Marxismo e Filosofia da Linguagem: problemas fundamentais do Método Sociológico na Ciência da Linguagem Teorias do texto – Enunciação, discurso e texto Método Sociológico O método formal nos estudos literários. Introdução crítica a uma poética sociológica – 1928 Problemas da obra/criação literária de Dostoiévski – 1929 Marxismo e filosofia da linguagem. Problemas fundamentais do Método Sociológico na Ciência da Linguagem - 1929 Autoria disputada Todos os textos de Volóchinov são disputados – ghostwriter? Herdeiro sem paradeiro conhecido Citar a partir da tradução – a brasileira Bakhtin/Volochínov Introdução de Marina Yaguello: “não há dúvidas quanto à paternidade de suas (Bakhtin) obras” (p. 12) P. N. Medviédev tornou-se o fundador de uma teoria da literatura, à qual (em oposição ao método formal) foi dedicada sua monografia “O método formal nos estudos literários. Introdução crítica a uma poética sociológica ” (1928). Com esse livro, o Instituto da história comparada das literaturas e das línguas do Ocidente e do Oriente (ILIAZV), onde Medviédev trabalhava sem ser seu funcionário, começou uma série de novos trabalhos em poética – “ Questões de medotologia e teoria da linguagem e da literatura ” (Vopróssy metodológuii i teórii iazyká e literatúry), três publicações que vieram à luz com sucesso. Os editores científicos da Iliazv encarregaram P. N. Medviédev em parceria com V. F. Chichmarióv, discípulo do acadêmico A. N. Vesselóvski, de organizar e dirigir no Instituto uma nova divisão acadêmica: a divisão de poética sociológica. Em 1929 Medviédev foi iniciador e integrante do tema coletivo da divisão de poética sociológica em “epos sociológico”, do qual fizeram parte L. Bogáevskii, O. Freidenberg, V. Chichmarióv, N. Derjávin, e Frank-Kameniétskii, do tema coletivo “Sociologia dos gêneros” em parceria com V. F. Chichmarióv e de uma série de outros. (Iuri P. Medviédev, 2012, no prelo) Objetivo geral de MFL Análise marxista no domínio da filosofia da linguagem: - Relação entre pensamento e linguagem - Relação entre sociedade e linguagem - Origem das línguas: questão ausente Filosofia da linguagem Filosofia da linguagem – campo de pesquisa da filosofia, em que não somente é analisada a interrelação entre pensamento e linguagem, mas se evidencia o papel constitutivo da linguagem, da palavra e da fala às diferentes formas de discurso, à cognição e às estruturas da consciência e do conhecimento. O termo “filosofia da linguagem” foi proposto por P.I. Jitiétski (1900), A. Marty (1910), K. Vossler (1925), O. Funke (1928), M.M. Bakhtin e V. N.Volóchinov (1929). A filosofia clássica tematizou a problemática da linguagem sob dois ângulos de visão: 1) a explicação da gênesis da linguagem, em que foram apresentadas duas concepções alternativas – o surgimento da linguagem pela natureza (concepção desenvolvida inicialmente pelos sofistas e pelos estóicos e posteriormente no Iluminismo) e por convenção (dos gregos atomistas até T. Hobbys e J.J. Rousseau) e 2) a interrelação entre linguagem e pensamento, que, apesar da grande variedade de concepções dedicadas a esse conjunto de problemas, confluíam para a visão de que a língua é uma espécie de material plástico para a expressão do pensamento, que foi tratado como estrutura impessoal e objetivo-ideal de significados idênticos. (tradução e grifos meus) Nova enciclopédia de filosofia em quatro tomos (Nóvaia filossófskaia entsiklopiédiia v tchetyriókh tomákh, 2010) Tradução Baseada, principalmente, na francesa, com consultas à tradução americana e ao original russo Apagamento de termo “gênero” Signo ideológico (ideologuítcheskii znak) Material semiótico da ideologia Material semiótico dos campos da criatividade ideológica É ao mesmo tempo um fragmento material da realidade e seu reflexo e refração (sujeito a critérios de avaliação ideológica – verdadeiro, correto, bom etc.) Material da consciência individual que é um fato sócio-ideológico Emergem no processo de interação social – terreno interindividual Nenhum signo ideológico específico pode ser inteiramente substituído por palavras (signo verbal) Palavra (slovo) É o signo ideológico por excelência - verbal Pureza semiótica – materialização da comunicação social Neutralidade ideológica (presente em todas as esferas) Implicação na comunicação humana ordinária Possibilidade de interiorização – material semiótico da consciência Presença obrigatória em todo ato consciente Relação entre infraestrutura e superestrutura Como a infraestrutura (superestrutura)? determina a ideologia Como a realidade (infraestrutura) determina o signo? Como o signo reflete e refrata a realidade em transformação? A palavra, tomada como signo ideológico verbal, é o meio de análise do problema Signo ideológico verbal ou palavra Ubiquidade social Indicador mais sensível das transformações sociais Estrutura relações de produção/sociopolítica > psicologia do corpo social > ideologia (superestrutura) Psicologia do corpo social se manifesta nos enunciados, nos pequenos gêneros discursivos (málenikie retchevíe janry) – formas de interação verbal – situação social – sensíveis às mudanças Gêneros discursivos Correspondem a grupos de temas (p. 43) Formas de enunciados – formas de comunicação verbal – importância do componente hierárquico A questão do “gênero e a tradução Capítulo 2 – Relação entre a Infra-estrutura e as Superestruturas Por quê razão é inadmissível aplicar a categoria da causalidade mecanicista à ciência da ideologia. A evolução da sociedade e a da palavra. Expressão semiótica da psicologia social. Dialetologia social. Formas da comunicação verbal e formas dos signos. Tema do signo. Luta de classes e dialética do signo. CAPÍTULO 2 - O PROBLEMA DA RELAÇÃO ENTRE A BASE E A SUPERESTRUTURA A INADMISSIBILIDADE DA CATEGORIA DA CAUSALIDADE MECÂNICA NA CIÊNCIA DAS IDEOLOGIAS. A FORMAÇÃO DA SOCIEDADE E A FORMAÇÃO DA PALAVRA. A EXPRESSÃO SÍGNICA DA PSICOLOGIA SOCIAL. O PROBLEMA DOS GÊNEROS DISCURSIVOS DO COTIDIANO. AS FORMAS DE COMUNICAÇÃO SOCIAL E AS FORMAS DOS SIGNOS. O TEMA DO SIGNO. A LUTA DE CLASSES E A DIALÉTICA DO SIGNO. CONCLUSÃO. Uma análise mais minuciosa revelaria a importância incomensurável do componente hierárquico no processo de interação verbal, a influência poderosa que exerce a organização hierarquizada das relações sociais sobre as formas de enunciação. O respeito às regras da “etiqueta”, do “bem-falar” e as demais formas de adaptação da enunciação à organização hierarquizada da sociedade têm uma importância imensa no processo de explicitação dos principais modos de comportamento.1 1. O problema dos registro da língua familiar só começou a chamar a atenção dos lingüistas e filósofos bem recentemente. Leo Spitzer, num artigo intitulado “Italienische Umgangssprache” (1922) foi um dos primeiros a abordar este problema de forma séria, embora destituída de critérios sociológicos. Em uma análise mais detalhada teríamos visto o enorme significado do aspecto hierárquico nos processos de interação discursiva e a influência poderosa da organização hierárquica da comunicação nas formas do enunciado. A etiqueta verbal, o tato discursivo e as demais formas de adaptação do enunciado à organização hierárquica da sociedade possuem um significado importantíssimo no processo da elaboração dos principais gêneros da vida.7 7. O problema dos gêneros discursivos da vida passou a ser discutido na bibliografia linguística e filosófica apenas nos tempos mais recentes. O trabalho de Leo Spitzer “Italienische Umgangssprache” (1922) é uma das primeiras tentativas sérias de abordar esses gêneros com a ressalva de que faltou uma orientação sociológica clara. Signo ideológico Consenso entre indivíduos socialmente organizados no decorrer de um processo de interação. (p. 44) Alteração da organização social > alteração da interação social > alteração do signo (vous/tu na França – presidenta no Brasil) Estudo do signo ideológico para se chegar ao funcionamento da ideologia Formado a partir do que adquiriu valor social – tema (p. 45) Lugar de confronto de índices de valor contraditórios (p. 46) – lugar de encontro de diferentes classes sociais e esferas ideológicas (ex. Ditadura militar) Lugar de luta para tornar o signo monovalente Duas orientações no isolamento e delimitação da linguagem como objeto “ Subjetivismo idealista ” – objeto: ato de fala/criação individual como fundamento da linguagem – Wilhelm Humboldt – Potebniá – escola de Vossler “primazia do estilístico sobre o gramatical” (p. 76) “Objetivismo abstrato” – objeto: sistema linguístico – traços idênticos que garantem a unicidade da língua (p. 77) – aqui não há lugar para as distinções ideológicas, apreciativas (p. 79) Questões terminológicas e de tradução Linguagem: iazyk-riétch/riétch Língua/Langue: iazyk Ato de enunciação individual/parole: individualnogo rietchevógo akta/vyskázyvanie Enunciado/enunciação: vyskázyvanie Crítica ao objetivismo abstrato Oscila entre rejeição (erro – p. 96, 107) e compreensão da construção de um outro objeto teórico (legítima - p. 105) Reconhece a língua como objeto teórico da linguística (p. 96) Sériot: Volóchinov faz confusão entre objeto real e objeto de conhecimento, ou entre essência e modelo (p. 91) Enunciado/Vyskázyvanie Elo da cadeia dos atos de fala. (p. 98) O enunciado é de natureza social. (p. 109) Interação verbal Retchevóe vzaimodéistvie Crítica à teoria da expressão Expressão > atividade mental (p. 112) Enunciado – produto da interação de dois indivíduos socialmente organizados, determinado pela situação social mais imediata e um horizonte social (p.112)/meio social mais amplo (p. 113) Atentar para a diferença entre o par enunciação/enunciado em Benveniste e Bakhtin/Volochínov interação verbal/enunciado em Síntese entre idealismo e materialismo na relação realidade material e consciência A consciência é uma ficção fora da objetivação, fora da encarnação em um material determinado (o material do gesto, da palavra interior, do grito). Trata-se aqui de uma construção ideológica ruim, criada por meio de uma abstração dos fatos concretos da expressão social. Porém, a consciência como uma expressão material organizada (no material ideológico da palavra, do signo, do desenho, das tintas, do som musical etc.) é um fato objetivo e uma enorme força social. Entretanto, essa consciência não se encontra acima da existência nem pode determiná-la de modo constitutivo, pois a consciência é uma parte da existência, uma das suas forças e, portanto, possui a capacidade de agir, de desempenhar um papel no palco da existência. Enquanto a consciência permanece na cabeça daquele que pensa como um embrião verbal da expressão é apenas uma parte muito pequena da existência com um campo de ação reduzido. Porém, quando ela passa todos os estágios da objetivação social e entra no campo de força da ciência, da arte, da moral, do direito, ela se torna uma força verdadeira capaz até de exercer uma influência inversa nas bases econômicas da vida social. É claro, a força da consciência está na sua encarnação em determinadas organizações sociais e na sua fixação em expressões ideológicas estáveis (ciência, arte e assim por diante), porém ela já era um pequeno acontecimento social, e não um ato individual interior, na forma primária vaga de um pensamento e uma vivência instantâneos. (MFL, “Interação verbal”, tradução nossa,Tradução existente - p. 117-118) Ideologia do cotidiano (psicologia social): totalidade da atividade mental centrada sobre a vida cotidiana, palavra interior e exterior desordenada e não fixada num sistema (p. 118) Sistemas ideológicos constituídos: arte, moral, direito etc – cristalizam-se a partir da ideologia do cotidiano e exercem uma influência sobre ela (p. 119) Ideologia do cotidiano – avaliação crítica viva dos sistemas ideológicos constituídos (p. 119) Níveis da ideologia do cotidiano Nível inferior: não é dotada de um auditório social determinado, atividades mentais e pensamentos confusos e informes que se acendem e apagam na nossa alma, assim como as palavras fortuitas ou inúteis (p. 120) Níveis superiores: em contato direto com os sistemas ideológicos, têm um caráter de responsabilidade e de criatividade, são mais móveis e sensíveis que as ideologias constituídas (p. 120) Ordem metodológica para o estudo da língua (p. 124) 1) As formas e os tipos de interação verbal 2) Enunciados e seus gêneros 3) Exame das formas da língua Disso decorre que a ordem metodológica para o estudo da língua deve ser o seguinte: 1. As formas e os tipos de interação verbal em ligação com as condições concretas em que se realiza. 2. As formas das distintas enunciações, dos atos de fala isolados, em ligação estreita com a interação de que constituem os elementos, isto é, as categorias de atos de fala na vida e na criação ideológica que se prestam a uma determinação pela interação verbal. 3. A partir daí, exame das formas da língua na sua intepretação lingüística habitual. (p. 124) Disso decorre que a ordem metodologicamente fundamentada para o estudo da língua deve ser a seguinte: 1) as formas e os tipos da interação verbal na relação com suas condições concretas; 2) as formas dos enunciados, dos discursos verbais em relação estreita com a interação da qual elas são uma parte, isto é, as formas determinadas pela interação verbal, os gêneros dos discursos verbais na vida e na criação ideológica; 3) partindo disso, a revisão das formas da língua em sua concepção linguística habitual.