Campo de forças

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Campo de forças
Noção de campo, em vez de forma. Um campo não é feito de unidades, mas de
direções moventes. Não tem início nem fim, mas um meio, pelo qual cresce e
transborda. Ao contrário de uma estrutura, que se define por um conjunto de pontos e
posições, o campo é feito só de linhas (de estratificação, mas também de
desterritorialização). Procede por variação, expansão, conquista, captura. É um
sistema a-centrado, não hierárquico e não significante.
Um corpo não é feito de objetos parciais, mas de velocidades diferenciais. Plano em
que as coisas só se distinguem pela velocidade e a lentidão, o movimento e o repouso,
o retardo ou a rapidez com que se compõem. A velocidade e a lentidão subordinam
não só a forma da estrutura, mas também os tipos de desenvolvimento. Neste plano
agitam-se os elementos não formados, que só se distinguem pela velocidade e entram
em determinado agenciamento em função de suas conexões, de suas relações de
movimento.
A questão não é de organização, mas de composição. Pensar um mundo percorrido por
elementos informais de velocidade relativa, parcelas infinitas de uma matéria
impalpável que entram em conexões variáveis. Um diagrama: uma composição de
velocidades e afetações sobre este campo, diferente do plano das formas, das
substâncias e dos sujeitos. A relação estática forma-matéria se contrapõe à relação
dinâmica material-forças.
Território é uma operação de demarcação de distâncias. Mas a distância crítica não é
uma medida, é um ritmo. Outro esquema anuncia-se aqui: em rede. Não uma forma
ou estrutura, mas uma articulação. Um conjunto fluído, sem evolução linear, mas
densificações,
intensificações
e
atos
intercaladores.
Intervalos,
repartições
de
desigualdades e vazios. Superposição de ritmos díspares, sem imposição de medida.
Assim é que o espaço liso infiltra-se na polis, espaço estriado. Trata-se de se distribuir
pelo espaço, tomar o espaço, guardando a possibilidade de surgir num ponto qualquer.
O movimento não vai mais de um ponto a outro, mas é perpétuo, sem origem nem
destino.
O espaço liso é o de menor intervalo, de pontos infinitamente próximos. Um espaço de
pequenas ações de contato, tátil, não visual. Um campo sem condutores ou canais.
Multiplicidades descentradas, não-métricas, ocupando o espaço sem medi-lo. Não
podem se observadas visualmente de um ponto do espaço exterior à elas. O espaço
liso é um meio sem horizonte, como o deserto ou o mar. Não existem distância
intermediária, perspectiva ou contorno.
Espaço amorfo, informal. O intervalo toma tudo. No espaço liso, a linha é um vetor,
uma direção, não uma dimensão ou determinação métrica. Um espaço construído por
operações locais com mudanças de direção. Espaço direcional, não dimensional.
Ocupado mais por acontecimentos do que por formas. Espaço de afetações, onde os
materiais assinalam forças. Intensivo mais do que extensivo, de distâncias, não
medidas.
O espaço liso não comporta fundo nem contorno, mas mudanças direcionais e ligações
de partes locais. Linha abstrata de variação, em banda, espiral, S e zigzag, que escapa
à geometria, sem traçar contorno nem delimitar forma. Como o espaço, continuamente
estriado, desenvolve outras forças e aflora novos espaços lisos?
Textos de Gilles Deleuze, em:
Mille Plateaux, ed. Minuit, Paris, 1980.
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