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DESENVOLVIMENTO DA
LINGUAGEM
Aquisição do léxico: verbos & A emergência da sintaxe
HL422C | Linguagem e pensamento: teoria e prática
Módulo 1 | Aquisição da Linguagem
Profª Fernanda Mendes
IEL | UNICAMP
07 de outubro de 2016
Lembretes
o SePeG
o Inscrições até 16/10
o Lista de exercícios | L2
o Entrega: 07/10 (hoje, em sala de aula, ou até 23h59 via email)
o Lista de exercícios | L3
o Disponível no site da disciplina
o Entrega: 14/10 (próxima semana)
o Prova (votação: 23/09)
o Prova tradicional, 6 questões (3 questões teóricas e 3 de análise de dados),
para que sejam escolhidas 4 questões (2 questões teóricas e 2 de análise de
dados)
Sumário
① Recapitulando
② Aquisição de verbos
③ Emergência da sintaxe
④ Conclusão
⑤ Referências
RECAPITULANDO
① Recapitulando
Aquisição lexical: nomes [1|2]
o Predisposição inata: vínculos
o Vínculo amplo
o Ligação de uma palavra a um objeto / conceito
o Vínculos refinados
o Ligação de formas gramaticais específicas (nome/verbo/adjetivo) ao seu significado
o Três peças de Waxman (2006) para a aquisição lexical
o Descobrimento da unidade linguística
o Segmentação e identificação das palavras por pistas prosódicas
o Descobrimento da unidade conceitual
o Identificação do objeto / conceito relevante por habilidade de identificar objetos discretos
o Descobrimento da correspondência entre a unidade linguística e a unidade conceitual
o Também conhecido como: problema gavagai (Quine, 1960) ou problema de indução
o Mapeamento palavra-referente via restrições sócio-pragmáticas ou linguísticas
o Atenção conjunta
o “o engajamento simultâneo de dois ou mais indivíduos em um oco mental sobre o mesmo objeto externo”
o Contexto ostensivo ou contexto de rotulação
o Atenção chamada para um objeto / ação particular e o nomeia: “Olha! Uma bola!”
o Restrição do objeto inteiro
o Palavra nova se aplica ao objeto inteiro e não à parte dele ou suas propriedades
o Restrição da exclusividade mútua
o Um referente não possui mais do que um nome, assim, se referiria a uma parte ou propriedade
o Restrição taxonômica
o Palavra nova se refere a objetos da mesma classe
o Bootstrapping lexical
o Palavras abstratas: informações linguísticas extraídas das sentenças que têm essas palavras
① Recapitulando
o Tendências gerais das classes de palavras
o Nomes > verbos / adjetivos
o Crianças referenciais e crianças expressivas
o Referenciais: +50% nomes de objetos (orientadas ao objeto)
o Expressivas: -50% nomes de objetos (socialmente orientadas)
o Fenômenos no uso de palavras individuais
o Contextualização
o Palavras produzidas em contextos específicos e limitados
o Flexibilidade da contextualização
o Palavras usadas em contextos comportamentais diferentes
o Modificação da contextualização
o Mudanças contextual em que as palavras presas ao contexto são utilizadas
o Descontextualização
o Afastamento do contexto
o Superextensão
o Uso de uma palavra a todos os referentes esperados, bem como outros referentes não esperados
o Subextensão
o Uso de uma palavra a um referente esperado, porém que se constitui como subconjunto dos referentes esperados
o Sobreposição
o Uso de uma palavra a alguns referentes esperados, bem como outros referentes não esperados
o Desencontro
o Uso de uma palavras a referentes não esperados
o Expansão do escopo referencial
o Palavras subestendidas tornam-se superestendidas
o Contração do escopo referencial
o Palavras superestendidas tornam-se subestendidas
AQUISIÇÃO DO LÉXICO
Verbos
② Aquisição do léxico: verbos
Fatos e questão central [1|9]
o Fatos da aquisição
o Na tarefa de identificar nomes (concretos): 50% de taxa de acerto
o Na tarefa de identificar verbos: 15% de taxa de acerto
Como explicar a dificuldade maior em relação à aquisição
dos verbos?
② Aquisição do léxico: verbos
Três fatores [2|9]
Três fatores
1.
“[A]lguns dos verbos que as mães utilizam mais frequentemente
com seus bebês representam conceitos que não são diretamente
observáveis: querer, saber e pensar”
2.
Problema de intercalação: “os usos dos verbos não se alinham de
forma transparente com seus contextos situacionais” (tempo do
enunciado > tempo do evento)
3.
“[A] aquisição dos verbos exige o acesso à estrutura sintagmática
da língua de exposição e o bebê leva um certo tempo para
controlar as propriedades estruturais”
(Gleitman e Gillette, 1997)
② Aquisição do léxico: verbos
Papel da sintaxe na aquisição de verbos [3|9]
Evidência para um modelo sensível à estrutura sintática
Lennenberg (1967)
“a ‘explosão’ do vocabulário produtivo, incluindo o aumento súbito na
variação de tipos lexicais, coincide com o surgimento de frases
rudimentares (duas palavras) aproximadamente aos 24 meses de vida.
Talvez uma habilidade de compreender a frase seja um pré-requisito para
a aprendizagem eficiente dos verbos”
[Sentença algo xxx algo]
“O papel da sintaxe é somente restringir o espaço de busca do significado,
já que este é revelado pelo contexto extralinguístico”
(Gleitman e Gillette, 1997)
② Aquisição do léxico: verbos
Papel da sintaxe na aquisição de verbos
[4|9]
“Informação estrutural é necessária às crianças – juntamente com a informação do
contexto – para fixar o significado dos verbos novos”
o Brown (1957)
o Pistas morfológicas direcionam a interpretação da relação palavra-contexto
o Experimento
o Você pode me mostrar o/um gorp.
o Você pode me mostrar algum gorp.
o Você pode me mostrar gorping.
o Resultados
o “crianças esperam que haja uma ligação entre as propriedades formais da língua [...] e a
interpretação semântica”
o “gorp” identificado como objeto (nome contável ou massivo)
o “gorping” identificado como ação implícita (verbo)
o Landau e Gleitman (1985)
o Crianças usam pistas linguísticas para a identificação de palavras, e não percepção ou
inferência pragmática
o Caso da criança com cegueira congênita que adquiriu ver como o primeiro verbo do léxico
(Gleitman e Gillette, 1997)
② Aquisição do léxico: verbos
Hipótese [5|9]
Lente zoom
“[O] primeiro uso de informações estruturais é como um
procedimento on-line para a interpretação de um verbo
desconhecido. [...] [A] criança coloca um foco aproximado
‘em zoom’ em uma [das interpretações evidentes da cena]
[...], exigindo congruência também com as implicações
semânticas da forma da frase”
(Gleitman e Gillette, 1997)
② Aquisição do léxico: verbos
Teste [6|9]
o Naigles (1990)
o Identificação de verbos novos com crianças de <2;00
o Teste: paradigma de olhar preferencial (durante 6 sec)
o Condições de cena (apresentadas simultaneamente):
1. Coelho empurrando a cabeça de um pato, fazendo ele se curvar E
2. Coelho e pato faziam um círculo amplo com o braço livre
o Condições sintáticas (metade dos sujeitos ouviam 1, e outra a metade, ouviam 2)
1. O coelho esta gorping o pato
2. O coelho e o pato estão gorping
o Sentença-teste
1. Encontre gorping agora! Onde está gorping?
o Condições de cena (separadas)
1. Coelho empurrando a cabeça de um pato, fazendo ele se curvar (numa tela)
2. Coelho e pato faziam um círculo amplo com o braço (em outra tela)
o Resultados
1. Condição transitiva > cena transitiva (causativa)
2. Condição intransitiva > cena intransitiva
(Gleitman e Gillette, 1997)
② Aquisição do léxico: verbos
Olhar preferencial [7|9]
② Aquisição do léxico: verbos
Olhar preferencial [8|9]
② Aquisição do léxico: verbos
Hipótese [9|9]
o Fisher, Hall, Rakowitz e Gleitman (1994)
o Identificação de verbos de perspectiva (dar e ganhar) com crianças
de 3;00
o Verbos de perspectiva:
o Contexto situacional não é suficiente:
o Veja! Ziking!
o Informação sintática
o A Maria zikes a bola para o João.
o O João zikes a bola de Maria.
o Posição do substantivo (sujeito ou objeto) e preposição alvo (para) vs fonte/origem
(de)
(Gleitman e Gillette, 1997)
A EMERGÊNCIA
DA SINTAXE
③ Emergência da sintaxe
Ordem das palavras [1|18]
o Parâmetro da direção do núcleo
o Núcleo final OU núcleo inicial?
XP  Spec X’
X´ (YP) X (YP)
Exemplo: O menino comeu bolo.
o XP = NP  [X o] [YP menino] OU [YP menino] [X o]
o XP = VP  [X comeu] [YP bolo] OU [YP bolo] [X comeu]
Pistas prosódicas
③ Emergência da sintaxe
Ordem das palavras em sentenças reversíveis ativas [2|18]
o Hirsh-Pasek e Golinkoff (1996)
o Experimento de olhar preferencial
o Sujeitos: crianças de 17 meses (1;05)
Exemplo
(1) Garibaldo está lavando Come-come.
(2) Come-come está lavando Garibaldo.
Resultados:
Crianças preferem a imagem que combina com a ação, mostrando
que, aos 17 meses, elas já se baseiam em ordem das palavras.
③ Emergência da sintaxe
Estrutura adulta: não-V2 [3|18]
Exemplo
O menino comeu o bolo.
③ Emergência da sintaxe
Estrutura adulta: V2 [4|18]
Exemplos:
[[Ein Buch] [[kaufte] [Johann]]].
Um livro comprou João.
[[Johann] [[kaufte] [ein Buch]]].
João comprou um livro.
③ Emergência da sintaxe
Hipótese da Small Clause [5|18]
Crianças até 3;0 produzem sentenças sem elementos funcionais – fala telegráfica.
o Sentenças sem marcas de tempo ou pessoa no verbo, ou seja, com verbo nominalizado
o Papa have it (Eve 1;6)
o Cromer wear glasses (Eve 2;0)
o Marie go (Sarah 2;3)
o Mumma ride horsie (Sarah 2;6)
o Eve gone [has] (Eve 1;6)
o Eve cracking nut [is] (Eve 1;7)
o Mike gone [has] (Sarah 2;3)
o Kitty hiding [is] (Sarah 2;10)
o Sentenças sem modais ou cópula
o That my briefcase [is] (Eve 1;9)
o You nice [are] (Sarah 2;7)
o Sentenças sem auxiliar
o Fraser not see him (Eve 2;0)
o He no bite ya (Sarah 3;0)
o Where ball go? (Adam 2;3)
③ Emergência da sintaxe
Hipótese da Small Clause [6|18]
O que significa essa não ocorrência de elementos
funcionais na fala da criança?
Onde se localizam os elementos funcionais na estrutura
adulta?
Núcleo de IP = I
③ Emergência da sintaxe
Hipótese da Small Clause [7|18]
Gramática infantil não apresentaria a categoria IP.
Assim, seria um sistema de relações temáticas e lexicais,
apresentando uma estrutura apenas com VP.
③ Emergência da sintaxe
Hipótese da Small Clause: problemas [8|18]
o Evidência 1 contrária à hipótese: ocorrência de
elementos funcionais em dados de aquisição de outras
línguas (holandês, francês, alemão).
o Kann ikke see (Anne 2;0) [posso não ver]
o Hij doet ‘t niet (Hein 2;4) [ele faz isso não]
o Dort bebé (Daniel 1;11) [dorme bebê]
o Da is[t] er (Andreas 2;1) [aqui está ele]
③ Emergência da sintaxe
Hipótese da Small Clause: problemas [9|18]
o Negação
o Gramática adulta (holandês, alemão, francês): negação sucede
verbos finitos e antecede verbos infinitivos.
③ Emergência da sintaxe
Hipótese da Small Clause: problemas [10|18]
o Evidência 2 contrária à hipótese: negação
o Gramática infantil segue a mesma ordem
o Verbo finito > Neg
o Neg > Verbo infinitivo
o Pas manger la poupée (Nathalie 1;9) [não comer a boneca]
o Elle roule pas (Grégoire 1;11) [isso rola não]
o Kann ma[n] nich[t] essen (Simone 2;1) [pode alguém não comer]
o Das macht the Maxe not (Simone 2;1) [isso faz o Maxe não]
③ Emergência da sintaxe
Hipótese da Competência Plena [11|18]
Uma vez que se prova que a hipótese da Small Clause não
se sustenta, já que não é verdade que todos os verbos
ficam no núcleo de VP.
Contrariamente, eles se distribuem diferentemente quando
são finitos e infinitivos.
Assim, crianças têm competência plena em relação à
estrutura.
③ Emergência da sintaxe
Hipótese da Competência Plena [12|18]
Línguas não-V2
De acordo com os dados mostrados anteriormente (presença de
elementos funcionais e distribuição da negação):
A gramática inicial de línguas não-V2 inclui categorias
funcionais.
b. Crianças adquirindo línguas não-V2 distinguem verbos
finitos e infinitivos em relação ao seu alçamento.
c. Sentenças finitas têm pelo menos IP na gramática inicial de
línguas não-V2.
a.
③ Emergência da sintaxe
Hipótese da Competência Plena [13|18]
Línguas V2
De acordo com os dados mostrados anteriormente (presença de
elementos funcionais e distribuição da negação):
A gramática inicial de línguas V2 inclui categorias funcionais.
b. Crianças adquirindo línguas não-V2 distinguem verbos
finitos e infinitivos em relação ao seu alçamento.
c. Sentenças finitas têm CP na gramática inicial de línguas V2.
a.
③ Emergência da sintaxe
Hipótese da Competência Plena [14|18]
o Línguas V2
o sentenças finitas: verbo em segunda posição
o sentenças infinitivas: verbos em posição final
o Isso mostra que há um alçamento do verbo, da sua posição final
original, para a segunda posição na sentença quando se trata de um
verbo [+finito].
o Além disso, pode-se afirmar que esse alçamento, além de passar por
IP, ainda chega a CP, uma vez que o núcleo de IP é final e se o verbo
fosse alçado apenas até lá, resultaria em algo agramatical como:
o *Johann ein Buch kaufte. [João um livro comprou]
③ Emergência da sintaxe
Hipótese da Competência Plena [15|18]
o
o Línguas V2
o sentenças finitas: verbo em segunda posição
o sentenças infinitivas: verbos em posição final
o Isso mostra que há um alçamento do verbo, da sua posição final
original, para a segunda posição na sentença quando se trata de um
verbo [+finito].
③ Emergência da sintaxe
Hipótese da Competência Plena [16|18]
o Línguas V2
o Além disso, pode-se afirmar que esse alçamento, além de passar por IP, ainda
chega a CP, uma vez que o núcleo de IP é final e se o verbo fosse alçado
apenas até lá, resultaria em algo agramatical como:
o *Johann ein Buch kaufte.
[João um livro comprou]
m
③ Emergência da sintaxe
Hipótese da Competência Plena [17|18]
Línguas V2
o E se o núcleo de IP não fosse final?
o Johann kaufte ein Buch.
[João comprou um livro]
Resolve o problema?
Não!
m
③ Emergência da sintaxe
Hipótese da Competência Plena [18|18]
Línguas V2
o Não resolve porque em alemão pode haver um XP qualquer na primeira
posição – não necessariamente o sujeito. E o sujeito, precisa estar no
especificador de IP (para receber Caso Nominativo).
o Ein Bush kaufte Johann.
m
CONCLUSÃO
④ Conclusão
Próxima aula [1|1]
Tópico
Apresentação de trabalhos
Atividade
Discussão da L2 e L3
REFERÊNCIAS
⑤ Referências
GLEITMAN, L. R. e GILLETTE, J. O papel da sintaxe na aprendizagem
dos verbos. In: FLETCHER, P. e MACWHINNEY, B. Compêndio da
linguagem da criança. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997.
GUASTI, M. T. Language acquisition: the growth of grammar.
Cambridge, MA / London: MIT Press, 2002.
SOUZA, D. H. As crianças e o mundo das palavras: considerações
sobre a pesquisa em desenvolvimento lexical. Psicologia: reflexão e
crítica. Vol. 21, nº 2, Porto Alegre, 2008.
WAXMAN, S. R. Tudo tinha um nome e de cada nome nascia um novo
pensamento: vínculos entre aprendizagem de palavras e organização
conceptual no início da aquisição da linguagem. In: CORRÊA, L. M. S.
Aquisição da linguagem e problemas do desenvolvimento linguístico.
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