Cientistas brasileiros descobrem dois planetas: um super

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Cientistas brasileiros descobrem dois planetas: um superNetuno e uma super-Terra
Planetas orbitam ao redor de estrela gêmea do Sol que fica a
300 anos-luz da Terra. Pesquisa foi liderada por astrônomos
da USP.
Cientistas descobriram dois novos planetas ao redor de uma estrela muito similar ao Sol. O super-Netuno e a
super-Terra, que orbitam a estrela HIP 68468, estão entre os primeiros planetas descobertos por equipes
lideradas por astrônomos brasileiros, depois da descoberta de um planeta semelhante a Júpiter anunciada em
2015.
Segundo o astrônomo Jorge Melendez, professor do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências
Atmosféricas da Universidade de São Paulo (IAG-USP) e líder da pesquisa, um dos principais objetivos do
estudo era comparar o nosso Sistema Solar com outros sistemas planetários. A descoberta foi publicada pela
revista especializada "Astronomy & Astrophysics".
O que se encontrou ao redor da estrela HIP 68468 foi um sistema planetário bem diferente daquele que nos
abriga. Isso porque, apesar de a massa dos planetas recém-descobertos ser comparável às da Terra e de Netuno,
eles orbitam a uma distância muito próxima de sua estrela, o que sugere que os planetas tenham migrado de
uma região mais externa para a região mais interna desse sistema planetário.
O super-Netuno, chamado de HIP 68468c, tem uma massa 50% maior que a do planeta Netuno. Mas enquanto
o nosso Netuno fica bem distante do Sol (30 vezes a distância Terra-Sol), a órbita do novo planeta equivale a
apenas 70% da distância Terra-Sol.
Já a super-Terra, chamada de HIP 68468b, tem uma massa equivalente a três vezes a terrestre e sua órbita
equivale a apenas 3% da distância Terra-Sol, ou seja, fica quase grudada em sua estrela.
A estrela HIP 68468, que tem 6 bilhões de anos, fica a uma distância de 300 anos-luz de distância da Terra.
Planetas podem ser engolidos
Além de constatar que esses planetas podem ter migrado de regiões externas para regiões internas do sistema,
as observações também dão sinais de que a estrela HIP 68468 pode ter engolido um planeta. Um dos indícios
de que isso tenha ocorrido é a presença de um excesso de lítio, elemento mais abundante nos planetas e pouco
comum nessa quantidade em estrelas
E planetas recém-descobertos não estão imunes ao “apetite” de sua estrela. “Especialmente o planeta que está
mais próximo [a super-Terra] pode ser facilmente engolido”, diz Melendez. “Mesmo que sua órbita seja
estável, o planeta está tão próximo de sua estrela que de qualquer jeito vai ser destruído. As estrelas, quando
evoluem, vão aumentando de tamanho. Basta que essa estrela aumente um pouco seu tamanho para destruí-lo.”
Comparação com Sistema Solar
Segundo Melendez, observar esse sistema planetário em que existe uma migração dos planetas da área mais
externa para a mais interna ajuda a entender a dinâmica do nosso Sistema Solar.
“Se os planetas migrassem no Sistema Solar, nosso planeta ficaria desestabilizado, com órbita caótica e risco
de colidir com outro planeta, ser ejetado do Sistema Solar ou em direção ao Sol”, diz o astrônomo.
Uma das propostas dos cientistas para explicar por que isso não acontece é a de que Júpiter atuaria como uma
barreira que não permitiria que os planetas gigantes do Sistema Solar migrassem para as regiões mais internas.
No sistema planetário descoberto, não existe um planeta equivalente a Júpiter.
“Isso reforça o papel importante que Júpiter desempenha para manter a arquitetura planetária do Sistema Solar,
com planetas rochosos na parte interna e gigantes na externa”, conclui Melendez.
Observatório Europeu do Sul
A descoberta dos dois novos planetas ocorreu graças a observações feitas em um sofisticado instrumento
acoplado no telescópio do Observatório Europeu do Sul (ESO), que fica no deserto do Atacama, no Chile.
Melendez explica que não é possível fazer uma observação direta dos planetas. Em vez disso, o espectrógrafo é
capaz de detectar movimentos muito sutis que as estrelas fazem quando um planeta gira ao seu redor devido à
gravidade. Assim como a estrela puxa os planetas em sua direção, os planetas também têm efeito semelhante
sobre sua estrela, levando o astro a fazer pequenos movimentos. É a partir desses movimentos que a existência
de novos planetas é inferida.
Essas observações foram feitas durante 43 noites entre 2012 e 2016.
“O projeto a médio e longo prazo é procurar um planeta gêmeo da Terra. Isso vai ser possível muito em breve
porque tem um instrumento no ESO que vai ter tecnologia suficiente para poder detectar esse tipo de planeta.
Atualmente nosso limite são planetas com massa de 2 ou 3 vezes a da Terra”, diz o astrônomo.
Melendez lembra que a adesão do Brasil ao ESO, que é o maior consórcio de pesquisas astronômicas do
mundo, está pendende desde 2010, quando o acordo de adesão foi assinado pelo então ministro brasileiro da
Ciência e Tecnologia, Sergio Rezende.
Ao aderir ao ESO, o Brasil abriria para os cientistas brasileiros a oportunidade de usarem telescópios e
instrumentos de observação de ponta instalados no norte do Chile.O consórcio é responsável pelo projeto do
megatelescópio E-ELT (Sigla para “European Extremely Large Telescope”, ou “Telescópio Europeu
Extremamente Grande”), que deve ser o maior telescópio do mundo, com um espelho de 39 metros de
diâmetro.
A equipe que descobriu os planetas também conta com pesquisadores do Laboratório Nacional de Astrofísica
(LNA), Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Universidade de Chicago, Universidade do
Texas em Austin, Universidade Nacional da Austrália, Universidade de Göttingen, Academia de Ciências da
China, Instituto de Astronomia Max Planck e Instituto de Ciência Telescópio Espacial.
Post date: 2016-11-04 14:47:37
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