A perfeição é um estado de completude e ausência de falhas

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Continuando da parte 2
A subjetividade é o mundo interno de todo e qualquer ser humano. Este
mundo interno é composto por emoções, sentimentos e pensamentos.
Através da nossa subjetividade construímos um espaço relacional, ou seja,
nos relacionamos com o "outro".
O limite do subjetivo
Há uma outra espécie de materialismo, definida por alguns como
materialismo científico, mas que eu opto por definir aqui como materialismo
subjetivo – pois se trata de uma teoria que afirma que somente a matéria
já conhecida explica o funcionamento da consciência humana. Trata-se de
uma aposta e de um enorme paradoxo:
A aposta
Hoje se sabe que a consciência se parece mais com um processo que
coordena decisões de acordo com o fluxo de informação sensorial recebido,
ela é como o regente de uma “orquestra mental”. Porém, a análise
qualitativa dos fenômenos conscientes complexos, como o amor e as
decisões morais, ainda passam ao largo da explicação científica. Este é o
famoso “problema difícil”: identificar o que exatamente interpreta
informações e elabora respostas morais, em oposto a mera computação das
informações.
Richard Feynman gostava de comparar a forma como os físicos modernos
trabalham com a detecção das ondas de uma piscina: acaso não fosse
possível ver quem mergulhou na piscina há pouco tempo, podemos ter uma
boa noção de onde e quando ocorreu o mergulho, assim como o peso de
quem mergulhou, apenas analisando a frequência e a amplitude das ondas
na superfície da água. A ciência lida somente com o que pode detectar – se
ela não detecta o amor ou a moral, ao menos pode detectar o efeito elétrico
no cérebro que ocasiona as demonstrações de sentimentos complexos. O
que a ciência não pode pretender, entretanto, é que tais sentimentos se
resumam ao efeito, ignorando a causa... Ou postulando que a causa está
além de nosso controle, que é fruto do mero agitar químico do cérebro, o
que em todo caso é basicamente o mesmo que ignorar a causa.
Bahram Elahi, especialista em cirurgia e anatomia, dizia que embora a
mente e o cérebro sejam separados, a mente (ou consciência) não é algo
imaterial. Ao contrário, é composta de um tipo de matéria muito sutil que,
embora ainda não-descoberta, é conceituamente semelhante às ondas
eletromagnéticas, que são capazes de carregar sons e figuras (e mesmo
videos - figuras em movimento), e são governadas por leis, axiomas e
teoremas precisos. Ele teoriza que tudo relacionado a esta "entidade" deve
ser considerado como uma disciplina científica não-descoberta, e estudada
da mesma maneira objetiva que outras disciplinas (como química ou
biologia, por exemplo). A consciência pode, portanto, ser formada por
algum tipo de substância material sutil demais para ser medida ou
detectada utilizando as ferramentas científicas disponíveis hoje.
Eis a aposta dos materialistas subjetivos: a de que a consciência e seus
fenômenos complexos, que exigem não apenas a computação de
informações, mas, sobretudo, a interpretação das mesmas, pode ser
compreendida apenas levando-se em consideração a matéria já detectada
pela ciência.
O paradoxo
Primeiro a ciência moderna, através da neurologia, foi obrigada a aceitar o
conceito e a existência da mente subjetiva, para só então tentar reduzi-la a
atividades elétricas, efeitos bioquímicos, um mero agitar de partículas no
cérebro... Em suma, tentar negar a existência dos qualia.
Qualia são tratados na Filosofia da Mente como sinônimos de subjetividade.
Eles significam uma barreira intransponível entre objetivo e subjetivo, entre
vivo e não vivo, entre humanos e máquinas. Não sabemos como o cérebro
gera a subjetividade, nem se ela pode ser replicada artificialmente.
Tentamos padronizar as sensações usando a linguagem, mas as
características subjetivas, únicas, de cada sensação, parecem sempre
escapar. Quando falamos de algo “amarelo”, por exemplo, não sabemos se
essa cor é mais ou menos intensa para nós ou para o “outro”.
Essa inconveniência dos qualia levou filósofos como Daniel Dennet a
tentarem negar sua importância ou até mesmo sua existência... Segundo
Dennet, a subjetividade é uma ilusão persistente gerada por nosso cérebro,
e não existem escolhas, nem morais nem imorais, apenas o resultado do
fluxo de partículas no cérebro, de átomos dançando conforme alguma
música aleatória definida por nosso meio-ambiente.
Eis o paradoxo: Dennet, ao contrário do que possam pensar, não é alguém
que eu condene. De fato, ele é um dos poucos materialistas subjetivos que
realmente assumem sua posição enquanto materialistas – a grande maioria
simplesmente ignora tal questão, e continuam a viver como se existisse a
subjetividade, como se existissem escolhas, como se realmente fizesse
algum sentido condenar criminosos ou condecorar heróis de guerra.
Até onde a luz pode chegar
Não há nada de errado com a ciência objetiva, o problema é quando
cientistas creem que podem utilizar ciência para adentrar no campo da
subjetividade... Da mesma forma que a psicologia não poderá provar que
“esta pessoa está sentindo duas vezes mais dor do que aquela outra”, ou
que “aquela pessoa ama aquela outra cinco vezes mais do que você ama
seu cachorro”, dificilmente a ciência moderna terá sucesso nessa tentativa
de equacionar a mente humana, e tratá-la como uma espécie de máquina
que programou a si própria.
Já dissemos que toda a matéria é intangível, mas faltou dizer que ela é
igualmente invisível em sua maior parte – pois tudo o que vemos com os
olhos ou detectamos com instrumentos avançados são frequências de ondas
eletromagnéticas, quntas de luz a refletir pelos átomos a dançar no vazio.
Nós não vemos a lua, nem a árvore do outro lado da rua, nem mesmo
nossas mãos ou as bactérias no microscópio, vemos apenas os quantas de
luz, vindos da luz do Sol ou de alguma fonte de luz (tal qual lâmpadas ou
vagalumes), a refletir os átomos que constituem as coisas vistas ou
detectadas.
Mas mesmo esta matéria que reflete e interage com a luz é apenas uma
ínfima minoria – cerca de 4% – de toda a matéria existente em nosso
horizonte observável do Cosmos. Todo os resto – 96% – é composto por
Matéria Escura e Energia Escura, e só pôde ser descoberto pelos cientistas
através de seu efeito gravitacional no movimento das galáxias (assim como
nas interações com a força eletrofraca, mas isso já daria outro artigo).
Aí está o limite do subjetivo, segundo os materialistas: 4% da matéria
existente no pedaço do universo onde nossa luz observacional alcança. É
uma tremenda aposta esta que afirma que o problema difícil da consciência,
que o próprio conceito de subjetividade, pode ser explicado e compreendido
apenas com tais átomos invisíveis e intangíveis. Para sermos materialistas
subjetivos, temos de ter muita fé no ínfimo que conseguimos desvelar
objetivamente deste Cosmos infinito. Há que se reconhecer sua convicção.
Em breve, o materialismo religioso e a espiritualidade materialista...
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Crédito da imagem: Igor Kostin/Sygma/Corbis (maças contaminadas por
radiação em Chernobyl)
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