Sociologia no ensino medio

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Sociologia no ensino medio a algumas exigências
curriculares
Inicialmente é preciso destacar alguns aspectos históricos
significativos:
- A sociologia , no Brasil, tem sua presença no ensino
médio fragmentadamente em 1925;.
- Com a reforma Francisco Campos em 1931, ratifica-se o
ensino de Sociologia para os cursos de Ensino Médio;
- Mas, a partir de 1933/34, com a criaçao da escola Livre
de sociologia e Politica de São Paulo e da Faculdade de
Filosofia, Ciências e Letras da USP, inicia-se uma
preocupaçao de pensar , náo como ilustraçao cultural,
mas pensar o Brasil verdadeiro e não o Brasil sob a ótica
do colonizador, do etnocentrismo europeu. Daí o estudo
sistemático, como pesquisa, como sociologia
significativa e não como senso comum do social.
- Em 1942 a Reforma Capaema, sob forte influência da
igreja, retira a obrigatoriedade da Sociologia no Ensino
Médio, embora permaneçam os poucos cursos
universitários.
- Em 1964 o golpe civil militar inibe o pensamento crítico e
abre caminho para uma efetiva condenaçào da filosofia
e da sociologia como currículo formativo nas escolas..
- Em 1968 é proibido o ensino de sociologia e filosofia no
Ensino Mëdio, professores universitários são cassados
e a reforma do governo militar, para as universidades,
através do decreto 5440 e com a instituiçao como
obrigatórias das disciplinas OSPB ( Organizaçao Social
e Política Brasileira) e Moral e Civismo.
- Em 1988 é promulgada a nova constituiçao liberal, que
novamente abre caminho para uma nova reforma
educacional.
- Dez anos depois, em 1996 é aprovada a nova LDB onde
se exige dos educandos do Ensino Médio: “dominio dos
conhecimentos de Filosofia e Sociologia” interpretado
pela maioria das autoridades educacionais e pelos
empresários do ensino que iesta formulação nào
obrigava a filosofia e a sociologia como disciplinas
específicas.
- Em 2006 é aprovado parecer do Conselho Nacional de
Educaçao exigindo a obrigatoriedade do Ensino de
Sociologia e filosofia no Ensino Médio, embora
questionado por alguns estados da federação.
- Em 2008, depois de vinte e três anos de governo civil e
vinte anos depois da constituição de 1988 , é aprovada
pelo senado e sancionada pelo presidente da
Republica, a lei que obriga ambas as disciplinas no
Ensino Médio.
Resumindo num quadro, situa-se o seguinte:17 anos entre
1925 e 1942 a preseça da Sociologia no Ensino Médio,
contando até 2008, são 83 anos de interrupções, repressão e
limitações diversas: políticas, culturais, institucionais e
policiais.
Na pós graduaçao o Ensino de Sociologia, também é recente
se considerarmos que de forma mais abrangente se institui a
pesquisa sociológica nas universidade públicas a partir dos
anos 1970, sem acervos significativos e sem doutores
suficientes para atender à demanda da própria pósgraduaçao.
Mal iniciada, mal recomeçada, fragmentada sistematicamente
, que geraçoes foram formadas? Quais sequelas educacioais
e politicamente formativas foram produzidas?
A retomada agora , em 2008, sob um desafio que abrange
uma demanda de pelo menos 30 mil novos profesores, sem
considerar que muitos ds atuais mestres de sociologia e
filosofia nào tem licenciatura ou mesmo formaçào específica
nestas dscilplinas. Considere-se ainda que a lógica das
informaçòes são mais dependentes da lógica digital do que
analógica, bem como a mídia em geral.
A Sociologia sempre foi vítima de suas próprias contradições
, como síntese dos metabolismos societários. Mas agora
encontra-se surpresa com um mundo em transformaçoes
sociais e ambientais , quando o caracter, dessas
transformaçoes, no que há de substantivos, é negligenciado.
Lembre-se aqui os parâmetros curriculares nacionais – PCNs,
1999/2002, que além de não obrigarem as disciplinas de
filosofia e sociologia, centravam-se na preocupaçáo do
ensinar a fazer – ou seja, competnências e habilidades,
para um mundo que ergue-se pelo trabalho e esforça-se para
deixar fora dele um percentual significativo de trabalhadores.
Soluçao : abando do conceito de trabalho ( como situada
pelos clássicos) como vingança a uma sociedade que
camufla esta atividade, daí o chamado a trabalhar mais, ao
mesmo tempo dizendo-se prescindir do trabalho como
categoria explicativa, induzindo auntonomizá-lo dos custos
sociais e previdenciários aí envolvidos. Como? Através de um
ato de mágica: a capacitação resolve, no discurso protoliberal , o mundo globalizado, competitivo e individualista tem
como panacéia a capacitação imediata, ligeira, e sem
reflexão ontológica.
Escondendo-se das crises estruturais , são remetidas e/ou
cobradas das escolas soluções que estas não têm.
Nestas condições, os espaços reais para a sociologia e
filosofia são cada vez mais restritos, embora mais
formalizada legalmente.
É possivel tirar Comte, Spencer, Marx, Durkheim, Weber e
Parsons da Sociologia? Sim, basta tirar a categoria trabalho.
Mas que tal mantê-los sem esta categoria? É a Sociologia
como simulacro e a escola como simulacro.
Voltemos à questáo: como dito anteriormente, agora
“oficializada” nacionalmente a sociologia se encontra
surpresa com um mundo em mudanças profundas. Os
ultimos 40 anos, testemunham transformaçoes, mudanças
criativas e destrutivas
numa escala e numa velocidade não imaginadas. Combinase isso com as restriçoes ao “pensar sociológico” , sem um
balanço de suas consequências definimos um novo (velho)
projeto?
As consequências poderíam pelo menos considerar:  sem
disciplina formadora restringe-se aquilo que mais reivindicase nas Ciências Sociais, a reflexão crítica:  pelo menos
sobre as condiçoes minimas para sobreviver aos riscos, não
mais como evidências relativizadas , mas como condição de
vida social, daí este termo, risco, também ser usado como
categoria explicativa, embora nem sempre relacionando-o
historicamente à outras categorias sociológicas da teoria
crítica.
Portanto, como estabelecer parâmetro de controle e equilibrio
societário sem abordagens cientificas dos fatos sociais?
Reside aí, uma tentaçao à regressividade: buscar noutros
fatos ( náo sociais) as explicacóes dos fatos sociais. Neste
balanço, joga-se fora, pelo menos, mais de um século de
sociologia significativa. Ora, o ensino de Sociologia torna-se
uma necessidade social quando lecionado como disciplina no
Ensino Médio, porque demanda professores, pesquisas e
acervos. Porque somente na graduaçao universitária,
isoladamente e cada vez mais restritas, é mais uma
preocupaçao profissional, sem reflerências concretas. E na
pós-graduaçao, resiste como uma organizaçao da
comunidade de pesquisa. Se na graduaçao, sem o ensino
Médio, a profissionalizaçao da graduaçao torna-se repleta de
lacunas formativas e imprecisas, na pós, a improvisaçao não
científica apresenta-se como interdisciplinariedade. Este é o
balanço da sociologia científica como náo significativa, na
academia tentar tornas estático o que é dinâmico, como
estratégia de sobreviv6encia profissional..
Enfim, estas rápidas referências aqui citadas são para
entenderm os que não temos uma avaliaçao qualitativa
dessas consequências e isso nos mais diferentes âmbitos em
que reclama-se as crises, as incertezas, a construção
intersubjetiva e o sufocamento da esfera pública.
Consequências também no plano ético, nas mudanças
ambientais e sociais, na geografia humana da mundializaçao,
na precarizaçao dos contratos, inclusive do trabalho.
Nos planos descritivo e fenomênico, os dados sáo
conhecidos, os déficits sociais, e a moratória moral na
circularidade sistêmica da corrupçao nas diferentes
instituiçoes.
E as resistências? Os jovens de 1968 questionavam as
instituiçoes da ditadura, rebelavam-se contra suas polícias
que defendiam a proibiçao de pensar. Hoje, os jovens
rebelam-se contra a polícia que defende a anomia, a policia
que perde sua legitimidade e o monopólio da violência: para
que o Estado?
A juventude é conservadora, não conforma-se com a
desagregaçao, com o individualismo que destrói os
fundamentos do comunitarismo societal (Spencer tinha razáo
contra Durkheim?) . Os jovens que são insurgentes são vistos
como radicais por buscarem uma ponto de equilibrio na
sociedade desagregadora.
Os pais dizem: preparem-se para o mercado.
As escolas dizem: formem-se para o mercado.
E o mercado desagrega, coloca o individuo como competidor
( sem a solidariedade da divisão do trabalho social ) e tem a
própria vida banalizada. E ainda sem uma normatividade que
seja respeitada até o próximo negócio.
Posto assim, a questão é : qual o balanço que a Sociologia
faz da sua ausência ?
Temos um grande desafio. Nenhuma resposta terá
repercussão se não operar formativamente, como ensino
crítico integrando os chamados três níveis ( médio, superior
e pós graduaçao) . Se não formamos professores que sejam
realmente professores e não simulacros de um espetáculo
repetitivo e sem audiência.
A escola, com uma hierarquia meramente custodial ( como
dizia Ivan Illich) torna-se uma comédia mediocre e a
Sociologia um verniz que não resistirá ao primeiro sol que
venha das ruas.
O parecer aprovado no Conselho Nacional de educaçao,
agora confirmado como lei, é um marco histórico se assim o
situarmos. Além da avaliaçao quantitativa, é necessária uma
análise sociológica das mudanças que estáo em curso. Quem
são os jovens professores e alunos dessa nova geraçao e
sua futuridade com relaçao às próximas? O problema está
posto e Não se forma um sociólogo em apenas uma geraçao.
Frente a essas conjecturas cito aqui uma referêrncia a uma
experiência em andamento em Santa catarina. Trata-se do
LEFIS. – Laboratório Interdisciplinar de Filosofia e Sociologia
que iniciou-se em março de 2004.
Estamos llonge de responder estas questões, mas pelo
menos aponta uma direção a ser considerada, ou seja,
pensar o crrúculo do ensino das humanidades e suas novas
propostas articuladamente à outros fatos identitários e
contraditoriamente existentes.
Quanto ao seu histórico, uma breve referência sobre o
LEFIS:
– Eem dez de 2002 o LASTRO (Laboratório de Sociologia
do Trabalho) reune prefesores de sociologia do ensino
médio para apresentar um projeto de uma Biblioteca
Digital, em implantação. E aí nos surpreendemos com os
fatos; o mais simples, nunca os professores da rede
pública, de sociologia, tinham se reunido. Imaginem
então a pauta desta primeira conversa.
–
– Como consequência foram realizados dois encontros:
um regional, incluindo somente docentes de sociologia
e outro estadual, já incluindo tam bém od docentes de
filosofia.
–
– Os problemas comuns no primeiro encontro em dez.
2002: curriculo desarticulado, não acatado, falta de
acervo, de programas de ensino, de melhor qualificaçao
dos docentes, além de sofríveis condiçoes de trabalho.
–
– O segundo encontro – junho de 2003 : reduzido numero
de aulas para estas disciplinas, ainda a falta de acervo,
bem como a falta de professores habilitados.
–
No segundo encontro, integrando docentes de filosofia e
sociologia, sendoo este encontro já de expressão estadual foi
assinado o convênio UFSC e Secretaria Estadual de
Educação para criação do LEFIS, como uma das iniciativas
mediadoras entre os diferentes níveis de ensino e a pesquisa,
bem como a tentativa de atuarmos de forma multidisciplinar.
Ainda em 2003 o LEFIS é implantado no Colégio Simão
Hess, justamente evitando concentrar na universidade as
estruturas de qualidade, para discutir teorias deslocadas da
realidade escolar pública.
Bom, juntando todas estas considerações, é como se
estivesse ausente uma Sociologia da Sociologia, que
contribuisse de forma ampla e sistemática com sua própria
problematização, quer dizer, suas possibilidades, para influir
de forma consequente com as políticas educacionais.
São poucas as dissertaçoes que abordam a sociologia, entre
1987 e 2004, talves não cheguem a dez.náo passam de 9.
Fato que foi mais promissor no pós guerra e mesmo nos anos
1960.
Portanto, falta-nos reflexões orientadoras, para além das
“certezas” do mercado
Outro fator importante: se a pós-graduação tornou-se o
refúgio da Sociologia, mesmo para os não sociologos este
marfim pode virar gelo . Isso pode estar acontecendo também
com a filosofia?
Uma perspectiva integrada, dos diferentes níveis é urgência
como política educacional , política científica, quase ausente
das avaliaçoes das agências de fomento.
Por ultimo, não esqueçamos de 1925 e 1942 no Brasil,
inclusão e exclusão da Sociologia. Portanto, hoje bem vindos
a outra página da história, mas nada nos assegura que não
retroagiremos a capítulos passados.
Refletindo as várias oficinas e cursos junto aos professores
de filosofia e sociologia do ensino médio, é possível postular
que a sociologia para sustentar-se não é um fim em si
mesmo, não deve se resumir a formar sociologos para
lecionar Sociologia. Assim como a filosofia.
1- Pensar as Ciências Sociais e não só a Sociologia;
2- Integraçao dos 3 níveis ou da educaçao como um todo;
3- Não dissociar o ensino da da pesquisa, mais do que
usar recursos didáticos ou facilitadores em si, ou
entusiasmar-se com os modismos curriculares, é
necessários levar as pesquisas da pós ao Ensino Médio
como material de ensino. A pesquisa como atividade no
Ensino Médio.
4- Por último, pode sim ser aberto ou suscetivel às
transformaçoes históricas o saber que for polifônico, ou
seja, dialógico socialmente nos grandes impasses que
atravessam as civilizaçoes ; Daí, ao invés da
fragmentação aleatória e mesmo irracionalista, é
possível postular centralidades, algumas serão
superadas e outras perdurarão um pouco mais. Por
exemplo: alienação, capitalismo e as
sobredeterminacões sociais.Ignorar estas e outras
centralidades não é útil nem à sociologia da ignorância.
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