OLHOS POSTOS ALÉM-FRONTEIRAS No coração do mundo, por todo o mundo SUBSÍDIO PARA OS ENCONTROS DE GRUPO Ano pastoral 2012 -2013 1 Subsídio para os encontros de grupo O cargo de Anna Maria Cipriano (Presidente da Confederação CVS Internacional) Colaboraram: Ângela Petitti - SOdC Anna Maria Cipriano - SOdC Gonzalo Rendón – Biblista Mauro Anselmo - Jornalista Samar Al Nameh - SOdC Traduções: Francês: Schirmer Adrienne Inglês: Altobelli Barbara Polaco: Jelonek Eulalia e Izabela Rutkowska Português: Bastos Armando Espanhol: Blanco Perez Aníbal Húngaro: Lupsa Norbert A “CVS Internacional” é uma Confederação Internacional aprovada pelo Conselho Pontifício para os Leigos, no ano 2004. Tem como objectivo promover, favorecer e assegurar a realização da intuição carismática de Mons. Luís Novarese que vê no sofrimento, oferecido pela pessoa, uma participação no mistério pascal de Cristo que a converte em apóstolo. Assim a pessoa que sofre transforma-se em “primícia e profecia” para a valorização de toda a forma de sofrimento presente na vida do homem. Tudo isto com espírito de profunda adesão aos apelos de oração e penitência, próprios da espiritualidade mariana de Lourdes e Fátima. 2 A Confederação reconhece as duas aparições como momentos e lugares da sua origem espiritual. A Confederação CVS está presente na Europa, Ásia, África, Estados Unidos da América e América Latina. 3 Índice Apresentação ………………………………………………………...………..................…… pág. 4 Indicações práticas para a utilização das fichas ………………………............................…… pág. 5 Fichas de 1 a 12 …………………………………………………………..................….... ..… pág. 7 Em cada ficha: Texto bíblico Reflexão Salmo Compromisso no apostolado Apêndice Celebração Ritual de Adesão …………………………...………………………………...................……pág. 40 Textos de apoio Credo de Mons. Luís Novarese …………………………........................................................ pág. 45 Necessidade que os Voluntários do Sofrimento dêem na Igreja testemunho específico.......... pág. 46 Viver a fé no sofrimento – O ensinamento de Mons. Novarese ……….........................……. pág. 49 4 APRESENTAÇÃO Além-fronteiras: na pátria dos servos Sair de nós mesmos, ir ao encontro dos outros. Deixar os terrores da supremacia social e cultural, entrar discretamente na pátria dos outros. Ir além das pretensões estéreis dos ritos e das observâncias, entrar no espaço santo da fé, da vida como dom. Quando fixamos o olhar para além das fronteiras aprendemos a conhecer o espaço do amor. É esta a mudança radical que Jesus testemunha, em toda a sua existência. No ensinamento e na prática, o filho do carpinteiro de Nazaré destruiu o conceito de domínio, mostrando o rosto de um Deus ao serviço dos homens, de um Deus libertador. A imagem que Jesus propôs, mudou radicalmente o conceito de Deus e assinalou a passagem da religião à fé: não mais o homem ao serviço de Deus mas Deus ao serviço dos homens. Em geral, nas religiões, o homem é servo de Deus, soberano potente. O Deus de Jesus Cristo reina fazendo-se amigo e servidor. Em vez de tirar, em ofertas sacrificiais, coisas, tempo e energia, o Deus cristão dá. Não diminui o ser humano mas potencia-o, aumentando-lhe a liberdade e a dignidade. Seguir Jesus significa entrar nesta dinâmica de serviço. Toda a actividade apostólica deve permanecer transparente a tais premissas. O dom deve tornar-se visível. Tornar-se espaço concreto de partilha, estabelecendo relações abertas e frutuosas, úteis ao bem comum. O rosto novo de Deus deve reflectir-se também entre nós, entre quantos se reconhecem num autêntico caminho de fé. Se o próprio Deus não é um dominador, daí resulta que a ninguém é permitido exercer formas de domínio sobre os outros. Além-fronteiras é a pátria dos últimos, de todos aqueles que as lógicas do poder penalizam e excluem. No Evangelho, os cegos e os estropiados estão entre os representantes mais significativos de um tal mundo marginalizado. É muito significativo que em Mt 21, 12-14, depois de ter expulsado os vendedores do templo, Jesus se tenha aproximado, imediatamente, dos cegos e dos estropiados. Aqueles que não podiam aceder ao templo estão na primeira fila quando as lógicas religiosas do templo são banidas, desmascaradas na lógica estéril de domínio e escravidão. Os excluídos finalmente podem aproximar de Deus no homem Jesus: o amor de Deus já não é um bem merecido pelos justos mas um dom gratuito para todos. Além-fronteiras somos chamados a descobrir os horizontes preciosos para a Confederação CVS Internacional. Novos caminhos, espaços amplos que nos eduquem a viver e a dar a vida, com alegria. P.e Luciano Ruga 5 Moderador-Geral dos SodC 6 Indicações práticas para utilização das fichas Podemos utilizar o texto bíblico proposto ou, se for oportuno, podemos escolher um texto bíblico idóneo entre aqueles citados no plano pastoral da Conferência episcopal nacional do nosso país ou numa carta pastoral do nosso bispo. Nas leituras bíblicas procuremos sublinhar aquilo que se relaciona com a finalidade do nosso compromisso, como actuação da vitória pascal sobre o mal e sobre a morte. O encontro de grupo ou o tempo de reflexão pessoal podem ser organizados segundo os momentos clássicos da lectio: leitura reflexão oração compromisso - No encontro de grupo deixemos que cada um possa exprimir a reflexão que o texto bíblico suscitou. Se emergir um aspecto de interesse particular, façamos dele objecto de um breve debate, no qual todos os presentes possam exprimir o seu pensamento. - Procuremos oferecer com simplicidade os nossos contributos de reflexão, de modo a favorecer o mais possível a compreensão do texto. Sobre o argumento que tenha suscitado maior interesse, procuremos qualquer indicação nos documentos oficiais da Igreja (catecismo, textos do Concílio Vaticano II, discursos do Papa, cartas do Bispo, programas pastorais para o ano em curso, …). - No fim deste breve caminho de reflexão, reservemos um momento para a oração. Escolhamos um salmo que julguemos pertinente ao tema, leiamo-lo lentamente, prestando atenção às palavras. Se estivermos em grupo decidamos como o recitar em conjunto (em coro alternado, ou com um solista e um refrão …). As palavras do salmo sugerem-nos também algumas orações pessoais: com palavras nossas, considerando a vida nos seus aspectos, não só aqueles que necessitam de ajuda mas também os belos e alegres, que nos sugerem sentimentos de louvor e de gratidão. - Quanto descobrimos na reflexão, torne-se conteúdo e estratégia do nosso apostolado, para compartilhar o nosso caminho com as pessoas que sofrem. Perguntemo-nos quem são aqueles que têm maior necessidade de ouvir este anúncio, de se confrontarem com a proposta de sentido da vida, em cada momento, incluindo a amargura do sofrimento. Procuremos juntos como apresentar os 7 conteúdos da espiritualidade do CVS, como sensibilizar as nossas paróquias para uma maior atenção às pessoas doentes, deficientes, idosas. Sabemos que muitas vezes também a Igreja se limita a oferecer uma qualquer forma de assistência e não ajuda as pessoas a tornarem-se responsáveis pela sua dignidade de baptizados, sujeitos activos, protagonistas na acção pastoral e social. Tenhamos em conta também caminhos e propostas da nossa igreja local. Definamos concretamente os compromissos que individualmente ou como grupo entendemos assumir. É importante que sejam coisas possíveis, verdadeiramente úteis e que possamos efectivamente realizar. Lembremos a necessidade de vigiar para que sejam sempre acções capazes de envolver os destinatários de modo a torná-los protagonistas activos. (Nota: os textos Bíblicos são tirados da Bíblia da Difusora Bíblica) 8 1. Ressuscitado para todos “Vós sois testemunhas” os discípulos, expectadores de um evento extraordinário, tornam-se protagonistas de uma actividade missionaria igualmente extraordinária que é o início do desenvolvimento do cristianismo. Texto bíblico: Lc 24, 36-50 36 Enquanto isto diziam, Jesus apresentou-se no meio deles e disse-lhes: «A paz esteja convosco!» 37 Dominados pelo espanto e cheios de temor, julgavam ver um espírito. 38 «Porque estais perturbados e porque surgem tais dúvidas nos vossos corações? Disse-lhes, então: 39 Vede as minhas mãos e os meus pés: sou Eu mesmo. Tocai-me e olhai que um espírito não tem carne nem ossos, como verificais que Eu tenho.» 40 Dizendo isto, mostrou-lhes as mãos e os pés. 41 E como, na sua alegria, não queriam acreditar de assombrados que estavam, Ele perguntou-lhes: «Tendes aí alguma coisa que se coma?» 42Deram-lhe um bocado de peixe assado; 43e, tomando-o, comeu diante deles. 44 Depois, disse-lhes: «Estas foram as palavras que vos disse, quando ainda estava convosco: que era necessário que se cumprisse tudo quanto a meu respeito está escrito em Moisés, nos Profetas e nos Salmos.» 45 Abriu-lhes então o entendimento para compreenderem as Escrituras 46 e disse-lhes: «Assim está escrito que o Messias havia de sofrer e ressuscitar dentre os mortos, ao terceiro dia; 47 que havia de ser anunciada, em seu nome, a conversão para o perdão dos pecados a todos os povos, começando por Jerusalém. 48Vós sois as testemunhas destas coisas. 49E Eu vou mandar sobre vós o que meu Pai prometeu. Entretanto, permanecei na cidade até serdes revestidos com a força do Alto.» 50Depois, levou-os até junto de Betânia e, erguendo as mãos, abençoou-os. Reflexão Um dos grandes limites da religião judaica era a recusa de tudo aquilo que não pertencia à tradição, que não fosse reconduzível ao sinal religioso da circuncisão. Em base a este critério, o judaísmo mais antigo considerava Deus como “propriedade privada”. Do mesmo modo, o povo eleito sentiase igualmente “propriedade exclusiva” de Deus. A partir do século VI a.C., começa todavia um processo de reflexão teológica, orientado para a percepção da universalidade de Deus, isto é, Deus é de todos e para todos. Naturalmente a franja mais tradicionalista do judaísmo não admite nunca uma tal compreensão da aliança entre Deus e o povo. Com Jesus caiem todas estas intuições teológicas do judaísmo tradicional. Jesus é o sacramento do Pai, ou seja, Aquele que revela claramente aquilo que é e aquilo que faz o Pai. Desde o início do seu 9 ministério público, Jesus dirige-se a todos e a todas, sem qualquer tipo de exclusão. Após a ressurreição, esta visão universal permanece fortemente afirmada: o ressuscitado manifesta-se a todos. Se olharmos atentamente, há vários elementos de grande valor teológico na passagem evangélica que acabamos de ler: primeiro, os discípulos confundem-no com um fantasma: isto significa que não são capazes de perceber a grande novidade trazida por Jesus, que é a participação de todos no projecto divino. Segundo, abre-os à compreensão: isto é, leva-os a compreender o plano original traçado pelo Pai desde a eternidade; terceiro, anuncia a todos a vinda do Espírito Santo, a partir da qual não haverá ninguém excluído da missão. Por fim, abençoa-os para ratificar neles a participação completa de que estamos a falar. Agradeçamos a Deus e ao seu filho Jesus no Espírito pela grande oferta de nos incluir a todos no seu plano maravilhoso de amor e de justiça. Que esta passagem do Evangelho lida e meditada no início do ano pastoral de 2013, seja o nosso programa e o itinerário para imitar fielmente Jesus de Nazaré. Salmo 22 (21) Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste? Compromisso no apostolado Assim está escrito: O Cristo padecerá – “O padecer deriva de uma impelente exigência de caridade que se torna compaixão. Assim a nossa compaixão não é sentimento externo, estéril, mas uma compaixão que é «padecer com», ou seja, uma necessidade de nos inserirmos, como o Verbo Eterno, na humanidade para a redimir; uma necessidade de estar com os irmãos, de nos sentirmos, com eles, co-responsáveis pela sua salvação”. Verifico a minha capacidade e vontade de “padecer com”: com quem? Como? O que é que significa concretamente no desenvolvimento do apostolado? 10 2. A missão maternal Depois da anunciação do Anjo, Maria pôs-se a caminho das montanhas, com solicitude. Para Jesus é a primeira viagem missionária efectuada através da mãe, que antecipa a acção evangelizadora da comunidade cristã. Tem aqui início a grande caminhada, que enche todo o Evangelho. Texto bíblico: Lc 1, 39-56 39 Por aqueles dias, Maria pôs-se a caminho e dirigiu-se à pressa para a montanha, a uma cidade da Judeia. 40Entrou em casa de Zacarias e saudou Isabel. 41Quando Isabel ouviu a saudação de Maria, o menino saltou-lhe de alegria no seio e Isabel ficou cheia do Espírito Santo. 42Então, erguendo a voz, exclamou: «Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre. 44 que venha ter comigo a mãe do meu Senhor? 45 Feliz de ti que acreditaste, porque se vai cumprir tudo o que te foi dito da parte do Senhor.» 46Maria disse, então: «A minha alma glorifica o Senhor e o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador. 48 Porque pôs os olhos na humildade da sua serva. De hoje em diante, me chamarão bem-aventurada todas as gerações. 49 O Todo-poderoso fez em mim maravilhas. Santo é o seu nome. 50 A sua misericórdia se estende de geração em geração sobre aqueles que o temem. 51 Manifestou o poder do seu braço e dispersou os soberbos. 52 Derrubou os poderosos de seus tronos e exaltou os humildes. 53 Aos famintos encheu de bens e aos ricos despediu de mãos vazias. 54 Acolheu a Israel, seu servo, lembrado da sua misericórdia, 55 como tinha prometido a nossos pais, a Abraão e à sua descendência, para sempre.» 56 E donde me é dado Pois, logo que chegou aos meus ouvidos a tua saudação, o menino saltou de alegria no meu seio. 47 43 Maria ficou com Isabel cerca de três meses. Depois regressou a sua casa. 11 Reflexão É provável que em qualquer momento da nossa vida tenhamos sentido o abatimento, o cansaço, o desencorajamento, o desinteresse perante o dever. Surgiu assim em nós o desejo de nos distanciarmos de tudo e de todos. Maria, inversamente, apresenta-se no texto bíblico, como a pessoa disposta a vencer qualquer obstáculo a fim de cumprir o plano de Deus. Muitos quilómetros separavam Maria de Isabel: a Virgem percorre-os sem qualquer resistência. O feliz anúncio é demasiado importante e não pode sofrer resistências por cansaço ou perigos. Porém Maria é capaz de vencer os obstáculos de um longo caminho, cheio de perigos, para ir a casa da sua prima. A sua coragem mede-se por realidades mais árduas. Nas palavras do seu cântico está contida a denúncia dos potentes que querem impor-se sempre na sociedade em todos os tempos. Monopolistas, injustos, construtores de estruturas que se opõem aos desígnios de Deus. Por vezes, diante destas pessoas e estruturas do mal, as nossas forças são diminutas. Maria anuncia profeticamente que tudo isto acontecerá, no momento em que n’Ela se cumprirá a promessa de Deus: com o nascimento do Filho. Neste projecto a Virgem sente-se empenhada: não serão certamente as suas forças a destruir a injustiça, os poderosos e os opressores: será obra do Senhor. Ela todavia está em atitude de completa disponibilidade, para que se possam cumprir as promessas de Deus para o mundo. Digamos pois, que uma das facetas mais belas da missão maternal de Maria, é transmitir optimismo, apesar das dificuldades. Uma alegria vital e intensa, não obstante o panorama obscuro e triste que por vezes nos invade: confiança só em Deus, apesar das muitas vezes que O sentimos ausente, contrastado pela força dos seus inimigos. Salmo 72 (71) Ó Deus, concede ao rei a tua rectidão e a tua justiça ao filho do rei. Compromisso no apostolado A minha alma glorifica o Senhor – “Contemplemos a explosão do coração da Imaculada. O Magnificat é louvor a Deus, mas também apresentação do plano da salvação, pela boca da mãe do Salvador. Isto diz o Magnificat: a riqueza da misericórdia de Deus. Não orgulho por parte d’Aquela que foi cheia de graça, porque compreende que aquela misericórdia foi versada no seu coração, sem medida. O seu coração exulta sem fim em Deus, porque é Ele que faz grandes coisas”. 12 Apostolado é transmitir o que Deus cumpre. É uma narração que parte de nós próprios mas não nos celebra! Verifico a minha capacidade de acolher a acção de Deus em mim e nos meus anúncios apostólicos. 13 3. A luz dos povos A luz da fé ilumina quem na expectativa procura o Senhor na sua vida. A expectativa faz-se presença viva quando a lâmpada da sapiência, dom do Espirito Santo, opera no coração, na alma e na mente de quem acredita. Texto bíblico: Lc 2, 22-35 22 Quando se cumpriu o tempo da sua purificação, segundo a Lei de Moisés, levaram-no a Jerusalém para o apresentarem ao Senhor, 23 conforme está escrito na Lei do Senhor: «Todo o primogénito varão será consagrado ao Senhor» 24e para oferecerem em sacrifício, como se diz na Lei do Senhor, duas rolas ou duas pombas. 25 Ora, vivia em Jerusalém um homem chamado Simeão; era justo e piedoso e esperava a consolação de Israel. O Espírito Santo estava nele. 26 Tinha-lhe sido revelado pelo Espírito Santo que não morreria antes de ter visto o Messias do Senhor. 27 Impelido pelo Espírito, veio ao templo, quando os pais trouxeram o menino Jesus, a fim de cumprirem o que ordenava a Lei a seu respeito. 28 Simeão tomou-o nos braços e bendisse a Deus, dizendo: 29 «Agora, Senhor, segundo a tua palavra, deixarás ir em paz o teu servo, 30 porque meus olhos viram a Salvação 31 que ofereceste a todos os povos, 32 Luz para se revelar às nações e glória de Israel, teu povo.» 33 Seu pai e sua mãe estavam admirados com o que se dizia dele. 34 Simeão abençoou-os e disse a Maria, sua mãe: «Este menino está aqui para queda e ressurgimento de muitos em Israel e para ser sinal de contradição; 35uma espada trespassará a tua alma. Assim hão-de revelar-se os pensamentos de muitos corações.» Reflexão É maravilhoso pensar no impacto produzido pela presença de Jesus entre os humildes e os simples do seu tempo. Sabemos que na época em que nasce e cresce Jesus, os seus conterrâneos, que certamente não pertenciam à “elite” de Jerusalém, viviam uma experiência de opressão. Politicamente eram dominados pelo Império Romano; economicamente estavam submetidos a tributos, quer pela situação política (taxas para o Império), quer pela situação religiosa (taxas para o 14 Templo). Este último aspecto tinha além disso ocultado ao povo a luz a e bondade do amor de Deus. Imaginemos pois um povo completamente imerso na obscuridade. Por isso a profecia de Simeão, que acabamos de ler no texto, é um autêntico grito de vitória para os pobres e para os oprimidos: o Senhor enviou de novo a sua luz, uma luz que brilhará não só sobre Israel, mas sobre todas as nações da terra. Neste sentido, as palavras do evangelista são um convite a olhar para a própria vida, como aqueles que seguem a Luz que é o próprio Jesus, acolhendo aquilo que torna o caminho cada vez mais visível. Salmo 25 (24) A ti, Senhor, elevo a minha alma. Compromisso no apostolado Como sinal de contradição – “Exige-se demasiado ao procurar empenhar os associados a viverem com clara firmeza os seus compromissos baptismais? Fomos enxertados em Cristo com o nascimento para a vida da graça, estamos assim mortos para o pecado para vivermos segundo a vida de Deus em nós. Viver a vida de Cristo significa estar comprometidos a ser com Ele e n’Ele sinais de contradição na sociedade em que vivemos. Ser sinais de contradição significa não pactuar com o espírito do mal, com as nossas más inclinações, com o mundo, com todas as suas seduções que constituem o caminho mais fácil, largo e cómodo mas que não conduz ao Céu. A Imaculada em Lourdes demonstrou claramente não querer pactos e nós na sua escola com um ânimo humilde e obediente devemos aprender a banir da nossa vida privada e social qualquer forma de pacto, de consentimento, perante as seduções das paixões, das comodidades e do mundo. Devemos ter em verdadeira e atenta consideração a coerência da nossa vida com a fé. Não basta conhecer a Palavra de Deus, é preciso vivê-la. Conhecer e não aplicar a fé à vida seria gravemente ilógico e uma séria responsabilidade”. Verifico as minhas contradições pessoais, a discrepância entre a fé professada e vivida, anunciada e testemunhada com sinceridade e coerência de vida. 15 4. A salvação de cada pessoa oão veio preparar este caminho, mas para o percorrer é preciso endireitar os nossos caminhos para os tornar conformes ao Caminho do Senhor. Só então os nossos olhos se abrirão, a nossa esperança se reavivará e nós tornar-nos-emos anunciadores e testemunhas de esperança. Só assim cada homem verá a salvação de Deus viver em nós. Texto bíblico: Lc 3, 1-22 1 No décimo quinto ano do reinado do imperador Tibério, quando Pôncio Pilatos era governador da Judeia, Herodes, tetrarca da Galileia, seu irmão Filipe, tetrarca da Itureia e da Traconítide, e Lisânias, tetrarca de Abilena, 2sob o pontificado de Anás e Caifás, a palavra de Deus foi dirigida a João, filho de Zacarias, no deserto. 3Começou a percorrer toda a região do Jordão, pregando um baptismo de penitência para remissão dos pecados, 4como está escrito no livro dos oráculos do profeta Isaías: «Uma voz clama no deserto: ‘Preparai o caminho do Senhor e endireitai as suas veredas. 5Toda a ravina será preenchida, todo o monte e colina serão abatidos; os caminhos tortuosos ficarão direitos e os escabrosos tornar-se-ão planos. 6E toda a criatura verá a salvação de Deus.’» 7 João dizia, então, às multidões que acorriam para serem baptizadas por ele: «Raça de víboras, quem vos ensinou a fugir da cólera que está para chegar? 8Produzi frutos de sincero arrependimento e não comeceis a dizer para convosco: ‘Nós temos Abraão como pai’; pois eu vos digo que Deus pode, destas pedras, suscitar filhos a Abraão. 9O machado já se encontra à raiz das árvores; por isso, toda a árvore que não der bom fruto será cortada e lançada ao fogo.» 10E as multidões perguntavamlhe: «Que devemos, então, fazer?» 11 Respondia-lhes: «Quem tem duas túnicas reparta com quem não tem nenhuma, e quem tem mantimentos faça o mesmo.» 12Vieram também alguns cobradores de impostos, para serem baptizados e disseram-lhe: «Mestre, que havemos de fazer?» 13Respondeulhes: «Nada exijais além do que vos foi estabelecido.» 14Por sua vez, os soldados perguntavam-lhe: «E nós, que devemos fazer?» Respondeu-lhes: «Não exerçais violência sobre ninguém, não denuncieis injustamente e contentai-vos com o vosso soldo.» 15 Estando o povo na expectativa e pensando intimamente se ele não seria o Messias, 16João disse a todos: «Eu baptizo-vos em água, mas vai chegar alguém mais forte do que eu, a quem não sou digno de desatar a correia das sandálias. Ele há-de baptizar-vos no Espírito Santo e no fogo. 17Tem na mão a pá de joeirar, para limpar a sua eira e recolher o trigo no seu celeiro; mas queimará a palha 16 num fogo inextinguível.» 18 E, com estas e muitas outras exortações, anunciava a Boa-Nova ao povo. 19 Mas Herodes, o tetrarca, a quem João censurava por causa de Herodíade, mulher de seu irmão, e por todas as más acções que tinha praticado, 20 acrescentou a todas as más acções, mais esta: encerrou João na prisão. 21 Todo o povo tinha sido baptizado; tendo Jesus sido baptizado também, e estando em oração, o Céu rasgou-se 22 e o Espírito Santo desceu sobre Ele em forma corpórea, como uma pomba. E do Céu veio uma voz: «Tu és o meu Filho muito amado; em ti pus todo o meu agrado.» Reflexão Muito habitantes de Jerusalém vão ouvir a pregação de João. Alguns, entre os presentes, perguntam que é preciso fazer para chegar à salvação. Era difusa, de facto, a ideia de que a salvação fosse um evento relativo só a um pequeno grupo ou a uma comunidade, em virtude de uma intervenção imediata e resolutiva do Messias. Isto não obstante a mensagem profética que, desde a antiguidade, especialmente em Jeremias e Ezequiel, ensinava que a salvação depende de cada um. Entre os ouvintes do Baptista, Lucas distingue três grupos para descrever a colectividade e ao mesmo tempo a individualidade no acto da salvação. A multidão (sem qualquer distinção), os cobradores de impostos, e os militares. João responde a todos relativamente ao seu modo de viver. A todos, em geral, recomenda a justiça e a partilha; aos cobradores: não exijais mais do que está prescrito; aos soldados: não oprimais nem acuseis alguém injustamente. Que leitura podemos nós fazer deste ensinamento, especialmente do diálogo de João com aqueles que se baptizam? A nossa consciência cristã diz que Jesus Cristo já nos salvou a todos, em sentido restrito. Não deveremos preocupar-nos tanto em pedir a salvação, que é um dom assegurado. A nossa tarefa é a de pôr toda a nossa força, tudo o que somos e temos em testemunhar ao mundo os sinais da salvação que já possuímos. Cada acção pessoal, cada atitude, é sinal para os outros daquilo que vivemos no nosso coração. Um coração amargurado, mostrará sinais de amargura; um coração cheio de amor, não pode senão reflectir atitudes de amor, de acolhimento, de fraternidade, de bondade … definitivamente sinais de salvação. Salmo 98 (97) Cantai ao Senhor um cântico novo, porque ele fez maravilhas. Compromisso no apostolado 17 O que é que devemos fazer? – “A Imaculada pensava; mas pensava como Jesus, procurando a vontade do Pai, à luz e guiada pelo Espirito Santo, que guia sempre para o alto, caminhando na verdade, bem longe das vias tortuosas, O baptismo faz de nós criaturas novas, inserindo-nos em Cristo, como o sarmento está unido à videira. Os frutos do sarmento são os da videira; os frutos das “novas criaturas” são os de Jesus Cristo. Destes frutos, que são os Seus frutos, ver-se-á que somos os seus discípulos”. Que devemos fazer? É a pergunta nos devemos pôr sempre, em companhia do Espirito Santo para que nos ajude a discernir toda a vontade de Deus e nos dê a força para a cumprir. É uma pergunta apostólica a fazer cada vez que nos dispomos a ir ao encontro dos irmãos que sofrem em nome do Senhor, para que a nossa palavra seja Palavra de Deus e nós, seus executores coerentes. 18 5. A boa-nova Jesus veio anunciar ao mundo uma feliz mensagem de cura e de libertação, de liberdade e de graça. Os destinatários desta alegre mensagem são os pobres, os pecadores arrependidos, os oprimidos. Texto bíblico: Lc 4, 16-30 16 Veio a Nazaré, onde tinha sido criado. Segundo o seu costume, entrou em dia de sábado na sinagoga e levantou-se para ler. 17 Entregaram-lhe o livro do profeta Isaías e, desenrolando-o, deparou com a passagem em que está escrito: 18 «O Espírito do Senhor está sobre mim, porque me ungiu para anunciar a Boa-Nova aos pobres; enviou-me a proclamar a libertação aos cativos e, aos cegos, a recuperação da vista; a mandar em liberdade os oprimidos, 19a proclamar um ano favorável da parte do Senhor.» 20Depois, enrolou o livro, entregou-o ao responsável e sentou-se. Todos os que estavam na sinagoga tinham os olhos fixos nele. 21Começou, então, a dizer-lhes: «Cumpriu-se hoje esta passagem da Escritura, que acabais de ouvir.» 22 Todos davam testemunho em seu favor e se admiravam com as palavras repletas de graça que saíam da sua boca. Diziam: «Não é este o filho de José?» 23Disse-lhes, então: «Certamente, ides citar-me o provérbio: ‘Médico, cura-te a ti mesmo.’ Tudo o que ouvimos dizer que fizeste em Cafarnaúm, fá-lo também aqui na tua terra.» 24 Acrescentou, depois: «Em verdade vos digo: Nenhum profeta é bem recebido na sua pátria. 25 Posso assegurar-vos, também, que havia muitas viúvas em Israel no tempo de Elias, quando o céu se fechou durante três anos e seis meses e houve uma grande fome em toda a terra; 26contudo, Elias não foi enviado a nenhuma delas, mas sim a uma viúva que vivia em Sarepta de Sídon. 27 Havia muitos leprosos em Israel, no tempo do profeta Eliseu, mas nenhum deles foi purificado senão o sírio Naaman.» 28 Ao ouvirem estas palavras, todos, na sinagoga, se encheram de furor. 29 E, erguendo-se, lançaram-no fora da cidade e levaram-no ao cimo do monte sobre o qual a cidade estava edificada, a fim de o precipitarem dali abaixo. 30Mas, passando pelo meio deles, Jesus seguiu o seu caminho. Reflexão É numa situação comum para qualquer judeu devoto, como a liturgia do sábado na sinagoga, que S. Lucas enquadra “o início oficial” do programa de vida de Jesus. É importante fazer realçar, em todas as deslocações de Jesus, a presença do Espírito Santo. Jesus regressou do Jordão para a Galileia e, já investido e confirmado na sua vocação messiânica, ensina em todas as sinagogas. Aqui 19 dirige-se à sinagoga da sua cidade de Nazaré, onde é convidado a proclamar a segunda leitura, que corresponde a uma passagem do Profeta Isaías. Como em todas as acções de Jesus, a Palavra de Deus é a cintila que acende o fogo da missão no seu coração, segundo a descrição de Lucas. Para Jesus a profecia de Isaías está a cumprir-se e Ele será o realizador destas promessas e desta boa-nova, anunciadas pelo profeta. Todavia Lucas não se fica só pela importância da Palavra que vê realizadas em Jesus estas características de consistência e de realização. Há outros aspectos, próprios da vida de Jesus, que Lucas coloca neste primeiro cenário do ministério público: a rejeição de Jesus e da Sua Palavra. Recusa que, após um inicial acto de simpatia e de admiração, se transforma quase de imediato em hostilidade, causada pela dúvida: “não é este o filho de José?” Assim o fim último é a vontade de eliminar Jesus, fazendo realçar que, se o “povo eleito” rejeita a presença messiânica de Jesus, serão outros, não israelitas, a aceitarem e a dar cumprimento às promessas. Por isso o texto menciona as figuras de Elias e de Eliseu, que recolheram melhores frutos quando se dirigiram aos pagãos. São assim colocadas bases: 1). Uma teologia da Palavra; 2). Um compromisso que, desde o início da actividade pública, distingue quantos acolhem e quantos rejeitam, num crescendo geral destes últimos, por causa da falta de fé; 3). Fica já delineada a futura expansão do Evangelho entre os não israelitas ou pagãos, dado que a acção divina não depende dos estados de ânimo dos destinatários do seu projecto. Salmo 45 (44) O meu coração vibra com belas palavras; vou recitar ao rei o meu poema. Compromisso no Apostolado O Espírito do Senhor está sobre mim, porque me ungiu para anunciar a Boa-Nova – A actividade que deve desenvolver o Animador de Grupo é essencialmente uma actividade de apostolado; apostolado sentido, como exigência espiritual, que deriva do Baptismo e vivido nas suas várias e profundas componentes humanas, eclesiais e sociais, como resposta pessoal ao mandato divino, “ide e ensinai”. A novidade, felizmente introduzida pelo Vaticano II, sobre o compromisso apostólico que compete a qualquer baptizado, está próprio na afirmação que o apostolado do leigo é “participação na mesma missão de Cristo e da Sua igreja”, e que a vocação cristã se identifica com o apostolado. É realmente esta uma plena concepção nova na vida da Igreja que impele para a acção apostólica todos os fiéis, sem qualquer distinção. O verdadeiro e real desejo íntimo do Animador de Grupo deve ser um só, tornar-se um instrumento dócil no ímpeto do Espírito que o vivifica, consciente de que a luta que conduz em si mesmo 20 aumenta a sua estatura total, leva-o à maturidade plena, dilata as suas visíveis faculdades interiores, torna-o, em Cristo e por meio de Cristo, instrumento de salvação. Estas palavras do Fundador, referidas ao Animador de Grupo, podem ser referidas, muito bem, a cada um de nós, chamado pelo Pai e mandado pelo Espírito a levar a boa-nova do Filho. Recebo esta missão trinitária e tomo consciência da minha tarefa. 21 6. Misericordiosos como o Pai Jesus anuncia a chegada da salvação prometida por Deus. Ele proclama o mundo dos valores de Deus, inverte a escala dos valores do homem e anuncia o modo como Deus salva. Texto bíblico: Lc 6, 17-36 17 Descendo com eles, deteve-se num sítio plano, juntamente com numerosos discípulos e uma grande multidão de toda a Judeia, de Jerusalém e do litoral de Tiro e de Sídon, 18que acorrera para o ouvir e ser curada dos seus males. Os que eram atormentados por espíritos malignos ficavam curados; 19e toda a multidão procurava tocar-lhe, pois emanava dele uma força que a todos curava. 20 Erguendo os olhos para os discípulos, pôs-se a dizer: «Felizes, vós os pobres, porque vosso é o Reino de Deus. 21Felizes, vós os que agora tendes fome, porque sereis saciados. Felizes, vós os que agora chorais, porque haveis de rir. 22 Felizes, sereis quando os homens vos odiarem, quando vos expulsarem, vos insultarem e rejeitarem o vosso nome como infame, por causa do Filho do Homem. 23 Alegrai-vos e exultai nesse dia, pois a vossa recompensa será grande no Céu. Era precisamente assim que os pais deles tratavam os profetas». consolação! 25 24 «Mas ai de vós, os ricos, porque recebestes a vossa Ai de vós, os que estais agora fartos, porque haveis de ter fome! Ai de vós, os que agora rides, porque gemereis e chorareis! 26 Ai de vós, quando todos disserem bem de vós!Era precisamente assim que os pais deles tratavam os falsos profetas». 27 «Digo-vos, porém, a vós que me escutais: Amai os vossos inimigos, fazei bem aos que vos odeiam, 28 abençoai os que vos amaldiçoam, rezai pelos que vos caluniam. 29A quem te bater numa das faces, oferece-lhe também a outra; e a quem te levar a capa, não impeças de levar também a túnica. pede e, a quem se apoderar do que é teu, não lho reclames. façam, fazei-lho vós também. 32 31 30 Dá a todo aquele que te O que quiserdes que os outros vos Se amais os que vos amam, que agradecimento mereceis? Os pecadores também amam aqueles que os amam. 33 Se fazeis bem aos que vos fazem bem, que agradecimento mereceis? Também os pecadores fazem o mesmo. 34 E, se emprestais àqueles de quem esperais receber, que agradecimento mereceis? Também os pecadores emprestam aos pecadores, a fim de receberem outro tanto. 35 Vós, porém, amai os vossos inimigos, fazei o bem e emprestai, sem nada esperar em troca. Então, a vossa recompensa será grande e sereis filhos do Altíssimo, porque Ele é bom até para os ingratos e os maus. 36Sede misericordiosos como o vosso Pai é misericordioso». 22 Reflexão Lucas sintetiza as bem-aventuranças em quatro aspectos da vida humana: a pobreza, a fome, o choro (a tristeza) e a perseguição. A pobreza apresenta-se como uma situação anómala, contrária à vontade de Deus. É, de facto, uma forma de vida que é fruto da injustiça. Por isso não seria muito correcto falar de pobres, quando pelo contrário de empobrecidos. Quando Jesus declara bemaventurados estes pobres, não significa que devam sentir-se felizes pela sua situação, mas que se trata de uma pobreza que Deus rejeita, que deve desaparecer com a vinda do reino de Deus, cuja característica é a justiça. A pobreza, ou melhor o empobrecimento, tem as suas consequências: a primeira de todas é a fome. Todavia também os famintos são bem-aventurados, porque serão saciados. Muito dificilmente aqui Jesus faz referência a uma “fome” espiritual. Confronta-se com ter diante de si uma multidão que vem de longe, que está em reais condições de fome corporal. Ao mesmo tempo Jesus tem consciência da realidade de pobreza e de privação em que vive o povo. Se os pobres podem sonhar um mundo melhor, ainda mais, com o advento do reino de Deus, também a fome deverá desaparecer. Não acontecerá em modo mágico, mas será a consequência do empenhamento de todos na realização do ano de graça. Um tempo caracterizado pela consecução de um equilíbrio social através do perdão dos débitos, pela recuperação dos bens penhorados, pelo retorno à posse das propriedades e pela libertação dos escravos. Esta deverá tornar-se uma situação estável e permanente (cfr. Dt 15, 1-11). A outra consequência do empobrecimento são as lágrimas, como símbolo de dor, de marginalização. São também o sinal da impotência perante uma realidade cada vez mais cruel e penosa para o pobre. Nesta nova ordem, a que nos deve conduzir a presença do reino, as lágrimas se transformarão em felicidade e alegria. Existe uma luta e um esforço necessários para atingir esta nova ordem de coisas, querida por Deus. Não é que Jesus entenda cumprir ou promover acções violentas. Quer antes, prevenir os seus discípulos das situações violentas, das perseguições e da dor que terão de experimentar pela mão daqueles que se opõem radicalmente a toda a partilha, que depois de terem saqueado o povo continuam a comportar-se como patrões. Lamentos ou desventuras. Lucas é o único que refere estas quatro desventuras em paralelo com as bem-aventuranças. O “lamento” é uma expressão de dor ou luto; na literatura profética assume o valor de advertência, de ameaça, de maldição ou de blasfémia. Aqui entendamos estes lamentos como lamentação do próprio Jesus, segundo o estilo profético, ou seja como uma advertência ou admonição que faz Jesus aos promotores e apoiantes de uma ordem social absolutamente injusta. 23 No texto não há uma condenação em sentido restrito, mas uma chamada à reflexão e à mudança, um convite a um alinhamento pela instauração do reino. Amor aos inimigos. O ensinamento oferecido nesta página é o melhor argumento contra aqueles que pretendem fazer crer que a luta pela justiça social, pela solidariedade e pela igualdade entre os homens impele para a violência. Jesus, como bom Judeu, conhece a história do seu povo, conhece as suas lutas, as suas rebeliões, conhece os efeitos do rancor e da interminável violência que produz a maldição. Sabe que a violência gera violência e por isso propõe alguns princípios de tipo pessoal e social que têm por finalidade demolir qualquer estrutura violenta e que se baseiam mais propriamente numa reacção não violenta às forças do mal personificadas num sistema injusto. Salmo 103 (102) Bendiz, ó minha alma, o Senhor, e todo o meu ser louve o seu nome santo. Compromisso no Apostolado Bem-aventurados sois vós – Cristo vai ao encontro de todos, mas em particular de quem sofre, proclamando o sofrimento como uma bem-aventurança, e identificando-se com o sofredor: “Estava doente e fostes-me visitar”. Não há valor humano que Ele não tenha respeitado, elevado e redimido. Não há sofrimento humano que Ele não tenha compreendido, partilhado, valorizado. Não há necessidade humana que Ele não tenha assumido e sofrido em si mesmo. O doente assim, se quer encontrar promoções válidas e obter novos horizontes, com dimensões sociais que se projectem também nas realidades ultraterrenas, deve encontrar-se com Cristo. De Jesus Cristo, verdadeiro homem e verdadeiro Deus, pertencente à história dos nossos séculos, recebemos uma resposta para as angustiantes interrogações sobre o sofrimento e a morte. É Ele o médico divino que se debruça sobre as feridas e eleva o espírito, propondo-nos o exemplo do bom Samaritano que não se limita a uma intervenção momentânea e relativa, mas que se ocupa de toda a pessoa do pobre assaltado e ferido a caminho de Jericó. Sou provocado por Cristo que se identifica com todos os necessitados, aqueles que têm fome, que são pobres, que estão prisioneiros…. No grupo façamos uma avaliação de como cuidamos das necessidades do homem contemporâneo para programar uma acção apostólica eficaz. 24 7. Muito amor, muito perdão A revelação completa do Senhor e do seu mistério pascal cumpre-se e realiza-se no amor e na misericórdia. Só assim se pode realizar o anúncio do Reino que não é outra coisa senão o cumprimento do Mistério de amor. Texto bíblico: Lc 7, 36-50 36 Um fariseu convidou-o para comer consigo. Entrou em casa do fariseu, e pôs-se à mesa. 37 Ora certa mulher, conhecida naquela cidade como pecadora, ao saber que Ele estava à mesa em casa do fariseu, trouxe um frasco de alabastro com perfume. 38 Colocando-se por detrás dele e chorando, começou a banhar-lhe os pés com lágrimas; enxugava-os com os cabelos e beijava-os, ungindo-os com perfume. 39 Vendo isto, o fariseu que o convidara disse para consigo: «Se este homem fosse profeta, saberia quem é e de que espécie é a mulher que lhe está a tocar, porque é uma pecadora!» 40 Então, Jesus disse-lhe: «Simão, tenho uma coisa para te dizer.» «Fala, Mestre» - respondeu ele. 41 «Um prestamista tinha dois devedores: um devia-lhe quinhentos denários e o outro, cinquenta. 42 Não tendo eles com que pagar, perdoou aos dois. Qual deles, o amará mais?» 43Simão respondeu: «Aquele a quem perdoou mais, creio eu.» Jesus disse-lhe: «Julgaste bem.» 44E, voltando-se para a mulher, disse a Simão: «Vês esta mulher? Entrei em tua casa e não me deste água para os pés; ela, porém, banhou-me os pés com as suas lágrimas e enxugou-os com os seus cabelos. 45Não me deste um ósculo; mas ela, desde que entrou, não deixou de beijar-me os pés. com óleo, e ela ungiu-me os pés com perfume. 47 46 Não me ungiste a cabeça Por isso, digo-te que lhe são perdoados os seus muitos pecados, porque muito amou; mas àquele a quem pouco se perdoa pouco ama.» 48 Depois, disse à mulher: «Os teus pecados estão perdoados.» 49Começaram, então, os convivas a dizer entre si: «Quem é este que até perdoa os pecados?» 50E Jesus disse à mulher: «A tua fé te salvou. Vai em paz.» Reflexão Um dos espaços ou momentos, em que se vive, com maior intensidade, uma das dimensões do ser humano é a mesa. Neste espaço também Jesus se encarna para tornar presente um Deus que não pode reduzir-se nem a espaço nem a momentos institucionalizados pela religiosidade. Há um motivo de escândalo no estar à mesa de Jesus. A acusação do fariseu retorce-se prontamente contra ele. Talvez, convidando Jesus, quisesse dar asas à sua vaidade. Sem dúvida, vendo a cena da mulher, o fariseu, escandaliza-se e enfurece-se. É, para ele, escândalo que Jesus se deixe tocar por 25 uma mulher de má reputação. Irrita-o o pensamento que os presentes possam colher, no seu ilustre convidado, a contradição entre ser profeta (coisa de que Simão estava convencido) e a não compreensão de qual fosse a identidade daquela mulher. Jesus surpreende o dono da casa, absorto nas suas reflexões, com uma parábola. O fariseu não suspeita minimamente que a comparação proposta por Jesus tenha a ver com o momento que ambos estão a viver. Só no fim da parábola se clarificará, quando Jesus torna explícitos os termos da parábola: os que denunciam a atitude perversa do fariseu. Simão, dá-se conta de que Jesus não só conhece e sabe perfeitamente quem é a mulher, como também tem perfeito conhecimento dos seus pensamentos. Da irritação passa à surpresa, e novamente à irritação: “pode ser este o modo de agir de Deus?”, “como pode ser que Deus acolha com tanta facilidade os pecadores e até amá-los mais que aos bons, aos justos ou aos rectos, como julgavam ser os fariseus?” Jesus dá uma lição muito importante: nem o cumprimento mais rigoroso da lei, nem as privações, nem a separação na qual vivem os religiosos fariseus, nem o sentirem-se bons, comove Deus. São, pelo contrário, atitudes que o afastam. Só o amor, reconhecendo-nos interiormente pecadores, atrai a misericórdia e o perdão de Deus. Nada de mais digno para esta mulher, e para todos nós, como pecadores, que sentirmo-nos acolhidos e perdoados por Deus. Salmo 6 Senhor, não me repreendas na tua ira nem me castigues com o teu furor. Compromisso no apostolado Os teus pecados são perdoados – Já não somos nós que vivemos, mas Cristo que vive em nós. Nós somos a Sua maravilhosa continuação. Fazemos parte do Corpo Místico de Nosso Senhor Jesus Cristo. Em quantas formas, e cada uma mais bela que a outra, Nosso Senhor Jesus Cristo quis ensinar-nos a vida da graça! Como é belo sentir-se uma coisa só com Nosso Senhor Jesus Cristo. Nós doentes estamos naquela posição maravilhosa, em que estava Jesus quando o Pai celeste reconciliava o mundo com si mesmo, mediante a oferta do Seu Divino Filho. Deus de facto reconciliou o mundo consigo por meio de Cristo, perdoando aos homens gratuitamente os seus pecados pelos méritos de Cristo, e confiou a nós apóstolos a missão de pregar a todos os homens a graça desta reconciliação. Os apóstolos em primeiro lugar, têm a missão de evangelizar e de exercer esta reconciliação, mediante os sacramentos. Nós, os doentes, em sentido mais amplo, podemos associar-nos a este plano apostólico de evangelização e de missão sacerdotal, através da nossa vida de oração e de sacrifício, que atrai a graça divina sobre as almas. 26 E assim se pode dizer de nós, que Deus nos tornou apóstolos na obra da reconciliação, completando a Paixão de Jesus Cristo. Se esta alegria está no coração de todos os cristãos, porque todos imersos na Vida de Deus, quanto não devem sobre abundar em alegria os que sofrem, que têm em si, mediante o seu sacrifício, a fonte da reconciliação, ou seja, a Paixão de Jesus? Partilhamos, com Cristo, a missão de reconciliar os homens com o Pai. Este anúncio é interior e exprime-se através da vida fecunda da graça que Deus nos dá e que aumentamos com a celebração dos sacramentos. Mas este anúncio é também missão. No grupo consideremos como podemos exercer “a missão de pregar a todos os homens a graça da reconciliação”. 27 8. A dignidade do pequeno A verdadeira grandeza está no servir. Servir, ser ignorado, ser desprezado é grandeza maior que ser servido, honrado acima dos outros. Jesus ensina-nos o caminho dizendo-nos que acolhamos os pequenos. Não só de nos fazermos pequenos, mas de nos pormos ao serviço dos pequenos. Texto bíblico: Lc 9, 46-56 46 Veio-lhes então ao pensamento qual deles seria o maior. pensamentos, tomou um menino, colocou-o junto de si 48 47 Conhecendo Jesus os seus e disse-lhes: «Quem acolher este menino em meu nome, é a mim que acolhe, e quem me acolher a mim, acolhe aquele que me enviou; pois quem for o mais pequeno entre vós, esse é que é grande.» 49João tomou a palavra e disse: «Mestre, vimos alguém expulsar demónios em teu nome e impedimo-lo, porque ele não te segue juntamente connosco.» 50 Jesus disse-lhe: «Não o impeçais, pois quem não é contra vós é por vós.» 51 Como estavam a chegar os dias de ser levado deste mundo, Jesus dirigiu-se resolutamente para Jerusalém 52 e enviou mensageiros à sua frente. Estes puseram-se a caminho e entraram numa povoação de samaritanos, a fim de lhe prepararem hospedagem. 53Mas não o receberam, porque ia a caminho de Jerusalém. 54 Vendo isto, os discípulos Tiago e João disseram: «Senhor, queres que digamos que desça fogo do céu e os consuma?» 55 Mas Ele, voltando-se, repreendeu-os. 56 E foram para outra povoação. Reflexão O texto evangélico proposto, encontra-se num ponto importante da narração de São Lucas: Jesus transmite as últimas mensagens do seu ministério na Galileia, antes de se dirigir para Jerusalém. A este ponto, seria de esperar que os discípulos tivessem já assimilado tudo, ou quase tudo, daquilo que Jesus tinha vindo ensinar. Sem dúvida, não é assim. Não obstante Jesus tenha demonstrado, através de sinais e prodígios, qual fosse a autêntica realidade do reino, parece que a compreensão dos discípulos foi muito superficial. Disso é prova a discussão que surge sobre quem seja o mais importante entre eles. Pareceria que quando Jesus fala do reino, os discípulos entendessem uma estrutura onde as pessoas se organizam por categorias: importantes, menos importantes, grandes e pequenos… hoje diremos: com distinções hierárquicas, entre quem tem um título académico e quem não tem, entre ricos e pobres. Os discípulos pois, estão longe de perceber o diferente dinamismo do reino. Aquele que se julga importante deve colocar-se ao serviço dos outros. Quem julga ser superior aos outros deve agir 28 como se fosse o menor. A importância da pessoa, na dinâmica do reino, funda-se na capacidade de serviço e de doação aos outros. É uma realidade certamente muito diversa daquela que experimentamos quotidianamente. Nas nossas experiências quem detém um lugar sente-se patrão, dominador dos outros, quem possui um título gaba-se de direitos sobre os outros. Salmo 138 (138) Senhor, Tu examinaste-me e conheces-me, sabes quando me sento e quando me levanto. Compromisso no apostolado Puseram-se a caminho para uma outra povoação – A firmeza de adesão no apostolado tem-se somente na maturação da caridade que tudo vê, tudo suporta e nunca falha, exactamente porque o amor de Deus deve tornar-se tão forte e real a ponto de impelir a pessoa a não se amar mais a si mesma senão em função de Deus e das criaturas como meios escolhidos e colocados por Deus à nossa volta para chegarmos até Ele. Este espírito de caridade fraterna deve necessariamente impelir os inscritos para um aperfeiçoamento contínuo da sua alma, para uma vida cada vez mais unida à de Cristo até se tornar em todas as suas acções a sua transparência verdadeira e sincera. Oponhamo-nos à tentação de uma tranquilidade estática, alheia a nós e aos outros, para podermos estar prontos a partir para realizar um apostolado verdadeiro e dinâmico. O princípio da unidade que nos deve impelir para o exercício prático de caridade fraterna que encontra a sua concretização na mútua compreensão, no mútuo apoio nas inevitáveis lacunas pessoais, na oração e na oferta do sacrifício de reparação e propiciação para que um dado membro da Associação tenha toda a vivacidade e dinamismo apostólico que precisa de ter. O espírito de caridade fraterna que deve ligar os inscritos entre si é o primeiro fruto que a Associação espere e requere. No grupo façamos uma avaliação de como procedemos unidos para a realização das tarefas missionárias. Decidamos pois, com firmeza, que desejamos trabalhar juntos e não desistamos demasiado facilmente do propósito de evangelizar aqueles territórios (geográficos e humanos) que são mais rebeldes a ser alcançados pela graça de Deus. 29 9. A salvação de todos os povos A missão que Jesus confia aos discípulos é muito precisa: anunciar o Evangelho do Reino a todas as nações. Ser testemunhas da Sua morte e da Sua ressurreição significa também ser testemunhas de uma vida nova, de uma vida plena. Texto bíblico: Lc 10, 1-24 1 Depois disto, o Senhor designou outros setenta e dois discípulos e enviou-os dois a dois, à sua frente, a todas as cidades e lugares aonde Ele havia de ir. 2Disse-lhes: «A messe é grande, mas os trabalhadores são poucos. Rogai, portanto, ao dono da messe que mande trabalhadores para a sua messe. 3Ide! Envio-vos como cordeiros para o meio de lobos. 4Não leveis bolsa, nem alforge, nem sandálias; e não vos detenhais a saudar ninguém pelo caminho. 5Em qualquer casa em que entrardes, dizei primeiro: ‘A paz esteja nesta casa!’ 6E, se lá houver um homem de paz, sobre ele repousará a vossa paz; se não, voltará para vós. 7Ficai nessa casa, comendo e bebendo do que lá houver, pois o trabalhador merece o seu salário. Não andeis de casa em casa. 8Em qualquer cidade em que entrardes e vos receberem, comei do que vos for servido, 9curai os doentes que nela houver e dizei-lhes: ‘O Reino de Deus já está próximo de vós.’ 10 Mas, em qualquer cidade em que entrardes e não vos receberem, saí à praça pública e dizei: 11‘Até o pó da vossa cidade, que se pegou aos nossos pés, sacudimos, para vo-lo deixar. No entanto, ficai sabendo que o Reino de Deus já chegou.’» 13 12 «Digo-vos: Naquele dia haverá menos rigor para Sodoma do que para aquela cidade. Ai de ti, Corozaim! Ai de ti, Betsaida! Porque, se em Tiro e em Sídon se tivessem operado os milagres que entre vós se realizaram, de há muito que teriam feito penitência, vestidas de saco e na cinza. 14Por isso, no dia do juízo, haverá mais tolerância para Tiro e Sídon do que para vós. Cafarnaúm, porventura serás exaltada até ao céu? É até ao inferno que serás precipitada. 15 16 E tu, Quem vos ouve é a mim que ouve, e quem vos rejeita é a mim que rejeita; mas, quem me rejeita, rejeita aquele que me enviou.» 17Os setenta e dois discípulos voltaram cheios de alegria, dizendo: «Senhor, até os demónios se sujeitaram a nós, em teu nome!» 18Disse-lhes Ele: «Eu via Satanás cair do céu como um relâmpago. 19Olhai que vos dou poder para pisar aos pés serpentes e escorpiões e domínio sobre todo o poderio do inimigo; nada vos poderá causar dano. 20Contudo, não vos alegreis porque os espíritos vos obedecem; alegrai-vos, antes, por estarem os vossos nomes escritos no Céu.» 21 Nesse mesmo instante, Jesus estremeceu de alegria sob a acção do Espírito Santo e disse: «Bendigo-te, ó Pai, Senhor do Céu e da Terra, porque escondeste estas coisas aos sábios e aos inteligentes e as revelaste aos pequeninos. Sim, Pai, porque assim foi do teu agrado. 30 22 Tudo me foi entregue por meu Pai; e ninguém conhece quem é o Filho senão o Pai, nem quem é o Pai senão o Filho e aquele a quem o Filho houver por bem revelar-lho.» 23 Voltando-se, depois, para os discípulos, disse-lhes em particular: «Felizes os olhos que vêem o que estais a ver. 24Porque - digovos - muitos profetas e reis quiseram ver o que vedes e não o viram, ouvir o que ouvis e não o ouviram!» Reflexão A leitura desta passagem evangélica oferece-nos esta mensagem: a preocupação de Jesus, a mesma de Deus Pai, é que o anúncio da Boa Nova chegue a todos os povos e nações. Isto não significa que todos tenham que ser cristãos, como se pensava no tempo dos colonizadores, significa, pelo contrário, que a todo o ser humano chegue o anúncio da salvação, oferecida por Deus por meio de Seu Filho Jesus. Um segundo aspecto presente neste texto, sublinha a necessidade, por força do próprio baptismo, de nos comprometermos como testemunhas e anunciadores do Evangelho. Isto deve acontecer demonstrando concretamente quanto recebido. Realmente a alegria do Evangelho que foi experimentada deve ser visível mais no exemplo de vida que nas palavras. Em terceiro lugar, o anúncio do Evangelho não pode ser imposto com a força: é antes de tudo uma proposta de vida que assume somente quem é capaz de renunciar a si mesmo, deixando que a Palavra de Deus, como uma semente, germine no seu coração. Ainda, Jesus é muito claro: “O importante não é submeter os espíritos, o importante é que os seus nomes sejam escritos no céu”. Isto significa que trabalhar para a construção do Reino é um privilégio, nem todos o fazem, pelo que, sempre que o Reino cresce mesmo só um pouco, não é por nosso mérito, mas do Pai. Mas não devemos estar menos contentes pelo nosso bom agir, porque o pai está junto de nós e nós estamos no Seu coração, como operários particularmente amados. Salmo 35 (34) Julga, Senhor, aqueles que me acusam, combate os que me combatem. Compromisso no apostolado Pedi pois ao Senhor da messe, para que envie operários para a Sua messe! – A associação dirige um apelo a todos os inscritos para que se empenhem em descobrir vocações para a continuidade e extensão do apostolado. Com a finalidade de obter novas e santas vocações que se dediquem à direcção e apoio do apostolado dos que sofrem, segundo o exemplo de Cristo, ouso promover no âmbito do nosso Centro orações extraordinárias, para obter dons extraordinários. 31 Tantos doentes devem ser iluminados e apoiados na oferta dos seus sofrimentos e na obtenção de uma sã independência pessoal. A nós compete pois com oração mais intensa atrair do Espírito Santo este dom. Que por parte de todos se eleve uma ardente súplica ao Senhor, que sem olhar para as nossas faltas, mande vocações, segundo o Seu plano de misericórdia. Decidamos, no grupo, rezar intensamente por novas vocações nos Silenciosos Operários da Cruz. Mas consideremos também como anunciar aos jovens como responderem à chamada de Deus colocando em jogo a sua vida. 32 10. Como o próximo Ele (o bom Samaritano) não age por motivos sobrenaturais ou por obediência aos mandamentos; e no entanto o seu comportamento tão humano, encarna o comportamento de Deus e faz aquilo que é o coração da Lei. Texto bíblico: Lc 10, 25-37 25 Levantou-se, então, um doutor da Lei e perguntou-lhe, para o experimentar: «Mestre, que hei-de fazer para possuir a vida eterna?» 26Disse-lhe Jesus: «Que está escrito na Lei? Como lês?» 27O outro respondeu: «Amarás ao Senhor, teu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma, com todas as tuas forças e com todo o teu entendimento, e ao teu próximo como a ti mesmo.» 28 Disse-lhe Jesus: «Respondeste bem; faz isso e viverás.» 29Mas ele, querendo justificar a pergunta feita, disse a Jesus: «E quem é o meu próximo?» 30Tomando a palavra, Jesus respondeu: «Certo homem descia de Jerusalém para Jericó e caiu nas mãos dos salteadores que, depois de o despojarem e encherem de pancadas, o abandonaram, deixando-o meio morto. 31 Por coincidência, descia por aquele caminho um sacerdote que, ao vê-lo, passou ao largo. 32 Do mesmo modo, também um levita passou por aquele lugar e, ao vê-lo, passou adiante. 33 Mas um samaritano, que ia de viagem, chegou ao pé dele e, vendo-o, encheu-se de compaixão. 34 Aproximou-se, ligou-lhe as feridas, deitando nelas azeite e vinho, colocou-o sobre a sua própria montada, levou-o para uma estalagem e cuidou dele. 35No dia seguinte, tirando dois denários, deuos ao estalajadeiro, dizendo: ‘Trata bem dele e, o que gastares a mais, pagar-to-ei quando voltar.’ 36 Qual destes três te parece ter sido o próximo daquele homem que caiu nas mãos dos salteadores?» 37 Respondeu: «O que usou de misericórdia para com ele.» Jesus retorquiu: «Vai e faz tu também o mesmo.» Reflexão Todos conhecemos suficientemente o famoso episódio do bom Samaritano, narrado no Evangelho de Lucas. É importante pois procurar aprofundar o sentido original que está por detrás da narração evangélica: a pessoa que interroga Jesus, é um doutor da lei. Conhece e domina perfeitamente todos os aspectos do que, segundo as normas, é justo ou injusto, puro ou impuro. Todavia não consegue compreender qual é o autêntico espirito desta lei que sabe de cor. Com a parábola Jesus quer manifestar a necessidade de dar vida a esta lei, tão bem conhecida dos especialistas. Não basta “conhecer” os mandamentos, é importante pô-los em prática sem qualquer limite. Para um judeu, 33 era normal desprezar um samaritano, e vice-versa, para um samaritano, a coisa mais “natural” era desprezar um judeu. Jesus modifica esta atitude já profundamente radicada. Não importa a proveniência, o nível social, a confissão religiosa, a opção política. O outro, próprio na sua diversidade, está aqui, diante de mim, é o meu próximo, e mesmo por isso é sacramento do Pai, reflexo do criador, por isso merece todo o meu respeito e o meu amor. “Vai e também tu faz o mesmo”, uma palavra de envio que vale também para nós hoje e que cada dia se torna mais exigente. Frequentemente, de facto, nos acontece como ao doutor da lei. Graças à formação cristã recebida sabemos muitas coisas, porém só de cor. Devemos aprender a viver quanto foi colocado nas nossas raízes, quanto nos ensinaram desde a infância. Salmo 38 (37) Senhor, não me repreendas com a tua ira, nem me castigues com a tua indignação. Compromisso no apostolado Um samaritano teve compaixão – Não deve existir somente na Igreja de Deus o apostolado do piedoso samaritano que acolhe e alivia as feridas do irmão que sofre, ou a assistência espiritual exercida no maior espirito de caridade a todos os que sofrem no mundo, mas deve existir o apostolado activo dos mesmos doentes exercido junto dos outros doentes, para os convencer a serem instrumentos operantes nas Mãos Imaculadas da Virgem Santa pela salvação da humanidade. Reconheçamos nestas palavras do Fundador o ministério específico do Centro Voluntários do Sofrimento: “a aproximação apostólica da pessoa doente tem o mesmo valor da assistência ao corpo do doente. As duas acções são necessárias. Mas a missão do CVS é a de aliviar as feridas interiores e de aí versar o óleo da esperança e o vinho da consolação”. 34 11. Como o estrangeiro Tornar atrás para agradecer é a verdadeira cura. Só se o coração for capaz de gratidão é que também a vida viverá dela, de outro modo permanecerá sempre doente da lepra do individualismo. Texto bíblico: Lc 17, 11-19 11 Quando caminhava para Jerusalém, Jesus passou através da Samaria e da Galileia. numa aldeia, dez homens leprosos vieram ao seu encontro; mantendo-se à distância, 12 Ao entrar 13 gritaram, dizendo: «Jesus, Mestre, tem misericórdia de nós!» 14Ao vê-los, disse-lhes: «Ide e mostrai-vos aos sacerdotes.» Ora, enquanto iam a caminho, ficaram purificados. voltou, glorificando a Deus em voz alta; lhe. Era um samaritano. 17 16 15 Um deles, vendo-se curado, caiu aos pés de Jesus com a face em terra e agradeceu- Tomando a palavra, Jesus disse: «Não foram dez os que ficaram purificados? Onde estão os outros nove? 18Não houve quem voltasse para dar glória a Deus, senão este estrangeiro?» 19E disse-lhe: «Levanta-te e vai. A tua fé te salvou.» Reflexão Lucas apresenta-nos como deve ser a atitude do crente perante a lei e como deve ser acolhida a novidade do Reino que Jesus anuncia e instaura. É evidente a desproporção numérica dos agradecidos, um por cada dez. Parece exagerada, porém faz reflectir sobre o comportamento do crente perante uma falsa interpretação da lei e de uma falsa imagem de Deus. Os dez leprosos receberam todos, o mesmo benefício, porém só um agradece, aquele que ninguém esperaria: um samaritano (um estrangeiro e para os judeus um herético). Ele reconhece a acção generosa, misericordiosa e gratuita de Deus e comporta-se consequentemente. Só ele, que se reconhece indigno de receber o favor de Deus, se sente tocado pela acção divina. Superando o caminho ordinário da observância legal, vai agradecer “pessoalmente” a Deus, presente na pessoa de Jesus. O leproso experimentou o significado da libertação, do resgate, da exclusão, do isolamento e do ser apontado. Os outros nove, que representam a maioria do povo eleito, não conseguem perceber neste sinal a proximidade de Deus. Assim não exprimem qualquer gesto de louvor e de gratidão. Para eles Deus continua a ser alguém que se limita a exigir a observância da lei. Esta desproporção, que Lucas nos apresenta, não nos deve admirar. Se tentarmos pensar e analisar o significado do cristianismo no contexto actual, podemos notar qualquer coisa de muito semelhante: de milhões e milhões de 35 cristãos que há no mundo, quantos são aqueles que conseguiram descobrir que a fé é qualquer coisa a mais em relação à observância de normas e preceitos? Salmo 30 (29) Senhor, eu te enalteço, porque me salvaste e não permitiste que os inimigos se rissem de mim. Compromisso no apostolado Ser curados – Cristo vai ao encontro dos doentes e exige fé porque ela é a luz dos olhos espirituais. É o caminho que conduza à vida, vida eterna certamente se se vive de fé, mas também vida temporal. Cristo exige a fé, e a esta importante e empenhadora realidade deve ser dirigida cada iniciativa dos vários Centros Diocesanos e do Animador dos Grupos. Os verdadeiros apóstolos crescem do calor que a Eucaristia irradia, bem como do verdadeiro amor que os une à Imaculada. Fazer crescer nos associados do Centro Voluntários do Sofrimento a fé é a actividade mais importante que possa ser desenvolvida, promover tais iniciativas significa tornar a fé radiosa. A fé sublima-nos acima de todo o saber humano e leva-nos a descobrir a nobreza da origem do homem e a valorizá-lo como é, com os dotes que tem, sendo ele instrumento de Deus. A fé torna-nos anunciadores do Reino. Assim de cada enfermo e de cada homem que, do encontro com Cristo tenha obtido a luz da fé transformando a sua existência, Jesus faz dele, um anunciador do Reino. Era a saúde total, da alma e do corpo, que se desprendia do Coração de Cristo; o beneficiado por sua vez torna-se um agradecido anunciador das Suas maravilhas. O mundo gera a morte e os seus seguidores tornam-se os seus pálidos e agitados anunciadores, Cristo, pelo contrário, dá a graça que transforma, alegra e anima a esperança mais fecunda. À Imaculada bastam os dotes da alma que tornam luminosos, activos e intrépidos. Quais fecundos e comprometedores argumentos sugerem estas três passagens para tranquilizar tantos nossos associados, temerosos em assumir responsabilidades de apoio na formação de um novo Grupo de Vanguarda. A alma, então, seguindo Maria Santíssima, torna-se luminosa pela posse da verdade; torna-se activa com o impulso do Espirito Santo; torna-se intrépida porque apoiada na “Pedra angular” que é Cristo. Estas são as consoladoras verdades que os nossos doentes perseguem e os podem impelir para a acção, infundindo neles coragem para se tornarem apóstolos de salvação. Somos curados para ser luminosos, activo e intrépidos. Como realizamos estas finalidades? Com que meios? 36 12. A salvação celebrada A atitude que nos leva a ser mensageiros de uma vida nova é a da partilha da Palavra e do Pão em que cada vez redescobrimos a presença do Cristo vivo e ressuscitado que celebramos com alegria em cada Eucaristia. Texto bíblico: Lc 24, 13-35 13 Nesse mesmo dia, dois dos discípulos iam a caminho de uma aldeia chamada Emaús, que ficava a cerca de duas léguas de Jerusalém; 15 14 e conversavam entre si sobre tudo o que acontecera. Enquanto conversavam e discutiam, aproximou-se deles o próprio Jesus e pôs-se com eles a caminho; 16 os seus olhos, porém, estavam impedidos de o reconhecer. 17 Disse-lhes Ele: «Que palavras são essas que trocais entre vós, enquanto caminhais?» Pararam entristecidos. 18E um deles, chamado Cléofas, respondeu: «Tu és o único forasteiro em Jerusalém a ignorar o que lá se passou nestes dias!» 19 Perguntou-lhes Ele: «Que foi?» Responderam-lhe: «O que se refere a Jesus de Nazaré, profeta poderoso em obras e palavras diante de Deus e de todo o povo; 20 como os sumos- sacerdotes e os nossos chefes o entregaram, para ser condenado à morte e crucificado. 21 Nós esperávamos que fosse Ele o que viria redimir Israel, mas, com tudo isto, já lá vai o terceiro dia desde que se deram estas coisas. 22 É verdade que algumas mulheres do nosso grupo nos deixaram perturbados, porque foram ao sepulcro de madrugada 23 e, não achando o seu corpo, vieram dizer que lhes apareceram uns anjos, que afirmavam que Ele vivia. 24 Então, alguns dos nossos foram ao sepulcro e encontraram tudo como as mulheres tinham dito. Mas, a Ele, não o viram.» 25Jesus disselhes, então: «Ó homens sem inteligência e lentos de espírito para crer em tudo quanto os profetas anunciaram! 26 Não tinha o Messias de sofrer essas coisas para entrar na sua glória?» 27 E, começando por Moisés e seguindo por todos os Profetas, explicou-lhes, em todas as Escrituras, tudo o que lhe dizia respeito. 28 Ao chegarem perto da aldeia para onde iam, fez menção de seguir para diante. 29Os outros, porém, insistiam com Ele, dizendo: «Fica connosco, pois a noite vai caindo e o dia já está no ocaso.» Entrou para ficar com eles. 30 E, quando se pôs à mesa, tomou o pão, pronunciou a bênção e, depois de o partir, entregou-lho. 31 Então, os seus olhos abriram-se e reconheceram-no; mas Ele desapareceu da sua presença. 32Disseram, então, um ao outro: «Não nos ardia o coração, quando Ele nos falava pelo caminho e nos explicava as Escrituras?» 33Levantandose, voltaram imediatamente para Jerusalém e encontraram reunidos os Onze e os seus companheiros, 34que lhes disseram: «Realmente o Senhor ressuscitou e apareceu a Simão!» 35E eles 37 contaram o que lhes tinha acontecido pelo caminho e como Jesus se lhes dera a conhecer, ao partir o pão. Reflexão O elemento a sublinhar nesta passagem do Evangelho de Lucas é o caminho. Toda a vida de Jesus foi um caminho e nós devemos tomar consciência, ao iniciar um novo ano pastoral, no final de um ano social, de qual é o caminho efectivamente percorrido. Os discípulos caminharam com Jesus, mas, enquanto o caminho de Jesus tinha como meta final o cumprimento do plano salvífico do Pai, o caminho dos discípulos acabava na incerteza, na tristeza, na frustração. “Esperávamos” é a triste constatação dos discípulos a caminho de Emaús. Isto significa que a vida, a paixão e ressurreição do Mestre, não pode ser uma escolha facultativa para o caminho do discípulo. (v. 19-20; 22-24). Este é o momento propício em que o Ressuscitado aproveita para iniciar a ratificar o caminho do discípulo. São dois os elementos: o primeiro fundado na Escritura, cuja parte explicando-a ponto por ponto até que a compreendam. O segundo elemento é a própria aplicação da Escritura que Jesus tinha já vivido e que quis repisar exprimindo-se no gesto de partilhar a mesa. Ele aqui partilha-a com dois dos seus discípulos, durante toda a Sua vida tinha-a partilhado com todo o tipo de mulheres e homens, realizando seguramente, em cada ocasião, qualquer sinal ou pronunciando qualquer palavra. Em diferentes e repetidos modos Jesus tinha expresso a dimensão nova do estar à mesa, que ia mais além do simples gesto de comer. É o gesto da mesa, aquele que “abre” os olhos aos discípulos: reconhecem-no e ao mesmo tempo compreendem aquilo que sentiam quando Jesus lhes tinha explicado a Escritura: o ardor e a força da graça. Tinham contudo necessidade de um sinal da mesa/pão para compreender totalmente. É de notar como Emaús fosse inicialmente o destino final dos discípulos. Agora, na raiz da autorevelação de Jesus o Cristo, o caminho é modificado. Decidem retornar a Jerusalém, onde se encontram os seus amigos, ainda duvidosos. O processo que conduz à fé está ainda aberto. Reconhecer, aceitar e celebrar o Vivente e quanto manifestou (v. 33-35). Salmo 16 (15) Defende-me, ó Deus, porque em ti me refugio. Digo ao Senhor: “Tu és o meu o meu Deus”. Compromisso no apostolado Na verdade o Senhor ressuscitou! – Por três vezes, em circunstâncias diversas, o Divino Mestre proclamou que vinha para destruir as consequências do pecado e com a Sua paixão, morte e ressurreição, a dor e a morte, com a Sua morte e ressurreição, teriam cessado de ser um enigma 38 desesperado e desolador, e teriam adquirido as novas dimensões que só Ele podia dar e só n’Ele, para sempre, poderiam subsistir. Se Cristo não tivesse ressuscitado, vã seria a nossa fé. Maravilhosa disposição da providência de Deus, que não somente quer com a morte destruir a morte, mas fazer dela fonte de vida. A dor permanece sempre dor, é verdade; mas é uma dor sacralizada, tornada fonte de vida, energia e suporte de cada empreendimento espiritual. O nosso trabalho apostólico não é vão, enquanto existir uma pessoa que sofre. Os nossos horizontes não são finitos, as nossas lutas não são inúteis. Verifiquemos no Grupo o trabalho feito durante o ano e disponhamos os recursos para criar um novo grupo no próximo ano apostólico. 39 APÊNDICE 40 CELEBRAÇÃO 41 Ritual de Adesão Ninguém se torne indolente na fé Celebração para a adesão anual ao CVS No Ano Novaresiano, enquanto esperamos a Beatificação do Padre Fundador, Mons. Luís Novarese, entramos também no Ano da Fé que o Santo Padre Bento XVI propõe a todos os fiéis. A celebração da adesão, como habitualmente, posta no início do ano pastoral, não é inserida na Santa Missa. Se se deseja fazê-lo, podem adaptar-se os vários conteúdos numa colocação apropriada da celebração eucarística. Ao cântico inicial são levados os sinais da adesão: o cartão, o Estatuto, o terço do rosário, o crucifixo, uma imagem do Fundador, uma imagem de Nossa Senhora de Lourdes e uma de Nossa Senhora de Fátima. Cântico P – Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. A – Amem. P – Irmãos e irmãs, estamos aqui reunidos, no início do ano pastoral, para aderir ao Cento Voluntários do Sofrimento, a graça, a paz, a alegria e a coragem apostólica esteja convosco. A – E com o teu espírito. P – Irmãos e irmãs, escutemos uma palavra do venerável Luís Novarese: “Se a fé se esmorece, Cristo deixa de ser Caminho, Verdade e Vida e a Sua Pavra já não é o princípio inspirador da existência de cada homem. É preciso pois, sem subterfúgios, viver a fé e trabalhar em conformidade com os princípios estimulantes e libertadores do Baptismo”. A – Sintamos este convite dirigido a cada um de nós, para que ninguém se torne indolente na fé. Esta é companheira de vida, que permite perceber, com um olhar sempre novo, as maravilhas que Deus realiza por nós. Solícita a identificar os sinais dos tempos no hoje da história, a fé obriga cada um de nós a tornar-se sinal vivo da presença do Ressuscitado no mundo. Aquilo de que o mundo, hoje, tem particular necessidade é o testemunho credível de quantos, iluminados na mente e no coração pela Palavra do Senhor, são capazes de abrir o coração e a mente de muitos outros ao desejo de Deus e da vida verdadeira, aquela que não tem fim. (Bento XVI, Carta Apostólica: Porta Fidei, nº 15). P – Assim seja para cada um de vós, com a graça fiel de Deus. A – Amem. 42 Cântico 1 L - A “porta da fé” que introduz na vida de comunhão com Deus e permite a entrada na sua Igreja, está sempre aberta para nós. É possível cruzar este limiar, quando a Palavra de Deus é anunciada e o coração se deixa plasmar pela graça que transforma (Porta Fidei, nº1). Da Primeira Epístola aos Coríntios (2, 1-5) 1 Eu mesmo, quando fui ter convosco, irmãos, não me apresentei com o prestígio da linguagem ou da sabedoria, para vos anunciar o mistério de Deus. 2Julguei não dever saber outra coisa entre vós a não ser Jesus Cristo, e este, crucificado. 3Estive no meio de vós, cheio de fraqueza, de receio e de grande temor. 4A minha palavra e a minha pregação, nada tinham dos argumentos persuasivos da sabedoria humana, mas eram uma demonstração do poder do Espírito, 5para que a vossa fé não se baseasse na sabedoria dos homens, mas no poder de Deus. Palavra de Deus. A – Nós anunciamos Cristo crucificado, potência e sapiência de Deus. Consideremos a nossa chamada: do ponto de vista humano, não há entre nós muitos sábios, nem muitos poderosos, nem muitos nobres. Deus escolheu o que há de fraco no mundo, para confundir o que é forte, escolheu os que nada são, para reduzir ao nada aqueles que são alguma coisa. Amem Cântico 2 L – De uma exortação de Mons. Luís Novarese no início de um novo ano pastoral. “No nosso Centro não nos ficamos por numa filial devoção a Nossa Senhora, mas comprometemonos numa «consagração” total à Imaculada para pôr em prática os seus apelos de oração e de penitência, e prestar assim o maior e mais urgente serviço aos irmãos. A oração e a reparação são os elementos equilibradores deste momento de vida eclesial, tão perturbada e em alguns lugares demasiado debilitada, próprio por esta carência. A Associação que acolhe somente pessoas convictas, com fé viva e caridade ardente deve repetir no âmbito dos inscritos e à sua volta através do apostolado, as verdades indicadas, animando quantos deram a sua adesão para viverem o programa abraçado: sem respeito humano, dispostos a caminharem contra a corrente, sustentados pelo Evangelho, pelos ensinamentos do Concílio, dos Papas e dos Bispos. O Centro não está de modo nenhum preocupado com o número de pessoas; ele quer almas comprometidas no plano da graça, almas que pretendem dar um específico testemunho cristão e que estão verdadeiramente preocupadas com a evangelização. Quem adere, seja bem-vindo. O nosso agradecimento a quem quer aderir às finalidades da Imaculada, formando com Ela o grupo de operários na construção especializada da valorização do sofrimento. P – Irmãos e irmãs, quem são os verdadeiros operadores do CVS senão aqueles que agem em espírito de fé, na linha da mais estreita observância das directivas do próprio Centro? É este o 43 maravilhoso testemunho das almas sinceramente operosas que fizeram e fazem ainda agora a história eclesial do Centro Voluntários do Sofrimento. Peçamos a sua intercessão e a intercessão da Mãe de Deus enquanto nos dispomos a renovar os nossos compromissos de adesão. Mãe de Deus Saúde dos enfermos Nossa Senhora de Lourdes Nossa Senhora de Fátima Venerável Luís Novarese Servo de Deus Angiolino Bonetta Servo de Deus Giunio Tinarelli Serva de Deus Anna Fulgida Bartolacelli Servo de Deus Fausto Gei Rogai por nós Rogai por nós Rogai por nós Rogai por nós Intercedei por nós “ “ “ “ “ “ “ “ Oremos. Ó Deus, que no coração de quem acredita no valor salvífico do sofrimento semeastes esperança e coragem apostólica, olhai para estes vossos filhos que hoje se entregam à força e à eficácia do vosso mistério pascal de morte e ressurreição e conduzi-os como testemunhas credíveis de fé na construção do vosso reino na terra. Por Cristo Nosso Senhor. A – Amem. P - Irmãos e Irmãs, “ao longo deste tempo, manteremos o olhar fixo em Jesus Cristo, «autor e consumador da fé»: n’Ele encontra plena realização, toda a ânsia e anélito do coração humano. A alegria do amor, a resposta ao drama da tribulação e do sofrimento, a força do perdão face à ofensa recebida e a vitória da vida sobre o vazio da morte, tudo isto encontra plena realização no mistério da sua Encarnação, do seu fazer-Se homem, do partilhar connosco a fragilidade humana para a transformar com a força da sua ressurreição. N’Ele, morto e ressuscitado para a nossa salvação, encontram plena luz os exemplos de fé que marcaram estes dois mil anos da nossa história de salvação” (Porta Fidei, nº 13). P – Reconheceis as raízes da vossa filiação no CVS nos apelos de oração e de penitência feitos pela Virgem Santa em Lourdes e em Fátima, para reparar os muitos pecados que ofendem o Coração de Jesus e o Coração Imaculado de Maria; pela conversão dos pecadores; pelo Papa, pelos Sacerdotes e seu ministério, para obter a paz? (doEstatuto CVS). A – Sim, reconheço-me nestas raízes. P – Reconheceis-vos como aderentes ao CVS que vivem a sua vocação baptismal e missão apostólica na comunhão com Cristo crucificado e ressuscitado, acolhendo a particular presença de Maria na vida da Igreja, entregando-vos à “Santa Mãe” que forma os verdadeiros apóstolos de Cristo? (do Estatuto CVS). 44 A – Sim, entrego-me a Maria para ser de Cristo. P – Tendes consciência do facto que, professando os vossos compromissos baptismais, vos é pedida uma plena adesão da vontade, a uma corajosa aceitação da vossa vida, sem vos renderdes ao mal e à fraqueza, sem fugir ou esconder a vossa situação de sofrimento; crescendo no bem e desenraizando de vós mesmos o mal? (do Estatuto CVS). A – Sim, não quero subtrair-me à tarefa de existir. P – Em união a Cristo, quereis acolher não só a salvação, o sentido, a esperança, a consolação para a vossa vida, mas também a chamada a um compromisso apostólico, no anúncio do Evangelho aos irmãos que sofrem? (do Estatuto CVS). A – Sim, comprometo-me activamente no apostolado da valorização do sofrimento. P – Quereis exprimir o vosso papel activo de sujeitos responsáveis, oferecendo a vossa espiritualidade e a consequente acção, como dom e riqueza para a Igreja e para a sociedade? (do Estatuto CVS) A – Sim, quero com a ajuda de Deus e guiado por Maria Santíssima. Neste momento são entregues os cartões e, aos novos inscritos também o Estatuto e o terço do Rosário. Entretanto canta-se. Segue-se o rito de conclusão. P – Irmãos e irmãs, “pela fé, no decurso dos séculos, homens e mulheres de todas as idades, cujo nome está escrito no Livro da vida, confessaram a beleza de seguir o Senhor Jesus nos lugares onde eram chamados a dar testemunho do seu ser cristão: na família, na profissão, na vida pública, no exercício dos carismas e ministérios a que foram chamados. Pela fé, vivemos também nós, reconhecendo o Senhor Jesus vivo e presente na nossa vida e na história. Ele vive e reina pelos séculos dos séculos. (Porta Fidei, nº 13) A – Amem. 45 TESTOS DE APOIO 46 O Credo de Mons. Luís Novarese Creio em Deus Pai omnipotente, criador do céu e da terra. Creio em Jesus Cristo, seu único Filho, nascido de Maria, Virgem Imaculada, gloriosamente Assunta ao Céu em corpo e alma. Creio na Santíssima Trindade que faz de nós templos do Espírito Santo. Creio que no Baptismo e no Crisma, foi difundido em nós o Espírito Santo. Creio que Jesus veio a este mundo para nos falar do Pai, para nos revelar o Seu amor. Creio na graça, que é sempre concedida a quem sinceramente a invoca. Creio que Deus não faz nada ao acaso. Ele destina os doentes, por um particular desígnio de amor, a cooperar com Ele na salvação do mundo. Creio que a Cruz gera a fé. Creio que Jesus chama à valorização da dor para o advento do reino de Deus. Creio que Jesus chama a dor a sair da sua desesperada inutilidade Creio que, quanto mais sou fraco tanto mais sou potente. Creio que Nossa Senhora se dirigiu a nós e nos pediu oração e penitência pela salvação dos irmãos. Creio que a Mãe da Igreja nos apresentou um programa claro e preciso que nos torna responsáveis pela vida da sociedade. Creio na inseparável união que deve existir entre o nosso sofrimento e o de Cristo, para que não seja anulado o valor do nosso sacrifício. Creio no apostolado da valorização do sofrimento sugerido pela Imaculada em Lourdes e em Fátima. Creio que os doentes, os mais pobres, os mais impedidos são os mais válidos suportes do CVS e da Igreja. Creio na entrega à Imaculada. Creio no silêncio adorante que cede espaço à obra de Deus Trindade, nosso Hóspede na Tenda Interior da sua criatura. Creio no binário da humildade e da obediência, no qual o Filho de Deus, nascido de Maria Virgem, precede o homem para o reconduzir ao Pai. Creio na força irresistível do nosso apostolado. Creio que nada nos poderá travar na execução do nosso programa de conquista de todas as almas, e de salvação de todos os pecadores, porque a vontade de Deus é esta: que todos acreditem n’Ele e no Filho que enviou, Jesus Cristo. 47 Creio mas faz-me acreditar ó Senhor na força construtiva da dor. Amen. «NECESSIDADE DE QUE OS VOLUNTÁRIOS DO SOFRIMENTO DEÊM NA IGREJA O SEU TESTEMUNHO ESPECÍFICO» O Centro Voluntários do Sofrimento deve dar o seu testemunho. É para o Centro um dever e uma responsabilidade diante de Deus e da Igreja viver segundo a sua realidade que recebeu da própria Igreja. O momento histórico que vivemos, em que nos confrontamos com naturalismo, dessacralização, hedonismo, materialismo prático e teórico, exige, como contrapeso, uma acção precisa, dirigida não somente a pôr em evidência as lacunas, mas a combater e edificar eclesial e socialmente um plano oposto. O Centro Voluntários do Sofrimento hoje deve dar o seu contributo, os seus frutos. Exigem estes frutos: Os Bispos, que nos aprovaram e acolheram nas suas Dioceses. Eles têm necessidade deste aporte porque o plano apostólico apoia na plenitude da oferta do Calvário: oferta do Cristo histórico e do Cristo místico. A Igreja que aceitou o programa; consagrou-o com a sua aprovação e assim se tornou um programa de acção precisa que corresponde às exigências dos tempos. Mediante a aprovação definitiva, concedida pelo Papa João XXIII, com o Breve Apostolico «Valde Probandae» de 24 de Novembro de 1960, o Centro deve caminhar segundo as suas finalidades com os meios aprovados. Os frutos que as Igrejas locais esperam e, por reflexo, que a Igreja universal exige, são: Aporte de oração que exige um verdadeiro e sentido retorno à oração vocal e mental, pessoal e comunitária. Isto é necessário sobretudo na nossa época de exaltação exacerbada do dinamismo e da confiança nos próprios planos de actividade, Aporte de penitência. Esta vai desde a metanóia (mudança ou conversão pessoal que é a primeira penitência a realizar em nós próprios) até à penitência que é aceitação, das consequências do pecado, trabalho e sofrimento, aceitando-as em união a Cristo e fazendo com que se tornem meios de conquista. Submissão verdadeira, sentida, filial à Hierarquia. As ovelhas não se põem contra o pastor e os filhos não se põem contra os responsáveis pelas suas almas. Em base a este princípio vital o Centro, na sua estruturação interna e no seu dinamismo externo deve realmente 48 desenvolver, não uma acção de palavras, mas uma acção que testemunhe uma verdadeira e cordial submissão de filhos, que colaboram para o bem da Igreja. De resto a Imaculada, após a ascensão ao Céu do Seu divino Filho, uniu os seus passos aos dos Bispos. Ficou com João e seguiu-o. Foi submissa também Ela à Hierarquia; dos apóstolos recebeu a Eucaristia; permaneceu no cenáculo eixo de unidade na hierarquia e adverte-nos também a nós hoje para a mesma submissão. De justiça. O Centro vive para uma finalidade precisa: realizar em si e em torno a si as linhas apresentadas pela Imaculada. Nós estamos no Centro Voluntários do Sofrimento não somente para um plano de formação de ascética pessoal, mas também para um plano de dinâmica apostólica, de testemunho. Não viver a sua finalidade, para o Centro significa retirar a finalidade de existência, esvaziar-se desnaturar-se. De caridade. O princípio fundamental não pode ser diverso daquele posto por Nosso Senhor Jesus Cristo: «Amarás o Senhor teu Deus e o próximo como a ti mesmo». O «como» é termo de comparação que compromete em proporção das exigências dos irmãos. O terceiro motivo do nosso aporte é o compromisso do doente, dado à Associação, de valorizar o seu ser em Cristo na finalidade apresentada pela Imaculada por objectivos bem precisos, através de uma metodologia bem indicada. De tal resulta que quem a ela adere é obrigado por lealdade a respeitá-la. Aquele que sofre, de facto, dando a sua adesão ao programa de renovação espiritual, apresentado pela Virgem Santa em Lourdes e em Fátima: Faz da sua vida uma oferta precisa para as finalidades expressas pela Imaculada, e é este um dos aspectos da «voluntariedade», Realiza um meio de apostolado entre os irmãos na dor para que todos os doentes descubram as sua possibilidades positivas para uma precisa inserção na família, na Igreja e na sociedade. O doente então é sujeito de acção: Com a oferta do seu sofrimento; Com a dinâmica do seu apostolado, no âmbito da própria categoria. Por consequência os doentes: 49 Têm uma posição bem precisa na vida e na história da Igreja, que é verdadeira e própria missão; posição espiritualmente insubstituível, necessária para a expansão e para a própria vitalidade da Igreja. Em vista de tal missão, recebida não por escolha própria, nasce para eles o direito e o dever de a exercer na forma mais dinâmica para o bem dos homens, para edificação da Igreja, com a liberdade do espírito e ao mesmo tempo na comunhão com os irmãos em Cristo, sobretudo com os seus pastores (cf. Apostolicam Actuositatem nº 4) Os doentes. São pois inseridos na Igreja para uma missão de suporte e de expansão; são membros de suporte da Igreja, como de suporte e insubstituível é o Calvário de Nosso Senhor Jesus Cristo. Não se diga que esta é uma exaltação dos doentes, fora de lugar. É somente uma sensibilização sobre a sua vocação e sobre a sua responsabilidade. (Luís Novarese, L’Ancora, nº 8/9 – 1976) 50 Viver a fé no sofrimento O ensinamento de Mons. Novarese O Ano da fé proclamado pelo Papa Bento XVI, representa uma ocasião importante para voltar às raízes do ensinamento de Mons. Luís Novarese. Um ensinamento inspirado e guiado pela fé, que enfrenta a questão angustiante que há mais de dois mil anos agita o cristianismo: porquê o sofrimento? A esta pergunta, “o apóstolo dos doentes”, como o definiu o Beato João Paulo II, deu uma resposta: o sofrimento é uma dimensão da existência que deve ser interpretado e cujo mistério pode ser acolhido e vivido à luz de Cristo crucificado e ressuscitado. É esta luz que nos permite transformar a angústia em confiança, de modo a tornar o nosso sofrimento um caminho espiritual que nos muda a nós e ao modo de pensar e viver a doença. Mons. Novarese foi um grande explorador dos recursos do espírito nos limites do corpo sofredor. Ensinou os enfermos a transfigurar o corpo doloroso no encontro com o Senhor ressuscitado, segundo as palavras de São Paulo: “Examinai-vos a vós mesmos para ver se estais na fé; ponde-vos à prova. Ou não reconheceis que Jesus Cristo está em vós?” (2 Coríntios 13, 5). De ex-doente que fez em si a experiência da dor, Mons. Novares incitou os doentes a colocarem-se à prova. A enfrentarem passo a passo a escalada espiritual que os conduziria ao cume: «Já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim» (Gálatas 2, 20). Percorramos brevemente as imagens da sua vida. Com nove anos de idade, depois de uma queda grave, é atingido por uma gravíssima forma de tuberculose óssea, doença para a qual, na primeira metade do século XX, não havia cura. Os médicos não davam esperança. O rapaz sofre com dores atrozes, mantem-se em pé com as muletas e é internado em vários hospitais. Vemo-lo no sanatório Santa Corona de Pietra Ligure. Aprendeu a tocar flauta para alegrar os outros doentes, e os fieis que frequentam a capela do hospital vêem-no frequentemente recolhido em oração diante de Cristo crucificado. É ao viver interiormente a sua doença que Mons. Novarese inicia o seu caminho espiritual. O Reino de Deus está dentro de nós. Esta, e só esta é a via a seguir. “Nós possuímos de tal modo dentro de nós, na nossa mente e no nosso coração o ordenamento de vida espiritual que o Pai nos deu para podermos chegar ao Céu, que começamos a amá-lo e a possuí-lo em nós para o realizar no momento oportuno” (Novarese, Terceira Meditação, Linhas fundamentais do Silêncio Interior). 51 Na solidão diante do Crucificado, no encontro quotidiano com a oração, o jovem atravessa o limiar da vida interior. Reza mais com o coração que com a mente. E nota progressos. Sente que o seu desejo de consolação e de paz encontra resposta. Cada dia um pequeno passo enfrente, o Senhor conquista espaço, na alma avança a esperança. Percebendo o destaque das coisas e do mundo, Luís apercebe-se da mudança de perspectiva que torna menos angustiante a relação com a dor. Abandonando-se à vontade do Senhor, intui que medos e expectativas se esvaziam do peso insuportável para desvanecerem numa espécie de paz que o consola e, por vezes, o conduz ao sorriso. “Se não trabalhamos dentro de nós, nada constrói o silêncio em nós” (Quarta Meditação). “Na própria tenda interior, ali, verdadeiramente, se desenvolve o trabalho de oficina, de limagem, de confronto para fazer desaparecer as arestas, para amaciar, arredondar, fazer em modo que a acção se assemelhe cada vez mais a Jesus” (Sétima Meditação). Agora Luís está mais sereno. Descobriu que dentro de si há um percurso que conduz a Deus: basta procurá-lo. Mas percebeu também que são muitos os obstáculos a superar: pensamentos e desejos, o apego ao eu e o amor-próprio que impedem a descoberta do caminho. E o caminho é Jesus. De autodidacta da contemplação, Novarese encontrou dentro de si o espaço para fazer experiência do encontro com o Senhor. Deu-se conta que sentir-se amado dá à sua dor um significado mais profundo e mais alto. E que o pensamento dirigido ao sofrimento do Filho de Deus na cruz lhe faz sentir, no seu sofrimento de doente, a ligação que o une a Ele. Daqui um desejo forte e claro fez caminho na sua alma: a vontade de partilhar o sofrimento com os outros doentes, para lhes transmitir a sua descoberta. O doente é um filho predilecto de Deus que não se deve render ou esconder. Pelo contrário, deve aprender a pensar em si de um novo modo: não como objecto passivo de caridade, mas como sujeito activo de apostolado entre os que sofrem, uma testemunha capaz de transmitir aos irmãos a força e a beleza do seu sim ao Senhor mesmo na doença. A grande intuição de Novarese sobre o apostolado do sofrimento (“O doente por meio do doente com a ajuda do irmão são”) nasce daqui. Da fé que o guiou para a descoberta do Reino de Deus dentro de si e lhe fez compreender a importância da prática espiritual no percurso de cura dos doentes. A fé que dá valor ao sofrimento e acompanha os enfermos no abraço de Cristo ressuscitado. “Coragem, irmãos caríssimos, olhai para cima do vosso quartinho e para cima do extremo do vosso leito; a vossa vida não está circunscrita a tais angustiantes horizontes. Vós tendes grandes 52 possibilidades. O mundo, as almas, têm necessidade de vós” (Luís Novarese, Pensieri, Edições CVS). 53