olhos postos além-fronteiras

Propaganda
OLHOS POSTOS ALÉM-FRONTEIRAS
No coração do mundo, por todo o mundo
SUBSÍDIO PARA OS
ENCONTROS DE GRUPO
Ano pastoral
2012 -2013
1
Subsídio para os encontros de grupo
O cargo de Anna Maria Cipriano (Presidente da Confederação CVS Internacional)
Colaboraram:
Ângela Petitti - SOdC
Anna Maria Cipriano - SOdC
Gonzalo Rendón – Biblista
Mauro Anselmo - Jornalista
Samar Al Nameh - SOdC
Traduções:
Francês: Schirmer Adrienne
Inglês: Altobelli Barbara
Polaco: Jelonek Eulalia e Izabela Rutkowska
Português: Bastos Armando
Espanhol: Blanco Perez Aníbal
Húngaro: Lupsa Norbert
A “CVS Internacional” é uma Confederação Internacional aprovada pelo Conselho Pontifício para
os Leigos, no ano 2004.
Tem como objectivo promover, favorecer e assegurar a realização da intuição carismática de Mons.
Luís Novarese que vê no sofrimento, oferecido pela pessoa, uma participação no mistério pascal de
Cristo que a converte em apóstolo. Assim a pessoa que sofre transforma-se em “primícia e profecia”
para a valorização de toda a forma de sofrimento presente na vida do homem. Tudo isto com
espírito de profunda adesão aos apelos de oração e penitência, próprios da espiritualidade mariana
de Lourdes e Fátima.
2
A Confederação reconhece as duas aparições como momentos e lugares da sua origem espiritual.
A Confederação CVS está presente na Europa, Ásia, África, Estados Unidos da América e América
Latina.
3
Índice
Apresentação ………………………………………………………...………..................…… pág. 4
Indicações práticas para a utilização das fichas ………………………............................…… pág. 5
Fichas de 1 a 12 …………………………………………………………..................….... ..… pág. 7
Em cada ficha:
 Texto bíblico
 Reflexão
 Salmo
 Compromisso no apostolado
Apêndice
Celebração
Ritual de Adesão …………………………...………………………………...................……pág. 40
Textos de apoio
Credo de Mons. Luís Novarese …………………………........................................................ pág. 45
Necessidade que os Voluntários do Sofrimento dêem na Igreja testemunho específico.......... pág. 46
Viver a fé no sofrimento – O ensinamento de Mons. Novarese ……….........................……. pág. 49
4
APRESENTAÇÃO
Além-fronteiras: na pátria dos servos
Sair de nós mesmos, ir ao encontro dos outros. Deixar os terrores da supremacia social e cultural,
entrar discretamente na pátria dos outros. Ir além das pretensões estéreis dos ritos e das
observâncias, entrar no espaço santo da fé, da vida como dom. Quando fixamos o olhar para além
das fronteiras aprendemos a conhecer o espaço do amor. É esta a mudança radical que Jesus
testemunha, em toda a sua existência. No ensinamento e na prática, o filho do carpinteiro de Nazaré
destruiu o conceito de domínio, mostrando o rosto de um Deus ao serviço dos homens, de um Deus
libertador.
A imagem que Jesus propôs, mudou radicalmente o conceito de Deus e assinalou a passagem da
religião à fé: não mais o homem ao serviço de Deus mas Deus ao serviço dos homens. Em geral,
nas religiões, o homem é servo de Deus, soberano potente. O Deus de Jesus Cristo reina fazendo-se
amigo e servidor. Em vez de tirar, em ofertas sacrificiais, coisas, tempo e energia, o Deus cristão dá.
Não diminui o ser humano mas potencia-o, aumentando-lhe a liberdade e a dignidade.
Seguir Jesus significa entrar nesta dinâmica de serviço. Toda a actividade apostólica deve
permanecer transparente a tais premissas. O dom deve tornar-se visível. Tornar-se espaço concreto
de partilha, estabelecendo relações abertas e frutuosas, úteis ao bem comum.
O rosto novo de Deus deve reflectir-se também entre nós, entre quantos se reconhecem num
autêntico caminho de fé. Se o próprio Deus não é um dominador, daí resulta que a ninguém é
permitido exercer formas de domínio sobre os outros.
Além-fronteiras é a pátria dos últimos, de todos aqueles que as lógicas do poder penalizam e
excluem. No Evangelho, os cegos e os estropiados estão entre os representantes mais significativos
de um tal mundo marginalizado. É muito significativo que em Mt 21, 12-14, depois de ter
expulsado os vendedores do templo, Jesus se tenha aproximado, imediatamente, dos cegos e dos
estropiados. Aqueles que não podiam aceder ao templo estão na primeira fila quando as lógicas
religiosas do templo são banidas, desmascaradas na lógica estéril de domínio e escravidão. Os
excluídos finalmente podem aproximar de Deus no homem Jesus: o amor de Deus já não é um bem
merecido pelos justos mas um dom gratuito para todos.
Além-fronteiras somos chamados a descobrir os horizontes preciosos para a Confederação CVS
Internacional. Novos caminhos, espaços amplos que nos eduquem a viver e a dar a vida, com
alegria.
P.e Luciano Ruga
5
Moderador-Geral dos SodC
6
Indicações práticas para utilização das fichas
Podemos utilizar o texto bíblico proposto ou, se for oportuno, podemos escolher um texto bíblico
idóneo entre aqueles citados no plano pastoral da Conferência episcopal nacional do nosso país ou
numa carta pastoral do nosso bispo. Nas leituras bíblicas procuremos sublinhar aquilo que se
relaciona com a finalidade do nosso compromisso, como actuação da vitória pascal sobre o mal e
sobre a morte.
O encontro de grupo ou o tempo de reflexão pessoal podem ser organizados segundo os momentos
clássicos da lectio:
 leitura
 reflexão
 oração
 compromisso
- No encontro de grupo deixemos que cada um possa exprimir a reflexão que o texto bíblico
suscitou. Se emergir um aspecto de interesse particular, façamos dele objecto de um breve debate,
no qual todos os presentes possam exprimir o seu pensamento.
- Procuremos oferecer com simplicidade os nossos contributos de reflexão, de modo a favorecer o
mais possível a compreensão do texto. Sobre o argumento que tenha suscitado maior interesse,
procuremos qualquer indicação nos documentos oficiais da Igreja (catecismo, textos do Concílio
Vaticano II, discursos do Papa, cartas do Bispo, programas pastorais para o ano em curso, …).
- No fim deste breve caminho de reflexão, reservemos um momento para a oração. Escolhamos um
salmo que julguemos pertinente ao tema, leiamo-lo lentamente, prestando atenção às palavras. Se
estivermos em grupo decidamos como o recitar em conjunto (em coro alternado, ou com um solista
e um refrão …).
As palavras do salmo sugerem-nos também algumas orações pessoais: com palavras nossas,
considerando a vida nos seus aspectos, não só aqueles que necessitam de ajuda mas também os
belos e alegres, que nos sugerem sentimentos de louvor e de gratidão.
- Quanto descobrimos na reflexão, torne-se conteúdo e estratégia do nosso apostolado, para
compartilhar o nosso caminho com as pessoas que sofrem. Perguntemo-nos quem são aqueles que
têm maior necessidade de ouvir este anúncio, de se confrontarem com a proposta de sentido da vida,
em cada momento, incluindo a amargura do sofrimento. Procuremos juntos como apresentar os
7
conteúdos da espiritualidade do CVS, como sensibilizar as nossas paróquias para uma maior
atenção às pessoas doentes, deficientes, idosas. Sabemos que muitas vezes também a Igreja se
limita a oferecer uma qualquer forma de assistência e não ajuda as pessoas a tornarem-se
responsáveis pela sua dignidade de baptizados, sujeitos activos, protagonistas na acção pastoral e
social. Tenhamos em conta também caminhos e propostas da nossa igreja local.
Definamos concretamente os compromissos que individualmente ou como grupo entendemos
assumir. É importante que sejam coisas possíveis, verdadeiramente úteis e que possamos
efectivamente realizar.
Lembremos a necessidade de vigiar para que sejam sempre acções capazes de envolver os
destinatários de modo a torná-los protagonistas activos.
(Nota: os textos Bíblicos são tirados da Bíblia da Difusora Bíblica)
8
1. Ressuscitado para todos
“Vós sois testemunhas” os discípulos, expectadores de um evento extraordinário, tornam-se
protagonistas de uma actividade missionaria igualmente extraordinária que é o início do
desenvolvimento do cristianismo.
Texto bíblico: Lc 24, 36-50
36
Enquanto isto diziam, Jesus apresentou-se no meio deles e disse-lhes: «A paz esteja convosco!»
37
Dominados pelo espanto e cheios de temor, julgavam ver um espírito.
38
«Porque estais perturbados e porque surgem tais dúvidas nos vossos corações?
Disse-lhes, então:
39
Vede as minhas
mãos e os meus pés: sou Eu mesmo. Tocai-me e olhai que um espírito não tem carne nem ossos,
como verificais que Eu tenho.»
40
Dizendo isto, mostrou-lhes as mãos e os pés.
41
E como, na sua
alegria, não queriam acreditar de assombrados que estavam, Ele perguntou-lhes: «Tendes aí alguma
coisa que se coma?» 42Deram-lhe um bocado de peixe assado; 43e, tomando-o, comeu diante deles.
44
Depois, disse-lhes: «Estas foram as palavras que vos disse, quando ainda estava convosco: que era
necessário que se cumprisse tudo quanto a meu respeito está escrito em Moisés, nos Profetas e nos
Salmos.»
45
Abriu-lhes então o entendimento para compreenderem as Escrituras
46
e disse-lhes:
«Assim está escrito que o Messias havia de sofrer e ressuscitar dentre os mortos, ao terceiro dia;
47
que havia de ser anunciada, em seu nome, a conversão para o perdão dos pecados a todos os
povos, começando por Jerusalém. 48Vós sois as testemunhas destas coisas. 49E Eu vou mandar sobre
vós o que meu Pai prometeu. Entretanto, permanecei na cidade até serdes revestidos com a força do
Alto.» 50Depois, levou-os até junto de Betânia e, erguendo as mãos, abençoou-os.
Reflexão
Um dos grandes limites da religião judaica era a recusa de tudo aquilo que não pertencia à tradição,
que não fosse reconduzível ao sinal religioso da circuncisão. Em base a este critério, o judaísmo
mais antigo considerava Deus como “propriedade privada”. Do mesmo modo, o povo eleito sentiase igualmente “propriedade exclusiva” de Deus. A partir do século VI a.C., começa todavia um
processo de reflexão teológica, orientado para a percepção da universalidade de Deus, isto é, Deus é
de todos e para todos. Naturalmente a franja mais tradicionalista do judaísmo não admite nunca uma
tal compreensão da aliança entre Deus e o povo.
Com Jesus caiem todas estas intuições teológicas do judaísmo tradicional. Jesus é o sacramento do
Pai, ou seja, Aquele que revela claramente aquilo que é e aquilo que faz o Pai. Desde o início do seu
9
ministério público, Jesus dirige-se a todos e a todas, sem qualquer tipo de exclusão. Após a
ressurreição, esta visão universal permanece fortemente afirmada: o ressuscitado manifesta-se a
todos.
Se olharmos atentamente, há vários elementos de grande valor teológico na passagem evangélica
que acabamos de ler: primeiro, os discípulos confundem-no com um fantasma: isto significa que
não são capazes de perceber a grande novidade trazida por Jesus, que é a participação de todos no
projecto divino. Segundo, abre-os à compreensão: isto é, leva-os a compreender o plano original
traçado pelo Pai desde a eternidade; terceiro, anuncia a todos a vinda do Espírito Santo, a partir da
qual não haverá ninguém excluído da missão. Por fim, abençoa-os para ratificar neles a participação
completa de que estamos a falar.
Agradeçamos a Deus e ao seu filho Jesus no Espírito pela grande oferta de nos incluir a todos no
seu plano maravilhoso de amor e de justiça. Que esta passagem do Evangelho lida e meditada no
início do ano pastoral de 2013, seja o nosso programa e o itinerário para imitar fielmente Jesus de
Nazaré.
Salmo 22 (21)
Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste?
Compromisso no apostolado
Assim está escrito: O Cristo padecerá – “O padecer deriva de uma impelente exigência de caridade
que se torna compaixão. Assim a nossa compaixão não é sentimento externo, estéril, mas uma
compaixão que é «padecer com», ou seja, uma necessidade de nos inserirmos, como o Verbo
Eterno, na humanidade para a redimir; uma necessidade de estar com os irmãos, de nos sentirmos,
com eles, co-responsáveis pela sua salvação”.
Verifico a minha capacidade e vontade de “padecer com”: com quem? Como? O que é que significa
concretamente no desenvolvimento do apostolado?
10
2. A missão maternal
Depois da anunciação do Anjo, Maria pôs-se a caminho das montanhas, com solicitude. Para Jesus
é a primeira viagem missionária efectuada através da mãe, que antecipa a acção evangelizadora da
comunidade cristã. Tem aqui início a grande caminhada, que enche todo o Evangelho.
Texto bíblico: Lc 1, 39-56
39
Por aqueles dias, Maria pôs-se a caminho e dirigiu-se à pressa para a montanha, a uma cidade da
Judeia. 40Entrou em casa de Zacarias e saudou Isabel. 41Quando Isabel ouviu a saudação de Maria, o
menino saltou-lhe de alegria no seio e Isabel ficou cheia do Espírito Santo. 42Então, erguendo a voz,
exclamou: «Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre.
44
que venha ter comigo a mãe do meu Senhor?
45
Feliz de ti que acreditaste, porque se vai
cumprir tudo o que te foi dito da parte do Senhor.» 46Maria disse, então:
«A minha alma glorifica o Senhor
e o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador.
48
Porque pôs os olhos na humildade da sua serva.
De hoje em diante, me chamarão bem-aventurada todas as gerações.
49
O Todo-poderoso fez em mim maravilhas.
Santo é o seu nome.
50
A sua misericórdia se estende de geração em geração
sobre aqueles que o temem.
51
Manifestou o poder do seu braço
e dispersou os soberbos.
52
Derrubou os poderosos de seus tronos
e exaltou os humildes.
53
Aos famintos encheu de bens
e aos ricos despediu de mãos vazias.
54
Acolheu a Israel, seu servo,
lembrado da sua misericórdia,
55
como tinha prometido a nossos pais,
a Abraão e à sua descendência, para sempre.»
56
E donde me é dado
Pois, logo que chegou aos meus ouvidos a tua
saudação, o menino saltou de alegria no meu seio.
47
43
Maria ficou com Isabel cerca de três meses. Depois regressou a sua casa.
11
Reflexão
É provável que em qualquer momento da nossa vida tenhamos sentido o abatimento, o cansaço, o
desencorajamento, o desinteresse perante o dever. Surgiu assim em nós o desejo de nos
distanciarmos de tudo e de todos. Maria, inversamente, apresenta-se no texto bíblico, como a pessoa
disposta a vencer qualquer obstáculo a fim de cumprir o plano de Deus. Muitos quilómetros
separavam Maria de Isabel: a Virgem percorre-os sem qualquer resistência. O feliz anúncio é
demasiado importante e não pode sofrer resistências por cansaço ou perigos.
Porém Maria é capaz de vencer os obstáculos de um longo caminho, cheio de perigos, para ir a casa
da sua prima. A sua coragem mede-se por realidades mais árduas. Nas palavras do seu cântico está
contida a denúncia dos potentes que querem impor-se sempre na sociedade em todos os tempos.
Monopolistas, injustos, construtores de estruturas que se opõem aos desígnios de Deus. Por vezes,
diante destas pessoas e estruturas do mal, as nossas forças são diminutas. Maria anuncia
profeticamente que tudo isto acontecerá, no momento em que n’Ela se cumprirá a promessa de
Deus: com o nascimento do Filho. Neste projecto a Virgem sente-se empenhada: não serão
certamente as suas forças a destruir a injustiça, os poderosos e os opressores: será obra do Senhor.
Ela todavia está em atitude de completa disponibilidade, para que se possam cumprir as promessas
de Deus para o mundo.
Digamos pois, que uma das facetas mais belas da missão maternal de Maria, é transmitir optimismo,
apesar das dificuldades. Uma alegria vital e intensa, não obstante o panorama obscuro e triste que
por vezes nos invade: confiança só em Deus, apesar das muitas vezes que O sentimos ausente,
contrastado pela força dos seus inimigos.
Salmo 72 (71)
Ó Deus, concede ao rei a tua rectidão e a tua justiça ao filho do rei.
Compromisso no apostolado
A minha alma glorifica o Senhor – “Contemplemos a explosão do coração da Imaculada. O
Magnificat é louvor a Deus, mas também apresentação do plano da salvação, pela boca da mãe do
Salvador. Isto diz o Magnificat: a riqueza da misericórdia de Deus. Não orgulho por parte d’Aquela
que foi cheia de graça, porque compreende que aquela misericórdia foi versada no seu coração, sem
medida. O seu coração exulta sem fim em Deus, porque é Ele que faz grandes coisas”.
12
Apostolado é transmitir o que Deus cumpre. É uma narração que parte de nós próprios mas não nos
celebra! Verifico a minha capacidade de acolher a acção de Deus em mim e nos meus anúncios
apostólicos.
13
3. A luz dos povos
A luz da fé ilumina quem na expectativa procura o Senhor na sua vida.
A expectativa faz-se presença viva quando a lâmpada da sapiência, dom do Espirito Santo, opera no
coração, na alma e na mente de quem acredita.
Texto bíblico: Lc 2, 22-35
22
Quando se cumpriu o tempo da sua purificação, segundo a Lei de Moisés, levaram-no a Jerusalém
para o apresentarem ao Senhor,
23
conforme está escrito na Lei do Senhor: «Todo o primogénito
varão será consagrado ao Senhor» 24e para oferecerem em sacrifício, como se diz na Lei do Senhor,
duas rolas ou duas pombas.
25
Ora, vivia em Jerusalém um homem chamado Simeão; era justo e
piedoso e esperava a consolação de Israel. O Espírito Santo estava nele.
26
Tinha-lhe sido revelado
pelo Espírito Santo que não morreria antes de ter visto o Messias do Senhor.
27
Impelido pelo
Espírito, veio ao templo, quando os pais trouxeram o menino Jesus, a fim de cumprirem o que
ordenava a Lei a seu respeito.
28
Simeão tomou-o nos braços e bendisse a Deus, dizendo:
29
«Agora, Senhor, segundo a tua palavra,
deixarás ir em paz o teu servo,
30
porque meus olhos viram a Salvação
31
que ofereceste a todos os povos,
32
Luz para se revelar às nações
e glória de Israel, teu povo.»
33
Seu pai e sua mãe estavam admirados com o que se dizia dele.
34
Simeão abençoou-os e disse a
Maria, sua mãe: «Este menino está aqui para queda e ressurgimento de muitos em Israel e para ser
sinal de contradição; 35uma espada trespassará a tua alma. Assim hão-de revelar-se os pensamentos
de muitos corações.»
Reflexão
É maravilhoso pensar no impacto produzido pela presença de Jesus entre os humildes e os simples
do seu tempo. Sabemos que na época em que nasce e cresce Jesus, os seus conterrâneos, que
certamente não pertenciam à “elite” de Jerusalém, viviam uma experiência de opressão.
Politicamente eram dominados pelo Império Romano; economicamente estavam submetidos a
tributos, quer pela situação política (taxas para o Império), quer pela situação religiosa (taxas para o
14
Templo). Este último aspecto tinha além disso ocultado ao povo a luz a e bondade do amor de Deus.
Imaginemos pois um povo completamente imerso na obscuridade. Por isso a profecia de Simeão,
que acabamos de ler no texto, é um autêntico grito de vitória para os pobres e para os oprimidos: o
Senhor enviou de novo a sua luz, uma luz que brilhará não só sobre Israel, mas sobre todas as
nações da terra.
Neste sentido, as palavras do evangelista são um convite a olhar para a própria vida, como aqueles
que seguem a Luz que é o próprio Jesus, acolhendo aquilo que torna o caminho cada vez mais
visível.
Salmo 25 (24)
A ti, Senhor, elevo a minha alma.
Compromisso no apostolado
Como sinal de contradição – “Exige-se demasiado ao procurar empenhar os associados a viverem
com clara firmeza os seus compromissos baptismais? Fomos enxertados em Cristo com o
nascimento para a vida da graça, estamos assim mortos para o pecado para vivermos segundo a vida
de Deus em nós.
Viver a vida de Cristo significa estar comprometidos a ser com Ele e n’Ele sinais de contradição na
sociedade em que vivemos. Ser sinais de contradição significa não pactuar com o espírito do mal,
com as nossas más inclinações, com o mundo, com todas as suas seduções que constituem o
caminho mais fácil, largo e cómodo mas que não conduz ao Céu.
A Imaculada em Lourdes demonstrou claramente não querer pactos e nós na sua escola com um
ânimo humilde e obediente devemos aprender a banir da nossa vida privada e social qualquer forma
de pacto, de consentimento, perante as seduções das paixões, das comodidades e do mundo.
Devemos ter em verdadeira e atenta consideração a coerência da nossa vida com a fé. Não basta
conhecer a Palavra de Deus, é preciso vivê-la. Conhecer e não aplicar a fé à vida seria gravemente
ilógico e uma séria responsabilidade”.
Verifico as minhas contradições pessoais, a discrepância entre a fé professada e vivida, anunciada e
testemunhada com sinceridade e coerência de vida.
15
4. A salvação de cada pessoa
oão veio preparar este caminho, mas para o percorrer é preciso endireitar os nossos caminhos para
os tornar conformes ao Caminho do Senhor. Só então os nossos olhos se abrirão, a nossa esperança
se reavivará e nós tornar-nos-emos anunciadores e testemunhas de esperança. Só assim cada homem
verá a salvação de Deus viver em nós.
Texto bíblico: Lc 3, 1-22
1
No décimo quinto ano do reinado do imperador Tibério, quando Pôncio Pilatos era governador da
Judeia, Herodes, tetrarca da Galileia, seu irmão Filipe, tetrarca da Itureia e da Traconítide, e
Lisânias, tetrarca de Abilena, 2sob o pontificado de Anás e Caifás, a palavra de Deus foi dirigida a
João, filho de Zacarias, no deserto. 3Começou a percorrer toda a região do Jordão, pregando um
baptismo de penitência para remissão dos pecados, 4como está escrito no livro dos oráculos do
profeta Isaías:
«Uma voz clama no deserto: ‘Preparai o caminho do Senhor e endireitai as suas veredas. 5Toda a
ravina será preenchida, todo o monte e colina serão abatidos; os caminhos tortuosos ficarão direitos
e os escabrosos tornar-se-ão planos. 6E toda a criatura verá a salvação de Deus.’»
7
João dizia, então, às multidões que acorriam para serem baptizadas por ele: «Raça de víboras,
quem vos ensinou a fugir da cólera que está para chegar? 8Produzi frutos de sincero arrependimento
e não comeceis a dizer para convosco: ‘Nós temos Abraão como pai’; pois eu vos digo que Deus
pode, destas pedras, suscitar filhos a Abraão. 9O machado já se encontra à raiz das árvores; por isso,
toda a árvore que não der bom fruto será cortada e lançada ao fogo.» 10E as multidões perguntavamlhe: «Que devemos, então, fazer?»
11
Respondia-lhes: «Quem tem duas túnicas reparta com quem
não tem nenhuma, e quem tem mantimentos faça o mesmo.» 12Vieram também alguns cobradores
de impostos, para serem baptizados e disseram-lhe: «Mestre, que havemos de fazer?» 13Respondeulhes: «Nada exijais além do que vos foi estabelecido.» 14Por sua vez, os soldados perguntavam-lhe:
«E nós, que devemos fazer?» Respondeu-lhes: «Não exerçais violência sobre ninguém, não
denuncieis injustamente e contentai-vos com o vosso soldo.»
15
Estando o povo na expectativa e pensando intimamente se ele não seria o Messias, 16João disse a
todos: «Eu baptizo-vos em água, mas vai chegar alguém mais forte do que eu, a quem não sou
digno de desatar a correia das sandálias. Ele há-de baptizar-vos no Espírito Santo e no fogo. 17Tem
na mão a pá de joeirar, para limpar a sua eira e recolher o trigo no seu celeiro; mas queimará a palha
16
num fogo inextinguível.»
18
E, com estas e muitas outras exortações, anunciava a Boa-Nova ao
povo.
19
Mas Herodes, o tetrarca, a quem João censurava por causa de Herodíade, mulher de seu irmão, e
por todas as más acções que tinha praticado,
20
acrescentou a todas as más acções, mais esta:
encerrou João na prisão.
21
Todo o povo tinha sido baptizado; tendo Jesus sido baptizado também, e estando em oração, o
Céu rasgou-se
22
e o Espírito Santo desceu sobre Ele em forma corpórea, como uma pomba. E do
Céu veio uma voz: «Tu és o meu Filho muito amado; em ti pus todo o meu agrado.»
Reflexão
Muito habitantes de Jerusalém vão ouvir a pregação de João. Alguns, entre os presentes, perguntam
que é preciso fazer para chegar à salvação. Era difusa, de facto, a ideia de que a salvação fosse um
evento relativo só a um pequeno grupo ou a uma comunidade, em virtude de uma intervenção
imediata e resolutiva do Messias. Isto não obstante a mensagem profética que, desde a antiguidade,
especialmente em Jeremias e Ezequiel, ensinava que a salvação depende de cada um.
Entre os ouvintes do Baptista, Lucas distingue três grupos para descrever a colectividade e ao
mesmo tempo a individualidade no acto da salvação. A multidão (sem qualquer distinção), os
cobradores de impostos, e os militares. João responde a todos relativamente ao seu modo de viver.
A todos, em geral, recomenda a justiça e a partilha; aos cobradores: não exijais mais do que está
prescrito; aos soldados: não oprimais nem acuseis alguém injustamente.
Que leitura podemos nós fazer deste ensinamento, especialmente do diálogo de João com aqueles
que se baptizam? A nossa consciência cristã diz que Jesus Cristo já nos salvou a todos, em sentido
restrito. Não deveremos preocupar-nos tanto em pedir a salvação, que é um dom assegurado. A
nossa tarefa é a de pôr toda a nossa força, tudo o que somos e temos em testemunhar ao mundo os
sinais da salvação que já possuímos. Cada acção pessoal, cada atitude, é sinal para os outros daquilo
que vivemos no nosso coração. Um coração amargurado, mostrará sinais de amargura; um coração
cheio de amor, não pode senão reflectir atitudes de amor, de acolhimento, de fraternidade, de
bondade … definitivamente sinais de salvação.
Salmo 98 (97)
Cantai ao Senhor um cântico novo, porque ele fez maravilhas.
Compromisso no apostolado
17
O que é que devemos fazer? – “A Imaculada pensava; mas pensava como Jesus, procurando a
vontade do Pai, à luz e guiada pelo Espirito Santo, que guia sempre para o alto, caminhando na
verdade, bem longe das vias tortuosas,
O baptismo faz de nós criaturas novas, inserindo-nos em Cristo, como o sarmento está unido à
videira. Os frutos do sarmento são os da videira; os frutos das “novas criaturas” são os de Jesus
Cristo. Destes frutos, que são os Seus frutos, ver-se-á que somos os seus discípulos”.
Que devemos fazer? É a pergunta nos devemos pôr sempre, em companhia do Espirito Santo para
que nos ajude a discernir toda a vontade de Deus e nos dê a força para a cumprir. É uma pergunta
apostólica a fazer cada vez que nos dispomos a ir ao encontro dos irmãos que sofrem em nome do
Senhor, para que a nossa palavra seja Palavra de Deus e nós, seus executores coerentes.
18
5. A boa-nova
Jesus veio anunciar ao mundo uma feliz mensagem de cura e de libertação, de liberdade e de graça.
Os destinatários desta alegre mensagem são os pobres, os pecadores arrependidos, os oprimidos.
Texto bíblico: Lc 4, 16-30
16
Veio a Nazaré, onde tinha sido criado. Segundo o seu costume, entrou em dia de sábado na
sinagoga e levantou-se para ler.
17
Entregaram-lhe o livro do profeta Isaías e, desenrolando-o,
deparou com a passagem em que está escrito:
18
«O Espírito do Senhor está sobre mim, porque me
ungiu para anunciar a Boa-Nova aos pobres; enviou-me a proclamar a libertação aos cativos e, aos
cegos, a recuperação da vista; a mandar em liberdade os oprimidos, 19a proclamar um ano favorável
da parte do Senhor.» 20Depois, enrolou o livro, entregou-o ao responsável e sentou-se. Todos os que
estavam na sinagoga tinham os olhos fixos nele. 21Começou, então, a dizer-lhes: «Cumpriu-se hoje
esta passagem da Escritura, que acabais de ouvir.»
22
Todos davam testemunho em seu favor e se
admiravam com as palavras repletas de graça que saíam da sua boca. Diziam: «Não é este o filho de
José?» 23Disse-lhes, então: «Certamente, ides citar-me o provérbio: ‘Médico, cura-te a ti mesmo.’
Tudo o que ouvimos dizer que fizeste em Cafarnaúm, fá-lo também aqui na tua terra.»
24
Acrescentou, depois: «Em verdade vos digo: Nenhum profeta é bem recebido na sua pátria.
25
Posso assegurar-vos, também, que havia muitas viúvas em Israel no tempo de Elias, quando o céu
se fechou durante três anos e seis meses e houve uma grande fome em toda a terra; 26contudo, Elias
não foi enviado a nenhuma delas, mas sim a uma viúva que vivia em Sarepta de Sídon.
27
Havia
muitos leprosos em Israel, no tempo do profeta Eliseu, mas nenhum deles foi purificado senão o
sírio Naaman.»
28
Ao ouvirem estas palavras, todos, na sinagoga, se encheram de furor.
29
E,
erguendo-se, lançaram-no fora da cidade e levaram-no ao cimo do monte sobre o qual a cidade
estava edificada, a fim de o precipitarem dali abaixo. 30Mas, passando pelo meio deles, Jesus seguiu
o seu caminho.
Reflexão
É numa situação comum para qualquer judeu devoto, como a liturgia do sábado na sinagoga, que S.
Lucas enquadra “o início oficial” do programa de vida de Jesus. É importante fazer realçar, em
todas as deslocações de Jesus, a presença do Espírito Santo. Jesus regressou do Jordão para a
Galileia e, já investido e confirmado na sua vocação messiânica, ensina em todas as sinagogas. Aqui
19
dirige-se à sinagoga da sua cidade de Nazaré, onde é convidado a proclamar a segunda leitura, que
corresponde a uma passagem do Profeta Isaías.
Como em todas as acções de Jesus, a Palavra de Deus é a cintila que acende o fogo da missão no
seu coração, segundo a descrição de Lucas. Para Jesus a profecia de Isaías está a cumprir-se e Ele
será o realizador destas promessas e desta boa-nova, anunciadas pelo profeta. Todavia Lucas não se
fica só pela importância da Palavra que vê realizadas em Jesus estas características de consistência e
de realização. Há outros aspectos, próprios da vida de Jesus, que Lucas coloca neste primeiro
cenário do ministério público: a rejeição de Jesus e da Sua Palavra. Recusa que, após um inicial
acto de simpatia e de admiração, se transforma quase de imediato em hostilidade, causada pela
dúvida: “não é este o filho de José?” Assim o fim último é a vontade de eliminar Jesus, fazendo
realçar que, se o “povo eleito” rejeita a presença messiânica de Jesus, serão outros, não israelitas, a
aceitarem e a dar cumprimento às promessas. Por isso o texto menciona as figuras de Elias e de
Eliseu, que recolheram melhores frutos quando se dirigiram aos pagãos.
São assim colocadas bases: 1). Uma teologia da Palavra; 2). Um compromisso que, desde o início
da actividade pública, distingue quantos acolhem e quantos rejeitam, num crescendo geral destes
últimos, por causa da falta de fé; 3). Fica já delineada a futura expansão do Evangelho entre os não
israelitas ou pagãos, dado que a acção divina não depende dos estados de ânimo dos destinatários
do seu projecto.
Salmo 45 (44)
O meu coração vibra com belas palavras; vou recitar ao rei o meu poema.
Compromisso no Apostolado
O Espírito do Senhor está sobre mim, porque me ungiu para anunciar a Boa-Nova – A
actividade que deve desenvolver o Animador de Grupo é essencialmente uma actividade de
apostolado; apostolado sentido, como exigência espiritual, que deriva do Baptismo e vivido nas
suas várias e profundas componentes humanas, eclesiais e sociais, como resposta pessoal ao
mandato divino, “ide e ensinai”. A novidade, felizmente introduzida pelo Vaticano II, sobre o
compromisso apostólico que compete a qualquer baptizado, está próprio na afirmação que o
apostolado do leigo é “participação na mesma missão de Cristo e da Sua igreja”, e que a vocação
cristã se identifica com o apostolado. É realmente esta uma plena concepção nova na vida da Igreja
que impele para a acção apostólica todos os fiéis, sem qualquer distinção.
O verdadeiro e real desejo íntimo do Animador de Grupo deve ser um só, tornar-se um instrumento
dócil no ímpeto do Espírito que o vivifica, consciente de que a luta que conduz em si mesmo
20
aumenta a sua estatura total, leva-o à maturidade plena, dilata as suas visíveis faculdades interiores,
torna-o, em Cristo e por meio de Cristo, instrumento de salvação.
Estas palavras do Fundador, referidas ao Animador de Grupo, podem ser referidas, muito bem, a
cada um de nós, chamado pelo Pai e mandado pelo Espírito a levar a boa-nova do Filho.
Recebo esta missão trinitária e tomo consciência da minha tarefa.
21
6. Misericordiosos como o Pai
Jesus anuncia a chegada da salvação prometida por Deus. Ele proclama o mundo dos valores de
Deus, inverte a escala dos valores do homem e anuncia o modo como Deus salva.
Texto bíblico: Lc 6, 17-36
17
Descendo com eles, deteve-se num sítio plano, juntamente com numerosos discípulos e uma
grande multidão de toda a Judeia, de Jerusalém e do litoral de Tiro e de Sídon, 18que acorrera para o
ouvir e ser curada dos seus males. Os que eram atormentados por espíritos malignos ficavam
curados; 19e toda a multidão procurava tocar-lhe, pois emanava dele uma força que a todos curava.
20
Erguendo os olhos para os discípulos, pôs-se a dizer: «Felizes, vós os pobres, porque vosso é o
Reino de Deus. 21Felizes, vós os que agora tendes fome, porque sereis saciados. Felizes, vós os que
agora chorais, porque haveis de rir.
22
Felizes, sereis quando os homens vos odiarem, quando vos
expulsarem, vos insultarem e rejeitarem o vosso nome como infame, por causa do Filho do Homem.
23
Alegrai-vos e exultai nesse dia, pois a vossa recompensa será grande no Céu. Era precisamente
assim que os pais deles tratavam os profetas».
consolação!
25
24
«Mas ai de vós, os ricos, porque recebestes a vossa
Ai de vós, os que estais agora fartos, porque haveis de ter fome! Ai de vós, os que
agora rides, porque gemereis e chorareis!
26
Ai de vós, quando todos disserem bem de vós!Era
precisamente assim que os pais deles tratavam os falsos profetas».
27
«Digo-vos, porém, a vós que
me escutais: Amai os vossos inimigos, fazei bem aos que vos odeiam,
28
abençoai os que vos
amaldiçoam, rezai pelos que vos caluniam. 29A quem te bater numa das faces, oferece-lhe também a
outra; e a quem te levar a capa, não impeças de levar também a túnica.
pede e, a quem se apoderar do que é teu, não lho reclames.
façam, fazei-lho vós também.
32
31
30
Dá a todo aquele que te
O que quiserdes que os outros vos
Se amais os que vos amam, que agradecimento mereceis? Os
pecadores também amam aqueles que os amam.
33
Se fazeis bem aos que vos fazem bem, que
agradecimento mereceis? Também os pecadores fazem o mesmo.
34
E, se emprestais àqueles de
quem esperais receber, que agradecimento mereceis? Também os pecadores emprestam aos
pecadores, a fim de receberem outro tanto.
35
Vós, porém, amai os vossos inimigos, fazei o bem e
emprestai, sem nada esperar em troca. Então, a vossa recompensa será grande e sereis filhos do
Altíssimo, porque Ele é bom até para os ingratos e os maus. 36Sede misericordiosos como o vosso
Pai é misericordioso».
22
Reflexão
Lucas sintetiza as bem-aventuranças em quatro aspectos da vida humana: a pobreza, a fome, o
choro (a tristeza) e a perseguição. A pobreza apresenta-se como uma situação anómala, contrária à
vontade de Deus. É, de facto, uma forma de vida que é fruto da injustiça. Por isso não seria muito
correcto falar de pobres, quando pelo contrário de empobrecidos. Quando Jesus declara bemaventurados estes pobres, não significa que devam sentir-se felizes pela sua situação, mas que se
trata de uma pobreza que Deus rejeita, que deve desaparecer com a vinda do reino de Deus, cuja
característica é a justiça.
A pobreza, ou melhor o empobrecimento, tem as suas consequências: a primeira de todas é a fome.
Todavia também os famintos são bem-aventurados, porque serão saciados. Muito dificilmente aqui
Jesus faz referência a uma “fome” espiritual. Confronta-se com ter diante de si uma multidão que
vem de longe, que está em reais condições de fome corporal. Ao mesmo tempo Jesus tem
consciência da realidade de pobreza e de privação em que vive o povo. Se os pobres podem sonhar
um mundo melhor, ainda mais, com o advento do reino de Deus, também a fome deverá
desaparecer. Não acontecerá em modo mágico, mas será a consequência do empenhamento de todos
na realização do ano de graça. Um tempo caracterizado pela consecução de um equilíbrio social
através do perdão dos débitos, pela recuperação dos bens penhorados, pelo retorno à posse das
propriedades e pela libertação dos escravos. Esta deverá tornar-se uma situação estável e
permanente (cfr. Dt 15, 1-11).
A outra consequência do empobrecimento são as lágrimas, como símbolo de dor, de
marginalização. São também o sinal da impotência perante uma realidade cada vez mais cruel e
penosa para o pobre. Nesta nova ordem, a que nos deve conduzir a presença do reino, as lágrimas se
transformarão em felicidade e alegria. Existe uma luta e um esforço necessários para atingir esta
nova ordem de coisas, querida por Deus. Não é que Jesus entenda cumprir ou promover acções
violentas. Quer antes, prevenir os seus discípulos das situações violentas, das perseguições e da dor
que terão de experimentar pela mão daqueles que se opõem radicalmente a toda a partilha, que
depois de terem saqueado o povo continuam a comportar-se como patrões.
Lamentos ou desventuras. Lucas é o único que refere estas quatro desventuras em paralelo com as
bem-aventuranças. O “lamento” é uma expressão de dor ou luto; na literatura profética assume o
valor de advertência, de ameaça, de maldição ou de blasfémia. Aqui entendamos estes lamentos
como lamentação do próprio Jesus, segundo o estilo profético, ou seja como uma advertência ou
admonição que faz Jesus aos promotores e apoiantes de uma ordem social absolutamente injusta.
23
No texto não há uma condenação em sentido restrito, mas uma chamada à reflexão e à mudança, um
convite a um alinhamento pela instauração do reino.
Amor aos inimigos. O ensinamento oferecido nesta página é o melhor argumento contra aqueles
que pretendem fazer crer que a luta pela justiça social, pela solidariedade e pela igualdade entre os
homens impele para a violência. Jesus, como bom Judeu, conhece a história do seu povo, conhece
as suas lutas, as suas rebeliões, conhece os efeitos do rancor e da interminável violência que produz
a maldição. Sabe que a violência gera violência e por isso propõe alguns princípios de tipo pessoal e
social que têm por finalidade demolir qualquer estrutura violenta e que se baseiam mais
propriamente numa reacção não violenta às forças do mal personificadas num sistema injusto.
Salmo 103 (102)
Bendiz, ó minha alma, o Senhor, e todo o meu ser louve o seu nome santo.
Compromisso no Apostolado
Bem-aventurados sois vós – Cristo vai ao encontro de todos, mas em particular de quem sofre,
proclamando o sofrimento como uma bem-aventurança, e identificando-se com o sofredor: “Estava
doente e fostes-me visitar”.
Não há valor humano que Ele não tenha respeitado, elevado e redimido. Não há sofrimento humano
que Ele não tenha compreendido, partilhado, valorizado. Não há necessidade humana que Ele não
tenha assumido e sofrido em si mesmo. O doente assim, se quer encontrar promoções válidas e
obter novos horizontes, com dimensões sociais que se projectem também nas realidades ultraterrenas, deve encontrar-se com Cristo. De Jesus Cristo, verdadeiro homem e verdadeiro Deus,
pertencente à história dos nossos séculos, recebemos uma resposta para as angustiantes
interrogações sobre o sofrimento e a morte.
É Ele o médico divino que se debruça sobre as feridas e eleva o espírito, propondo-nos o exemplo
do bom Samaritano que não se limita a uma intervenção momentânea e relativa, mas que se ocupa
de toda a pessoa do pobre assaltado e ferido a caminho de Jericó.
Sou provocado por Cristo que se identifica com todos os necessitados, aqueles que têm fome, que
são pobres, que estão prisioneiros…. No grupo façamos uma avaliação de como cuidamos das
necessidades do homem contemporâneo para programar uma acção apostólica eficaz.
24
7. Muito amor, muito perdão
A revelação completa do Senhor e do seu mistério pascal cumpre-se e realiza-se no amor e na
misericórdia. Só assim se pode realizar o anúncio do Reino que não é outra coisa senão o
cumprimento do Mistério de amor.
Texto bíblico: Lc 7, 36-50
36
Um fariseu convidou-o para comer consigo. Entrou em casa do fariseu, e pôs-se à mesa.
37
Ora
certa mulher, conhecida naquela cidade como pecadora, ao saber que Ele estava à mesa em casa do
fariseu, trouxe um frasco de alabastro com perfume.
38
Colocando-se por detrás dele e chorando,
começou a banhar-lhe os pés com lágrimas; enxugava-os com os cabelos e beijava-os, ungindo-os
com perfume.
39
Vendo isto, o fariseu que o convidara disse para consigo: «Se este homem fosse
profeta, saberia quem é e de que espécie é a mulher que lhe está a tocar, porque é uma pecadora!»
40
Então, Jesus disse-lhe: «Simão, tenho uma coisa para te dizer.» «Fala, Mestre» - respondeu ele.
41
«Um prestamista tinha dois devedores: um devia-lhe quinhentos denários e o outro, cinquenta.
42
Não tendo eles com que pagar, perdoou aos dois. Qual deles, o amará mais?» 43Simão respondeu:
«Aquele a quem perdoou mais, creio eu.» Jesus disse-lhe: «Julgaste bem.» 44E, voltando-se para a
mulher, disse a Simão: «Vês esta mulher? Entrei em tua casa e não me deste água para os pés; ela,
porém, banhou-me os pés com as suas lágrimas e enxugou-os com os seus cabelos. 45Não me deste
um ósculo; mas ela, desde que entrou, não deixou de beijar-me os pés.
com óleo, e ela ungiu-me os pés com perfume.
47
46
Não me ungiste a cabeça
Por isso, digo-te que lhe são perdoados os seus
muitos pecados, porque muito amou; mas àquele a quem pouco se perdoa pouco ama.»
48
Depois,
disse à mulher: «Os teus pecados estão perdoados.» 49Começaram, então, os convivas a dizer entre
si: «Quem é este que até perdoa os pecados?» 50E Jesus disse à mulher: «A tua fé te salvou. Vai em
paz.»
Reflexão
Um dos espaços ou momentos, em que se vive, com maior intensidade, uma das dimensões do ser
humano é a mesa. Neste espaço também Jesus se encarna para tornar presente um Deus que não
pode reduzir-se nem a espaço nem a momentos institucionalizados pela religiosidade.
Há um motivo de escândalo no estar à mesa de Jesus. A acusação do fariseu retorce-se prontamente
contra ele. Talvez, convidando Jesus, quisesse dar asas à sua vaidade. Sem dúvida, vendo a cena da
mulher, o fariseu, escandaliza-se e enfurece-se. É, para ele, escândalo que Jesus se deixe tocar por
25
uma mulher de má reputação. Irrita-o o pensamento que os presentes possam colher, no seu ilustre
convidado, a contradição entre ser profeta (coisa de que Simão estava convencido) e a não
compreensão de qual fosse a identidade daquela mulher.
Jesus surpreende o dono da casa, absorto nas suas reflexões, com uma parábola. O fariseu não
suspeita minimamente que a comparação proposta por Jesus tenha a ver com o momento que ambos
estão a viver. Só no fim da parábola se clarificará, quando Jesus torna explícitos os termos da
parábola: os que denunciam a atitude perversa do fariseu. Simão, dá-se conta de que Jesus não só
conhece e sabe perfeitamente quem é a mulher, como também tem perfeito conhecimento dos seus
pensamentos. Da irritação passa à surpresa, e novamente à irritação: “pode ser este o modo de agir
de Deus?”, “como pode ser que Deus acolha com tanta facilidade os pecadores e até amá-los mais
que aos bons, aos justos ou aos rectos, como julgavam ser os fariseus?”
Jesus dá uma lição muito importante: nem o cumprimento mais rigoroso da lei, nem as privações,
nem a separação na qual vivem os religiosos fariseus, nem o sentirem-se bons, comove Deus. São,
pelo contrário, atitudes que o afastam. Só o amor, reconhecendo-nos interiormente pecadores, atrai
a misericórdia e o perdão de Deus. Nada de mais digno para esta mulher, e para todos nós, como
pecadores, que sentirmo-nos acolhidos e perdoados por Deus.
Salmo 6
Senhor, não me repreendas na tua ira nem me castigues com o teu furor.
Compromisso no apostolado
Os teus pecados são perdoados – Já não somos nós que vivemos, mas Cristo que vive em nós. Nós
somos a Sua maravilhosa continuação. Fazemos parte do Corpo Místico de Nosso Senhor Jesus
Cristo.
Em quantas formas, e cada uma mais bela que a outra, Nosso Senhor Jesus Cristo quis ensinar-nos a
vida da graça! Como é belo sentir-se uma coisa só com Nosso Senhor Jesus Cristo. Nós doentes
estamos naquela posição maravilhosa, em que estava Jesus quando o Pai celeste reconciliava o
mundo com si mesmo, mediante a oferta do Seu Divino Filho. Deus de facto reconciliou o mundo
consigo por meio de Cristo, perdoando aos homens gratuitamente os seus pecados pelos méritos de
Cristo, e confiou a nós apóstolos a missão de pregar a todos os homens a graça desta reconciliação.
Os apóstolos em primeiro lugar, têm a missão de evangelizar e de exercer esta reconciliação,
mediante os sacramentos. Nós, os doentes, em sentido mais amplo, podemos associar-nos a este
plano apostólico de evangelização e de missão sacerdotal, através da nossa vida de oração e de
sacrifício, que atrai a graça divina sobre as almas.
26
E assim se pode dizer de nós, que Deus nos tornou apóstolos na obra da reconciliação, completando
a Paixão de Jesus Cristo. Se esta alegria está no coração de todos os cristãos, porque todos imersos
na Vida de Deus, quanto não devem sobre abundar em alegria os que sofrem, que têm em si,
mediante o seu sacrifício, a fonte da reconciliação, ou seja, a Paixão de Jesus?
Partilhamos, com Cristo, a missão de reconciliar os homens com o Pai. Este anúncio é interior e
exprime-se através da vida fecunda da graça que Deus nos dá e que aumentamos com a celebração
dos sacramentos. Mas este anúncio é também missão. No grupo consideremos como podemos
exercer “a missão de pregar a todos os homens a graça da reconciliação”.
27
8. A dignidade do pequeno
A verdadeira grandeza está no servir. Servir, ser ignorado, ser desprezado é grandeza maior que ser
servido, honrado acima dos outros. Jesus ensina-nos o caminho dizendo-nos que acolhamos os
pequenos. Não só de nos fazermos pequenos, mas de nos pormos ao serviço dos pequenos.
Texto bíblico: Lc 9, 46-56
46
Veio-lhes então ao pensamento qual deles seria o maior.
pensamentos, tomou um menino, colocou-o junto de si
48
47
Conhecendo Jesus os seus
e disse-lhes: «Quem acolher este menino
em meu nome, é a mim que acolhe, e quem me acolher a mim, acolhe aquele que me enviou; pois
quem for o mais pequeno entre vós, esse é que é grande.» 49João tomou a palavra e disse: «Mestre,
vimos alguém expulsar demónios em teu nome e impedimo-lo, porque ele não te segue juntamente
connosco.»
50
Jesus disse-lhe: «Não o impeçais, pois quem não é contra vós é por vós.»
51
Como
estavam a chegar os dias de ser levado deste mundo, Jesus dirigiu-se resolutamente para Jerusalém
52
e enviou mensageiros à sua frente. Estes puseram-se a caminho e entraram numa povoação de
samaritanos, a fim de lhe prepararem hospedagem. 53Mas não o receberam, porque ia a caminho de
Jerusalém.
54
Vendo isto, os discípulos Tiago e João disseram: «Senhor, queres que digamos que
desça fogo do céu e os consuma?»
55
Mas Ele, voltando-se, repreendeu-os.
56
E foram para outra
povoação.
Reflexão
O texto evangélico proposto, encontra-se num ponto importante da narração de São Lucas: Jesus
transmite as últimas mensagens do seu ministério na Galileia, antes de se dirigir para Jerusalém. A
este ponto, seria de esperar que os discípulos tivessem já assimilado tudo, ou quase tudo, daquilo
que Jesus tinha vindo ensinar. Sem dúvida, não é assim. Não obstante Jesus tenha demonstrado,
através de sinais e prodígios, qual fosse a autêntica realidade do reino, parece que a compreensão
dos discípulos foi muito superficial. Disso é prova a discussão que surge sobre quem seja o mais
importante entre eles. Pareceria que quando Jesus fala do reino, os discípulos entendessem uma
estrutura onde as pessoas se organizam por categorias: importantes, menos importantes, grandes e
pequenos… hoje diremos: com distinções hierárquicas, entre quem tem um título académico e quem
não tem, entre ricos e pobres.
Os discípulos pois, estão longe de perceber o diferente dinamismo do reino. Aquele que se julga
importante deve colocar-se ao serviço dos outros. Quem julga ser superior aos outros deve agir
28
como se fosse o menor. A importância da pessoa, na dinâmica do reino, funda-se na capacidade de
serviço e de doação aos outros. É uma realidade certamente muito diversa daquela que
experimentamos quotidianamente. Nas nossas experiências quem detém um lugar sente-se patrão,
dominador dos outros, quem possui um título gaba-se de direitos sobre os outros.
Salmo 138 (138)
Senhor, Tu examinaste-me e conheces-me, sabes quando me sento e quando me levanto.
Compromisso no apostolado
Puseram-se a caminho para uma outra povoação – A firmeza de adesão no apostolado tem-se
somente na maturação da caridade que tudo vê, tudo suporta e nunca falha, exactamente porque o
amor de Deus deve tornar-se tão forte e real a ponto de impelir a pessoa a não se amar mais a si
mesma senão em função de Deus e das criaturas como meios escolhidos e colocados por Deus à
nossa volta para chegarmos até Ele.
Este espírito de caridade fraterna deve necessariamente impelir os inscritos para um
aperfeiçoamento contínuo da sua alma, para uma vida cada vez mais unida à de Cristo até se tornar
em todas as suas acções a sua transparência verdadeira e sincera. Oponhamo-nos à tentação de uma
tranquilidade estática, alheia a nós e aos outros, para podermos estar prontos a partir para realizar
um apostolado verdadeiro e dinâmico.
O princípio da unidade que nos deve impelir para o exercício prático de caridade fraterna que
encontra a sua concretização na mútua compreensão, no mútuo apoio nas inevitáveis lacunas
pessoais, na oração e na oferta do sacrifício de reparação e propiciação para que um dado membro
da Associação tenha toda a vivacidade e dinamismo apostólico que precisa de ter.
O espírito de caridade fraterna que deve ligar os inscritos entre si é o primeiro fruto que a
Associação espere e requere.
No grupo façamos uma avaliação de como procedemos unidos para a realização das tarefas
missionárias.
Decidamos pois, com firmeza, que desejamos trabalhar juntos e não desistamos demasiado
facilmente do propósito de evangelizar aqueles territórios (geográficos e humanos) que são mais
rebeldes a ser alcançados pela graça de Deus.
29
9. A salvação de todos os povos
A missão que Jesus confia aos discípulos é muito precisa: anunciar o Evangelho do Reino a todas as
nações. Ser testemunhas da Sua morte e da Sua ressurreição significa também ser testemunhas de
uma vida nova, de uma vida plena.
Texto bíblico: Lc 10, 1-24
1
Depois disto, o Senhor designou outros setenta e dois discípulos e enviou-os dois a dois, à sua
frente, a todas as cidades e lugares aonde Ele havia de ir. 2Disse-lhes: «A messe é grande, mas os
trabalhadores são poucos. Rogai, portanto, ao dono da messe que mande trabalhadores para a sua
messe. 3Ide! Envio-vos como cordeiros para o meio de lobos. 4Não leveis bolsa, nem alforge, nem
sandálias; e não vos detenhais a saudar ninguém pelo caminho. 5Em qualquer casa em que
entrardes, dizei primeiro: ‘A paz esteja nesta casa!’ 6E, se lá houver um homem de paz, sobre ele
repousará a vossa paz; se não, voltará para vós. 7Ficai nessa casa, comendo e bebendo do que lá
houver, pois o trabalhador merece o seu salário. Não andeis de casa em casa. 8Em qualquer cidade
em que entrardes e vos receberem, comei do que vos for servido, 9curai os doentes que nela houver
e dizei-lhes: ‘O Reino de Deus já está próximo de vós.’
10
Mas, em qualquer cidade em que
entrardes e não vos receberem, saí à praça pública e dizei: 11‘Até o pó da vossa cidade, que se pegou
aos nossos pés, sacudimos, para vo-lo deixar. No entanto, ficai sabendo que o Reino de Deus já
chegou.’»
13
12
«Digo-vos: Naquele dia haverá menos rigor para Sodoma do que para aquela cidade.
Ai de ti, Corozaim! Ai de ti, Betsaida! Porque, se em Tiro e em Sídon se tivessem operado os
milagres que entre vós se realizaram, de há muito que teriam feito penitência, vestidas de saco e na
cinza. 14Por isso, no dia do juízo, haverá mais tolerância para Tiro e Sídon do que para vós.
Cafarnaúm, porventura serás exaltada até ao céu? É até ao inferno que serás precipitada.
15
16
E tu,
Quem
vos ouve é a mim que ouve, e quem vos rejeita é a mim que rejeita; mas, quem me rejeita, rejeita
aquele que me enviou.» 17Os setenta e dois discípulos voltaram cheios de alegria, dizendo: «Senhor,
até os demónios se sujeitaram a nós, em teu nome!» 18Disse-lhes Ele: «Eu via Satanás cair do céu
como um relâmpago. 19Olhai que vos dou poder para pisar aos pés serpentes e escorpiões e domínio
sobre todo o poderio do inimigo; nada vos poderá causar dano. 20Contudo, não vos alegreis porque
os espíritos vos obedecem; alegrai-vos, antes, por estarem os vossos nomes escritos no Céu.»
21
Nesse mesmo instante, Jesus estremeceu de alegria sob a acção do Espírito Santo e disse:
«Bendigo-te, ó Pai, Senhor do Céu e da Terra, porque escondeste estas coisas aos sábios e aos
inteligentes e as revelaste aos pequeninos. Sim, Pai, porque assim foi do teu agrado.
30
22
Tudo me foi
entregue por meu Pai; e ninguém conhece quem é o Filho senão o Pai, nem quem é o Pai senão o
Filho e aquele a quem o Filho houver por bem revelar-lho.»
23
Voltando-se, depois, para os
discípulos, disse-lhes em particular: «Felizes os olhos que vêem o que estais a ver. 24Porque - digovos - muitos profetas e reis quiseram ver o que vedes e não o viram, ouvir o que ouvis e não o
ouviram!»
Reflexão
A leitura desta passagem evangélica oferece-nos esta mensagem: a preocupação de Jesus, a mesma
de Deus Pai, é que o anúncio da Boa Nova chegue a todos os povos e nações. Isto não significa que
todos tenham que ser cristãos, como se pensava no tempo dos colonizadores, significa, pelo
contrário, que a todo o ser humano chegue o anúncio da salvação, oferecida por Deus por meio de
Seu Filho Jesus.
Um segundo aspecto presente neste texto, sublinha a necessidade, por força do próprio baptismo, de
nos comprometermos como testemunhas e anunciadores do Evangelho. Isto deve acontecer
demonstrando concretamente quanto recebido. Realmente a alegria do Evangelho que foi
experimentada deve ser visível mais no exemplo de vida que nas palavras.
Em terceiro lugar, o anúncio do Evangelho não pode ser imposto com a força: é antes de tudo uma
proposta de vida que assume somente quem é capaz de renunciar a si mesmo, deixando que a
Palavra de Deus, como uma semente, germine no seu coração.
Ainda, Jesus é muito claro: “O importante não é submeter os espíritos, o importante é que os seus
nomes sejam escritos no céu”. Isto significa que trabalhar para a construção do Reino é um
privilégio, nem todos o fazem, pelo que, sempre que o Reino cresce mesmo só um pouco, não é por
nosso mérito, mas do Pai. Mas não devemos estar menos contentes pelo nosso bom agir, porque o
pai está junto de nós e nós estamos no Seu coração, como operários particularmente amados.
Salmo 35 (34)
Julga, Senhor, aqueles que me acusam, combate os que me combatem.
Compromisso no apostolado
Pedi pois ao Senhor da messe, para que envie operários para a Sua messe! – A associação dirige um
apelo a todos os inscritos para que se empenhem em descobrir vocações para a continuidade e
extensão do apostolado. Com a finalidade de obter novas e santas vocações que se dediquem à
direcção e apoio do apostolado dos que sofrem, segundo o exemplo de Cristo, ouso promover no
âmbito do nosso Centro orações extraordinárias, para obter dons extraordinários.
31
Tantos doentes devem ser iluminados e apoiados na oferta dos seus sofrimentos e na obtenção de
uma sã independência pessoal.
A nós compete pois com oração mais intensa atrair do Espírito Santo este dom. Que por parte de
todos se eleve uma ardente súplica ao Senhor, que sem olhar para as nossas faltas, mande vocações,
segundo o Seu plano de misericórdia.
Decidamos, no grupo, rezar intensamente por novas vocações nos Silenciosos Operários da Cruz.
Mas consideremos também como anunciar aos jovens como responderem à chamada de Deus
colocando em jogo a sua vida.
32
10. Como o próximo
Ele (o bom Samaritano) não age por motivos sobrenaturais ou por obediência aos mandamentos; e
no entanto o seu comportamento tão humano, encarna o comportamento de Deus e faz aquilo que é
o coração da Lei.
Texto bíblico: Lc 10, 25-37
25
Levantou-se, então, um doutor da Lei e perguntou-lhe, para o experimentar: «Mestre, que hei-de
fazer para possuir a vida eterna?» 26Disse-lhe Jesus: «Que está escrito na Lei? Como lês?» 27O outro
respondeu: «Amarás ao Senhor, teu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma, com todas
as tuas forças e com todo o teu entendimento, e ao teu próximo como a ti mesmo.»
28
Disse-lhe
Jesus: «Respondeste bem; faz isso e viverás.» 29Mas ele, querendo justificar a pergunta feita, disse a
Jesus: «E quem é o meu próximo?» 30Tomando a palavra, Jesus respondeu: «Certo homem descia
de Jerusalém para Jericó e caiu nas mãos dos salteadores que, depois de o despojarem e encherem
de pancadas, o abandonaram, deixando-o meio morto.
31
Por coincidência, descia por aquele
caminho um sacerdote que, ao vê-lo, passou ao largo.
32
Do mesmo modo, também um levita passou por aquele lugar e, ao vê-lo, passou adiante.
33
Mas
um samaritano, que ia de viagem, chegou ao pé dele e, vendo-o, encheu-se de compaixão.
34
Aproximou-se, ligou-lhe as feridas, deitando nelas azeite e vinho, colocou-o sobre a sua própria
montada, levou-o para uma estalagem e cuidou dele. 35No dia seguinte, tirando dois denários, deuos ao estalajadeiro, dizendo: ‘Trata bem dele e, o que gastares a mais, pagar-to-ei quando voltar.’
36
Qual destes três te parece ter sido o próximo daquele homem que caiu nas mãos dos salteadores?»
37
Respondeu: «O que usou de misericórdia para com ele.» Jesus retorquiu: «Vai e faz tu também o
mesmo.»
Reflexão
Todos conhecemos suficientemente o famoso episódio do bom Samaritano, narrado no Evangelho
de Lucas. É importante pois procurar aprofundar o sentido original que está por detrás da narração
evangélica: a pessoa que interroga Jesus, é um doutor da lei. Conhece e domina perfeitamente todos
os aspectos do que, segundo as normas, é justo ou injusto, puro ou impuro. Todavia não consegue
compreender qual é o autêntico espirito desta lei que sabe de cor. Com a parábola Jesus quer
manifestar a necessidade de dar vida a esta lei, tão bem conhecida dos especialistas. Não basta
“conhecer” os mandamentos, é importante pô-los em prática sem qualquer limite. Para um judeu,
33
era normal desprezar um samaritano, e vice-versa, para um samaritano, a coisa mais “natural” era
desprezar um judeu. Jesus modifica esta atitude já profundamente radicada. Não importa a
proveniência, o nível social, a confissão religiosa, a opção política. O outro, próprio na sua
diversidade, está aqui, diante de mim, é o meu próximo, e mesmo por isso é sacramento do Pai,
reflexo do criador, por isso merece todo o meu respeito e o meu amor.
“Vai e também tu faz o mesmo”, uma palavra de envio que vale também para nós hoje e que cada
dia se torna mais exigente. Frequentemente, de facto, nos acontece como ao doutor da lei. Graças à
formação cristã recebida sabemos muitas coisas, porém só de cor. Devemos aprender a viver quanto
foi colocado nas nossas raízes, quanto nos ensinaram desde a infância.
Salmo 38 (37)
Senhor, não me repreendas com a tua ira, nem me castigues com a tua indignação.
Compromisso no apostolado
Um samaritano teve compaixão – Não deve existir somente na Igreja de Deus o apostolado do
piedoso samaritano que acolhe e alivia as feridas do irmão que sofre, ou a assistência espiritual
exercida no maior espirito de caridade a todos os que sofrem no mundo, mas deve existir o
apostolado activo dos mesmos doentes exercido junto dos outros doentes, para os convencer a
serem instrumentos operantes nas Mãos Imaculadas da Virgem Santa pela salvação da humanidade.
Reconheçamos nestas palavras do Fundador o ministério específico do Centro Voluntários do
Sofrimento: “a aproximação apostólica da pessoa doente tem o mesmo valor da assistência ao corpo
do doente. As duas acções são necessárias. Mas a missão do CVS é a de aliviar as feridas interiores
e de aí versar o óleo da esperança e o vinho da consolação”.
34
11. Como o estrangeiro
Tornar atrás para agradecer é a verdadeira cura. Só se o coração for capaz de gratidão é que também
a vida viverá dela, de outro modo permanecerá sempre doente da lepra do individualismo.
Texto bíblico: Lc 17, 11-19
11
Quando caminhava para Jerusalém, Jesus passou através da Samaria e da Galileia.
numa aldeia, dez homens leprosos vieram ao seu encontro; mantendo-se à distância,
12
Ao entrar
13
gritaram,
dizendo: «Jesus, Mestre, tem misericórdia de nós!» 14Ao vê-los, disse-lhes: «Ide e mostrai-vos aos
sacerdotes.» Ora, enquanto iam a caminho, ficaram purificados.
voltou, glorificando a Deus em voz alta;
lhe. Era um samaritano.
17
16
15
Um deles, vendo-se curado,
caiu aos pés de Jesus com a face em terra e agradeceu-
Tomando a palavra, Jesus disse: «Não foram dez os que ficaram
purificados? Onde estão os outros nove? 18Não houve quem voltasse para dar glória a Deus, senão
este estrangeiro?» 19E disse-lhe: «Levanta-te e vai. A tua fé te salvou.»
Reflexão
Lucas apresenta-nos como deve ser a atitude do crente perante a lei e como deve ser acolhida a
novidade do Reino que Jesus anuncia e instaura. É evidente a desproporção numérica dos
agradecidos, um por cada dez. Parece exagerada, porém faz reflectir sobre o comportamento do
crente perante uma falsa interpretação da lei e de uma falsa imagem de Deus.
Os dez leprosos receberam todos, o mesmo benefício, porém só um agradece, aquele que ninguém
esperaria: um samaritano (um estrangeiro e para os judeus um herético). Ele reconhece a acção
generosa, misericordiosa e gratuita de Deus e comporta-se consequentemente. Só ele, que se
reconhece indigno de receber o favor de Deus, se sente tocado pela acção divina. Superando o
caminho ordinário da observância legal, vai agradecer “pessoalmente” a Deus, presente na pessoa
de Jesus. O leproso experimentou o significado da libertação, do resgate, da exclusão, do
isolamento e do ser apontado.
Os outros nove, que representam a maioria do povo eleito, não conseguem perceber neste sinal a
proximidade de Deus. Assim não exprimem qualquer gesto de louvor e de gratidão. Para eles Deus
continua a ser alguém que se limita a exigir a observância da lei. Esta desproporção, que Lucas nos
apresenta, não nos deve admirar. Se tentarmos pensar e analisar o significado do cristianismo no
contexto actual, podemos notar qualquer coisa de muito semelhante: de milhões e milhões de
35
cristãos que há no mundo, quantos são aqueles que conseguiram descobrir que a fé é qualquer coisa
a mais em relação à observância de normas e preceitos?
Salmo 30 (29)
Senhor, eu te enalteço, porque me salvaste e não permitiste que os inimigos se rissem de mim.
Compromisso no apostolado
Ser curados – Cristo vai ao encontro dos doentes e exige fé porque ela é a luz dos olhos espirituais.
É o caminho que conduza à vida, vida eterna certamente se se vive de fé, mas também vida
temporal.
Cristo exige a fé, e a esta importante e empenhadora realidade deve ser dirigida cada iniciativa dos
vários Centros Diocesanos e do Animador dos Grupos. Os verdadeiros apóstolos crescem do calor
que a Eucaristia irradia, bem como do verdadeiro amor que os une à Imaculada. Fazer crescer nos
associados do Centro Voluntários do Sofrimento a fé é a actividade mais importante que possa ser
desenvolvida, promover tais iniciativas significa tornar a fé radiosa. A fé sublima-nos acima de todo
o saber humano e leva-nos a descobrir a nobreza da origem do homem e a valorizá-lo como é, com
os dotes que tem, sendo ele instrumento de Deus.
A fé torna-nos anunciadores do Reino. Assim de cada enfermo e de cada homem que, do encontro
com Cristo tenha obtido a luz da fé transformando a sua existência, Jesus faz dele, um anunciador
do Reino. Era a saúde total, da alma e do corpo, que se desprendia do Coração de Cristo; o
beneficiado por sua vez torna-se um agradecido anunciador das Suas maravilhas. O mundo gera a
morte e os seus seguidores tornam-se os seus pálidos e agitados anunciadores, Cristo, pelo
contrário, dá a graça que transforma, alegra e anima a esperança mais fecunda. À Imaculada bastam
os dotes da alma que tornam luminosos, activos e intrépidos.
Quais fecundos e comprometedores argumentos sugerem estas três passagens para tranquilizar
tantos nossos associados, temerosos em assumir responsabilidades de apoio na formação de um
novo Grupo de Vanguarda.
A alma, então, seguindo Maria Santíssima, torna-se luminosa pela posse da verdade; torna-se activa
com o impulso do Espirito Santo; torna-se intrépida porque apoiada na “Pedra angular” que é
Cristo. Estas são as consoladoras verdades que os nossos doentes perseguem e os podem impelir
para a acção, infundindo neles coragem para se tornarem apóstolos de salvação.
Somos curados para ser luminosos, activo e intrépidos. Como realizamos estas finalidades? Com
que meios?
36
12. A salvação celebrada
A atitude que nos leva a ser mensageiros de uma vida nova é a da partilha da Palavra e do Pão em
que cada vez redescobrimos a presença do Cristo vivo e ressuscitado que celebramos com alegria
em cada Eucaristia.
Texto bíblico: Lc 24, 13-35
13
Nesse mesmo dia, dois dos discípulos iam a caminho de uma aldeia chamada Emaús, que ficava a
cerca de duas léguas de Jerusalém;
15
14
e conversavam entre si sobre tudo o que acontecera.
Enquanto conversavam e discutiam, aproximou-se deles o próprio Jesus e pôs-se com eles a
caminho;
16
os seus olhos, porém, estavam impedidos de o reconhecer.
17
Disse-lhes Ele: «Que
palavras são essas que trocais entre vós, enquanto caminhais?» Pararam entristecidos. 18E um deles,
chamado Cléofas, respondeu: «Tu és o único forasteiro em Jerusalém a ignorar o que lá se passou
nestes dias!»
19
Perguntou-lhes Ele: «Que foi?» Responderam-lhe: «O que se refere a Jesus de
Nazaré, profeta poderoso em obras e palavras diante de Deus e de todo o povo;
20
como os sumos-
sacerdotes e os nossos chefes o entregaram, para ser condenado à morte e crucificado.
21
Nós
esperávamos que fosse Ele o que viria redimir Israel, mas, com tudo isto, já lá vai o terceiro dia
desde que se deram estas coisas.
22
É verdade que algumas mulheres do nosso grupo nos deixaram
perturbados, porque foram ao sepulcro de madrugada
23
e, não achando o seu corpo, vieram dizer
que lhes apareceram uns anjos, que afirmavam que Ele vivia.
24
Então, alguns dos nossos foram ao
sepulcro e encontraram tudo como as mulheres tinham dito. Mas, a Ele, não o viram.» 25Jesus disselhes, então: «Ó homens sem inteligência e lentos de espírito para crer em tudo quanto os profetas
anunciaram!
26
Não tinha o Messias de sofrer essas coisas para entrar na sua glória?»
27
E,
começando por Moisés e seguindo por todos os Profetas, explicou-lhes, em todas as Escrituras, tudo
o que lhe dizia respeito.
28
Ao chegarem perto da aldeia para onde iam, fez menção de seguir para
diante. 29Os outros, porém, insistiam com Ele, dizendo: «Fica connosco, pois a noite vai caindo e o
dia já está no ocaso.» Entrou para ficar com eles.
30
E, quando se pôs à mesa, tomou o pão,
pronunciou a bênção e, depois de o partir, entregou-lho.
31
Então, os seus olhos abriram-se e
reconheceram-no; mas Ele desapareceu da sua presença. 32Disseram, então, um ao outro: «Não nos
ardia o coração, quando Ele nos falava pelo caminho e nos explicava as Escrituras?» 33Levantandose, voltaram imediatamente para Jerusalém e encontraram reunidos os Onze e os seus
companheiros, 34que lhes disseram: «Realmente o Senhor ressuscitou e apareceu a Simão!» 35E eles
37
contaram o que lhes tinha acontecido pelo caminho e como Jesus se lhes dera a conhecer, ao partir o
pão.
Reflexão
O elemento a sublinhar nesta passagem do Evangelho de Lucas é o caminho. Toda a vida de Jesus
foi um caminho e nós devemos tomar consciência, ao iniciar um novo ano pastoral, no final de um
ano social, de qual é o caminho efectivamente percorrido. Os discípulos caminharam com Jesus,
mas, enquanto o caminho de Jesus tinha como meta final o cumprimento do plano salvífico do Pai,
o caminho dos discípulos acabava na incerteza, na tristeza, na frustração. “Esperávamos” é a triste
constatação dos discípulos a caminho de Emaús. Isto significa que a vida, a paixão e ressurreição do
Mestre, não pode ser uma escolha facultativa para o caminho do discípulo. (v. 19-20; 22-24).
Este é o momento propício em que o Ressuscitado aproveita para iniciar a ratificar o caminho do
discípulo. São dois os elementos: o primeiro fundado na Escritura, cuja parte explicando-a ponto
por ponto até que a compreendam. O segundo elemento é a própria aplicação da Escritura que Jesus
tinha já vivido e que quis repisar exprimindo-se no gesto de partilhar a mesa. Ele aqui partilha-a
com dois dos seus discípulos, durante toda a Sua vida tinha-a partilhado com todo o tipo de
mulheres e homens, realizando seguramente, em cada ocasião, qualquer sinal ou pronunciando
qualquer palavra. Em diferentes e repetidos modos Jesus tinha expresso a dimensão nova do estar à
mesa, que ia mais além do simples gesto de comer.
É o gesto da mesa, aquele que “abre” os olhos aos discípulos: reconhecem-no e ao mesmo tempo
compreendem aquilo que sentiam quando Jesus lhes tinha explicado a Escritura: o ardor e a força da
graça. Tinham contudo necessidade de um sinal da mesa/pão para compreender totalmente.
É de notar como Emaús fosse inicialmente o destino final dos discípulos. Agora, na raiz da autorevelação de Jesus o Cristo, o caminho é modificado. Decidem retornar a Jerusalém, onde se
encontram os seus amigos, ainda duvidosos. O processo que conduz à fé está ainda aberto.
Reconhecer, aceitar e celebrar o Vivente e quanto manifestou (v. 33-35).
Salmo 16 (15)
Defende-me, ó Deus, porque em ti me refugio. Digo ao Senhor: “Tu és o meu o meu Deus”.
Compromisso no apostolado
Na verdade o Senhor ressuscitou! – Por três vezes, em circunstâncias diversas, o Divino Mestre
proclamou que vinha para destruir as consequências do pecado e com a Sua paixão, morte e
ressurreição, a dor e a morte, com a Sua morte e ressurreição, teriam cessado de ser um enigma
38
desesperado e desolador, e teriam adquirido as novas dimensões que só Ele podia dar e só n’Ele,
para sempre, poderiam subsistir. Se Cristo não tivesse ressuscitado, vã seria a nossa fé.
Maravilhosa disposição da providência de Deus, que não somente quer com a morte destruir a
morte, mas fazer dela fonte de vida.
A dor permanece sempre dor, é verdade; mas é uma dor sacralizada, tornada fonte de vida, energia e
suporte de cada empreendimento espiritual.
O nosso trabalho apostólico não é vão, enquanto existir uma pessoa que sofre. Os nossos horizontes
não são finitos, as nossas lutas não são inúteis. Verifiquemos no Grupo o trabalho feito durante o
ano e disponhamos os recursos para criar um novo grupo no próximo ano apostólico.
39
APÊNDICE
40
CELEBRAÇÃO
41
Ritual de Adesão
Ninguém se torne indolente na fé
Celebração para a adesão anual ao CVS
No Ano Novaresiano, enquanto esperamos a Beatificação do Padre Fundador, Mons. Luís
Novarese, entramos também no Ano da Fé que o Santo Padre Bento XVI propõe a todos os fiéis.
A celebração da adesão, como habitualmente, posta no início do ano pastoral, não é inserida na
Santa Missa. Se se deseja fazê-lo, podem adaptar-se os vários conteúdos numa colocação
apropriada da celebração eucarística.
Ao cântico inicial são levados os sinais da adesão: o cartão, o Estatuto, o terço do rosário, o
crucifixo, uma imagem do Fundador, uma imagem de Nossa Senhora de Lourdes e uma de Nossa
Senhora de Fátima.
Cântico
P – Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.
A – Amem.
P – Irmãos e irmãs, estamos aqui reunidos, no início do ano pastoral, para aderir ao Cento
Voluntários do Sofrimento, a graça, a paz, a alegria e a coragem apostólica esteja convosco.
A – E com o teu espírito.
P – Irmãos e irmãs, escutemos uma palavra do venerável Luís Novarese: “Se a fé se esmorece,
Cristo deixa de ser Caminho, Verdade e Vida e a Sua Pavra já não é o princípio inspirador da
existência de cada homem.
É preciso pois, sem subterfúgios, viver a fé e trabalhar em conformidade com os princípios
estimulantes e libertadores do Baptismo”.
A – Sintamos este convite dirigido a cada um de nós, para que ninguém se torne indolente na fé.
Esta é companheira de vida, que permite perceber, com um olhar sempre novo, as maravilhas que
Deus realiza por nós. Solícita a identificar os sinais dos tempos no hoje da história, a fé obriga cada
um de nós a tornar-se sinal vivo da presença do Ressuscitado no mundo. Aquilo de que o mundo,
hoje, tem particular necessidade é o testemunho credível de quantos, iluminados na mente e no
coração pela Palavra do Senhor, são capazes de abrir o coração e a mente de muitos outros ao
desejo de Deus e da vida verdadeira, aquela que não tem fim. (Bento XVI, Carta Apostólica: Porta
Fidei, nº 15).
P – Assim seja para cada um de vós, com a graça fiel de Deus.
A – Amem.
42
Cântico
1 L - A “porta da fé” que introduz na vida de comunhão com Deus e permite a entrada na sua
Igreja, está sempre aberta para nós. É possível cruzar este limiar, quando a Palavra de Deus é
anunciada e o coração se deixa plasmar pela graça que transforma (Porta Fidei, nº1).
Da Primeira Epístola aos Coríntios (2, 1-5)
1
Eu mesmo, quando fui ter convosco, irmãos, não me apresentei com o prestígio da linguagem ou
da sabedoria, para vos anunciar o mistério de Deus. 2Julguei não dever saber outra coisa entre vós a
não ser Jesus Cristo, e este, crucificado. 3Estive no meio de vós, cheio de fraqueza, de receio e de
grande temor. 4A minha palavra e a minha pregação, nada tinham dos argumentos persuasivos da
sabedoria humana, mas eram uma demonstração do poder do Espírito, 5para que a vossa fé não se
baseasse na sabedoria dos homens, mas no poder de Deus.
Palavra de Deus.
A – Nós anunciamos Cristo crucificado, potência e sapiência de Deus.
Consideremos a nossa chamada: do ponto de vista humano, não há entre nós muitos sábios, nem
muitos poderosos, nem muitos nobres.
Deus escolheu o que há de fraco no mundo, para confundir o que é forte, escolheu os que nada são,
para reduzir ao nada aqueles que são alguma coisa. Amem
Cântico
2 L – De uma exortação de Mons. Luís Novarese no início de um novo ano pastoral.
“No nosso Centro não nos ficamos por numa filial devoção a Nossa Senhora, mas comprometemonos numa «consagração” total à Imaculada para pôr em prática os seus apelos de oração e de
penitência, e prestar assim o maior e mais urgente serviço aos irmãos.
A oração e a reparação são os elementos equilibradores deste momento de vida eclesial, tão
perturbada e em alguns lugares demasiado debilitada, próprio por esta carência.
A Associação que acolhe somente pessoas convictas, com fé viva e caridade ardente deve repetir no
âmbito dos inscritos e à sua volta através do apostolado, as verdades indicadas, animando quantos
deram a sua adesão para viverem o programa abraçado: sem respeito humano, dispostos a
caminharem contra a corrente, sustentados pelo Evangelho, pelos ensinamentos do Concílio, dos
Papas e dos Bispos.
O Centro não está de modo nenhum preocupado com o número de pessoas; ele quer almas
comprometidas no plano da graça, almas que pretendem dar um específico testemunho cristão e que
estão verdadeiramente preocupadas com a evangelização.
Quem adere, seja bem-vindo. O nosso agradecimento a quem quer aderir às finalidades da
Imaculada, formando com Ela o grupo de operários na construção especializada da valorização do
sofrimento.
P – Irmãos e irmãs, quem são os verdadeiros operadores do CVS senão aqueles que agem em
espírito de fé, na linha da mais estreita observância das directivas do próprio Centro? É este o
43
maravilhoso testemunho das almas sinceramente operosas que fizeram e fazem ainda agora a
história eclesial do Centro Voluntários do Sofrimento.
Peçamos a sua intercessão e a intercessão da Mãe de Deus enquanto nos dispomos a renovar os
nossos compromissos de adesão.
Mãe de Deus
Saúde dos enfermos
Nossa Senhora de Lourdes
Nossa Senhora de Fátima
Venerável Luís Novarese
Servo de Deus Angiolino Bonetta
Servo de Deus Giunio Tinarelli
Serva de Deus Anna Fulgida Bartolacelli
Servo de Deus Fausto Gei
Rogai por nós
Rogai por nós
Rogai por nós
Rogai por nós
Intercedei por nós
“
“
“
“
“
“
“
“
Oremos.
Ó Deus, que no coração de quem acredita no valor salvífico do sofrimento semeastes esperança e
coragem apostólica, olhai para estes vossos filhos que hoje se entregam à força e à eficácia do vosso
mistério pascal de morte e ressurreição e conduzi-os como testemunhas credíveis de fé na
construção do vosso reino na terra. Por Cristo Nosso Senhor.
A – Amem.
P - Irmãos e Irmãs, “ao longo deste tempo, manteremos o olhar fixo em Jesus Cristo, «autor e
consumador da fé»: n’Ele encontra plena realização, toda a ânsia e anélito do coração humano. A
alegria do amor, a resposta ao drama da tribulação e do sofrimento, a força do perdão face à ofensa
recebida e a vitória da vida sobre o vazio da morte, tudo isto encontra plena realização no mistério
da sua Encarnação, do seu fazer-Se homem, do partilhar connosco a fragilidade humana para a
transformar com a força da sua ressurreição.
N’Ele, morto e ressuscitado para a nossa salvação, encontram plena luz os exemplos de fé que
marcaram estes dois mil anos da nossa história de salvação” (Porta Fidei, nº 13).
P – Reconheceis as raízes da vossa filiação no CVS nos apelos de oração e de penitência feitos pela
Virgem Santa em Lourdes e em Fátima, para reparar os muitos pecados que ofendem o Coração de
Jesus e o Coração Imaculado de Maria; pela conversão dos pecadores; pelo Papa, pelos Sacerdotes e
seu ministério, para obter a paz? (doEstatuto CVS).
A – Sim, reconheço-me nestas raízes.
P – Reconheceis-vos como aderentes ao CVS que vivem a sua vocação baptismal e missão
apostólica na comunhão com Cristo crucificado e ressuscitado, acolhendo a particular presença de
Maria na vida da Igreja, entregando-vos à “Santa Mãe” que forma os verdadeiros apóstolos de
Cristo? (do Estatuto CVS).
44
A – Sim, entrego-me a Maria para ser de Cristo.
P – Tendes consciência do facto que, professando os vossos compromissos baptismais, vos é pedida
uma plena adesão da vontade, a uma corajosa aceitação da vossa vida, sem vos renderdes ao mal e à
fraqueza, sem fugir ou esconder a vossa situação de sofrimento; crescendo no bem e desenraizando
de vós mesmos o mal? (do Estatuto CVS).
A – Sim, não quero subtrair-me à tarefa de existir.
P – Em união a Cristo, quereis acolher não só a salvação, o sentido, a esperança, a consolação para
a vossa vida, mas também a chamada a um compromisso apostólico, no anúncio do Evangelho aos
irmãos que sofrem? (do Estatuto CVS).
A – Sim, comprometo-me activamente no apostolado da valorização do sofrimento.
P – Quereis exprimir o vosso papel activo de sujeitos responsáveis, oferecendo a vossa
espiritualidade e a consequente acção, como dom e riqueza para a Igreja e para a sociedade? (do
Estatuto CVS)
A – Sim, quero com a ajuda de Deus e guiado por Maria Santíssima.
Neste momento são entregues os cartões e, aos novos inscritos também o Estatuto e o terço do
Rosário. Entretanto canta-se.
Segue-se o rito de conclusão.
P – Irmãos e irmãs, “pela fé, no decurso dos séculos, homens e mulheres de todas as idades, cujo
nome está escrito no Livro da vida, confessaram a beleza de seguir o Senhor Jesus nos lugares onde
eram chamados a dar testemunho do seu ser cristão: na família, na profissão, na vida pública, no
exercício dos carismas e ministérios a que foram chamados.
Pela fé, vivemos também nós, reconhecendo o Senhor Jesus vivo e presente na nossa vida e na
história.
Ele vive e reina pelos séculos dos séculos. (Porta Fidei, nº 13)
A – Amem.
45
TESTOS DE APOIO
46
O Credo
de Mons. Luís Novarese
Creio em Deus Pai omnipotente, criador do céu e da terra.
Creio em Jesus Cristo, seu único Filho, nascido de Maria, Virgem Imaculada, gloriosamente
Assunta ao Céu em corpo e alma.
Creio na Santíssima Trindade que faz de nós templos do Espírito Santo.
Creio que no Baptismo e no Crisma, foi difundido em nós o Espírito Santo.
Creio que Jesus veio a este mundo para nos falar do Pai, para nos revelar o Seu amor.
Creio na graça, que é sempre concedida a quem sinceramente a invoca.
Creio que Deus não faz nada ao acaso. Ele destina os doentes, por um particular desígnio de amor, a
cooperar com Ele na salvação do mundo.
Creio que a Cruz gera a fé.
Creio que Jesus chama à valorização da dor para o advento do reino de Deus.
Creio que Jesus chama a dor a sair da sua desesperada inutilidade
Creio que, quanto mais sou fraco tanto mais sou potente.
Creio que Nossa Senhora se dirigiu a nós e nos pediu oração e penitência pela salvação dos irmãos.
Creio que a Mãe da Igreja nos apresentou um programa claro e preciso que nos torna responsáveis
pela vida da sociedade.
Creio na inseparável união que deve existir entre o nosso sofrimento e o de Cristo, para que não seja
anulado o valor do nosso sacrifício.
Creio no apostolado da valorização do sofrimento sugerido pela Imaculada em Lourdes e em
Fátima.
Creio que os doentes, os mais pobres, os mais impedidos são os mais válidos suportes do CVS e da
Igreja.
Creio na entrega à Imaculada.
Creio no silêncio adorante que cede espaço à obra de Deus Trindade, nosso Hóspede na Tenda
Interior da sua criatura.
Creio no binário da humildade e da obediência, no qual o Filho de Deus, nascido de Maria Virgem,
precede o homem para o reconduzir ao Pai.
Creio na força irresistível do nosso apostolado.
Creio que nada nos poderá travar na execução do nosso programa de conquista de todas as almas, e
de salvação de todos os pecadores, porque a vontade de Deus é esta: que todos acreditem n’Ele e no
Filho que enviou, Jesus Cristo.
47
Creio mas faz-me acreditar ó Senhor na força construtiva da dor. Amen.
«NECESSIDADE DE QUE OS VOLUNTÁRIOS DO SOFRIMENTO DEÊM NA IGREJA O
SEU TESTEMUNHO ESPECÍFICO»
O Centro Voluntários do Sofrimento deve dar o seu testemunho. É para o Centro um dever e uma
responsabilidade diante de Deus e da Igreja viver segundo a sua realidade que recebeu da própria
Igreja.
O momento histórico que vivemos, em que nos confrontamos com naturalismo, dessacralização,
hedonismo, materialismo prático e teórico, exige, como contrapeso, uma acção precisa, dirigida não
somente a pôr em evidência as lacunas, mas a combater e edificar eclesial e socialmente um plano
oposto.
O Centro Voluntários do Sofrimento hoje deve dar o seu contributo, os seus frutos.
Exigem estes frutos:
 Os Bispos, que nos aprovaram e acolheram nas suas Dioceses. Eles têm necessidade deste
aporte porque o plano apostólico apoia na plenitude da oferta do Calvário: oferta do Cristo
histórico e do Cristo místico.
 A Igreja que aceitou o programa; consagrou-o com a sua aprovação e assim se tornou um
programa de acção precisa que corresponde às exigências dos tempos. Mediante a
aprovação definitiva, concedida pelo Papa João XXIII, com o Breve Apostolico «Valde
Probandae» de 24 de Novembro de 1960, o Centro deve caminhar segundo as suas
finalidades com os meios aprovados.
Os frutos que as Igrejas locais esperam e, por reflexo, que a Igreja universal exige, são:
 Aporte de oração que exige um verdadeiro e sentido retorno à oração vocal e mental, pessoal
e comunitária. Isto é necessário sobretudo na nossa época de exaltação exacerbada do
dinamismo e da confiança nos próprios planos de actividade,
 Aporte de penitência. Esta vai desde a metanóia (mudança ou conversão pessoal que é a
primeira penitência a realizar em nós próprios) até à penitência que é aceitação, das
consequências do pecado, trabalho e sofrimento, aceitando-as em união a Cristo e fazendo
com que se tornem meios de conquista.
 Submissão verdadeira, sentida, filial à Hierarquia. As ovelhas não se põem contra o pastor e
os filhos não se põem contra os responsáveis pelas suas almas. Em base a este princípio vital
o Centro, na sua estruturação interna e no seu dinamismo externo deve realmente
48
desenvolver, não uma acção de palavras, mas uma acção que testemunhe uma verdadeira e
cordial submissão de filhos, que colaboram para o bem da Igreja.
De resto a Imaculada, após a ascensão ao Céu do Seu divino Filho, uniu os seus passos aos
dos Bispos. Ficou com João e seguiu-o. Foi submissa também Ela à Hierarquia; dos
apóstolos recebeu a Eucaristia; permaneceu no cenáculo eixo de unidade na hierarquia e
adverte-nos também a nós hoje para a mesma submissão.
 De justiça. O Centro vive para uma finalidade precisa: realizar em si e em torno a si as
linhas apresentadas pela Imaculada. Nós estamos no Centro Voluntários do Sofrimento não
somente para um plano de formação de ascética pessoal, mas também para um plano de
dinâmica apostólica, de testemunho. Não viver a sua finalidade, para o Centro significa
retirar a finalidade de existência, esvaziar-se desnaturar-se.
 De caridade. O princípio fundamental não pode ser diverso daquele posto por Nosso Senhor
Jesus Cristo: «Amarás o Senhor teu Deus e o próximo como a ti mesmo». O «como» é
termo de comparação que compromete em proporção das exigências dos irmãos.
O terceiro motivo do nosso aporte é o compromisso do doente, dado à Associação, de valorizar o
seu ser em Cristo na finalidade apresentada pela Imaculada por objectivos bem precisos, através de
uma metodologia bem indicada.
De tal resulta que quem a ela adere é obrigado por lealdade a respeitá-la. Aquele que sofre, de facto,
dando a sua adesão ao programa de renovação espiritual, apresentado pela Virgem Santa em
Lourdes e em Fátima:
 Faz da sua vida uma oferta precisa para as finalidades expressas pela Imaculada, e é este um
dos aspectos da «voluntariedade»,
 Realiza um meio de apostolado entre os irmãos na dor para que todos os doentes descubram
as sua possibilidades positivas para uma precisa inserção na família, na Igreja e na
sociedade.
O doente então é sujeito de acção:
 Com a oferta do seu sofrimento;
 Com a dinâmica do seu apostolado, no âmbito da própria categoria.
Por consequência os doentes:
49
 Têm uma posição bem precisa na vida e na história da Igreja, que é verdadeira e própria
missão; posição espiritualmente insubstituível, necessária para a expansão e para a própria
vitalidade da Igreja.
 Em vista de tal missão, recebida não por escolha própria, nasce para eles o direito e o dever
de a exercer na forma mais dinâmica para o bem dos homens, para edificação da Igreja, com
a liberdade do espírito e ao mesmo tempo na comunhão com os irmãos em Cristo, sobretudo
com os seus pastores (cf. Apostolicam Actuositatem nº 4)
Os doentes. São pois inseridos na Igreja para uma missão de suporte e de expansão; são membros
de suporte da Igreja, como de suporte e insubstituível é o Calvário de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Não se diga que esta é uma exaltação dos doentes, fora de lugar. É somente uma sensibilização
sobre a sua vocação e sobre a sua responsabilidade.
(Luís Novarese, L’Ancora, nº 8/9 – 1976)
50
Viver a fé no sofrimento
O ensinamento de Mons. Novarese
O Ano da fé proclamado pelo Papa Bento XVI, representa uma ocasião importante para voltar às
raízes do ensinamento de Mons. Luís Novarese. Um ensinamento inspirado e guiado pela fé, que
enfrenta a questão angustiante que há mais de dois mil anos agita o cristianismo: porquê o
sofrimento?
A esta pergunta, “o apóstolo dos doentes”, como o definiu o Beato João Paulo II, deu uma resposta:
o sofrimento é uma dimensão da existência que deve ser interpretado e cujo mistério pode ser
acolhido e vivido à luz de Cristo crucificado e ressuscitado.
É esta luz que nos permite transformar a angústia em confiança, de modo a tornar o nosso
sofrimento um caminho espiritual que nos muda a nós e ao modo de pensar e viver a doença.
Mons. Novarese foi um grande explorador dos recursos do espírito nos limites do corpo sofredor.
Ensinou os enfermos a transfigurar o corpo doloroso no encontro com o Senhor ressuscitado,
segundo as palavras de São Paulo: “Examinai-vos a vós mesmos para ver se estais na fé; ponde-vos
à prova. Ou não reconheceis que Jesus Cristo está em vós?” (2 Coríntios 13, 5).
De ex-doente que fez em si a experiência da dor, Mons. Novares incitou os doentes a colocarem-se
à prova. A enfrentarem passo a passo a escalada espiritual que os conduziria ao cume: «Já não sou
eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim» (Gálatas 2, 20).
Percorramos brevemente as imagens da sua vida. Com nove anos de idade, depois de uma queda
grave, é atingido por uma gravíssima forma de tuberculose óssea, doença para a qual, na primeira
metade do século XX, não havia cura. Os médicos não davam esperança. O rapaz sofre com dores
atrozes, mantem-se em pé com as muletas e é internado em vários hospitais.
Vemo-lo no sanatório Santa Corona de Pietra Ligure. Aprendeu a tocar flauta para alegrar os outros
doentes, e os fieis que frequentam a capela do hospital vêem-no frequentemente recolhido em
oração diante de Cristo crucificado. É ao viver interiormente a sua doença que Mons. Novarese
inicia o seu caminho espiritual. O Reino de Deus está dentro de nós. Esta, e só esta é a via a seguir.
“Nós possuímos de tal modo dentro de nós, na nossa mente e no nosso coração o ordenamento de
vida espiritual que o Pai nos deu para podermos chegar ao Céu, que começamos a amá-lo e a
possuí-lo em nós para o realizar no momento oportuno” (Novarese, Terceira Meditação, Linhas
fundamentais do Silêncio Interior).
51
Na solidão diante do Crucificado, no encontro quotidiano com a oração, o jovem atravessa o limiar
da vida interior. Reza mais com o coração que com a mente. E nota progressos. Sente que o seu
desejo de consolação e de paz encontra resposta. Cada dia um pequeno passo enfrente, o Senhor
conquista espaço, na alma avança a esperança.
Percebendo o destaque das coisas e do mundo, Luís apercebe-se da mudança de perspectiva que
torna menos angustiante a relação com a dor. Abandonando-se à vontade do Senhor, intui que
medos e expectativas se esvaziam do peso insuportável para desvanecerem numa espécie de paz que
o consola e, por vezes, o conduz ao sorriso.
“Se não trabalhamos dentro de nós, nada constrói o silêncio em nós” (Quarta Meditação). “Na
própria tenda interior, ali, verdadeiramente, se desenvolve o trabalho de oficina, de limagem, de
confronto para fazer desaparecer as arestas, para amaciar, arredondar, fazer em modo que a acção se
assemelhe cada vez mais a Jesus” (Sétima Meditação).
Agora Luís está mais sereno. Descobriu que dentro de si há um percurso que conduz a Deus: basta
procurá-lo. Mas percebeu também que são muitos os obstáculos a superar: pensamentos e desejos, o
apego ao eu e o amor-próprio que impedem a descoberta do caminho. E o caminho é Jesus.
De autodidacta da contemplação, Novarese encontrou dentro de si o espaço para fazer experiência
do encontro com o Senhor. Deu-se conta que sentir-se amado dá à sua dor um significado mais
profundo e mais alto. E que o pensamento dirigido ao sofrimento do Filho de Deus na cruz lhe faz
sentir, no seu sofrimento de doente, a ligação que o une a Ele. Daqui um desejo forte e claro fez
caminho na sua alma: a vontade de partilhar o sofrimento com os outros doentes, para lhes
transmitir a sua descoberta.
O doente é um filho predilecto de Deus que não se deve render ou esconder. Pelo contrário, deve
aprender a pensar em si de um novo modo: não como objecto passivo de caridade, mas como sujeito
activo de apostolado entre os que sofrem, uma testemunha capaz de transmitir aos irmãos a força e a
beleza do seu sim ao Senhor mesmo na doença.
A grande intuição de Novarese sobre o apostolado do sofrimento (“O doente por meio do doente
com a ajuda do irmão são”) nasce daqui. Da fé que o guiou para a descoberta do Reino de Deus
dentro de si e lhe fez compreender a importância da prática espiritual no percurso de cura dos
doentes.
A fé que dá valor ao sofrimento e acompanha os enfermos no abraço de Cristo ressuscitado.
“Coragem, irmãos caríssimos, olhai para cima do vosso quartinho e para cima do extremo do vosso
leito; a vossa vida não está circunscrita a tais angustiantes horizontes. Vós tendes grandes
52
possibilidades. O mundo, as almas, têm necessidade de vós” (Luís Novarese, Pensieri, Edições
CVS).
53
Download