ADESÃO À TRATAMENTO Gisela Cardoso Serviço de Psiquiatria e Psicologia Médica HUCFF/UFRJ ADESÃO • Avanço da pesquisa médica; • Crescimento da industria farmacêutica; • Desafio e motivo de preocupação há 4 décadas • Impacto da adesão: redução da morbimortalidade relacionada a diversas doenças ADESÃO • Questão fundamental para o sucesso terapêutico • “É o estabelecimento de uma atividade conjunta na qual o paciente não apenas obedece a orientação médica, mas entende, concorda e segue a prescrição recomendada pelo seu médico” (MS, 1999). DOENÇAS CRÔNICAS E ADESÃO • Taxas médias: 50% • VARIA DE ACORDO COM INÚMEROS FATORES: • • • • DOENÇA; TRATAMENTO; DOENTE; TIPO DE MEDIÇÃO DA ADESÃO Complexidade do Fenômeno Momento do diagnóstico e da doença Tipo de doença Hábitos e vícios Qualidade dos serviços de saúde Faixa etária Imaginário social ADESÃO Vivência religiosa Esquema terapêutico Relação profissional saúde/ paciente Escolaridade Vínculos afetivos Apoio psico social Renda Pessoal Estrutura da personalidade ADESÃO: FACILITADORES Vulnerabilidade Programá Programática (escolha tipo tratamento, disponibilidade drogas, tempo espera curto, horá horário extenso funcionamento unidade, acolhimento) PROGRAMA Vulnerabilidade individual (boa motivaç motivaç ão, aceitabilidade, conhecimento, atitudes positivas sobre o tratamento e a doenç doenç a) POPULAÇ POPULAÇÃO Vulnerabilidade Social (não discriminaç discriminação, apoio familiar e social, redes sociais locais) ADESÃO: BARREIRAS Vulnerabilidade Programá Programática (não escolha tipo tratamento, não disponibilidade drogas, tempo espera prolongado, horá horário extenso funcionamento unidade, falta de acolhimento) PROGRAMA Vulnerabilidade individual (falta de motivaç motivação, não aceitabilidade, pouco conhecimento doenç doença, atitudes negativas doenç doenç a e e doenç doença) POPULAÇ POPULAÇÃO Vulnerabilidade Social (discriminaç (discriminação, pobreza e gênero, falta de apoio familiar e social, falta redes sociais locais) NÃO ADESÃO ARV - Brasil (NEMES, 2003) • Escolaridade menor que 4 anos • Falta de renda pessoal MEDIÇÃO DA ADESÃO • 1) Perguntar diretamente ao paciente (entrevistas ou questionários); • 2) Estimar indiretamente através da contagem manual de pílulas no frasco de comprimidos ou através de monitoramento eletrônico MEMS (Medication Event Monitoring System); • 3) Dosar marcadores biológicos que permitem a medida de níveis séricos ou urinários da medicação (Ex: carga viral) AUTO-INFORMAÇÃO DESVANTAGENS: • A) tendência do paciente em superestimar sua adesão; • B) falhas na memória (não lembrar direito dos dias e horários); • C) dificuldade de falar de forma franca sobre a tomada dos medicamentos por medo de ser afastado do serviço de saúde AUTO-INFORMAÇÃO • VANTAGENS: Dados de natureza da qualidade da informação que são preciosos: descrição dos remédios, das dificuldades, dos sentimentos envolvidos TAMBÉM IMPORTANTES: Informações colaterais: familiares e equipe de saúde OUTRAS ALTERNATIVAS DE MEDIÇÃO ADESÃO • Regularidade das idas às consultas médicas • Freqüência de retirada de medicações na farmácia do local de tratamento IDEAL PARA MEDIÇÃO DA ADESÃO • Utilizar pelo menos 2 técnicas diferentes de medição (entrevista e carga viral, por exemplo); • De forma a complementar as informações e/ou corroborar com o que é dito pelo paciente CASO CARLA Carla tem 29 anos, é viúva e soube do diagnóstico de infecção pelo HIV há 6 anos,quando sua filha, então com 11 meses adoeceu e recebeu esse diagnóstico. Segundo ela “foi horrível, parecia que o mundo tinha desabado em cima de mim... Eu pensei até em acabar com a vida... já que vou morrer, vou acabar logo”. Carla se contaminou com o marido, usuário de drogas endovenosas. Ao contar para sua família sobre a questão do HIV, a mesma, segundo Carla, ficou muito chateada e pediu que ela se separasse do marido, ao que ela teria respondido: “Tudo bem que vocês são contra ele... ele foi culpado, só que agora a gente tá no mesmo barco. Deixa o barco afundar! Eles ficaram revoltados comigo mas depois foi passando”. Segundo Carla seu marido não fazia o tratamento anti-retroviral (TARV) direito, continuou usando drogas e acabou falecendo 1 ano depois do diagnóstico. Na mesma época ela também iniciou o TARV, relatando que nunca gostou do mesmo: “Desde o começo que eu não tomo direito. Eu tomava os medicamentos e não me sentia bem, não descia os comprimidos. Me deprimia, só vivia deprimida, só vivia deitada na cama, não tinha ânimo pra nada. Aí eu parava, ficava sem tomar uma semana e ficava bem. Eu pensei: Quer saber de uma coisa? Não vou ficar tomando remédio! Vai ser pior? Mas eu me sinto melhor!” Segundo Clara, apesar de não tomar os ARV ela se cuida, evitando noitadas e bebidas. Descreve que “não é que tô 100%, mas 80%, ótima, sem os medicamentos!”. A filha de Carla, de 6 anos, faz acompanhamento clínico e TARV “rigoroso”, segundo suas próprias palavras. A mãe de Carla assumiu a criação da neta. Há 1 ano Carla conheceu um rapaz com o qual mantém um relacionamento amoroso. Relata que essa relação tem lhe dado força “porque antes eu pensava em morrer”. Conta também que seu namorado é muito teimoso, pois não quer usar preservativo. Acredita que ele possa já estar contaminado. CASO CARLA • Quais as dificuldades que vocês identificam no caso Carla? • Vocês acham que Carla tem algum problema que possa estar interferindo em seu tratamento? • Que estratégias de abordagem vocês sugeririam/utilizariam? CASO JORGE Jorge, sexo masculino, 45 anos, casado, 3 filhos de 15, 12 e 10 anos respectivamente. Estudou até o 3º ano do Ensino Fundamental, trabalha como pedreiro, mora em uma casa pequena, com 2 cômodos, sem ventilação em uma comunidade no Complexo da Maré, RJ. Em meados de 2009 foi diagnosticado com tuberculose e iniciou o tratamento supervisionado em um posto de saúde com programa de agentes comunitários de saúde implantado (PACS) perto de sua casa, vinculado ao CMS Américo Veloso, unidade-mãe (Ramos). Jorge compareceu com regularidade ao posto de saúde para tomar os remédios até o final do segundo mês de tratamento (são 6 meses de tratamento), quando então começou a faltar, alegando que já se sentia melhor. Ao final do 3º mês de tratamento deixa de comparecer ao posto. A agente comunitária de saúde (ACS) vai até a casa de Jorge para saber o motivo de sua falta ao posto. Jorge não está em casa, mas sua esposa a recebe e conta para a ACS que Jorge começou a trabalhar fazendo biscates. Ele é o provedor principal da casa e durante o período de afastamento do trabalho por conta da doença e do tratamento “começaram a faltar coisas em casa”. A esposa de Jorge relata também que ele tem receio de voltar a seu emprego original por medo de discriminação por parte de seu patrão e colegas. A esposa de Jorge pede que a ACS a ajude a convencer o marido de retornar ao tratamento, pois percebe que “ele não está completamente recuperado ainda”. CASO JORGE • • • Qual parece ter sido o principal motivo que levou Jorge primeiramente a faltar e depois abandonar o tratamento de tuberculose? Vocês acham que Jorge tem algum problema/dificuldade que possa estar interferindo em seu tratamento? Que estratégias de abordagem vocês sugeririam/utilizariam?