Tópico 5. Entrada e Saída do Mercado Barreiras à Entrada Fátima Barros Organização Industrial 1 Facto estilizado: Observa-se frequentemente situações em que não há entradas de novas empresas numa indústria apesar de as empresas que estão nessa indústria terem lucros anormais. Questão: porque é que não se verifica livre entrada até que a concorrência na indústria reduza o preço até à eliminação dos lucros anormais? Fátima Barros Organização Industrial 2 Entrada no Mercado Uma empresa deve entrar no mercado se o valor esperado dos lucros após entrada forem superiores aos custos afundados de entrada (instalações, equipamento, patentes, etc). A empresa tem que antecipar o tipo de concorrência no mercado após a sua entrada de modo a calcular os lucros futuros.. Fátima Barros Organização Industrial 3 Barreiras à Entrada Bain: Existem barreiras à entrada desde que no longo prazo as empresas instaladas possam praticar p>minCM sem com isso induzir a entrada de novas empresas. Stigler: Barreiras à entrada são definidas como os custos que têm que ser incorridos pelas empresas que vão entrar mas não pelas que já estão instaladas (assimetria de custos). Fátima Barros Organização Industrial 4 Barreiras à Entrada Legais: mercados de entrada regulada (telecoms) Estruturais: empresas instaladas têm vantagens custos (economias de escala ou de gama) de marketing (umbrella branding) controle de recursos essenciais (patente, minas) Ex: DeBeers (diamantes), Alcoa (alumínio) Estratégicas: resultam de acções das empresas instaladas com vista a impedir a entrada: expansão de capacidade, preço limite preço predatório. Fátima Barros Organização Industrial 5 Caracterização dos mercados de acordo com as barreiras à entrada (I) Entrada Bloqueada: a empresa instalada não tem que adoptar nenhuma estratégia com o objectivo de impedir a entrada. Ex: barreiras estruturais elevadas, economias de escala, produto homogéneo (concorrência em preços muito agressiva). Fátima Barros Organização Industrial 6 Caracterização dos mercados de acordo com as barreiras à entrada (II) Entrada Acomodada: se as barreiras estruturais são baixas e as estratégias para deter entrada não são eficientes ou custos de impedir a entrada superam os benefícios Típica em mercados em rápido crescimento ou com rápidas inovações tecnológicas: entrada é tão atractiva que não vale a pena tentar desincentivá-la. Fátima Barros Organização Industrial 7 Caracterização dos mercados de acordo com as barreiras à entrada (III): Entrada Impedida: a empresa instalada pode usar estratégias para impedir a entrada. Estas estratégias têm sucesso se: a empresa instalada pode aumentar o preço quando fica monopolista não é possível no caso de mercados perfeitamente contestáveis - hit-and-run strategy a estratégia altera as expectativas da entrante acerca da natureza da concorrência após entrada Fátima Barros Organização Industrial 8 Barreiras Estratégicas (I) Entrada: começo da produção e venda por parte de uma empresa nova (diferente de aquisição de uma empresa existente) Entrantes ameaçam empresas instaladas de duas maneiras: retiram quota de mercado (redução da s/ fatia do bolo) intensificam a concorrência (reduzem o bolo): entrada de novos produtos redução dos preços Fátima Barros Organização Industrial 9 Barreiras Estratégicas (II) Preço Limite: a empresa instalada desencoraja a entrada fixando um preço mais baixo antes de ocorrer a entrada Objectivo: fazer com que a entrante pense que o preço pós-entrada vai ser ainda mais baixo e decida não entrar. A emp. instalada pode gozar os lucros de monopólio nos períodos seguintes. Fátima Barros Organização Industrial 10 Exemplo:P=100-Q, CF=850 por período, c=10, 2 períodos . Empresa instalada PM =55 PL=30 entrante entrante não entra não entra entra entra instalada PL=30 Pc=40 instalada instalada PI =2 350 PL=30 Pc=40 PI =1 725 PI =1 025 PI = 1 225 PI = 400 PI = 600 PE=-150 PE=50 PE =-150 PE =50 Fátima Barros Organização Industrial instalada 11 Preço Limite Falha: assume expectativas irracionais para a entrante acerca da política de preços da empresa instalada após entrada Funciona: Se a empresa instalada tiver uma vantagem de custos escolhe P<minCMEntrante se a entrante enfrentar incerteza acerca dos custos da rival ou da procura Fátima Barros Organização Industrial 12 Preço Limite e Incerteza: Incerteza + Estratégia de Preços Altera as expectativas da Entrante acerca do tipo de concorrência após entrada Fátima Barros Organização Industrial 13 Incerteza da entrante quanto aos custos da emp. instalada A empresa instalada estabelece no 1º período o preço correspondente a custos baixos para desencorajar a entrante Mas este sinal não é credível: a emp. com custos elevados finge que tem custos baixos A empresa com custos baixos tem interesse em sinalizar o seu verdadeiro tipo: escolhe um preço que não seria racional para uma empresa com custos elevados. Fátima Barros Organização Industrial 14 Exemplo com Incerteza . Natureza Custo Baixo: Prob=p Custo Alto: Prob=1-p Instalada Preço Baixo Instalada Preço Baixo Entrante Não Entra Entra Entrante Não Entra Entrante Entra Não Entra PI =20 PI = 15 PI = 10 PI = 6 PE=0 PE=-2 PE =0 PE =2 Fátima Barros Preço Alto Organização Industrial PI = 12 PE =0 Entra PI = 8 PE =2 15 Exemplo com Incerteza e Signaling . Natureza Custo Baixo: c=0 Custo Alto: c=4 Instalada Instalada P=4,17 P=5 Entrante Entrante E E NE NE P=7 P=4,17 P=5 Entrante E NE Entrante E NE Entrante E NE PI =38 PI =50 PI = 37,3 PI = 49,3 PI = 1,99 PI = 9.9 PI = 6 PI = 14 PI = 10 PI = 18 PE=-1,9 PE=0 PE =-1,9 PE =0 Fátima Barros PE =7 PE =0 Organização Industrial PE =7 PE =0 PE =7 PE =0 16 Preço Predatório É a resposta a um concorrente que sacrifica parte do lucro que podia ser ganho em circunstâncias de concorrência normal, caso a permanência da concorrente fosse viável, de modo a provocar a saída desta e obter em seguida lucros de monopólio Fátima Barros Organização Industrial 17 Preço Predatório: atitude irracional? Ideia Geral Actos predatórios normalmente não têm grande sucesso porque após um período de preços predatórios o monopolista normalmente aumenta de novo os preços para recuperar as perdas e nessa altura atrai uma nova entrante Fátima Barros Organização Industrial 18 predate exit predate E2 DF share E2 E1 stay out {-20,-10; -5,0;0,0} enter {-20,-20; -5,0; 0,-10} stay out {-20,60; -5,0; 0,0} enter {-20,30;-5,0; 0,10} {-20,-10; -8,0} exit stay in DF predate E1 DF share E1 stay in exit {-20,-10; -8,-8} {-20,60; -8,0} stay in {-20,30; -8,10} exit {30,-20; 10,0} exit share E1 predate stay in E1 DF share stay in exit E1 stay in Fátima Barros Organização Industrial {30,-30; 10,-10} {30,40; 10,0} {30,30; 10,10} 19 Preços predatórios podem constituir um equilíbrio Temos que distinguir preços predatórios de preços agressivos que são o resultado da concorrência normal Ex: monopólio, produto homogéneo, entrada e conc. à Bertrand Fátima Barros Organização Industrial 20 The Long Purse (ou deep pockets) Uma estratégia de preço predatório pode ser credível se a vítima tiver recursos financeiros limitados para suportar as perdas durante a guerra de preços Exemplo de atitude predatória e vítima c/ restrições financeiras Fátima Barros Organização Industrial 21 Reputação As empresas operam muitas vezes em mercados diferenciados geograficamente Empresas multi-produto actuam em diversos mercados As empresas podem actuar de uma forma predatória num mercado para avisar potenciais entrantes nos restantes mercados. As perdas associadas à estratégia predatória são o preço de desenvolver uma reputação de agressividade Fátima Barros Organização Industrial 22 Chain Store Paradox Ideia de Selten: apesar de cada etapa do jogo ter um único equilíbrio de entrada e acomodação, se o jogo for jogado sequencialmente nas diferentes cidades, será que a empresa instalada pode ser predadora em algumas cidades para criar a reputação de agressiva? Resposta: não Exemplo: guerra dos cafés nos EU Fátima Barros Organização Industrial 23 Incerteza Se a entrante atribui uma certa probabilidade a que a instalada seja “doida”, isto é prefere sempre lutar do que acomodar a entrada, mesmo num jogo com uma única etapa, então podemos ter um equilíbrio em que uma instalada “não doida” pode usar uma estratégia predatória. Esta estratégia é utilizada nos períodos iniciais pª criar a reputação de agressividade Fátima Barros Organização Industrial 24 Fighting Brands Muitas vezes o preço predatório pode parecer uma estratégia muito cara porque implica reduzir o preço para todas as unidades vendidas Fighting brands: o predador introduz uma nova marca com preços abaixo de custo e desenhado especificamente para concorrer com o produto da empresa-vítima, mantendo assim o seu produto “intocável” Fátima Barros Organização Industrial 25 Preço Predatório Preço Predatório Efeito Reputação Impedir entrada noutros mercados Ex. Chain Store Paradox e Irracionalidade. Incerteza resolve o paradoxo. Fátima Barros Organização Industrial 26 Excesso de capacidade Ameaça credível de descida de preços caso se verifique entrada Menos susceptível de atrair atenção das autoridades antitrust É uma estratégia efectiva mesmo em situações de informação completa. O investimento em capacidade tem que ser afundado (irrecuperável) Fátima Barros Organização Industrial 27 Exemplo: excesso de capacidade para desencorajar a entrada (I) Mercado com um monopolista que enfrenta a ameaça de entrada Concorrência em preços à Bertrand com capacidades (K) fixas das empresas. Procura de mercado: P=100-0.5(QI+QE) CT= 100+30K+10Q QK Fátima Barros Organização Industrial 28 Exemplo: excesso de capacidade para desencorajar a entrada (II) Cap. K 50 60 70 80 90 100 QI 50 60 70 80 90 90 PM 75 70 65 60 55 55 1250 950 PM Fátima Barros 1650 1700 1650 1500 Organização Industrial 29 Exemplo: excesso de capacidade para desencorajar a entrada (III) Instalada K 50 60 70 80 90 100 Entrante K* 35 30 25 20 15 10 QI +QE 85 90 95 100 105 110 P 57.5 55 52.5 50 47.5 45 PI 775 775 700 575 400 PE 512.5 350 12.5 -50 Fátima Barros 800 212.5 100 Organização Industrial 30 Custos Afundados Exógenos (modelo de J. Sutton) Indústrias com Produto Homogéneo Fátima Barros Organização Industrial 31 Custo de Instalação (setup cost) Custo incorrido por uma empresa quando entra na indústria É o custo de adquirir uma única “fábrica” (plant) com dimensão correspondente à escala mínima eficiente (mínimo dos custos médios) líquido do valor de revenda. Sendo o custo fixo de entrada irrecuperável a sua magnitude não influencia a política de preços corrente da empresa. Fátima Barros Organização Industrial 32 Decisão da empresa: 1ª Etapa: cada empresa decide se entra ou não no mercado 2ª Etapa: as empresas escolhem preços Esta formulação do jogo captura a ideia do curto e longo prazo: As variáveis de longo prazo (dimensão) são escolhidas na 1ª etapa e são tratadas como parâmetros fixos quando se analisa o equilíbrio de curto prazo (preços) decidido na 2ª etapa do jogo. Fátima Barros Organização Industrial 33 Bain: Ranking de indústrias por nível de concentração tende a ser semelhante interpaíses. Explicação: o padrão de tecnologia e os gostos (procura) que caracterizam uma indústria tendem a ser similares entre países Fátima Barros Organização Industrial 34 Sutton: Parte da seguinte observação: Há uma tendência para a concentração de uma dada indústria diminuir nos países em que a dimensão do mercado (medida pelo volume de vendas) é grande Fátima Barros Organização Industrial 35 Dimensão do mercado Rentabilidade das empresas instaladas Atracção de novas empresas (saltam barreiras à entrada) Concentração Fátima Barros Organização Industrial 36 O JOGO Decisão de Entrada (sunk cost F) Fátima Barros Concorrência em Preços Os preços só dependem indirectamente do nível de custos afundados F na medida em que estes influenciam a decisão de entrada. Organização Industrial 37 Estrutura de Equilíbrio (Decisões de Entrada) Interacção nível de custos afundados Fátima Barros intensidade da concorrência em preços Organização Industrial 38 1. Cournot Procura de Mercado: Q=S/P P : preço Q: Quantidade vendida S: Despesa total Pº : preço de monopólio Hip.: Q=0 se P>Pº c: custo marginal, constante e igual para todas as empresas. Fátima Barros Organização Industrial 39 Equilíbrio de Cournot • Equilíbrio na 2ª Etapa S max i qi N cqi qi qi i 1 i ( N 1) S Nc 0 q* e P 2 qi N 1 N c S * i ( p c)qi 2 N Fátima Barros Organização Industrial 40 Decisão de Entrada (1ª Etapa) Dada a decisão de entrada das suas rivais a empresa incorre F e ganha: S . i F 2 (k 1) onde k é o número de empresas que entraram. A entrada só é rentável se i 0 logo o número de empresas que entra, no equilíbrio , é : S 2 F 0 N Fátima Barros S N* F Organização Industrial 41 Resultado elementar Quando a dimensão do mercado aumenta relativamente aos custos de instalação (S/F ) a estrutura de mercado torna-se mais fragmentada (N* ). CONCENTRAÇÃO Fátima Barros Organização Industrial 42 2. Bertrand 2 empresas, custos idênticos, produto homogéneo empresa A está instalada; empresa B potencial entrante se a empresa B entra incorre no custo afundado F se a empresa A é monopolista ganha PM- F se a empresa B entra equilíbrio de Bertrand implica P=cmg. Fátima Barros Organização Industrial 43 2. Bertrand Empresa B Jogo de Bertrand PA = PM- F >0 PB =0 PA = PB =- F <0 Para qualquer nível de custos de entrada afundados 0< F <PM existe um único Eq Perfeito nos subjogos onde a empresa A é monopolista e a empresa B não entra no mercado. Fátima Barros Organização Industrial 44 2. Bertrand concorrência em preços produto homogéneo custos de instalação M arg em M Fátima Barros monopólio Quantidade P º c S Pº c S (1 ) Lucro crescente com S Pº Organização Industrial 45 3.Monopólio (Cartel) Jogo cooperativo: maximização do lucro conjunto O lucro conjunto é independente do nº de empresas que entraram no mercado O lucro de cada empresa depende de N N * tal que Fátima Barros M N F logo N* Organização Industrial M F 46 Concentração e agressividade da concorrência em preços P 1/N Pº M c C 1 B C B M 1 2 3 4 N Aumenta agressividade da conc. em preços Fátima Barros S (Dimensão de Mercado) Aumenta a concentração Organização Industrial 47 Observando os três casos podemos concluir: Agressividade da concorrência em preços Monopólio Cournot Bertrand Estrutura de equilíbrio da industria Concentrada Fátima Barros Organização Industrial 48 Conclusão do modelo Existe um limite inferior para o nível de concentração que pode ser sustentado como um equlíbrio. Este limite inferior tende para zero quando aumenta a dimensão do mercado (relativamente ao nível dos custos afundados) Fátima Barros Organização Industrial 49 Conclusão do modelo Se dois mercados são semelhantes em termos de dimensão e custos de entrada, mas a intensidade da concorrência em preços é mais elevada num deles, o limite inferior para a concentração, no equilíbrio dessa indústria, é relativamente mais elevado Paradoxalmente, concorrência em preços muito intensa conduz a uma estrutura de equilíbrio mais concentrada. Fátima Barros Organização Industrial 50 Exemplo 1/N A concorrência em preços é mais intensa na Ind. A 1/Nº Ind. A Ind. B 1/N1 Sº / Fº Fátima Barros Organização Industrial S/ F 51 Factores exógenos que podem influenciar o resultado Diferenciação de produto Política de concorrência Fátima Barros Organização Industrial 52 Exemplo A trajectória pª a configuração de equilíbrio é feita através de • saída da indústria • consolidação da propriedade • fusões e aquisições 1/N 1/Nº 1/N1 X Sº / F º Fátima Barros Organização Industrial Ind. A S/ F 53