CORAÇÃO DE MENTIRA Apparício Silva Rillo Na invernada do meu peito tem mágoas de todo o pêlo, sendo a saudade o sinuelo dessas mágoas que falei; dizem que um homem não chora, mas o pranto não tem hora e o coração não tem lei. Tudo por causa da china que se chamava Ninita, um pecado de bonita, dava gosto de faceira; sobrinha do velho Chicho, dono daquele bolicho no Passo da Carreteira. Fomos felizes demais! Mas o destino - carancho! pousou na porta do rancho golpeando traiçoeiro. Não há junco que não quebre, Ninita morreu de febre num dia seis de janeiro. No tronco da guajuvira que dá sombra na cancela, eu gravei o nome dela e ao redor um coração. O tempo, que nos consome, não apagou este nome nem descorou a inscrição. Quando a mágoa me esporeia quando pialo a verdade! - Que além de minha saudade daquele amor só ficou no tronco da guajuvira um coração de mentira que a minha faca gravou!