Aristóteles e o mundo sensível. Pense sobre o paradoxo de Zenon Aquiles, herói grego, decide apostar uma corrida de 100 m com uma tartaruga. A velocidade de Aquiles é 10 vezes superior, portanto a tartaruga pode começar a corrida com 80 metros de vantagem. Após a largada, Aquiles percorre 80 metros, e a tartaruga 8. O problema é que , quando Aquiles houver percorrido mais 8 metros, a tartaruga terá andado mais 80 centímetros e assim indefinidamente. Ou seja: não importa o espaço percorrido pelo herói grego, porque a tartaruga estará sempre a sua frente. Agora observe a gravura A cascata de Escher. Na imagem a água está descendo ou subindo? A sensação de estranhamento que experimentamos ao ler o paradoxo e ao observar a imagem certamente se deve ao fato de que ambos parecem nos enganar, constituindo-se em verdadeiros desafios à razão e aos sentidos. Fugir do engano, do erro foi a principal meta dos filósofos gregos, que em geral valorizam muito o papel da razão para se conseguir isso. Quem foi Aristóteles Aristóteles (384-322 a.C.), foi um pensador originário de Estagira. Antes dos 20 anos, mudou-se para Atenas e ingressou na Academia de Platão. Seu pai era médico, e isso influenciou Aristóteles principalmente no diz respeito a sua capacidade de observação e de tentar obter informações ou desenvolver modelos teóricos a partir dos “sintomas” que se apresentam diante dos sentidos. Por ser estrangeiro vivendo na cidade de Atenas, não possuía os direitos políticos dos cidadãos atenienses. Dessa forma sua relação com a democracia ateniense se limitou à especulação teórica. Mas isso não diminuiu sua importância política, já que devido à sua origem e à proximidade entre sua família e os governantes da Macedônia, Aristóteles foi escolhido para ser professor do jovem Alexandre, que mais tarde iria conquistar um vasto império e o governaria com o nome de Alexandre, o grande. Em Atenas, fundou uma escola chamada Liceu, que rivalizaria com a Academia de Platão. Nessa época, seus discípulos eram chamados de peripatéticos (que significa “os que passeiam”), devido ao hábito de realizar debates enquanto caminhavam. A oposição a Platão O pensamento de Aristóteles se opõe ao de Platão em diversos aspectos. O principal deles certamente é a importância dada aos sentidos para se alcançar o conhecimento. Platão afirmava a superioridade do mundo das idéias em relação ao mundo dos sentidos: o que vemos a nossa volta é o reflexo das formas eternas e imutáveis que podem ser conhecidas porque também existe em nossa alma. Para Aristóteles, dá-se exatamente ao contrário: as imagens que formamos em nosso pensamento surgem a partir de um contato prévio com as coisas materiais, que são captadas pelos sentidos. Além disso, Platão dizia que as idéias eram inatas. Para Aristóteles, a razão era inata: todos os homens nascem com a razão, que lhes dá a capacidade de ordenar e classificar todas as coisas do mundo conforme são percebidas pelos sentidos. De acordo com Aristóteles, as coisas apresentam diversos modos de ser. Um touro, por exemplo, é ao mesmo tempo: forte, preto, bravo, touro. Ou seja, ele pode ser caracterizado por diversas categorias. Dessas a mais substancial é o touro em si, pois é de sua existência e de sua individualidade que derivam as demais. Nesse caso, o touro é uma substância ( uma categoria), sua cor preta é uma qualidade (outra categoria), sua força é uma quantidade (outra categoria). Aristóteles definiu dez categorias, ou seja, dez formas de se caracterizar a substância (o sujeito individual): substância, quantidade, qualidade, relação, tempo, lugar, situação, ação, paixão e possessão. Dessa forma, o mundo seria composto de substâncias distintas, mas que são caracterizadas por categorias comuns a outras substâncias. O mundo material Segundo Aristóteles, as substâncias apresentam certas peculiaridades. Uma substância não é apenas certa quantidade de matéria; ela também apresenta uma forma. A matéria é um suporte passivo que precisa de uma forma para tornar-se uma coisa; já a forma é algo que pode ser percebido pela razão a partir da observação. A substância touro só é percebida como tal porque conhecemos a forma touro. Mas a forma é também um princípio de funcionamento, que faz com que as coisas estejam sempre mudando e se aperfeiçoando. Assim, a forma árvore está contida na semente, o adulto está contido na criança. Nesses exemplos, a árvore e o adulto representam a essência de uma forma. Todas as coisas existem em potência e em ato: enquanto uma coisa em potência é uma coisa que tende a ser outra (semente), a coisa em ato é algo que já está realizado (a árvore). Nesse sentido, cada forma específica contém uma dinâmica interior, um movimento que faz com que ela passe da potencialidade à realidade Mas de onde viria essa dinâmica interior ou movimento? Cada potencialidade surgiu necessariamente de uma causa externa, ou seja, de uma forma já desenvolvida: a semente surgiu de uma árvore. A causa é tudo aquilo que contribui para que um ser se torne real. Aristóteles distinguiu: Causa material: o material de que algo é feito (madeira, mármore, carne e osso). Causa formal: referente à forma (árvore, homem, touro). Causa eficiente: responsável por realizar a potencialidade de uma matéria. Causa final: objeto ou finalidade do desenvolvimento da forma. Essa divisão ficou conhecida como teoria das quatro causas. Aristóteles ilustra isso com o exemplo de um escultor (causa eficiente) de uma estátua de mármore (causa material), que representa o deus Hérmes (causa formal) com a intenção de criar uma forma bela (causa final). No que se refere a natureza, surge a questão de qual seria a causa eficiente e qual seria a causa final dos movimentos observados no universo. É nesse ponto que se chega ao conceito de Deus – a Causa Primeira de tudo o que existe.