306 INDICAÇÃO CIRÚRGICA DAS PATOLOGIAS ORIFICIAIS E PREPARO PRÉ-OPERATÓRIO Profa. Dra. Josimeire Batista Mehl As doenças de interesse cirúrgico que comprometem a região perianal são representadas pela doença hemorroidária, fissura anal, abscesso e fístula anal. Embora a região anatômica mais freqüente do cisto pilonidal seja a sacrococcígea, este também será incluído neste tema. DOENÇA HEMORROIDÁRIA: A doença hemorroidária é definida como o aumento, dilatação e congestão dos vasos que constituem o plexo hemorroidário interno e, ou externo. Quando sintomática, se traduz por crises de dor e aumento do volume da região, sangramento ou prolapso. Os mamilos hemorroidários internos situam acima da linha pectinea, são recobertos por mucosa e classificados em graus de acordo com a sua projeção abaixo desta linha, durante o esforço evacuatório: 1º GRAU: não ocorre prolapso. 2º GRAU: existe o prolapso que se reduz espontaneamente depois de cessado o esforço. 3º GRAU: existe o prolapso que se reduz mediante manobras digitais. 4º GRAU: o prolapso não reduz ou não permanece reduzido, mesmo após manobras digitais. Os mamilos hemorroidários externos situam-se distalmente à linha pectinea e, via de regra, não são classificados em graus. Os mamilos mistos têm ambos os componentes. Esta classificação é importante para definição dos parâmetros de tratamento cirúrgico. Indicação Cirúrgica O tratamento cirúrgico estará indicado nas seguintes condições: a) Doença hemorroidária interna de 3º e 4º graus, isolados ou mistos. 307 b) Doença hemorroidária externa, com sintomatologia exuberante, ou seja, crises freqüentes de trombose. c) Doença hemorroidária interna de 1º e 2º graus, em condições excepcionais que não respondem ao tratamento clínico e métodos ambulatoriais como esclerose, ligadura elástica, fotocoagulação. d) Complicações: trombose hemorroidária com sinais de isquemia dos tecidos, tromboses circulares. FISSURAS ANAIS: Caracterizam-se por lesões ulcerada no anoderma, intensamente dolorosas às evacuações. Associam-se a hipertonia do esfíncter anal interno, localizam-se às 6 e 12 horas e freqüentemente se acompanham de plicoma e papila hipertrófica. Estes dados retratam a presença de uma fissura anal crônica que deverá ser tratada cirurgicamente. Por outro lado, existem inúmeros casos de fissuras anais agudas, após quadros diarréicos ou evacuações endurecidas que deverão ser tratados clinicamente. Não podemos nos esquecer que as doenças inflamatórias intestinais também poderão cursar com tais lesões orificiais (embora de localização atípica), que respondem ao tratamento clinico da patologia de base. Outras situações a serem avaliadas são as fissuras causadas por doenças sexualmente transmissíveis, como exemplo a sífilis. ABSCESSOS E FÍSTULAS ANAIS: Os abscessos perianais sempre que diagnosticados devem ser drenados. A drenagem tem que ser ampla, sem necessidade de dreno e não se deve aguardar “flutuação”. As fístulas também têm indicação de tratamento cirúrgico, porém eletivo. Não nos deteremos à classificação das fístulas porque tal tema não interessa a indicação da cirurgia, importando apenas para a tática a ser empregada pelo cirurgião. Devemos nos lembrar que eventualmente as fístulas estão associadas a doenças inflamatórias intestinais e que, nesses casos, serão a princípio tratadas clinicamente. 308 CISTO PILONIDAL: Trata-se na realidade de um pseudocisto reacional a um processo inflamatório crônico decorrente da presença de pelos no seu interior. O cisto pilonidal é tratado cirurgicamente, através da abertura, curetagem ou excisão do tecido inflamatório e a ferida deverá cicatrizar por segunda intenção. Devemos nos lembrar do cuidado de se retirar os pêlos em volta da ferida durante o processo de cicatrização da ferida, assim como previamente à cirurgia. O PREPARO PRÉ-OPERATÓRIO Via de regra, não existe a necessidade de preparo específico para as cirurgias orificiais. Obviamente temos que nos preocupar com as condições gerais do paciente e equilibrá-lo adequadamente para o procedimento. Muito embora, não haja necessidade de realização de preparo de cólon, torna-se mais confortável o ato cirúrgico quando o reto está limpo, para tal é suficiente a realização de 200ml de clister glicerinado a 10% ou “fleet enema” com intervalo mínimo de 2 horas antes da cirurgia. Profilaxia antimicrobiana está indicada nas cirurgias eletivas e será feita com única de cefoxitina. Manter durante a internação apenas nos casos que os pacientes requeiram devido as suas condições sistêmicas (diabético, imunodeprimido, obeso, valvulopata). O paciente com abscesso perianal deverá receber cefalotina ou cefoxitina previamente à drenagem, que será suspenso após a realização da mesma, exceto nos casos em que as condições gerais ou locais indiquem antibioticoterapia. Neste caso, recomenda-se completar o esquema tríplice com amicacina. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. MacRae HM, et al. Comparisson of Hemorrhoidal treatment modalities. A metaanalysis. Dis Colon Rectum 1994; 37:793 2. Argov S, et al. Open lateral sphincteroctomy is still the best treatment for chronic anal fissure. Am J Surg 2000; 179: 201 3. Knoefel WT, et al. The initial approach to anorectal abscesses: fistulotomy is safe and reduces the chance of recurrences. Dig Surg 2000; 17: 274-8 309 Resumo esquemático de conduta Doença orificial Doença hemorroidária Interna 1º e 2º grau 3º e 4º grau Tratamento clínico Abscesso/Fístula anal Externa Trombose, isquemia de tecidos Tratamento cirúrgico Tratamento cirúrgico Associado à DII Tratamento conservador Cisto pilonidal Tratamento cirúrgico Fissura anal Aguda Tratamento clínico e dietético Crônica Tratamento cirúrgico