recomendações da auditoria operacional feita pelo nosso Tribunal de Contas — fresco, Brasília, 2011 —, em que se avaliou a Política Nacional de Atenção à Saúde na Área de Oncologia. A primeira recomendação é que o Governo, a sociedade, buscasse desenvolver um plano para sanar de forma efetiva a insuficiência da estrutura da rede de atenção oncológica, que preveja a ampliação da oferta de serviços até a completa solução das carências existentes. Existem carências? Muitas. Esse plano — e isso é nosso — tem que contemplar primariamente o foco em prevenção primária e prevenção secundária. É aí que nós vamos conseguir, efetivamente, bons resultados finais, por meio de indicadores adequados, para os nossos pacientes. Nós podemos reduzir 30% da incidência de câncer através de prevenção primária e podemos reduzir mais 30% da mortalidade por intermédio do diagnóstico precoce, prevenção secundária. A questão do acesso é um dos grandes problemas neste País, particularmente para os nossos concidadãos que usam o Sistema Único de Saúde. Para os senhores terem uma ideia — aqui está um pouco apagado —, no Estado de São Paulo, o mais rico da nossa Federação, nós temos até 46 dias para que se inicie um tratamento de radioterapia. O INCA estabelece 70 dias. E a média no Brasil como um todo hoje é de 100 dias para que o paciente inicie um tratamento de radioterapia. Na oncologia, é um pouco menos. Os senhores vejam que os números são alarmantes, porque isso efetivamente altera as curvas de sobrevida para pior. Esses dados também são ruins, infelizmente, mas o importante é que, quando se avaliam as Autorizações de Procedimentos Ambulatoriais de Alto Custo — APACs no Brasil, vemos que 60% dos nossos pacientes, com o problema grave do acesso, são diagnosticados em uma fase tardia, estágios do câncer 3 e 4. A segunda recomendação do Tribunal de Contas da União, em um belíssimo relatório, é a adoção de medidas que assegurem a efetividade do Registro Hospitalar de Câncer, que contemple o cálculo e a divulgação de indicadores nacionais de tempestividade dos atendimentos. Adicionamos aqui: sempre focando em custo/efetividade, custo/utilidade e custo/benefício dos procedimentos. No Journal of the National Cancer Institute, de 1991 a 2002, avaliaram quanto custa um tratamento de câncer de pulmão. Nesse período, ele pulou de 7 mil dólares 4 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Seguridade Social e Família Número: 0339/12 COM REDAÇÃO FINAL 17/04/2012 per capita para 40 mil dólares, em 2002. Hoje está em torno de 80 mil dólares, sem, na nossa visão, agregação de benefício real para o paciente, porque a expectativa de vida em 5 anos do paciente que tenha câncer de pulmão praticamente não mudou nos últimos 40 anos. Ou seja, é a prevenção primária que pode alterar isso e não o aumento vertiginoso de custo, com atenção individual dos pacientes. Saúde não tem preço, mas tem custo. E é um ponto importante para nós, agentes de saúde, estarmos preocupados com isso. Caso contrário, nós não vamos ter quem pagar a conta. Uma terceira recomendação é o estabelecimento de mecanismos para discussão das condutas terapêuticas oncológicas mais adequadas para os nossos pacientes e que possibilitem a divulgação de diretrizes para os casos de câncer mais prevalentes. Nós precisamos estar sempre com medidas absolutamente transparentes que possam, por meio da utilização da ciência pura, efetivamente trazer aquilo que vai de maneira robusta beneficiar aquele ser humano que nós tratamos ou evidentemente aquele ser humano que precisa de nós e está gastando dinheiro da sociedade. Nós precisamos ter transparência para evitar qualquer tipo de manipulação de dados nos estudos científicos que nos permitam fazer uma decisão clínica adequada separando o bom do ruim, o útil do inútil, porque publicações há milhares, através da medicina baseada em evidências científicas. Disso é que nós precisamos. Nós não podemos aceitar nada que não seja ciência no sentido de benefício para o nosso paciente. Nós não podemos, quadro rápido, utilizar para câncer de pulmão quimioterapia com anticorpo monuclonal que tenha um dado estatisticamente significativo sem qualquer benefício real para os nossos pacientes. Nós não podemos utilizar anticorpos monuclonais ou outras drogas em que algum estudo dá algum tipo de benefício e outro estudo fase 3 não dá benefício nenhum. Isso é inaceitável. Só agrega custo sem benefício. Primum non nocere. Qualquer médico tem que ter isso entranhado no seu dia a dia em seu coração e sempre tomando muito cuidado. Esta é uma publicação do Diretor do NCI, Tito Fojo, mostrando algumas drogas novas com o seu custo e benefício marginal. 5 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Seguridade Social e Família Número: 0339/12 COM REDAÇÃO FINAL 17/04/2012 Outro problema grave que nós temos que combater é a questão da judicialização da medicina em nosso País. Se nós temos bons medicamentos, bons procedimentos, que eles sejam avaliados pelo Ministério e com a utilização de uma medicina baseada na boa evidência científica, incorporados no dia a dia para qualquer tipo de cidadão brasileiro. E, com isso, com o auxílio ao nosso Judiciário, porque ele não é culpado, nós vamos ter condições de oferecer o que há de melhor, com a redução de custo dos tratamentos. O Estado de Minas Gerais, recentemente, por meio do Governador Antonio Augusto Anastasia, firmou convênio com a Universidade Federal que vai fornecer para juízes de todo o Estado uma adequação técnica, para que eles possam julgar caso por caso, dentro daquilo que a medicina possa trazer de benefício. Finalmente, atualização periódica dos procedimentos custeados pelo SUS, com a incorporação de avanços observados na medicina validada pela comunidade científica. Isso é fundamental. Os procedimentos do SUS na área de oncologia, apesar de terem sido recentemente, eu diria nos últimos 12 ou 20 meses, reavaliados e terem sofrido algum tipo de incorporação, ainda existem drogas. Então, nós precisamos ter mais agilidade no Ministério no que diz respeito à incorporação de algumas drogas. Nem todas as drogas são ruins. Existem muitas drogas boas, o Imatinibe. Até 2000, enquanto oncologista, eu fazia muito pouco pelo meu paciente, infelizmente. Eu tenho pacientes que há 10 anos tomam um comprimido por dia, em remissão completa do tumor de estômago gastrointestinal. Até então era calor humano, carinho e amor. Uma avaliação de um plano de saúde em Belo Horizonte mostrou uma mediana de sobrevida de 2 anos para 3 anos e 4 meses, aumentando em quase 1 ano e meio a sobrevida de pacientes com câncer de mama, com câncer mais grave, que tem uma hiperexpressão de HER-2/neu, por meio de uma droga que precisa ser incorporada ao Sistema Único de Saúde. O futuro, na minha opinião, enquanto cancerologista, há 37 anos trabalhando na área, é muito promissor, porque nós, agentes de saúde, temos cada vez mais estado conscientes de que devemos analisar os resultados daquilo que fazemos por 6 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Seguridade Social e Família Número: 0339/12 COM REDAÇÃO FINAL 17/04/2012 meio de indicadores clínicos. Indicador clínico significa indicador que traga algum tipo de benefício para o ser humano que está sendo tratado. E divulgar. O Sistema Único de Saúde precisa, com esse montante enorme de dinheiro que gasta, começar a divulgar os resultados finais dos tratamentos feitos na área de saúde e também na área de saúde suplementar e sempre focando custo/benefício, custo/efetividade e custo/utilidade. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária — e aqui vai uma crítica construtiva — precisa definitivamente mudar a maneira como avalia a inserção de novas drogas em nosso País. Por quê? A partir do momento em que uma droga é utilizada, mesmo que ela não tenha real efeito benéfico, ela vai ser de qualquer forma utilizada por meio da judicialização. O futuro é promissor porque nós, oncologistas, sabemos hoje que não existe um câncer de mama. São várias doenças diferentes, e esse conhecimento da intimidade desses tumores tem nos permitido conhecer melhor a evolução natural da doença e os tratamentos que potencialmente podem trazer benefícios. Nós temos entrado na intimidade dos processos enzimáticos celulares, formação proteica e isso tem nos fornecido condição de conhecer melhor agentes que por meio de ações-alvo possam nos dar condições de bloquear o crescimento celular em várias fases. E é o que está acontecendo hoje em dia. Isso significativamente tem nos dado tranquilidade para escolher cada vez melhor os pacientes para quem vamos oferecer tratamento, benefícios com toxidade, benefícios sem toxidade e evitar ficar tratando pessoas que não vão ter benefício algum, o que também agrega custos sem benefícios. Finalmente, genoma humano, em 20, 30 anos, não sei, deverá nos fornecer dados reais de maneira preventiva primária, evitar que essa doença nos assole. Muito obrigado aos senhores. (Palmas.) O SR. PRESIDENTE (Deputado Saraiva Felipe) – Eu agradeço a brilhante apresentação ao Dr. Roberto Porto Fonseca, Presidente da Sociedade Brasileira de Cancerologia. Com muito prazer, acuso a presença da minha colega, a Deputada Carmen Zanotto, que dividiu conosco a convocação da presente audiência pública.` 7 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Seguridade Social e Família Número: 0339/12 COM REDAÇÃO FINAL 17/04/2012 Passo a palavra agora ao Dr. Luiz Antonio Santini, Diretor-Geral do Instituto Nacional do Câncer — INCA. O SR. LUIZ ANTONIO SANTINI - Boa tarde, Sras. e Srs. Deputados, eu quero agradecer ao Deputado Saraiva Felipe o convite para participar desta reunião da Comissão. Com o maior prazer o faço, na medida em que considero ser esta uma excelente oportunidade que a Câmara dos Deputados nos dá de trazer ao nosso País, às Sras. e aos Srs. Deputados uma discussão extremamente relevante, importante, como já foi demonstrado aqui pela apresentação do nosso colega, o Presidente da Sociedade Brasileira de Cancerologia, Roberto Porto Fonseca. Cumprimento, portanto, a todos e agradeço-lhes mais uma vez. (Segue-se exibição de imagens.) Certamente que alguns dos dados que nós vamos mostrar são semelhantes aos que foram apresentados pelo Dr. Roberto, e eu apenas vou procurar enfatizar alguns aspectos que, pelo tempo, ele não teve oportunidade de abordar, mas só quero para dar sequência ao raciocínio. Então, pelos dados que ele apresentou, por toda a discussão que nós faremos a seguir, nós podemos caracterizar hoje, muito claramente, o câncer como um problema de saúde pública. É um problema de saúde pública e, de certa forma, os especialistas da área de saúde pública só há muito pouco tempo começaram a se dar conta da relevância desse problema como um problema de saúde pública. Em geral, o câncer era visto como uma doença que atingia as camadas mais ricas da população, nos países mais ricos, ao passo que, na realidade, os dados já começavam a nos informar há alguns anos que essa doença vinha ganhando um espaço cada vez maior na incidência e na mortalidade da população do mundo todo, e também do nosso País. O câncer é uma neoplasia, o que significa uma multiplicação desordenada de células que invadem tecidos do organismo e podem se espalhar por outras áreas do organismo. O câncer se constitui num conjunto de mais de 200 doenças diferentes, que, portanto, exigem uma abordagem extremamente complexa e ampla para que possa ser encarado em todos os componentes da história natural da doença. O que aumenta o risco de câncer? O que aumenta o risco de câncer, basicamente, o principal fator de risco de câncer é o tabagismo, que está associado 8 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Seguridade Social e Família Número: 0339/12 COM REDAÇÃO FINAL 17/04/2012 não só ao câncer de pulmão, mas a vários outros tipos de câncer. Mas também a falta de atividade física, a dieta inadequada, a exposição a fatores de risco ambientais, até a própria exposição à luz solar excessivamente, com a possibilidade de ser um grave fator de risco do câncer de pele, e assim outros elementos, radiações, etc., de que nós vamos falar a seguir. Então, o que pode contribuir, portanto, são esses fatores, como alimentação, tabagismo e comportamentos. E o problema todo é que, além de tudo isso, os gastos são crescentes. O que nós temos observado é uma duplicação dos gastos, com um impacto pequeno na redução da mortalidade, e quase nenhum na redução da incidência. Então, existe alguma coisa errada. Ou que tipo de abordagem nós precisamos fazer, e quem são os atores envolvidos nesse processo, para que possamos enfrentar esse problema de uma forma diferente de uma visão exclusivamente médica? O câncer não é um problema exclusivamente médico, como nós podemos verificar com essas poucas informações até aqui. Uma das questões fundamentais é isto aqui: metade das crianças nascidas hoje, e isso foi em outubro de 2009, chegará aos 100 anos com qualidade de vida. A previsão pode não ser exatamente essa. Quer dizer, são indicadores, são projeções feitas a partir de informações estatísticas, mas, seguramente, se não é isso, é próximo disso. E o problema todo é que, também, além do câncer, várias outras doenças crônicas podem ter importância muito grande nessa população, que, segundo esse relatório do Banco Mundial, de abril de 2011, mostra o Brasil mais velho, mostrando que, em 2000, nós tínhamos aquela pirâmide, para 2040 a pirâmide modifica. Como pôde ser visto, em 2045, praticamente nós temos uma figura totalmente diferente, na qual a população de idades médias e superiores aumenta. Essa velocidade do crescimento no Brasil é uma coisa muito importante, porque ela foi maior do que nas outras sociedades do mundo. E isso tem uma importância fundamental para nós quando se trata de analisar expectativas e perspectivas do Sistema Único de Saúde. Enquanto a população acima de 65 anos da França levou mais de 100 anos para subir de 7% para 14%, isso ocorreu no Brasil em 20 anos. 9 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Seguridade Social e Família Número: 0339/12 COM REDAÇÃO FINAL 17/04/2012 Então, o impacto do envelhecimento da população no Brasil é completamente diferente do envelhecimento da população nos países europeus. Esse impacto, com o estatístico percentual e quantitativo, pelo tamanho da nossa população, tem um significado enorme em termos de peso econômico para a saúde no País. Com isso, os gastos em saúde provavelmente aumentarão ainda mais, porque os cuidados tendem a ser ampliados, há exigências da sociedade, compromissos do Governo, há cobertura universal. O Ministro Padilha tem insistido num número que eu acho muito importante. O Brasil é o único País do mundo com mais de 100 milhões de habitantes com sistema único universal. Isso é, do ponto de vista do impacto financeiro e do impacto das ações de saúde, uma questão que precisa ser muito bem examinada, entendida pela população, pelos políticos, pelos gestores, por todos nós, para podermos imaginar o que fazer. Como eu disse na pergunta inicial, esse problema é de todos. Hoje, estudos econômicos mostram que o câncer está entre os 15 principais motivos de gastos econômicos no mundo. O câncer é o principal fator de gastos, a chamada perda econômica no mundo. Quase 1 trilhão de dólares são gastos em geral com o câncer, acima de qualquer outra doença no mundo. No Brasil, nos últimos 10 anos, a evolução dos gastos, com a assistência de câncer no Brasil, aumentou, em 2002, de 750 milhões para quase 2 bilhões no ano de 2009, um crescimento de mais de 100%, 130%. E os principais fatores que projetam esse aumento de gasto é a atualização tecnológica, oferta de novos serviços, aumento dos custos de tratamento e aumento da proporção de idosos com câncer. Esses são dados extremamente importantes do ponto de vista da questão dos medicamentos e do curso desse problema nos últimos anos. No ano de 2006, 83% dos gastos do Instituto Nacional do Câncer eram com o conjunto total de medicamentos, 16% com uma droga específica, o Imatinibe, e 1% com o Retuximab. São drogas específicas para um tratamento específico. Não importa para o que é, o que quero mostrar é que em 2011, 5 anos depois, o gasto total aumentou para 78 milhões, sendo que o crescimento de gastos de novos medicamentos que não constavam ou praticamente eram irrelevantes nesse momento chegam a atingir mais de 30%. Essa é uma tendência que está 10 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Seguridade Social e Família Número: 0339/12 COM REDAÇÃO FINAL 17/04/2012 acontecendo e provavelmente irá continuar a acontecer em termos de incorporação de tecnologia. Em termos de custo isso é insuportável. Se não houver uma política, um tratamento específico para essa questão, o sistema de saúde não vai suportar o que está acontecendo com a incorporação atual e a expectativa de incorporação de novas drogas para o tratamento de câncer. Como o Dr. Roberto chamou a atenção — este gráfico é só para mostrar —, a maior parte desses gastos é realizada lá no final, onde está a última bolinha, onde está aquela setinha azul, com o paciente internado com tumores avançados, com poucas possibilidades reais, com vasta sobrevida e pouquíssima possibilidade de cura. Então, a maior parte dos gastos é feita nessa fase. Na verdade, isso demonstra a necessidade de outra abordagem muito mais ampla, muito mais complexa dessa questão. As alternativas. A redução do preço do remédio é fundamental. Isso se conseguiu com o Imatinibe, com uma negociação feita em 2010 e realizada a partir de 2011 com a compra centralizada e um redução de 50% no preço do medicamento. Isso é possível. Isso já foi conseguido. O Ministério da Saúde já fez essa negociação. Portanto, aquele cenário que mostrei anteriormente pode ser modificado com iniciativa política adequada para esse problema. Estes aqui são dados que o Roberto já mostrou muito bem sobre a incidência, especialmente da mortalidade maior nos países mais pobres. As possibilidades de intervenção. Na medida em que haja, como recomenda a Organização Mundial de Saúde, uma atuação forte na prevenção, a detecção precoce é fundamental para curar os casos curáveis. É fundamental garantir ao nosso País uma coisa muito importante, muitas vezes negligenciada em relação ao câncer, que é o acesso ao tratamento da dor. Infelizmente, ainda temos uma incidência de câncer avançado, diagnóstico tardio, mas essas pessoas precisam de tratamento. O tratamento da dor é fundamental, mas nem todos os pacientes, até pelo contrário, um percentual pequeno de pacientes ainda tem dificuldade de ter acesso esse tipo de tratamento. Uma questão fundamental é a gestão. Nesse sentido, vamos mostrar algumas medidas que têm sido realizadas. No Brasil, a incidência de câncer, a expectativa de novos casos é de mais 500 mil por ano, com 375 mil basicamente, se excluirmos os 11 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Seguridade Social e Família Número: 0339/12 COM REDAÇÃO FINAL 17/04/2012 casos de câncer de pele e não melanoma e com uma distribuição meio a meio entre homens e mulheres. O principal tumor no homem é o tumor de próstata, seguido do câncer de pulmão, colo retal, estômago e diversos outros tipos de câncer. Na verdade, para cada um desses tipos de câncer temos estratégias, temos abordagens distintas em termos de possibilidades em nível de prevenção, diagnóstico precoce e tratamento. Quando falei da gestão é porque cada tipo de câncer requer uma estratégia distinta no processo de gestão, mas uma das coisas fundamentais hoje em dia é que é necessário levar os conhecimentos sobre o câncer para os profissionais de saúde da ponta do sistema. Uma das razões da falha do diagnóstico precoce é a falta de conhecimento dos profissionais da ponta, dos profissionais de atenção básica sobre as possibilidades do diagnóstico precoce de câncer. A distribuição regional é importantíssima nesse sentido. Nos homens, a incidência do câncer, pela nossa estimativa, em todas as regiões do Brasil é a primeira causa, mas a distribuição de outros tipos de câncer pelas distintas regiões do País é diferente, mostrando que a estratégia, além de ser diferente para cada tipo, tem que ser adaptada também às condições regionais. Nas mulheres, o principal câncer é o câncer de mama, seguido do de colo do útero, câncer do colo retal, da tireoide. Recentemente, incluímos a tireoide nas estimativas. Esse era um tumor sobre o qual não tínhamos informação. Para nossa surpresa, ele passou a ser o quarto mais incidente entre as mulheres, o que significa a necessidade de se adotar estratégias adequadas voltadas para o diagnóstico e para o tratamento desses pacientes. Também a distribuição regional é bastante diferenciada, diversificada no Brasil. Mas eu quero chamar muito a atenção para o fato de que o câncer do colo do útero é o primeiro na Região Norte e o quarto na Região Sul. Isso reflete as ações de controle, as iniciativas que são realizadas para o controle do câncer e que têm tido resultado em algumas regiões, mas que em outras não têm tido o resultado adequado. Várias razões existem para isso, e podemos tratar disso em seguida. Esta é uma questão importante: causa de morte. O câncer já é a segunda causa de morte no País, seguido das doenças do aparelho circulatório. Mas, se essas forem separadas como cárdio e cerebrovasculares, o câncer já se torna a 12 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Seguridade Social e Família Número: 0339/12 COM REDAÇÃO FINAL 17/04/2012 primeira causa de morte. Então, esse é um problema que sublinha o que estávamos falando em termos de importância, sobre a necessidade de haver políticas nesse sentido. E os desafios que parecem simples, como diminuir a incidência e a mortalidade e melhorar a qualidade de vida — e é isso que nós temos de fazer —, na verdade, requerem um conjunto extremamente amplo e complexo de ações, organizações e recursos. O câncer tem cura? Isso já tem sido demonstrado. Muitos casos de câncer têm cura. Mas para tanto é importante ter informação adequada, programas de prevenção e detecção precoce, capacitação das pessoas, pesquisa, produção de conhecimento e ampla cobertura assistencial. Esse conjunto de ações são as de controle do câncer. É importante assinalar que, para que tudo isso aconteça, a complexidade e a exigência para o sistema é muito grande. Esse é um trabalho do CONSINCA. Aqui, nesse quadro, está o Dr. Roberto Porto Fonseca participando de uma reunião. O CONSINCA é o Conselho Consultivo do Instituto Nacional de Câncer, que participa, em apoio ao Ministério da Saúde, da elaboração das políticas de controle do câncer no País. Ao INCA compete assistir o Ministério da Saúde na formulação da Política Nacional de Controle de Câncer, prestar serviço, desenvolver pesquisas, treinar pessoal. O INCA tem uma atribuição nesse processo. A Política de Controle de Câncer é baseada nesse conjunto de ações de promoção, detecção, tratamento e cuidados paliativos e envolve todo esse conjunto de atividades que já mencionei. A questão fundamental são as políticas de promoção de saúde, hábitos saudáveis — e o País tem tido uma política forte nesse sentido —, alimentação e nutrição. Nós produzimos vários informes, pesquisas, a respeito desse tema, para ajudar a orientar não só a área técnica, acadêmica e científica, mas a população de uma maneira geral. A questão do tabagismo. O Brasil é um dos países com melhor resultado na política de redução da prevalência do tabagismo na população. Ainda recentemente, a pesquisa do VIGITEL mostrou que essa prevalência está em torno de 15%, o que identifica realmente um trabalho magnífico que foi feito ao longo dos últimos 20 anos, com grande esforço da sociedade, do Ministério da Saúde, dos diversos 13 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Seguridade Social e Família Número: 0339/12 COM REDAÇÃO FINAL 17/04/2012 órgãos e dos diversos Ministérios que compõem a CONIC, que é a Comissão Interinstitucional. Esse é um exemplo pioneiro do Brasil, que é o único país do mundo que tem uma comissão constituída por 16 Ministérios e todos os órgãos do Ministério da Saúde, que coordenam e articulam a Política Nacional de Controle do Tabaco. Por isso é que temos esses resultados. Essa a distribuição anterior ao VIGITEL. Esse é um trabalho feito com o apoio da Fundação Bloomberg e do IBGE e que mostra a distribuição da prevalência de tabagismo no Brasil no ano de 2008. E adianto que já temos resultados melhores do que esse. Mas esse aí é um relatório importante que foi apresentado mundialmente. Aqui vemos o quadro de uma pesquisa do VIGITEL apresentada recentemente e que mostra, por um lado, esse aspecto positivo da redução do tabagismo, e, por outro, aspectos preocupantes com relação à obesidade. Mas mostra um dado importante em relação ao que nós estávamos falando, do acesso aos exames de prevenção. Vejam que, 71% das mulheres, nessa faixa etária, tiveram acesso à mamografia, e 80%, nessa faixa etária, tiveram acesso à citologia oncótica, que é o papanicolau. Isso vem crescendo. Isso mostra uma política de acesso aos exames de prevenção e detecção precoce de câncer do colo do útero e da mama no País. Nós estamos ainda distantes do ideal, mas estamos no caminho de alcançar esse resultado. A política de detecção precoce, preconizada pelo INCA e realizada pelo Ministério, atinge mama, colo do útero, próstata, intestino, pele e boca. São proposições. Mas a política de rastreamento nós a fazemos apenas para mama e colo do útero. Na questão da mamografia, que é uma questão extremamente polêmica — eu tenho certeza de que perguntas vão surgir a respeito disso —, eu posso dizer que, além da cobertura, é necessário qualidade. Para isso, nós estamos implantando um programa de qualidade da mamografia, que é uma portaria que terminou de ser assinada recentemente pelo Ministro, no dia 27 de março, e que tem um significado histórico na qualidade da mamografia e no diagnóstico precoce do câncer de mama em nosso País. Informação é fundamental. Sem informação não se pode saber e fazer nada disso. Aqui, processo de informação é o que permite a educação, permite a 14 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Seguridade Social e Família Número: 0339/12 COM REDAÇÃO FINAL 17/04/2012 capacitação de pessoas. Isso é todo um material que o INCA, historicamente, vem produzindo, com o apoio e a cooperação de várias instituições nacionais e internacionais. Aqui, ações de comunicação, que fazem parte de todo o nosso processo. E aqui uma coisa muito importante: a Presidenta, no dia 22 de março de 2011, lançou um conjunto de ações estratégicas que evolvem o Programa Nacional de Controle do Câncer do Colo do Útero, o Programa Nacional de Controle do Câncer de Mama e ampliação e fortalecimento da rede oncológica. Esses três eixos do programa de fortalecimento do controle de câncer no País estão em desenvolvimento. E nós temos alcançado, seguramente, resultados previstos, pelo menos no tempo em que esse programa está sendo implementado. Esse programa se insere num plano de ações estratégicas e de enfrentamento das doenças crônicas não transmissíveis no Brasil para 2011-2022. É importante assinalar essas datas, porque, na verdade, como nós vimos aqui, doenças crônicas, câncer e outras doenças… É muito pouco provável que consigamos obter resultados a curto prazo. Então, é preciso que existam planos de médio e longo prazo. Mas, essencialmente, é preciso que haja ação e acompanhamento desses planos. Uma questão importante dentro desses planos é a expansão da assistência oncológica no País. Aí nós temos um problema muito sério, que é o déficit de radioterapia. Hoje no País nós temos uma cobertura baixa de radioterapia — em torno de 62% — em termos populacionais, o que significa dificuldade de acesso para parte imensa da população. E, quando se tem acesso, há um enorme retardo em relação ao tempo necessário para se fazer a terapia adequada, junto com a radioterapia. Então, esse é um tema fundamental. O Governo tem tratado disso. Muito brevemente teremos uma apresentação de um projeto de expansão da radioterapia no País. Esse projeto de expansão prevê, basicamente, a estruturação de 80 novos serviços até o ano de 2015. Outro componente fundamental de todo esse processo é o desenvolvimento de conhecimento, é pesquisa científica. O País está preparado e está se preparando para desenvolver pesquisas científicas, organizando a Rede Nacional de Pesquisa Clínica, a Rede Nacional de Desenvolvimento de Fármacos, parcerias com diversas 15 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Seguridade Social e Família Número: 0339/12 COM REDAÇÃO FINAL 17/04/2012 agências de fomento e incentivo a grupos emergentes de cooperação no Brasil e também na América Latina. Sr. Presidente, esta é uma questão política muito importante no País, o desabastecimento de medicamentos oncológicos — não o acesso a novos medicamentos, mas o desabastecimento de medicamentos tradicionais. Houve uma forte discussão no CONSINCA que mostrou a existência de uma série de medicamentos que ainda são importantes para o tratamento de paciente e que estão sofrendo relativo desabastecimento, ora regionalmente, ora por tipo de produto. Precisamos dar um tratamento adequado a isso. Esse desabastecimento implica, como eu disse, o atraso do tratamento ou a falta de acesso. E isso leva a mais um problema adicional para o paciente, que poderia ter efeitos com tratamento adequado e acaba perdendo a oportunidade. Esse problema é tão sério que o próprio Presidente dos Estados Unidos publicou recentemente um decreto direcionado ao FDA para ações de prevenção e redução dos casos de desabastecimento de medicamentos, protegendo os consumidores, evitando manipulação de preços. Há uma comissão que trabalha permanentemente sobre esse assunto no Congresso dos Estados porque este realmente é um tema crítico. As principais causas identificadas que justificam essa privação é a falta de interesse da indústria na manutenção e comercialização pela perda da patente, com a redução subsequente do preço da comercialização e, eventualmente, com o baixo consumo, porque as aplicações são feitas por um número pequeno de pessoas. Algumas vezes, há falta de matéria-prima, problemas com a comercialização, redução da produção e/ou aumento da demanda, estoques insuficientes para a adequada distribuição e dificuldades apresentadas pela legislação relacionada. Esses são especialmente assuntos ligados à área da vigilância sanitária, da própria legislação geral sobre medicamentos no País. Esse aí é um relatório produzido por esse grupo de trabalho do CONSINCA. Trata-se de uma série de ações que podem ser feitas. E acho — o Deputado me permita — que esse é um tema que talvez interesse muito especialmente à Comissão. 16 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Seguridade Social e Família Número: 0339/12 COM REDAÇÃO FINAL 17/04/2012 Concluindo, o INCA — Instituto Nacional do Câncer, que tenho a honra de dirigir, é uma instituição com 75 anos de existência ininterrupta, permanente, e que vem crescendo, produzindo conhecimentos, desenvolvendo, formando recursos humanos e apoiando o Ministério da Saúde. Este ano completamos 75 anos. Com muito orgulho, essa instituição vem contribuindo e pretende continuar contribuindo com a saúde pública do nosso País. Para isso precisamos de um novo modelo jurídico. Somos uma instituição da administração pública direta e sofremos hoje porque temos um modelo de gestão anacrônico em relação às demandas que temos que desenvolver. Esse anacronismo precisa ser resolvido. Estamos trabalhando com o Ministério da Saúde com vistas à proposição de um novo modelo jurídico para a instituição, para que possamos prosseguir com a excelência do nosso trabalho, mantendo o INCA na esfera pública e sustentando a eficácia adquirida pela instituição. Também temos o projeto do novo campus da instituição. O crescimento do INCA foi em virtude das demandas apresentadas; hoje, temos 18 endereços, 5 unidades existenciais, 1 centro de transplante de medula óssea, tudo isso distribuído pela cidade do Rio de Janeiro. Necessitamos de um campus integrado. Esse é um projeto que já está concluído; já foi apresentado, e está em fase de abertura de licitação. Desculpe-me por ter me estendido, mas a ideia era apresentar o melhor Muito obrigado. (Palmas.) O SR. PRESIDENTE (Deputado Saraiva Felipe) - Agradecemos ao Dr. Luiz Antonio Santini Rodrigues da Silva, Diretor-Geral do Instituto Nacional do Câncer — INCA, pela brilhante apresentação. Quero registrar aqui a justificativa da Deputada Cida Borghetti, também uma das coautoras do pedido para que nós realizássemos esta audiência pública. Ao mesmo tempo, saudamos, aqui, a presença do Deputado Geraldo Resende, como já disse, da Deputada Carmen Zanotto, do Deputado Alexandre Roso. Nós contávamos até há pouco com a presença do Vice-Presidente desta Comissão, Deputado Antonio Brito. 17 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Seguridade Social e Família Número: 0339/12 COM REDAÇÃO FINAL 17/04/2012 Concedo a palavra à Dra. Clarice Alegre Petramale, Diretora da Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS, da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos, do Ministério da Saúde. A SRA. CLARICE ALEGRE PETRAMALE - Obrigada pelo convite. Estou de novo, nesta Casa, explicando que essa nova Comissão trabalha um assunto fundamental no SUS: como atualizar, avaliar a grande quantidade, oferta de demanda tecnológica existente na saúde e como escolher o melhor, o mais adequado, o mais apropriado para ser incorporado ao SUS. Sou médica sanitarista, especializada em infectologia. Não conheço muito a respeito de câncer. Nunca tratei de pacientes que tenham câncer, embora estude o câncer do ponto de vista teórico. Mas hoje aproveito para dizer que nós vemos o processo de regulação fundamental para que o SUS evolua, cresça com sustentabilidade, segurança, responsabilidade. Para tanto temos de fazer esse diálogo com a sociedade, pacientes, médicos, produtores, com todo aparato que envolve saúde neste País. Então, digo a vocês que graças a um esforço supercompetente do grupo do Ministério da Saúde, da Casa, da área do Poder Legislativo, nós conseguimos, no ano passado, algo inédito, do meu pronto de vista — eu que sou uma antiga sanitarista dos tempos heróicos do começo do SUS —, que foi preencher uma lacuna de marco legal. Aliás, eu já tinha perdido — juro! — a esperança de se preencher essa brecha. Há vinte e tantos anos aguardamos alguma regulamentação, que nunca houve. Uma delas é sobre tecnologia. Como incorporar tecnologia em um sistema que evolui e deve servir ao Brasil, não no ano de 1988, mas em todos os anos, dali para frente, evoluindo com a ciência, com o mundo, que evolui? Então, isso me surpreendeu bastante. Eu apostava, no começo, que não haveria esse desenvolvimento que houve. Conseguimos, no ano passado, em 2011, aprovar a Lei nº 12.401, e que em abril ela fosse publicada, assinada pela nossa Presidenta. Conseguimos, no final do ano, o Decreto nº 7.646, que regulamenta como essa Comissão de Avaliação de Tecnologia em Saúde vai se comportar. Sem marco legal, nessa área que envolve interesses vultosos de grupos importantes e poderosos, não temos a menor condição de atuar. Tivemos uma experiência 18 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Seguridade Social e Família Número: 0339/12 COM REDAÇÃO FINAL 17/04/2012 pregressa — o Ministério da Saúde teve —, com a Comissão de Incorporação de Tecnologias — CITEC, mas sem o apoio, sem o embasamento desse marco legal. Sabemos que o poder que essa Comissão tinha era muito restrito a uma recomendação, talvez do Ministério. Mas não tinha nada que tivesse a força necessária para alavancar a modernidade no SUS, com base nos critérios que gostaríamos de ter em um país de Primeiro Mundo, a que, aliás, estamos chegando cada vez mais próximos de ser. Então, avaliar a eficácia e a segurança comparadas aos tratamentos já existentes no SUS é fundamental. Tudo o que vocês vão ver em relação à eficácia e segurança de um novo produto registrado na ANVISA — o meu colega sabe bem disso, e a gente trabalhou muito tempo junto — é baseado nos estudos que a empresa faz de um determinado produto, mas que raramente é comparado ao melhor tratamento disponível no País ou no SUS; é sempre contraplacebo, é sempre contra, ou, às vezes, um comparador não tão bom. A ideia inicial é ter alguma segurança, alguma certeza, ainda que frágil, de que esse medicamento poderia ser usado na população e que ele teria o mínimo de segurança. Mas o que se quer quando se incorpora um medicamento no Sistema Único tipo num país do tamanho do Brasil, com quase 200 milhões de habitantes? Nós temos que ter um pouco mais de certezas para entrar nessa aventura, porque não basta ter dinheiro para comprar o medicamento; é preciso ter toda uma logística — aqui vocês não expuseram tanto isso porque o tempo é curto, claro. Mas tecnologia de ponta exige infraestrutura tecnológica pesada, exames tecnológicos, testes genéticos, etc. E isso mostra que, muitas vezes, os impedimentos para um determinado país incorporar uma determinada tecnologia têm mais a ver com o estágio tecnológico em que o país se encontra, em termos de infraestrutura, enfim, com a base mesmo tecnológica para se assentar o uso desse novo medicamento, do que basicamente o custo que essa tecnologia teria, que também é um impeditivo, muitas vezes, mas que não é o único obstáculo. Quanto a esse se poderia negociar, trabalhar com limites, com as empresas, em cima de uma grande quantidade de pacientes que nós temos. Mas o déficit tecnológico é intransponível, pelo menos no momento, agora. E nós temos que ter a ideia de que ele tem que ser transposto com um programa e evolução do conhecimento neste País. 19 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Seguridade Social e Família Número: 0339/12 COM REDAÇÃO FINAL 17/04/2012 Então, quais são as características que essa Comissão agora tem? E o que muda com a nova lei? O que muda é que há um caminho, um processo, um rito processual claro e determinado por lei, que mostra como qualquer uma das empresas deste País, ou a sociedade médica deste País, ou a sociedade de pacientes, ou um cidadão, pode pedir, fazer uma submissão à CONITEC de uma incorporação que se julgue seja feita. Então, esse processo existe, tem começo, meio e fim. Existe o fator tempo; vai-se observar o máximo para essa avaliação, mas não vai ficar uma coisa a perder de vista. A lei diz “180 dias para análise das evidências”, para se fazer uma análise global de todas as evidências — não só aquelas que os fabricantes produziram no momento de registrar o produto, mas também as evidências que os grupos independentes depois obtêm. Com isso, a gente teria condições de levar uma matéria ao plenário, que é um plenário composto por 13 representantes da sociedade, pelo Conselho Federal de Medicina, Conselho Nacional de Saúde, CONASS, CONASEMS, grupos das Secretarias do Ministério da Saúde, ANVISA, ANS. Todos esses representantes vão poder deliberar, votar se acham que essa tecnologia deverá ser incorporada ou que não deverá ser incorporada neste momento. E digo neste momento porque a ciência da saúde é uma ciência das verdades transitórias. O que sabemos hoje, o que eu aprendi com a minha Medicina sobre doenças reumáticas, isso já mudou tudo. Então, realmente é preciso evoluir conforme os passos da ciência. Mas isso não quer dizer que, quanto a algo negado hoje ou deliberado negativamente hoje, não possam aparecer novos estudos que venham fortalecer essa posição de incorporação no futuro. A vantagem da Comissão, eu entendo, é conseguir ver sistemicamente as condições necessárias, para que depois a oferta realmente seja feita. No passado, tivemos uma experiência com a SITEC de vários assuntos ou de várias matérias, que foram deliberadas positivamente. Mas, depois, não se conseguiu implantar na ponta por falta justamente dessa avaliação de impacto logístico que é necessário ter. Estive há algum tempo nesta Casa discutindo sobre o PET, e falava exatamente sobre as dificuldades logísticas de você ter PET disponível para 190 20 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Seguridade Social e Família Número: 0339/12 COM REDAÇÃO FINAL 17/04/2012 milhões de habitantes neste País, pelas dificuldades da base tecnológica. Analisar isso antes vai impedir que a gente tenha falhas, fracassos nessas incorporações. Então, com essas características, é muito importante a gente ter o prazo de análise e também ter o prazo para a incorporação, para a oferta realmente no SUS. Porque não adianta nada nós perdermos um tempão analisando evidências que são fluidas e que mudam, e eu não conseguir no final do processo dizer assim, que nós vamos incorporar, sim, ou que nós não vamos incorporar, não. E, se vamos incorporar, sim, para que grupos será oferecido, que grupo tem o melhor benefício com esse tratamento e o menor risco, e como será feita a oferta? Será feita em centros especializados, será feita em qualquer pronto socorro do Brasil, será feita em todas as unidades básicas? Isso daí muda tudo; a logística de distribuição, de oferta dessa tecnologia vai mudar a forma de a gente fazer o uso racional, o uso adequado, o uso correto e até a economia necessária, porque o dinheiro é um dinheiro de todos nós — ou não é? Com relação a essas características, acho que o que muda também na CONITEC é a transparência, envolvendo consultas públicas necessárias a todas as matérias que forem deliberadas. Tudo o que for deliberado ali é deliberado numa primeira vez, numa primeira avaliação; vai à consulta pública e volta novamente com as contribuições da consulta, para que o Plenário decida se ratifica ou se retifica a decisão inicial; e; depois; essa posição é publicada e termina-se o ciclo de análise, de deliberação. E daí começa um novo ciclo de 180 dias para a oferta dessa tecnologia para toda a população no SUS. Então, a forma como será feita; se a compra é centralizada ou não; se vai ser criado um novo procedimento; se é preciso ter exames novos que não tinham sido previstos; enfim, toda essa coisa tem que ser planejada durante esse segundo tempo, o segundo semestre da avaliação, que seria como ofertar num sistema grande e complexo como é o SUS. Nós temos trabalhado muito para a transparência e para a comunicação do que a gente decide para que todos possam saber. Não adianta a gente deliberar algo e ficar na caixinha. Então, deve haver acordos para se ter isso tudo publicado no site do Ministério da Saúde, no site da CONITEC, etc. Nós temos lá tudo o que está sendo analisado, o que aconteceu nas três reuniões que nós tivemos, até agora. Porque o Plenário foi nomeado e começou os 21 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Seguridade Social e Família Número: 0339/12 COM REDAÇÃO FINAL 17/04/2012 seus trabalhos em fevereiro, e já tivemos as reuniões de março e de abril (fevereiro, março, abril, isso) e teremos agora uma nova reunião em maio, já discutindo provavelmente um assunto da oncologia, que é o trastuzumab para o câncer de mama. Estamos levantando todas as evidências para oferecer ao Plenário a possibilidade de ter uma visão de 360 graus sobre essa complexa situação. É como falava o Prof. Santini “Não é um câncer de mama; são milhares de tipos diferentes”. Muito conhecimento a gente ainda não tem, e ainda precisamos avançar. Mas é preciso deliberar, porque já está havendo ações judiciais de incorporação de trastuzumab em Estados inteiros; e, talvez, essa não seja a melhor indicação para o grupo que seria mais beneficiado. Então a gente precisa recuperar esse caminho perdido, porque talvez tenha acontecido essa perda por omissão também — omissão do próprio serviço em ir à frente neste momento, principalmente para desenhar esses protocolos de uso para essas indicações, do jeito que as coisas têm que ser. Com isso, você avança e sossega a ansiedade, reduz a ansiedade que todos têm. O câncer e algumas doenças são assustadoras e realmente promovem o pânico entre as pessoas, movimentam a sociedade inteira, clamando por uma solução definitiva, que ainda não há, infelizmente. Mas é preciso que a gente acompanhe esse processo com uma regulação forte, clara e, principalmente, que respeite todos os passos processuais, para que a gente possa dizer assim: “Olha, vamos extinguir toda a possibilidade de evidências, vamos ver o impacto disso e vamos deliberar pelo positivo ou negativo; e; se positivo, condicionado a quê?” Isso é que é o mais importante. As articulações nossas são muito grandes. Os agentes do Direito e a judicialização têm papéis muito próximos. Tenho falado provavelmente mais com os agentes do Direito, hoje em dia, do que tenho falado com médicos ou com os grupos da saúde. Há uma aproximação muito forte com o CONASS e o CONASEMS, que são os grupos que reúnem os Secretários de Saúde Estaduais, como vocês sabem, e também os municipais — porque também esses são pressionados pela judicialização e pelos gastos acima do poder de sustentabilidade de um pequeno Município ou mesmo de um grande Estado. 22 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Seguridade Social e Família Número: 0339/12 COM REDAÇÃO FINAL 17/04/2012 Além disso, uma articulação com os países da América Latina está sendo iniciada via uma rede ligada à OPAS. E nós imaginamos que temos muito em comum com comissões que avaliam a incorporação de tecnologia de outros países. A mesma pressão que sofremos aqui sofrem eles no México, na Argentina, no Uruguai. Então é preciso que a gente preserve o nosso sistema de saúde. Nós temos um sistema de saúde inclusivo, baseado no cuidado, não na tecnologia. Nós entendemos a tecnologia como um auxiliar do cuidado, uma coisa às vezes necessária e fundamental para que o cuidado aconteça. E o SUS se preocupa com o cuidado. Na fase da vida de uma doença, ou nos estádios de uma doença, o tratamento paliativo, o cuidado acolhedor e digno ao paciente é algo muito mais importante do que oferecer um tratamento de 100 mil dólares, enquanto que o paciente sabe que está sendo enganado, que não se estão sendo claros com ele, que as pessoas o estão alimentando com uma falsa esperança, que não terá a menor chance de acontecer, infelizmente, e ainda privando-se outros pacientes que estariam em estádios diferentes mais favoráveis a um tratamento e que poderiam se beneficiar com as novas tecnologias. Nós vamos ver coisas aqui muito ligadas a isso. Nós vamos ver principalmente a judicialização, não para dar o tratamento paliativo para o paciente que precisa, mas para dar uma nova droga, uma das novas drogas que, sozinhas — infelizmente, o poder que elas têm é modesto, sinto dizer isso —, não são drogas perfeitas; aliás, são drogas por demais imperfeitas. Porque tudo o que nós sabemos do câncer hoje é pouco ainda para entender como é a biologia celular de uma célula cancerosa. Quando nós descobrirmos o que acontece com a célula cancerosa, nós vamos descobrir como é que a vida se faz — e nós não sabemos como a vida se faz... Eu tenho uma colega que está grávida dos primeiros tempos. Pois ela teve um pequeno sangramento e acompanhou, fazendo ultrassons a cada semana. Ela, que não é médica, mas economista, ficou surpresa em ver como o embrião cresce. O movimento de crescimento e de diferenciação de um embrião é um milagre da vida. E o câncer é esse milagre da vida, só que descontrolado e em várias rotas dentro de uma célula. Algumas rótulas nós já identificamos, a ciência já identificou; mas a maioria das rotas ainda é desconhecida. E esses novos produtos, em alguns 23 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Seguridade Social e Família Número: 0339/12 COM REDAÇÃO FINAL 17/04/2012 cânceres, que têm algum lugar na membrana da célula, onde ele possa se ligar, eles tentam segurar a célula, tentam segurar essa reprodução, essa multiplicação acelerada e louca que a célula tem. Mas a célula cancerosa sempre arruma meios de escapar, e recidivas acontecem. Nós, infelizmente, não temos ainda boas notícias para os cânceres sólidos. Os cânceres sólidos ainda têm dado um baile na gente, vamos dizer assim. E, quanto aos cânceres de sangue, embora não tenhamos tido grandes avanços, graças a Deus, já conseguimos curar vários tipos de cânceres de células sanguíneas. Agora, os cânceres sólidos ainda são desafios a serem desvendados. Então, saber isso é fundamental, para que não nos arrisquemos em coisas importantes, como tratamentos paliativos, como prevenção, vacinas, quando essas existam, para que não apostemos todos os nossos trunfos e todos os nossos reais em tratamentos que ainda são, infelizmente, bastante imperfeitos. Obrigada. (Palmas.) O SR. PRESIDENTE (Deputado Saraiva Felipe) - Nós agradecemos a apresentação feita pela Dra. Clarice Alegre Petramale, Diretora da Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias, do Sistema Único de Saúde, da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos, do Ministério da Saúde. Seguindo o rito aqui, daríamos a palavra aos autores do requerimento. Mas não está presente, e justificou sua ausência, a Deputada Cida Borghetti. Eu sou o primeiro autor do requerimento, junto com a Deputada Cida Borghetti. E nós incorporamos a Deputada Carmen Zanotto. Então, farei uso da palavra agora, na condição de autor do requerimento para a realização desta reunião. Primeiro, quero dar uma notícia que acho que vai interessar à Mesa, Doutora. É o seguinte. Nós conseguimos, até por uma proposta de audiência pública de minha autoria, fazer uma audiência pública aqui para discutirmos com os maiores especialistas em Medicina baseada em evidências do Brasil. Então, pegamos gente da UNIFESP, gente do Rio de Janeiro, que vai nos dar um panorama sobre essa área, que é uma área nova. Para nós, que nos formamos há alguns anos — não é, Doutora? É uma expressão muito utilizada e acho que pouco conhecida. 24 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Seguridade Social e Família Número: 0339/12 COM REDAÇÃO FINAL 17/04/2012 Então, chamo a atenção. Já temos as sugestões dos nomes. Pedimos aos maiores especialistas, inclusive internacionais, que nos sugerissem nomes de pessoas que trabalham e que têm publicações, inclusive internacionais, sobre o tema Medicina e baseadas em evidências. Gostaria de recordar aqui, ressaltando a presença do nobre Deputado Dr. Aluizio — dos outros já lembramos —, e a fala do Dr. Santini, uma preocupação. Bom, eu acompanhei, na condição de Ministro, e tenho acompanhado através da imprensa, que há um certo embate acerca da questão do funcionamento e da possibilidade de o INCA expandir suas ações, sobretudo utilizando pessoal da atividade-meio. Nós temos lá a Fundação Ary Frauzino, que vive sob a mira do Ministério Público, do Tribunal de Contas da União. Então, quando o Dr. Santini falou em flexibilização, ele foi eufêmico. Não é isso? Vamos ter de descobrir uma forma de esses grandes institutos, seja o INTO, seja o INCA, que qualquer país do mundo tem... Acho que o Estado não é responsável pelo provimento, mas pela garantia do serviço. Agora, é necessário, como outros países desenvolvidos já têm, um centro nacional de referência, como é o INCA no caso do câncer. Assim, quase que ele nos pediu socorro — cheguei a visitá-lo certa feita no INCA —, porque simplesmente havia a ameaça de que, em 48 horas, ele demitisse todo o pessoal, coisa dessa ordem. Quarenta e oito horas para demitir o pessoal da atividade-meio. Aí se propõem a fazer um concurso... Mas nós sabemos como funciona a administração direta no Brasil, para que haja realização de concurso. Este é o lugar, Santini, para você explicitar um pouco a agonia que eu senti quando visitava o INCA, discutindo algum aspecto qualquer. Acho que você deveria explicitá-la, porque o Congresso, esta Comissão tem a responsabilidade de ser solidário para que você continue funcionando. Da fala do Dr. Roberto, com quem eu tenho um diálogo muito próximo, ele se bate muito em Minas Gerais acerca da questão do acesso, sobretudo a radioterapia, mas também a quimioterapia. Vimos, e fiquei impressionado, que temos uma deficiência no acesso, em tempo adequado, à radioterapia. O percentual de 62,8% é significativo. Eu não estou querendo entrar em outros detalhes, porque já vi casos de uma situação ridícula. Mas vejo, de um lado, como alguém que já foi Secretário Municipal 25 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Seguridade Social e Família Número: 0339/12 COM REDAÇÃO FINAL 17/04/2012 e Secretário Estadual, Ministro da Saúde, e de outro lado, como Deputado que anda igual a caixeiro viajante, pois em toda a cidade do interior que eu piso eu tenho que ir à UPA, ao Centro de Saúde, ao hospital, onde há casos absolutamente absurdos... Por exemplo, para fazer um ultrassom abdominal, por suspeita de câncer de cabeça de pâncreas, tumor de cabeça no pâncreas, com um pedido que leva de 8 a 9 meses... Ora, vamos ter que exumar o cidadão ou a cidadã para depois fazer o exame do cadáver, só para constatar depois que ele era portador da doença. Eu vivi também isso, Doutora, porque no Ministério da Saúde, às vezes, temos que fazer uma escolha de Sofia. Nós sabemos que o recurso é insuficiente. E toda hora você tem a pressão da área de ciência e tecnologia. Fico até feliz, porque fui eu que criei a CITEC, e ela está sendo aprimorada. Ou seja, há um grupo técnico que avalia a incorporação de medicamentos e tecnologias. E começávamos, também, à época, a estabelecer protocolos. E eu me lembro, quando Secretário de Saúde em Minas, há 20 anos, que eu tinha um elevador privativo para fugir do oficial de Justiça, porque já àquela época... Se o oficial de Justiça está aí... Bom, ele tinha de me encontrar; mas, aí, eu tinha um elevador privativo que descia até um cantinho da garagem, e ele não tinha muita facilidade — Eduardo Barbosa, nosso colega presente, agradeço-lhe também — para me entregar as intimações que ele trazia. Isso há vinte e tantos anos. Já era a questão da judicialização. O Osmar Terra disse, e eu ouvi na apresentação do Roberto, que gastou 30%, em determinado ano, quando era Secretário de Saúde do Rio Grande do Sul, de tudo o que dispunha com dispensação farmacêutica, para atender a mandados judiciais e ainda com dois tipos de processo. O mesmo Ministério Público que instava o juiz a que o obrigasse a fornecer o medicamento era o mesmo promotor que depois entrava contra ele, porque ele não tinha seguido o art. da Lei nº 8.666. Ou seja, uma brincadeira! O mesmo promotor que exigia que ele fornecesse o medicamento em 7 dias, depois exigia que ele tivesse cumprido o rito para fazer a licitação, conforme a Lei 8.666. Esse tipo de falta de sintonia é que nós vamos ter que resolver. Temos que resolver também, e eu estou sendo meio insistente nisso, porque a Assembleia Legislativa de Minas fez uma reunião para aquela coleta de assinaturas, junto com a CNBB, para tentar ver se consegue os 10% da receita 26 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Seguridade Social e Família Número: 0339/12 COM REDAÇÃO FINAL 17/04/2012 bruta. Eu até estava lembrando o seguinte, de outra coisa que nós precisamos, Santini. Tem gente que diz que o problema é o modelo. Por exemplo, se você injetasse mais recursos no SUS, com o atual modelo, o impacto seria baixo. Outros dizem que o problema é questão de gerência, que precisávamos ter uma gerência mais eficaz, mais eficiente na questão dos gastos públicos. Agora, cá para nós, eu estou falando como alguém que passou pelo Ministério, e devo ter passado 30% do meu tempo dentro do gabinete do Ministro do Planejamento e do Ministro da Fazenda, Alexandre, brigando por dinheiro, porque mesmo do pouco que havia sofríamos ameaças quase diárias de algum tipo de contingenciamento, em algum programa ou em algum lugar. Então, nessa questão, por exemplo, de nós brigarmos, eu concordo que é preciso aprimorar o modelo, é preciso profissionalizar a gerência; agora, com pouco mais de R$ 1,00 por habitante/dia para os gastos públicos do SUS, este é o único País do mundo que se propõe, ainda mais com 100 milhões de habitantes, a dar uma assistência universal, integral, e onde o gasto público das 3 esferas de Governo está em nada, é da ordem de 45% do total de gasto com saúde. Todos os outros países que propõe assistência integral e universal à saúde como um direito da população têm um perfil de gasto diferente. Eu acho que as coisas têm de andar juntas, e defendo isso aonde eu vou. É um desserviço que nós prestamos ao SUS, e ele pode morrer de câncer, de inanição. E o câncer, quando é tratado na sua última etapa, não tem mais cura. Se nós não resolvermos essa questão do financiamento — e aí não é responsabilidade do Ministro, ou responsabilidade do Secretário Estadual, ou do Secretário Municipal —, a sociedade brasileira, doutor, uma hora vai ter de reagir. Para não sofrermos reveses, como o Presidente Obama tem sofrido nesse processo eleitoral, temos de tentar ampliar o acesso da população e resolver as dificuldades que há. Então, eu gostaria de dizer que, como pano de fundo, para que nós possamos fazer uma prevenção melhor, possamos melhorar esses acessos aqui, para que Santini possa credenciar mais CACONs no País inteiro, nós vamos precisar de mais dinheiro na área da saúde, e isso é responsabilidade do Congresso Nacional, e é responsabilidade da sociedade. Não podemos deixar isso passar. 27 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Seguridade Social e Família Número: 0339/12 COM REDAÇÃO FINAL 17/04/2012 Mas então eu gostaria que, da parte dele — nós vamos ouvir alguns Deputados —, ele abordasse esse tipo de dificuldade aguda, em que pé está isso, e como o Congresso Nacional, a Câmara dos Deputados pode mobilizar-se para encontrar uma solução, ainda que não definitiva, pelo menos para evitarmos essas ameaças de apagão numa instituição, como é o caso do INCA. No caso do Dr. Roberto, eu acho ótimo que ele esteja aqui, assim como a Dra. Clarice, porque a Sociedade Brasileira de Cancerologia... O Presidente da Sociedade Brasileira de Oncologia está aqui? Dr. Anderson, eu gostaria de agradecer-lhe a presença. Depois o senhor poderá intervir. Nós vamos repassar a palavra aos Srs. Deputados, a poucos, aqui, e o senhor tem a possibilidade de fazer uso da palavra, mas às vezes algum há tipo de questionamento sobre por que se incorpora isso, por que não se incorpora isso, sobre a maneira de incorporar; então, acho que Roberto poderia detalhar um pouco isso, e depois temos aqui a presença institucional do Ministério da Saúde para nos dar alguma luz. Dra. Clarice, aqui estamos todos no mesmo barco, e eu já estive várias vezes dos dois lados da mesa; então, eu sei como é isso. É muito simples dizer: isso tem de ser feito. Mas para se fazer é preciso haver recurso, haver uma série de condições, e realmente é preciso escolher o que fazer; então, eu acho que é uma contribuição que o Ministério pode trazer para este debate. Vou passar a palavra, pela ordem de inscrição, à Deputada Carmen Zanotto, ao Deputado Alexandre Roso e ao Deputado Geraldo Resende, que estão inscritos. A SRA. DEPUTADA CARMEN ZANOTTO - Obrigada, Deputado Saraiva Felipe, nosso Presidente desta audiência pública e proponente desta reunião, que nos permitiu compartilhar a autoria do requerimento e que para mim é sempre Ministro, porque eu tive o prazer de ser Secretária quando V.Exa. era Ministro. Quero cumprimentar os membros da Mesa, o Dr. Roberto Porto Fonseca, o Dr. Luiz Antonio Santini, do INCA, aonde tive a oportunidade de ir muitas vezes quando era Secretária de Estado, e a Dra. Clarice Alegre Petramale. Esta audiência pública é uma das etapas importantes da construção do Sistema Único de Saúde. Uma coisa que todos nós precisamos reconhecer é o avanço do sistema público, até em função da sua idade. Olhando a Constituição de 1988 e as leis de 1990, sabemos o quanto temos ainda para avançar. Mas o câncer é um tema que 28 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Seguridade Social e Família Número: 0339/12 COM REDAÇÃO FINAL 17/04/2012 tem tomado os noticiários dos grandes jornais, dos grandes veículos de comunicação. E eu falo aqui na condição de quem já foi gestora estadual e já foi enfermeira de cabeceira, e trabalhou efetivamente com quimioterapia, na época em que a sala ainda tinha carpete, como a nossa aqui, e uma pia comum de banheiro para lavar as mãos, e hoje nós temos uma rede implantada no País. Mas eu trago aqui algumas preocupações. Uma delas é a de que precisamos encontrar um mecanismo para sairmos da judicialização, que é a grande preocupação dos gestores e dos trabalhadores da saúde, porque, quando se gasta muito na judicialização, corre-se o risco de efetivamente não poder dar o melhor para a grande maioria da população, que é um dos nossos princípios do Sistema Único de Saúde. Todo Secretário, estadual ou municipal, passou exatamente pelo que o nosso colega Deputado Saraiva Filipe disse, pela dificuldade de aquisição de medicamento determinado pela ação judicial em alguns momentos. Só que do outro lado há uma vida, e gerou-se para aquele paciente e para sua família a expectativa de que determinado medicamento é, sim, a melhor terapia para ele. No nosso Estado costumamos dizer que, tendo ou não capital, o nosso maior patrimônio é a nossa vida. Então, aquela pessoa, lá no interior, que só tem uma vaquinha de leite, um porquinho, ou sua propriedade, uma pequena casa, para restabelecer sua saúde, procura até vender seu patrimônio, na expectativa de depois construir de novo o seu bem material. A judicialização está atrelada a isso, e a dificuldade dos gestores e a nossa, como Parlamentares, é dizer “não” a uma ação judicial, porque do outro lado há uma recomendação médica dizendo que aquela terapia poderá prolongar a vida do doente, minimizar seus problemas ou até mesmo recuperar sua saúde. Então, como as entidades médicas, o Poder Judiciário e os três órgãos responsáveis pelo SUS, Ministério da Saúde, CONASA e CONASEMS, podem fazer o enfrentamento disso, dentro de protocolos que sejam revisados? Posteriormente vou falar sobre um projeto de lei, com substitutivo, que temos na Casa, mas eu tenho outra preocupação. Nós estamos com esse projeto de lei, um substitutivo de um projeto que veio do Senado, ao qual foram apensados o meu, o da Deputada Flávia Morais e o do Dr. Pinotti, e que fala da analgesia, mas nós 29 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Seguridade Social e Família Número: 0339/12 COM REDAÇÃO FINAL 17/04/2012 temos uma grande preocupação, por conta de relatório do Tribunal de Contas, e na semana passada nós tivemos uma reunião na Liderança para tratar desse assunto, que é o tempo de entrada dos pacientes no tratamento de quimioterapia e radioterapia. Segundo o relatório do INCA — mas a Dra. Maria Inês Gadelha já disse que os termos do relatório do Tribunal de Contas não são exatamente estes —, em média apenas 15% dos pacientes entram em radioterapia no primeiro mês, e na quimioterapia 35%, nos primeiros 30 dias. O nosso substitutivo e o da Deputada Flávia falavam em 30 dias; negociamos agora 60 dias, respeitando os casos que exigem que se entre em tratamento no dia seguinte. Mas tratamos desse tema. Eu fiquei um pouco preocupada porque discutimos muito a capacidade instalada, e nós sabemos que temos essa capacidade; segundo ficamos sabendo, na reunião de quinta-feira passada, muitos serviços têm capacidade instalada, têm teto financeiro designado, que é o recurso que sai do Fundo Nacional e vai para os respectivos Fundos Estaduais ou Municipais, enfim, nós temos saldo de teto, temos capacidade instalada, e não estamos atendendo! Não dá para pedirmos à família de um doente diagnosticado de câncer que espere o tempo do Sistema Público de Saúde, que é o nosso tempo. Quem já foi gestor sabe. Estamos em vários pontos do balcão, já estivemos do outro lado e agora estamos nesta Casa, e essa é uma coisa que precisamos enfrentar. E nós sabemos que na grande maioria das vezes a recuperação, o bom resultado do tratamento, a melhora do quadro, se não a cura, está diretamente ligada ao tempo de tratamento. Então, a minha primeira pergunta é: qual seria o tempo máximo? Eu sei que cada caso tem seu tempo. Mas nós temos ainda outra variável. Não é só o medicamento, a quimioterapia e a radioterapia; há também a questão da angústia que acomete o paciente, que já está debilitado, ao aguardar a sua recuperação. Quanto à prevenção nós avançamos, e vamos continuar avançando, tenho certeza; agora, quero pautar-me no acesso ao tratamento. Nós ainda não estamos garantindo acesso à cirurgia depois do diagnóstico, à quimioterapia e à radioterapia. O que fazer, numa estrutura que temos hoje já implantada, que em alguns locais já tem capacidade instalada, mas o paciente continua esperando? 30 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Seguridade Social e Família Número: 0339/12 COM REDAÇÃO FINAL 17/04/2012 O SR PRESIDENTE (Deputado Saraiva Felipe) - Eu vou passar a palavra ao Dr. Alexandre Roso, ao Dr. Geraldo Resende e ao Dr. Aluizio, e posteriormente vou devolver a palavra à Mesa, e então aceitaremos novas inscrições. Eu quero assinalar a presença entre nós dos Deputados André Zacarow, Assis Casali, Luis Carlos Setim, Marcos Pestana e Danilo Fortes. Tem a palavra o nobre Deputado Dr. Alexandre Roso. O SR. DEPUTADO ALEXANDRE ROSO - Muito obrigado. Antes de mais nada, queria agradecer. Para mim, na qualidade de profissional da área, foram bastante esclarecedoras todas as palestra feitas aqui. Fiquei muito contente, porque adquiri conhecimento, e isso faz-me pensar em algumas coisas. Vou fazer considerações sobre algumas coisas que foram ditas. O problema da judicialização é muito sério; muitas vezes parece, para o gestor, uma intromissão, dentro de todo o planejamento que exige um sistema que a sociedade quer que evolua para a qualidade. Por outro lado, ele acontece porque existem algumas leis feitas nesta Casa, que talvez não tenham sido feitas com a presteza necessária para que esses problemas não aconteçam. O problema nessa questão é que a maioria dos Secretários de Saúde municipais não têm elevador para fugir dos agentes judiciários. E é muito interessante, porque o que é que acontece? Geralmente são três ações, uma contra o Município, outra contra o Estado, outra contra a União. As três ações são disparadas num primeiro momento, e elas saem batendo em todos. É lógico que chegam primeiro à casa do Prefeito, ou do gestor de saúde local. Então, esse é um problema muito sério, e nessa área oncológica muito mais ainda. E há uma tendência mundial. Se os senhores pegarem os estudos e fizerem um comparativo, vão ver que os honorários de trabalhadores na área da saúde a cada ano diminuem percentualmente, e cada vez mais a inovação tecnológica acrescenta um custo que realmente é impagável, não pela quantidade de doses ou de casos que vão entrar, mas porque estão aumentando os casos unitários, e algumas coisas precisam ser feita. O Prof. Santini levantou um ponto muito delicado, e nós temos de começar a preparar, a treinar o nosso povo, para termos como atender a isto: 20% dos nossos custos em medicamentos, ficou entendido por todos os que estavam aqui — eu sou médico-cirurgião oncológico —, 20% dos custos dos 31 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Seguridade Social e Família Número: 0339/12 COM REDAÇÃO FINAL 17/04/2012 medicamentos parece que se devem a má indicação, se ocorre realmente essa crueldade que ouvi nas exposições. Se for assim, nós temos de começar a revisar muita coisa. E aí, o mais importante é lá na educação, nas escolas de Medicina, na educação do Judiciário, da Promotoria, na educação inclusive da imprensa, que muitas vezes faz uma pressão muito grande sobre o sistema público. Em Porto Alegre — é bem verdade o que o nosso Ministro Saraiva Felipe disse — gastavam-se 35% do orçamento em ordens judiciais. Eu sou de um Município que chega a gastar num ano mais de R$ 400 mil em ordens judiciais. Então, nós temos de fazer alguma coisa, porque senão isso no final vai explodir, e aí a culpa sabe de quem é, meu Ministro? A culpa é do gestor, a culpa é do povo da Saúde, é de todos nós que perdemos os cabelos para resolver essa situação que acomete o nosso País na área da saúde. O SR. PRESIDENTE (Deputado Saraiva Felipe) - Eu agradeço a intervenção ao nobre Deputado Alexandre Roso e passo a palavra ao Deputado Geraldo Resende. O SR. DEPUTADO GERALDO RESENDE - Serei breve, mesmo porque eu não pude estar presente na apresentação do Dr. Santini nem na do Dr. Roberto, e parece-me que eles já trataram de algumas situações que são motivo de preocupação para mim, como a questão da expansão dos serviços e do cronograma dessa expansão, para citar algumas áreas que eu entendo que são fundamentais. Eu moro na Região Centro-Oeste, e nesta Região hoje ficou muito fácil para Prefeitos ou para gestores tentarem resolver a questão do tratamento da ecologia. Ou seja, criam-se casas de apoio ao redor de Barretos, principalmente, cada Prefeitura tem uma casa de apoio, e os pacientes do Mato Grosso do Sul, do Mato Grosso, de Rondônia, do Acre e do Amazonas são colocados nas ambulâncias ou nos ônibus e remetidos a essas casas de apoio, onde ficam durante determinado tempo. Além disso, hoje criaram-se também as redes de apoio a esses hospitais, como o Barretos. Há leilões, a sociedade mobiliza-se. Enquanto isso, os serviços instalados têm uma demanda às vezes menor, e também não se aprimoram, não avançam, não incorporam as tecnologias existentes. Essa é uma das preocupações, mas me parece que V.Exa. falou sobre a programação, o planejamento que o INCA está fazendo quanto a isso. 32 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Seguridade Social e Família Número: 0339/12 COM REDAÇÃO FINAL 17/04/2012 E de outro lado, também há outra preocupação com os serviços instalados. A Deputada já falou sobre isto: quando uma pessoa tem um câncer qualquer, a família toda fica na expectativa de que qualquer tecnologia nova, qualquer medicamento novo vai salvar-lhe a vida, e há alguns serviços que fazem triagens, que fazem com que esses cidadãos vendam todas as suas posses, ou seja, acabem com todas as suas economias, construídas ao longo do tempo, e muitas vezes utilizando o credenciamento que existe; fazem uma triagem no sentido de fazer com que a maioria desses pacientes optem por pagamentos que oneram, que fazem com que eles fiquem sem o seu patrimônio. E eu gostaria de perguntar: o que fazer? Como as instituições podem ajudar? Como o INCA tem feito a avaliação desse serviço, até dentro dos protocolos a que o INCA remete, para que eles possam ser cumpridos? Muitas vezes até quebram os protocolos, ou criam algumas situações que mercantilizam cada vez mais o tratamento dos casos oncológicos hoje do País. O SR. PRESIDENTE (Deputado Saraiva Felipe) - Agradeço ao nobre Deputado Geraldo Resende, e passo a palavra ao Deputado Dr. Aluizio. Vou pedirlhe que também seja breve, porque depois nós voltaremos aos palestrantes, e aí abriremos aqui uma nova rodada para os Deputados. Eu vou sugerir que algumas pessoas que nos acompanham aqui com interesse possam também manifestar-se. Então, tem a palavra o Deputado Dr. Aluizio, por favor. O SR. DEPUTADO DR. ALUIZIO - Exmo. Sr. Ministro Saraiva Felipe, representantes do sistema público de saúde, Dr. Santini, Dr. Alberto, Dra. Clarice, tenho alguns apontamentos, mas acima de tudo quero dar meu testemunho sobre o trabalho do Dr. Santini no Rio de Janeiro, pela excelência do INCA, pelo trabalho que vem desenvolvendo e sobretudo pelo caráter com que ele tem conduzido toda aquela instituição, que para nós que trabalhamos na saúde pública no Rio de Janeiro é motivo de orgulho, apesar de toda a dificuldade que a saúde pública traz para todos nós. Quando V.Exa. fala em “escolha de Sofia”, eu acho que essa “escolha de Sofia” se inicia assim: seremos gestores ou não de saúde no Brasil? Isso porque, seja pela judicialização sobre os órgãos de controle, seja pela demanda social que recai sobre o gestor de saúde, esse hoje é um cargo, com certeza — com certeza! 33 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Seguridade Social e Família Número: 0339/12 COM REDAÇÃO FINAL 17/04/2012 — em extinção, em breve, porque qualquer cidadão em sã consciência convidado para ser ordenador de despesa neste País na esfera da saúde começa a hesitar. Eu acho que a “escolha de Sofia” começa aí: ser ou não ser gestor de saúde? Por outro lado, a doença oncológica, como diz nosso cirurgião oncológico, com o aumento da expectativa de vida da população brasileira e mundial, deixa de ser uma doença para ser referência em centros exclusivamente de excelência. Talvez seja fundamental que o Brasil, dentro do projeto de saúde pública, comece a descentralizar o atendimento oncológico. Ou seja, nós temos um grande vazio existencial no Estado do Rio de Janeiro; saindo do INCA, no Rio de Janeiro, só vamos conseguir tratamento oncológico em Campos ou em Itaperuna — sou de Macaé —, restando uma demanda infinita de pacientes sem assistência. Ou seja, as cirurgias são realizadas para tratamento de adenocarcinoma, câncer de tiroide, tumor cerebral, mas não a quimioterapia e a radioterapia, e aí começa uma via-crúcis do paciente em busca desses tratamentos. Se forem necessárias a quimioterapia e a radioterapia, o paciente acaba caindo num grande vazio existencial, porque ele não tem assistência. Por mais que o INCA se esforce, por mais que ele tente conviver com a demanda, trata-se de uma questão de conteúdo-continente, e não cabe mais nada. Então, eu gostaria de deixar só estes registros: primeiro, o do desempenho do INCA e o Dr. Santini como referência para todos nós no Rio de Janeiro; segundo, o da descentralização da oncologia no Brasil, e é fundamental que algumas outras cidades assumam essa responsabilidade; terceiro, o da questão da gestão, que todos conhecemos bem, para o bem e para o mal. O SR. PRESIDENTE (Deputado Saraiva Felipe) - Nós agradecemos ao Dr. Aluizio, e vou repassar a palavra para a Mesa, de acordo com a ordem das apresentações. Primeiro vamos ouvir o Dr. Roberto Porto Fonseca, Presidente da Sociedade Brasileira de Cancerologia. O SR. ROBERTO PORTO FONSECA - Vou ser breve. Deputado, os temas são mais ou menos os mesmos. A estrutura realmente é ainda deficiente, apesar de termos, e temos de ter, uma visão também otimista. Ela tem melhorado, concordo plenamente, em grande parte pela excepcional liderança 34 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Seguridade Social e Família Número: 0339/12 COM REDAÇÃO FINAL 17/04/2012 que o INCA nos tem fornecido, junto à oncologia nacional, particularmente na área do SUS. Mas a estrutura é deficiente, e quando vemos nos Estados do Norte o câncer de colo de útero, que é um tumor que não precisaria mais existir, e vemos o contrário nos Estados da Região Sudeste, constatamos — ouviu, doutora? — que o acesso é também deficiente, por uma série de razões. Eu acredito no seguinte: a judicialização não é promovida pelo nosso Judiciário; ela é decorrente da eventual necessidade de suprir um ser humano de algum tratamento. O que nós precisamos ter em mente é que nem sempre há essa necessidade, e por isso é que eu recomendo que nós façamos uma avaliação em cada Estado do que efetivamente acontece, do que é pedido, porque muitas vezes pedem-se coisas absolutamente desnecessárias, ou, eventualmente, tratamentos ou procedimentos médicos que não trazem qualquer tipo de benefício, a não ser para quem está pedindo, para a indústria de materiais e medicamentos. Isso também existe, e isso tem de ser avaliado. Então, quando a judicialização acontece, pode ser por algum problema do nosso Governo? Pode, porque nós temos de ser mais ágeis na incorporação, mas na incorporação de tratamentos ou procedimentos na área médica que efetivamente vão trazer benefícios para o paciente, para a sociedade, porque existe seguramente muita coisa, muitos medicamentos que não altera a evolução natural de determinados cânceres e que possivelmente são os que mais oneram a sociedade, na área pública. Então, isso precisa ser muito bem avaliado. O problema todo, da Medicina como um todo, da atenção à saúde como um todo, é que nós não temos a cultura que deveríamos ter de avaliação daquilo que fazemos. Quer dizer, nós temos a obrigação de mostrar para a sociedade quantas cirurgias foram feitas nessa instituição oncológica, e qual foi o resultado, em avaliação com base e, indicadores robustos, focados no benefício do paciente. É isso que temos de ter. Então, na judicialização, o nosso Governo estadual, na minha opinião, encontrou uma saída inicial excepcional, que foi um convênio com a universidade. A Universidade Federal de Minas Gerais tem um núcleo, o NATS, que faz a avaliação de novas tecnologias, e é on line; ele fornece para todo o Estado, em no máximo 48 horas, as informações de que os nossos juízes ou desembargadores necessitam 35 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Seguridade Social e Família Número: 0339/12 COM REDAÇÃO FINAL 17/04/2012 quando há alguma requisição. Isso eu acho que é algo que vai minimizar muito o problema, porque vão-se criando condutas e protocolos, evitando-se essa parte ruim da judicialização que é a utilização de tratamentos que não vão trazer nenhum benefício, até que ela desapareça. Basicamente, a senhora perguntou-me sobre o acesso. Eu acho que grande parte da questão do acesso não é falta remédio, é um problema da estrutura. Em nosso País a estrutura ainda é deficiente. Ela tem melhorado; eu, particularmente, tenho visto, nos meus 37 anos de formado, sempre lidando com a cancerologia, que os nossos pacientes têm tido melhor acesso. Quanto à pergunta que o Deputado Geraldo Rezende fez sobre Barretos etc., tratar de câncer não é tratar de uma doença simples; o prognóstico é muito pesado, os custos são altos, o sofrimento dos pacientes e dos familiares é muito grande. Então, isso requer, na minha opinião, uma equipe no mínimo multiprofissional: cirurgiões, radioterapeutas, oncologistas clínicos, a nossa boa enfermeira oncológica, psicólogos etc. Então, eu não acredito que devamos descentralizar de maneira não planejada. A descentralização tem de ser feita a partir do momento em que nós possamos oferecer, na atenção aos nossos pacientes, um centro onde haja recursos humanos, materiais e técnicos capacitados para oferecer o que há de melhor. Então, até que isso aconteça, que seja feito também em Barretos, em Minas Gerais, e assim por diante, porque não é simples. O SR. PRESIDENTE (Deputado Felipe) - Antes de passar a palavra ao Dr. Santini, quero, agradecendo, registrar a presença entre nós do Deputado Mandetta, que é o atual Presidente desta Comissão de Seguridade Social e Família. Tem a palavra o Dr. Santini. O SR. LUIZ ANTONIO SANTINI - Eu quero, antes de mais nada, agradecer a oportunidade que o Deputado Saraiva Felipe me dá de falar alguns minutos sobre a questão do INCA especificamente, considerando que é uma instituição que tem um papel crucial, como foi reconhecido por muitos dos Srs. Deputados e das Sras. Deputadas, como uma instituição de excelência, uma instituição importante para o nosso País. O INCA tem 75 anos, como eu disse. É mais antigo do que o próprio Ministério da Saúde, que foi criado depois dele. É uma instituição que tem uma 36 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Seguridade Social e Família Número: 0339/12 COM REDAÇÃO FINAL 17/04/2012 característica muito importante para o nosso País: ela nasceu sob o signo de dois compromissos fundamentais: o compromisso com o cuidado e o compromisso com o desenvolvimento científico; com o cuidado porque, 75 anos atrás, pouco se podia fazer quanto ao câncer a não ser cuidar, tomar conta da pessoa, dar carinho, dar conforto, porque havia pouca oportunidade, pouca possibilidade de tratamento; e compromisso com o desenvolvimento científico porque logo os seus fundadores foram buscar o que havia de mais moderno, o que havia de possibilidades para o tratamento especialmente daqueles grandes tumores avançados, que precisavam pelo menos do que era chamado de “tratamento higiênico”. E um dos primeiros tratamentos utilizados pelo INCRA, lá nos idos de 1937, foi a introdução no Brasil de uma coisa que é absolutamente corriqueira, quase ultrapassada hoje na cirurgia: o uso do bisturi elétrico, para evitar o sangramento excessivo, para permitir que pessoas com grandes tumores que antes morriam por perda sanguínea pudessem obter um melhor tratamento só com isso. Então, eu estou dizendo isso só para marcar que essa é uma instituição criada com esses dois compromissos fundamentais, e ao longo de toda a sua história a instituição, acompanhando o desenvolvimento dos conhecimentos sobre a história natural da doença, foi incorporando atividades de prevenção, novas tecnologias, avanços científicos, influência, e depois teve papel definido por lei no apoio ao Ministério da Saúde, na formulação de políticas, na implementação de políticas e na ajuda à organização do Sistema Único de Saúde. Para isso, no INCA houve um divisor de águas que é muito importante: ele conseguiu criar, há quase 40 anos, um mecanismo de gestão chamado I Campanha Nacional de Combate ao Câncer, um momento que vivemos junto com a criação do próprio Sistema Único de Saúde, no final da década de 80, e depois a Fundação Ary Frauzino, de apoio ao Instituto Nacional de Câncer. Essas duas instituições, historicamente marcantes, na época, na sua criação, permitiram ao instituto ter uma estrutura de gestão, uma capacidade de gestão que pudesse acompanhar as demandas que a instituição foi construindo a partir do seu próprio desenvolvimento. A estrutura do Regime Jurídico Único, todos nós sabemos, é uma estrutura anacrônica, frente aos desafios que nós temos, pela forma de acesso. Não é porque o concurso seja uma má forma de acesso; o concurso é a melhor e mais 37 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Seguridade Social e Família Número: 0339/12 COM REDAÇÃO FINAL 17/04/2012 democrática forma de acesso. Entretanto, o concurso não pode ser regulado pelo Ministério do Planejamento. Nós levamos quase 20 anos sem concurso público na instituição! Se nós não tivéssemos criado os mecanismos que foram criados, nós estaríamos, eu diria, infelizmente, na vala comum dessa crise que está acontecendo nos hospitais do Rio de Janeiro, que não dispuseram desse mecanismo, e por não disporem desse mecanismo foram construindo mecanismos substitutivos que muitas vezes acabaram por jogar o gestor numa situação de acusações, às vezes em situações reais de envolvimento em fraude, mas às vezes absolutamente isentos disso; apenas foram levados a uma situação como essa por tentarem criar mecanismos para viabilizar a manutenção da instituição. O INCA felizmente não precisou disso. Por exemplo, nós não tivemos nenhum contrato com nenhuma dessas empresas que estavam envolvidas na situação do Rio de Janeiro. Isso é mérito. Qual é o mérito? O mérito é o fato de que não temos nenhum contrato emergencial. Nós temos planejamento, temos capacidade de planejar, e não precisamos fazer contratos emergenciais de serviço. O mérito, portanto, é do nosso modelo de gestão. Só que esse modelo de gestão vem sendo progressivamente constrangido, de tal forma que, desde 2006 para cá, essa força de trabalho só fez diminuir. Eu fui obrigado a anualmente demitir pessoas. Dos 1.300 funcionários que eu tinha na Fundação, hoje tenho 700, e tenho de demiti-los até dezembro, e não tenho como repor quadros. Então, a solução para nós é buscar a construção de um novo modelo jurídico. Felizmente, 2 semanas atrás nós tivemos uma reunião com o Ministério da Saúde, com a Secretária de Planejamento, que nos trouxe a notícia, a informação de que o Governo está aberto a que nós apresentemos uma proposta de um novo modelo jurídico, e nós estamos desenvolvendo a proposta de criação de uma empresa pública nos moldes do Hospital das Clínicas de Porto Alegre. Esse é um modelo inicial, e nós teremos de discutir, mas para que seja uma empresa pública é necessário que haja uma lei. Por isso, agradeço ainda mais a oportunidade que me dá o Ministro Deputado Saraiva Felipe de trazer esse problema, porque nós vamos precisar de uma lei para a criação dessa empresa, e certamente vamos precisar do apoio das Sras. e dos Srs. Deputados. 38 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Seguridade Social e Família Número: 0339/12 COM REDAÇÃO FINAL 17/04/2012 A SRA. DEPUTADA CARMEN ZANOTTO - Sr. Presidente, eu acabei não fazendo a pergunta. Eu gostaria de saber se a Lei nº 12.550, que foi aprovada no ano passado e já sancionada, relativa à empresa pública de direito privado para gestão dos hospitais universitários, não atenderia ou não está atendendo ao INCA. Não resolveu a questão? O SR. LUIZ ANTONIO SANTINI - No caso do INCA, não, porque ela se destina a universidades do MEC. A SRA. DEPUTADA CARMEN ZANOTTO - Mas ela fala em congêneres. O SR. LUIZ ANTONIO SANTINI - Mas aquela empresa é do Ministério da Educação. O INCA é um órgão ligado ao Ministério da Saúde. Logo, a empresa não atenderia a ele. Além do mais, ela tem uma configuração também muito centralizada, o que dificilmente atenderia as nossas necessidades. No entanto, eu agradeço a oportunidade de tratar desse tema, e peço o apoio de todos os Srs. Deputados, porque oportunamente isso virá na forma de um projeto de lei, e eu peço o apoio de todos para que esse projeto possa tramitar aqui, e mais uma vez agradeço ao Ministro Saraiva a oportunidade que dá. Resta só um comentário em relação às considerações que foram feitas. Gostaria de responder a todos pessoalmente, mas acho que o tempo não me permitirá fazê-lo. Então, vou concentrar-me em dois componentes que estão presentes em todas as ponderações. Um deles é a informação adequada às pessoas. Normalmente as pessoas têm dificuldade, porque a complexidade do problema e a situação de aflição em que elas se veem quando recebem o diagnóstico de câncer dificulta a compreensão do problema, das oportunidades e das reais possibilidades. Então, por exemplo, na grande maioria dos casos a demanda de judicialização diz respeito a medicamentos e a acesso a situações que não seriam a melhor indicação, a melhor solução; no entanto, falta essa informação. A informação adequada é fundamental, e é obrigação nossa, dos profissionais, organizá-la melhor, mas é também obrigação da sociedade discutir esse assunto em profundidade. E quando digo “sociedade” refiro-me também aos produtores, à indústria, porque não é possível estimular um tipo de consumo que as pessoas sabem que não é adequado para todos os tipos de pacientes. Existem organizações muito sérias que tratam da organização de pacientes, que organizam 39 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Seguridade Social e Família Número: 0339/12 COM REDAÇÃO FINAL 17/04/2012 os pacientes para demandar, mas existem também organizações que na verdade são construções para fazer lobby para a utilização de medicamentos que nem sempre são adequados. Então, a transparência é um elemento fundamental para o acesso à informação, e isso diz respeito à judicialização. O outro componente é o acesso. O acesso no tempo adequado depende de infraestrutura, de tecnologia e de pessoal. Hoje o Ministério está preparado, está pronto para desenvolver o mais amplo programa de expansão de acesso à radioterapia, talvez, que já tenha sido feito no mundo, no tempo proposto. No entanto, o grande desafio não é a aquisição do equipamento, não é a implantação dos centros; o grande desafio é capacitação de recursos humanos. Esse é o grande problema. Para isso, nós estamos desenvolvendo um trabalho de fortalecimento de centros regionais no País, de forma que unidades como, por exemplo, o Instituto Mário Penna, em Belo Horizonte, o Instituto do Câncer do Ceará, o Hospital do Câncer da Bahia, o do Rio Grande do Sul, em São Paulo, naturalmente, o ICESP, e outras instituições, vários centros nós estamos identificando como centros regionais, que seriam instituições fundamentais para aumentar essa rede de capacitação de recursos humanos e dar suporte técnico às instituições mais na ponta do sistema, de menor complexidade, que precisam ter de certa maneira algum grau de complexidade para o atendimento aos pacientes, mas ter a segurança de uma instituição de referência. Então, esse programa de expansão não é só de aquisição de equipamentos; é um programa de expansão da atenção, e diz respeito a todos esses componentes que nós estamos falando aqui. Obrigado. O SR. PRESIDENTE (Deputado Saraiva Felipe) - Nós agradecemos ao Dr. Santini os esclarecimentos. Há uma nova inscrição parlamentar, do Deputado Marcus Pestana. Como a Ordem do Dia está prestes a começar, só gostaria de pedir aos senhores que agilizem um pouco as observações. Tem a palavra a Dra. Clarice. A SRA. CLARICE ALEGRE PETRAMALE - Com relação ao CONITEC, a minha expectativa é de que possamos ajudar o sistema todo nessa avaliação, de 40 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Seguridade Social e Família Número: 0339/12 COM REDAÇÃO FINAL 17/04/2012 que nós consigamos fazer a avaliação das evidências e também avaliar as limitações e as particularidades do sistema brasileiro onde essa tecnologia vai assentar-se, para que quando nós deliberarmos sobre uma incorporação já antecipemos as dificuldades ou as particularidades que nós vamos ter de ultrapassar, os obstáculos que vamos ter de ultrapassar para termos a incorporação racional dessa tecnologia. A pior coisa que pode haver é fazer-se uma incorporação insegura, irracional, que leve mais sofrimento para o paciente. E a comunicação, como disseram os meus dois colegas, e o Presidente da Mesa também, a comunicação é fundamental para que nós possamos equilibrar o conhecimento entre todas as partes. Nós sabemos que em sociedades totalitárias, como aquela que fomos até há pouco tempo, a circulação da informação é bloqueada, é reduzida, é até punida. Agora, é preciso que os setores que cuidam dos pacientes, os setores que fazem a gestão, o Judiciário, a mídia, todo o mundo comece a conversar, para que cheguemos a um ponto bom para todos. Com certeza sempre vai haver a pressão do lucro, porque as empresas visam a isso, e este é o âmago de uma empresa: dar lucro aos seus acionistas. Porém, nós não podemos ultrapassar os limites da ética, abusando da boa vontade e da esperança de pessoas sofredoras e de famílias, como a Dra. Carmen disse. Então, é preciso equilibrar essa informação, e para equilibrar isso é preciso divulgar com muita transparência o que realmente conseguimos atingir e o que ainda não conseguimos atingir. Eu quero lembrar aos senhores que nos Estados Unidos houve uma verdadeira febre quando Nixon tomou posse: se eles tinham chegado à lua, como é que não curavam o câncer? “Por favor, Nixon, olhe isso”, e tal. Mas parece que a conquista da cura do câncer é mais complexa do que chegar à lua, tanto que ainda não conseguimos isso. Então, é preciso sair da histeria, deixar de acreditar em falsas promessas e equilibradamente examinar as evidências, ver em que elas nos ajudam, em que elas não nos ajudam, e escolher os pontos que podem favorecer. Com certeza cada paciente vai precisar de um tratamento individualizado, e quem vai fazer isso são os setores, as áreas dos serviços médicos, as equipes multidisciplinares, que vão verificar de que os pacientes precisam mais. Sem dúvida, 41 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Seguridade Social e Família Número: 0339/12 COM REDAÇÃO FINAL 17/04/2012 boa parte do diagnóstico que não é feito precocemente tem a ver com o estigma da doença. Eu tenho medo do câncer. Os senhores não têm? Nós temos medo do câncer, não temos? Nós temos medo de descobrir uma lesão que possa ser câncer. Demoramos para procurar um médico, e isso é humano, é natural, porque ainda é uma doença que não tem cura. Às vezes a cura sobrevém e não sabemos nem por quê. Outras vezes, pacientes que poderiam ter um bom prognóstico não o têm, porque o tipo do câncer não é o único aspecto. São muitas variáveis envolvidas que ainda não conhecemos, e tudo o que desconhecemos tememos. Por que eu quero descobrir o câncer mais cedo se não tem cura, não é? Esse tipo de coisa está na cabeça das pessoas, mas alguns cânceres podem ser muito bem prevenidos, e cabe a nós explicar para a população quais são eles. A história do fumo é fundamental. Não vi ainda uma ação para impedir a comercialização do fumo, mas talvez fosse a que mais desse certo, em termos de redução de câncer de pulmão, de bexiga, de outros tipos de câncer. A CONITEC, modestamente, vai trabalhar seguindo o processo, para ver se conseguimos suprimir o abuso na judicialização — nunca vamos suprimir a judicialização, não é esse o ponto. Vão ocorrer casos em que ir à Justiça será correto, porque realmente houve omissão no caso daquele paciente, que não conseguiu atendimento. Perfeito. Agora, passar de quatro a cinco ações individuais para uma ação coletiva, para o Estado inteiro, já significa a substituição de uma política de saúde por uma política judicial, nem sempre da melhor forma. Não é desejável que isso aconteça. Então, temos envidado todos os esforços para nos aproximar de todos esses atores que estão envolvidos. A judicialização vai acontecer e continuará acontecendo, mas não deveria, ou não deverá, no futuro, ser abrangente dessa forma, englobando um Estado ou englobando todo o tratamento no País inteiro. Isso significaria que a política de saúde falhou, não foi capaz de promover as melhores escolhas quanto àquele tratamento. Todos juntos temos grandes chances de tornar o câncer, ainda sem cura, em uma doença crônica — a doença crônica pode ser manejada —, fazendo com que os pacientes tenham uma vida produtiva e menos sofrida do que a que têm hoje. 42 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Seguridade Social e Família Número: 0339/12 COM REDAÇÃO FINAL 17/04/2012 O SR. PRESIDENTE (Deputado Saraiva Felipe) - Agradecemos à Dra. Clarice as palavras. Agradecemos também ao Padre e Deputado José Linhares, nosso decano, a presença. Com a palavra o Deputado Marcus Pestana. O SR. DEPUTADO MARCUS PESTANA - Dr. Santini, Roberto, nosso amigo, Dra. Clarice — é um prazer revê-la —, nossos cumprimentos. Caro Ministro Saraiva, que preside esta sessão, quero pontuar, com base na experiência na Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais, uma percepção. Dizem que o uso do cachimbo faz a boca torta. Quando discutimos a construção da rede oncológica, temos de desvestir um pouco o nosso discurso tradicional do SUS. Se é verdade que, na assistência de múltiplas doenças, na atenção à saúde da população, o problema central é o financiamento, na rede oncológica não é essa a questão. Eu sempre discutia com os hospitais especializados em oncologia de uma forma diferente da que eu utilizava no caso dos hospitais gerais. Ao hospital com crise financeira especializado em oncologia eu dizia que o problema era mesmo de gestão. Alguns hospitais entraram numa crise profunda, como o de Uberaba, que não tinha motivo para viver aquela crise, se a gestão fosse correta. A natureza é outra. Criamos uma câmara de compensação específica para a oncologia, praticamente zeramos as filas em Minas num dado momento, mas os desafios são de outra ordem. Temos de pensar com outro software a questão da rede oncológica. Nesse caso, temos desafios complexos. Primeiro, já foi tratada a questão dos recursos humanos. Helvécio fez uma projeção muito assustadora. Para formar os oncologistas, os cirurgiões oncológicos, os físicos nucleares a fim de atenderem a uma rede ideal no Brasil, seriam necessários, acho, 30 anos. Mas 30 anos passam. O primeiro passo tem de ser dado agora. Temos, então, de estar alertas para a questão dos recursos humanos. Parece-me que esse é um dos pontos centrais da judicialização — a Dra. Clarice participou de audiência pública que provoquei aqui, menos prestigiada que essa. 43 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Seguridade Social e Família Número: 0339/12 COM REDAÇÃO FINAL 17/04/2012 O primeiro Presidente de Tribunal de Justiça com quem fui discutir a questão não me deixou nem completar a frase. Quando fui dizer que temos mecanismos de regulação, de administração da escassez, ele não me deixou concluir e declarou: “Sentença — vá se acostumando — é para ser obedecida. Não tem conversa”. Então, é uma outra lógica que está na cabeça do Judiciário, e surge a partir do subfinanciamento. O cidadão vai perseguir o seu direito de cidadania, face a um sistema que não dá resposta. Mas acho que há um problema. Nós temos massa crítica, temos o INCA, temos o Ministério, temos várias experiências. Não é um problema de conhecimento científico. Temos problema jurídico-institucional-político. Essa é a tese que defendo. O Judiciário, se os protocolos partem dos gestores, do sistema que gere o SUS, já vê aquilo com desconfiança, porque acha que é um jeitinho brasileiro para fazer ajustes no Orçamento. Quer dizer, a visão primeira do Judiciário, de um promotor do Ministério Público é a de que o gestor, na verdade, quer negar ou restringir o acesso, por conta de limitações orçamentárias, e nem sempre isso é verdade. Se tivéssemos uma agência específica acima do bem e do mal, esse formato teria que ser muito bem pensado. Que tivesse legitimidade, não fosse diretamente vinculada ao Ministério da Saúde. Essa ideia seria muito mais bem aceita pelo Poder Judiciário e pelo Ministério Público. Nós temos problema de legitimação dos protocolos. Não é um problema de capacidade científica, de massa crítica, de conhecimento acumulado. Então, acho que temos de pensar essa questão da institucionalização, da regulação da incorporação tecnológica. Por outro lado, há até um problema cultural. Há vazios assistenciais no Brasil — Helvécio nos adiantou isso, Santini também, e o INCA tem esse mapeamento, o Ministério tem esse mapeamento —, mas existe também uma tradição cultural. Nós abrimos um belo serviço em Patos de Minas, noroeste do Estado. E em Unaí existe uma associação vinculada a Barretos. Descobrimos que eles viajam, na maior alegria, para essa cidade. Vão oito ônibus para lá por semana. Há toda uma organização da sociedade. Engraçado, o câncer é a doença mais carismática junto à sociedade. 44 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Seguridade Social e Família Número: 0339/12 COM REDAÇÃO FINAL 17/04/2012 (Não identificado) - Trata-se de solidariedade. O SR. DEPUTADO MARCUS PESTANA - Isso. O serviço de Patos de Minas é ótimo, é altamente resolutivo, moderno, mas eles preferem ir para Barretos. Então, essa organização da rede, em parte, é para atender aos vazios assistenciais, principalmente no norte e nordeste do Estado, mas existe também uma questão pedagógica na sociedade, de organização das referências, das pactuações e da organização dos fluxos. O SR. PRESIDENTE (Deputado Saraiva Felipe) - V.Exa. diz que o pessoal vai na maior alegria. Acontece isso por causa de Eros e Tânatos. (Intervenção fora do microfone. Ininteligível.) (Não identificado) - Eles sabem que vão ser bem atendidos em Barretos. Por isso eles vão com alegria. O SR. PRESIDENTE (Deputado Saraiva Felipe) - Já fui alertado de que está começando a Ordem do Dia. Depois da manifestação do último orador inscrito, eu gostaria de dar a palavra ao Presidente da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica, Dr. Anderson Silvestrini. Em seguida, ouviremos novamente os convidados, que terão 1 minuto para suas considerações finais. Não tenho como espichar mais o prazo, porque o começo da Ordem do Dia invalida a continuidade da audiência pública. Com a palavra o último orador inscrito, o Deputado Arnaldo Faria de Sá. O SR. DEPUTADO ARNALDO FARIA DE SÁ - Sr. Presidente, apenas uma pergunta para a Dra. Clarice. Por que, às vezes, temos acesso a sistemas e meios de tratamento de câncer na rede privada e não o temos no atendimento SUS? O SR. PRESIDENTE (Deputado Saraiva Felipe) - Responde em 1 minuto a Dra. Clarice. Depois terá 1 minuto também o Dr. Roberto Porto Fonseca. A SRA. CLARICE ALEGRE PETRAMALE - Os tratamentos que existem hoje no SUS funcionam comprovadamente, e temos biológicos no SUS também. Foi dito, não sei se V.Exa. já estava... O SR. DEPUTADO ARNALDO FARIA DE SÁ - Deixe-me oferecer à senhora um dado concreto. Há sistema HIFU de combate ao câncer de próstata no Hospital 45 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Seguridade Social e Família Número: 0339/12 COM REDAÇÃO FINAL 17/04/2012 do Câncer de São Paulo. Atende-se por meio particular, mas não pelo SUS. Há comprovação. O SUS não... A SRA. CLARICE ALEGRE PETRAMALE - Então... O SR. DEPUTADO ARNALDO FARIA DE SÁ - O sistema HIFU de combate ao câncer de próstata é um tratamento a que se tem acesso pela rede particular, mas não pelo Sistema Único. O SR. ROBERTO PORTO FONSECA - O sistema robótico tem uma coisa interessante: os efeitos colaterais e os efeitos adversos do procedimento — isso é recente — são um pouco superiores aos efeitos adversos do tratamento tradicional. A diferença também está no preço. Ele é muito mais caro. Então, esse exemplo do senhor... O SR. DEPUTADO ARNALDO FARIA DE SÁ - Mas qual efeito adverso que o senhor fala? O SR. ROBERTO PORTO FONSECA - Efeitos adversos? As complicações cirúrgicas da cirurgia robótica são maiores do que as da cirurgia tradicional. Esse é um dado americano, porque lá se utiliza muito mais do que aqui. Estou dizendo isso na qualidade de oncologista que está sempre lendo. Esse, especificamente, com todo respeito, na minha opinião, não deveria ser absorvido pelo Sistema Único de Saúde, ou seja, a robótica no tratamento do câncer de próstata. O SR. DEPUTADO ARNALDO FARIA DE SÁ - Eu gostaria de saber, já que o senhor falou, qual a adversidade desse tratamento? O SR. ROBERTO PORTO FONSECA - Efeitos colaterais vistos em cirurgia como um todo. Por exemplo, sangramento, infecção, etc. Esses são dados americanos recentes. Curiosamente, eu li no Medscape Oncology. Parece que são as duas últimas utilizações — essa é uma. O senhor me perguntou por que existem tratamentos oferecidos na área privada e não são nos SUS. Existem alguns tratamentos, e eu deixei, é claro, apenas um exemplo. Hoje, alguns tratamentos são oferecidos para a área privada deveriam ter sido incorporados pelo SUS. São alguns, mas não muitos. Existem muitos tratamentos, na minha visão pessoal, que estão sendo utilizados na área privada e que não deverão, espero eu, ser incorporados pelo Sistema Único de 46 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Seguridade Social e Família Número: 0339/12 COM REDAÇÃO FINAL 17/04/2012 Saúde, porque trazem benefícios, se trouxerem, marginais, muitas vezes, com alta toxidade e a um custo altíssimo. Posso exemplificar, se o senhor quiser? O SR. DEPUTADO ARNALDO FARIA DE SÁ - Eu só queria dar uma informação ao senhor. Essa avaliação sua é devida a estudos americanos. Eu queria dizer ao senhor que eu, particularmente, fiz essa cirurgia e deu certo para mim. O SR. ROBERTO PORTO FONSECA - Graças a Deus. Só que infelizmente, meu caro amigo, quando se fala em tratamento, ele deve ser oferecido de maneira individual, mas no âmbito da saúde pública, os resultados têm de ser avaliados coletivamente. De modo que se saiba quantos casos foram tratados, etc., durante um período X, ou seja, a avaliação coletiva é um pouco mais complexa do que uma avaliação individual. E, graças a Deus, o senhor se saiu muito bem. O SR. PRESIDENTE (Deputado Saraiva Felipe) - Agradeço ao Deputado Arnaldo Faria de Sá pela dúvida levantada, que nos esclarece a todos, e, pelo esclarecimento dado, ao Presidente da Sociedade Brasileira de Cancerologia, Dr. Roberto Porto Fonseca. Vou passar a palavra, por dois minutos, ao Dr. Anderson, Presidente da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica. O SR. ANDERSON SILVESTRINI - Boa tarde a todos. Eu gostaria de parabenizar o Deputado Saraiva Felipe e a Deputada Cida Borghetti pela iniciativa. Cumprimento todos os Deputados, os presentes e os componentes da Mesa. Como todos viram, o tema é muito importante. Não existe nenhum tópico que seja menos importante. Ouvimos aqui se falar em prevenção e diagnóstico precoce. Nada existe mais importante do que isso. Sabemos que o diagnóstico precoce aumenta as taxas de cura e é mais barato para o Estado. Ouvimos falar aqui de educação médica continuada. Acho que isso tem de partir das faculdades de medicina. Não temos cadeiras hoje de educação em oncologia nas faculdades de medicina. Acho que essa é uma grande dificuldade. Vamos sofrer mais ainda com isso nos próximos anos. O Dr. Roberto falou que em 2020 será o câncer a principal causa de morte. Então, acho que esse é um dos pontos principais pelo qual temos de lutar. 47 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Seguridade Social e Família Número: 0339/12 COM REDAÇÃO FINAL 17/04/2012 O tratamento no SUS é muito digno. Ele tem melhorado muito. Conseguimos tratar o paciente, muitas vezes, melhor do que em alguns convênios e em alguns países. Apesar de todas as dificuldades e da escassez de recursos, temos de falar que a atenção oncológica tem melhorado. Não há dúvida quanto a isso. Outro ponto muito importante que temos de salientar, e aqui foi falado: os cuidados paliativos. Na realidade, não deveria haver essa alcunha de cuidado paliativo. Ele deveria ser iniciado junto com o tratamento do paciente oncológico. Dar suporte alimentar e analgésico é importantíssimo em qualquer quadro da doença. Temos que lutar por cuidados de suporte para o paciente. Esse é outro tópico muito importante e que, às vezes, vale mais que dar um medicamento de 100 mil reais por mês. Então, é muito importante a qualidade de vida. Outro ponto muito importante é a questão da judicialização. A SBOC é completamente contra a judicialização. Na verdade, precisamos que a incorporação de tecnologia seja mais ágil. Como uma droga é aprovada para comercialização no País, com indicações no sistema privado, e o SUS não incorpora essa tecnologia? Não podemos dividir os pacientes em primeira e segunda classe. Se foi aprovado no País para comercialização, entendemos que a indicação do medicamento está correta. Com certeza, temos de discutir melhor essa incorporação e, nos casos em que a indicação é correta, que realmente seja para toda a sociedade. Um ponto não menos importante sobre o qual eu queria falar é sobre pesquisa clínica, que acho que não foi discutida aqui. Trata-se de uma forma de incorporação à sociedade de um último tratamento para aquele paciente, de maneira digna, com as melhores condições de tratamento. Então, é muito importante discutir pesquisa clínica, o que traz para o País muitos recursos. O que sai de dinheiro com a importação de medicamento vai retornar com as pesquisas clínicas de qualidade. Esses pontos são muito importantes. Existem temas para audiências públicas o ano inteiro. Eu gostaria de agradecer pela participação e por poder dar uma opinião, uma contribuição. Obrigado. O SR. PRESIDENTE (Deputado Saraiva Felipe) - Nós é que agradecemos ao Dr. Anderson pela intervenção. 48 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Seguridade Social e Família Número: 0339/12 COM REDAÇÃO FINAL 17/04/2012 Agora, o Presidente da Comissão pediu para fazer a última intervenção como Parlamentar. Se eu não lhe conceder a palavra, ele me demitirá da coordenação da Mesa. Com a palavra o Deputado Mandetta. O SR. DEPUTADO MANDETTA - Jamais, Presidente. Hoje, o senhor é o Presidente desta brilhante audiência pública. Eu me penitencio por ter chegado tão tarde em função da reunião na sede da OAB, que lançou, com mais 39 entidades, com a Associação Médica Brasileira, com o CONASS e o CONASEMS, a coleta de assinaturas para um projeto de iniciativa popular, para ver se conseguimos definir o financiamento federal à saúde em 10% das receitas brutas da União. Foi um momento muito importante para a construção do SUS, que é um desafio geracional. Escutei aqui com atenção o Dr. Santini falando sobre a história da construção, desde o início da campanha de combate ao câncer, que não para nunca. Estamos aqui, hoje, em gerações diferentes, mas todos com o mesmo objetivo, que é chegar a um momento. Acho que essa pergunta feita pelo Deputado Arnaldo Faria de Sá acabou provocando que eu fizesse uma pequena constatação. Fui Secretário por 6 anos e recebi todas as ordens judiciais de prisão e obrigação de fazer que qualquer Secretário recebe. Sempre temos todos os argumentos como gestor, argumentos de saúde pública, de protocolos, mas vi as duas realidades do sistema. Posso falar — porque foram tratamentos públicos e não individuais, amplamente noticiados — do tratamento do Presidente Lula e, principalmente, do ex-Vice-Presidente José Alencar — mais simbólico que o do Presidente Lula. O tratamento da Dilma também, mas eu ressalto o de José Alencar. Será que conseguiríamos a mesma performance para os milhares de José Alencar que temos hoje pelo sistema? Confesso que dentro da minha área de atuação, como Secretário de Saúde de Campo Grande, Mato Grosso do Sul, não me recordo de alguém que tenha feito tantas intervenções cirúrgicas, em número de 34, e diferentes tipos de quimioterapia. Não estou aqui julgando o mérito nem o conceito terapêutico aplicado. Nada disso. O desafio é dar essa oportunidade. Isso é o que motiva muitas questões levantadas aqui nesta Casa e que vão passar a nós definirmos melhor o financiamento da saúde, a rede de saúde. Aquela tentativa de 49 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Seguridade Social e Família Número: 0339/12 COM REDAÇÃO FINAL 17/04/2012 organizar a rede oncológica foi feita sem respeitar os aspectos culturais locais. Perdemos um pouco de tempo na construção naquele momento. Aprendemos com os nossos próprios erros. É assim que vamos construir o sistema. Deixo aqui alguns dados para reflexão. Sei que é vontade do Dr. Roberto falar: "Claro que conseguimos, claro que fazemos, claro que o SUS dá conta". Tenho certeza de que ainda temos um grande caminho de educação, de acesso, de busca de informação para achar os rumos desse tratamento. Parabenizo os autores desta audiência pública, o meu Ministro Saraiva Felipe pela brilhante condução, como lhe é peculiar e usual. Obrigado pela deferência, Presidente. O SR. PRESIDENTE (Deputado Saraiva Felipe) - Obrigado, Deputado Mandetta. Agora teremos, na mesma ordem de apresentação, um minuto para as considerações finais do Dr. Roberto Porto Fonseca, Presidente da Sociedade Brasileira de Cancerologia. O SR. ROBERTO PORTO FONSECA - Deputado Mandetta, senhores, o sistema de atenção à saúde no País necessita de mais recursos financeiros. Eu não tenho a menor dúvida disso. Ele também necessita de mais e melhores gestores. A gestão é fundamental também. Com relação especificamente à questão do câncer, acreditamos, bem como o Dr. Anderson, que quando o paciente tem acesso aos CACONS pelo País afora, de maneira geral, é muito bem atendido. O tratamento feito à nossa citada Presidenta é hoje perfeitamente oferecido pelo Sistema Único de Saúde no Brasil inteiro. O tratamento feito pelo ex-Presidente Lula é oferecido também em CACONS do País inteiro. O senhor pode modificar um ou outro protocolo de quimioterapia, mas, no fundo, ele é também feito. O tratamento feito pelo ex-Vice-Presidente José Alencar, que fez várias cirurgias, também pode ser oferecido pelo Sistema Único de Saúde. Existem áreas deste País que não são melhores por falta de infraestrutura. A única situação que eu gostaria de deixar clara, para finalizar a conversa, é a nossa cultura com relação à atenção à saúde de modo geral, que deve necessariamente incorporar a avaliação de resultados. A sociedade necessita — e nós temos obrigação de estar sempre fornecendo — de informações claras, transparentes de 50 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Seguridade Social e Família Número: 0339/12 COM REDAÇÃO FINAL 17/04/2012 onde e como o dinheiro está sendo gasto. Oferecer tratamento é muito importante; oferecer tratamento de qualidade é mais importante ainda. Nós só vamos saber se estamos oferecendo tratamento de qualidade ou não estando perene e permanentemente avaliando aquilo que foi feito. Quantos tratamentos de câncer de mama foram feitos pelos CACONs do BRASIL há 2 anos? Milhares. Qual o resultado, comparativamente à literatura mundial, etc.? Era só isso que eu gostaria de deixar claro. Existem, Sr. Deputado, uma série de medicamentos que a saúde suplementar oferece aos pacientes que não foram incorporados pelo SUS. Não são poucos. Particularmente, acreditamos que jamais deveriam ser porque não trazem benefício, trazem uma toxidade grande e a um custo alto, assim como há tratamentos medicamentosos que devem ser incorporados. O SR. DEPUTADO ARNALDO FARIA DE SÁ - O senhor devia denunciar quais são os medicamentos. O SR. ROBERTO PORTO FONSECA - Posso. Nós podemos fazer uma reunião só para isso. Eu estarei aqui e trarei. O SR. PRESIDENTE (Deputado Saraiva Felipe) - Eu gostaria, passando a palavra ao Dr. Santini, de dizer, Deputado Arnaldo, que aqui já tivemos a situação de algumas constatações, e temos de correr muito atrás. Por exemplo, 62,8% das pessoas não têm acesso, no tempo adequado, à radioterapia. Isso foi apresentado pelo Dr. Santini. O Dr. Roberto apresentou que alguns medicamentos que deveriam ser incorporados, porque significam avanço tecnológico, estão sendo estudados na área da Dra. Clarice... O SR. DEPUTADO ARNALDO FARIA DE SÁ - Estou preocupado com aqueles que ele disse que não devem ser incorporados e que estão sendo disponibilizados. Se estão sendo disponibilizados e não têm o efeito que deveriam ter, vamos denunciar. O SR. PRESIDENTE (Deputado Saraiva Felipe) - Concedo a palavra, para suas considerações finais, ao Dr. Santini e depois à Dra. Clarisse. O SR. LUIZ ANTÔNIO SANTINI - Mais uma vez, agradecemos à Comissão pela oportunidade. 51 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Seguridade Social e Família Número: 0339/12 COM REDAÇÃO FINAL 17/04/2012 Quero apenas dizer, em relação aos dados que apresentei, que esses 62% são os que têm acesso. Então, 38% não têm acesso à radioterapia. Apenas eu queria corrigir o número. Sem dúvida alguma, é superimportante que possamos estender o acesso a todos e não justificar número algum. Estou apenas esclarecendo, mas sem querer justificá-lo. Precisamos alcançar todos com o tratamento adequado. Para isso, eu gostaria de sublinhar e enfatizar duas considerações que ao longo de todo esse debate foram apresentadas e julgo fundamentais. Uma, a questão da capacitação de pessoal. O nosso grande desafio hoje é ter pessoal adequado para tratar esta demanda crescente de atenção ao câncer no País. Esse é um grande desafio que vamos precisar discutir fortemente. Outra questão é o mecanismo de avaliação, sublinhada pelo Sr. Deputado Marcos Pestana de forma muito precisa e muita clara. A Inglaterra desenvolveu um sistema, uma agência que permite que uma instituição, um órgão independente, não governamental, com a participação da sociedade, faça avaliação da incorporação tecnológica. Então, além daquela que é feita pelo Governo e necessariamente precisa ser feita pelo Governo, seria muito importante a existência de um órgão, uma espécie de agência ou algo desse tipo, com a participação da sociedade, fazendo o debate pela sua complexidade. Realmente, esse não é tema que pode ser tratado de maneira tão linear de causalidade como a maioria do nosso paradigma das doenças infecciosas nos leva a acreditar. Quer dizer, o nosso paradigma de causalidade, a visão que temos de causa e efeito não aplica ao câncer. O modelo do câncer é outro, não é este de causalidade. Por isso, a forma de avaliar tem de ser diferente, pois que as intervenções, as estratégias são muito diferentes. Então, acho que é um desafio para o nosso País constituir alguma instância que tenha essa capacidade de análise e de avaliação em benefício da sociedade, não para poupar ou direcionar recursos, mas para beneficiar a própria sociedade. Muito obrigado, Sr. Deputado Saraiva, Sras. e Srs. Deputados e todos os presentes. O SR. PRESIDENTE (Deputado Saraiva Felipe) - Para o nosso fecho de ouro, passo a palavra à Dra. Clarisse. 52 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Seguridade Social e Família Número: 0339/12 COM REDAÇÃO FINAL 17/04/2012 A SRA. CLARISSE ALEGRE PETRAMALE - Esse debate realmente distingue o direito à saúde individual e o direito público, questões que vamos discutir sempre. Estaremos preparados para analisar todas as novas tecnologias que vierem e forem pautadas para nós. Sabemos que a tecnologia cresce e chega exponencialmente porque é uma área de lucro muito importante, uma área de inovação, uma área de inovação, uma área de negócios, uma área de empregos, ou seja, uma área viva de uma sociedade capitalista. Então, teremos de estar preparados para analisar essas tecnologias sobre as quais estamos falando aqui e novas outras que chegarão no mês seguinte, no ano seguinte. O método tem de ser transparente, de modo que, seja uma agência fora do Ministério, seja um local, uma área, dentro do Ministério da Saúde, possamos demonstrar para a comunidade, para a sociedade, para as sociedades de especialidade, não só que deliberamos contra ou a favor, mas embasados em que isso foi deliberado. Ou seja, buscando saber quais os estudos ou em que o grupo se baseou para chegar a esse resultado. É claro que existem ganhos e perdas em ser uma agência, em ser uma área de um Ministério. Existem motivos para ser a favor ou contra. Não sou eu quem vai dizer como o Brasil vai fazer. No momento, o Brasil fez dessa forma, dentro do Ministério, o que não exclui a possibilidade de que isso mude no futuro. Mas, dentro ou fora, sempre as evidências devem ser transparentes, clarificadas e mostradas para todos, para que se tenha condição não só de se convencer e de refazer a compilação de dados feita pelo grupo que analisou a questão. O monitoramento do resultado, conforme os colegas falaram, é tudo e mais um pouco. Os estudos que qualquer agência do mundo, inclusive a ANVISA, aceita para registro são estudos curtos com desfechos intermediários. Podemos mudar a ANVISA, mas não podemos mudar as agências do mundo. As agências do mundo são assim. (Não identificado) - A NICE não. A SRA. CLARISSE ALEGRE PETRAMALE - A NICE não. A NICE não é uma agência que registra produtos, ela incorpora, faz mais ou menos o papel que nós no futuro queremos ter. Contudo, agências que aprovam a comercialização de um produto no País, seja FDA, EMA, na Europa e no Brasil, seguem o mesmo modelo. Estudos patrocinados de curta duração com comparadores ou placebos, ou 53 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Seguridade Social e Família Número: 0339/12 COM REDAÇÃO FINAL 17/04/2012 comparadores não excelentes, muitas vezes, e estudos de não inferioridade, estudos que provam que ele é um pouco melhor do que não fazer nada. Então, realmente, precisamos aprofundar os estudos, se desejamos incorporar. Se parece que há realmente um potencial de benefício nessa tecnologia, vamos incorporá-la, mas vamos medir os resultados e os desfechos relevantes ao paciente, que são: não morrer, não precisar ser internado, não ter tantas recidivas, voltar ao trabalho. São esses desfechos que importam ao ser humano. Contudo, reduzir uma enzima em 10% não modifica a vida de um sujeito. Então, acho que é preciso, sim, ter pesquisas, ter registros de cortes, cortes de pacientes que são acompanhados com sistemas de tratamento de forma integrada, porque o câncer não vai ser resolvido com um tratamento, mas com um conjunto de tratamentos. Temos de chegar à conclusão de que realmente tivemos algum benefício, não tivemos nenhum benefício, tivemos malefício e retiramos aquela tecnologia que parecia promissora e aprendemos mais um pouco. Assim, a humanidade avança, desde que o mundo é mundo. O SR. PRESIDENTE (Deputado Saraiva Felipe) - Obrigada, Dra. Clarisse. Agradeço aos convidados pelas ilustres presenças. Agradeço às pessoas pela atenção durante mais de 3 horas às discussões. Nada mais havendo a tratar, vou encerrar a presente reunião. Antes, convoco, em nome do nosso Presidente Mandetta, reunião ordinária deliberativa, quarta-feira, dia 18 de abril, às 9 horas, neste Plenário 7, para apreciação dos itens constantes da pauta. Esta encerrada esta audiência pública. Muito obrigado. 54