EVIDÊNCIAS DO CONTROLE TECTÔNICO NO RELEVO DE MANAUS (AM) Samiraluz de Menezes Campos1, Clauzionor Lima da Silva2, Pedro Fonseca de Almeida e Val2, Noberto Morales3 1 HRT – Geologia/ Depto. de Exploração, rua Ponta Grossa, 10 A, Manaus (AM); [email protected]; 2 Departamento de Geociências, Instituto de Ciências Exatas, Setor Sul do Campus da Universidade Federal do Amazonas- Av. Gal Costa Rodrigo Otávio Jordão Ramos, 3000, CEP 69077-000, Coroado, Manaus- Amazonas; 3 Universidade Estadual Paulista, campus de Rio Claro (SP), Departamento de Petrologia e Metalogenia, CEP 13506-900, Bela Vista, Rio Claro - SP INTRODUÇÃO Os estudos neotectônicos realizados em Manaus (AM) têm mostrado um quadro tectônico para o cenozóico muito significativo, conforme os estudos de Sternberg, (1950), Igreja & Franzinelli (1990), Fernandes Filho et al. (1997), Silva (2005), Silva et al. (2007), Campos (2010), dentre outros. As deformações de natureza rúptil promoveram o deslocamento das camadas cretácicas da Formação Alter do Chão e os horizontes de solo, mostrando blocos basculados e rotacionados, com estruturas planares ou lístricas, dobras de arrasto e estruturas em volteio. Na paisagem, o controle tectônico de rios e o condicionamento do relevo a essa estruturação tem sido comprovada por análise em sensores remotos, faltando comprovações de dados em campo. Particularmente na cidade de Manaus (AM) muitos são os locais que podem ser notadas essas estruturas, onde é possível correlacionar tal deformação ao controle efetivo da paisagem. Com esse objetivo, esse estudo em particular procurou mapear e descrever as falhas que ocorrem na porção oeste da referida cidade e correlacionar com a o relevo dessa área de estudo e o quadro neotectônico existente. MATERIAIS E MÉTODOS A análise estrutural envolveu a obtenção de dados de falhas e fraturas, especialmente no setor próximo a zona de Falha do Rio Negro, em corte de estrada e afloramentos na margem do rio Negro. Para essa análise em detalhe, utilizou-se de imagens Quickbird, com resolução de 1 metro, para locação dos pontos. Dados cartográficos de cartas topográficas na escala 1:10.000 foram essenciais para o estudo do relevo e da drenagem, os quais foram subsidiados pelo Modelo Digital de Elevação (SRTM). Nos perfis selecionados foram realizados o registro e tratamento computacional do conjunto de fotos obtido. Os dados de falhas e fraturas foram obtidos e tratados nos softwares WinTensor, FP Tectonic e Stereonet. A análise estrutural foi correlacionada com os dados morfoestruturais para atender os objetivos do estudo. RESULTADOS E DISCUSSÕES A unidade geológica que aflora na região de Manaus compreende sedimentos cretáceos da Fm. Alter do Chão, composta por arenitos e argilitos bastante intemperizados, sobre os quais se desenvolveu crostas lateríticas ferruginosas e, eventualmente, coberturas coluvionares modernas. Nesse conjunto litológico invariavelmente estão deslocados por falhas que ora estão restritas a unidade do Cretáceo ora deformam toda a sequência. A cidade está situada num Planalto Dissecado, cuja cota não é superior a 100 metros, entrecortada por inúmeros cursos d’água regionalmente designados de igarapés. Os estudos neotectônicos consideram que feições no relevo (divisores de bacias, alinhamentos de colinas, formação de terraços, etc.) e na drenagem (forma, padrão e retilinizações) estão ambos condicionados por zonas de falhas cenozóicas. A cidade de Manaus constitui uma área onde a observação de falhas é singular, o que permite a correlação entre as formas do relevo e drenagem com as falhas observadas em corte de estrada e alguns afloramentos. Em especial, a porção oeste, nas proximidades com o rio Negro, afluente do rio Amazonas, cuja estruturação é formada por falhas normais N30W com mergulho ora para sudoeste, conforme Silva (2005). O primeiro perfil analisado está situado cerca de 300 metros da Praia da Ponta Negra, próximo a margem do rio Negro cerca de 40 metros de cota. Nesse local ocorre uma série de falhas subsidiárias à falha principal normal que corta somente a Fm. Alter do Chão, a qual possui geometria plana, dobras de arrasto e apresentando orientação N45E/35SE. Nesse corte, também foi notado o desenvolvimento de falhas normais sindeposicionais, com direção geral N40E/65NW e N24E/40SE, mas também falhas transcorrentes igualmente restritas à Fm. Alter do Chão, em sistema transtensivo, cuja atitude é N40E/65NW. Aliás, esse sistema já havia sido mapeado em outro estudo (Oliveira et al. 1995). No segundo perfil, situada a montante do local anterior, em direção ao topo do relevo, cerca de 60 metros de altitude, predominam camadas de latossolo com níveis lateríticos e nível saprolítico da unidade do Cretáceo. A falha observada nesse talude de corte se caracteriza por falhas normais, com superfícies planas, em padrão dominó, possuindo dobras de arrasto que geram estruturas antiformais desenvolvidas no bloco alto. As orientações obtidas dessas falhas, N20W/50SW, N30W/60SW e N35W/65SW, mostram estrita correlação com a orientação do rio Negro. Mais adiante, seguindo o sentido do topo do relevo, o terceiro perfil analisado apresenta a mesma disposição das camadas de solo notada no perfil anterior. Esse local é o que apresenta maior distribuição de falhas. As falhas inversas observadas estão limitadas à Fm. Alter do Chão e não afetam os níveis superiores da camada. Estas possuem orientação N12E/57SE e N08E/34SE e apresentam dobras de arrasto e geometria do tipo popup. As falhas normais que cortam toda a sequência da unidade geológica e não afeta o nível laterítico têm direção N46E/60SE, N46E/35NW, N30E/45NW, N18E/55SE e N32E/40NW, estrias bem marcadas, geometria plana e formam estruturas tipo horstes e grábens. As falhas normais que seccionam todo o conjunto incluindo a crosta laterítica têm direção N30W/60SW e N38W/50NE e presentam geometria lístrica típica, com rotação de blocos. Também foram notadas falhas inversas com atitude E-W/35E que se associam a um evento mais novo, pois cortam toda a sequência. Fez-se, então, uma secção geológica representativa desse levantamento, identificando as zonas de falhas normais na secção, pois são as que cortam o solo (crosta laterítica). Próximo à Praia da Ponta Negra (em Manaus), nos locais designados de (P1) e (P2), as falhas normais com médio ângulo de mergulho (40º a 60º) para SE, enquanto que nas secções na Avenida do Futuro (P3), na Av. do Turismo, próximo ao Aeroporto Eduardo Gomes (P4), e nos perfis (P5) e (P6), essas falhas normais apresentam inclinação de baixo a médio ângulo (25º a 60º), mergulhando para NW. Notou-se, portanto, que a direção das falhas N30W coincide com a orientação das vertentes na margem oeste da cidade, a qual tem relação estreita com a orientação do próprio rio Negro. O desenvolvimento de geometria de horste e gráben nota-se se associam às orientações dos igarapés. No entanto, as direções dos principais igarapés que cortam a cidade têm direção NE-SW. Tal orientação se deve ao condicionamento dos cursos d’água a orientação estrutural do substrato da Fm. Alter do Chão, formando, portanto, drenagens com padrão subsequente. CONCLUSÕES Eventos tectônicos sucessivos foram desenvolvidos nessa região da Bacia do Amazonas, mostrando um tectonismo atuante desde o Cretáceo. Falhas sindeposicionais foram ligadas à fase extensiva que depositou a Fm. Alter do Chão, posteriormente sobrepostas por falhas transcorrentes e falhas normais em regime transcorrente transtensivo, pouco abordado na literatura. As falhas mais recentes, predominando tipo normal, mas com transcorrência associada, provavelmente Plio-Pleistoceno a Quaternárias, controla o relevo atual (margem do rio Negro). O arranjo estrutural dessas falhas se correlaciona com as formas do relevo da cidade de Manaus (AM), predominando a direção N30W que controla a orientação do rio Negro. As drenagens que cortam a cidade se caracterizam como subsequentes, pois estão condicionadas pelas falhas normais NE-SW que cortam a unidade Alter do Chão. REFERÊNCIAS Campos, S.M. 2010. Geometria das falhas na porções oeste da cidade de Manaus (AM). Trabalho Final de Graduação. Universidade Federal do Amazonas, Depto. Geociências. Fernandes Filho, L.A., Costa, M.L., Costa, J.B.S. Registros neotectônicos nos laterítos de Manaus - Amazonas. Geociências, v. 16, n. 1, p. 9-34, 1997. Hasui, Y. Neotectônica e aspectos da tectônica ressurgente no Brasil. In: WORK-SHOP SOBRE NEOTECTÔNICA E SEDIMENTAÇÃO CENOZÓICA NO SUDESTE DO BRASIL, 1, Belo 1990, Horizonte, Resumos expandidos.... Belo Horizonte, SBG/SE, 1990, p. 1-31. Igreja, H. L. S., Franzinelli, E. Estudos neotectônicos na região do baixo rio Negro – centro-nordeste do Estado do Amazonas. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE GEOLOGIA, 36, 1990, Manaus. Resumos expandidos... Manaus: SBG/NO, 1990, v. 5, p. 2099-2108. Oliveira, M.J.R., Fraga, L.M.B., Leal, P.C., Nava, D.B. Feições estruturais meso-cenozóicas em um perfil na região do Tarumã, Manaus (AM). In: Simpósio Nacional de Estudos Tectônicos, 5, 1995, Gramados. Anais... Gramado: SBG, 1995, p. 435-7. Silva, C. L. Análise da tectônica cenozóica na região de Manaus e adjacências. Rio Claro, 2005, 282p. Tese (Doutorado em Geologia Regional) – Universidade Estadual Paulista, Instituto de Geociências e Ciências Exatas. Silva C. L., Morales, N., Crósta, A.P., Costa, S.S., Jimenez-Rueda, J.R. Analysis of tectonic-controlled fluvial morphology and sedimentary processes of the western amazon basin: an approach using satellite images and digital elevation model. Anais da Academia Brasileira de Ciências, v.79, n. 4, p. 693-711, 2007. Sternberg, H.O.R. Vales tectônicos na planície amazônica?. Revista Brasileira de Geografia, v. 12, n. 4, p. 3-26, 1950.