Protocolo de condutas do Hospital São Luiz Hemorragias do terceiro trimestre Drs. Maurício Waissman e Fúlvio Basso Filho As hemorragias representam importante causa de mortalidade materna não só no Brasil como também em países desenvolvidos. Seu diagnóstico preciso acompanhado de hospitalização e terapêuticas de transfusões sanguíneas vêem melhorando o prognostico nessas circunstâncias. As principais patologias causadoras de hemorragias do terceiro trimestre são: Placenta Prévia Descolamento Prematuro de Placenta Rotura de seio Marginal Rotura de vasa prévia Lesões cervicais, cervicites, pólipos e ca de colo uterino Lesões vaginais e vulvares Algumas das patologias acima podem ser diagnosticadas apenas com exame físico em consultório ou em pronto socorro. 1. Placenta prévia É a placenta inserida no segmento inferior do útero. Sua incidência é de 0,3 a 1,75% das gestações. É classificada em: Placenta prévia centro-total: quando a placenta recobre totalmente o orifício interno do colo do útero. Placenta prévia centro-parcial: quando a placenta recobre parcialmente o orifício interno do colo do útero. Placenta prévia marginal: quando a borda placentária margeia o orifício interno do colo do útero Placenta prévia lateral: Embora implantada no segmento inferior do útero não alcança o orifício interno do colo. São fatores etiológicos associados a placenta prévia: idade materna avançada, multiparidade, curetagens repetidas, cirurgias uterinas, cesáreas anteriores, gemelaridade, história pregressa de placenta prévia e tabagismo. Quadro clínico é caracterizado por: sangramento genital indolor sem causa aparente, de coloração vermelha viva, reincidente e de gravidade progressiva. Os defeitos da coagulação são excepcionais. A placenta prévia pode estar associada com a placenta acreta, increta e até percreta. O diagnóstico é baseado no quadro clínico associado ao exame ultrassonografico pélvico e/ ou transvaginal. Deve-se evitar o toque vaginal. Quando realizado exige ambiente onde seja possível realizar uma intervenção de emergência. Conduta: A conduta é definida de acordo com a idade gestacional e condições maternas e fetais. Gestação pré-termo com sangramento discreto: internação, controle de sinais vitais maternos, controle de sangramento vaginal, controle de vitalidade fetal. Deve-se administrar corticóides entre 28 e 34 semanas ( vide protocolo). Gestação pré-termo com hemorragia grave: resolução do parto por cesárea. Gestação de termo (36 semanas): resolução do parto por cesárea. Nas placentas prévias marginais ou laterais em trabalho de parto e em condições clinicas e hemodinâmicas estáveis a interrupção pode ser via baixa, com rigoroso controle materno e controle de vitalidade fetal. Em placentas prévias centro totais mesmo com feto morto a interrupções é por cesárea. Todas essas pacientes exigem cuidados especiais no pós-parto imediato, sendo prudente encaminha-las á Unidade de Terapia Intensiva. 2. Descolamento prematuro de placenta É a separação da placenta de sua inserção normal antes da expulsão fetal. A incidência é variável de acordo com cada serviço, apresentando uma média de 1/ 200 partos. A etiologia do descolamento prematuro da placenta ainda é desconhecido, mas existem algumas condições associadas com essa patologiatais como: idade materna, multiparidade, síndromes hipertensivas, descompressão uterina abrupta, traumas abdominais externos, tumores uterinos (leiomiomas), malformações uterinas , tabagismo, uso de drogas estupefacientes endovenosas (cocaína), patologias maternas outras que provoquem lesão vascular, trombofilias e antecedentes de descolamento em gestação anterior. O quadro clínico é caracterizado por dor súbita e intensa principalmente em localização de fundo uterino. Esse quadro normalmente vem acompanhado de perda sanguínea ( 80% dos casos ). Também a paciente queixa-se de parada da movimentação fetal. Ao exame obstétrico nota-se aumento do tônus uterino (hipertonia), algumas vezes associado a hiperatividade uterina (polissístolia), ao toque a bolsa das águas geralmente é tensa e ainda os batimentos cardíacos fetais são de difícil ausculta ou mesmo podem estar ausentes. Do ponto de vista clínico a paciente pode apresentar sinais de pré-choque ou choque hipovolêmico que às vezes não condizem com a perda sangüínea vaginal. E ainda alguns sinais indiretos de CIVD podem aparecer como petéquias, equimoses e hematomas. O diagnóstico é eminentemente clínico. Em algumas circunstâncias o ultra-som pode auxiliar no diagnóstico e a cardiotocografia pode sugerir a presença de descolamento frente a determinados achados. Conduta: Os cuidados vitais maternos devem ser rápidos: Cateterização venosa de acordo com a gravidade utiliza-se cateter periférico ou intracath Sondagem vesical para avaliação do volume urinário e indiretamente da função renal. Oxigênio úmido em máscara aberta Monitorização contínua da pressão arterial, freqüência cardíaca e diurese. Avaliação laboratorial da intensidade da anemia através da Hemoglobina e Hematócrito Avaliação da coagulação: teste de Weiner (formação e dissolução de coágulo), coagulograma completo com plaquetas (plaquetas inferior a 100.000 mm e TTPA elevado são sinais de CIVD), fibrinogênio plasmático (quando menor que 100mg% indica coagulopatia de consumo). Avaliação da função renal : uréia, creatinina e débito urinário ( oligúria quando se observa débito inferior a 25 ml/ hora em 4 horas e/ ou menos de 400 ml em 24 horas ). Avaliação metabólica e de função respiratória pela gasometria arterial. Reposição volêmica o mais precoce possível e a medida do necessário com cristalóides, papa de hemácias, plasma fresco, crioprecipitados e plaquetas. Após estes cuidados inicias deve-se decidir quanto à conduta obstétrica: Feto vivo maior de 26 semanas, resolução via alta. Feto vivo menor de 26 semanas ou feto morto, após avaliação materna, amniotomia, indução do parto com ocitocina e misoprostol (prostokos) até 2 horas, se não parto cesárea. Sempre tomar cuidados especiais com o pós-operatório dessas pacientes que podem evoluir com necrose tubular renal aguda e Síndrome de Sheehan (alterações necróticas e isquêmicas da hipófise). Rotura uterina Caracteriza-se pela rotura do segmento uterino, causando uma grave hemorragia interna. O diagnóstico é clínico. Resolução via alta de imediato. Referências bibliográficas: 1.Bernáth T., Carvalho MHB, Martinelli S, Kahhale S, Zugaib M. Mortalidade materna: as hemorragias no ciclo grávido-puerperal. Ver. Ginec & Obst. 12(3), 135-41, 2001. 2. 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