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Astecas: uma República confundida com Teocracia
1 – Introdução:
Este é o quarto texto que escrevo para Klepsidra, a exemplo de seus
predecessores, ele também se remete a familiarizar o leitor – seja ele leigo ou
iniciado, mas principalmente os leigos – com um panorama geral de uma
civilização, desta vez, a escolhida é talvez a mais brilhante civilização da
Mesoamérica: a civilização Asteca.
Durante este trabalho, além de explicar as origens, talvez míticas,
deste povo, bem como seus precedentes, seu desenvolvimento, apogeu e
finalmente sua queda perante os invasores Espanhóis, pretendo mostrar que
a idéia sustentada por muitos de que os Astecas constituíam uma Teocracia,
tal qual a dos Incas, está no mínimo equivocada e se relaciona com a idéia
preconceituosa que nos é incutida ao longo de nossas vidas de que povos
indígenas só podem ser atrasados, sendo assim, um grande país indígena
não poderia ter outra forma de governo senão uma que justificasse o poder
do governante como sendo uma dádiva dos deuses.
Tentarei provar, em minha modesta condição de graduando de História
– e apaixonado pela história de povos antigos e medievais, tais como
Fenícios, Persas, Gregos, Chineses, Romanos, Árabes, Francos, Vikings,
Mongóis e, porque não, Incas, Astecas e Maias – que o verdadeiro sistema
de governo dos Astecas era uma espécie de República muito semelhante,
inclusive, à República Romana.
2 – Geografia, Clima e Arqueologia:
O México atual não corresponde exatamente ao que foi o Império
Asteca (mesmo em se tratando de uma República, como explicarei mais
adiante, o termo Império não é errado) em suas dimensões máximas, mas
diferentemente do que ocorreu em relação ao Tawantinsuyu (Império Inca) e
o atual Peru, o México atual é maior do que o Império Asteca jamais foi.
Para começar, os Astecas jamais dominaram a península de Yucatán,
nem tão pouco a península da Califórnia. Além disso, no próprio núcleo do
México, na época Asteca, existiam certos “clarões” no Império, ou seja, áreas
livres do Império incrustadas em seu coração, como era o caso de Tlaxcala.
A região sofria freqüentes abalos sísmicos e erupções vulcânicas,
tendo vulcões de mais de cinco mil metros de altura. Ao norte, à medida que
se aproxima do deserto do Arizona, o clima se torna quente e seco, ao sul, já
na zona tropical, surgem florestas densas e com fauna e flora ricas.
Além de tudo isso, a região ainda é cortada pelas Sierras Madres
oriental e ocidental o que faz com que a altitude média do país esteja entre
3000 e 4000 metros acima do nível do mar. Tamanhas altitudes provocam
períodos de frio intenso e estiagem no inverno e final do outono, sendo assim,
nada mais natural que as principais cidades pré-colombianas tenham se
desenvolvido nas margens de lagos ou arroios.
No que se refere a minérios, o México é muito rico em prata, sendo
atualmente um dos maiores produtores mundiais do minério, e chumbo, além
de ter (especialmente na época referida) boas reservas de ouro, estanho,
cobre e pedras preciosas.
Nas florestas Mexicanas, as espécies que mais chamaram a atenção
dos conquistadores Espanhóis foram os papagaios e os jaguares, porém
também existiam na região outros animais como águias, coiotes, beija-flores,
uma espécie de cachorro sem pelos, entre outros animais exóticos.
Alguns achados arqueológicos têm ajudado muito os pesquisadores a
aprenderem mais sobre a história da Mesoamérica, é o caso dos crânios de
cristal, de estelas encontradas com inscrições hieroglíficas, calendários e
tudo o que resistiu a ação do tempo, dos saques Espanhóis e às fogueiras
dos missionários Europeus. Acredita-se que na própria Cidade do México,
que foi edificada sobre as ruínas de Tenochtitlán, existam diversos “tesouros”
soterrados. Uma simples escavação para a realização de uma obra no centro
velho da cidade provou que os achados podem ser abundantes, foram
encontradas várias peças totalmente desconhecidas, como o calendário
religioso Asteca.
3 – A Mesoamérica antes dos Astecas:
Os Astecas, também ditos Mexicas, só chegaram a região conhecida
como Mesoamérica no ano de 1325 d.C., porém, antes disso a região já era
habitada há muito tempo por povos muito avançados, aos quais os Astecas
deveram muito de sua cultura e que talvez, como veremos, tenham sido seus
“progenitores”.
3.1 – O que é a Mesoamérica:
Achei melhor escrever este item para esclarecer um termo que pode
causar dúvidas. A expressão Mesoamérica é empregada com freqüência não
com conotação geográfica, mas sim histórica e antropológica, sendo que
designa uma região das atuais América Central e do Norte, onde se
desenvolveram culturas indígenas avançadíssimas, só igualadas pelas
culturas indígenas Andinas, na América do Sul.
A Mesoamérica engloba o México, a Guatemala, Honduras e El
Salvador, além de talvez algumas partes de outros países da América
Central.
3.2 – O advento Olmeca:
É comum se falar em presença humana na América desde 35000 a.C.,
no entanto, na Mesoamérica, os primeiros testemunhos de ocupação datam
de cerca de 20000 a.C.. Já os fósseis humanos mais antigos encontrados,
não são de antes do que 9000 a.C..
É provável que por essa época o homem Mesoamericano estivesse
começando a se sedentarizar, processo que só se efetivaria por volta de 5000 a.C.,
com a descoberta da agricultura (plantio do milho, feijão, abóbora e pimenta
malagueta). Porém, para um povo se desenvolver e se tornar uma civilização é
preciso um pouco mais do que apenas a agricultura. É preciso pelo menos a
existência de uma cerâmica, o que só foi aparecer por volta de 2300 a.C.
Mais ou menos em 1300 a.C., numa região conhecida como Olman (Terra da
Borracha), próxima ao golfo do México, ao sul de Veracruz, uma civilização que se
tornaria um marco na História pré-colombiana: os Olmecas.
Este povo se disseminou por várias “cidades” (o termo não é muito correto,
uma vez que elas eram apenas centros cerimoniais construídos para serem
residências de sacerdotes e nobres, além de acolherem os cultos ao deus-jaguar)
construindo grandes edifícios em pedras, tais como templos e túmulos, além de
trabalhar o barro com maestria. Os Olmecas se tornaram gênios da escultura,
criando máscaras, sarcófagos, estelas, as famosas cabeças de basalto da
Mesoamérica, além de estatuetas de jade, argila, quartzo, obsidiana, serpentina e
cristal de rocha.
Os Olmecas desenvolveram intensa atividade religiosa e mercantil, sendo
assim, suas caravanas de comércio serviram para disseminar por várias regiões
não só seus produtos e conhecimentos, tais como o cultivo do algodão para a
confecção de roupas, mas também sua religião, que lançou bases para o culto
futuro do deus da água.
Por volta de 600 a.C., a influência Olmeca já era sentida nas proximidades do
que viria a ser Tenochtitlán. Porém, à medida que outros povos se desenvolviam, os
Olmecas começaram a entrar em decadência e no século II ou III já não mais eram
conhecidos, talvez tenham sido destruídos em batalha, talvez tenham migrado para
outras regiões, o fato é que desapareceram do contexto da Mesoamérica, mas
deixaram seu legado para as civilizações clássicas da região.
3.3 – Maias, o expoente da cultura:
Não sou muito favorável a este tipo de comparação, mas apenas para um
efeito de explicação, pode-se comparar as três maiores civilizações
pré-colombianas a três grandes povos da Antigüidade do Velho Mundo; sendo
assim, os Incas por sua forma de governo e por sua religião, se assemelhariam aos
Egípcios, já os Astecas, por sua expansão militar realizada sob a forma da
imposição de tributos e formação de colônias, se assemelhariam aos Romanos (tal
comparação se aplica ainda mais corretamente se observarmos o sistema de
governo Asteca, semelhante ao da Roma Republicana), por fim, os Maias, por seus
impressionantes legados culturais (que influenciaram todos os povos
Mesoamericanos e cujas especulações de alguns dizem que podem ter chegado
até os Andes) e por sua organização populacional (ao que parece os Maias podem
nunca ter formado um único país, suas cidades parecem terem sido autônomas
umas das outras e talvez apenas divididas em blocos de influência de uma ou outra
cidade), certamente uma comparação com a Grécia Clássica não é de todo
incorreta.
Os Maias foram um povo tão impressionante que não me aterei a relata-los
muito bem neste item, isso porque numa futura edição de Klepsidra, nesta mesma
sessão, haverá um texto exclusivamente sobre eles.
3.4 – Teotihuacán, a metrópole dos deuses:
Por volta do início do século V, começou a ser construída a mais
impressionante cidade Mesoamericana anterior a Tenochtitlán: a cidade de
Teotihuacán.
Localizada nas margens do atual rio San Juan, esta cidade parece ter se
expandido muito e formado um verdadeiro Império, sob o qual estavam submetidas
vastas áreas, desde o planalto Mexicano, até a zona conhecida como Monte Albán.
O que impressiona em Teotihuacán, no entanto, são três fatores principais:
as duas grandes pirâmides (a do Sol e a da Lua, sendo a primeira, uma das
maiores, senão a maior, da Mesoamérica), a difusão da fé (culto a Tlaloc, o deus da
chuva e da água) e da cultura da cidade por praticamente toda a Mesoamérica e,
por fim, o fato de mesmo após seu declínio, por volta do final do século VII,
Teotihuacán continuou a ser um importante centro de peregrinações, sendo que até
mesmo os governantes Astecas realizavam peregrinações anuais a tal cidade.
Teotihuacán foi, de fato, uma das civilizações clássicas do México
pré-colombiano, porém, não sabemos tanto sobre ela devido ao fato de ter se
esgotado (pelo menos como Império) cerca de oitocentos anos antes da chegada
dos Espanhóis. Contudo, é muito possível que a desintegração do Império tenha
ocorrido devido a uma revolta acontecida na própria cidade (que chegou, no seu
apogeu a ter cerca de 150 mil habitantes), pois existem fortes indícios de um grande
incêndio, no entanto, as chamas atingiram apenas os palácios e edificações
governamentais, o que leva a crer que os habitantes, revoltados, tenham ateado
fogo aos prédios daqueles que os oprimiam.
3.5 – Toltecas, o poder militar da Mesoamérica:
Por volta do início do século IX, todas as civilizações clássicas haviam
declinado ou estavam em declínio, sendo seus Impérios dilacerados em cidades
autônomas e pequenas regiões sob a influência de algumas dessas cidades. A
desintegração de poderes tão impressionantes acabou repercutindo notícias por
vastíssimas regiões (é provável que até mesmo tribos dos EUA tenham ficado
sabendo de tais desintegrações), o que atraiu a cobiça de povos não Mexicanos.
Sendo assim, entravam em cena, pela primeira vez na história da Mesoamérica, os
povos ditos Chichimeca, ou bárbaros, muitos dos quais de língua Nahuatl, uma
língua muito diferente do Maia, por exemplo.
Os primeiros Chichimeca a chegarem no México foram os Toltecas, que
fundaram sua cidade em 856. A esta cidade, deram o nome de Tula. Contudo, os
Toltecas não conseguiram impor seu domínio sobre o vale do México desde o
princípio, uma vez que acabaram submetidos pela elite sacerdotal decadente de
Teotihuacán. De certo a cultura Tolteca, extremamente militarizada e com uma
religião astral, diferia em muito da cultura de Teotihuacán, já que esta estava
centrada nos ritos e cultos de Tlaloc e Quetzalcoatl, o deus do vento, a serpente de
plumas.
Na mitologia Tolteca, o período em que estiveram sob o domínio de
Teotihuacán ficou conhecido como o longo reinado de Quetzalcoatl, que, devido à
cultura oral dos Toltecas, acabou por se converter de divindade em realidade.
Quetzalcoatl era tido pelos Toltecas como um homem-deus muito justo, mas que os
proibia de realizarem seus sacrifícios.
As levas migratórias Toltecas continuaram mesmo após a fundação de Tula,
e muitos desses recém chegados convergiram para a cidade, o que a fez crescer
muito e se tornar poderosa. Tão poderosa que, segundo as lendas Toltecas, em
999, Tezcatlipoca, o deus-feiticeiro dos Toltecas (representado pela constelação da
Ursa Maior) teria se materializado e guerreado contra Quetzalcoatl. Devido a seus
feitiços poderosos e ao apoio de seu povo, Tezcatlipoca venceu Quetzalcoatl, o que
na realidade simboliza a vitória de Tula sobre a aristocracia sacerdotal de
Teotihuacán (que já não era a mesa do período clássico, não pensem que foi esta
derrota que fez a cidade entrar em declínio, pois nesta época ela já não possuía um
Império há mais de cem anos).
As lendas Toltecas dizem que ao ser derrotado, Quetzalcoatl teria
abandonado a região, com destino a Tlillan Tlapallan (o país vermelho e preto), que
se localizaria além do oceano oriental (o oceano Atlântico). Entretanto, o soberano
divino havia prometido regressar para retomar o trono que lhe fora usurpado, lenda
que se transformou na crença do retorno da divindade, reparem que tal crença
jamais desapareceu e posteriormente foi incorporada pelos Astecas, sendo assim,
acabou se tornando de suma importância quando da chegada dos Espanhóis, mas
falaremos sobre isso bem posteriormente.
Com a vitória de Tula sobre Teotihuacán, iniciou-se um novo período no
México, o período conhecido como período Tolteca. Graças à hegemonia de
Tezcatlipoca, promovido a principal divindade, os sacrifícios passaram a ser
realizados diariamente, mas Quetzalcoatl continuou a ser cultuado (em menor grau
do que antes, e agora sob a representação do planeta Vênus).
A partir de Tula, os Toltecas se expandiram e iniciaram a formação de um
Império. As características deste, no entanto eram bem diferentes das do anterior
Império de Teotihuacán, uma vez que aquele havia sido dominado por uma
oligarquia sacerdotal, enquanto neste, talvez devido às tradições militares, começa
a existir a figura do Rei.
De um ponto de vista cultural, os Toltecas também revolucionaram as
regiões que submeteram, é interessante notar que antes deles, os templos era
lugares de culto reservados aos sacerdotes, porém, depois transformaram-se em
grandes construções, nas quais o povo se reunia para assistir aos “shows” de
sacrifícios e para prestar homenagem aos deuses celestes. Apesar de terem
dominado uma região muito maior do que aquela que posteriormente seria
dominada pelos Astecas (eles se estendiam de costa a costa no vale do México e
de norte a sul, desde a zona dos Otomi até a península de Yucatán), os Toltecas
não resistiram às freqüentes invasões de povos Chichimecas e, em 1168, Tula foi
cercada, sitiada e destruída, pondo um fim à unidade Imperial daquele povo.
Apesar da queda de Tula, o povo Tolteca continuou existindo e mesmo
governando, pois as cidades Maias da península de Yucatán, outrora dominadas
pelo Império, se tornaram novamente autônomas, mas com governantes e elite
Toltecas, sendo assim, no Yucatán promoveu-se uma síntese Tolteco-Maia (cujo
principal expoente foi a cidade de Chichén-Itzá), a qual durou até a conquista
Espanhola.
4 – Arquitetura, Sociedade e Cultura:
Dentre as mais importantes noções que se precisa ter sobre uma civilização,
com certeza estão o conhecimento de sua arquitetura, sua organização social e seu
legado cultural, sendo assim, dividirei este item em três partes, cada uma das quais
dará conta de explicar o menos mal possível como se estruturavam cada uma
dessas partes da civilização Asteca.
4.1 – A Arquitetura:
Voltemos a falar dos Astecas, cuja história será contada mais adiante, sua
arquitetura era, talvez, sua arte mais brilhante, com pirâmides encimadas por
templos como sendo a principal característica. Ou seja, as pirâmides propriamente
ditas não representavam em si nada, constituíam apenas uma forma de elevar-se
os templos mais importantes até uma área alta, onde ficassem mais perto do céu.
De todas as pirâmides, a mais gloriosa era, com certeza, a de Tenochtitlán, que
estava encimada pelos templos de Tlaloc (o deus de Teotihuacán, que foi
assimilado pelos Astecas) e de Uitzilopochtli (a principal divindade Asteca, também
chamado de Colibri Azul, ou seja, beija-flor azul).
A maior parte do que sabemos sobre a arquitetura Asteca remete-se a
relatos dos conquistadores Espanhóis, já que Tenochtitlán foi inteiramente
destruída em 1521. No entanto, sabe-se que a técnica de construção Asteca era
diferente da de Teotihuacán, uma vez que naquela cidade, os templos era
construídos de uma só vez, enquanto que em Tenochtitlán, os Astecas iam
ampliando os templos à medida que sua tecnologia permitia, sendo assim a grande
pirâmide de Tenochtitlán havia antes sido um pequeno templo que após sucessivas
ampliações (cinco no total), cada ampliação ocorria de acordo com uma crença
religiosa de que o mundo acabaria a cada 52 anos.
Os palácios Astecas, segundo os relatos de Cortez a Carlos V, eram
semelhantes aos palácios de outras culturas Mesoamericanas, ou seja, eram
grandes estruturas de pedra, divididas em vários cômodos muito grandes dentre os
quais se contavam além de quartos e salas, zoológicos (com animais raros) e
inúmeros jardins, com fontes e até lagos.
4.2 – A Cultura:
A cultura de uma civilização compreende, de fato, a maior parte de sua alma,
se é que se pode dizer que uma civilização tem uma alma. Mas na verdade, tudo o
que é desenvolvido pela civilização pode ser considerado parte de sua cultua, no
entanto, aqui restringirei a palavra cultura necessariamente às artes Astecas, pois
creio que todo o resto (religião, forma de governo, educação...) será abordado em
partes posteriores, ao longo do texto.
4.2.1 – As artes Astecas:
É interessante que se note, com será explicado mais adiante, que a palavra
Asteca designa apenas os habitantes de Tenochtitlán, e não os de todo o Império,
uma vez que, como veremos, cada região mantinha suas peculiaridades mesmo
depois de submetido ao domínio Asteca. Em alguns poucos casos, pode-se
estender a designação aos habitantes das colônias fundadas pela Tríplice Aliança e
aos habitantes das cidades que, juntamente com Tenochtitlán, formavam-na, ou
seja, Texcoco e Tlacopán.
Os Astecas desenvolveram muitas formas de manifestações artísticas, eram
escultores, ourives, poetas, atores, dançarinos, pintores, mestres em cinzelagem,
além de músicos.
Dentro de tamanha diversidade, havia, por certo, as artes mais importantes e
mais praticadas, bem como as de menor importância. Comecemos, pois, com a
escultura, uma arte que sempre esteve intrinsecamente ligada ao artesanato em si.
No México (como também era denominada a cidade de Tenochtitlán), havia toda a
sorte de esculturas, desde de divindades domésticas (antepassados míticos dos
diferentes clãs) até esculturas em paredes, tais como jaguares, águias e outros
animais. Os maiores escultores da cidade eram pertencentes a uma classe social
específica, na realidade, como veremos depois, esta classe era uma verdadeira
casta, devido à estagnação social em que se encontrava, a casta dos Toltecas, ou
seja, os artesãos Astecas eram de origem Tolteca e haviam chegado a Tenochtitlán
posteriormente à expansão Imperial, sendo assim, não constituíam uma parte
normal da população.
Quanto à ourivesaria, nas próprias palavras de Cortez “tão natural o ouro e a
prata que não ourives no mundo que melhor fizesse”. O conquistador estava certo,
na realidade, os Astecas foram surpreendidos pelos Espanhóis em pleno apogeu da
Idade do Bronze, dominavam com perfeição as técnicas de fundição e forja de
diversos metais, no entanto, o ferro ainda não era conhecido. Os Mexicas (outro
nome para os Astecas) também consideravam valiosas as plumas de aves, sendo
estas incluídas na ourivesaria. As plumas tinham um valor tão grande dentro da
cultura Asteca que serviam mesmo como divisor social, sendo atribuída a cada
classe um tipo de pluma e sendo empregadas pesadas punições aos que
utilizassem plumas relativas a uma classe hierarquicamente superior à sua.
A literatura Asteca era marcada por poemas nos quais a mistura de situações
eram marcantes, pois neles não havia apenas um clima de alegria, ou de emoção,
ou de amor, ou de tristeza, mas na verdade, todos os climas misturados, com
situações cômicas se alternando com tragédias e posteriores romances. A vida de
governantes famosos era um dos objetos mais apreciados dos poetas para
escreverem suas poesias, dentre estes soberanos, o preferido era Nezaualcoyotl,
soberano de Texcoco, que reinou entre 1428 e 1472. Ele é considerado o maior
poeta e pensador da civilização Asteca, além de ter se destacado como general, ao
ajudar Itzcoatl, governante Asteca, a vencer a cidade inimiga de Azcapotzalco e,
assim, formar a Tríplice Aliança.
A poesia estava intimamente ligada com o teatro, uma vez que muitos dos
poemas eram escritos para serem representados por atores a membros das classes
privilegiadas.
Não se pode deixar de ressaltar que a própria escrita Asteca constitui um
espécie de arte, uma vez que era hieroglífica (semelhante à egípcia, onde não havia
letra, mas sim símbolos que indicavam determinadas coisas, o que dificultava a
formação das palavras). Na realidade, a escrita Asteca estava em evolução quando
os Espanhóis chegaram, pois começava a se tornar uma escrita sonora, mas ainda
baseada nos hieróglifos, ou seja, algumas palavras que não tinha símbolos próprios
eram formadas pela mistura de dois ou mais símbolos cuja pronúncia unificada se
assemelhasse à pronúncia da referida palavra, por exemplo, para dizerem o nome
da cidade de Quauhtitlán, para a qual não havia um símbolo específico eles
misturavam dois glifos em um, ou seja, desenhavam uma árvore (cuja pronúncia é
quauitl) com dentes (cuja pronúncia é tlanti), sendo assim, com a junção dos sons
se chegava a algo parecido com Quauhtitlán.
As danças, bem como as interpretações, eram usadas para divertir os mais
importantes, segundo Cortez, Motecuhzoma II (que ficou conhecido como
Montezuma), tinha vários homens deformados, e outros tantos anões que
dançavam e faziam coreografias bizarras para ele todos os dias durante suas
refeições. Os dançarinos profissionais tinham o intuito de divertir os poderosos, mas
o povo, em suas festas, também dançava e sempre ao som de músicas, que eram
escritas por poetas, ou apenas executadas com instrumentos próprios, como
diversos tipos de tambores (alguns feitos de madeira e couro, outros de casco de
tartaruga), gongos, chocalhos, guisos, reco-reco (bastões de osso que ram
raspados com um arco de madeira), flautas, flautas de pan, trombetas e conchas
que seriam como uma espécie de castanholas.
No que se refere à cultura Asteca, a principal cidade era Texcoco, onde em
tudo havia mais perfeição, desde a língua falada (o Nahuatl era mais bem
pronunciado, assim como a diferença entre o Inglês da Inglaterra e o dos EUA) até a
poesia e a música em si, isso se deve em muito ao próprio Nezaualcoyotl, que
acabou por transformar Texcoco no centro cultural e jurídico mais importante do
Império.
4.2.2 – Os esportes:
Os Astecas, assim como os Romanos, também tinham uma espécie de Circo
em Tenochtitlán, nesta arena era praticado o mais popular esporte Mexicano,
inventado pelos Maias, ele foi praticado por diversos povos, inclusive pelos Astecas,
que construíram sua arena em plena praça cerimonial de sua capital.
Mas afinal, que esporte era esse? Era um esporte cujo nome era tlachtli, mas
que é conhecido hoje como: A Bola Maia.
Consistia de um jogo onde dois times se confrontavam num campo em forma
de “T”. A forma do campo imitava aquilo que os Astecas acreditavam ser a forma do
céu. No campo, os adversários disputavam a posse de uma bola de borracha
maciça (tão dura que chegava a quebrar ossos de alguns jogadores e a matar se
batesse na cabeça), que não podia ser segurada, apenas tocada de um para o
outro, com a ajuda dos joelhos, cotovelos e quadris. Os jogadores utilizavam
protetores de couro e madeira nessas regiões.
O objetivo do jogo era passar a bola por uma argola de pedra na parede
protegida pelo time adversário, quando uma “cesta” era feita, o jogo acabava e o
autor do ponto tinha direito de ficar com todas as jóias dos espectadores, estes por
sua vez, sempre fugiam ou iam assistir a partida com poucos pertences, para não
ficarem sem suas coisas. Com efeito, o tlachtli era uma maneira de se enriquecer
em Tenochtitlán. O tlachtli inspirou a criação, no século XX, do vôlei e do basquete,
por não ser permitido prender a bola, apenas toca-la e pelo objetivo ser fazer uma
cesta.
Além do tlachtli, que era o esporte preferido dos Astecas, mas praticado
principalmente pela nobreza (membros do Grande Conselho), havia outros tipos de
esporte, como o patolli, que era um jogo de tabuleiro (semelhante a loto), muito
praticado pelas camadas populares, no qual o objetivo era colocar três peças em
seqüência. Havia competições como subir no “pau-de-sebo”, e outra que hoje
fazem parte de gincanas populares, porém, em todas essas disputas, havia largas
apostas, sendo que existia em Tenochtitlán uma verdadeira bolsa de apostas, que
enriqueceu muitos, mas condenou muitos outros à escravidão por dívidas.
Apesar de não ser considerado propriamente um esporte, havia um tipo de
sacrifício que atraia platéias que, além de cultuarem o deus para o qual o sacrifício
estava sendo feito, também torcia (para isto era proibido fazer apostas). Consistia
numa espécie de luta de gladiadores, onde o indivíduo que iria ser sacrificado tinha
o pé amarrado a uma pesada argola de pedra e, armado com armas de brinquedo,
era obrigado a enfrentar quatro guerreiros (dois guerreiros-águia e dois
guerreiros-jaguar) fortemente armados. Quando morresse, era considerado
sacrificado para os deuses.
A perda de dinheiro e bens em apostas nos esportes condenou muitos
Astecas à embriaguez e ao vício no tabaco, grandes causas de morte em
Tenochtitlán.
4.3 – A sociedade Asteca:
A sociedade Asteca estava dividida de uma maneira curiosa e um pouco
diferente da das sociedades européias que lhe foram contemporâneas. Se
desenhássemos uma pirâmide dela, teríamos sete divisões: no topo estariam os
governantes, compostos pelo Tlatocan, pelos três maiores sacerdotes e pelos dois
governantes; depois viriam os grandes dignatários e os altos sacerdotes; abaixo
estariam as elites dos Calpulli (bairros, formados por membros do mesmo clã);
abaixo destes estariam, num mesmo patamar, as duas castas (imóveis) da
sociedade Asteca: os Pochtecas (comerciantes) e os Toltecas (artesãos); abaixo
destes estavam os moradores livres e proprietários de terras dos Calpulli, ou seja, o
povo; abaixo do povo, havia um número cada vez maior de servos, ou seja,
cidadãos que haviam perdido suas terras por dívidas, tendo se convertido em
servos de outros, mas ainda assim livres, os servos trabalhavam por dinheiro, se
assemelhando a trabalhadores assalariados; abaixo dos servos estava o estamento
(por ter pouca mobilidade social) dos escravos, estes, apesar de serem utilizados
como força de trabalho, não tinham nesta a sua principal função, pois eram
destinados ao sacrifício, havia duas maneiras de alguém se converter em escravo:
a primeira era também a mais comum, ou seja, os vencidos nas guerras, mas a
segunda, apesar de pouco usual, também existia, e eram as dívidas, ou seja,
quando alguém que já havia perdido suas terras e se convertido num servo se
endividava, tinha que vender a própria liberdade para pagar a dívida, se
convertendo num escravo.
Quando cito classes, castas e estamentos, pressuponho que o leitor esteja
compreendendo o que digo, mas para aquele que não estiverem familiarizados com
os termos, aqui vão suas definições: uma sociedade de classes é como a sociedade
brasileira, ou seja, onde todos os cidadãos, independentemente de condição social,
classe, ou qualquer outra coisa, são iguais perante a lei, sendo assim, é totalmente
possível a ascensão (ou o declínio) social, dependendo unicamente das
oportunidades e do esforço do indivíduo par que isso aconteça; já numa sociedade
de estamentos, os homens não são iguais perante a lei, apenas perante os deuses,
sendo, portanto passiveis de salvação, no entanto sua condição (geralmente
determinada pelo nascimento, o que não é o caso no único estamento Asteca) só
pode ser mudada (ou seja, ocorrer elevação ou declínio social) devido a um fato
muito inusitado, como o casamento com alguém de outra casta, ou um ato de
extrema bravura, um exemplo de sociedade de estamentos (ou estamental) era a
sociedade da Europa Medieval; numa sociedade de castas, as pessoas são
diferentes em tudo, tanto perante a lei, quanto perante os deuses, sendo assim, não
há nenhuma mobilidade social, o nascimento determina a posição do indivíduo na
sociedade e não há nada que possa mudar isso, nem para melhor, nem para pior,
um exemplo de sociedade de castas é a Inda.
Agora que compreendemos os conceitos utilizados, podemos continuar com
a análise da sociedade Asteca. Tratava-se de uma sociedade de classes, pois
exceto pelas duas castas e pelo único estamento, a mobilidade social só dependia
do esforço de cada um. Mas espere, você deve estar se perguntando, todos nós
sabemos que para ascender socialmente, a única maneira é estudando,
freqüentando a escola e assim, tendo a possibilidade de crescer na vida, certo?
Certo. Então, como os Astecas faziam para ascenderem socialmente?
Da mesma maneira que nós. Deixe-me explicar. Em cada Calpulli, e existiam
quatro, havia uma escola denominada Telpochcalli, para ela, as crianças (tanto
homens quanto mulheres) iam ao completarem oito anos. Lá, tanto meninos quanto
meninas aprendiam o básico da escrita Asteca e as tradições de seus clãs, porém, a
outra metade do ensino era dividida, pois as meninas aprendiam a tecer, a costurar,
a cozinhar e a cuidar de crianças, enquanto os meninos aprendiam a guerrear.
Aos 21 anos, tanto meninos quanto meninas abandonavam a escola e
estavam formados, os meninos tornavam-se guerreiros (sendo assim, todos os
homens livres de Tenochtitlán eram guerreiros), e as meninas iam se casar.
Geralmente o homem se casava mais tarde, por volta dos 25 anos. A poligamia
masculina era permitida, mas não muito difundida, ao que parece apenas alguns
poucos homens muito ricos tinham mais que uma esposa.
Mas analisemos as possibilidades de ascensão: todos os homens tinham
direito, ao nascerem, a um lote de terra, que lhes era entregue pelo chefe do clã,
quando estes casavam. Neste lote, o homem ia trabalhar junto com sua mulher e
seus filhos até que estes se casassem. Nos tempos em que o marido ia para
guerras, a mulher ficava tomando conta da terra e da casa. À medida que ascendia
na carreira militar (que era levada paralelamente à sua vida de lavrador) o homem
podia receber mais terras, e sendo assim, ascender socialmente, chegando mesmo
a ter escravos trabalhando para ele adquirindo destaque na vida pública da cidade,
o que poderia conferir a qualquer homem (por seus méritos militares) um assento no
Grande Conselho, uma espécie de Senado Asteca. Quando um homem vendia
parte de sua produção, ele adquiria dinheiro (que era representado por sementes de
cacau) com dinheiro ele podia comprar coisas no mercado, coisas que iam desde
sementes até escravos, passando por obras de arte e bens de consumo. Outra
maneira de adquirir dinheiro era vendendo prisioneiros para os Toltecas e
Pochtecas, pois uma vez que estes não participavam do exército, precisavam
comprar prisioneiros para sacrificar aos seus deuses. Com o dinheiro, era possível
comprar coisas melhores, mais coisas, ou então financiar alguém cuja plantação
tenha sido perdida; este alguém tornava-se um devedor e, caso não pagasse a
dívida, perdia sua terra e se tornava um servo de seu credor.
4.3.1 – Os níveis sociais:
Nesta parte do texto, atribuirei números às diferentes camadas da sociedade
(ver organograma) e explicarei o papel de cada um deles na sociedade Asteca.
1) Tlatoani: O Tlatoani era o chefe supremo tanto militar, quanto religioso.
Este cargo foi desempenhado por onze indivíduos desde a construção de
Tenochtitlán, no início, ele tinha características semi-reais, mas aos poucos passou,
cada vez mais, a ser uma espécie de Cônsul. Quando os Espanhóis chegaram ao
México, quem ocupava esta função era justamente Motecuhzoma II, e Cortez, mais
do que depressa o confundiu com um Imperador. Na verdade, os relatos dos chefes
das cidades dominadas pelos Astecas, de que eram vassalos de Motecuhzoma II
não eram mentirosos, pois era o Tlatoani quem governava as províncias
conquistadas, no entanto, seu poder não era grande dentro de Tenochtitlán. É certo
que a pompa com a qual era tratado era digna de um Imperador, mas isso fazia
parte da tradição, pois enquanto o outro Cônsul trabalhava, este ficava sendo
cultuado. Parte da pompa com a qual eram tratados os Tlatoani, contribuiu ainda
mais para a imagem de divindade que Cortez criou sobre o cargo, pois as roupas
que usava eram destruídas (ou seja, cada roupa, apesar de suntuosa, só era usada
uma única vez), ele era carregado em liteiras e não podia ser encarado por pessoas
do povo, os únicos que podiam olha-lo nos olhos eram o Ciuacoatl, os membros do
Tlatocan e os membros do Grande Conselho.
2) Ciuacoatl: A tradução desta palavra quer dizer Serpente Fêmea,
entretanto, o cargo só era ocupado por homens. Era o outro Cônsul que
governava junto com o Tlatoani. Seus poderes eram diferentes, mas tão
importantes quanto os do primeiro. Na verdade, o Ciuacoatl era quem
governava Tenochtitlán, além de ser o equivalente à suprema corte de
apelações, pois quando as demais instâncias eram refutadas, era este
Magistrado quem decidia a sentença.
O cargo de Ciuacoatl foi criado por Motecuhzoma I, com o objetivo de
se desvencilhar de algumas funções, visto que em sua época, o Império
havia começado a se expandir e conseqüentemente o Tlatoani havia ficado
sobrecarregado.
Quando o Tlatoani morria, o Ciuacoatl presidia reunia e presidia o
Grande Conselho, para escolher entre os membro do Tlatocan um novo
Tlatoani. Por sua vez, quando o Ciuacoatl morria, o Tlatoani escolhia um
novo, sendo, no entanto, esta escolha sujeita a aprovação do Tlatocan e do
Grande Conselho.
Assim como o cargo de Tlatoani, o Ciuacoatl era vitalício, mas estava
sujeito , assim como o primeiro, a sofrer um “IMPEACHMENT” no caso de má
conduta governamental.
A existência desse dois Magistrados reforça a teoria de que os Astecas
não constituíam uma Teocracia, mas sim uma República, pois como
veremos, qualquer um poderia ascender aos cargo de Tlatoani e Ciuacoatl,
graças as suas proezas militares. Na verdade, o que leva alguns
historiadores a também considerarem o Império Asteca como uma Teocracia
era o fato de que tanto no que se refere ao Ciuacoatl, quanto no que se refere
ao Tlatoani, os cargos foram, desde o princípio ocupados por membros de
uma mesma família, sendo muitas vezes o Ciuacoatl, irmão do Tlatoani. No
entanto, isso era apenas uma questão de influência desta família (tanto por
sua antiguidade, quanto por seu poder) no caso do Tlatoani, e de nepotismo,
no caso do Ciuacoatl.
Podemos caracterizar a sociedade Mexicana como sendo uma
Oligarquia Plutocrática, com a funcionalidade real de uma Oligarquia
Aristocrática, ou seja, por direito qualquer um que tivesse status suficiente
(status adquirido nas batalhas ou religiosamente, como veremos) poderia
governar, mas na prática, apenas uma aristocracia (a mesma família sempre)
dominou o poder.
3) Tlatocan: Era uma espécie de junta governativa formada por
apenas quatro membros, geralmente todos parentes do Tlatoani e do
Ciuacoatl, o que mostra mais uma vez o domínio daquela família, mas não
sua condição de intocável no poder, uma vez que houve membros do
Tlatocan que não eram parentes dos governantes e chegaram a essa
posição através da influência pessoal.
Esse posto pode ter sido o indicador de uma espécie de fase de
transição entre o Grande Conselho e o poder, pois os membros do Tlatocan
eram eleitos pelo Grande Conselho e depois, com a morte ou do Ciuacoatl,
ou do Tlatoani, um dos quatro era escolhido para ocupar o posto e os outros
três voltavam a ser apenas membros do Grande Conselho, uma vez que
eram eleitos outros quatro membros para o Tlatocan. Quando um dos
membros morria, o Grande Conselho se juntava e elegia outro.
A função principal desses quatro homens era chefiar os exércitos, eram
os quatro generalíssimos Astecas, cabendo a um deles a chefia dos
Guerreiros, a outro a confecção e correta distribuição de armas e
mantimentos aos exércitos, ao outro a manutenção de guarnições nas
colônias e ao último, a segurança de Tenochtitlán.
4) Grande Conselho: Era o órgão fundamental da estrutura de poder
Asteca, na realidade, a existência desse cargo indica que todo poder
emanava do povo, não diretamente, como numa Democracia, mas de uma
forma indireta. O Grande Conselho era composto por diversos indivíduos,
todos de muita importância na cidade, eram eles: os quatro Calpulli (chefes
de Calpulli), todos os Guerreiros-Águia e Guerreiros-Jaguar, os Grandes
Sacerdotes (é provável que mulheres tenham ocupado funções de Grandes
Sacerdotisas, sendo assim, haveria mulheres no Grande Conselho), o
Mexicatl Teohuatzin e as duas Serpentes de Plumas.
O número de membros do Grande Conselho não pode ser precisado,
pois não havia uma quantidade fixa de Guerreiros-Águia, nem de
Guerreiros-Jaguar, nem de Grandes Sacerdotes. As três categorias
constituíam o ápice daquilo que se pode alcançar por esforço próprio, ou
seja, sem ser votado por ninguém, mas apenas por si. Os Guerreiros-Águia e
Guerreiros-Jaguar constituíam o topo da carreira militar (algo como uma
tropa de elite) e os Grandes Sacerdotes constituíam a elite intelectual,
formada no Calmecac, que explicarei posteriormente o que era.
O Grande Conselho podia passar meses sem se reunir, mas todas as
vezes que algum de seus membros, ou algum dos Magistrados superiores
achasse por bem, uma reunião era convocada. As decisões do Grande
Conselho eram a instância máxima de deliberação nos assuntos
econômicos, políticos e militares, só não respondiam por poder judiciário.
Era, por exemplo, o Grande Conselho que definia quando, quando e onde
aconteceriam campanhas militares, ou mesmo quanto cada região deveria
pagar em tributo.
5) Dignatários: Eram os homens importantes por nascimento, não por
esforço, constituíam-se geralmente de filhos de Calpulli que não haviam
conseguido se formar no Calmecac, ou que haviam se formado, mas ainda
eram Sacerdotes de Bairro. Os dignatários eram acessores do Grande
Conselho e dos grandes Magistrados, eles eram os responsáveis pela
manutenção das listas de tributos em dia, pelo recenseamento da população,
pela confecção dos mapas do Império e de regiões que não pertenciam a ele,
dentre outras tarefas que exigiam certo grau de instrução ou de confiança.
6) Uey Calpixqui: Era um Magistrado importante, não fazia parte do
Grande Conselho, mas constituía-se no braço direito do Ciuacoatl, pois era o
encarregado de perambular pelos Calpulli recolhendo impostos, repassando
informações, verificando coisas erradas. Seu poder maior consistia no fato de
ter poder judiciário, ou seja, ele era uma espécie de segunda corte de
apelações, a segunda instância jurídica, caso a primeira instância, não fosse
justa ou não conseguisse apurar o caso, ele resolveria, senão, repassaria ao
Ciuacoatl. É interessante notar que havia apenas um Uey Calpixqui em
Tenochtitlán, e ele era escolhido diretamente pelo Ciuacoatl. Havia um Uey
Calpixqui em cada colônia militar fundada pelos Astecas, ele era o prefeito
desta colônia, e estava encarregado de garantir a lealdade da região além de
julgar os casos como instância superior às autoridades locais. Além disso, ele
era o comandante das tropas da colônia e, apesar de não ter autorização
para iniciar campanhas de conquista, tinha o dever de defender a região
dominada (tanto contra inimigos externos, quanto contra uma possível revolta
da população da própria região).
7) Calpulli: Ironicamente o Calpulli faz parte do Grande Conselho, mas
enquanto Calpulli ele é subalterno do Uey Calpixqui, que não integra o
Grande Conselho. O Calpulli é o líder de seu Calpulli (é interessante notar
que a palavra é a mesma tanto para bairro, quanto para o governante do
bairro). Vive numa casa muito grande, e é o responsável pelo ensino nos
Telpochcalli. Ele constitui o tribunal de primeira instância, onde se resolvem
quase todos os casos. Existiam quatro Calpulli em Tenochtitlán, cada um
formado por uma junção de clãs. Talvez a divisão em quatro seja proveniente
de memória passadas, de quando os Astecas viviam em Aztlán, e estavam
divididos em quatro clãs.
Era o Calpulli quem organizava as propriedades de seu bairro, ele tinha
a lista de todos os que se casavam e recebia terras, além de comandar as
divisões de serviço nas milícias do bairro, uma vez que a administração
militar era descentralizada, com os generais mandando em sues
subordinados e estes em seus subordinados respectivamente, até chegarem
nos novos recrutas, que não mandavam em ninguém.
8) Conselho de Anciãos: Eram os conselhos dos Calpulli, ou seja,
dos bairros, funcionavam exatamente da mesma forma que o Grande
Conselho, mas com autoridade restrita ao seu bairro. Era composto pelo líder
de cada clã componente do Calpulli, e tinha por finalidade principal fiscalizar
a administração do Calpulli e ainda escolher o novo Calpulli quando o antigo
morria, os filhos dos Conselheiros tinham o direito de freqüentar o Calmecac,
se quisessem.
9) Maceualtin: Eram as famílias de pessoas do povo, parentes dos
Conselheiros, mas não de seu tronco familiar, uma vez que um clã é
composto de diversas famílias aparentadas. Na verdade, os Maceualtin eram
os núcleos familiares domésticos, ou seja, as pessoas que viviam sob o
mesmo teto. Os homens recebia do Calpulli um lote de terra onde iriam
erguer sua casa e viver sua vida, quando ambos os cônjuges morriam, o lote
voltava para o Calpulli, que o daria a um novo casal, dessa forma, não
faltavam terras para as pessoas, pois ninguém herdava nada. É certo que as
terras que fossem compradas de Maceualtin endividados não entrariam na
redistribuição de terras, sendo assim, uma família poderia aumentar seu
poder e importância, adquirindo terras de pessoas endividadas, pois assim
teriam direito a heranças, além do lote, e seu poder permaneceria inabalável.
10) Tlalmaitl: Eram os Maceualtin que perdiam suas terras por dívidas,
convertendo-se em servos. Os Tlalmaitl continuavam vivendo na terra que
era deles, mas não mais poderiam usufruir o que produzissem, deveriam
entregar uma determinada cota mensal a seu senhor, caso esta cota não
fosse alcançada, o servo adquiria uma dívida com o senhor, quando a dívida
chegava a um ponto determinado, ele era obrigado a vender sua liberdade e
se tornar um escravo de seu servo. Porém, a condição de servo não era
hereditária, ou seja, os filhos do servos podiam freqüentar a escola
normalmente e, quando se casavam, recebiam um lote de terra, sendo assim,
a servidão só condenava o indivíduo e sua esposa. O Tlalmaitl tinha sempre a
oportunidade de readquirir sua terra, bastando para isso economizar, ou
então trabalhar mais, para poder obter produção excedente e vende-la, ou
então, capturar vários escravos em batalhas e, então, vende-los a
comerciantes ou artesãos, o que lhe garantiria dinheiro para poder comprar
terras.
11) Tlatlacotin: Constituíam os escravos, a maioria dos quais era
derrotada em combate e escravizada. Os escravos derrotados em combates
eram, geralmente inúteis para o trabalho, pois para traze-los vivos, os
guerreiros eram obrigados a mutila-los, cortando-lhes os tendões de Aquiles,
sendo assim, não conseguiam correr e andavam com dificuldade. Estes
escravos eram mantidos vivos por um certo tempo, até que chegasse a hora
de serem sacrificados.
Já os escravos por dívidas eram às vezes aproveitados no trabalho,
havia casos de grandes propriedades as quais viviam da mão-de-obra
escravista, por já não terem mais servos há muito tempo, uma vez que a
propriedade ficava em mãos do comprador, mas a condição de servo era
apenas para o indivíduo que havia se tornado servo, então, para que as
terras pudessem ser cultivadas, estes senhores mantinham escravos
chegando a compra-los no mercado, ou de guerreiros que voltavam de
batalhas.
Além desses dois tipos mais comuns de escravidão, também existia a
condenação à escravidão, ou seja, dependendo do crime que alguém
cometesse, este poderia ser castigado e condenado a ser um escravo.
A única maneira de um escravo deixar esta condição era quando ele
iria ser vendido no mercado de Tlatelolco. Quando alguém o comprava, o
vendedor o soltava, então ele tinha o direito de correr, sendo perseguido por
seu comprador. Ninguém poderia segura-lo, senão seu comprador, se ele
conseguisse alcançar a praça judicial de Tlatelolco, estaria livre, no entanto,
se fosse pego por seu comprador, seria escravo para sempre. No entanto,
muito poucos escravos escapavam dessa forma, pois como mencionei, seus
tendões eram geralmente cortados, sendo assim, a corrida se tornava quase
impossível e eles acabavam pegos.
12) Pochteca: Os Pochteca constituíam uma casta privilegiada da
população Asteca. Ninguém podia ascender a Pochteca, nem mesmo o mais
ilustre dignatário, no entanto, um Pochteca também nunca deixaria de ser um
Pochteca. Eram os grandes comerciantes, uma vez que o pequeno comércio
(bens de consumo e outras coisas de pouco valor) estava nas mãos dos
Maceualtin, aos Pochteca cabia o grande comércio, o comércio
interprovincial e a revenda de grandes quantidades de mercadorias.
Os filhos deles podiam freqüentar o Calmecac, mas nunca
ascenderiam a Grandes Sacerdotes, pois sua casta não tinha assento no
Grande Conselho.
Os Pochteca tinham cultos próprios, independentes dos cultos
Astecas, seu deus principal era Yiacatecuhtli, o protetor dos comerciantes,
que lhes exigia pesados sacrifícios, sendo assim, como não estavam
obrigados ao serviço militar, eram obrigados a comprar escravos dos
guerreiros, sendo os maiores compradores de escravos do México. Sua base
principal era o mercado de Tlatelolco, que como veremos, havia sido uma
cidade independente, mas fora anexada ao território propriamente dito de
Tenochtitlán, por Axayacatl, em 1469; outras bases importantes dos
Pochtecas eram Texcoco, onde podiam participar do Conselho Econômico e
Azcapotzalco. Por possuírem uma milícia própria, encarregada de
defende-los em suas caravanas, os Pochteca às vezes prestavam serviços
de espionagem ao governo. Por terem vencido uma grande batalha no istmo
de Tehuantepec, foram considerados por Auitzotl, como os tios do Tlatoani, o
que lhes conferiu (a partir daquela data) um status superior, que permitia a
utilização de jóias de ouro, coisa que era vetada aos não membros da
aristocracia.
Quando os Espanhóis chegaram ao México, os Pochteca se
encontravam num patamar intermediário entre o povo e os grandes
dignatários, mas seu poder econômico lhes proporcionava um luxo superior
em muitos casos ao dos próprios governantes. Pode-se dizer que, esta
classe estava começando a se tornar importante, o que poderia acarretar,
dentre de cem ou duzentos anos, uma espécie de transformação na
sociedade Asteca, passando a um modo de produção semelhante ao
Capitalista, quando se encontrava num modo de produção familiar-militar,
pouco voltado para a obtenção de lucros e com muita cooperação entre os
indivíduos, tanto que os Calpulli entregavam aos Maceualtin, uma vez por
ano, uma grande quantidade de roupas e mantimentos, de modo a garantir a
melhoria da qualidade de vida da população.
13) Toltecas: Os Toltecas eram os artesãos de Tenochtitlán, viviam
em um bairro próprio, Amantlan, e se consideravam originários da cidade de
Xochimilco, nas margens do lago Texcoco. Trabalhavam tanto para
particulares, por meio de contrato, como para venderem seus trabalhos. Os
mais hábeis eram muito bem remunerados, e trabalhavam com exclusividade
para altos dignatários. As famílias Toltecas se reuniam em clãs, que eram
verdadeiras corporações de ofício, onde o chefe do clã comandava sua
produção e o representava judicialmente. Estavam obrigados a pagar
impostos em espécie, ou seja, naquilo que produzissem, mas não em
dinheiro, como todos os demais. Não eram obrigados ao serviço militar e
seus filhos não podiam freqüentar o Calmecac, bem como não tinham
representação no Grande Conselho.
Tal qual os Pochteca, os Toltecas também tinham um deus próprio e
independente, Xipe Totec, que, à exemplo de tantos outros, também exigia
sacrifícios, o que forçava a casta a ser grande compradora de escravos.
Ainda como no caso dos Pochteca, não se podia ascender a Tolteca, nem
sequer um Tolteca podia deixar de sê-lo.
14) Tlacateccatl: Este era um Magistrado, na verdade, era um dos
quatro componentes do Tlatocan, mas sua figura merece especial atenção,
pois ele era o chefe de homens, ou seja, o general dos exércitos nas
batalhas. Cabia ao Tlacateccatl, além de chefiar as tropas e decidir as
estratégias militares, fiscalizar o cumprimento correto da hierarquia militar
(que é o que retratarei nas descrições seguintes), da qual, abaixo do Tlatoani,
ele era o expoente máximo.
15) Guerreiros-Águia: Constituíam um dos pelotões de elite do
exército Asteca. Vestiam-se com uma leve armadura de couro, recoberta de
plumas de águias, além disso, levavam nas cabeças, um capacete de
madeira em formato de cabeça de águia (também revestido de penas).
Normalmente lutavam com lanças compridas, as quais não arremessavam,
mas apenas utilizavam para ferir seus oponentes.
Para chegarem a esse cargo, os homens trilhavam um caminho longo,
deveriam completar seus estudos nos Telpochcalli, e depois capturar vários
prisioneiros em batalha, uma vez que a ascensão militar se dava pela captura
de prisioneiros vivos. Ao atingir o posto de Guerreiro-Águia, um homem
ganhava assento no Grande Conselho e passava a fazer parte da vida
política do Império.
16) Guerreiros-Jaguar: Estavam no mesmo patamar de importância
dos Guerreiros-Águia, assim como eles, eram ungidos pelo próprio Tlatoani
(o chefe supremo dos exércitos) e passavam a constituir a verdadeira
nobreza (sempre junto com seus correlatos Guerreiros-Águia, uma vez que
esta descrição é um complemento da outra), recebendo mais terras e
passando a se dedicar quase que exclusivamente à vida política e militar,
deixando seus afazeres domésticos nas mãos de escravos.
Os poucos casos de poligamia se davam geralmente com homens
dessas duas patentes militares (Águia e Jaguar), pois, em suas campanhas,
às vezes se envolviam com outras mulheres e terminavam por adota-las
como suas segundas, ou até terceiras esposas.
Ao que parece, havia um templo, em Malinalco (templo que persiste até
hoje), totalmente escavado na rocha, no qual os Guerreiros-Águia e os
Guerreiros-Jaguar praticavam seus principais cultos.
Os Guerreiros-Jaguar, normalmente não portavam lanças, mas sim a
principal arma Asteca, uma maça de madeira entalhada, com facas de sílex
incrustadas na região de golpe (chamada macana), sendo assim, essa arma
era mortal, por ser altamente cortante. Além disso, esses Guerreiros se
trajavam com o couro de jaguares mortos, e utilizavam um capacete
confeccionado com os ossos da cabeça do animal, tendo neles as presas e o
pelo ainda intactos. Como sua armadura proporcionava menos resistência do
que a dos Guerreiros-Águias e sua arma era de uma mão apenas, então,
utilizavam um escudo de madeira revestido de plumas e delicadamente
pintado com ouro.
17) Hierarquia Militar dos Bairros: Em cada Calpulli existia um
Telpochcalli, no qual se formavam turmas de novos guerreiros. Estes novos
Guerreiros tinham uma função horrível: serem os homens do pelotão de
frente. Utilizavam armas muito simples, como fundas e clavas, mas estavam
determinados a capturarem três prisioneiros, o que lhes garantiria a
ascensão à próxima patente. À medida que iam sendo promovidos, iam
adquirindo o direito de utilizarem armas melhores, além de ganharem
armaduras em determinada patente. As armas diversas eram: machadinhas
de sílex, arco e flecha, facas de sílex, espadas de sílex e até lanças curtas
que eram arremessadas por um equipamento chamado atlatl.
A cada três prisioneiros que o indivíduo capturava, ele era promovido
uma patente. A patente máxima de cada Calpulli era denominada Mestre de
Armas. Quando alguém chegasse a ser Mestre de Armas, estava a um passo
de se tornar um Guerreiro-Águia, ou um Guerreiro-Jaguar, bastando apenas
capturar mais três prisioneiros.
18) Cadetes dos Telpochcalli: Os Cadetes dos Telpochcalli eram os
garotos que estavam para se formar na escola, eles iam a algumas
campanhas junto com os guerreiros, mas não para lutar e sim para
aprenderem com o que viam. Nessas campanhas eles cozinhavam e
guardavam a comida do exército.
19) Serpente de Plumas de Tlaloc: Era um dos dois maiores
sacerdotes Astecas, junto com ele estava a Serpente de Plumas de
Uitzilopochtli. Era um sacerdote que havia percorrido um longo caminho, ou
seja, quando criança, estudou no Telpochcalli de seu Calpulli, quando
formado, por ser filho de algum Conselheiro ou do próprio Calpulli, tinha a
opção de freqüentar o Calmecac (o Calmecac era a universidade Asteca,
localizado no centro cerimonial de Tenochtitlán, tinha a função de formar os
sacerdotes, que viriam a ser os especialistas da escrita e também a elite
cultural Asteca, além de propagadores da religião de seus ancestrais).
Depois de quase dez anos no Calmecac, ele se formava e se tornava um
sacerdote de Calpulli, voltando ao seu Calpulli, com o objetivo de realizar as
cerimônias religiosas devidas. Muitos sacerdotes, como veremos, passavam
suas vidas inteiras sem conseguir serem promovidos, no entanto, ao se
destacarem na vida pública, geralmente servindo como escribas ou então
realizando algum ato importante, o sacerdote era elevado a um nível
superior. Passava a ser um Sacerdote Provincial, que veremos mais tarde,
quando se destacava como missionário, era elevado a Grande Sacerdote e
ganhava um assento no Grande Conselho.
Dentre os Grandes Sacerdotes, o Tlatoani, juntamente com o Ciuacoatl
e o Tlatocan, escolhiam um para ser a Serpente de Plumas de Tlaloc e outro
par ser a Serpente de Plumas de Uitzilopochtli, se a escolha passasse pela
aprovação do Grande Conselho, o Sacerdote estava eleito para o cargo.
O cargo de Serpente de Plumas de Tlaloc não podia ser ocupado por
mulheres, e estava imbuído de poderes extremos no que diz respeito ao culto
do deus da chuva e da água.
20) Serpente de Plumas de Uitzilopochtli: Assim como no caso da
descrição dos Guerreiros-Jaguar, esta descrição é uma continuação da
descrição do item anterior. Um sacerdote chegava a ser Serpente de Plumas
de Uitzilopochtli da mesma forma descrita no item anterior, porém sua função
era de controlar o culto a Uitzilopochtli, a mais antiga e poderosa divindade
Asteca, só igualada a Tlaloc, muito tempo depois da chegada dos Astecas ao
México.
Era indiscutível o poder que esses dois sacerdotes possuíam juntos e,
na maioria das vezes, permaneciam juntos. Acima deles, na hierarquia
clerical só estava o Tlatoani, que era o supremo chefe religioso, no entanto,
eram os dois que comandavam o clero de fato. Tamanho era seu poder, que
durante o governo de Auitzotl, convenceram a quem deviam de que a
ampliação do Grande Templo fosse realizada no sentido de dedica-lo a Tlaloc
e Uitzilopochtli, sendo assim a pirâmide Asteca passou a ser encimada pelos
templos de Tlaloc e Uitzilopochtli.
Apesar de imensamente poderosos, os dois sacerdotes não tinham
nenhum poder direto sobre o clero de um modo geral, pois este poder
emanava do chefe do Calmecac, o Mexicatl Teohuatzin. No entanto, este era
escolhido por aqueles.
21) Mexicatl Teohuatzin: O Mexicatl Teohuatzin era o chefe do clero
Asteca, além de controlar o Calmecac. Chegava a esse posto pela escolha
em comum acordo das duas Serpentes de Plumas. Eles o escolhiam entre os
Grandes Sacerdotes homens e, sendo assim, acabavam controlando-o. É
bem verdade que as Serpentes de Plumas estavam acima da autoridade do
Mexicatl Teohuatzin, mas este não estava legalmente subordinado a elas, só
ao Tlatoani.
22) Grandes Sacerdotes: Este é o grau máximo em que alguém
poderia chegar por esforço próprio, dentro da carreira clerical, mas mesmo
assim, não era uma ascensão tão simples quanto a possível na carreira
militar, pois para mostrarem seu valor, os sacerdotes inferiores precisavam
chamar a atenção de alguém importante, pois só assim seriam promovidos,
em contrapartida, se já conhecessem ou fossem aparentados de alguém
importante, suas promoções não tardariam em chegar, por isso pode-se dizer
que o clero era a instituição mais corrompida do Império Asteca.
Os Grandes Sacerdotes eram os primeiros sacerdotes a terem assento
no Grande Conselho, sendo também a única forma de uma mulher conseguir
seu assento na entidade, uma vez que este era (entre todos os postos
existentes no México) o mais alto posto que uma mulher podia ocupar.
A função destes sacerdotes era lecionar no Calmecac (o que leva a
crer que possivelmente existisse um número máximo para eles, e não um
número ilimitado como ocorria com os Guerreiros-Águia e Jaguar). Eles
também, ao serem sagrados Grandes Sacerdotes, recebiam o status de
nobreza, recebendo terras extras, das quais cuidavam com a mão-de-obra
escrava.
23) Sacerdotes Provinciais: Este era o segundo degrau da hierarquia
sacerdotal, e todos os sacerdotes que quisessem ascender no clero,
deveriam passar por ele. É certo que também era o mais árduo e o mais fácil
de promover o esquecimento do indivíduo, pois os Sacerdotes Provinciais
deixavam Tenochtitlán para serem missionários em regiões distantes, tanto
tributária, quanto não. Sua função era levar a fé Asteca a outros povos e, se
obtivesse relevância em seus feitos, seria nomeado Grande Sacerdote.
24) Sacerdotes de Bairro: Neste grau, os Pochteca podiam chegar,
uma vez que seus filhos podiam freqüentar o Calmecac, eram os
recém-formados sacerdotes, que regressavam a seus Calpulli, onde além de
lecionarem nas Telpochcalli, ainda cuidariam dos cultos ancestrais de seu
clã, bem como manteriam a unidade religiosa entre este e o clero oficial, cujo
chefe supremo era o Tlatoani. Se mostrassem muita eficácia em sua função,
eram promovidos a Sacerdotes Provinciais.
5 – Religião, Ciência e Alimentação:
Apesar da Alimentação não parecer uma das características mais
importantes de uma civilização, em se tratando das culturas
pré-colombianas, ela deve ser ressaltada, pois além de tais regiões
possuírem iguarias desconhecidas dos Europeus Medievais, muitos desses
pratos hoje fazem parte de nosso cotidiano e podemos jurar que sempre
foram conhecidos de nossos antepassados Europeus.
A Religião é um traço marcante em todo civilização, pois ao mesmo
tempo em que motiva o povo a certas coisas, o desmotiva a outras e, às
vezes, controla sua vida, como no caso dos Astecas, além disso, nas
civilizações com características antigas (pois apesar do Império Asteca ter
sido contemporâneo da Europa Medieval, ele teve muito mais haver com a
Antiguidade, onde grande Impérios se estendiam pelo poder das armas, pela
bravura de seus soldados e pela perícia de seus governantes), a Religião
está intimamente ligada com a Ciência, pois mesmo na Europa, foi o advento
do Cristianismo que desvinculou a religiosidade da ciência, com a imposição
daquela sobre esta. A conseqüente estagnação tecnológica em que o mundo
Europeu se viu mergulhado só foi quebrada pelos contatos com avanços dos
povos Islâmicos.
5.1 – A peculiar Alimentação Asteca:
Dentre as mais famosas iguarias da cozinha Asteca estavam o milho
(sua principal fonte de alimentação, assim como principal fonte de
alimentação de toda a Mesoamérica), o feijão, o tomate, os perus, os
cachorros, os coelhos e o chocolate. Nenhum desses alimentos era
conhecido dos Europeus antes da conquista do Império Asteca. No entanto, a
maioria de tais alimentos era diferente do que é hoje. É o caso espantoso do
milho, que ao contrário do formato atual; ou seja, grandes espigas de
sementes duras; era menor, com espigas moles, sendo assim, depois de
cozido, era comido com o sabugo e tudo. O cereal só se modificou com o
desenvolvimento do hibridismo, o que aumentou suas propriedades nutritivas
e também seu tamanho.
O chocolate também era diferente do atual, ou seja, além de não ser ao
leite (uma vez que os Astecas não tinham vacas) e, portanto, ser amargo e
bem preto, ele também não era sólido, mas sim um líquido quente e grosso,
que se bebia depois das refeições, especialmente no inverno.
Quanto aos cachorros, é certo que os Europeus conheciam cachorros,
aliás, quem não os conhecia eram os Astecas, que só possuíam uma única
raça (cachorros pequenos e sem pelos e com a pele vermelha, hoje extintos).
Porém, a utilização dos cachorros pelos Astecas não era a mesma que a
Européia, pois enquanto os Europeus desde os mais remotos tempos
utilizavam os cachorros como companheiros, caçadores e guardas, os
Astecas utilizavam-nos como rebanho, isso mesmo, eles faziam criações de
cachorros, dos quais apenas alguns chegavam à idade adulta (para serem
reprodutores), pois a maioria era morta ainda filhote, para ser degustada, os
cachorros eram o prato preferido dos Astecas.
No entanto, quando chegaram a Tenochtitlán, devido aos maus
momentos que passaram, incluindo privações das maiores possíveis, os
Astecas foram obrigados a adotar uma dieta a base de peixes do lago
Texcoco, aves do mesmo lago e animais mais (digamos) nojentos, como
sapos, rãs e mesmo insetos de todos os tipos, desde moscas até mosquitos.
A pimenta era conhecida dos Astecas e, assim como o tomate, era
usada como tempero, isso mesmo, os Astecas não comiam o tomate como
alimento em si, mas sim como tempero, utilizavam-no para fazer molhos os
quais jogavam por cima de seus alimentos.
Os perus eram apreciados em todos os sentidos, pois sua carne era
comida e suas penas utilizadas como plumas para os que tivessem
autorização de ostenta-las.
Além de todos os pratos citados acima, os Astecas conheciam também
a carne, bem como os ovos, de tartaruga, carne de javali (semelhante a do
porco), coelho, além de frutas diversas.
Apesar de todos os pratos referidos realmente terem pertencido à
cozinha Asteca, eles não estavam ao alcance da maioria da população. Isso
porque eram muito caros, sendo assim, só eram consumidos pela
aristocracia. O cidadão comum tinha sua alimentação baseada em bolos de
milho e feijão, muitas vezes temperados com pimenta e tomate, sendo que
raras vezes consumiam carne ou outro tipo de alimento.
5.2 – Ciência X Religião:
Em contraposição ao fato de que na Europa da época Religião e
Ciência caminhavam separadamente, com a primeira entravando a segunda,
no México, bem como nos Impérios Antigos do Velho Mundo, ambas
caminhavam juntas.
Foi graças à atividade dos sacerdotes Astecas, que esta civilização
desenvolveu boa parte de seus conceitos científicos. Isso se deve ao fato de
que os sacerdotes eram ao mesmo tempo os maiores eruditos de
Tenochtitlán, pois, por não terem suas vidas consagradas nem ao trabalho,
nem à guerra, eles tinham tempo para se dedicarem à leitura, à observação
dos astros e ao desenvolvimento da matemática.
É bem verdade que no referente às ciências exatas (matemática,
astronomia e engenharia, em especial), os Astecas copiaram muito dos
povos mais antigos no México, imitando-os em alguns aspectos,
aperfeiçoando suas descobertas em outros e, até mesmo, piorando alguns
de seus inventos. O maior caso de invento que foi, digamos, piorado é o
calendário solar Maia, no qual havia uma perfeição rigorosa, perfeição essa
que foi um pouco prejudicada na adaptação Asteca.
No referente à engenharia, os Mexicanos eram muito hábeis, tendo
construído dois aquedutos que levavam água potável do planalto até
Tenochtitlán, além de muitas pontes e das famosas ilhas artificiais, que
constituíam a maior parte do território da capital.
A astronomia (que diferentemente da astrologia, que não passa de
uma série de misticismos em torno da suposta influência que os astros
exercem sobre as pessoas, é uma ciência que consiste em observar e
catalogar a existência, bem como o movimento dos astros) era altamente
desenvolvida. Com base nela, é que foi elaborado o calendário, assim como,
era graças a ela que os Astecas podiam prever os bons períodos para
colheita e plantio. No entanto, a observação dos astros dava respaldo para o
desenvolvimento e ampliação das crenças astrológicas, sendo assim, não
eram pequenas as influências que os Astecas atribuíam aos astros sobre as
pessoas. Segundo as crenças, o dia do nascimento podia indicar várias
coisas sobre o caráter do bebê, tais como suas tendências profissionais. Para
livrar os recém-nascidos do malogro que era nascer num dia nefasto, seu
nome era escolhido num dia bom, sendo assim, este dia passava a valer
como sendo o dia de seu nascimento, o que poderia fazer alguns bebês
ficarem dias sem nomes. Os únicos aptos a indicar quais dias eram nefastos
e quais não, eram os sacerdotes, sendo assim, eram eles que batizavam os
bebês.
Curiosamente, os Astecas possuíam dois calendários distintos, um de
365 dias, composto de 18 meses de 20 dias cada, além de mais 5 dias
nefastos ao final do ano. Nestes cinco dias, não se trabalhava e a única coisa
que se fazia era orar para os deuses e realizar muitos sacrifícios. Este
calendário era o oficial, e servia como uma base para a agricultura. Já o outro
calendário era bem mais curto, 260 dias apenas, e era destinado às crenças
religiosas, era nele que se mediam as durações das semanas (cada semana
tinha três dias), além das datas dos sacrifícios e festas religiosas. Ambos os
calendários haviam sido copiados dos Maias, sendo o de 365 um tanto
quando piorado, uma vez que os Astecas não consideravam o ano como
tendo 365,242 dias (como os Maias), mas apenas como tendo 365, o que
tirava um pouco de sua exatidão.
A Matemática Asteca era impressionante por (apesar de também
copiada dos Maias) ser mais exata que a Romana, sendo que ao contrário
desta, ele tinha a noção do zero. O impressionante e que com apenas três
símbolos (uma concha, um ponto e um traço), ele conseguiam representar
quaisquer números, desde o zero até o infinito. A base da matemática Asteca
era o número vinte, onde, de uma certa forma, se apoiava toda a sua
estrutura. Assim como nos algarismos Romanos (que não podia se repetir em
seguida mais do que três vezes), os algarismos Astecas não podiam ser
repetidos em seguida, mas no caso destes, a repetição máxima permitida era
de quatro símbolos iguais. A noção ocidental de matemática (exposta
principalmente nos números Arábicos e Romanos), indica uma escrita
horizontal, o que não acontecia no México, onde os números eram escritos
verticalmente.
Sobre as obras da engenharia Asteca, além dos feitos dos habitantes
de Tenochtitlán, a que se destacar os feitos dos habitantes de Texcoco, que
além de terem construído uma espécie de terma (com canais e aquedutos)
entalhada na montanha de Tetzcotzinco, ainda teriam construído (tudo sob o
reinado de Nezaualcoyotl) um gigantesco dique de madeira dentro do lago
Texcoco, tal dique teria a função de impedir que cheias da parte mais
profunda do lago (margem oriental) provocassem inundações em
Tenochtitlán, que se localizava próxima à margem ocidental.
5.3 – Um grande e complexo Panteão:
O panteão (conjunto de divindades) Asteca era muito numeroso, tendo
desde divindades realmente Astecas, como o deus Uitzilopochtli, que os teria
guiado em sua marcha rumo ao México, até divindades dos povos já
estabelecidos no México há muito tempo, como Quetzalcoatl e Tezcaplipoca,
no entanto, este último começou a ser cada vez mais associado à figura de
Uitzilopochtli, tendo, perto da conquista, as duas divindades se fundido em
uma só, com o nome de Uitzilopochtli.
Além desses deuses, outros que originalmente não era Astecas, como
Tlaloc, passaram a incorporar o panteão de Tenochtitlán. Na verdade,
Uitzilopochtli estava se tornando, aos poucos, a mais poderosa divindade
Asteca, sendo que muitos povos o associavam a seu deus principal, é o caso
de Xipe Totec, Mixcoatl e às vezes, do próprio Quetzalcoatl, todos
incorporados (em maior ou menor grau) à figura de Uitzilopochtli. Tal
unificação dentro do panteão leva a crer que o caminho natural da evolução
religiosa Asteca seria o monoteísmo, pois à medida que as divindades se
reuniam sob um mesmo título, esta se fortalecia e tendia a ser considerada o
único deus.
Em Texcoco, o grande Rei Nezaualcoyotl mandou construir uma torre,
que era encimada por um santuário ricamente decorado, dedicado a uma
divindade, o mais estranho é que não havia nenhum ídolo neste santuário e o
dito deus seria invisível, impalpável, sem história e até mesmo sem nome,
referido apenas como: “aquele graças a quem nós vivemos”. Isso (vindo de
um indivíduo que para os Astecas era considerado tão culto quanto Platão ou
Aristóteles, para os Europeus), mais do que a fusão de deuses, leva a crer
que os Astecas caminhavam para o monoteísmo.
5.4 – O Apocalipse Asteca:
Muitos povos cultuavam tradições relativas ao fim da humanidade,
tradições essas que, no passado estavam presentes no cotidiano humano.
Foi assim com Persas, que temiam o fim do mundo nas garras de Arimã, com
os Cristãos, que temiam (e alguns ainda temem) a chegada do Anticristo e o
chamado Apocalipse, com os Vikings, que temiam que seus deuses
morressem numa guerra celestial e foi assim com muitos outros povos ao
longo dos tempos.
Se até uma religião que se considera superior e evoluída como a Cristã
pode acreditar no fim do mundo, por que não uma religião de indígenas,
seres tão inferiores (não levem a mal, estou sendo sarcástico)?
Bem, os Astecas viviam com o tormento do fim do mundo; ou como
eles chamavam, do fim do Sol; sobre suas cabeças. Para eles, a humanidade
atual seria a quinta, tendo, portanto, sido precedida por outras quatro.
A cada ciclo de 52 anos, segundo a mitologia Mexicana, o mundo corria
sério risco de extinção, pois isso já havia ocorrido outras vezes no passado.
Na realidade, o primeiro Sol, chamado naui-ocelotl (quatro-jaguar), teria sido
destruído pelos jaguares, isso mesmo, os grandes felinos Mexicanos teriam
descido das montanhas e devorado a humanidade.
O segundo Sol, chamado naui-eecatl (quatro-vento), teria sido
destruído por Quetzalcoatl, o deus do vento, que teria soprado sobre o
mundo um vento mágico que transformou a humanidade em macacos.
O terceiro Sol, chamado naui-quiauitl (quatro-chuva), teria sido
destruído por Tlaloc, o deus da chuva, da água, do raio (de tudo relacionado à
água, inclusive doenças), teria criado um imenso dilúvio que teria submergido
o mundo em águas destruindo toda a humanidade.
Do gigantesco dilúvio, que durou 52 anos (este era um número
pragmático para os Astecas, muito provavelmente por corresponder à
metade do tempo (104 anos) que levava para que o início de um ano terrestre
coincidisse com o início de um ano de Vênus, planeta pelo qual os Astecas
tinham adoração), sobreviveram apenas um homem e uma mulher. No
entanto, a humanidade não descende deles, pois, por terem sobrevivido,
contrariando o desejo dos deuses, Tezcatlipoca os teria transformado em
cães.
O nosso mundo, ou nosso Sol, denominado naui-ollin
(quatro-terremoto) teria sido recriado pela bondade de Quetzalcoatl, que
resgatou do inferno (reino do deus Mictlantecuhtli) os ossos dos mortos e,
regando-os com seu próprio sangue, restaurou-lhes a vida para reinar entre
eles. Porém, como vimos anteriormente, Tezcatlipoca expulsou-o para Tlillan
Tlapallan, de onde prometeu voltar para resgatar seu trono.
Para impedir nosso mundo de ser destruído, coisa que os Astecas
acreditavam que pudesse acontecer a cada 52 anos, eles faziam uma
cerimônia especial chamada de Fogo Novo.
Em todas as casas, se apagava o fogo e se quebrava toda a louça, os
sacerdotes escolhiam um prisioneiro para ser sacrificado e o conduziam até o
topo do monte uixachtecatl. Lá, o prisioneiro era sacrificado, tendo seu peito
aberto por uma faca de sílex. Depois, um dos sacerdotes pressionava uma
tocha acessa contra o peito aberto do indivíduo (às vezes ainda vivo) quando
o fogo da tocha se apagava, era considerado aceso o Fogo Novo.
Para festejar, cada família reacendia seu fogo e comprava louças
novas, enquanto que o Tlatoani realizava alguma obra (geralmente a
ampliação do Grande Templo) como forma de expressar sua gratidão aos
deuses por mais 52 anos de existência.
Ao todo, foram realizadas sete cerimônias do Fogo Novo (1195, 1247,
1299, 1351, 1403, 1455 e 1507), a primeira delas enquanto os Astecas ainda
estavam em marcha para o México. A oitava, prevista para 1559, não se
realizou porque o Império já havia sido conquistado pelos Espanhóis.
5.5 – Uma rápida observação sobre a morte:
Para os Astecas, existiam cinco formas de morte. Todas elas eram
encaradas com muita naturalidade, porém apenas quatro delas
proporcionavam a salvação irrefutável. Vejamos quais eram as espécies de
morte Astecas.
A morte por causas naturais, ou seja, velhice, acidentes (exceto
afogamento) e a maioria das doenças, era considerada comum, o indivíduo
que morresse dessa forma era mumificado, preparado com sua melhor
roupa, suas plumas e jóias (caso pudesse utiliza-las) e depois cremado com
tudo o que fosse ser necessário em sua jornada além-vida, ou seja, comida,
armas e objetos de uso pessoal. A família continuava cultuando o morto por
oitenta dias e, passado este tempo, anualmente, até que se completassem
quatro anos de sua morte, quando então ele era esquecido, ou pelo menos
deixava de ser cultuado. Pessoas mortas dessa maneira iam para o inferno,
serem atormentadas por nove anos, pelo deus Mictlantecuhtli, quando enfim
desapareciam para sempre.
A morte na tábua de sacrifícios era digna tanto de salvação, assim
como a dos guerreiros, pois os mortos dessa forma iam viver por quatro anos
junto com o Sol, de onde regressavam após esse período para reencarnarem
como beija-flores. Houve casos em que senhores de escravas destinadas ao
sacrifício se apaixonaram por elas e lhes permitiram continuar vivas, no
entanto, estas escolhiam morrer na tábua de sacrifícios, esperando serem
recompensadas no além-vida. Os sacrifícios, de um modo geral funcionavam
assim: o indivíduo era deitado na tábua de sacrifícios e seu peito era aberto
pelo sacerdote, com uma faca de sílex. Seu coração era retirado do peito
(ainda batendo), oferecido ao deus ao qual o sacrifício estivesse sendo
realizado e por fim, jogado numa pira onde seria queimado. Depois, a cabeça
do sacrificado era cortada e colocada numa estaca na praça ao lado do
Templo do Sol. O corpo era incinerado. Havia também outras formas de
sacrifícios, como a descrita no item sobre esportes, mas esta era a mais
usual.
Dentre as mortes glorificantes, a mais simples de se compreender era
a morte dos guerreiros nos campos de batalha, pois aqueles que morressem
lutando seriam salvos instantaneamente, tendo o mesmo fim espiritual dos
sacrificados, ou seja, indo morar com o Sol por quatro anos e depois
retornando como colibris. Essa crença era claramente induzida nos
indivíduos para que não se negassem a lutar até a morte, se fosse preciso.
O mais curioso dentre os tipos glorificantes de morte era a morte
relacionada à água. Qualquer um que morresse afogado, por hidropisia,
ácido úrico, vítima de raios ou, no caso de mulheres, de parto, não era
cremado, mas sim enterrado e passava a ser cultuado como um escolhido de
Tlaloc. Tlaloc era muito cultuado devido a aridez do México, sendo assim, ele
representava a vida, ou pelo menos a esperança dela. Devido ao seu culto,
cultuavam-se também as montanhas, pois como as nuvens de chuva se
formavam nos seus cumes, elas eram tidas como moradas de ajudantes de
Tlaloc, os Tlaloque.
Por fim, nota-se que crianças pequenas (antes de começarem seus
estudos) eram consideradas puras, sendo assim, quando morriam, iam para
um jardim florido denominado Tonacaquauhtitlán, onde viveriam por toda a
eternidade, sob a forma de pássaros, voando entre flores.
6 – A História Asteca segundo seus períodos e governantes:
Até esta parte de meu trabalho, dediquei-me a colocar o leitor a parte
dos costumes e da vida cotidiana do povo Asteca, porém, apesar de ter
citado alguns fatos importantes da história de sua civilização, não contei a
história de um modo cronológico, o que é fundamental para a compreensão
correta dos fatos, sendo assim, é a isso que me remeterei nesta parte: contar
a história Asteca desde seus primórdios, em Aztlán, até a chegada dos
Espanhóis, a qual dedicarei um item único no final do texto.
Espero que me expresse o menos mal possível e que o leitor não
encontre dificuldade em compreender minhas idéias e minha forma de
escrever.
6.1 – Aztlán: mito ou realidade?
Segundo a tradição Asteca, seu povo teria vivido por muito anos em
Aztlán, uma ilhota situada dentro de um lago a noroeste do México, de onde
teriam saído rumo ao planalto Mexicano. Mas será mesmo verdade que os
Astecas viveram em Aztlán, ou será lenda?
Por muitos anos vários pesquisadores discutiram (como até hoje ainda
discutem) sobre a veracidade da existência de Aztlán, no entanto, dois fatos
fazem crer que a mítica ilha tenha realmente existido: numa praia do atual
estado Americano da Califórnia, foi encontrada uma estátua que parece ser
do deus Uitzilopochtli, a divindade que teria guiado os Astecas em sua
marcha, além disso, numa caverna na mesma Califórnia, foram encontrados
desenhos (provavelmente Astecas) que mostram homens (chefes de quatro
clãs) em marcha, o que prova que, se os Astecas não moravam na Califórnia,
ao menos passaram por ela até atingirem o México.
É possível que Aztlán se localizasse num pequeno lago (talvez hoje
inexistente, por ter secado) da Califórnia, onde por milhares de anos uma
tribo que se reconhecia pelo nome de Mexica viveu. Lá, eles pescavam com
redes e viviam de animais lacustres, cercados por uma terra estéril e repleta
de perigos, como tribos inimigas e coiotes do deserto.
A população de Aztlán não deve nunca ter excedido duas mil pessoas,
sendo que estas estavam divididas em quatro clãs. O chefe de cada clã era
como um sacerdote, sendo responsável pelo culto aos ancestrais do clã.
Estes quatro sacerdotes, representado os interesses de seus parentes,
se reuniam e, imbuídos de poderes semi-divinos, ou concedidos pelos
deuses, organizavam a vida da comunidade.
É provável que em Aztlán tenha surgido o culto a Uitzilopochtli, sendo
este o deus central o deus ao qual os quatro clãs estavam submetidos,
sendo, portanto, superposto às divindades de cada clã.
O governo de Aztlán é facilmente identificado como sendo uma
Oligarquia Teocrática superposta a uma Democracia tribal, pois à medida
que os quatro sacerdotes tinham poderes infinitos sobre a população, dentro
de cada clã, as decisões eram tomadas de comum acordo e, talvez, com a
participação de qualquer adulto, seja homem ou mulher, como é tradicional
nas tribos Neolíticas, que era o que os Mexica eram.
Como já me referi, em 1168, Tula, a capital do Império Tolteca, foi
destruída, pondo um fim à unidade daquele Império. A notícia da queda se
espalhou rapidamente e atraiu tribos dispostas a migrarem para um lugar
melhor, para, além de terem melhor qualidade de vida, vislumbrarem a
oportunidade de pilhar as riquezas do falido Império Tolteca.
Alguns anos apenas levaram para que a notícia da queda de Tula
chegasse a Aztlán. Logo que esta chegou, os chefes da cidade resolveram se
por em marcha rumo ao planalto Mexicano.
6.2 – Chicomoztoc, a marcha para o sul:
A marcha dos Mexica para o México ficou conhecida como
chicomoztoc, ou seja, “sete cavernas”, o que corresponde ao modo de vida
da tribo neste período que, seguramente, durou pelo menos um século. É
isso mesmo, os Mexica levaram mais de cem anos para chegarem ao
México, mas isso porque durante sua longa marcha, se estabeleceram várias
vezes (provavelmente sete) em cavernas, nas quais permaneciam por alguns
anos se recompondo do trajeto, até colocarem-se em marcha novamente.
Numa dessas paradas, é que os Mexica talvez tenham desenhado as ditas
figuras nas paredes da caverna e noutra, talvez tenha se abrigado numa
caverna à beira mar (hoje submersa), onde teriam feito escultura e, uma
delas seria a encontrada.
O fato é que durante sua marcha, os Mexica tomaram contato com
outras tribos de língua Nahuatl, que estavam migrando para o México, tribos
essas ditas Chichimecas, ou seja, bárbaras.
Tais tribos estavam em diferentes estágios de desenvolvimento e,
apesar de algumas provavelmente terem sido agressivas, ocasionando a
guerra, a maioria cooperou uma com a outra, sendo assim os Astecas
descobriram a agricultura e a escrita, técnicas fundamentais para a vida que
passariam a ter quando chegassem no México.
6.3 – Em busca de terra:
Depois de chegarem ao planalto Mexicano, os Mexica foram batizados
pelos descendentes dos Toltecas de Azteca Chichimeca, ou seja, os bábaros
de Aztlán. Uma corruptela desse nome deu origem à palavra Azteca, que os
Espanhóis estenderam Asteca e que hoje, incorretamente, nós colocamos no
plural Astecas.
A partir desse batismo, a identidade com o nome se tornou tão grande
que os Astecas passaram a se reconhecer como Astecas e passaram a
chamar a região que pretendiam dominar de México, ou seja, Terra dos
Mexica.
Com o fim de sua longa marcha, por volta de 1300, os Astecas
atacaram um pequeno povoado, chamado Chapultepec, às margens do lago
Texcoco, e se estabeleceram lá, exterminando sua população original. Em
Chapultepec, tinham árvores, peixes do lago, água potável dos rios e tudo
mais que não possuíam em Aztlán, porém, não possuíam mulheres
suficientes para todos os homens de sua aldeia, por isso, resolveram atacar
um povoado Tepaneca e seqüestrar algumas mulheres.
O seqüestro das mulheres Tepanecas colocou os Astecas em guerra
com esse povo e, conseqüentemente, com sua aliada, a cidade Tolteca de
Colhuacán. Esta cidade se localizava na margem sul do lago Texcoco e, por
ser herdeira das tradições Tolteca, se considerava imbuída do dever de
proteger o planalto Mexicano dos belicosos Chichimecas, que estavam
chegando cada vez em maior número, sendo assim, atacaram os Astecas.
Ao verem que uma grande guerra estava em iminência, os quatro
sacerdotes se reuniram e escolheram um chefe militar supremo que, além de
comandar os exércitos, ainda resolveria as questões administrativas da
cidade com poder absoluto, concedido pelo próprio Uitzilopochtli. Os Astecas
deixavam de ser uma Oligarquia Teocrática para serem uma Monarquia
Teocrática, e o Rei, não poderia ter outro nome senão um em homenagem ao
deus que o nomeara, sendo assim, se chamou Uitziliuitl (Pluma de Colibri).
Mais tarde veremos que esse é Uitziliuitl I, o Antigo.
Uitziliuitl chefiou todos os homens adultos (excetos crianças, idosos e
os quatro sacerdotes) de Chapultepec numa gigantesca investida armada (há
que se notar que o termo gigantesco é curioso, pois numa população de não
mais do que três mil pessoas, o contingente total devia ser algo em torno de
mil homens) contra Colhuacán.
Colhuacán, herdeira também das tradições militares Toltecas, além de
muito mais populosa, levou para guerra um exército muito maior e mais bem
armado do que o Asteca, sendo assim, em poucas horas, arrasou o efetivo de
Chapultepec, cujos poucos sobreviventes recuaram para a cidade, mas
foram seguidos pelos determinados exércitos de Colhuacán.
Chegando em Chapultepec, os exércitos de Colhuacán dizimaram a
população, escravizando a maioria e só concordando em não eliminar os
Astecas, com a condição de que Uitziliuitl se entregasse. E assim foi feito, o
soberano Asteca se entregou e foi levado para Colhuacán, onde morreu na
tábua de sacrifícios.
O Rei de Colhuacán ordenou que os habitantes que haviam sobrado
em Chapultepec (muitos foram levados como escravos para Colhuacán)
fossem divididos em dois grupos. O primeiro grupo poderia continuar na
cidade, enquanto o segundo (cada grupo não deveria ter mais do que
trezentas pessoas) seria obrigado a reiniciar sua marcha.
Sem um Rei, os Astecas voltaram a ser governados por sua elite
sacerdotal, e em marcha, não sabiam para onde ir. Foi então que, em 1325,
um dos quatro sacerdotes, Quauhcoatl (Serpente Águia), teve um sonho
profético com Uitzilopochtli. Neste sonho, o deus lhe dizia que o melhor lugar
par ir era para dentro do lago Texcoco, onde encontrariam ilhas cobertas de
bambuzais. Quauhcoatl deveria se embrenhar no bambuzal e, no lugar onde
avistasse uma águia sentada sobre uma figueira-do-inferno (ou figueira
brava, espécie de cacto que produz figos venenosos) devorando
alegremente uma serpente, ele deveria erguer um templo em honra do deus
e, ao redor do templo, construir sua cidade.
Na manhã seguinte, Quauhcoatl falou com os outros sacerdotes e
mudou o rumo da marcha, dirigindo-a para as ilhas pantanosas do lago
Texcoco, a procura do sinal divino. Qual não foi a surpresa dos Astecas
quando avistaram a cena com a qual o sacerdote havia fundado, sendo
assim, abriram uma clareira e, no local, com os bambus cortados,
construíram um templo e ao seu redor, começaram a erguer uma cidade, a
qual deram o nome de Tenochtitlán, que significa Cidade da
Figueira-do-Inferno.
6.4 – Os primórdios do poderio Asteca:
Situada sobre uma ilhota no lago Texcoco, Tenochtitlán começou a ser
a nova casa dos Astecas, não era muito diferente de Aztlán, pois não tinha
nem sequer água potável, visto que a água do lago Texcoco era saloba.
Nesses primeiros anos (1325 – 1375), a Oligarquia Sacerdotal governou a
cidade, que permaneceu incólume em meio às disputas por hegemonia
ocorridas entre as 28 cidades estabelecidas às margens do lago.
Porém, em 1375, cedendo às pressões de Colhuacán, os sacerdotes
aceitaram como seu soberano um príncipe de sua antiga rival, sendo assim,
Acamapichtli (Punho de Bambu) foi enviado e sagrado governante de
Tenochtitlán. No entanto, receosos de que sua cidade caísse nas mãos dos
inimigos, os quatro chefes de clãs não aceitaram Acamapichtli como um Rei,
com poderes ilimitados como tinha sido Uitziliuitl, mas obrigaram-no a seguir
uma série de normas, dentre as quais estava a de respeitar o conselho
formado pelos quatro sacerdotes. Tiveram aí início o Tlatocan e o cargo de
Tlatoani.
Entre 1375 e 1428, Tenochtitlán teve três Tlatoani, sendo Acamapichtli
sucedido por Uitziliuitl II, que através de seu casamento com Miahuaxihuitl,
princesa de Quauhnahuac (atual Cuernavaca, cidade produtora de algodão)
garantiu para seu povo o algodão para a feitura de roupas mais quentes,
próprias para enfrentar o rigoroso inverno do planalto Mexicano.
Uitziliuitl II foi um Tlatoani esplêndido, sendo sucedido por
Chimalpopoca (Escudo Fumanete), que por sua fraqueza de atitudes, não foi
mais do que um vassalo de Azcapotzalco (cidade herdeira do Império de
Teotihuacán), que, através de batalhas, conseguira impor sua hegemonia às
demais cidades do lago Texcoco, inclusive à própria Colhuacán.
Em 1428, Chimalpopoca foi assassinado por uma conspiração de
Azcapotzalco, que visava implantar um Monarca descendente da monarquia
da cidade em cada uma das cidades da beira do lago Texcoco.
6.5 – O advento de Itzcoatl:
Se cada civilização Antiga tem um governante herói, sem dúvidas o
dos Astecas foi Itzcoatl (Serpente Obsidiana). Ele assumiu o posto de
Tlatoani logo após o assassinato do fraco Chimalpopoca. Quando de sua
sagração, a situação estava calamitosa, a mais poderosa cidade da margem
oriental do lago, a cidade de Texcoco estava sem seu soberano (o famoso
Nezaualcoyotl), que havia sido perseguido por um destacamento de
Azcapotzalco até montanhas no norte, onde estava refugiado, sem ter como
resistir, Tenochtitlán estava com os dias contados, por isso, muitos na cidade
se tornaram partidários da rendição de Itzcoatl a Tezozomoc, soberano de
Azcapotzalco.
No entanto, o Tlatoani Asteca ainda via uma possibilidade para seu
povo. Secretamente, enviou tropas até a montanha onde Nezaualcoyotl se
escondia das tropas inimigas, estas, sendo pegas de surpresa, foram
destruídas e o Rei de Texcoco foi libertado e conduzido em segurança até
sua cidade.
Com seu Rei novamente em casa, a população de Texcoco se animou
e aliou-se a Tenochtitlán, formando um poderoso exército.
Quando os exércitos de Azcapotzalco atacaram Tenochtitlán, as tropas
combinadas dos Astecas e de Texcoco os derrotaram, sendo assim, Itzcoatl
ganhou status de semi-divindade, o que lhe permitiu aumentar ainda mais
seu exército, tendo agora o apoio maciço de sua população (agora por volta
de cinqüenta mil pessoas, dentre os quais um terço em condições reais de
lutar).
Texcoco e Tenochtitlán se reuniram sob o comando de seus
governantes, Nezaualcoyotl e Itzcoatl, e partiram para uma ofensiva direta
contra Azcapotzalco. Chegando na cidade, derrotaram o restante das tropas,
mataram o Rei Tezozomoc e conquistaram-na.
Depois de tamanha proeza militar, Itzcoatl e Nezaualcoyotl resolveram
estabelecer uma aliança permanente para evitar possíveis tentativas de
crescimento de outras cidades. Para ajudar em seu plano, os dois soberanos
convenceram a cidade de Tlacopán, a mais forte dentre as cidades do
planalto Mexicano (aquelas 28 que citei) a se juntar a eles naquela Aliança,
sendo assim, criou-se a chamada Tríplice Aliança, entre Tenochtitlán,
Texcoco e Tlacopán. Juntos os exércitos das três cidades começaram a
expansão de seus domínios impondo pesados tributos às regiões
submetidas. Desses tributos, 2/5 iam para Tenochtitlán, 2/5 para Texcoco e
apenas 1/5 para Tlacopán, pois esta cidade havia ingressado na Aliança
depois e, além do mais, era mais fraca militarmente.
6.6 – A expansão, o Império e as colônias:
Os Astecas, logo após submeterem Azcapotzalco ao seu domínio,
começaram a expandir sua área de poder, formando em pouco tempo, um
verdadeiro Império. Na realidade, um Império não precisa necessariamente
ter um Rei ou Imperador, o que precisa é ter regiões que lhe sejam submissas
e que sejam tratadas com desigualdade em relação ao centro do Império, ou
seja, a região que impõe o domínio.
Entretanto, o Império Asteca tinha muitas características diferentes dos
principais Impérios do Velho Mundo. Pra começar, os Astecas não estavam
nem um pouco interessados em submeter extensas regiões a um domínio
político que seria, além de muito oneroso, muito difícil de ser mantido, ao
contrário, eles queriam apenas obrigar povos distantes a prestar culto a
Uitzilopochtli e Tlaloc, além de pagar tributos à Aliança, sendo assim, os
antigos governantes das regiões conquistadas eram mantidos em seus
cargos, com todos os seus títulos, poderes e pompa, sendo unicamente
obrigados a pagar tributos e prestar culto. De uma maneira aproximada, esta
forma de domínio é parecida com a forma que os EUA mantém sobre
diversos países, pois mesmo não os obrigando a pagar tributos e não os
tendo conquistado pela força das armas (pelo menos não na maioria dos
casos), os EUA fazem pressões financeiras, ameaças de boicotes, ameaças
de invasões, além do controle financeiro exercido através de instituições
como o FMI, a ONU e o Banco Mundial, sendo assim, apesar de os países
manterem sua autonomia política, sua economia fica totalmente dependente
dos EUA, assim como os Astecas faziam com os dominados.
Os tributos eram enviados geralmente em espécie, ou seja, não era
empregada a moeda (sementes de cacau) neste pagamento. Cada região
enviava para a Aliança o que produzia, desde algodão até alimentos, plumas,
pedras preciosas, peles de animais, pedras, madeira, ouro e prata, animais e
até armas. Dependendo do tipo de tributo enviado, a quantidade de vezes por
ano era determinada, podia ser uma vez por anos, duas, três quatro, variava.
Além da semelhança com os EUA, o domínio Asteca também tinha
semelhanças com o Romano, isso porque, apesar de não dominar as regiões
efetivamente (como faziam os Romanos), eles também construíam colônias
militares em pontos estratégicos de seus domínios. Quando os Espanhóis
chegaram, havia mais de trinta colônias militares espalhadas por todo o
México.
Diferentemente das colônias da era Moderna, das quais o Brasil e o
próprio México são exemplos, as colônias antigas, como a Jônia e a
Magna-Grécia dos Gregos, e as diversas praças fortes dos Romanos, não
tinham o objetivo de alcançar lucros, porém, também não eram exatamente
como as colônias do norte do EUA (exceto pela Jônia e Magna-Grécia, que
foram realmente colônia de povoamento), pois elas não tinham a finalidade
de receber pessoas expulsas de seu país natal, ao contrário, elas recebiam
homens que iam morar nelas com suas famílias e viver de sua produção (até
aí semelhante às colônias de povoamento), mas seu intuito era servir o
Império, sendo um forte, bastião em meio às terras dominadas, para impedir
revoltas, fiscalizar o pagamento correto dos tributos e informar alguma
eventualidade com rapidez e eficácia.
6.7 – República sim, Teocracia não:
Acredito que até este ponto do texto, o leitor já tenha compreendido
porque os Astecas eram uma República, no entanto, caso não tenha, agora
explicarei melhor agora e, para os que entenderam, também é interessante a
leitura deste trecho, pois aqui explicarei como Tenochtitlán se tornou uma
República de fato.
De Acamapichtli até Chimalpopoca, Tenochtitlán funcionou
precariamente como uma República, isso porque a autoridade externa, na
ânsia de se fazer valer entre os Astecas, ajudava os Tlatoani a serem mais
poderosos que o Tlatocan, sendo assim, eles acabavam fazendo-se de Reis
e a cidade vivia um meio termo entre República e Monarquia, com oscilações
para ambos os lados.
Com o advento de Itzcoatl, as pressões externas acabaram, mas como
o Tlatoani havia conclamado o povo a lutar, mesmo a contragosto do
Tlatocan, ele havia se fortalecido, o que fez de Itzcoatl um verdadeiro Rei,
amado e respeitado pelo povo como tal.
Porém, com a morte de Itzcoatl, em 1440, o Tlatocan viu uma chance
de restaurar seu poder perdido, sendo assim, quando Motecuhzoma I (O
Arqueiro que Flecha o Céu, ou Aquele que se Zanga como Senhor) assumiu
o cargo de Tlatoani, recebeu muita pressão do Tlatocan para realizar
reformas administrativas. Vendo, porém, que a autoridade do Tlatoani
parecia inabalável, o Tlatocan resolveu apelar para o povo, sendo assim, na
esperança de reaproximando o povo do governo, se livrar do despotismo do
governante.
Sendo assim, o Tlatocan criou o Grande Conselho, do qual faziam
parte a elite militar (para dar o respaldo da força), a elite clerical (para dar os
respaldo dos deuses) e a elite popular (para dar o respaldo das massas).
Com a ajuda do Grande Conselho, o Tlatocan conseguiu obrigar
Motecuhzoma I a se submeter e, além disso, a dividir seu poder com mais
uma pessoa, pois um poder dividido é mais fácil de ser controlado. Cedendo
às pressões, por medo de ser deposto, Motecuhzoma I aceitou o Tlatocan e o
Grande Conselho como órgãos verdadeiramente detentores do poder e
passou a ser, junto com seu irmão Tlacaeleltzin, eleito o primeiro Ciuacoatl, o
representante vitalício desse poder.
As criações do Grande Conselho e do cargo de Ciuacoatl foram
responsáveis por uma sensível diminuição dos poderes do Tlatoani, no
entanto, foram também os verdadeiros responsáveis pela condição
Republicana a qual se submeteu definitivamente o Império e também, por
que não, tenham sido os grandes responsáveis pela manutenção do Império,
uma vez que a organização das outras cidades, governadas por um Rei, não
lhes permitiria uma fácil ascensão, visto que um Rei pode encontrar forte
oposição, enquanto que as decisões do Grande Conselho são irrefutáveis,
pois partem (em termos) do próprio povo, através de seus representantes.
Todas as características acima citadas refletem claramente o fato de o
Império Asteca ter sido uma República, inclusive, em moldes parecidos com
a Romana, onde os Cônsules apenas não tinham mandatos vitalícios, mas
sim anuais, mas onde o poder emanava do Senado, instituição que (pelo
menos em teoria) era representante do povo.
Após a morte de Nezaualcoyotl, em 1472, depois de um governo de 44
anos, Axayacatl (Rosto da Água), o Tlatoani que sucedeu Motecuhzoma I,
em 1469, passou a preponderar dentro da Tríplice Aliança, na verdade, ele
escolheu Nezaualpilli, um dos filhos de Nezaualcoyotl, para suceder o pai,
sendo assim, os Astecas passaram a ditar as regras dentro de Texcoco, que
deixou de ter qualquer poder efetivo para ficar relegada a capital das artes, da
cultura e do direito, este último sendo um prêmio de consolação pela perda
de toda influência político-militar, no entanto, o sumo juiz era o Ciuacoatl de
Tenochtitlán.
Quanto a Tlacopán, ainda no governo de Motecuhzoma I, a cidade
passou a ser relegada a um plano muito inferior ao de Texcoco e
Tenochtitlán, na realidade, passou a ser tratada como uma verdadeira
vassala de Tenochtitlán, não tendo mais nenhuma importância dentro da
Aliança.
6.8 – O apogeu e as Guerras Floridas:
Após o governo de Axayacatl, que se encerrou com sua morte, em
1481, foi eleito Tizoc (Aquele que se Sangra), que teve o mais curto dentre os
cinco grandes governos Astecas: apenas cinco anos.
No governo de Tizoc, houve muitas pressões tanto do Tlatocan, quanto
do Grande Conselho, além de revoltas e descontentamento popular, toda
essa situação confusa dentro do esplendoroso Império levou Tizoc, que
assumiu em 1481, a cometer suicídio em 1486, sendo assim, seu nome lhe
coube como uma luva.
Depois do desastroso governo de Tizoc, o Império se enfraqueceu e
teria desmoronado se não fosse o poder e carisma de Auitzotl (Monstro
Aquático), o novo Tlatoani eleito. Para lhe conceder o medo e o respeito da
população, o governante adotou o nome do monstro que os Astecas
acreditavam que habitava as profundezas do lago Texcoco e que devorava
pessoas que mergulhavam nele (era um mito para explicar o
desaparecimento de alguns corpos de afogados).
Auitzotl (o Tlatoani, não o monstro), teve que reconquistar todas as
regiões que haviam se rebelado no governo de Tizoc, mas além disso,
expandiu muito o Império, deixando-o quase do tamanho que era quando os
Espanhóis chegaram.
O feito mais importante de Auitzotl, no que diz respeito à expansão
militar, foi a fundação da colônia de Xoconochco, uma região muito distante
do corpo Imperial, bem no seio dos territórios Maias, que foi colocada sob a
administração Asteca. Além de a região servir como futura base para uma
futura investida contra o Reino de Tototepec, o vizinho meridional do Império,
ainda servia de estalagem para os negociantes que viajasse além do Istmo
de Tehuantepec e para uma possível investida contra os Maias da península
de Yucatán. Realmente Xoconochco foi a maior conquista Asteca, e teve
grande participação dos Negociantes (Pochteca), que por abrirem caminho
entre os inimigos, possibilitaram a passagem dos exércitos.
Com toda certeza, no governo de Auitzotl, o Império Asteca atingiu seu
apogeu. Nesta época, o exército desenvolveu uma diplomacia militar que se
provou eficiente por várias vezes em evitar batalhas. A diplomacia funcionava
da seguinte maneira: quando a Tríplice Aliança (a esta altura apenas uma
ficção totalmente dominada por Tenochtitlán) desejava dominar uma nova
cidade, então, três destacamentos de embaixadores visitavam a cidade. O
primeiro era composto por oficiais de Texcoco, que faziam à cidade a
proposta de pagar tributos pacificamente à Tríplice Aliança, a segunda, era
uma embaixada de Tlacopán, que recebia a resposta da proposta feita pela
primeira, caso a resposta fosse negativa (o que acontecia na maioria das
vezes), essa missão refazia-a, então, depois de alguns dias, chegava à
cidade uma embaixada de Tenochtitlán, com um grande carregamento de
armas. Esta embaixada recebia a nova resposta e, caso fosse negativa, ela
entregava as armas à cidade (para que esta pudesse se proteger) e marcava
um dia para que a cidade fosse atacada.
No dia marcado, um exército da Aliança chegava à cidade, cercava-a
e, geralmente em pouco tempo submetia-a ao seu domínio.
No governo de Auitzotl o grande templo recebeu sua última ampliação,
ficando da maneira que os Espanhóis o encontraram, também em seu
governo, a capital Asteca atingiu uma população recorde, (segundo Jacques
Soustelle) mais de 500 mil e menos de um milhão de habitantes, ou seja, algo
entre 750 mil habitantes vivendo em ilhas do lago Texcoco, mas como é
possível sendo que uma ilha é um local limitado geograficamente?
Bem, os Astecas desenvolveram uma técnica que utilizaram para
expandir Tenochtitlán consideravelmente, essa técnica consistia em fincar
estacas no fundo do lago, uma bem próxima da outra, de modo a formarem
uma espécie de barragem, depois, a água de dentro da estacas era drenada
e em seu lugar era colocado lodo do fundo do lago, sendo assim, uma ilha
artificial era criada. Nesta ilha (de onde as estacas nunca eram retiradas,
para evitar desmoronamentos), só era possível fazer construções de pedra
no centro, ficando as beiradas reservadas para construções de madeira e
bambu, e também para o cultivo, ou seja, para fazendas. Graça a essa
técnica, Tenochtitlán se expandiu (mesmo na área total da cidade) muito,
chegando a se unir numa cidade só com uma ilha que inicialmente ficava bem
distante: Tlatelolco, o maior mercado do México, anexado a Tenochtitlán por
Axayacatl, em 1469, primeiro ano de seu governo.
Depois da rápida e brutal reconquista e expansão do Império
promovida por Auitzotl, houve um longo período de relativa paz, que fez com
que começassem a rarear os sacrifícios, uma vez que só os escravos eram
sacrificados e, sem guerras, não havia escravos, sendo assim, a República
precisava achar uma saída.
Voltou-se então a atenção para um dos quatro Reinos independentes
(Tlaxcallan, Yopitzinco, Metztitlán e Teotitlán (este último era o único que
mantinha relações amigáveis com Tenochtitlán)) incrustados no coração do
Império: Tlaxcallan.
A exemplo de Tenochtitlán, Tlaxacallan era uma República
Aristocrático-Militar, cuja capital era a cidade de Tlaxcala. Situavam-se
relativamente perto do núcleo Imperial e constituíam a maior e mais perigosa
“clareira” Imperial. Os Tlaxcaltecas, como eram conhecidos os habitantes de
Tlaxcallan eram muito belicosos e hábeis arqueiros e guerreiros. Não se sabe
ao certo se os Astecas nunca conseguiram ou nunca quiseram dominar
Tlaxcallan, o fato é que quando a escassez de escravos para sacrifícios se
iniciou, foi em Tlaxcallan que Tenochtitlán encontrou sua salvação. Em
acordo com os governantes da República, os Astecas organizaram as
chamadas Guerras Floridas, ou seja, disputas com caráter intermediário
entre guerra e competição desportiva, onde o objetivo era apenas capturar
inimigos vivos para o sacrifício, sendo assim, os Tlaxcaltecas capturavam
alguns Astecas para sacrificarem a seus deuses e os Astecas, por sua vez,
capturavam muitos Tlaxcaltecas para suprir a falta de escravos que lhes
afligia.
É possível que mais do que a escassez de sacrifícios, os que tenha
motivado os Astecas a realizarem as Guerras Floridas tenha sido a seca que
se abateu sobre o México, seca esta que foi interpretada como um castigo
divino pela falta de sacrifícios.
É interessante notar que num dia comum em Tenochtitlán, ocorriam
pelo menos dez sacrifícios, às vezes até mais. Em dias de festividades (que
eram freqüentes, pelo menos uma por mês, e havia 18 meses), chegavam a
morrer cerca de mil pessoas nas tábuas de sacrifícios Astecas.
6.9 – Montezuma e a volta de Quetzalcoatl:
Em 1503, depois de grandes façanhas realizadas em 17 anos de
governo, Auitzotl morreu. Para ocupar seu posto, foi eleito seu filho
Motecuhzoma II.
Motecuhzoma II governou o México com pulso de ferro, era um homem
duro, frio, mas ao mesmo tempo temeroso ante seus deuses. Conseguiu se
fazer respeitar como o único soberano do México, desfazendo a Tríplice
Aliança e assumindo para Tenochtitlán as funções das três cidades
definitivamente, colocando, de fato, Texcoco e Tlacopán sob a condição de
suas vassalas.
Motecuhzoma II expulsou de Texcoco Ixtlilxochitl, filho de Nezaualpilli,
e principal pretendente ao trono do pai, pelo simples fato deste não aceitar a
subserviência a Tenochtitlán. Se é que se pode aplicar a Motecuhzoma II a
mesma frase que se aplica a Luís XIV, da França, ele “deitou na cama
preparada por seus antecedentes”, em especial por Auitzotl. De fato, ele foi o
mais poderoso (não em termos de se sobrepor ao Tlatocan e ao Grande
Conselho, coisa que ele nunca fez) governante que o México teve, depois de
Itzcoatl.
Para o povo de Tenochtitlán, era quase uma divindade, não se podia
encara-lo (a menos que se tivesse assento no Grande Conselho), suas
roupas eram inutilizadas após seu uso, tudo o que ele tocava era considerado
imbuído de uma energia pessoal e destrutiva a qualquer outra pessoa e,
portanto, destruído. Quanto às regiões dominadas, eram poucas as que
gostavam de Motecuhzoma II, mas nenhuma ousava desrespeita-lo e, por
não terem ciência da existência do Ciuacoatl, nem tão pouco da organização
política do Império, tomavam-no por Rei, o Rei dos Reis do México.
Porém, o Tlatoani também era muito espiritualizado e, por volta de
1512, começou a receber auspícios de que uma tragédia estava por ocorrer.
O maior medo do governante sempre que Quetzalcoatl retornasse para
usurpar-lhe o poder, talvez por isso, ele tenha tido as visões que as crônicas
Astecas dizem que teve.
Em 1518, coisas estranhas começaram a ocorrer, muitas pessoas
acordavam durante a noite, em Tenochtitlán, com o som de uma mulher
chorando por seus filhos mortos, enquanto isso, Motecuhzoma II avistava um
cometa no céu. Pouco antes dos Espanhóis chegarem, levaram a
Motecuhzoma II um estranho pássaro sem rosto, no lugar de um rosto, o
pássaro tinha um espelho. Ao olhar no espelho, o Tlatoani viu guerreiros
diferentes montando em animais nunca vistos, quando chamou seus
sacerdotes para decifrarem o presságio, o pássaro desapareceu. É verdade
que muitas dessas histórias são posteriores à conquista e provavelmente
frutos da imaginação de indivíduos que vivenciaram o colapso de seu povo,
mesmo assim, deve ser levado em conta que, desde 1492, com a viagem de
Cristóvão Colombo, que a movimentação nas ilhas do Caribe é freqüente.
Primeiro ocorreram contatos, depois a conquista de populações inteiras.
É verdade que os Astecas não tinham contato direto com tais
populações, mas não é impossível especular a respeito de uma
disseminação de informações, uma vez que quase quinhentos anos antes,
quando Tula foi destruída, a notícia se espalhou tão longe que atraiu até
mesmo os próprios Astecas de sua longínqua Aztlán até o México. Sendo
assim, por que uma notícia ainda mais perturbadora; como achegada de
seres estranhos, de pele clara, vindo do mar em embarcações gigantescas,
montando cavalos (que aos olhos de quem nunca os havia visto pareciam
mais bestas infernais) e atirando com estrondosas armas de fogo, capazes
de matar dezenas em poucos instantes; não poderia ter sido disseminada até
uma região nem tão longínqua?
Bem, na verdade há muito que os Astecas sabiam da existência de
fenômenos como o aparecimento de indivíduos estranhos nas costas de
Yucatán, isso porque, Colombo (que morreu na América julgando estar na
Índia), em 1502, cruzou com um barco mercante Maia, carregado de tecidos,
cacau e machados de cobre, além disso, em 1512, dois Espanhóis
sobreviventes de um naufrágio foram parar em Yucatán, onde foram
aprisionados pelos Maias, um destes (de nome Guerrero), inclusive, veio a
ser tornar um “cacique” Maia. Em 1517, uma expedição Espanhola, liderada
por Francisco Hernández de Córdoba, desembarcou na península de
Yucatán, onde foi duramente repelida, sendo que dos 110 integrantes da
expedição, 57 morreram, inclusive o próprio Francisco. Sendo assim, devido
a tantos contatos, é muito pouco provável que os Astecas não estivessem
sabendo das movimentações em suas costas, o que nos comprova que as
ditas visões de Motecuhzoma II poderiam ser no máximo pesadelos
causados pela angústia do inesperado.
Se mesmo com todos os contatos anteriores os Astecas ainda
permanecessem ignorando a movimentação Espanhola, em 1518, pelo
menos, eles deixaram de ignora-la, com certeza, pois uma expedição
liderada por Juan de Grijalva, desembarcou em Tuxpan, cidade litorânea do
império Asteca, onde fez contato com os habitantes que lhe deram objetos de
ouro, como presente, além de proferirem várias vezes a palavra “México!
México!”, ou seja, o nome de seu país, o nome do Império Asteca.
7 – A conquista do México:
Não se sabe se por coincidência, ou por caso pensado, mas a primeira
hipótese é mais provável, os Espanhóis, liderados por Hernán Cortez
desembarcaram em Tuxpan, em 1519, o ano previsto para uma possível
volta de Quetzalcoatl. É bom que se saiba que o número 52 era muito
importante para o culto Asteca, uma vez que além de ser o denominador das
cerimônias do Fogo Novo, ainda era (em outra seqüência de anos) o
denominador da possível volta de Quetzacoatl. Sendo assim, Hernán Cortez
teve uma ajuda extra em sua campanha: o medo e a religiosidade de
Motecuhzoma II.
7.1 – Cortez, o fiel servo de Deus e do Imperador:
Quase tudo o que se sabe sobre Hernán Cortez é devido às cartas que
remeteu a Carlos V, Rei da Espanha e Imperador do Sacro Império
Romano-Germânico (do qual a Espanha fazia parte, aliás, como Rei da
Espanha ele era Carlos I, seu título Carlos V era como Imperador). Foram
cinco cartas no total, sendo que destas, algumas se perderam durante o
tempo, entretanto, a segunda e mais importante permanece intacta, e é ela
que nos conta como Cortez conquistou o Império Asteca.
Pois bem, no dia 10 de fevereiro de 1519, o Capitão Espanhol, depois
de muito insistir com Carlos V, conseguiu a autorização para partir rumo a
conquista do chamado Yucatán (nome pelo qual os Espanhóis designavam
toda Mesoamérica, uma vez que ainda não tinham a plena consciência de
que o Yucatán era apenas uma península desta), e foi o que fez. Deixou
Cuba neste mesmo dia, levando com sigo um exército de porte médio e
relativamente bem armado (508 soldados de infantaria (incluindo besteiros)
16 cavaleiros e 14 arcabuzeiros).
Cortez atingiu primeiramente a própria península de Yucatán, que,
como sabemos, não pertencia ao território Asteca, ao contrário, era habitada
por Maias. Lá, Cortez realizou expedições as quais culminaram na libertação
de Aguilar (um dos dois náufragos que haviam sido presos pelos Maias).
Apenas em abril, o grupo chefiado por Cortez chegou aos domínios
Astecas, desembarcando em Tuxpan, que eles denominara Vila Rica de Vera
Cruz (é importante notar que os Espanhóis tendiam a ignorar o nome
indígena das cidades, sendo assim, rebatizavam-nas com nomes de cidades
da própria Espanha, ou então com nomes que lembrassem riquezas ou
santos da Igreja Católica). De lá, eles rumaram para o sul, tento atingido
Cempoal (que batizaram de Sevilha) e depois uma região onde começaram a
construção de um forte, que depois se tornou a cidade de Vera Cruz (não
confundir com Vila Rica de Vera Cruz).
Com efeito, os Espanhóis permaneceram quatro meses nessas três
cidades, tendo se fortalecido ali para, de lá, iniciarem a conquista do México.
Nos quatro meses em que permaneceram junto a costa, Cortez e os seus
tiveram que impedir a tentativa de Francisco Garay, governador da Jamaica,
de iniciar também uma campanha de conquista daquela mesma região.
Em Vera Cruz, Cortez recebeu enviados de Motecuhzoma II (tais
enviados eram o Uey Calpixqui da região, que vivia na cidade de Cuetlaxtlán
e seus comandados), que lhe deram presentes de todos os tipos, além de lhe
falarem da grandeza e riqueza do Império, bem com de sua capital:
Tenochtitlán.
A visita do Uey Calpixqui aguçou a cobiça do Espanhol que começou a
organizar sua partida em pouco tempo, mandando vir de Cuba e da Jamaica
tudo o que precisasse, além de começar a fazer sua grande descoberta,
aquela que seria fator decisivo para a conquista.
7.2 – A Política de Alianças:
Em suas andanças pela península de Yucatán, Cortez recebeu como
presente várias coisas, dentre elas, algumas escravas (encarregadas de
satisfazerem o apetite sexual dos Espanhóis), dadas pelo chefe de uma
cidade batizada de Tabasco. Dentre estas escravas estava Malintzin (que
depois foi batizada e recebeu o nome de Marina, Cortez se casou com ela e
teve um filho: Don Martín Cortez), a filha de um chefe Maia, que havia sido
escravizada quando caiu prisioneira de um rival de seu pai. A dita índia era
muito inteligente e culta, tanto que falava Maia e Nahuatl (a língua oficial do
Império Asteca). Logo Cortez percebeu que utilizando Aguilar (o
ex-prisioneiro que por ter ficado sete anos em poder dos Maias havia
aprendido sua língua) e Malintzin juntos, ele poderia conversar com os chefes
das cidades tributárias Astecas.
Conversando com os chefes das cidades de Cempoal e Tuxpan (que
como foi dito já haviam sido conquistadas e renomeadas), Cortez percebeu
que eles não seguiam o Império Asteca por amor, por patriotismo, mas sim
que eram vassalos obrigados pela força. Esta descoberta mudou os rumos
da campanha que Cortez estava prestes a iniciar, pois o conquistador
percebeu que poderia utilizar os índios desgostosos do domínio Asteca para
engrossar suas fileiras.
Foi exatamente isso que o Espanhol fez, em 16 de agosto de 1519,
após quatro meses no litoral, ele partiu de Cempoal com destino certo:
Tenochtitlán.
Em sua jornada, Cortez levou 15 cavaleiros, 11 arcabuzeiros, 260
soldados e 40 besteiros, além de alguns senhores principais de Cempoal,
bem como escravos e escravas que lhes faziam comida e prestavam
serviços.
Com este pequeno numerário, iniciou sua marcha, sempre
demonstrando aos nativos um caráter de libertador, de salvador, o que fez
com que dentro em pouco tempo, mais de setecentos índios já o seguissem
como tropas de apoio. Quando estava próximo de Tlaxcallan, mensageiros
de Motecuhzoma II vieram vê-lo e lhe disseram que não passasse pelo meio
daquela região, pois os de Tlaxcallan eram inimigos de sua gente e os
Espanhóis seriam maltratados. Porém, os de Cempoal eram aliados de
Tlaxcallan e, sendo assim, afirmaram que Cortez poderia ir tranqüilamente
por dentro de suas terras. Preterindo o conselho dos mensageiros Astecas
em relação ao de seus aliados de Cempoal, Cortez resolveu ir pelo meio de
Tlaxcallan.
Quando já estava próximo da capital, Tlaxcala, o efetivo do Capitão se
deparou com mais de cinco mil índios Tlaxcaltecas, todos prontos para a
batalha. Os índios começaram a atacar e em pouco tempo mataram dois
cavalos e feriaram outros três, além de ferirem três pessoas. Cortez ficou
apavorado com o fato de estar sendo agredido com flechas e pedras por
selvagens em meio às suas terras, sendo assim, enviou dois senhores de
Cempoal como mensageiros à capital Tlaxcalteca.
Ao cair da noite, os dois voltaram machucados e chorando, dizendo
que tinham sido presos e que só estavam vivos porque tinham conseguido
fugir. Dentro dessas condições de hostilidade, Cortez resolveu atacar os
inimigos e, no dia seguinte, houve nova batalha entre Espanhóis e
Tlaxcaltecas (é interessante que se note que o efetivo Tlaxcalteca nos é
fornecido pelo próprio Cortez, sendo assim, temos fortes razões para
suspeitar que o Capitão exara na quantidade de seus oponentes para, com
isso, engrandecer sua vitória). Cortez e seus aliados indígenas venceram a
batalha e durante a noite queimaram povoados, fazendo mais de
quatrocentos prisioneiros. No outro dia, mais de 150 mil (difícil de acreditar
num número tão grande) índios de Tlaxcallan atacaram o acampamento
Espanhol, sendo que chegaram mesmo a enfrentar os Espanhóis e seus
aliados no combate corpo-a-corpo. Mais difícil de acreditar é o fato de que em
apenas quatro horas, os Espanhóis dominaram a situação, expulsando os
inimigos todos e, o mais incrível, sem sofrer nenhuma perda, ou qualquer
dano (é óbvio que o contingente inimigo era muito menor do que o relatado,
com certeza, deveria ser, no máximo, sete ou oito mil, ainda assim um
número fabuloso, visto que os Espanhóis e seus aliados juntos não
chegavam a 1500).
Em represália a tal atitude, Cortez continuou invadindo povoado à noite
e queimando casas. Depois de queimarem dez povoados, os de Tlaxcallan
vieram pedir trégua. Porém era apenas uma trégua falsa, na medida em que
o que desejavam realmente era fazer os Espanhóis acreditarem em sua
lealdade e, numa noite atacarem e destruírem-nos. Porém, Cortez descobriu
o plano e além de cortar as mãos de cinqüenta índios, como forma de aviso,
ainda fez com que os homens de Sicutengal, um general de Tlaxcala
batessem em retirada, com medo de seus cavalos. Depois disso, o Capitão
Espanhol realizou uma marcha triunfal por toda Tlaxcallan, fazendo-se
aceitar como aliado e, por fim, recebeu vassalagem da capital, Tlaxcala, indo
se estabelecer lá.
7.3 – La Noche Triste:
Como já se sabe, Tlaxcallan não pertencia ao Império Asteca, sendo
uma República inimiga deste e incrustada em seu coração. Na região
existiam cerca de quinhentos mil guerreiros (mais ou menos 1,5 milhão de
habitantes). A capital, Tlaxcala, é descrita por Cortez como sendo a segunda
mais bela cidade do México (perdendo apenas para Tenochtitlán, que a essa
altura, ele ainda não conhecia, mas que, como veremos, veio a conhecer
depois). Devido ao ódio que os Tlaxcaltecas alimentavam em relação aos
Astecas, em pouco tempo, a conquista do Império se tornou uma empresa
Hispano-Tlaxcalteca.
Depois de alguns dias hospedado em Tlaxcala, nos quais ficou se
recuperando da marcha e das sucessivas batalhas, Cortez resolveu
recolocar-se em posição de marcha. Foi seguido, além de seus antigos
seguidores, por cerca de cem mil índios de Tlaxcallan, dos quais, apenas seis
mil foram realmente determinados a segui-lo até Tenochtitlán.
No caminho para Tenochtitlán, os Espanhóis (já tendo deixado
Tlaxcallan) foram recebidos em Churultecal (ou Cholula), onde a mando de
Motecuhzoma II, haviam armado uma emboscada, porém, Cortez descobriu
e conseguiu se desvencilhar, fazendo a cidade também se tornar sua aliada.
Saindo de Churultecal, o Capitão retomou sua marcha para a capital
Asteca, agora guiado por mensageiros do próprio Motecuhzoma II, que,
apesar de terem pedido desculpas pelo ocorrido, continuavam a rogar aos
Espanhóis que não fossem a Tenochtitlán, sempre afirmando que a cidade
era muito pobre e que Cortez e os seus iriam passar necessidades nela.
Cortez, no entanto, continuava determinado em ir até lá e, em 8 de
novembro de 1519, finalmente chegou a Tenochtitlán. Logo na entrada da
cidade foi recebido por Motecuhzoma II, que o saudou beijando o chão.
Cortez presenteou-o com um colar de diamantes e foi presenteado com um
colar de ouro. O Tlatoani Asteca conduziu os Espanhóis até seu palácio (que
fora construído por Axayacatl), onde estes se instalaram e onde
Motecuhzoma II se tornou uma espécie de prisioneiro de Cortez.
O Capitão entendeu por bem manter o Tlatoani Asteca livre, mas
vigiado de perto, de modo que não pudesse dar nenhuma ordem nem
preparar nenhuma emboscada sem que os Espanhóis soubessem
(entendamos que Cortez não conseguiu perceber a verdadeira organização
política Asteca, sendo assim, acreditava que Motecuhzoma II (a quem ele
chamava Montezuma) fosse um Imperador com caráter divino, assim como
os Faraós do Egito antigo).
Motecuhzoma II impediu que os seus tomassem qualquer tipo de
atitude contrária aos Espanhóis, pois tinha a plena convicção de que se
tratavam de enviados de Quetzalcoatl (uma vez que Cortez sempre dizia que
vinha em nome de Carlos V, seu grande senhor, Imperador ao qual todos se
curvam, Motecuhzoma II acreditou que Carlos V fosse Quetzalcoatl e que
Cortez fosse seu enviado). Para essa crença, contribuíram várias coisas, por
exemplo, a proibição da realização de sacrifícios humanos pelos Espanhóis
(como vocês devem se recordar, Quetzalcoatl proibia sacrifícios, os quais só
se generalizaram quando este foi expulso por Tezcatlipoca), a destruição dos
ídolos Astecas e a sua substituição por imagens de Cristo e Nossa Senhora
(as quais os Astecas não conheciam e julgavam ser de Quetzalcoatl, uma vez
que não havia uma padronização para a representação das entidades divinas
dentro do Império, sendo que cada cultura as representava de uma forma),
além da confirmação de Cortez, pois este, assim que soube que
Motecuhzoma II o confundira com seu deus, fez com que acreditasse que
estava certo, ou seja, que Carlo V era Quetzalcoatl e que ele, Cortez, era seu
enviado.
Por quase oito meses esta situação perdurou, ou seja, Motecuhzoma II
preso e acreditando piamente que seus algozes eram divindades e os
Espanhóis, por sua vez, roubando tudo de valioso que encontravam.
No final de maio de 1520, Cortez teve que sair de Tenochtitlán,
deixando lá muito dos seus, chefiados por Alvarado. O motivo que levou o
Capitão a deixar a capital Asteca foi a chegada, a Vera Cruz, de Pánfilo de
Naváez, um enviado de Diego Velásquez, para conquistar o que Cortez já
havia conquistado. Cortez foi combater seu adversário, o qual não levou
muito tempo para neutralizar e expulsar.
Porém, enquanto Cortez estava fora, Alvarado, temeroso do clima de
insatisfação que havia se instalado entre a aristocracia Asteca devido ao
longo cativeiro de seu Tlatoani, acabou por cometer um grave erro. No
começo de junho, os Astecas se reúnem para celebrar a festa de
Uitzilopochtli, a principal festa divina de Tenochtitlán, sendo assim, saem às
ruas com suas roupas de festa e realizam uma grande procissão. Alvarado
pensou que as plumas e a procissão indicassem uma movimentação no
sentido de atacar os Espanhóis, sendo assim se lançou contra o povo,
realizando uma grande matança.
Sem saber, Alvarado matou muitos membros do Grande Conselho, o
que provocou a tristeza geral do povo e a indignação do Ciuacoatl e do
Tlatocan. Estes se reuniram na mesma noite, junto com o que restou do
Grande Conselho e depuseram Motecuhzoma II, acusando-o de colaborar
para o fim do Império. Para o seu lugar, nomearam Cuitlahuac, seu irmão,
que junto com seu filho, Cuauhtemoc (eleito Tlacateccatl, ou seja, o membro
do Tlatocan que é responsável pelo comando das tropas), iniciou um ataque
maciço à base dos Espanhóis.
Cuauhtemoc sempre fora um guerreiro, antes de ter sido eleito para o
Tlatocan, havia sido um grande Guerreiro-Jaguar, sendo muito respeitado e
amado pelos exércitos. Sendo assim, sob sua liderança, os Astecas
destruíram quase todas as pontes que ligavam Tenochtitlán às margens do
lago (o que impedia os Espanhóis de fugirem) e começaram a sitiar o castelo
de Axayacatl (onde Motecuhzoma II e os Espanhóis estavam alojados).
Quando soube do ocorrido, Cortez (que já havia derrotado Narváez)
retornou às pressas para Tenochtitlán, onde teve que forçar sua entrada.
Chegando lá, não sabia que Motecuhzoma II havia sido deposto (inclusive,
nem mesmo Motecuhzoma II sabia), sendo assim, pediu a ele que fosse ao
oratório do palácio falar a seu povo, pedir que parassem os ataques.
Motecuhzoma II foi, mas antes mesmo que começasse a falar, foi recebido
por uma chuva de pedras e por gritos de “traidor, traidor”. As pedras atingiram
Motecuhzoma II na cabeça e, em apenas dois dias, ele morreu. Pensando
que seu ato demonstraria sua grandeza e pacificaria os Astecas, Cortez
entregou o corpo do soberano morto aos membros do Tlatocan. Estes;
juntamente com Cuitlahuac, o novo Tlatoani; receberam o corpo e aceitaram
a trégua.
Cortez, pensando que havia pacificado a cidade, retornou para o
palácio de Axayacatl e ordenou que seus mensageiros fossem levar as boas
novas para as cidades onde ele havia deixado Espanhóis, porém, os
mensageiros foram capturados antes mesmo que pudessem sair da capital e
retornaram ao palácio, todos feridos, para dizer a Cortez que os Astecas
retomavam a ofensiva.
O palácio foi cercado e, com flechas incendiárias, começou a ser
alvejado. Em pouco tempo estava em chamas. Os Espanhóis conseguiram
apagar o fogo e expulsar os Astecas, porém, ficaram resumidos apenas ao
castelo de Axayacatl (que estava num estado de semi-ruína depois do cerco
que sofrera). Construíram máquinas de guerra e tentaram pacificar a cidade,
mas depois de sofrerem sucessivas derrotas, perderem muitos homens e
cavalos, além de já estarem quase sem água, comida e munição, os
Espanhóis resolveram armar um plano de fuga, precisavam abandonar
Tenochtitlán, pois os Astecas pretendiam mata-los de fome e sede, presos
dentro de seu castelo.
Hernán Cortez ordenou a construção de uma ponte móvel, de madeira,
que seria carregada por diversos homens (cerca de 40), esta ponte seria
colocada sobre as parte quebradas das pontes originais, para assim os
Espanhóis poderem passar.
Quando a ponte ficou pronta, no dia 30 de junho, eles resolveram fugir.
Passaram por algumas pontes, mas apenas Cortez e sua comitiva principal
(algo em torno de vinte homens) conseguiram deixar Tenochtitlán passando
por ela. Os demais tiveram que sair a nado. Devido ao grande peso de suas
armaduras e do ouro que carregavam nos bolsos, muitos se afogaram,
outros, por ficarem para trás, foram trucidados pelos exércitos de
Cuauhtemoc. Menos de cem Espanhóis (e 24 cavalos) sobreviveram
(morreram 150 Espanhóis, 45 cavalos e 2000 Tlaxcaltecas) ao que ficou
conhecido como “La Noche Triste”, ou seja, “A Noite Triste”.
Saídos de Tenochtitlán, os Espanhóis foram para Tlacopán (que os
Espanhóis batizaram de Tacuba), onde contasse que Cortez teria sentado
embaixo de uma árvore e chorado. Reagrupados, Cortez e seus homens
deram conta das baixas, além disso, perceberam que muitos estavam feridos
(o próprio Cortez perdeu os movimentos da mão esquerda em decorrência de
uma flechada) e que os cavalos não eram mais capazes de correr, apenas de
andar, pois também estavam feridos.
Os Espanhóis costearam o lago Texcoco no sentido horário até
chegarem a Tlaxcala, onde foram acolhidos. A campanha de conquista do
Império Asteca teria sido toda perdida se, em Tlaxcala, Cortez não tivesse
encontrado o apoio dos Tlaxcaltecas, dos Otomi e de Ixtlilxochitl (aquele que
Motecuhzoma havia afastado da sucessão de Texcoco) e seus aliados.
7.4 – A Ditadura Asteca:
Cuitlahuac, o sucessor de Motecuhzoma II, governou apenas oitenta
dias, pois morreu em decorrência de uma epidemia de varíola que se instalou
em Tenochtitlán depois da volta de Cortez (Cortez trouxe consigo muitos
reforços, mais armas, mais cavalos e mais escravos, dentre eles, um escravo
negro, de Cuba, que estava com varíola; o escravo morreu logo, mas os
índios, que não tinham anticorpos para a doença, começaram a morrer dela
também).
Com a morte de Cuitlahuac, o exército aclamou Cuauhtemoc como seu
novo governante. Visto que a situação era calamitosa, ninguém fez menção
de impedir sua indicação, o que contrariava as regras da República Asteca,
onde o Tlatoani era escolhido pelo Grande Conselho e governava sempre
tendo que ouvir a este e ao Tlatocan, além de dividir seu poder com o
Ciuacoatl. Porém, Cuauhtemoc era muito carismático, é inclusive descrito por
cronistas da conquista como sendo o índio mais altivo do México, o que fez
com que suas decisões fossem tomadas como lei, e não discutidas ou
questionadas.
Com efeito, o governo de Cuauhtemoc foi muito semelhante a uma
Ditadura Romana, ou seja, um governo absoluto, no qual a palavra do
governante é a única lei, mas que se instala apenas em épocas de
calamidades profundas.
7.5 – A Águia que Tomba:
Curiosamente, o nome de Cuauhtemoc significava: “A Águia que
Tomba”, o que mais parecia um sinal dos deuses, pois em seu governo, o
Império cairia definitivamente.
O novo Tlatoani organizou a cidade para produzir num ritmo de guerra,
enviou mensageiros para todas as cidades que compunham o Império, com a
seguinte mensagem: “Todos os que ajudarem os Astecas na guerra contra os
invasores serão liberados dos tributos por dois anos”. Além disso, o
governante deu maior ênfase ao exército.
Porém, Cuauhtemoc não pode conter a epidemia de varíola, nem suprir
a falta de água potável (visto que os Espanhóis destruíram os aquedutos que
a levavam para Tenochtitlán), além disso, as populações dominadas
continuavam a ver os invasores como libertadores, e não como
conquistadores que estavam prestes a destruírem suas culturas e retirarem
sua liberdade, sendo assim, não deram ouvidos aos apelos do Tlatoani
Asteca.
Cortez reuniu de novo seus homens, conseguiu aumentar suas tropas,
comprar mais cavalos e canhões, além disso, trouxe mais arcabuzes e muita
pólvora. Com a ajuda da mão-de-obra indígena, construiu treze navios nos
quais colocou os canhões e, com eles, realizou o cerco à capital Asteca.
Além dos tiros de canhão, os Espanhóis realizaram vinte reides em
apenas 96 dias à própria cidade, sendo expulsos pela resistência indígena
em todos.
Quando finalmente, no dia 13 de agosto de 1521, no vigésimo ataque
que faziam a Tenochtitlán, os Espanhóis finalmente conseguiram aniquilar as
tropas Astecas, marchar pela capital e fincar sua bandeira no topo do Grande
Templo, ficaram horrorizados com o que viram: por onde passavam, havia
cabeças de Espanhóis, seus aliados indígenas e de cavalos; todas fincadas
em estacas e dispostas ao longo das ruas principais.
7.6 – Motivos que possibilitaram a conquista:
Além da superioridade tecnológica gritante que os Espanhóis
possuíam em relação aos Astecas; com armas de fogo e de ferro, contra
arcos e flechas e armas de sílex e madeira; também há que se levar em conta
outros fatores, talvez até mais importantes do que as armas em si.
Na realidade, o fato de as armas Espanholas serem melhores, não
garantira sua vitória, pois o efetivo dele era infinitamente menor e, mesmo
que os nativos estivessem totalmente desarmados, ainda assim não
poderiam ter sido derrotados apenas pelas armas dos conquistadores. Com
certeza a política de alianças de Cortez foi um dos maiores trunfos dos
Espanhóis (sendo posteriormente, em 1532, copiada por Francisco Pizarro
na conquista do Tawantinsuyu (o Império Inca)). Além da política de alianças,
que trouxe para o lado dos Espanhóis todos os povos descontentes com a
dominação Asteca, existem outros fatores menores:
O emprego de animais em combate, pois os Espanhóis utilizavam,
além dos cavalos (que lhes conferiam maior agilidade e poder contra
infantarias), ferozes cachorros, que eram soltos no campo de batalha e, além
de aterrorizarem os índios, faziam grande estrago, pois eram treinados para
matar.
Outro fator, foram as técnicas de batalha, uma vez que os Astecas
lutavam para fazer prisioneiros, que sacrificavam depois, enquanto que os
Espanhóis lutavam para matar o maior número de indivíduos, o que é muito
mais fácil e rápido do que a captura em massa. Além disso, a ingenuidade
dos tributários Astecas foi importante, pois para eles, os Espanhóis eram
apenas mais um povo lutando contra o domínio de um antigo Império, como
os próprios Astecas já tinham feito antes, quando derrubaram o crescente
Império de Azcapotzalco. Porém, os Espanhóis não queriam tornar os índios
apenas seus tributários, mas queriam destruir sua religião (impondo-lhes o
Catolicismo, tido como única verdade), destruir sua cultura (fazendo-os
meros dominados da cultura Européia) e escravizar seu povo (fazendo-os
trabalhar em suas minas de ouro e prata).
Além desses fatores todos, deve-se ressaltar mais dois: a crença de
Motecuhzoma II de que os Espanhóis eram enviados de Quetzalcoatl, o que
o impediu de impor resistência aos conquistadores. E a guerra biologia
inconsciente que os Espanhóis travaram com os índios, expondo-os a
diversos tipos de doenças que, para eles, eram desconhecidas (tais como a
varíola, a gripe, a sífilis, a tuberculose, dentre outras) e, para as quais não
tinham anticorpos.
Todos esses fatores, em maior ou menor grau, mas todos juntos,
contribuíram para a conquista do Império Asteca, tornando-a possível.
7.7 – O que aconteceu depois da conquista:
Após a conquista de Tenochtitlán, Cortez ordenou sua destruição,
como um exemplo a todos os que se atrevessem a contrariar os desejos de
Carlos V. Cuauhtemoc foi preso e mantido como Tlatoani até 1525, pois
Cortez julgava que seria mais fácil conquistar uma região unificada por um
governante do que várias regiões divididas.
Os Astecas jogaram todo o ouro que possuíam no fundo do lago
Texcoco, para impedir os conquistadores de pegarem-no. Mesmo assim, a
tomada de Tenochtitlán foi muito lucrativa para os Espanhóis, pois eles
encontraram as listas de tributos dos Astecas, o que lhes forneceu uma rota
segura para as regiões produtoras de ouro e prata, ficando as regiões
produtoras de outras coisas, em segundo plano na conquista.
Em 1522, todo o Império Asteca já estava nas mãos da Espanha e
Cortez foi nomeado o Governador e Capitão-Geral da Nova Espanha (como
foi batizado o Império Asteca após sua conquista).
Em 1527, os Espanhóis iniciaram a conquista da península de
Yucatán, na qual sofreram com a ferrenha resistência Maia, estes só se
renderam e foram dominados definitivamente em 1546.
A Nova Espanha se estendeu até o Novo México (atual estado dos
EUA) e o Arizona, onde os índios impuseram uma forte resistência à
dominação, só sendo exterminados muito tempo depois, pela marcha de
expansão dos EUA.
Em 1535, a Nova Espanha deixou de ser uma Capitania para se tornar
um Vice-Reino, sendo nomeado Dom Antônio de Mendonza como primeiro
Vice-Rei da Nova Espanha.
No lugar onde se situava a cidade de Tenochtitlán, foi erigida a Cidade
do México (realização da drenagem de boa parte do lago Texcoco), que se
tornou a capital da Nova Espanha. Por ter sido edificada sobre o solo
pantanoso do fundo do lago Texcoco, a Cidade do México apresenta, hoje,
uma extrema fragilidade, podendo desabar com qualquer tremor de terra.
Cuauhtemoc foi obrigado a ver sua capital ser destruída e, em seu
lugar, edificada uma cidade nos moldes Europeus, além de toda a tristeza a
que foi submetido, ainda acabou enforcado na praça principal da Cidade do
México, em 1525.
7.8 – O pensamento após a conquista:
Antes da conquista do México, os Espanhóis só haviam se deparado
com populações indígenas Neolíticas, o que os havia feito pensar que os
indígenas eram pouco mais do que macacos. Sendo assim, a doutrina de
Juan Ginés de Sepúlveda, um clérigo Espanhol, havia se disseminado.
Segundo Sepúlveda, os índios, assim como os negros, não tinham almas,
não eram passíveis de salvação, não eram filhos de Deus, o que permitia sua
escravização.
Porém, depois da conquista do Império Asteca e dos povos Maias de
Yucatán (o que aconteceu simultaneamente a descoberta e início da guerra
contra os Incas, no Tawantinsuyu), um outro clérigo, o Frei Bartolomé de Las
Casas, escreveu um livro: “Brevíssima Relação da Destruição das Índias”,
também chamado de: “Paraíso Destruído”. Neste livro, Las Casas nos mostra
que a organização social desses grandes povos americanos era, em muitos
casos, superior a organização dos Europeus, além disso, eles possuíam
sistemas capazes de concentrar populações gigantescas (Tenochtitlán, na
época da conquista era, provavelmente, a segunda maior cidade do mundo,
perdendo apenas para Chang’an, na China).
A teoria de Las Casas fez com que mudasse a visão Européia sobre os
indígenas americanos sendo proibida sua escravização pela Igreja. Não é
conveniente aqui, neste texto, entrar nos outros méritos que levaram a Igreja
Católica a proibir a escravização indígena, mas é certo que o lucrativo tráfico
negreiro (do qual a Igreja se beneficiava também), influenciou na sua decisão
de proibir a escravização dos ameríndios, pois assim, os colonizadores
(cristãos que eram) seriam obrigados a importarem os negros da África,
enriquecendo, dentre outros, a própria Igreja.
Porém, pode-se dizer que a teoria de Las Casas, fundamentada na
existência de tais civilizações, pelo menos deu o respaldo para a Igreja poder
realizar tal proibição, além de ter poupado muitos índios (porém não a
maioria, apenas uma minoria visto que os Espanhóis, que nunca levaram
muito a sério a proibição da Igreja, inventavam subterfúgios como as
encomiendas, haciendas e (no caso do Peru) as mitas, para escravizar os
índios, sem que eles ostentassem o título de escravos) da escravidão.
8 – Bibliografia:
- ABREU, Aurélio M. G. de. Civilizações que o mundo esqueceu.
- BENSON, Elizabeth, COE, Michael e SNOW, Dean. A América
Antiga: Mosaico de Culturas. Vol. 1, in Grande Impérios e Civilizações.
- BETHELL, Leslie (org.). História da América Latina. Vol. 1. América
Latina Colonial.
- CORTEZ, Hernán. O Fim de Montezuma: Relatos da Conquista do
México.
- CROSHER, Judith. Os Astecas.
- FIEDEL, Stuart J.. Prehistoria de América.
- GENDROP, Paul. A Civilização Maia.
- GÖÖCK, Roland. Maravilhas do Mundo.
- LAS CASAS, Frei Bartolomé. Brevíssima Relação da Destruição das
Índias (Paraíso Destruído).
- LAZZAROTTO, Valentim e PILETTI, Nelson. História & Vida: As
Américas.
- SOUSTELLE, Jacques. A Civilização Asteca.
- Vários. Grande Enciclopédia Delta Larousse. Vol. 8.
Obs.: Além dos referidos livros, utilizei-me de sites encontrados com a
ajuda de sites de busca, nos quais utilizei como palavras-chave: Astecas,
Aztecs, Asteca, Aztec, Maias, Mayans, México, Mexico, Cortez e Conquistas.
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