Humanismo • O Humanismo é um momento de transição entre o mundo medieval e o moderno. Assim, o projeto literário humanista não tem características completamente definidas: o velho e o novo convivem, provocando uma tensão que se evidencia na produção artística cultural • Em linhas gerais, essa produção será marcada pelo abandono da subordinação absoluta à Igreja Católica e pelo resgate dos valores clássicos. Essa nova visão investe na capacidade de o indivíduo controlar o próprio destino, aparecerá nas obras literárias e artísticas do período, preparando a sociedade europeia para a grande revolução estética que virá com o Renascimento. • A obra de Dante Alighieri (1265-1321) e de Francesco Petrarca (1304 – 1374), poetas italianos, constituiu a base para o desenvolvimento da literatura no período humanista e serviu de inspiração para artistas de outros países • Escrita por Dante Alighieri "A Divina Comédia" tornou-se a obra máxima da literatura medieval. Foi escrita em três partes, Inferno, Purgatório e Paraíso, numa viagem alémtúmulo, onde Dante é o personagem principal. • A Divina Comédia é formada de três partes, Inferno, Purgatório e Paraíso. Cada parte é composta de 33 cantos. Um canto que serve de introdução perfaz um total de 100 cantos. Dante é o personagem principal do poema. A obra foi concebida como uma viagem ao além-túmulo. O Inferno começa numa selva escura onde o poeta se encontra perdido. Vem ao seu encontro Virgílio, encarregado por Beatriz de guiar seu amado através do Inferno e do Purgatório. Percorrendo o Purgatório, Dante e Virgílio encontram-se numa ilha perdida no meio do oceano, do outro lado do mundo. Nela se ergue a montanha do Purgatório e no cume a bela floresta do Paraíso. • • • Prata partiu da Divina Comédia, de Dante Alighieri, para narrar a história de um bancário chamado Dante, casado com Gemma, amigo de um poeta chamado Virgílio, que recebe uma mensagem de Paris, onde sua ex-amada Beatriz confessa que está retornando ao Brasil. O retorno é frustrado por um acidente e logo depois Dante recebe outra mensagem da moça, onde informa que o purgatório é seu novo endereço. “Nessa peça eu quero falar do pecado, do prazer, da culpa. Coloquei no purgatório todos os personagens interessantes e apaixonantes, de Marilyn Monroe a Teotônio Vilela, de James Dean a Flávio Márcio e até a orquestra inteira de Glenn Miller. Para lá vão todos os que viveram com prazer na Terra. O Inferno é mais ou menos igual, só que no dia seguinte, após cada noite de festa, as pessoas têm de acordar cedo, tomar engov e vestir ternos cinzentos pra trabalhar. E o Céu também é muito chato: lá só tem japoneses, aquela freirinha que cantava Dominique, o Pequeno Príncipe, o castíssimo São José: Até Jesus Cristo prefere ficar no Purgatório, por causa das companhias agradáveis.” Edmar Pereira Jornal da Tarde, 13/01/84 • O público das trovas e canções produzidas durante o humanismo é essencialmente o mesmo das cantigas dos trovadores: os nobres. • Aos poucos, porém, o perfil desse público começa a mudar. Com o investimento da burguesia na aquisição de cultura e com a maior facilidade de produção e circulação do livro, um número de pessoas passa a ter • Acesso à produção literária, antes restrita aos ambientes da corte. Essa mudança, porém, é lenta e só será consolidada durante o Renascimento. • A grande novidade da literatura humanista, é a adoção do soneto como forma poética fixa. Essa forma poética conquistará o gosto da elite, para acomodar, em uma estrutura fixa, o novo olhar indagador, analítico, que procura explicar racionalmente os sentimentos humanos. • Uma consequência dessa intenção humanista ficará evidente na seleção de imagens trabalhadas em poemas da época. Partes do corpo humano – geralmente olhos e coração – são mencionados nos poemas para ilustrar os efeitos do amor. • • • • • Acho que me deu Deus tudo para mais meu padecer: os olhos – para vos ver, coração - para sofrer, e língua – para ser mudo. • Olhos com que vos olhasse, coração que consentisse, língua que me condenasse: mas não já que me salvasse de quantos males sentisse. • Assi que me deu Deus tudo para mais meu padecer: os olhos - para vos ver, coração - para sofrer, e língua - para ser mudo. • Sousa, Francisco de.Era medieval. • A metonímia ocorre quando se opta por utilizar uma palavra em lugar de outra. Pode ser empregada em várias situações. Uma delas é quando a parte é utilizada para representar o todo. Nas cantigas do Humanismo, os poetas recorrem às metonímias para melhor ilustrar os efeitos do amor no eu lírico. • Esse mesmo procedimento também utilizado para mostrar como determinada parte do corpo feminino simboliza todas as qualidades da mulher louvada no poema. • Destaca-se nessa produção o teatro de Gil Vicente, que faz um retrato vivo da sociedade portuguesa da época. Fernão Lopes • Cronista-mor do reino em 1434, é considerado o marco inicial do Humanismo português. Sua função era registrar, em crônicas, a história dos reis que governavam Portugal. Ele permaneceu no cargo até 1454 e escreveu três crônicas: • Crônica de El-Rei D. Pedro I- compilação e crítica dos principais acontecimentos do reinado de D. Pedro I. Retrata o episódio da morte de Inês de Castro, amante do Rei, assassinada a mando de D. Afonso, pai de D. Pedro. • Crônica de El-Rei D. Fernando: reconstituição do período que se inicia Com D. Fernando com Dona Leonor Teles e encerra-se com a revolução de Avis. • Crônica de El-Rei D. João: dividida em duas partes, a primeira começa com a morte de D. Fernando, em 1383, e termina com a revolução que leva D. João I ao trono português, na segunda parte é descrito o reinado de D. João até 1411. • A poesia palaciana consistia em composições coletivas, produzidas para serem apresentadas no Paço Real. • Os poemas palacianos apresentaram muitas inovações em relação ao Trovadorismo, principalmente no tratamento do tema amor, agora apresentado de modo menos idealizado. • Esses poemas foram compilados pelo poeta Garcia Resende em um único volume o Canioneiro geral de 1516. O teatro de Gil Vicente • Na idade Média, as peças de teatro eram todas de caráter religioso e costumavam ser apresentadas no pátio das igrejas e dos mosteiros. Quando o Paço Real adquire maior importância, torna-se o centro da movimentação cultural e é lá que as peças serão encenadas. A atividade teatral se intensifica e passa a abordar temas mais variados. • Em Portugal, o grande nome do teatro no Humanismo é Gil Vicente. Em 71 anos de vida, estima-se que tenha escrito cerca de 44 peças. Sua primeira peça foi em homenagem à rainha D. Maria pelo nascimento de seu filho, o futuro rei D. João III • As peças de Gil Vicente têm caráter moralizante e procuram tematizar os comportamentos condenáveis e enaltecer as virtudes. • A religião católica é tomada como referência para a identificação das virtudes e dos erros humanos. Mas, embora critique o comportamento mundano de membros da Igreja, a formação medieval faz com que as críticas de Gil Vicente sejam sempre voltadas para os indivíduos, jamais para as instituições religiosas. • Sem fazer distinção entre os segmentos da sociedade, o teatro vicentino coloca no centro da cena erros de ricos e pobres, nobres e plebeus. O autor denuncia os exploradores do povo, como o fidalgo, o sapateiro e o agiota do Auto da barca do inferno; ridiculariza os velhos que se interessam por mulheres mais jovens, na farsa O velho da horta. • Um recurso muito explorado por Gil Vicente é o uso de alegorias, ou seja, de representações , por meio de personagens ou objetos, de ideias abstratas, geralmente relacionadas aos vícios e virtudes humanas. • As alegorias facilitam o reconhecimento, por parte da platéia, do vício ou da virtude a que o texto quer fazer referência. Assim, no Auto da barca do inferno, o agiota traz consigo uma bolsa cheia de moedas que representa, alegoricamente, a sua ganância. • AUTOS PASTORIS (ÉCLOGAS): Gênero a que pertence algumas das primeiras obras do autor. Algumas dessas peças têm caráter religioso, como o Auto pastoril português; outras, profano, como o Auto pastoril da serra da Estrela. • AUTOS DE MORALIDADE: • Gênero em que Gil Vicente se celebrizou. Suas peças mais conhecidas são autos de moralidade, como é o caso da Trilogia das barcas (Auto da barca do inferno, Auto da barca do purgatório e Auto da barca da glória) e do Auto da alma. • FARSAS: • Peças de caráter crítico, utilizam como personagens tipos populares e desenvolvemse em torno de problemas da sociedade. As mais populares são a Farsa de Inês Pereira e a que vê no casamento a sua chance de ascensão social e a Farsa do velho da horta que ridiculariza a paixão de um velho casado por uma jovem virgem. • Preocupado com a correção dos costumes, Gil Vicente adotava como lema uma famosa frase de Plauto, dramaturgo latino: “rindo, corrigem-se os costumes”. • Gil Vicente escolhia como argumento para uma peça uma situação facilmente reconhecida pela plateia, como a do velho que se apaixona por uma mulher muito jovem (O velho da horta), para ridicularizar o comportamento condenado pelos valores da época. • O riso desencadeado pelas cenas revelava que o público identificava e censurava uma conduta socialmente inadequada. Assim, ao mesmo tempo que as peças vicentinas divertiam a nobreza, também contribuíam para educá-la.