Jornal do Brasil Rio de Janeiro 5 de dezembro de 1996 A DANÇA MILENAR DE KARUNAKARAN O Primeiro Plano (GNT/Globosat?Net) de hoje traz, às 22h, uma entrevista com o ator-dançarino indiano Kalamandalan Karunakaran, um dos maiores representantes do Kathakali, espécie de teatro dançado que narra as epopéias da Índia através da mímica. Karunakaran ficou conhecido no Ocidente por ter trabalhado com o cineasta inglês Peter Brook na preparação do corpo dos atores do clássico indiano Mahabharata, que conta a história do nascimento de todas as divindades indianas. No programa, a entrevista com o dançarino é intercalada com trechos de sua apresentação no Rio, no Teatro Carlos Gomes, durante o Primeiro Encontro Internacional do Corpo na Dança e no Teatro. O evento foi organizado pelo Instituto de Pesquisa, Arte, Corpo e Educação Angel Vianna na última semana de novembro. Esta foi a primeira vez que o dançarino veio à América Latina. Na apresentação filmada pelo Primeiro Plano, Karunakaran demonstra exercícios do Kathakali e, depois, narra a epopéia hindu Poothana Mokshan (A salvação de Poothana), sobre a história do demônio Poothana, que se redime após ter tentado matar o bebê Krishna, sobrinho do rei Kamsa. Segundo a tradição, Krishna é uma divindade, “o iluminado que desce à terra”. Em A Salvação de Poothana, oráculos prevêem ao rei Kamsa que seu sobrinho vai assassiná-lo. Por isso, o rei pede a Poothana para matar Krishna ainda bebê. A epopéia é toda contada através da linguagem corporal. Karunakaran, ao mesmo tempo que conta a história, encarna vários personagens. O teatro Kathakali surgiu na Índia há mais de três séculos. A técnica pode expressar, apenas com os músculos da face e das mãos, sem o uso das palavras, textos com uma extensão 17 vezes maior do que a Bíblia. Karunakaran se formou pela escola de Kathakali de Nova Déli, Índia. Na entrevista, ele conta que estudava cerca de 16 horas por dia. Os alunos de Kathakali começam a ensaiar aos 12 anos e se formam por volta dos 20 anos. A dedicação ao estudo, exagerada para os padrões ocidentais, se justifica pela exigência da técnica, que movimenta todos os músculos do corpo. Como o Kathakali é um teatro extremamente plástico, a máscara facial é muito trabalhada. Karunakaran diz que, dependendo do papel, leva mais de cinco horas para se maquiar. Na maquiagem, cada cor tem uma simbologia, assim como cada gesto. O Primeiro Plano, que se dedica à exibição e discussão da arte de vanguarda, tem reprise às sextas, às 15h, e aos sábados, às 19h.