Notas sobre “ Janela da Alma” de João Jardim e Walter Carvalho. Por Roberto Mosca Jr. Ver • Ver é um conceito • Podemos perceber no filme que ver não é somente um sentido, mas também uma representação social. • Há no filme, finalmente, uma desnaturalização das ações humanas, como é característica a perspectiva sociológica, na sua vertente subjetivista, assim podemos levar ao extremo a experiência individual. O caminho para a liberdade • A liberdade de um sujeito é a sua capacidade de adquirir autonomia na criação e apropriação de objetos socializados (Jurandir Costa, 1984). • O grau de autonomia, por sua vez, está relacionado à capacidade do sujeito humano de se apropriar das quatros dimensões da realidade: a linguagem, a natureza exterior, a natureza interior e o mundo social (Habermas, 1989). • A autonomia do sujeito humano, por outro lado, está relacionada com o seu processo de emancipação, e esta, por sua vez, depende do desenvolvimento de sua capacidade de linguagem, de cognição e de interação (Noam Chomsky, 1980) • Leonardo da Vinci: o olho é a janela da alma, o espelho do mundo. O filme • A visão nos parece algo concreto, indubitável, o mais imediato dos cinco sentidos. • Os cientistas sociais brasileiros não deveriam se restringir a pensar temas nacionais. • O filme enfrenta um tema abstrato, a visão, sem os travos do subdesenvolvimento. • O filme Recorre à filosofia, à medicina, à biologia, à música e à literatura para investigar o que é a visão. • O filme que enriquece a visão que se tem da visão O filme • 19 entrevistados, com graus de acuidade visual que vão da miopia à cegueira, discorrem sobre ver, não ver e ver de maneira única, intransferível. • São figuras como o músico Hermeto Pascoal, o escritor José Saramago, a atriz alemã Hanna Schygulla, o poeta Manoel de Barros, a cineasta Agnès Varda, o neurologista inglês Oliver Sacks. • Absolutamente tudo o que dizem ou fazem é pertinente e interessante. Não há enrolação, não se desperdiça imagem ou silêncio. • Acompanhando a torrente de discursos, as imagens são focadas, desfocadas e refocadas, alterando a percepção do espectador. O Filme e os diretores • O documentário mostra um mundo saturado de imagens que visam atrair o olhar para o consumo (as da propaganda) e o contrasta com paisagens desoladas, onde não há nada para ver. • A abstração também é confrontada com visões bem concretas. O vereador cego Arnaldo Godoy, de Belo Horizonte, conta com ótimo humor como é a vida sem enxergar nada. O filósofo esloveno Eugen Bavcar, também ele cego, mostra como tira ótimas fotografias. • "Janela da Alma" está longe, contudo, de ser um filme de tese. Ele é uma expressão pessoal. • João Jardim (diretor de documentários como "Terra Brasil" e "Free Tibet") e Walter Carvalho (diretor de fotografia de "Abril Despedaçado") são duas toupeiras míopes: o primeiro usa óculos de 8 graus; Carvalho, 7,5. • Eles vêem pouco, mas enxergam muito