Apresentação do PowerPoint - Governo do Estado de Pernambuco

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Ciências Humanas e suas
Tecnologias - História
Ensino Médio, 1ª Série
A participação das mulheres na vida social e política
em Esparta e Atenas
História, 1º ano do Ensino Médio
A participação das mulheres na vida social e política em
Esparta e Atenas
1. O CASAMENTO E OS VALORES GENTÍLICOS: FAMÍLIA E
EDUCAÇÃO
Vamos conversar sobre o assunto?
Você já parou para pensar na importância da família na
sociedade grega? E quanto ao lugar da mulher nessa família?
Alguma vez já pensou nas diferenças educacionais existentes nas
duas principais pólis¹ gregas? Não? Então é hora de começar a
refletir sobre o casamento e os valores gentílicos na formação da
sociedade grega. Mas como era mesmo organizada a família na
Grécia? Vamos começar a discutir sobre o assunto.
Como era a família na Grécia?
O Mundo da Grécia era formado por uma sociedade altamente
patriarcal², onde a palavra do homem exercia o poder supremo no
seio familiar. Perante o Governo, o marido sempre estava com a
razão no momento dos conflitos entre os cônjuges e a mulher,
mesmo se estivesse correta em suas atitudes, levaria a pior.
Saiba Mais
¹pólis: as
cidadesEstado da
Grécia
Antiga.
Saiba Mais
²patriarcal: a
sociedade
se organiza
com base na
família em
torno da
ideia de
domínio do
pai.
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Esparta e Atenas
Devido ao forte laço de amizade (em alguns casos de
parentesco) existente entre o rei e os seus guerreiros, todos eram
considerados como uma grande família. Como em toda família,
existiam as trocas de cumprimento, mas também os litígios.
Cada família (ou genos³) traça sua descendência até um
único fundador, um deus ou herói, a uma delas pertence o rei que
dirige o clã na guerra e na paz. Cada família é subdividida em
grupos de natureza militar e religiosa, depois vem a população
dividida segundo a ocupação, lugar de residência e posição social.
O trabalho é feito em casa por todos os membros da família,
não sendo, portanto, considerado um incômodo ou opressão. Os
escravos e servos sem lar, empregados, fazem parte da família
como unidade social e produtiva, embora os trabalhos mais árduos
lhes sejam delegados. Como membros da família, estão sob a
proteção dos deuses do lar; e a religião e os costumes garantem
aos mesmos um tratamento humano.
Saiba Mais
³genos:
espécie de
clã ou grande
família
chefiada pelo
homem mais
velho
(patriarca),
onde o
poder era
repassado do
pai para o
filho
primogênito.
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A participação das mulheres na vida social e política em
Esparta e Atenas
E as mulheres?
Não podemos falar de família sem, no entanto, abordarmos o papel
que a mulher possuía na sociedade grega e do seu comportamento diante
dos poderes legais da época. A mulher era extremamente dependente e
subordinada ao chefe da família ou, quando casada, ao seu marido e
senhor. Particularmente em Atenas, as mulheres assemelhavam-se aos
escravos, os quais não possuíam nenhum direito político ou jurídico;
direitos assegurados na sociedade minoana e, segundo parece, nos
tempos de Homero. Porém, a mulher era reconhecida como senhora do
escravo, extinguindo-se por aí as semelhanças entre ambos.
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Esparta e Atenas
As atenienses solteiras não podiam encontrar-se livremente com os
rapazes, ficando em aposentos separados dos masculinos (o gineceu) e
as mulheres casadas viviam longe das vistas alheias, separadas até dos
membros masculinos da própria família. Já os homens gozavam de total
liberdade política e judiciária dentro do Império, cabendo-lhes os trabalhos
com a caça e a agricultura, como também lhes eram dados os direitos,
caso quisessem, de não permitir que as suas esposas governassem a sua
casa com autoridade. Singularidades eram visíveis de lugar a lugar. Os
espartanos, por exemplo, apesar de serem bastante rígidos, ao contrário
dos atenienses, permitiam que as suas jovens esposas usassem vestes
curtas para a prática de exercícios físicos.
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Esparta e Atenas
Para o cidadão de Atenas, casar-se era, antes de tudo, uma
convenção religiosa e social, pois tornava possível a continuação de sua
família. Isso mesmo, casava-se PRINCIPALMENTE para poder continuar a
família “e assegurava a seu pai o culto que este último igualmente já
celebrara em honra dos seus antepassados, culto que era
considerado como indispensável à felicidade dos mortos no outro
mundo” (FLACELIÈRE: [s.d.], 68)
Não sabemos com precisão se o amor existia entre os casais
formados no fim do século VI, mas que, em meados dos séculos V e IV, os
gregos empregavam a palavra Eros (amor) para descrever o sentimento
que unia duas pessoas. O amor conjugal apenas será reabilitado,
totalmente, na Grécia com a influência dos costumes romanos.
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A participação das mulheres na vida social e política em
Esparta e Atenas
A família espartana exercia um importante papel perante o
Estado, pois era ela quem educava, desde a infância, as crianças
saudáveis para servirem ao exército, enquanto que as crianças não
consideradas saudáveis pela Comissão Especial de anciãos eram
rejeitadas pelo Governo, podendo morrer ou ser recolhidas por
algum hilota.
Se para as mulheres havia regras rígidas para os homens
também, sendo os espartanos obrigados a realizar matrimônio sob
pena de serem punidos por lei. Em Atenas, por outro lado, tal
obrigatoriedade não existia embora os solteiros fossem vistos com
desprezo e censura, sendo liberados de tal obrigação caso
possuíssem um irmão mais velho e este já estivesse casado.
Era preferível o casamento entre pessoas do mesmo grupo
social, isto é, a endogamia, exceto entre ascendentes e
descendentes e entre irmãos e irmãs da mesma mãe, para
conservar e reforçar os laços da família. No caso do único filho ser
do sexo feminino, apenas lhe seria permitido casar-se com um
parente mais chegado do pai, ficando evidente a preocupação em
perpetuar a raça e assegurar o culto familiar.
Lembrete:
Espartano,
se não casar
vai ser
punido!
THIS...
...IS
SPARTA!!!
Imagem: Lisander of
Sparta / Public Domain
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Esparta e Atenas
O relacionamento do casal tinha como principal intuito a
procriação dos filhos, portanto, todos os esforços realizados eram
para que a mulher tivesse uma vida saudável para assegurar a
continuidade da raça. Com esse fim, havia uma legislação familiar
em Esparta que permitia ao homem idoso entregar a sua esposa
para ter com varões mais novos e vigorosos filhos saudáveis. Ainda,
a mulher que fosse estéril ou cometesse adultério deveria ser
repudiada, obrigatoriamente, pelo marido.
O sustento da família, nas classes sociais mais pobres, muitas
vezes ficava a cargo da mulher, que trabalhava como vendedora no
mercado, “mas as atenienses só em casos extremos lançavam
mão de qualquer ofício, enquanto as mulheres dos metecos
eram frequentemente tecedeiras de lã, sapateiras, costureiras,
etc”. (FLACELIÈRE: [s.d.], 80) Lembrando que nas camadas sociais
mais elevadas, as mulheres apenas sairiam de casa acompanhada
por uma de suas escravas. Apenas nas festas familiares é que elas
juntavam-se aos homens.
Saiba Mais
Metecos –
pequeno
comerciante
sem direito
de cidadão.
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Esparta e Atenas
E como era a Educação na Grécia?
Para
compreender a educação na Grécia Antiga é
imprescindível comparar os métodos educacionais existentes em
Esparta e Atenas, duas das polis mais importantes daquela
civilização. Vejamos:
A primeira diferença existente entre Atenas e Esparta, no que
se refere à educação, diz respeito ao tratamento dado aos recémnascidos. As crianças de Esparta não eram enfaixadas como em
Atenas, pelo contrário, tinham seus membros inteiramente livres. As
amas da Lacônica, segundo Plutarco, “habituavam-nos a não
serem esquisitos nem difíceis quanto à alimentação, a não
terem medo da escuridão, a não recearem a solidão, a
absterem-se de caprichos vulgares, de lágrimas e de gritos”.
Esse era o motivo pelo qual as famílias aristocráticas de Atenas
procuravam amas para seus filhos em Esparta.
Saiba Mais
Era comum nos
primeiros meses
de vida as
crianças
atenienses
ficarem
completamente
enfaixadas sem
mobilidade dos
braços e pernas.
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Esparta e Atenas
Em Atenas, as moças viviam em regime de reclusão, isoladas
dos rapazes. Em Esparta, verifica-se o contrário: as donzelas
praticavam numerosos desportos em público. Praticavam diversas
lutas, o lançamento do disco e do dardo, aprendiam a manusear
armas de guerra. Era um método de preparar mães de família
fortes, robustas, dotadas de qualidades viris, com o intuito de
formarem uniões harmoniosas que dariam crianças, do sexo
masculino, fortes e robustas.
A educação dos filhos ficava aos cuidados das mães, em
casa, secundada pelas suas criadas. O primeiro ensino que os
pequenos recebiam, logo que atingiam a idade da compreensão,
eram as histórias tradicionais contadas por suas mães. Estas
histórias, fábulas, comportavam uma moral, a da experiência, logo,
um ensinamento. Mães e amas já iniciavam as crianças na mitologia
e nas lendas nacionais, transmitindo-lhes o que elas próprias
aprenderam na tenra infância, nas festas religiosas, constituindo-se
já numa forma de prepará-las para a leitura dos poemas de Homero
e de Hesíodo, em casa do gramatista.
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Esparta e Atenas
Os pais, em Atenas, não eram obrigados por lei a mandarem
seus filhos para a escola, mas a obrigação escolar era certamente
imposta pelos costumes. O ensino das letras, da música ou da
ginástica era ministrado na casa do mestre e não em um edifício
público construído pelo Estado. Em Atenas, verifica-se uma
educação quase que inteiramente livre e deixada à iniciativa dos
particulares. Exceção à educação dada aos pupilos da nação,
quando o Estado pagava a mestres particulares para educarem os
filhos dos cidadãos mortos pela pátria.
As despesas com a educação eram, então, custeadas pelos
pais. Logo, quanto mais abastada era a família, mais oportunidades
tinham os jovens, que a elas pertenciam, de continuar seus estudos
até a efebia. Quanto aos pobres, sua instrução acabaria antes,
geralmente logo que conhecessem mais ou menos os elementos.
Porém, a instrução parece ter sido cultivada em Atenas durante o
século V.
Vamos
exercitar:
Com as
informações
sobre
família e
educação
trabalhadas,
construa
uma
redação de
30 linhas
narrando a
vida de uma
ateniense
ou
espartana
em 1ª
pessoa.
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2. ENSAIOS DE REAÇÃO FEMININA NA VIDA E NA ARTE: ANTÍGONA,
SAFO, LISÍSTRATA, NEIARA, ASPÁSIA
Toda mulher deveria se encher de vergonha ao saber que não passa de
uma mulher.
(Clemente de Alexandria)
Melhor morrer de pé do que viver de joelhos!
(Dolores Ibarruri)
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A participação das mulheres na vida social e política em
Esparta e Atenas
Para entendermos os limites das mulheres na sociedade grega,
avançaremos na leitura e conhecimento de cinco mulheres que suas
histórias chegaram até nós. Das cinco, duas são personagens de teatro
grego, uma tragédia e outra comédia que, apesar de escritas por homens,
permite que identifiquemos inclusive em quais momentos é pensado a
possibilidade de ações para as mulheres numa sociedade patriarcal. As
três outras, Aspásia, Neara e Safo são mulheres de diferentes camadas
sociais que, a seu modo, reivindicaram novos espaços ou encontraram
brechas nas regras sociais onde se estabeleceram.
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2.1 Antígona
É no amor que se firma essa tragédia escrita por Sófocles,
mas logo mostra seu grande diferencial: não é um homem que
afronta a ordem estabelecida, e sim uma mulher, Antígona, filhairmã de Édipo, nobre de origem inabalada no senso ético. É ela que
ousa afrontar o Tirano com o fim de prestar as devidas homenagens
fúnebres ao irmão. Uma semente que apontava para rudimentares
noções de um Direito Universal. A história de uma heroína que
também poderia ser descrita como a de um costume cultural se
opondo ao direito instituído, questionando até que ponto as
determinações de uma única classe poderiam coagir o senso social.
Quer saber
mais?
Leia o livro
Antígona,
escrito por
Sófocles,
pode ser
encontrado
o e-book em
http://www.
ebooksbrasil
.org/adobee
book/antigo
ne.pdf
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Esparta e Atenas
Antígona, mulher que rompe com o papel tradicional
consagrado pela sociedade ao se rebelar contra o homem e contra
a autoridade que representa, tendo como única defesa e
sustentáculo seus próprios princípios. Impávida se rebela contra o
Tirano. Sozinha executa, sem vacilar, por duas vezes suas próprias
determinações e por causa delas recebe o julgamento terreno que a
leva ao sepulcro ainda em vida.
Imagem: Themis / ChvhLR10 /
GNU Free Documentation License
Em Antígona se desvanece a figura predominante da mulher
grega totalmente submissa ao homem. Na literatura dramática, a
mulher inflamada pela dor e pela perda, despedaçada pela injustiça
se fortalece em seus princípios e põe em questionamento as leis de
uma cidade frente às leis universais. Deste sentimento ela recebe
toda a força que necessita para manter sua postura imperativa, forte
e apaixonadamente fervorosa pela realização de seus atos, custe o
que custar, mesmo que a sua vida seja o preço. Ela mesma
determina que não adianta viver uma morte em vida.
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Esparta e Atenas
Vamos exercitar? Leia o fragmento da música Mulheres de Atenas,
de Chico Buarque e Augusto Boal, e faça uma comparação entre a
mulher apresentada na música com o que foi discutido sobre
Antígona.
“(...) Mirem-se no exemplo
Mirem-se no exemplo Daquelas
Daquelas mulheres de Atenas:
mulheres de Atenas
Geram pros seus maridos ,
Temem por seus maridos,
Os novos filhos de Atenas.
Heróis e amantes de Atenas
Elas não têm gosto ou vontade,
Nem defeito, nem qualidade;
Têm medo apenas.
Não têm sonhos, só têm
presságios
O seu homem, mares, naufrágios...
Lindas sirenas, morenas.
Quer saber
mais?
Assista o
vídeo
completo da
música pelo
link:
http://www.
youtube.co
As jovens viúvas marcadas
m/watch?v=
E as gestantes abandonadas
MabbVn0Rl
Não fazem cenas
Vestem-se de negro, se encolhem v4&feature=
related
Se conformam e se recolhem
Às suas novenas
Serenas (...)”
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2.2 Safo, a poetisa
Erótico. Relativo ao amor sensual, à lubricidade. É a partir desta
expressão que se pode começar a compreender o amor de Safo, o
“erótico espiritual”. Sua obra e trajetória capaz de vivenciar faces
não só do que denominamos amor, mas de transmitir fragmentos de
sentimentos, apresentar imagens do amor ao espírito, expressar o
desejo, concebê-lo em tudo que ele pode arrebatar, tanto a força da
paixão que leva ao pensamento e ao desejo, quanto à tristeza da
perda e do desprezo, espada cortante que dilacera a alma, Safo
assume em suas palavras a erótica do amor.
... Eu enrubesço, empalideço à sua vista;
Uma perturbação se eleva em minha alma perdida,
Meus olhos já não veem, já não posso falar.
Sinto todo o meu corpo a transir e queimar.
Retrato atribuído a poetisa Safo presente em
um afresco de Pompéia.
Imagem: Safo, Pompeia / Creative Commons CC0 1.0 Universal Public Domain Dedication
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Esparta e Atenas
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Safo, nascida na ilha de Lesbos, de origem nobre, viúva e rica,
mãe de Cléis, volta-se para sua sociedade para erigir seu nome
entre os maiores poetas da época. Dizem que há nove musas.
Que falta de memória! Esqueceram a décima, Safo, de Lesbos.
As palavras de Platão transmitem o quão a poetisa representou:
simplesmente a primeira mulher da Grécia a registrar por escrito
seus sentimentos e poesias.
Sua origem pode explicar em parte a postura assumida diante
da Grécia. Sua cidade é cosmopolita, com posição geográfica e
política um pouco singular. Lesbos concede à mulher poder de se
perceber como mulher, além de incutir valores sociais altamente
femininos. É neste campo que a poetisa funda uma confraria
religiosa dedicada à Afrodite para, através das artes, ensinar a suas
discípulas a serem “mulheres”. Nesse processo ela não busca
quebrar com a estrutura social, ela pretende, sim, instruir suas
alunas a tornarem-se boas esposas, mas isso envolve toda uma
educação artística e erótica.
Se não rompe a ordem estabelecida ao menos permite que
entre as “irmãs” a mulher experimente uma autonomia, que se
descubra e que deseje.
Saiba Mais
Assim como
outras
palavras que
utilizamos
hoje como
homossexual,
androgenia,
afrodisíaco e
erótico, a
palavra lésbica
vem do grego,
uma
referência a
Safo, nascida
na ilha de
Lesbos.
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2.3 Neaira
Liberdade. Direito de decidir e agir segundo sua própria vontade,
mesmo que imerso num plano cultural cujas regras sociais estabelecem
freios à liberdade individual em favor do coletivo.
Neaira, escrava, forra, mãe, mulher, cortesã, entre outras
designações, uma constante lutadora, representante daqueles que almejam
libertar-se de sua condição e romper com todas as marcas que sua antiga
“prisão” poderia deixar. Vendida ainda criança, torna-se escrava aos cinco
anos de idade. Com os anos, amadurece nas artes da sedução, torna-se
uma cortesã, lição ensinada por uma fina pedagoga, Nicareteia, aquela a
quem pertencia. Numa sociedade patriarcal como a grega, onde apenas os
homens são cidadãos, ser mulher já constitui-se um sinal de inferioridade
social; ser escrava é perder-se para tornar-se objeto de outro.
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Inicia-se a luta de Neaira, a luta para se livrar do adjetivo
“objeto”, guerra travada a cada dia, utilizando-se de sua principal
arma, na qual todos a queriam vestida, a sedução. Os gregos
marginalizam o espaço da mulher na sociedade, delimitando o
âmbito de atuação de cada uma das categorias de mulher: as
esposas vivem para o lar e para cuidar e gerar a prole; a cortesã
para oferecer os momentos de prazer.
Neaira deseja galgar até as últimas etapas da hierarquia social
que uma mulher pode alcançar, levando consigo seus dois filhos e a
filha. Liberta de Nicareteia, torna-se “escrava” de apenas dois
amantes, Temanórida e Eucrates. Estes a alforriam permitindo que
parta com Frínion para a cidade de Atenas. Corinto não é mas sua
cidade, pois em seu contrato de alforria torna-se “persona non
grata”. Como num nascimento, Neaira rompe as barreiras que a
nutriam, protegiam e escravizavam: sem os cuidados de Corinto é
obrigada a perceber o mundo, ver novos horizontes, começar uma
nova vida, num novo ambiente, mas agora uma estrangeira
“meteco” vivendo com um da terra, um homem livre.
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Com Frínion suas funções não se modificam, continua sendo um
objeto de prazer para seu protetor e amigos, mas agora ela não precisa
frequentar as “casas” ou os locais de prostituição, ela frequenta reuniões
particulares e festas das quais é convidada. Acaba por construir uma rica
clientela que a permite viver no luxo. Além de tudo isso, mesmo que
destituída de direitos jurídicos, não é uma escrava, é uma estrangeira que
possui um protetor, alguém que a representa perante a cidade e que lhe dá
segurança. Ela tem Frínion.
Em constante luta por si e pelos seus, percebendo sua falta de futuro,
foge de Atenas em direção a Mégara, onde inicia nova vida e se une a um
novo homem temerosa da reação de seu amante ateniense. Selando seu
relacionamento com a cortesã, Estéfano introduz os dois filhos de Neaira
em sua fratia como filhos seus. Assim eles serão verdadeiros cidadãos.
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Já a sua filha o futuro lhe revela outros caminhos: o de almejar a
realeza ateniense, impensado para uma estrangeira que além de tudo já se
envolvera com homens. O voo de Neaira em defesa da libertação finalmente
encontra uma barreira intransponível, a justiça ateniense “... Não convém
que nossas mulheres casadas, segundo a legislação, sejam rebaixadas
publicamente ao nível dessa mulher, que, várias vezes ao dia, mantém
relações impudicas com numerosos homens segundo a vontade de
cada um.” (MAZEL, 1988, pp. 28-29.)
Neaira não quer romper a estrutura social escravista, ela mesma possui
servos, o que ela não quer é permanecer nesta condição subserviente e
marginalizada, nem para si nem para os seus. É justamente esta estrutura
social que a vence por ser incapaz de admitir uma igualdade entre a mulher
nascida na terra, educada para a castidade e a servidão do lar, e a mulher
sedutora, libidinosa e ainda por cima escrava e estrangeira.
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2.4 Aspásia
Inspiradora do Poder. O que marcaria tanto a vida de uma
mulher ao ponto de se tornar objeto de atenção de toda uma
sociedade? O fato de ser uma estrangeira a colocaria no rol de
“mais uma” meteco, ter sido uma prostituta acrescentaria uma lista
de “clientes” talvez importantes, tornar-se mulher de um político,
mesmo em alto cargo, a daria o status de “mulher de...”, mas não
lhe acrescentaria uma maior singularidade na História. Como então
Aspásia, nascida em Mileto, habitando o centro político que era
Atenas, pôde frente ao patriarcalismo grego deixar sua marca pela
emancipação da mulher?
Aspásia
de
Mileto (c. 469
a.C.– c. 406 a.C.,
amante
de
Péricles.
Museus
Vaticanos, Roma)
Imagem: Busto de Aspasia, Museu do Vaticano / Jastrow / Public Domain
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Atenas descobre com Péricles a plenitude de sua democracia.
Eleito estrátego é reeleito durante 14 anos. Considerado um grande
orador e conhecido pela “elevação de seu caráter” como dito por
Tucídides, o grande homem de Atenas, Péricles, homem casado,
divorcia-se por descobrir o amor na pessoa de uma estrangeira.
Disposto a romper com a sociedade, a toma como mulher tornandose seu tutor, já que um ateniense só poderia se casar com uma filha
da terra. Assim, Aspásia ingressa nos anais do tempo ao lado do
homem que marcou todo um período grego, mas não apenas como
sua companheira, mas por tudo que representou, pregou e praticou.
Aspásia não escrevia poesias mas era uma intelectual que
lutava pela emancipação da mulher. Queria tirá-la do gineceu, tornála participante da vida pública em igualdade de direitos com o
homem. Fundou a primeira escola feminina de filosofia e nela
recebia, além de suas alunas, visitas de homens e filósofos.
Busto de Péricles
com a inscrição
"Péricles, filho de
Xantipo,
Ateniense".
Cópia romana em
mármore de um
original
grego,
c. 430 a.C.
(Museus Vaticanos,
Roma)
Imagem: Busto de Péricles, Museu do Vaticano / Jastrow / Public Domain
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A luta pela emancipação da mulher é conquistada nas pequenas
modificações do dia a dia. Os atenienses se escandalizavam ao ver Péricles
considerar a segunda mulher como um ser humano, ao amá-la e demonstrar
sua afeição, ao escutá-la e ao discutir problemas os mais diversos buscando
seus conselhos. Por influência dela, passa a receber em casa os seus
amigos acompanhados de suas mulheres. Pequenos feitos ou um grande
passo para a busca da valorização da mulher? Um exemplo para as outras,
Aspásia, imbuída de sua cultura e carisma, incita debates, quebra a tradição
e põe em conflito a moral que rege a vida social grega ao ponto de ser
considerada a eminência oculta de um século eminente.
Grandes passos que abrirão o caminho para a sedimentação de uma
nova estrada que se consolidará no período helenístico, no qual as mulheres
passam a reivindicar o direito a seus sentimentos, não mais como guardiãs
do lar, procriadoras ou prostitutas, mas uma mulher como mulher, detentora
de sentimentos, que ama e quer ser amada. Aspásia marca a História por
seu amor e por ser a “inspiradora do poder”: era o elo de ligação e até
inspiração de nomes como Fídias, Sófocles, Péricles, Sócrates, entre outros.
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2.5 Lisístrata
Um apelo pela Paz. Em plena guerra os oponentes se
deparam com a presença da morte, algo inevitável, que traz consigo
a dor da perda. Despedida, distância e ausência, fenômenos
ocasionadores de sentimentos comuns para aqueles que por algum
motivo não participam do campo de batalha, mas recordam os que
foram. Em meio ao caos apenas o acordo de paz pode plantar
sementes para a volta da harmonia, devolvendo a possibilidade de
retomada do cotidiano da vida.
Lisístrata é uma comédia grega que trata justamente da guerra
e dos meios possíveis para se alcançar a paz. Onde o homem se
fecha em seu senso para dar abertura a seus desejos de
conquistas, a mulher irrompe na luta pela paz com a única arma a
seu alcance, o sexo, ou melhor, pela negação do ato sexual, a fim
de persuadi-los a desistir das batalhas .
Saiba Mais
Lisístrata é
uma crítica
severa a
Guerra do
Peloponeso.
Pesquise
mais pela
internet e
tente
descobrir a
importância
dessa
comédia
para a arte
grega.
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A personagem idealizada por Aristófanes, cujo significado em grego é
“a que dissolve exércitos”, reúne as mulheres das cidades gregas
envolvidas na Guerra do Peloponeso - Esparta e Atenas - e as incita a uma
rebelião, toma a Acrópole em conjunto com elas e segue até conquistar
seus objetivos. Através de Lisístrata se percebe a mulher que reivindica,
estabelece alianças e luta. Cansadas das separações e das dores impostas
pela guerra, exigem a volta de um cotidiano mais sereno e satisfatório.
Imagem: Helen, de Antonio Canova, 1812 / Marie-Lan Nguyen / Creative Commons Attribution 2.5 Generic
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Esparta e Atenas
Agora que já conhecemos diferentes visões sobre as mulheres no
mundo grego, você consegue identificar alguma história de vida de
mulheres que se assemelhem a de Antígona, Neaira, Aspásia, Safo ou
Lisístrata?
Vamos debater sobre as mudanças na sociedade e a participação
da mulher na política, fazendo um paralelo entre o que aprendemos sobre
as mulheres na Grécia e a vida atualmente.
Bons Estudos!
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Esparta e Atenas
Considerações Finais:
Seria quase impossível compreender a civilização helênica sem a
investigação de aspectos prosaicos, mas de fundamental importância, tais como
sua estrutura familiar, sentimental e educacional. Graças a essa análise nos
aproximamos da mentalidade de um povo que legou à civilização Ocidental
conquistas até hoje insuperáveis - desde seu magnífico teatro até os princípios
rudimentares de um regime democrático, passando por sua filosofia. Tal exame
propicia, igualmente, farto material. Ao mesmo tempo que nos oferecem uma
cultura que se distancia da presença da culpa cristã que perpassa a nossa, por
outro lado exibem regras de conduta pautadas pela discriminação de um
contingente nada desprezível de suas populações, especialmente mulheres,
escravos e estrangeiros.
Acima de tudo, o estudo dos aspectos sociais e culturais da civilização
helênica nos permite conhecer mais da rica trajetória humana, no que há de
contraditória e inovadora. O referencial grego será sempre importante, tanto
naquilo que legou de positivo quanto por aquilo que ficou como um registro de
experiências cuja superação se impõe a nós contemporâneos, notadamente a
nós, contemporâneas, desejosas de usufruir de uma cidadania e afetividade
mais completas e satisfatórias.
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Esparta e Atenas
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
FLACELIÈRE, Robert. A Vida Cotidiana dos Gregos no Século de Péricles.
Lisboa, Edição Livros do Brasil. [s.d.]
ROSTOVTZEFF, M. História da Grécia. 3ª Edição. Rio de Janeiro. Editora
Guanabara, 1963.
MAZEL, Jacques. As Metamorfoses de Eros: o amor na Grécia Antiga. 1ª
Edição. São Paulo: Editora Martins Fontes, 1988.
MONTANELLI, Indro. História dos Gregos. Ed. Instituição Brasileira de
Difusão Cultural S/A, 1972.
Tabela de Imagens
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Autoria / Licença
Lisander of Sparta / Public Domain
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Safo, Pompeia / Creative Commons CC0 1.0
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Busto de Aspasia, Museu do Vaticano / Jastrow / http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Aspasie
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Busto de Péricles, Museu do Vaticano / Jastrow / http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Bust_Pe
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Helen, de Antonio Canova, 1812 / Marie-Lan
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Nguyen / Creative Commons Attribution 2.5
Canova_VandA_A.46-1930.jpg
Generic
Data do
Acesso
28/03/2012
28/03/2012
28/03/2012
28/03/2012
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