Os_versiculos_que_eu_nunca_vi - Paróquia Nossa Senhora da

Propaganda
Os versículos que eu nunca vi – enquanto protestante
Por Marcus Grodi, ex-pastor protestante
Tradução de João Marcos – Assoc. São Próspero
http://www.pr.gonet.biz/index-read.php?num=3798
Pastor protestante durante 15 anos, formado no Seminário Gordon-Cornwell, Marcus e
sua família entraram na Igreja Católica em 20 de dezembro de 1992. Ele é o fundador e
presidente da The Coming Home Network International, apostolado leigo dedicado a ajudar as
pessoas a conhecer a Igreja Católica. Segue abaixo o seu depoimento sobre a cegueira
espiritual em que viveu por longos anos.
UMA DAS EXPERIÊNCIAS mais comuns entre protestantes que se convertem ao
Catolicismo é a descoberta de versículos “inéditos”. Mesmo depois de anos de estudo, sermões
e ensino da Bíblia, algumas vezes do Gênesis ao Apocalipse, repentinamente um versículo
"inédito" aparece como que por mágica, mudando toda a nossa vida. Algumas vezes se trata
apenas de reconhecer um significado alternativo, mais claro de um versículo familiar, mas,
geralmente, como ocorre com os versículos abaixo, parece que um católico entrou
sorrateiramente em nossas casas e alterou a Bíblia!
A lista desses versículos surpreendentes não tem fim, dependendo da tradição religiosa
do convertido; a seguir estão alguns que viraram a minha cabeça rumo a Roma.
Provérbios 3,5-6
“Confia no SENHOR de todo o teu coração, e não te estribes no teu próprio
entendimento. Reconhece-o em todos os teus caminhos, e ele endireitará as tuas veredas."
Desde o dia da minha conversão (quando 'nasci de novo') aos 21 anos, este provérbio
tem sido o versículo da minha vida. Ele foi um guia em todos os aspectos da minha vida e
ministério, mas durante os meus 9 anos como ministro presbiteriano eu fiquei
desesperadamente frustrado com a confusão do Protestantismo. Eu amava Jesus e acreditava
que a Palavra de Deus era a única regra de fé infalível, mas o mesmo faziam milhares de
ministros e leigos não presbiterianos que eu conhecia: metodistas, batistas, luteranos,
pentecostais, independentes, etc, etc, etc... O problema é que todos chegavam a conclusões
diferentes – algumas vezes radicalmente diferentes – a partir dos mesmos versículos. Como
alguém “confia no Senhor de todo o coração”? Como ter a certeza de que não se está
“estribando (apoiando) no teu próprio entendimento”? Todos temos diferentes opiniões. Um
versículo no qual eu sempre confiei tornou-se nebuloso, impraticável e impossível de cumprir.
1 Timóteo 3,14-15
“Escrevo-te estas coisas esperando ir ver-te bem depressa; Mas, se eu tardar, para que
saibas como convém andar na Casa de Deus, que é a Igreja do Deus vivo, a Coluna e
Sustentáculo da verdade."
Foi Scott Hahn quem me mostrou este versículo. Ele me perguntou: “Então, Marcus, qual
é a coluna da verdade?” Eu respondi: “A Bíblia, claro”. E ele: “Ah é? Mas o que a Bíblia diz?”.
“Como assim?”, perguntei. Quando ele me disse para ler esse versículo, eu não esperava
encontrar alguma surpresa; eu ensinei e preguei sobre 1 Timóteo muitas vezes. Mas, quando li
esse versículo, foi como se ele tivesse aparecido do nada, fiquei de queixo caído. A Igreja!? Não
a Bíblia? Este versículo sozinho fez minha mente e toda a minha vida mudarem de direção; a
questão sobre qual Igreja era essa eu ainda não estava preparado para responder.
2 Timóteo 3,14-17
“Tu, porém, permanece naquilo que aprendeste e de que foste inteirado, sabendo de
quem o tens aprendido, e que desde a tua meninice sabes as sagradas Escrituras, que podem
fazer-te sábio para a salvação, pela fé que há em Cristo Jesus. Toda a Escritura é divinamente
inspirada, e proveitosa para ensinar, para redarguir, para corrigir, para instruir em justiça; para
que o homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente instruído para toda a boa obra."
Os versículos 16 e 17 eram aqueles para os quais eu sempre acorria para fortificar a
minha crença no Sola Scriptura (Só a Bíblia), então foram eles que eu decidi reexaminar. Logo
de início 3 coisas ficaram bem claras:
1. Quando Paulo fala em "Escrituras", ele só podia se referir ao Antigo Testamento. O
Novo Testamento só foi finalizado quase 300 anos depois!
2. “Toda” a Escritura não significa “apenas” a Escritura.
3. A ênfase do contexto (versículos 14-15) é a confiabilidade da Tradição oral que
Timóteo recebeu da sua mãe e de outros – não o Sola Scriptura!
2 Tessalonicenses 2,15
“Então, irmãos, estai firmes e retende as tradições que vos foram ensinadas, seja por
palavra, seja por epístola nossa."
Este foi outro versículo “difícil de engolir” que Scott Hahn me mostrou. As tradições que
aqueles cristãos primitivos tinham que conservar não eram apenas as cartas e os Evangelhos
que comporiam o Novo Testamento, mas a Tradição oral. Ainda mais importante, o contexto das
cartas de Paulo indica que seu meio favorito de transmitir “aquilo que recebemos” era oralmente;
suas cartas eram um complemento não planejado, que lidavam com problemas imediatos –;
inclusive sem mencionar o muito que as igrejas (comunidades da Igreja = atuais paróquias e
dioceses) aprenderam com ele através do ensino oral.
Mateus 16,13-19
“E, chegando Jesus às partes de Cesareia de Filipe, interrogou os seus discípulos,
dizendo: 'Quem dizem os homens ser o Filho do homem?' E eles disseram: 'Uns, João o Batista;
outros, Elias; e outros, Jeremias, ou um dos profetas'. Disse-lhes Ele: 'E vós, quem dizeis que
Eu sou?'. E Simão Pedro, respondendo, disse: 'Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo'. E Jesus,
respondendo, disse-lhe: 'Bem-aventurado és tu, Simão Barjonas, porque to não revelou a carne
e o sangue, mas meu Pai, que está nos Céus'. Pois também eu te digo que tu és Pedro, e sobre
esta Pedra edificarei a minha igreja, e as portas do Inferno não prevalecerão contra ela; e eu te
darei as chaves do Reino dos Céus; e tudo o que ligares na Terra será ligado nos Céus, e tudo o
que desligares na Terra será desligado nos Céus'."
Há tanto para se falar desta passagem, tantas coisas que me passaram despercebidas!
Eu sabia que os católicos usavam este trecho para justificar a autoridade petrina, mas isso não
me convencia. Ao ignorante, as palavras “Pedro” e “pedra” são diferentes, a ponto de ser fácil
concluir que Jesus se referia à fé que Simão Pedro recebeu do Pai. Já os estudantes da Bíblia
mais avançados, formados em seminários, como era o meu caso, sabiam que no idioma original,
o grego (koiné), “Pedro” é a tradução de “Petros”, que significa “pedrisco” (ou pequena pedra),
enquanto “pedra” é a tradução de “petra”, que significa “grande pedra” ou "rocha".
Mais uma vez, foi usada uma palavra diferente para Pedro e outra para a Rocha da Igreja,
e então eu passei muitos anos pregando contra a autoridade de Pedro baseando-me nisso. Até
que, ao ler o maravilhoso livro de Karl Keating, "Catholicism and Fundamentalism", eu me dei
conta das implicações de algo que eu já conhecia: antes do grego havia o aramaico, o idioma no
qual Jesus originalmente falava. Neste idioma, a palavra para Pedro e pedra é a mesma: kepha.
Quando eu vi que na verdade Jesus disse: “Você é Kepha e sobre esta Kepha edificarei a minha
Igreja”, eu sabia que estava em apuros.
Apocalipse 14,13
“E ouvi uma voz do Céu, que me dizia: 'Escreve: Bem-aventurados os mortos que desde
agora morrem no Senhor. Sim, diz o Espírito, para que descansem dos seus trabalhos, e as
suas obras os seguem'."
Durante anos, como pastor calvinista, eu recitei este versículo em funerais. Eu acreditava
e ensinava o Sola Fide (Só a Fé justifica), negando qualquer valor das obras para o processo da
nossa salvação. Mas um dia, depois do último funeral que ministrei, um familiar do falecido me
encurralou: “O que você quer dizer com ‘as suas obras o seguem?’”.
Não lembro da minha resposta, mas esta foi a primeira vez que eu atentei para o
versículo que recitava. Isto iniciou uma longa pesquisa sobre o que o Novo Testamento e os
Pais da Igreja Primitiva ensinaram sobre a misteriosa, mas necessária, conexão entre nossa fé e
nossas obras.
Romanos 10,14-15
“Como, pois, invocarão aquele em quem não creram? e como crerão naquele de quem
não ouviram? e como ouvirão, se não há quem pregue? E como pregarão, se não forem
enviados?"
Eu sempre usava esta passagem para defender a importância da pregação, e para
explicar por que desisti da engenharia pelo seminário e pelo grande privilégio de ser um
pregador do Evangelho! E nunca me preocupei com a frase que falava sobre a necessidade de
ser “enviado”, já que eu podia apontar para a minha ordenação, quando um grupo de ministros
locais, anciões, diáconos e leigos impuseram suas mãos na minha cabeça suada para enviar-me
"em Nome de Jesus". Mas então, primeiramente através do estudo dos Pais da Igreja e depois
pelo reexame do contexto em que as cartas de Paulo foram escritas, eu percebi que Paulo
enfatizava a necessidade de ser “enviado” porque na época das suas cartas ele combatia as
influências negativas, heréticas, de falsos mestres que ordenaram a si mesmos.
Eu nunca me vira como um falso mestre, mas sob qual autoridade aquelas pessoas me
ordenaram? Quem as ordenou? Nisto eu pude perceber a importância da Sucessão Apostólica
(Apóstolo = aquele que foi enviado, ordenado).
João 15,4 e 6,56
“Estai em Mim, e Eu em vós; como a vara de si mesma não pode dar fruto, se não estiver
na videira, assim também vós, se não estiverdes em Mim."
“Quem come da minha Carne e bebe do meu Sangue permanece em Mim e Eu nele."
O livro da Bíblia mais utilizado em minhas pregações foi o Evangelho de João, e o
capitulo que concentrava meus sermões era o capítulo 15, a analogia da videira e dos ramos. Eu
bombardeei "minhas igrejas" com a necessidade de permanecer em Cristo. Mas o que isso
significa? Eu tinha a minha resposta, mas quando eu vi “pela primeira vez” o único versículo
onde o próprio Jesus explica claramente o que devemos fazer para permanecermos nEle, eu
fiquei em choque. “Quem come a minha Carne e bebe o meu Sangue permanece em Mim, e Eu
nele”... Isto me levou a estudar uma tonelada de versículos de João, 6, que “eu nunca tinha
visto” e, no fim, quando aceitei as palavras de Jesus sobre a Eucaristia, eu só tinha uma
resposta: “Onde mais poderemos ir? Apenas tu tens as palavras da vida!”.
Colossenses 1,24
“Regozijo-me agora no que padeço por vós, e na minha carne cumpro o resto das
aflições de Cristo, pelo seu Corpo, que é a Igreja."
Não sei se evitei intencionalmente ou não este versículo, mas o fato é que nos primeiros
40 anos da minha vida eu nunca vi essa passagem. E para ser honesto, quando eu finalmente a
vi, eu continuava sem saber o que fazer. Nada na minha formação luterana, congregacionalista
ou presbiteriana me ajudou a entender como alguém poderia se regozijar no sofrimento, e muito
menos porque alguma coisa era necessária para completar as aflições de Cristo: não havia nada
para completar! O sofrimento, morte e ressurreição de Cristo foram suficientes e completos!
Afirmar qualquer coisa menor do que isso é atacar a suficiência da Graça de Deus! Mas, de
novo, estas são as palavras de Paulo na Bíblia, que é infalível. E nós devemos imitá-lo como ele
imitou Jesus. Eu precisei ler uma encíclica do Papa João Paulo II para compreender o belo
Mistério do sofrimento redentor.
Lucas 1,46-49
“Disse então Maria: A minha alma engrandece ao Senhor, e o meu espírito se alegra em
Deus meu Salvador; porque atentou na baixeza de sua serva; pois eis que desde agora todas as
gerações me chamarão bem-aventurada, porque me fez grandes coisas o Poderoso; E santo é
seu nome!"
Finalmente, o obstáculo mais difícil para muitos protestantes que se converteram: Nossa
Senhora. Na maior parte da minha vida, a única ocasião em que lembrava de Maria era no Natal
– e para meu horror, como uma estátua! – Mas eu nunca a chamei “Bem-Aventurada” (ou
bendita), apesar da Bíblia dizer que todas as gerações a chamarão assim. Por que eu não fazia
isso? Isto me levou a ler outros versículos pela primeira vez, incluindo João 17, onde Jesus
deixa sua mãe aos cuidados de João ao invés de qualquer suposto irmão. Então, pela Graça
divina, em imitação ao meu Senhor, Salvador e eterno irmão Jesus, eu passei a reconhecê-la
como minha Mãe amada.
_____
Fonte: Coming Home network, 'The Verses I Never Saw', disp. em: chnetwork.org/2011/06/the-verses-inever-saw-marcus-grodi/
Download