Teatro Grego - Grupos.com.br

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Teatro Grego
ORIGEM DO TERMO
O Brasil foi descoberto, oficialmente, a 22 de Abril do ano de 1500, por Pedro Álvares
Cabral, navegador português, sendo colonizado, basicamente, por este povo.
Por esta informação, infere-se que, à parte da cultura aborígene, recebemos nossos valores,
mesmo que adaptados às condições da terra, diretamente de Portugal; sendo, portanto,
necessário socorrer-se às mesmas fontes que formaram o patrimônio intelectual lusitano, a
fim de encontrar-mos nossas próprias raízes. Assim, localizaremos nossa busca na Grécia,
ou melhor, na Civilização Helênica, mãe da atual Grécia e de nossos mais elevados ideais
artísticos, intelectuais, políticos e que tais.
O termo “teatro” vem do grego “theatron”, forma derivada do verbo “ theomai” (ver) e do
substantivo “thea” (vista), no sentido de “panorama”. Hoje, “teatro” tanto pode significar a
“arte teatral” como o edifício onde esta arte pode ser exercida. Na Grécia Antiga,
“theatron” designava o “lugar onde se vai para ver”.
Mesmo que consideremos a Grécia como “berço do teatro” há precedentes a serem
considerados. Deixemos, portanto, temporariamente de lado o Teatro Grego, ao qual
forçosamente haveremos de retomar mais adiante, para pesquisarmos o surgimento do
senso artístico na alma humana, visitando a...
PRÉ-HISTÓRIA (do Teatro)
É dificílimo, perdão, é absolutamente impossível precisar o momento exato do nascimento
do teatro, bem como de qualquer manifestação artística ( excetuando-se, obviamente, as
formas mais modernas da arte, como o cinema...). Porém é possível especular-se e acabar
por intuir a seqüência em que surgiram as expressões do sentimento.
Da observação do mundo que o cercava, o homem pré-histórico deduziu que haviam forças
superiores às suas em constante ação ( chuva, vento, sol, etc.) . Assim, a ausência de chuvas
por um largo período, por exemplo, causava a sede e sua conseqüência mais imediata, além
do próprio sofrimento da falta d’água, era a morte ou migração dos animais que
alimentavam o homem, bem assim a destruição da vegetação. Que poderia então fazer o
nosso ancestral? Tentar chamar novamente a chuva, imitando esta ao cair, seus ruídos, seus
movimentos, etc. Desta primitiva pantomina, sumariamente descrita, surgiria a dança. E,
desta forma, acompanhando a evolução, porém sempre de cunho religioso, nasceriam as
demais formas de arte, como facilmente se conclui. Ao narrar os feitos de seu deus, de
forma solene e cerimoniosa, o “sacerdote” estaria dando forma á poesia épica, e assim por
diante. A partir destas especulações pode-se concluir que, ao narrar as proezas de um deus,
ao mesmo tempo imitando, ou seja, representando a história, como julgava Ter ocorrido, o
homem estava inventando o Teatro.
Mas, tudo isso é apenas conjectura. Só começamos a caminhar em terreno mais firme
quando temos em mãos documentos; os quais, retratando seu tempo, transmitem-nos fatos.
E essa documentação começa a surgir por volta de 4.000 a.C., com o aparecimento da
escrita, que marcou o fim da pré-história. Vejamos, então, estes primeiros povos; as...
CIVILIZAÇÕES PRÉ-HELÊNICAS
Nos povos que se organizaram antes do surgimento da cultura helênica vamos, também,
encontrar o teatro; calcado especialmente nos ritos religiosos, demonstrando a evolução da
incipiente forma teatral pré-histórica, esta arte foi conhecida de povos tão distantes e
diferentes como os egípcios, hindus e chineses.
No Egito dos faraós, o teatro (bem como outras manifestações artísticas, como de resto, em
todo o Mundo Antigo) se prestava às homenagens aos deuses, especialmente Ísis e Osíris.
Arqueólogos descobriram provas de que já era praticado nesta terra desde,
aproximadamente, 3.200 a.C.. E, mais, há registros dos ritos e coreografias usadas nestas
celebrações, escritos estes que se destinavam à transmissão destas técnicas para as gerações
futuras.
Cerca de 1.500 a.C. os Árias, povo guerreiro, invadem a Índia, escravizando os nativos,
porém, em contrapartida, introduzindo a técnica do uso de ferro, a criação de cavalos e,
mais importante, um idioma definido, o sânscrito. E é nesta língua que são transcritas as
crenças hindus, formando o seu livro sagrado, os Vedas, e suas grandes epopéias
( Mahabharata e Ramayana). Estas inscrições mitológicas formaram e informaram as
primeiras realizações teatrais do povo hindu.
Já, na China, há controvérsias quanto à época em que teriam sido registradas as primeiras
atividades teatrais. Contudo, a tradição atribui a invenção do teatro chinês ao imperador
Wan-Te, no ano de 580 a.C. . Evidentemente, antes da “invenção” do imperador, o teatro já
existia, calcado em antiquíssimas pantominas e nos bailados populares. Porém, logo o
teatro chinês passou das realizações religiosas à evocação dos feitos militares e outros
acontecimentos; abandonando, assim, as procissões e ritos para dar lugar à forma teatral
propriamente dita.
Além destas, já citadas, também podemos encontrar primárias manifestações teatrais no
Oriente Médio. É, por exemplo, o caso da Assíria, que prestava, com cantos e danças,
homenagens, especialmente, aos deuses Melcart, Baal, Moloc e Astarté. As pesquisas
levam a crer que tenham recebido influência egípcia, quanto à forma destas atividades.
Também, os hebreus possuíam algo parecido, como nos mostra a Bíblia, onde, inclusive
pode-se encontrar um texto bastante próximo daquilo que imaginamos ser o teatro antigo:
trata-se do “Cântico dos Cânticos”, cuja autoria é atribuída ao rei Salomão.
Assim, temos um sucinto painel que nos mostra, principalmente, que o teatro não é uma
forma de expressão de um povo ou de uma cultura, mas a necessidade inerente ao ser
humano. E nosso próximo tópico é aquele que, ao que tudo indica, recebeu, também,
alguma influência no Egito; falamos do teatro na...
A GRÉCIA
A Grécia Antiga é, efetivamente, o berço de nossa tradição teatral; não apenas a brasileira,
mas de todo o ocidente. Por quê? Qual a força desta atividade naquele povo que, após
tantos séculos, ainda nos impregna?
Talvez a resposta esteja na grandiosidade de seus textos, os quais ainda são remontados,
analisados, pesquisados, adaptados, frutos que são da sensibilidade de grandes dramaturgos
que encontraram todas as condições para exercer sua arte, amparados pelo Estado e
respeitados pelo povo, como nunca mais se viu na história. Não há comparação com os
dramaturgos financiados pelos mecenas, nem o reconhecimento de nossos atuais
teatrólogos pelos, assim chamados, meios de comunicação de massa, formadores de opinião
pública, mas sempre de olho no mercado.
Antes de prosseguirmos, é bom que se esclareça: o que hoje chamamos de “Grécia Antiga”
nada tem a ver com a concepção que temos atualmente deste Estado. O povo que habitava,
principalmente, a porção de terra que conhecemos como Grécia era organizado em cidades-
estado, as “polis”. Assim, Atenas não era capital senão de si mesma, possuindo cada
“ polis” um governo soberano. Porém, para maior compreensão, continuaremos a nos
referir à Grécia como um todo.
A raiz do teatro grego está, também, na atividade religiosa. Podemos, com segurança,
apostar seu surgimento ligado ao culto de Baco, ou Dioniso. ( Baco, ao contrário do que
muitos afirmam, não é o nome romano de Dioniso. Baco é um termo grego e significa “ ser
tomado de um arrebatamento místico, de um delírio, de embriaguez”. O “Bacchus” latino é
uma transliteração.) Esse era o deus do vinho e, por extensão, protegia a vegetação, a
atividade agrícola, a fecundidade ( a princípio do solo, depois , do homem), sendo cultuado,
primitivamente, por camponeses. Anualmente eram realizadas, como para outros deuses, as
festas em honra a Baco; com largo consumo de vinho e a conseqüente alegria que este
proporciona. Com grande aceitação popular, este deus contava com três festejos principais:
em Janeiro, nos campos; fins de inverno, nas montanhas; meio da primavera, nas cidades,
cada uma desta manifestações guardando características próprias, fins determinados, não
confundido-se entre si.
Porém, algo havia em comum: todas comportavam procissões, nas quais muito se canta e
dançava. Estas procissões dirigiam-se ao tímele, ou altar de Dioniso. Lá declamavam-se os
poemas líricos, chamados “ditirambos”, improvisados, que além dos louvores ao deus,
relatavam suas alegrais e dissabores. No tímele realizava-se o sacrifício de um bode, animal
consagrado ao Dioniso. Temos aí o quadro geral, a partir do qual começa a nascer o teatro
grego.
É da procissão dionisíaca que nasce o Coro, do qual trataremos adiante. O Coro era
chefiado pelo corifeu, que recitava a estrofe do ditirambo, cabendo ao coro a antístrofe. Os
ditirambos, a princípio improvisados, foram compostos pela primeira vez por Árion, por
volta de 625 a. C. . O papel de “respondedor” que tocou ao corifeu foi criado por Téspis,
que pela primeira vez apresentou-se como “hipócrites” ( aquele que responde). A figura do
“Hipócrites” deu lugar, posteriormente, e por iniciativa do próprio Téspis, ao que tudo
indica, ao protagonista ( protos = principal, agonista = ator).
O corifeu, na recitação do ditirambo, vestia um traje feito com a pele do animal consagrado
a Baco, o Bode ( “tragos”, em grego). A Antístrofe destes versos, como já dissemos, ficava
a cargo dos demais participantes da procissão ( “komos”, em grego). A estas palavras
adicionamos o termo “oidos” ( ode, canto) e temos “tragos-oidos” ( tragédia) e “komosoidos” ( comédia).
Muito tempo antes da comemorações a Dioniso haverem surgido, percorriam a Grécia os
“rapsodos”, os quais eram contadores de histórias, especialmente mitológicas, e
desempenhavam as funções de bardos, artistas mambembes. Aproximadamente entre os
séculos VI e V a.C. ocorre a junção dos rapsodos e do coro ditirâmbico, em razão da
semelhança de finalidades ( ou seja, honrar e perpetuar os grandes feitos. Por esta altura, o
coro já havia dado um importante passo na evolução: a introdução de temas alheios à vida
de Dioniso. Ora, e o que é a raiz da Arte Dramática, senão a união do elemento literário
( rapsodo) à movimentação ( coro)?
A partir daí a maturação do sentimento artístico do teatro foi crescendo, por vários motivos,
entre os quais destacamos:
 Fim da improvisação ( Árion, 625 a.C.)
 As inovações de Téspis ( século VI a.C.), tais como teatro ambulante, ao qual foi
dado o simples nome de “carro”, com o qual Téspis percorria as cidades gregas,
disseminando o interesse da população pelo teatro, atém de afastar a atuação do

tímele. É também Téspis quem, possivelmente, marca a divisão entre as formas
primitivas do drama e a consciência da arte de representar.
A hegemonia política e econômica de Atenas sobre as demais “polis”. Sendo Atenas,
também, mais culturalmente avançada ( e onde Teatro ocupava lugar de destaque,
entre as manifestações artísticas) é natural que suas manifestações culturais
impregnassem seus vizinhos.
O CORO
Com o abandono do Teatro de forma exclusivamente ritual, havemos de nos deparar com
uma instigante questão: Qual seria a função do Coro no Teatro grego? O tema, entre os
helenistas ( estudiosos gregos) é polêmico. Vejamos algumas hipóteses:
É um ator ( Aristóteles)
É o espectador ideal, participado da representação e interpondo apartes necessários ao
desenvolvimento do tema em cena ( Schlegel)
É o próprio autor, tecendo comentários à margem da ação ( Selbestzweck)
Está acima das classificações propostas, acima da ação. Seu caráter ainda não foi definido
( Schiller)
Talvez fosse mais lógico adotar a conceituação de Aristóteles, uma vez que classificou algo
que lhe era contemporâneo. Porém, alegam os que defendem posições contrárias, a
colocação aristotélica não abrange todas as utilizações do coro. Podemos, todavia, numa
observação mais ampla, descrever ( e é a isto que nos limitamos, ao invés de apontar novas
hipóteses) algumas atividades do coro. Assim, constatamos que o coro:
 Lamentava as desgraças e comemorava os feitos corajosos
 Comentava a peça
 Dava explicações sobre a história representada
 Conversava com os atores, fazendo o papel de “escada”.
Além destas muitas obras são as intervenções do coro, nas peças conhecidas. Como, por
exemplo, na comédia “ As Rãs”, de Aristófanes, cada uma de suas funções é coaxar...
A TRAGÉDIA E A COMÉDIA
Vejamos agora, especificamente, a tragédia e a comédia. Já conhecemos a etimologia
destes termos; analisemos, pois suas características.
Lembremos que o bode ( tragos) era sacrificado e o objetivo era, com este ritual, purificar
os homens, devotos do deus e ansiosos por seus favores. O canto do Corifeu era solene,
grave, uma vez que o momento era envolto pelo eterno misticismo que nos insufla a morte
( no caso, do animal) e pela esperança de ver a oferenda aceita pela divindade. Eis na
origem, as características e finalidades da tragédia: linguagem elevada, virtude e nobreza de
sentimentos, luta do ser humano contra a fatalidade e o destino adverso, estoicismo em face
dos sacrifícios e da própria morte, cujos fins eram comover, emocionar, buscar a
identificação do espectador com o herói ( protagonista) e com a causa por ele sustentada,
enobrecendo-se e purificando-se.
Em contrapartida ao lado sério das festividades temos a procissão das bacantes ( komos).
Aliás, diga-se de passagem, estas procissões não compreendiam toda a festividade, mas
apenas uma parte desta. Antes das libações e - principalmente - após estas, havia largo
consumo de vinho ( não fosse a festa em homenagem a Baco! ). Liberados das atividades
purificadoras, estes foliões entregavam-se aos prazeres, animados por músicas vivas e
cantos - sem trocadilho - cômicos. Este é o surgimento daquilo que foi chamado de Velha
Comédia, cuja evolução pára formas mais teatrais teve seu maior expoente na figura de
Aristófanes. A polêmica é a característica principal da Velha comédia, aliada às ferozes
críticas a personalidades governantes, membros da intelectualidade que se opunham às
idéias do dramaturgo, etc. Sucedendo à velha Comédia, vem a Média Comédia, onde
substitui-se o ataque pessoal por uma postura crítica mais geral, proíbe-se citar os nomes
dos atacados, não mais citando acontecimentos, mas insinuando-os, através de “tipos”
característicos ( o escravo, o soldado, etc.). E, finalmente, aparece, por volta de 388 a.C., a
Nova Comédia, onde os assuntos eram localizados diretamente na vida diária da classe
média ateniense, o que trouxe, com o tempo, a monotonia, uma vez que especializava-se
em intrigas familiares. Entretanto, mesmo dentro destas divisões, é possível localizar, como
fundamental característica da comédia, a crítica aos Homens e as Instituições, cujo fim era
denunciar ( e não purificar) seus vícios.
ESTRUTURA DA TRAGÉDIA
A estrutura da tragédia era, basicamente, a seguinte:
PRÓLOGO : Um ator ( ou vários) põe o público a par dos antecedentes ou do curso do
drama
PÁRODO : Canto do coro, entoado enquanto este dirige-se ao seu lugar ( Orchestra).
EPISÓDIO : Cada uma das seqüências do diálogo, uma espécie de “ato” ( quando o
protagonista começa a falar)
ESTÁSIMO : Intervenções do coro, colocadas entre os episódios
ÊXODO : Resolução, desenlace da tragédia.
ESTRUTURA DA COMÉDIA
Em virtude de sua essência diferente, também é diferente a estrutura da comédia, fixada na
Velha Comédia, a saber:
PRÓLOGO : Onde o assunto ( geralmente uma idéia ridícula, quanto à sua exeqüibilidade,
concebida pelo protagonista) é exposto.
DEBATE : Ocorre após a entrada e o canto do coro, e corresponde ao diálogo, ao debate da
idéia por dois atores, sendo que cada um era auxiliado por metade do coro.
PARÁBASIS : Algo semelhante aos “sketches” modernos. Era na parábasis que o autor
transmitia ao público acontecimentos independentes da ação que se representava no palco,
a fim de ridicularizá-los. A parábasis foi abandonada Média Comédia, visto que esta
procurava abrandar a virulência das críticas.
ÊXODO : Com a mesma definição de tragédia
ESPAÇO CÊNICO
A fim de que possamos compreender melhor a importância dada ao teatro pelos gregos,
vejamos algo da arquitetura utilizada para a construção dos espaços cênicos.
Como dissemos anteriormente, Téspis passou a percorrer toda a Grécia com seu carro,
despertando o interesse pelo teatro. Logo cada cidade tratou de encontrar locais onde
pudesse, também, proceder às representações teatrais. Estes locais resumiram-se, na mais
das vezes, aos pórticos dos templos. Porém, em algumas polis, ergueram-se verdadeiras
jóias arquitetônicas, com a exclusividade finalidade de abrigar teatros.
Estes teatros eram construídos em colinas, a fim de aproveitar a acústica natural. Eram
compostos em formas de arquibancadas dispostas em semicírculo, divididas em seções
( karkides). No centro deste semi círculo encontrava-se uma plataforma circular, chama
“ Orchestra”, onde ficavam o coro, o tímele e os atores. Era o local da ação. Atrás da
orchestra ( em frente ao povo) localizava-se a “skene”, elevando-se aproximadamente dois
metros acima do nível da orchestra, sendo ocupada por deuses, semideuses e personagens
afins. A skene era dividida nas seguintes partes:
PROSCENION - Que eqüivale ao nosso cenário. Todos os teatros tinham, no proscenion,
um certo número de portas. O público sabia que era do palácio, outra do templo, outra da
casa humilde, etc., pois quase todas as peças se passavam nestes mesmos locais. Se
nenhuma cena se passasse, por exemplo no palácio, apenas não utilizavam a porta do
palácio. O proscenion ficava ao fundo e suas extremidades laterais eram pintadas
representando, por exemplo o mar ou a vegetação, caso a peça se passasse no litoral ou no
campo. Atrás do proscenion ficavam os camarins.
HYPOSCENION - O piso, a parte baixa.
PÁRODOS - Corredor que levava atores e coro até a orchestra.
EPISKENIA - Galerias e partes altas da parede da skene
PARASKENIA - Duas torres, ou muros, que fechavam a skene à esquerda e à direita. No
interior destas torres ocorriam as cenas mais violentas ou impressionantes ( assassinatos,
suicídios, etc.) que eram proibidas de se apresentarem ao vivo, a fim de que o público não
se habituasse a presenciar estes atos. Ouvindo os gritos, choros e gemidos o povo deveria
imaginar o que estaria ocorrendo; sendo, após, informados, geralmente, por um
providencial mensageiro, que trazia as funestas novas aos que participavam da ação.
Era do alto da skene que os deuses observavam a ação desenrolada na orchestra. Havendo
necessidade de sua intervenção direta, estes deuses desciam, utilizando um cesto que era
preso a uma roldana fixada em uma viga ( mechane) que ligava, horizontalmente, a skene à
parte alta da orchestra. Este tipo de máquina - uma espécie de elevador - era largamente
empregado por Ésquilo, ao qual se atribui a introdução das máquinas na tragédia ( como em
“Prometeu Acorrentado”, onde o coro deve chegar voando). Os altos e propalados
acontecimentos científicos dos gregos também foram utilizados no teatro. Para que um
grande número de espectadores pudesse Ter acesso ao teatro, além dos preços baixos para
as entradas, os antigos helenos resolveram de forma singular a questão da acústica,
colocando vasos de bronze entre as karkides, a fim de reforçar a voz dos atores. Utilizavam,
também, a máscara, a qual, à altura da boca, recebia um formato especial que
proporcionava um efeito amplificador de som. Tentando resolver a questão de reconhecer
visualmente as personagens, passaram a usar coturnos ( sandálias altas) para aumentar a
estatura; as máscaras passaram a ser mais definidas, em grupos ( máscaras de mulheres, de
escravos, de heróis, etc.) . Assim, as representações trágicas comportavam até oitenta mil
espectadores, como é o caso de um destes edifícios cujas ruínas conhecemos hoje.
OS FESTIVAIS
Passemos, agora, pelo instituto que, talvez, mais tenha contribuído para o crescimento do
teatro grego: o concurso de tragédias. Foram instituídos em 534 a.C., por Pisístrato,
governante de Atenas, sendo o primeiro vencedor deste concurso ninguém menos que
Téspis. Eis a estrutura básica destes concursos:
Eram organizados pelo Estado. Anualmente eram selecionados importantes e ricos cidadãos
que deveriam pagar o coro por seu trabalho ( os atores nada recebiam).
Os espetáculos eram realizados à luz do dia e somente homens podiam assistir.
Os autores inscreviam uma trilogia ( trágica) e uma comédia ou um drama satírico. A
trilogia deveria ser composta sobre um só tema e constituir-se de peças completas.
Eram realizados em Março e duravam de cinco a seis dias.
Dez juízes, escolhidos pelo Estado, classificavam as obras, por um critério de qualidade de
texto, em 1º, 2º e 3º lugares.
O primeiro prêmio para a tragédia era uma coroa de louros e uma cabra. Para a comédia ,
um jarro de vinho.
Dias antes dos espetáculos realizava-se no proagon, i.é., a cerimônia em que um arauto
apresentava ao público, em campo aberto, os dramaturgos, e os atores ( sem máscara), a fim
de que se tornassem conhecidos antes das competições. Com isto formavam-se as torcidas
para cada espetáculo.
No primeiro dia do festival tinha lugar uma grande procissão, que conduzia a estátua de
Dioniso do templo para o teatro, percorrendo todas as ruas da cidade, fazendo paradas nos
lugares mais importantes, diante das casas das pessoas mais ilustres, etc..
OS TEATRÓLOGOS
Resta-nos, afinal, apresentar alguns importantes personagens da história do teatro grego.
Além de Téspis e outros que citamos, cabe falar de:
PRÁTINAS - Tirou das tragédias os sátiros ( seres mitológicos, com chifres e membros
inferiores caprinos, muito lascivos, que simbolizavam forças primárias da natureza,
participantes do imaginário cortejo dionisíaco e cujas falas nas primitivas tragédias, se
resumiam a gritos obscenos) com a intenção de elevá-la, purificá-la. Como, porém, estas
entidades tinham função mitológica, criou para elas o Drama Satírico, que era, geralmente
apresentado após uma tragédia.
FRÍNICO - Introduziu a mulher como personagem, com o que a tragédia pode abandonar
os temas heróicos e mostrar peças onde apareciam o amor, a piedade, etc.
ÉSQUILO - Um dos três pilares da dramaturgia trágica grega. É chamado de “Pai da
Tragédia”, visto que por suas mãos a tragédia elevou-se às alturas. Escreveu
aproximadamente noventa peças, das quais restam hoje apenas sete. São atribuídas a
Ésquilo cerca de trinta vitórias nos concursos. Seus trabalhos que chegaram a nós são: As
Suplicantes, Os Persas, Os Sete Contra Tebas, Prometeu Acorrentado e a Trilogia chamada
Orestíada, composta de Agamenon, As Coéforas e as Eumênides ( o drama satírico
“ Proteus” perdeu-se). Suas tragédias são cheias de patriotismo ou religiosidade, exaltando
a autoridade, a reverência para com os deuses. Seu estilo é grandioso, pleno de efeitos
especiais, maravilhosos para a época.
SÓFOCLES - Sucessor de Ésquilo, sua tragédia não possui tanta grandiosidade, porém,
era mais perfeita quanto à forma, mais humana. Apresentou-se em competições pela
primeira vez em 468 a. C. , colocando-se em primeiro lugar e vencendo o grande Ésquilo.
Participou se sessenta torneios, vencendo vinte deles e nunca tirando menos que o segundo
lugar. Uma de suas derrotas foi para Eurípedes, em 440 a. C.; a outra, ironicamente, para
Eurórion, filho de Ésquilo, em 431 a.C. . Foi o introdutor do terceiro ator, a que em muito
beneficiou à desenvoltura dos diálogos, bem assim à movimentação em cena. Abandonando
os temas grandiloqüentes esquilianos, retratou as grandes dores de homens mais comuns,
aprofundando a representação do desespero da alma, sem afastar-se dos limites da condição
humana. Das quase cem peças que escreveu, são conhecidas hoje somente sete: Antígona,
As Traquínias, Electra, Édipo Rei, Édipo em Colona e Filoctetes.
EURÍPEDES - É o último dos grandes trágicos. Com ele a tragédia torna-se
definitivamente humanizada, abolindo a supremacia dos deuses, tão caros a Sófocles e,
especialmente, a Ésquilo. Compôs, aproximadamente noventa peças, recebendo apenas seis
vezes o prêmio, sendo a última postumamente. Não foi, ao contrário dos seus antecessores,
amado pelo público, o qual o hostilizava pelo modo como tratava aos deuses e pela
grandeza que emprestava às mulheres em seus trabalhos, apesar por seus desprezo por estas
na vida real. Seus argumentos possuem uma melhor trama, seus enredos carregam uma
maior dose de suspense, um melhor tratamento da incerteza e da surpresa, sendo por isso
considerado o mais próximo dos modernos, em vista da importância atual destes conceitos.
Restam-nos dezenove de suas obras: Hécuba, Hipólito, As Fenícias, Orestes, Alceste,
Medéia, As Troianas, Hércules furioso, Electra, Ifigênia em Áulide, Ifigênia em Táurida,
Helena, Íon, Andrômaca, As Suplicantes, As Bacantes, Os Heráclidas, Reso e o Ciclope.
ARISTÓFANES - O maior dos comediógrafos gregos. Satírico, ácido, combateu em suas
peças os sofistas e, grande erro, os generais atenienses. Em 421 a.C., os legisladores
proibiram a apresentação de suas peças e, durante alguns anos, Aristófanes permaneceu no
silêncio. Porém, em 414 a.C., lança “As Aves”, onde ridiculariza as instituições, as
maneiras da juventude, elaborando um novo sistema de educação e assinalando a
decadência do drama grego. Inconformado com o ambiente belicoso de Atenas, torna-se
intransigente pacifista, insurgindo-se, ao mesmo tempo, contra qualquer nova corrente de
idéias que surja, num acesso reacionário que o leva a ridicularizar as mulheres, insistindo
na manutenção de antigos hábitos, mantendo as mulheres alheias a toda e qualquer vida
pública, encerradas em seus lares, entretidas apenas em seus afazeres domésticos. Suas
obras conhecidas são: Os Arcanianos, A Paz, As Rãs, Os cavaleiros, Lisístrata, As nuvens,
Assembléia das Mulheres, Pluto e os Pássaros.
MENANDRO - O maior destaque da Nova Comédia, não tendo, porém, atingido a força
cômica de Aristófanes. Sua comédia era social e elegante. Tendo escrito mais de cem
trabalhos, restam-nos hoje apenas fragmentos e nenhuma obra completa. Sabe-se que
Menandro ganhou o prêmio oito vezes e que suas peças muito influenciaram o Teatro
Romano, tendo sido várias delas adaptadas, adaptações estas que se conservam até hoje,
notando-se entretanto, que estas adaptações não se colocam no mesmo nível do original.
ELEMENTOS DA TRAGÉDIA E DO TEATRO GREGOS
ÁGON (disputa, competição) - Protagonista (protos = primeiro)
ANAGNORÍSIS (reconhecimento) - o herói conhece a verdade, exceto por um pequeno
detalhe; num determinado momento ele é levado a reconhecer o erro que gerou a ação
(trágica) do personagem.
ANANGKE (necessidade) - Homens e deuses eram submetidos a ela e à Moira.
ANÉR (herói)
ANTROPOS (homem)
ÁTE - obscurecimento da razão
CATARSE (purificação) - Finalidade da Tragédia
EKSTASIS (êxtase) - sair de si
ENTHOUSIASMOS (entusiasmo) - Ter deus dentro de si
GNÔTHI SAUTÓN - Conhece-te a ti mesmo
HARMATÍA - Antigamente chamada “falha trágica”. Na verdade não é um componente
moral, mas um erro de julgamento. Tem, necessariamente, o envolvimento da escolha, da
vontade.
HYBRIS - violência contra si, que faz o homem ultrapassar o métron. Geralmente
identificado com orgulho, insolência, autoconfiança, paixão.
MEDÈN ÁGAN - Nada em excesso.
MÉTRON (medida) - tudo tem uma medida.
MOIRA - Destino
NÊMESIS - Ciúme divino, castigo pela medida ultrapassada
PÁTHOS (dor) - Também chamada catástrofe, é o acontecimento que causa piedade e
tristeza.
PERIPÉCIA - reviravolta nos acontecimentos, decorrente da harmatía, que altera o destino
do personagem.
“O antropos, entra em ékstasis e enthousiasmos; excede o métron, tornando-se o anér.
Ultrapassar o métron é uma hybris, originada da harmatía, que provoca um nêmesis: a áte,
que conduz o anér à sua Moira. No momento da peripécia, o anér tem sua agnorísis e, em
meio ao pathos, dá-se a catarse.”
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