SEMINÁRIO TEOLÓGICO MIZPÁ 2016 INTRODUÇÃO BÍBLICA PROF. PR JÚNIOR Aulas 14 – INTERPRETAÇÃO AO LONGO DO TEMPO Introdução É comum vemos os mais diferentes grupos de cristãos de hoje em dia alegando a sim mesmos a real e verdadeira intepretação da Bíblia. Na verdade, o processo que apura a melhor forma de interpretar o texto bíblico tem sido fonte de muitas controvérsias ao longo dos séculos e, mesmo hoje em dia, tais controvérsias ainda existem. É sempre bom aprendermos a compreender qual são os fundamentos que circundam as intepretações que recebemos dos textos bíblicos porque cada um deles reflete uma escola diferente, ou seja, todo intérprete tem pressupostos para suas interpretações, e há muitos que sequer são conscientes disto. SEMINÁRIO TEOLÓGICO MIZPÁ 2016 INTRODUÇÃO BÍBLICA PROF. PR JÚNIOR Aulas 14 – INTERPRETAÇÃO AO LONGO DO TEMPO Introdução Já vimos conceitos de revelação e inspiração, o processo de cópias e reprodução dos textos. Já vimos, também, a produção de traduções, versões do texto bíblico e literatura explicativa dos textos, assim como o surgimento de literatura que procurava superar os desafios culturais e temporais fornecendo uma interpretação direta (as paráfrases). Agora, passamos a ver como o texto bíblico é interpretado ao longo da história, mas nos ateremos ao cristianismo oficial e não à outras formas de cristianismo (gnóstico) e ao judaísmo. SEMINÁRIO TEOLÓGICO MIZPÁ 2016 INTRODUÇÃO BÍBLICA PROF. PR JÚNIOR Aulas 14 – INTERPRETAÇÃO AO LONGO DO TEMPO Escola Patrística – Primeiro período de interpretação Durante o primeiro período, podemos identificar pelo menos três escolas diferentes: Alexandria, Antioquia e de Exegese Ocidental. 1. Alexandria Foi a soma do neoplatonismo com a soma da filosofia popular, que deu ao interpretação bíblica o caráter alegórico. Os gregos que influenciaram esta forma de interpretação foram Homero e Filo. Os principais representantes desta escola são Clemente de Alexandria e Orígenes. Para eles a interpretação alegórica era a única verdadeira. SEMINÁRIO TEOLÓGICO MIZPÁ 2016 INTRODUÇÃO BÍBLICA PROF. PR JÚNIOR Aulas 14 – INTERPRETAÇÃO AO LONGO DO TEMPO Escola Patrística – Primeiro período de interpretação Por causa do conceito platônico de que o homem é corpo, alma e espírito, Orígenes, que foi discípulo de Clemente e o superou em erudição, disse que a interpretação deveria ser literal, moral e o místico ou alegórico. 2. Antioquia Doroteu e Lucio são seus primeiros representantes, mas seus discípulos são os mais famosos: Teodoro de Mopsuéstia e João Crisóstomo. SEMINÁRIO TEOLÓGICO MIZPÁ 2016 INTRODUÇÃO BÍBLICA PROF. PR JÚNIOR Aulas 14 – INTERPRETAÇÃO AO LONGO DO TEMPO Escola Patrística – Primeiro período de interpretação Teodoro era mais liberal e exegeta e Crisóstomo cria na infalibilidade e era muito forte no púlpito (crisóstomo significa ¨boca de ouro¨. Deram caráter mais cientifico à hermenêutica buscando o sentido literal e real do texto. Sua interpretação já seria histórico-gramatical. 3. Exegese Ocidental Hilário, Ambrósio, Jerônimo e Agostinho são seus principais representantes e eles tem o peso da escola alegórica e a influência siríaca, que atribui relevância à tradição. SEMINÁRIO TEOLÓGICO MIZPÁ 2016 INTRODUÇÃO BÍBLICA PROF. PR JÚNIOR Aulas 14 – INTERPRETAÇÃO AO LONGO DO TEMPO Período da Idade Média 500-1000 D.C Nenhuma hermenêutica foi desenvolvida por considerarem o conteúdo muito obscuro e difícil. Ficaram sobretudo com a Vulgata latina e diziam: ¨aprenda o que deve crer e depois procure na Bíblia¨, ou seja, a Bíblia devia se adequar a tradição, ou seja, o que os Pais da Igreja já tinham desenvolvido. O sentido quadrúplo das Escrituras foi largamente utilizado, que era: a) literal – o que o texto significa; b) tropológico – sentido figurado; c) alegórico – correlações entre o texto e a realidade; d) analógico – o que podia ser aplicado às pessoas. SEMINÁRIO TEOLÓGICO MIZPÁ 2016 INTRODUÇÃO BÍBLICA PROF. PR JÚNIOR Aulas 14 – INTERPRETAÇÃO AO LONGO DO TEMPO Período da Idade Média 500-1000 D.C Os documentos gerados mais importantes no período medieval foram: 1. GLOSSA ORINÁRIA E GLOSSA INTERLINEARIS – interpretações muitas vezes contraditórias do texto bíblico. 2. CATENAE – de Procópio de Gaza e de Tomás de Aquino, um encadeamento de ideias do período patrístico. 3. LIBER SETENTARIUM – de Pedro Lombardo. Foi um pouco além de simplesmente compilar textos porque acrescentou comentários próprios. SEMINÁRIO TEOLÓGICO MIZPÁ 2016 INTRODUÇÃO BÍBLICA PROF. PR JÚNIOR Aulas 14 – INTERPRETAÇÃO AO LONGO DO TEMPO Período da Reforma – Século XVI E XVII O sentido quadruplo foi abandonado, o conceito da inspiração veio com toda a força e a visão da Bíblia como um documento orgânico e não mais meramente mecânico, prevaleceu. Passaram a lidar mais com o grego e hebraico do que com o latim. A) Lutero - enfatizou o sentido literal, do julgamento particular, a necessidade de enfatizar o contexto e encontrar Cristo em todas as Escrituras. B) Melanchton – entendimento gramático antes do sentido teológico. As Escrituras tem sentido claro e simples. SEMINÁRIO TEOLÓGICO MIZPÁ 2016 INTRODUÇÃO BÍBLICA PROF. PR JÚNIOR Aulas 14 – INTERPRETAÇÃO AO LONGO DO TEMPO Período da Reforma – Século XVI E XVII C) Calvino - o maior deles, manteve o que Lutero e Melanchton pensavam. Achava o método alegórico satânico. Para ele, devemos deixar o autor falar primeiramente. Reduziu a ideia de que, por exemplo, todos os Salmos sejam de algum modo messiânicos. D) Católicos romanos – não produziram nada neste período, mas questionaram o juízo particular do texto. Mantiveram a ênfase na tradição, à Vulgata Latina e que a liderança da igreja seria, também, ao lado da obra patrística, padrão de intepretação. SEMINÁRIO TEOLÓGICO MIZPÁ 2016 INTRODUÇÃO BÍBLICA PROF. PR JÚNIOR Aulas 14 – INTERPRETAÇÃO AO LONGO DO TEMPO Período Confessional Séc. XVII e XVIII Após a Reforma, o velho fermento voltou a aparecer na forma da Dogmática, buscando texto como prova de doutrinas. A) Socianos – a Bíblia deve ser interpretado apenas à partir de princípios racionais. A Razão é o critério. B) Coccejus – descontente com a interpretações da época, exagerou na interpretação tipológica do texto. Segundo ele, as palavras da Bíblia sempre tem uma gama muito grande de significados. SEMINÁRIO TEOLÓGICO MIZPÁ 2016 INTRODUÇÃO BÍBLICA PROF. PR JÚNIOR Aulas 14 – INTERPRETAÇÃO AO LONGO DO TEMPO Período Confessional Séc. XVII e XVIII C) Pietistas – cansados dos debates dos protestantes, afirmaram que o estudo da Bíblia deve ser mediada pelo Espírito, mas com isto, encontravam significados nos textos que de fato não eram apropriados. SEMINÁRIO TEOLÓGICO MIZPÁ 2016 INTRODUÇÃO BÍBLICA PROF. PR JÚNIOR Aulas 14 – INTERPRETAÇÃO AO LONGO DO TEMPO Período Crítico-histórico Séc. XVIII e XX Este período enfatiza o fator humano na composição da Bíblia. Houve muito questionamento e avalição dos conceitos de inspiração do texto, ou seja, como ele havia sido escrito. Estabeleceu-se um distanciamento da tradição e da dogmática como condição sine qua non do exegeta e hermeneuta. Duas escolas antagônicas surgiram: a Gramatical e a Histórica. A) Gramatical – de Ernesti. Dizia que deve-se abandonar o sentido múltiplo e manter apenas o literal. A Bíblia deve ser lida como um texto que segue regras de gramática. As palavras do texto são a fonte legítima da interpretação. SEMINÁRIO TEOLÓGICO MIZPÁ 2016 INTRODUÇÃO BÍBLICA PROF. PR JÚNIOR Aulas 14 – INTERPRETAÇÃO AO LONGO DO TEMPO Período Crítico-histórico Séc. XVIII a XX B) Histórica – com Semler. Para ele o texto bíblico era historicamente condicionado e contendo erros e contradições refletindo conceitos sem importância para tempos posteriores, ou seja, não eram normativos. Assim, o critério era racional e a Bíblia seria apenas um referencial moral. Este período suscitou reações e novas escolas, que podemos dividir em três escolas diferentes: 1. Ala racionalista; 2. Ala de reação dupla ao racionalismo; 3. tentativas de ir além do sentido gramático-histórico. SEMINÁRIO TEOLÓGICO MIZPÁ 2016 INTRODUÇÃO BÍBLICA PROF. PR JÚNIOR Aulas 14 – INTERPRETAÇÃO AO LONGO DO TEMPO Período Crítico-histórico Séc. XVIII a XX 1. Ala racionalista - Heidelberg, Strauss e Baur. Fidelidade à razão, a Bíblia como um livro mítico, a Bíblia como produto das rivalidade entre o grupo petrino e paulino. 2. Reação dupla ao racionalismo – a escola mediadora de Scheielemacher também desdenhava do conceito da inspiração plenária verbal, mas falava do caráter divino do texto, mesmo negando o AT. Já a escola de Hengstenberg aceitava a inspiração e o caráter infalível das Escrituras. SEMINÁRIO TEOLÓGICO MIZPÁ 2016 INTRODUÇÃO BÍBLICA PROF. PR JÚNIOR Aulas 14 – INTERPRETAÇÃO AO LONGO DO TEMPO Período Crítico-histórico Séc. XVIII a XX 3. Tentativas de ir além do sentido gramático-histórico – Kant diz que apenas o sentido moral é também religioso. Olshausen que Deus está se revelando na Escritura e temos que encontrar este sentido mais profundo. Germar fala do sentido panharmônico das Escrituras. T. Beck promoveu a interpretação pneumática ou espiritual por meio da fé, analogia fide. SEMINÁRIO TEOLÓGICO MIZPÁ 2016 INTRODUÇÃO BÍBLICA PROF. PR JÚNIOR Aulas 14 – INTERPRETAÇÃO AO LONGO DO TEMPO O que nos é mais comum hoje? A intepretação atualmente, nos círculos mais conservadores, tem adotado um tripé: literatura, história e teologia. Em certo sentido é uma união entre o método histórico-gramatical, mas resguardado dos elementos racionais do liberalismo teológico, e o peso da Teologia com sua tradição interpretativa, esquivando-se o quanto possível de interpretações anacrônicas. Literatura – tradução, interpretação gramatical, leitura canônica... História - contexto, influências culturais... Teologia – patrística, teologia sistemática e dogmática, teologia bíblica, análise diâcronica, uso na homilética...