O Papel do Terapeuta perante um Grupo

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O PAPEL DO TERAPEUTA
PERANTE O GRUPO E A
MATRIZ
Mário David
XIII Encontro-Luso-Brasileiro /
XV Congresso Nacional da SPGPAG
Lisboa, 30 de Outubro de 2015
 “O
terapeuta não deve ter uma postura ativa” (Foulkes, 1964: 66)
 “O
condutor deverá usar o grupo como um instrumento pra a
terapia. Ele pode ser considerado o primeiro servidor do grupo”
(Foulkes, 1948/1983:139)
 “o
condutor quer usar o grupo como um instrumento para a
terapia”
(Foulkes, 1948/1983:135)
 “o
maestro deve usar o grupo como um instrumento para a
terapia”
(Foulkes, 1948/1983:315)
A VISÃO DE S.H. FOULKES EM RELAÇÃO
AO CONDUTOR DE GRUPO (I)
“S.H. Foulkes adotou uma posição
ambígua em relação à luta do
condutor com a questão do
poder nas suas relações com o
grupo, por exemplo, pontificava
sobre como ser espontâneo sem
tomar conta ou como ser nãodiretivo sem abdicar o controlo.
Isto parecia que ele não tinha em
conta a importância da
autoridade e das figuras de
autoridade” (Allan Horne,1992)
Sylvia Huchinson (2009) encontrou duas
significativas e bem diferenciadas posições
perante a Autoridade, na obra de Foulkes:
A
posição de autoridade executiva ou
de “ativo e dinâmico administrador”
A
posição de um “perito” do
comportamento humano e das
dinâmicas de grupo, tornando-se “num
contentor e analista/ tradutor de
comunicações (Hutchinson; 2009: 356)
com uma “postura e presença similar
ou equivalente a do Psicanalista”
(Foulkes, 1948/1983)
A VISÃO DE S.H. FOULKES EM RELAÇÃO
AO CONDUTOR DE GRUPO (II)


A facilitação aberta consiste em qualquer  “The Inspiring Role of the Conductor”
(Terence Lear, 1985)
comunicação da parte do condutor….
…..quando “ele é ainda tão ignorante como
os outros membros que ainda nada
 As intervenções do condutor devem
disseram” (Garland, C. et al. 1984:141)
ser criativas porque elas podem
inspirar o grupo para também se
tornar criativo”
A facilitação guiada “Quando o condutor a
trabalhar num ambiente analítico pode
estar ciente do significado latente no
processo do grupo, mas não deseja
apresentar esta consciência diretamente  “Outra
ideia associada é a
para o grupo. Em vez disso, ele pode optar
vantagem para o condutor em
em fazer uma observação facilitadora, a
possuir uma teoria sobre um tipo de
qual abre uma particular porta através da
qual o grupo pode fazer o seu próprio
desenvolvimento, o qual deverá ser
caminho para o significado latente”
sintónico com um papel inspirador”
(Garland C. et al., 1984:141)
(Lear, T., 1985: 151)
PERSPECTIVAS COMPLEMENTARES SOBRE
QUESTÕES DE LIDERANÇA DENTRO DO GRUPO (I)
 Peter
Zelaskowiski (1993) explora o
papel do condutor em relação
com o manejamento das
fronteiras externas e internas
“durante a fase de importação
através da procura dos objetivos,
da definição de tarefas e do
estabelecimento do contrato”…
Control and Leadership in Group
Psychotherapy (Horne, A., 1992)
 (i)
“o dilema do sobre
controlo/abdicação;
 (ii)
“a abordagem as outras
fontes de poder no grupo”;
 (iii)
“a possível transmissão de
forças inconscientes através
do condutor

… e durante “a fase de
processamento” quando ele
maneja as fonteiras dentro do
grupo
PERSPECTIVAS COMPLEMENTARES SOBRE
QUESTÕES DE LIDERANÇA DENTRO DO GRUPO (II)

“Neste caso, o grupo precisa de liderança
ativa e não passiva. Então a técnica (“skill”)
de autoridade e liderança do condutor é
vital para a sobrevivência do grupo”
(Nitsun, M., 1996)

“The Group as an Object of Desire”
(Morris Nitsun, 2006)

Ele fornece profundas e extensas reflexões
sobre a relação entre o terapeuta e o
grupo, em termos de desejo e impulsos
sexuais e como o terapeuta pode mediálos para os membros do grupo.
“Apesar do objetivo ser empoderamento do
grupo, existem muitas maneiras quando o
grupo requere uma figura de poder –
momentos de crise e dificuldades em
decidir, momentos de impasse do grupo ou  “Em todas as três principais dimensões –
conflito o qual requere liderança e
dependência, rebelião/revolta e desejo
momentos quando existe uma genuína
erótico – o condutor, ele próprio, é uma
necessidade para a dependência, através
figura chave que constantemente interage
da vulnerabilidade ou de doença, ou de
com o grupo na expressão e negociação
fragmentação emocional no grupo”
(Nitsun, M., 1996)
da autoridade”
PERSPECTIVAS COMPLEMENTARES SOBRE
QUESTÕES DE LIDERANÇA DENTRO DO GRUPO (III)
 As
funções poderiam ser estudadas sob
duas dimensões contínuas: Uma
 Eduard
Klain (2009) considera que
o grupo-analista deve-se
comportar como
“um tipo de amplificador”
Horizontal que tenta atingir o equilíbrio
entre a função de promoção do
discernimento e a função de
contenção (conceito de Bion); Uma
Vertical, a qual procura o equilíbrio
entre a função de controlo e a função
de catalização. (Ahlin, G. , 2010:187-8)
PERSPECTIVAS COMPLEMENTARES SOBRE
QUESTÕES DE LIDERANÇA DENTRO DO GRUPO (IV)
•
“Condutor de orquestra é o intérprete da
composição enquanto o condutor de
grupanálise é o interprete do texto /conteúdo
das comunicações geradas pelo grupo”
•
“Condutor do grupo, tal como, um condutor de
uma orquestra “não escreve a ”música” mas
interpreta-a constantemente, principalmente na
sua cabeça”
•
“ Condutor organiza a estrutura, dirige o
processo e faz uma contribuição, no momento
crucial, para a criação do conteúdo”
•
“Ele é o organizador, contentor, mentor,
animador e o guardião do processo de
comunicação livre associativa”
ALGUMAS SIMILARIDADES E DIFERENÇAS ENTRE O
RELACIONAMENTO DA ORQUESTRA/MAESTRO E NO
GRUPO/CONDUTOR (PISANI, R. A., 2012)
•
“Constantemente ele integra na sua cabeça
variados níveis de processos de comunicação:
realidade, transferência, projeção, primordial”
•
“Ele desencadeia e sustém o diálogo de livre
associação. Ele desencadeia e sustém a análise
e a tradução dos significados inconscientes das
comunicações”
•
“Condutor dirige tal como alguém em pé de
igualdade com os outros membros do grupo:
“Ele é um primus inter pares”
•
O grupo-analista deverá atuar como um guia
com autoridade: “O Condutor joga uma parte
ativa na análise das comunicações e na
criação do conteúdo”
ALGUMAS SIMILARIDADES E DIFERENÇAS ENTRE O
RELACIONAMENTO DA ORQUESTRA/MAESTRO E NO
GRUPO/CONDUTOR (PISANI, R. A., 2012)
 Um
grupanalista deve ser um especialista “em processos de grupo”
e ter "capacidade de transmissor", de "emissor" e de catalisador
mas sem ser um "líder" "com quem alguém se pode identificar, não
um "padrão" para adaptação ou conformismo"
(Cortesão, 1989/2008:119)
 “O
grupo-analista não deve oferecer-se como um protetor ou
modelo, nem ele deve orientar o grupo de forma ativa ou
didática" (Cortesão 1989/2008:119) mas sim, influenciar a construção da
matriz no grupo ou o nível de realização do trabalho analítico em
curso
O CONCEITO DE PADRÃO: O QUE É?
(CORTESÃO, E.L.,1967, 1979, 1988, 1989, 1991)
As Qualidades do Grupanalista:
O Grupanalista, como uma PESSOA:

1) Personalidade (Estilo);

2) Caráter;

3) Matriz de Relacionamento Interno
(Maria Rita Mendes Leal, 1968; 1969; 1983; 1997)

1) Empatia apurada; Calor Humano nãoPossessivo; Autenticidade
(Terence Lear, 1985)

2) Honestidade; Veracidade

3) Identidade estruturada em termos
pessoais e profissionais
(Earl Hopper, 1982)

4) Sinceridade; Abertura; Tolerância;
Segurança; Competência
4) Processo Analítico Pessoal
Formação Prática do Grupanalista:


Só é possível através de Análise Pessoal
(em grupo) e é dependente:

1) Cursos Teóricos e Práticos de Treino
Grupanalítico

2) Atualização da Informações Científica

3) Supervisão Individual ou em Grupo
(Martin Grotjahn1987)
(S.H. Foulkes, 1948; 1957; 1964)

5) Capacidade de estabelecer uma
relação
(Ronald Fairbairn, 1949/1972)

6) Capacidade de estar em grupo
(Ana Sofia Nava, 2004)
AS DIMENSÕES DO PADRÃO: A SUA NATUREZA
(CORTESÃO, 1980, 1988, 1989); (NETO, 1991, 1999A); (NETO, I & NAVA, A. 2004)
2. ATITUDES

1. Algumas das REGRAS:


A) Seleção Apurada


B) Ao trabalhar o Contrato Terapêutico
deve haver: Segredo / Contatos Fora do
Grupo Proibidos / Contatos Familiares
Proibidos / Prioridade dada às
Comunicações Orais / Renúncia para
Obtenção de Benefícios Secundários
A) As Intervenções Analíticas e as
Interpretações

B) Abstinência de Intervenções Coloquiais
(Opiniões)

C) Critério Analítico (ele não deverá falar
sobre si mesmo)

D) Passividade / Atividade (G. Alhin, 2010) /
Atitude empática (H. Kohut, 1984) /

Atitude “Quente” (Racker H., 1988) / Como lidar
com o Indivíduo/Grupo (E.L. Cortesão, 1967; 1979;

C) O Grupanalista fornece/decide: Espaço
Físico / Frequência das Sessões / Duração
da Sessão (1H30m) / Regularidade /
Pontualidade / Configuração: Face a Face,
em círculo / temas de conversa devem
surgir espontaneamente / Livre
verbalização /(nenhuma Censura Social)
1988; 1989); (I.M. Neto, 1991; 1999)

A Escola Portuguesa de Grupanálise
enfatiza o Indivíduo no contexto de Grupo.
AS DIMENSÕES DO PADRÃO: AS SUAS FUNÇÕES
(CORTESÃO, 1980, 1988, 1989); (NETO, 1991, 1999A); (NETO, I & NAVA, A. 2004)
Os seus Propósitos

1. Promover uma Visão Racional e
Emocional

2. Trazer Mudanças Significativas em cada
um Self


3. Proporcionar um desenvolvimento e
restruturação diferenciada das funções do
Self num qualquer membro do grupo para
aceder à autonomia, natural e coerente
interdependência psicológica
4. Numa palavra: O Processo Grupanalítico
 Numa
 "o
das suas últimas formulações:
padrão grupanalítico consiste num
tipo de atitudes específicas que o
grupanalista transmite e sustenta na
matriz analítica de grupo e que tem
uma
função
interpretativa
que
alimenta e desenvolve o processo de
grupo-analítico”
(Cortesão, E.L.,1989/2008:127)
AS DIMENSÕES DO PADRÃO: OS SEUS PROPÓSITOS
(CORTESÃO, 1980, 1988, 1989); (NETO, 1991, 1999A); (NETO, I & NAVA, A. 2004)

Maria Etelvina Brito (1989): "a transmissão
do
padrão
como
o
exercício
das
Isaura Manso Neto (1999a) escreveu:
funções parentais durante o processo  Quando um grupanalista tem de
de desenvolvimento da criança" e a lidar consigo próprio e com o
grupo;
"integração do padrão em direção ao
 Quando ele se torna uma figura de
grupo" enquanto equivalente a uma
transferência como o resultado de
aquisição do objeto predominante um movimento neurótico por um ou
mais membros do grupo dentro do
dentro da matriz do grupo.
contexto e da dinâmica da matriz;
 Isaura Manso Neto (1999b) falou sobre a
 Quando são levantadas questões
integração do padrão como "o no "aqui-e-agora" no que diz
resultado da identificação com a respeito à dinâmica de grupo“ (Neto,
função grupanalítica do grupanalista"
I. M., 1999a)
AUTORES GRUPANALÍTICOS PORTUGUESES (I)

Guilherme Ferreira (2002) lembrou-nos
sobre o facto de os membros do grupo
César V. Dinis (2002; 2005)
terem certos sentimentos em relação ao
terapeuta enquanto uma figura poderosa
e parental, que está na origem do grupo e
quem faz as leis e regras durante a
configuração do “contrato de trabalho" e
o grupo que emerge simultaneamente
como uma mãe pré-edipiana e
omnipotente com quem estabelecem
uma relação de tipo de fusional
o
grupanalista tem “a responsabilidade
de cuidar do grupo a fim de evitar
uma imitação de um grupo de
autoajuda. Como tal, ele deverá estar
vigilante para garantir a autenticidade
e estar atento para evitar alianças de
conveniência, conluios defensivos e
formações de caráter reativo“
(Dinis, C.V., 2005:13)
(Ferreira, 2002:25)
AUTORES GRUPANALÍTICOS PORTUGUESES (II)
O
papel do terapeuta ou Padrão tem sido
conceptualizado desde E.L. Cortesão e os
autores grupanalíticos portugueses consideram
existir uma clara presença e influência daquele
sobre as dinâmicas de grupo e a emergência da
matriz, observando-se a integração do Padrão de
um modo gradual no grupo e na matriz.
 Para
um grupanalista, estar em grupo, é uma
experiência profundamente envolvente e criativa
apesar de ser, por vezes, difícil e penosa,
exigindo dele uma sólida Formação Teórica e
Técnica, apoiada com a sua Personalidade,
Análise Pessoal, mais as suas Experiências de
Vida, a fim de melhor manejar e suster as
experiências vividas por parte dos seus
analisandos que irão ser acompanhadas por
toda a espécie de acontecimentos, resistências e
momentos do processo grupal.
DISCUSSÃO
Muito Obrigado pela Vossa
Atenção
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